Kennedy e o segredo do amuleto 2 capítulos

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O segredo do amuleto

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Kennedy eo

Segredo do amuleto

Livro Um

Berto

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Florescer Inicialmente achavam que o mundo era feito de consequências, que por trás sempre havia uma razão que era mergulhada em motivos. Foi-se o tempo em que acreditavam que tudo era causa da sorte, mas esqueceu-se que o mundo é munido de mistérios. Às vezes uma estrela muito brilhante vinda dos céus choca-se contra a terra e brota em uma linda flor, são essas as flores que florescem a cada dia e trazem algo de bom outra vez ao mundo.

– A história da magia, por Chito Gana.

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Prólogo O grande senhor abriu as portas do templo pra os seus cinco filhos. Todos com a tendência de formarem a sua própria família, com o orgulho do pai que cada um carregava nas costas. Rumo à criação. Os cinco partiram sem olhar para trás, procurando ao máximo mostrar ao senhor seu pai de que alguma vez um deles possa ser o orgulho da família. Os cinco irmãos seguiram seus caminhos, seus rumos, seus destinos… E apenas um morreu. O ciclo não poderia continuar quebrado, alguém tinha que subir ao trono, só essa pessoa reestabeleceria o ciclo da família e assumiria o lugar do irmão morto. – Iremos morrer pai? – perguntou o mais novo dos cinco, o de olhos azuis. – Seu irmão nos deixou em um momento peculiar. As sombras escuras caiem sobre minha criação, sobre meu reino, sobre mim. O herdeiro tem que se sentar no trono. Caso contrário, não só eu ou você iremos morrer, mas tudo que já criei voltara ao pó e fumaça.

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Um

O herdeiro

Os Dodds eram conhecidos por manterem sempre uma boa aparência. Não havia um dia sem que eles estivessem cuidando da boa forma física e mental. O Sr. Denis Dodds sempre reclamava para a esposa ao pé da porta de sua casa que ganhara uma gordura extra no café da manhã. A Sra. Tânia Dodds ria do caso, mas passava boa parte de seu dia fazendo yoga e tratamentos corporais, ou quando não fazia isso, torrava o dinheiro do marido no shopping da cidade com suas seguidoras ambulantes do antigo colégio, as amigas. Mas naquele dia, os Dodds tinham que acordar cedo. O despertador programado os pegou de surpresa e o Sr. Dodds acordou reclamando e chutando tudo que via pela frente, tomou um banho gelado e vestiu o seu melhor terno. Era o dia de sua maior reunião. Um dos maiores empresários de Outras Terras viera à cidade a procura de uma boa empresa a qual fosse lhe interessar, era uma oportunidade de negócios que o Sr. Dodds não rejeitaria e não deixaria passar. Denis Dodds era dono de uma empresa chamada “My Pocket”, que fazia calças e jaquetas jeans para todo o país. Ele era um homem alto e forte, cabelos negros encaracolados, seus olhos um verde tão intenso que quando os raios de sol tocavam-lhe projetavam uma coloração encantadora. O Sr. Dodds era um homem na dele e tudo o tirava do sério, tinha uma personalidade reservada e era um 9


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homem intimidador. Sua esposa, Tânia Dodds era uma mulher magra e bonita, cabelos longos e negros, sua pele branca como a neve. A Sra. Dodds praticamente usava como vestes joias caras e raras, se gabava no bairro da cidade que estava muito bem de vida. Era uma mulher muito amada e aclamada por todos na cidade, isso segundo ela mesma. O casal tinha um filhinho de quatro anos de idade chamado Afonso, o Afonsinho – como era mimado – um menininho magro e tímido, que arrancava sorrisos da vizinhança. Tinha olhos como os do pai e cabelos lisos, negros e rebeldes. Para os Dodds esse era um filho único no mundo, não havia menino igual na face da Terra. A pequena família morava em Nova Lisa, uma cidade pequena, porém industrial e igualmente rica. E lá, na Rua João Barros número 52 era onde morava a pequena família tranquila e simples como todas as outras a sua volta. Porém, como toda família completamente normal, os Dodds escondiam um segredo, se revelado poderia destruir suas vidas e talvez o mundo que conheciam. O segredo era que Denis Dodds tinha uma irmã mais nova. Uma mulher comum chamada Lucia e aparentemente inocente. Acontece que essa mulher tomou a decisão que mudaria por completo a vida da pequena família. Lucia Dodds conhecera um homem a pouco mais de um ano, logo se casaram e tiveram um filho. Porém Lucia Dodds casou–se com o homem a qual nunca deveria ter se casado. Seu nome era desconhecido, seu paradeiro era desconhecido, suas ações e emoções eram desconhecidas, um homem a qual chamavam de Kennedy. O Sr. Dodds não tinha muita ligação com a irmã desde que ela conheceu o tal homem, nem mesmo chegou a ir ao seu casamento, pois esperava encontrar seres estranhos como Kennedy lá e isso não seria bom para Tânia e Afonsinho. O Sr. Dodds sabia que eles tinham um filho, embora nunca o tivesse visto, seu nome era Johnny. Era esse o menino que não deveria ter vindo a luz, um fruto desse casamento que nunca deveria ser realizado, agora as consequências chegaram ao estremo para a família. Desde quando sua irmã conhecera Kennedy a vida dos Dodds perdeu o rumo. Coisas estranham aconteciam a volta deles. Ventos fortes os perseguiam, 10


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névoas intensas caíram somente na Rua João Barros, as pessoas os encarrava fixamente nos olhos por toda a cidade e animais o farejavam a cada esquina que passavam. Era uma coisa assustadora que o Sr. Dodds logo percebeu que algo estava muito errado. Mas, aquele dia tinha que ser diferente. O dia mais importante para a pequena família Dodds. Nada poderia dar errado. Se alguma coisa iria sair do comum, seria culpa de Kennedy. O Casal desceu aquela manhã tranquila para tomarem café juntos e o Sr. Dodds ferveu ao ver mais uma vez aquele gato idiota. – Xô, saia daqui! – ele abanou com as mãos, mas o gato apenas o olhou através do parapeito da janela e pulou para cima do telhado. – Sete infernos! – guinchou o Sr. Dodds. Quando abriu a pequena porta para a cozinha o cheiro de café e pão fresco subiu pelas suas narinas. O Sr. Dodds caminhou até a mesa ajeitando a gravata ao pescoço e se sentando a cadeira mais próxima. – Malditos animais. – guinchou ele nervoso. – Eu os odeio, todos eles! – O gato outra vez? – perguntou a Sra. Dodds colocando café na xícara a frente do marido. Naquela manhã estava usando um simples vestido com um avental. O traje que Tânia Dodds jamais mostraria para suas amigas íntimas. O Sr. Dodds pareceu exaltar–se. – Eles rondam a nossa casa dia e noite. – ele bateu o punho na mesa e apontou o dedo para a janela. – Acho que eles estão se revezando, eles estão querendo alguma coisa com nós, Tânia. A Sra. Dodds soltou uma gargalhada. – Do que está rindo? – perguntou o Sr. Dodds sério. – São apenas gatos querido. – ela pôs a mão no ombro do marido. “São apenas gatos”, era como ela costumava dizer, mas no fundo a Sra. Dodds sabia que não Eram-Apenas-Gatos. Tentava levar uma vida comum e tranquila. – E tente não acordar o Afonsinho, sabe que ele nunca está de bom humor pela manhã. – disse ela.

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Na verdade Tânia Dodds tinha toda a razão. Afonsinho era como o pai, uma miniatura de Denis Dodds, o garoto completara quatro anos e estava crescendo muito rápido, ficando ainda mais rebelde. O Sr. Dodds tomou um longo gole de café sem se preocupar se estava quente ou não, nem notara que sua língua havia se queimado. Deu uma dentada violenta no pão e engoliu quase sem mastigar. Não sabia o que era aquela sensação, mas algo estava o incomodando muito naquela manhã, sentia que alguma coisa estava próxima a acontecer: “maldito Kennedy”, pensou ele enquanto mandava pra dentro o seu café da manhã. Era um dia especial, nada poderia dar errado. Tudo hoje poderia torná-lo milionário e isso acima de tudo, era o que ele mais queria para o bem estar da sua família. “Maldito, maldito, maldito Kennedy. Não o deixarei estragar meu dia”. Depois de um tempo a Sra. Dodds se juntou ao marido a mesa. – Hoje é um grande dia meu querido. – falou ela colocando seu café, depois pegou uma torrada. – Sim querida, o grande dia. – respondeu ele. – Boa sorte. – disse ela olhando o olhar do marido fixo pela janela. – Nada vai acontecer hoje Denis. Não pense muito nisso. Tem um trabalho a tratar. Denis Dodds franziu a testa. – Do que está falando? Eu estou ótimo! – respondeu ele. Não queria mostrar a mulher de que estava desconfiante e inseguro, tinha que entrar naquela sala de cabeça erguida e dizendo a si mesmo que nada iria acontecer. – Não. Não está. – ela deixou a xícara de lado. – Você esta olhando para a janela de dois em dois segundos e esta tremendo tanto que a casa falta ruir. Estou tremendo. O Sr. Dodds mal percebera isso. – Não estou tremendo Tânia, e não estou olhando para o gato lá fora. – respondeu ele. – Viu querido, quem falou em gato? – Tânia bebeu um gole de café. Gato, aquele gato. Estava o vigiando a mais ou menos uma semana. O motivo era desconhecido, mas o Sr. Dodds sabia que aquele gato branco era “daquele povo” o povo de Kennedy e Lucia. Não era nada confortante saber que você esta dormindo sendo vigiado por um animal daqueles. Seus olhos eram tão 12


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assustadores quanto um filme de terror, seus pelos eram tão brilhantes quanto o sol do meio-dia. O Sr. Dodds tinha pavor de gato, mas nunca contou a ninguém ou nunca teve confiança de si mesmo para contar. Quando terminou seu café da manhã, caminhou até o sofá e pegou sua maleta. Sua mulher o acompanhou até a porta da frente. Quando abriram a porta notaram que os vizinhos estavam de mudança. Os Beultoes eram os vizinhos a qual o mundo poderia odiar, estavam lá em gerações e sempre contavam das histórias mais antigas, velhas e chatas da cidade para a família Dodds. Uma mudança assim só poderia significar uma coisa: Kennedy. – Oh estão de mudanças. – suspirou a Sra. Dodds. Os carregadores estavam indo e voltando da casa ao caminhão, o Sr. Dodds percebeu. Quando olhou para os carregadores notou que nenhum deles tinha ações em seus rostos frios. Eram como estátuas, sem expressão, sem sentimentos. Um coração de pedra. Até ver o gato! Branco e frio o encarando-o no meio do jardim vizinho. O Sr. Dodds desviou o olhar e pegou nas mãos de sua esposa. – É uma grande mudança. – disse ele. – Sim, não esperava... – Fique em casa hoje. Cuidando de Afonsinho. – o Sr. Dodds procurou o olhar de sua esposa. – Sim querido. Bom trabalho hoje. Vai dar certo. – ela cruzou os dedos e deu um sorriso. O Sr. Dodds deu um beijo na esposa e foi para o carro no estacionamento, enquanto a Sra. Dodds fechava a porta. O gato estava lá, mas agora era um gato diferente, este era preto e tinha grandes e brilhantes olhos amarelos. Estava no capô do carro e o encarrava longamente. – Saia daqui! – o Sr. Dodds tentou acertá-lo com a maleta, mas o gato foi mais esperto e fugiu para a rua. O Sr. Dodds apenas conseguiu um grande arranhão em sua lataria. – Pelos infernos. Eu ainda janto essas feras. Ele entrou no carro e deu ré para sair da garagem, posicionou o carro de frente com a rua, quando avistou o gato preto no meio da dela o encarrando, o rabo pra cima balançava de um canto a outro. – Hoje não é seu dia, infeliz. – resmungou ele trincando os dentes. 13


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Pisou com tudo no acelerador e o carro avançou. Estava mais que decidido eliminar aquele gato de uma vez por todas, estava ficando realmente maluco com aquelas feras, pensou que Kennedy tivesse algo haver com tudo isso. Mas a sua missão falhou quando o carro chegou ao gato. O felino de quatro patas subiu no capô do carro e pulou-o caindo em pé do outro lado. O Sr. Dodds não tirou o pé do acelerador, olhou através do espelho retrovisor e viu que o gato branco se juntou ao gato preto na rua, balançando as suas caldas inofensivas. Ele pensou ter os visto sorrindo. Não! Era maluquice demais. O Sr. Dodds não queria expressar com sua mulher sobre tudo aquilo que estava acontecendo naquela manhã. Agora sozinho e em direção ao trabalho poderia refletir. Aqueles gatos, aqueles carregadores. Tudo parecia estar ligando “Aquele povo”. Kennedy teria algo haver com isso? Seria tão provável como água saindo da torneira. Desde que Lucia casara com aquele... (O Sr. Dodds nem sabia ao certo de ele era um homem, humano). A vida deles não era mais a mesma desde aquele dia... O que Kennedy queria que estivesse atrapalhando seu dia. Um dia tão importante quanto esse? Decidiu tirar esses pensamentos perturbadores da cabeça quando entrou na garagem da empresa tempo depois. – Bom dia senhor. – disse um dos guardas. – Bom dia Maves. – respondeu o Sr. Dodds tentando ser gentil. Caminhando em direção do elevador. – Senhor, os elevadores estão quebrados. – Maves arregalou os olhos ao ver a fúria silenciosa do Sr. Dodds e logo acrescentou. – A manutenção já esta a caminho, irão resolver o problema ainda hoje. – Acho bom. – O Sr. Dodds caminhou bufando para as escadas, amaldiçoando Kennedy mentalmente. Quando chegou ao décimo terceiro andar estava mergulhado em suor frio o pegajoso. Mandou a secretaria levar uma toalha para ele no escritório e se trancou lá dentro. Pouco tempo depois ela volta com a toalha. O Sr. Dodds pergunta sobre a chegada do tal empresário e ela responde que ele chegara às três da tarde. Tudo através da porta sem olhar um para o outro. Até o meio-dia ele gritou com onze pessoas diferentes, clientes, empregados, a secretaria e até mesmo a esposa por engano ao atender ao telefone. Pediu a 14


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secretaria um suco de maracujá bem gelado e doce para se ficar calmo até a hora da reunião chegar. No almoço foi sozinho à lanchonete de frente a empresa, pediu uma refeição completa e devorou em menos de dez minutos, quando estava se retirando para voltar ao escritório alguém o chama: – Senhor, senhor. – gritava. Ele se virou pronto para dizer que não tinha tempo, mas era um menininho um pouco mais velho que Afonsinho. – Sua carteira senhor. O senhor a esqueceu na cadeira. – disse ele, mas quando o Sr. Dodds ia responder o rosto do garoto borrou e distorceu. O Sr. Dodds retirou a carteira das mãos do garotinho a força e saiu apresado dali, atravessando a rua rapidamente, os carros loucamente a buzinarem. “Kennedy, seu maldito”. Tudo estava bem até aquele momento. O Sr. Dodds estava começando a se enfezar com tudo a sua volta. Não queria encarrar ninguém, muito menos falar com alguém. O Sr. Dodds mandou a secretaria desmarcar tudo até às três horas e ficou o resto do tempo trancado no escritório. Quando enfim os homens começaram a chegar. Iria usar a sua de reuniões que era grande e espaçosa. Chegaram um, dois, três, quatro, até treze homens se reunirem na sala de reuniões esperando a chegada do estrangeiro conhecido apenas por sua grande imagem em Outras Terras, um país que o Sr. Dodds jugava ser o mais rico. Quando Enobietário Snottecho chegou, todos sorriram e apertaram a sua mão, era um homem velho e enrugado. A sessão tinha começado. Um por um, os homens foram falando da altura que eles tinham no país, sobre como a empresa era importante para a venda em todo o território. Diziam que Outras Terras e Vênia poderiam fazer um acordo de roupas jeans pelo mundo. O Sr. Dodds só escutou quando chamaram o nome dele. – Sim. – o Sr. Dodds respondeu, enquanto todos encarravam. Enobietário o estudou com seus olhos enrugados através dos óculos. – É mesmo, me desculpe senhores. – ele riu enquanto caminhava a frente da grande mesa, de frente a todos os presentes. – Bem como disse meus adoráveis amigos… O Telefone celular tocou. 15


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– Desculpem senhores. – respondeu ele desligando o celular. – Bom onde eu parei? – Os olhares seguiram entre os homens, o celular tocou uma segunda vez. O Sr. Dodds tirou a bateria e guardou cada um num bolço diferente, mas não foi o suficiente. O aparelho tocou pela terceira vez. Teve que pedir permissão para atender. Quando levou o celular sem bateria nos ouvidos, o Sr. Dodds quase teve um enfarte. Do outro lado da linha era o homem que estragou seu dia desde quando o despertador tocou aquela manhã. A voz que uma vez escutou e que prometera nunca mais ouvi-la. O homem a qual amaldiçoara pela manhã inteira. Era Kennedy e sua voz foi a mais sincera quando lhe disse “aquilo”. O Sr. Dodds deixou o celular cair no chão chocado, começou a suar rapidamente que até assustou os homens presentes. “Hoje não”, ele pensou, “eu seria o mais novo milionário de Vênia, o mais milionário de Nova Lisa”. Mas o que Kennedy disse não poderia ser verdade, não queria aceitar, não valia a pena ser milionário se aqueles a qual ama não poderia proteger. Foi ai que pensou que nesse momento sua mulher e seu filhinho estavam correndo um grande perigo. Ele saiu correndo da sala de reuniões sem dar uma explicação básica, passou pela secretaria e não disse nada, o elevador consertado não deu a ele tempo de pensar, ele desceu as escadas correndo. Mal demorou e ele já estava com seu carro saindo da empresa em direção a sua casa. Ele quase causou três acidentes no caminho. Não queria aceitar que aquilo realmente aconteceu. Tinha que estar com sua família agora mais do que nunca. Kennedy estava agora agindo em seu leito de morte. Estaria zombando da cara dele, afinal, não o deixou quieto o dia inteiro. “Ele não pode fazer isso comigo”, pensou. Mas quando viu a neblina caindo apenas sob a Rua João Barros seu coração saltou. Ele chegou ao número 52 às presas e estacionou o carro de mau jeito no jardim. Saiu do carro às pressas e entrou em casa, nem percebeu que a rua estava toda enfeitada para o dia das bruxas. Tânia Dodds estava assistindo TV com Afonsinho quando ele entrou bufando e completamente suado. – Oque aconteceu querido? – perguntou ela exasperada. – Diga Denis! O que houve?

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– Mamãe. – Afonsinho mimou. – porque o papai está assim? – e agarrou a perna da mãe com força. – Tânia. – o Sr. Dodds respirou fundo. – Tranque tudo, não deixe nada aberto. Nada pode entrar aqui, você me entendeu? – ele desabou no sofá afrouxando o nó da gravata. – Não estou compreendendo Denis. – a Sra. Dodds se sentou ao lado do marido. – explique o que aconteceu? O Sr. Dodds abraçou a esposa e chorou, suas lágrimas eram salgadas e doce ao mesmo tempo ao tocarem em sua língua. Lágrimas de culpa e ressentimento. – Aconteceu Tânia. Aconteceu o que mais temíamos... – Sua irmã... Lucia. – ela tocou os lábios com a palma da mão. – Sempre soube que iria acontecer, sempre soube. – ele se levantou. – Vamos trancar tudo querida, não podemos os deixar entrar. – Do que você esta falando? – a Sra. Dodds segurou Afonsinho pelo braço. Ambos não estavam entendendo nada. O Sr. Dodds tirou a gravata e o paletó e jogou em cima do sofá. – Aprese-se Tânia, chegou o dia. Kennedy está vindo. A noite caiu mais rápido que o normal naquele dia. Os Dodds nem esperavam que a mais de duzentos quilômetros dali duas mulheres estavam sentadas em volta de uma mesinha de uma taberna, ou como dizia os Normais, um bar. Ao som de música lenta e bebidas desconhecidas as duas pareciam não se olhar, uma olhava para cada direção diferente, pareciam se odiar. Qualquer um notaria isso. A mulher mais jovem era bela, usava um vestido branco com detalhes dourados nas barras. Tudo nela era branco e cor-de-rosa. Seus cabelos cor-de-rosa berrante amarrada numa trança tão longa que quase chegava ao chão, seus olhos cor-de-rosa, suas unhas cor-de-rosa e até seu sorriso falso era cor-de-rosa. Em seu braço havia um relógio de prata que ela olhava a cada dez segundos. A segunda mulher era bem mais velha. Era uma velha corcunda, vestindo uma túnica preta que cobria seu corpo por inteiro, um tipo de lenço tampava sua boca, apenas as mãos e os olhos eram visíveis nela. Porém os olhos eram diferentes, 17


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o da direita era comum, um castanho nada de especial, já o outro era brancoleitoso, como se não tivesse íris e pupila, nada! Sua bebida ainda intocável em cima da mesinha. Era uma pequena taberna, não muito confortante. Porém era o lugar preferido para encontros com as pessoas naquele tipo. As paredes eram negras e quentes, muito úteis para um dia de muito frio. Uma lareira queimava a um dos cantos, as mesinhas tortas enfileiradas uma as outras nas janelas de losango em diagonais. O balcão era onde ficavam sentados os homens mais sinistros que vagavam pelas terras. Era a taberna de um dos homens mais conhecidos do país. As duas mulheres olhavam para o horizonte como se esperava alguém chegar, mas este alguém estava demorando e as duas estavam de saco cheio com a ideia de ficar muito tempo sozinhas no mesmo lugar. – Está demorando. – reclamou a mulher de cabelos cor-de-rosa. – Não posso ficar num lugar como este por muito mais tempo. Olhe minha pele, esse frio está me matando. Era noite, e uma neblina tensa se projetava na rua em frente ao pequeno bar. A velha corcunda encarrou pela primeira vez a mulher de cabelos cor–de–rosa. – Ele vira. – disse. – Não se zangue com ele Alicia. Sabe que Chito é muito lerdo para esse tipo de coisa. Alicia se ajeitou na cadeira e arrumou o decote do vestido. – Se ele demorar mais que o planejado, irei embora. – Você não pode ir Alicia. Jurou protegê-lo, a mãe dele está morta, o que você quer fazer agora? Abandoná-lo? Alicia deu um sorrisinho sarcástico pelo canto da boca. – Linda, eu não me importo com o garoto, nem mesmo com Kennedy. Estou aqui por uma razão única e isso não inclui o garoto. Linda, a velha bufou e voltou a olhar para fora da janela, no horizonte. O tempo passava e as duas permaneceram quietas por um longo tempo até Alicia voltar a falar novamente. Linda pareceu não gostar. – Você vai se mudar para aquela casa, ao lado deles não vai? Linda franziu a testa enrugada.

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– Sim. – respondeu. – o garoto ira precisa de proteção até ter idade, é claro que eu não o deixaria com aquela família, mas Chito insistiu. Alicia soltou a maior das gargalhadas até aquele momento. Colocou a mão rosada na boca para tentar abafar o riso. – Como se ele precisasse de proteção Linda, especialmente de você. Linda se levantou e bateu o punho sob a mesa. – Qual é a sua. – uma veia na testa da velha bombeou. – Porque então você entrou para a Ordem? Porque abandonou a própria família? Alicia cruzou os braços e virou a cara. – Não quero falar sobre isso. – sussurrou parecendo incomodada. Linda se sentou ajeitando a corcunda nas costas. As duas voltaram a ficar quietas. Uma olhando para cada lado da mesa. O pequeno bar estava quase vazio, havia poucas pessoas além delas no aposento bebendo e conversando. O tempo passava cada vez mais rápido e a lua se erguia no céu. Linda observou as estrelas e estremeceu como resultado. A cada minuto que se passava Alicia olhava para seu relógio prateado e batia o pé contra o chão. Em seu rosto um aspecto vermelho estava se formando, era obvio que ela estava frustrada com tudo aquilo e queria mais que tudo terminar logo com isso. A neblina fora do bar estava tensa, o tempo passava e urgia. A noite caía e as mulheres à pequena mesa não durariam mais dez minutos. Por fim um vulto negro se aproximou do pequeno bar. Linda se levantou e ajeitou o vestido. – Ele chegou. O homem abriu a porta do bar, algo em suas mãos brilhava, mas não segurava nada. O homem era baixo e meio gordo, tinha uma enorme cabelereira e barba negra, tinha sobrancelhas grandes e grossas que escondiam seus olhinhos pequenos. O homem acenou com a cabeça quando se aproximou das senhoras. No lugar de seu braço direito havia uma mão mecânica que girava em sentido horário sem parar. – Senhoras. – cumprimentou ele fazendo uma reverência. – Alfredo. – Linda disse. – você está atrasado, meus deuses! Você começando a ficar como Chito.

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Alfredo ergueu a mão mecânica e puxou uma cadeira para se sentar. Quando os três estavam outra vez na mesa ele sorriu. – Me desculpe se eu por ironia do destino me atrasei um pouco. – Um pouco? – surtou Alicia nem percebendo que estava gritando. – Estamos esperando desde o anoiteceu velho, poderia saber o que você estava fazendo esse tempo todo? Alfredo pediu um copo de cerveja para o barman, o filho do dono da taberna e um tanto jovem. Ele se inclinou para frente e ali fez um copo surgiu em cima da mesa, estendeu uma jarra e despejou o liquido dentro do copo. Alfredo pegou e tomou um gole. – Obrigado meu bom amigo, sua fabulosa habilidade ainda me surpreende. O barman fez uma reverência. – Sim caro amigo, eu venho praticando – e se retirou. Alicia o encarou longamente. – O que houve? – perguntou Alfredo. – esqueci–me de limpar os meus dentes hoje. Aposto que... – Você não me respondeu velho. – queixou-se Alicia ainda mais furiosa. – É mesmo? Achei que tivesse. Desculpe–me. – ele riu sozinho. – Eu estava na Floresta da Perdição é claro, depois da guerra tive que ter certeza absoluta que o dragão ainda está dormindo. – E está? – perguntou Linda de testa franzida. – Sim – respondeu Alfredo sua mão mecânica girando sem parar em sentido horário. – Caos não conseguiu acordar a Fera, não era pra tanto. Kennedy deve têlo impedido, se o dragão dourado acorda–se, temo que fosse o nosso fim. Ele ainda está dormindo, no fundo do vulcão Tufão. – Isso é uma boa noticia. – Linda ergueu a taça ainda cheia acima da cabeça, virou para o lado e despejou toda a cerveja no chão. – detesto cerveja, detesto líquidos e detesto ainda mais qualquer comida dos Normais. – Devia ter pensado nisso antes de me trazer para um lugar onde só servem comida dos Normais. – resmungou Alicia cruzando os braços e voltando a bater o pé no chão.

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Linda a encarrou nos olhos, Alicia mantinha o olhar longe, para fora da janela, na neblina tensa. Alfredo tomou três copos de cerveja em menos de cinco minutos, ele limpou a boca na manga do casaco e bateu com o copo sobre a mesa. – Um grande dia, uma grande vitória. Salve Kennedy! Os poucos que estavam no bar ergueram as taças e copos e soltaram o coro “Salve Kennedy”. Linda pareceu rir, o lenço em sua boca distorceu para o lado. Alicia revirou os olhos e continuou concentrada fora da janela. – Onde está Chito com o garoto? – resmungou ela batendo o pé e olhando para o relógio. – Tenho compromissos sabia? Não posso ficar aqui esperando por um bando de velhos. Alfredo tirou o sorriso do rosto, pareceu se lembrar de alguma coisa. – Senhoras, eu temo dizer. – ele olhou para os lados. – Como é um assunto inteiramente confidencial... Temos que conversarmos apenas nós três. Alfredo fez um sinal para o barman e ele veio quase que correndo. Os três se levantaram e seguiram o homem até um quartinho nos fundos. Alicia reclamou levantando o vestido branco a altura dos tornozelos, pois o chão estava muito sujo e encardido naquela parte do bar, seus cabelos cor-de-rosa agitavam-se a cada passo que dava, dando a impressão de se arrastarem ao chão. Linda seguira atrás de todos certificando de que ninguém estava seguindo–os ou implantando alguma magia para escutar a conversa, a guerra tinha acabado, mas nem todos os inimigos haviam sido derrotados. Ao passarem pelo aro da porta, Alfredo os trancou lá dentro, pedindo que o barman só reabrisse quando Chito chegasse. Era um quartinho comum, havia uma lareira pequena queimando, algumas poltronas e uma única janela ao lado direito, para a rua. As paredes eram de madeira um tanto quanto gasta. A sala era tão quente quando. Quando Alfredo ouviu o trinco na porta se virou para as senhoras. – O assunto é altamente importante, apenas nós podemos saber disso. Essa noite e todas as noites que virão. – Diga logo Alfredo. – Linda exaltou-se. – Chito não trará o menino. – Como assim velho? – pela primeira vez na vida, Alicia parecia estar prestando atenção em algo. – O que isso significa? 21


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Alfredo se certificou de que ninguém estava por perto. – O menino de Lucia e Kennedy não vira com Chito, mas sim com o pai dele. O próprio Kennedy. O mundo desabou naquele pequeno quartinho. Linda soltou uma palavra obscena, Alicia não sabia o que expressar em seu rosto, até mesmo Alfredo que dera a noticia pareceu ficar sem ar. Isso era o fim, Kennedy não poderia levar o garoto, ele tinha que ser entregue aos Dodds, até mesmo os Dodds sabiam que Kennedy não seria capaz de criar o próprio filho. Deveria ser criado por parentes e parentes humanos, não… não, Kennedy! – O que deu em Chito agora! – berrou Linda andando de um lado para o outro. – Ele perdeu a noção do que fez. Isso não está certo. NÃO ESTÁ! E se Kennedy levar o garoto? Já parou para pensar nisso? Já? Alfredo deve que segurá-la a um canto para acalma-la. – Calma Linda, Chito está vindo e explicara tudo. Ele é o mais sábio dentre nós e sabemos disso. – Só espero que você tenha razão Alfredo. – Linda se largou dos braços de Alfredo e se virou para se sentar numa poltrona perto do fogo. – E a garota, e a mãe do menino? Chito disse alguma coisa? Alfredo engoliu em seco. – Caos tentou acordar o dragão dourado. – Alfredo abaixou a cabeça. – Lucia estava com Kennedy naquele momento em que a luz surgiu. Kennedy nada disse em relação a ela. Alicia olhou para eles e tomou certa distância, não estava nem interessada sobre Lucia Kennedy, tão pouco com um dragão adormecido em um vulcão, pouco interessava. A guerra causada por Lucia Kennedy não era da sua conta. O tempo corria e eles ficaram ali, esperando. Alfredo verificou a rua, para caso algum Normal estivesse os espionando, Alicia olhava para o relógio o tempo inteiro, seu pé batendo contra o chão muitas vezes. Linda caminhou até a janela e espionou o céu, as estrelas brilhavam acima deles como vagalumes passeando por um céu negro. – São quase onze e meia. – disse Linda ajeitando a capa por cima do corpo.

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– Como sabe? Olhando as estrelas. – Alicia riu. – Tinha me esquecido Linda, a sua espécie e capaz de fazer isso... Tudo foi muito rápido. Linda pareceu um flash negro, num instante seguinte Alicia estava imprensada na parede ao lado da porta. O punho da velha corcunda apertava sua garganta, na outra mão, Linda tirou uma lâmina brilhante e lentamente foi chegando cada vez mais perto do rosto de Alicia, que riu. – Vai me matar agora velha? – perguntou ela, seus olhos cor-de-rosa brilhando de pura emoção. – Pelo que sei você é capaz, vai me devorar depois ou me enterrar como uma pessoa comum. Linda apertou sua garganta. – Nunca mais comente isso em público, está me ouvindo? – disse ela furiosa. Alfredo deu um passo à frente o pôs a mão no ombro de Linda. – Pare Linda. Não vale a pena. Não com ela. Linda a largou e foi para um canto da sala ainda em alerta, nada a deixava assim, exceto, talvez, Alicia. – Não sei como fui me tornar amiga de você Alicia. – disse ela ao olhar pela janela. – Minha paciência acabou em relação a você, há muito tempo Alicia, há muito tempo. Alicia ajeitou o vestido branco, com um grande sorriso no rosto. – Eu gosto muito de você minha amiga. Linda ainda agitada suficiente, começou a caminhar de um lado para o outro e depois em círculos falando em uma língua desconhecida entre os presentes naquele aposento. Ela chutou uma poltrona que só parou quando atingiu a parede oposta. Suas mãos tremiam atrás de seu corpo, sua corcunda parecia ter vida própria, sacudida de um lado para o outro, como uma gelatina. – Ainda não acredito que Chito permitiu que o pai trazer–se o garoto. – ela comentou com a testa franzida. Furiosa. – Acho que Chito está querendo se livra do garoto. – riu Alicia silenciosamente. Os dois a ignoraram. Alfredo deu um passo à frente.

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– Temos que confiar de Chito, minha amiga. Chito sempre sabe o que faz, sempre tem um plano em mente. Você o conhece tão bem quanto eu. – Só espero que você tenha toda a razão Alfredo. – disse Linda agora se largando na poltrona mais próxima. O tempo passava, O tempo urgia. Nada de Chito chegar. Alicia estava estupidamente ridicularizada com isso, esperava a todo o momento que Chito viesse, estregasse o garoto aos Dodds e voltasse para casa. Mas não, Kennedy viria em pessoa trazer o garoto aos tios. Isso seria algo bom? Todos sabiam que Kennedy não poderia criar o filho, todos sabiam que sendo um “deles” ele não teria essa alternativa. E se Kennedy surtasse e levasse o garoto embora. Seria o fim, o desastre, o mundo iria precisar de Johnny Kennedy quando a hora chegasse. Um tempo depois da discussão, um vulto passou pela janela. Linda se levantou. – Ele chegou. – todos desviaram a cabeça para a janela. Um homem havia entrado no bar, ouviram as saudações do quartinho. Chito era um homem muito conhecido e admirado por todos, era rico na área de humildade e capacidade, nunca houve homem igual a ele. O Lorde de Magma acara de chegar. Quando o barman abriu a porta, Chito entrou. Era um homem velho, curvado. Tinha uma grande e longa barba e cabelo vermelho–fogo, seus olhos por traz de óculos prateados eram verdes-vivos, uma elegância, seu rosto era enrugado e tinha um grande nariz de gancho. Usava trajes a rigor e se apoiava de uma bengala esculpida em madeira, no alto dela uma raposa vermelha esculpida. Logo acima, no ombro de Chito, um gato branco se apoiava. – Boa noite. – cumprimentou ele. – BOA NOITE!! – surtou Alicia a um canto. – você viu que horas é meu caro? Esse frio está de matar. – É verdade, está atrasado. – disse Linda, muito nervosa por concordar com Alicia. – E que história sacana é esse de deixar que Kennedy levasse o garoto? Chito entrou e trancou a porta, esperava ninguém tem ouvido os gritos. – Senhora Linda Bell, como é bom ver você novamente. – ele sorriu e se virou para os outros dois. – Alfredo Bolton, que honra estar em sua presença, mais 24


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uma vez meu bom, leal e velho amigo. E Alicia Mello. Vivo me perguntando o que a sempre a traz aqui… deveria estar comemorando. – Não tenho tempo para babaquices meu velho. – Alicia cruzou os braços e fechou a cara. O gato desceu do ombro do dono e caminhou em direção de Alicia que recuou lentamente e disse: – Essa mulher tem medo de mim. – Não tenho medo de você gato... – Sir Jorge, se assim agradar à senhora. Obrigado! – fez o gato com a pata no peito. – é mais estúpida que aqueles Dodds. Chito caminhou para Alfredo e lhe deu um forte abraço. – Meu amigo. – Alfredo soltou uma gargalhada. – como vai, seu pilantra? Os gêmeos, como estão? Chito o soltou. – São tudo pra mim, tudo meu amigo. Desde que minha filha… aqueles gêmeos têm os olhos dela sabia? – Todos têm. – Alicia riu e se virou para o gato. – Saia Jorginho, não gosto que me cheirem! O gato olhou friamente para ela, subiu no batente da janela para ficar a altura da mulher, a encarrou com seus olhos verdes e brilhantes… – Sir Jorge senhora e... – Jorginho, chegue… prepare-se. – chamou Chito. O gato não pareceu se ofender quando o dono o chamou de Jorginho, foi ao contrário, o gato deu um largo sorriso e acenou com a cabeça. O gato pulou no ombro do dono para receber carrinho e produzir um ronronado de se enfezar. – Sei que devem estar se perguntando o porquê eu deixei que Kennedy levasse o garoto pessoalmente à casa dos Dodds. – começou Chito ficando de frente para os três outros, Jorginho ronronava em seu ouvido e esfregava a cabeça na grande cabeleira vermelha do grande senhor. – Essa é a questão mais simples. Eu confio em Kennedy a minha vida. Confie em mim, confio em Kennedy.

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– Quem poderia confiar num “deles”? – resmungou Linda. – eu o alertei de todas as formas possíveis que o menino tem que ficar na Terra, só assim nós têm esperanças. – Certamente ele ouviu Bell. – Chito deu um sorrisinho. – e apesar das consequências que eu tomei, Kennedy sabe que seu filho não poderá ir com ele. Os Dodds são as pessoas certas para ele. Jorge esteve lá essa manhã. Alicia bufou e empinou o nariz. – A questão é a seguinte. – disse ela ajeitando o vestido mais uma vez, e olhando para aquele relógio o tempo todo. – Está ficando tarde, como chegaremos a Rua João Barros que fica a quilômetros daqui? – A resposta esta atrás de você. – respondeu Chito sorrindo. Alicia virou-se e se deparou com um quadro, pintado a mão por um artista desconhecido aos seus olhos. Avaliou aquele quadro como se ele fosse algo surreal. Depois de uma boa inspeção se voltou para Chito. – Um quadro? – perguntou descontraída. – É apenas um quadro. – disse Chito sério. – O que importa é o que está atrás dele. Nos tempos antigos, enquanto os Haymeths ainda vagavam pela Terra projetaram um meio único para eles, de se transportar facilmente de um canto a outro. Chito segurou o quadro e o removeu. Atrás na parede, palavras em uma língua diferente estavam escritas com tinta preta sobre a madeira gasta. Chito posicionou o quadro a um canto no chão e voltou-se para Alfredo. – A trouxe? – perguntou ele. Alfredo tirou de dentro das vestes uma simples caneta dourada, ele se aproximou de Chito e estendeu a caneta com uma reverência. – Aqui está meu amigo, como havia dito, estava muito bem guardada. – Muito obrigado velho amigo. – Chito pegou a caneta com outra reverência. Lá atrás Alicia Mello revirou os olhos. Chito se virou à uma parede e apontou a caneta para as estranhas escrituras, naquele momento as palavras brilharam numa luz azul e a caneta dourada de Chito começou a brilhar na ponta. Ele olhou fixo para as palavras de disse as seguintes:

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“me nmeo ed Harry Gana pçoe equ aarb ssee oprlat praa uqe psosaoms psasar. Estomorve”. E com um movimento da caneta fez um círculo perfeito ao redor das palavras que tomou uma forma azulada e formou um arco, suficientemente grande para passar uma pessoa. O arco azul imediatamente soou um som de água caindo. – Espero que nenhum Normal tenha visto. – preveniu Chito, o gato em sem ombro imóvel. – Não tem. – respondeu Alfredo. – eu observei desde a nossa entrada no bar. Se bem que hoje a rua vai estar movimentada, dia das bruxas. – Há essa hora, as crianças Normais estão mais que na cama. – disse Linda Bell parecendo demonstrar um sorriso. – Isso facilita muito nossa missão. – E nos céus? – perguntou Chito. – Ninguém parece estar observando. – disse Linda. Chito olhou para o portal. – Bem, então não vamos mais perder tempo. Está ficando muito tarde. Alicia sairá do canto e se aproximou do portal. Olhou-o atentamente e franziu a testa. Logo começou a procurar em suas vestes e tirou um pequeno frasco fino, que parecia um perfume Normal. – Mas o que é isso?! – exclamou Linda. – Iremos passar por esse portal Haymeth, quero me assegurar de que eu chegarei do outro lado com vida. – ele liberou um líquido do frasco, espirrando três vezes no portal, imediatamente o portal ficou cor–de–rosa por alguns segundos e depois voltou à cor natural, azul, com sons de água caindo. Linda parecia querer esgana-la, respirou fundo e apontou. – Já que não quer morrer. – disse ela fervendo. – vá à frente, faça esse favor para nós. Alicia não questionou, empinou o nariz e virou a cara, ergueu o vestido até os tornozelos e adentrou no portal. Ao passar, o som de água caindo se transformou

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em vidro se quebrando ao cair no chão. Quando o último vestígio cor-de-rosa de Alicia Mello desapareceu no portal o som voltou à água. – Um dia! Um dia ainda a mato. – disse Linda. Chito riu. – Sua vez meu amigo. – ele indicou Alfredo. Alfredo Bolton se posicionou a frente do portal, ele avançou e por alguma razão o som de vidro se quebrando fora menor. Quando Alfredo atravessou Chito voltou-se para Linda Bell. – Linda. Ela ficou de frente ao portal. Naquele momento aproveitou que estavam as sós, virou o rosto enrugado e coberto para se encontrar com o dele. – Não aprovo o que você fez Gana. – ela disse. – Sabe que Eles não são como a gente... você sabe. Espero que saiba o que está fazendo. – Bell. – Chito colocou as mãos enrugadas no ombro da velha. – Kennedy me deu total confiança em suas palavras. Ele levará o garoto. Confie. Quando atravessarmos o portal, ele estará lá. – Espero que sim. Espero... Linda atravessou o portal. Todos estavam muito ansiosos para terminarem aquela missão. Tinham que ir por ordem de Kennedy. Sabia que o garoto não poderia ser criado pelo pai, por que esse não era comum, era diferente. Kennedy fora proibido de cuidar do filho e até mesmo de ficar na Terra. Todos sabiam do real perigo que o garoto teria se fosse criado pelo pai, tinha que ser criado por humanos. Isso mesmo “humano”. Kennedy não era muito humano, alguns até não acreditam que de fato Kennedy não é humano, como o Sr. Dodds, por exemplo. Mas a pergunta seria se o filho dele, Johnny, se tornaria como o pai, metade-humano, metade – a raça do pai dele – ninguém poderia imaginar o que iria acontecer com o menino se ele herdasse os olhos do pai. Olhos que escondem um segredo a qual todos ansiavam em descobrir. Chito Gana, Alfredo Bolton, Alicia Mello, Linda Bell e até mesmo Jorge sabia do imenso perigo que esse garoto estaria a esperar daqui para frente, por que mesmo não querendo, Johnny era filho de um “Deles”, os seres mais extraordinários que esse mundo já teve. 28


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Quando seus parceiros se foram, o quarto entrou num silêncio incomum, Chito olhou por cima do ombro. – Está pronto Jorginho. – disse ele para o gato. – Mais pronto que nunca senhor. – respondeu Jorge colocando uma das patas na testa como um soldado. Chito mergulhou no portal. Ele logo sentiu um puxão na barrira como se o portal o sugasse para longe, sua forma física de deformou completamente ao corpo inteiro tocar a luz azul. Chito já era muito bom nisso e vivia resolvendo problemas através de portais Haymeths. Não era nada estranho aquilo que estava acontecendo, nem diferente. Porém quando saiu do portal estava intuito, Jorge tremia e seus pelos estavam todos em pé, os dentes do gato estavam serrando, fora um grande susto. Mas o que a viagem no portal não poderia fazer era o que estava acontecendo naquele momento, Chito se via saindo em uma rua escura e nebulosa, sabia que estava na Rua João Barros, enfeitada para o dia das bruxas, abobora iluminadas, criaturas medonhas enfeitavam as casas, porém também sabia que alguém deveria estar ali, um homem que lhe avia prometido que traria o filho em segurança no local, um homem em quem ele confiou. Jorge pulou de seu ombro e foi até a rua e olhou de um lado para o outro – como se fosse possível ver através da névoa intensa que cercava o local. – Acho que ele não está. – disse se lambendo para abaixar os pelos erguidos. Linda Bell o pegou desprevenido, mal teve tempo de perceber o que estava realmente acontecendo. – Já imaginava. – ela gritou. – Não se deve confiar neles. Kennedy levou o garoto, meus Deuses Chito isso vai mudar completamente o rumo das coisas... – Eu não entendo. – Chito olhava de um lado para o outro. – ele me deu sua palavra, ele... – Chega! – exaltou Alicia. – já estou farta disso, Kennedy não vem e devemos aceitar o fardo. O menino? Ele já era... Tem outro, o deixe no poder. Ela se encaminhou para o portal e antes que ela conseguisse passar Chito fechou–o. – Oque é isso? – berrou Alicia. – Abra–o! 29


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– Não! – Chito tentou manter a calma. – Ninguém vai partir. Somos membros da Ordem, juramos proteger o garoto. E assim faremos. Alfredo posicionou–se a frente de Chito. – Velho amigo. Acho que Kennedy... – Não! – Chito afastou o braço de Alfredo e caminhou em direção à rua. Ele juntou as duas mãos a frente do corpo e apontou para um dos lados. – Bell. – Não tem ninguém num raio de duzentos metros ao nosso redor que possa está nos observando. – respondeu ela com seu olho branco mexendo de um canto a outro. Chito Gana abriu os braços para os lados – como estivesse nadando – fazendo com que a névoa se dissipasse, formando um caminho direto a casa dos Dodds. – Vamos até a casa dos Dodds. Vamos espera–lo. – disse. Não era verdade, não poderia ser. Kennedy avia os enganado, tinha levado o filho embora para muito longe, quem sabe até além do planeta Terra. Chito se sentia a pessoa mais estúpida do mundo. Ninguém disse nada, assim todos começaram a caminhar pela Rua João Barros em direção ao número 52 – casa dos Dodds – e já estavam muito ansiosos para o que poderia acontecer. Será mesmo que Kennedy levara o garoto? Quem era Kennedy realmente? O Sr. Dodds acreditava que ele não era humano... Bom. Não se sabia ao certo, esse pequeno grupo aparenta conhecer bem esse Kennedy, o que não é tão diferente dele. O menino que deveria ficar com os tios tinha algo de especial? Tinha alguma coisa a ver com algo em relação de importância? Deveria ter, pois Johnny – como deverá se chamar – era filho de Kennedy... um deles. Quando chegarão ao número 52, a sombra de um homem caminhava de um lado para o outro, muito nervoso, uma mulher estava sentada num sofá com uma criança no colo. Chito se virou para o pequeno grupo que o seguia. – Não entendo. – disse. – Ela não vem meu amigo. – Alfredo o consolou. – devíamos voltar e tentar algum contato. Ajudar as pessoas que ainda sofrem por causa da guerra.

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– Alfredo tem razão. – Linda olhou fundo nos olhos dele. – A cidade precisa da gente, de você em especial. Temos que tentar algum contato, Kennedy não pode fazer isso. Foi proibido... – Vocês querem calar a boca e prestar atenção. – Alicia indicou com a cabeça o fim da rua. Ela tinha razão. No final da Rua João Barros, um tornado gigantesco começou a se formar e vinha na direção deles. O tornado estava começando a ter uma forma humana até desaparecer completamente e dar vida a um homem gigantesco, com mais de cinco metros de altura. Ele carregava um embrulho pequenino em seus braços. Começou a andar em direção ao número 52 enquanto diminuía de tamanho. Quando chegou ao pequeno grupo, tinha o tamanho aproximado de um homem normal. – Senhores. Senhoras. – ele fez uma reverência. – Senhorita. – Alicia botou a mão na cintura. – Por sua gentileza. Linda a olhou furiosamente, notou que a mulher estava com as bochechas avermelhadas. Resolveu não dizer nada. Kennedy tinha uma aparência encantadora. Estava usando um mando branco, que se arrastava ao chão, uma toca cobria sua cabeça. Ele além de ser muito branco, tinha a pele brilhante como um verdadeiro diamante, e seus olhos... Os olhos. Azuis claros brilhando como dois faróis de um carro que iluminava intensamente o local de uma luz azul. Ninguém ousava olhar diretamente para os olhos dele, além é claro, se você quisesse ficar cego para o resto da vida. Kennedy se aproximou de Chito. – Tome. – ele estendeu o pequeno embrulho. – Está aqui o garoto... meu filho. Chito o segurou, puxou os lençóis brancos do rosto do pequeno garotinho e olhou a face do menino. Era lindo, um pequeno bebê adormecido, muito parecido com o pai e ainda mais com Lucia, os cabelinhos castanhos caídos sobre a pequena testa. Linda chegou ao encosto de Chito. – Que lindo. – ela pareceu sorrir, fazia tempo que não o via. – ele faz um ano hoje, não é mesmo? Nossa! Tão pequenino.

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– Kennedy. – Chito olhou para ele tentando não olhar diretamente para os olhos. – O que realmente aconteceu... O que aconteceu a Lucia? Se for pessoal para você não diga, mas essa criança precisará conhecer a verdade. – Obvio que ele devera saber a verdade. – Kennedy concluiu. – Mais não quero falar sobre Lucia. Ninguém falou mais nada. Kennedy olhou para a casa onde seu filho passaria os próximos anos, sabia que Denis Dodds iria cuidar de seu filho como se fosse dele, por mais que o Sr. Dodds o odiava, ele tinha que deixar o filho com eles, não avia outra opção. – Acho que vocês ficaram meios assustados quando eu disse que traria meu filho. – disse Kennedy. – Naturalmente. – comentou Linda. – Bom. – Kennedy abaixou a cabeça e contemplou o chão, sempre fazia isso. – Hoje é noite de lua cheia, o que significa que meus olhos só brilham nessas noites. – O que quer dizer? – perguntou Alfredo meio desconfiado. – Simples. – Kennedy levantou a cabeça, todos desviaram os olhares. – Antes de eu partir eu tinha que ter certeza absoluta de que Johnny nasceria normal. Porém decidi trazer ele, eu mesmo, para nada menos que vê–lo. Foi quando vi. Seus pequenos olhinhos brilhando como os do pai. Todos pareceram se espantar. – Quer... D... Dizer que... ele. – Linda se engasgou. – Sim. – Kennedy abriu um sorriso pelo canto da boca. – O meu filho é como eu, de minha raça, e metade humano... como a mãe. Ele terá os poderes de meus olhos. Esse garoto ira sofrer muito possivelmente. Porém será incrível. – Mais... Quer dizer que ele possui esses olhos? – perguntou Chito encafifado. – Ele terá o poder que ninguém nunca viu. Que só você possui Esse... esse garoto vai ser muito conhecido. – Possivelmente. – Kennedy retirou o capuz que lhe cobria a cabeça, seus longos cabelos castanhos claros caíram relutantes cobre os ombros num brilho descomunal aos olhos dos outros. Kennedy beijou a testa de seu filho. – Boa sorte, Johnny, meu pequeno herdeiro. Acho melhor eu partir! 32


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– Não vai ficar para entrega-lo aos Dodds? – perguntou Chito. – Fiz o que tinha de fazer por uma noite. Os Dodds não gostam de mim. Um dia ainda vou vê-lo, mais por hoje é só. – Kennedy repôs o capuz. – me prometam que não vão deixa-lo se perder com Dimonos, não permitam que eles o casem como um animal... só peço isso. Ele é meu filho, o primeiro e único filho que realmente amei na vida. – Faremos o possível. – Chito fez uma reverência. O homem se virou para sair, quando estava a vários metros de distância do grupo ele começou a voltar ao seu tamanho original, de quase cinco metros e ali, simplesmente se transformou em poeira e foi levado ao vento. Linda olhou para o garotinho que dormia profundamente no colo de Chito, que estava abalado com o que ouviu sobre Johnny ou talvez impressionado de estar segurando o filho de Kennedy… um deles... – Ainda não acredito que esse menino tem os olhos. – comentou Linda. – Como não. – Alicia empinou o nariz. – O pai dele disse. Der. E viram como ele olhou para mim, Ha! Só eu mesmo. Linda olhou para Alfredo como quem dizia: “Vou Mata-la”, Alfredo apenas riu. – Temos que entrega-lo aos Dodds. – falou Chito. – está ficando muito tarde. – Você acha mesmo que ele possa ser o herdeiro? – perguntou Alfredo ainda tentando ver o rosto do bebê. – Seria mesmo que esse menino virá a ser um grande homem? – Assim como o pai. – Chito riu. – somente o tempo possa nos dizer, mas por enquanto ele vivera aqui. Descobrira as novas leis deste novo mundo, esse menino será sim o grande. O herdeiro dos Rucranios. – E a profecia? – Linda demostrava-se preocupada. – O tempo é o único que nos dirá Linda Bell. A guerra finalmente acabou isso já não é o bastante? – concluiu Chito. – Vamos, está mesmo muito tarde... Chito Gana se virou para a porta dos Dodds e bateu três vezes. A sombra do homem, cujo andava de um lado para o outro na sala de estar parou subitamente,

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O segredo do amuleto

ele dirigiu um olhar para a esposa e a abraçou, deu um beijo na testa de seu filho e veio atender a porta, destrancando inúmeras fechaduras. Naquele

momento

o

bebê

Johnny

Kennedy

estava

dormindo

profundamente, sem ao menos saber do que estava acontecendo fora daqueles lençóis. Sem desconfiar que uma rebelião estivesse se formando em segredo em alguma parte do país, que o mundo em que pertencia estava sendo retirado dele. O pequeno Kennedy nem desconfiava também que era mais do que especial, e que um dia saberia a verdade, que um dia descobriria que tudo dependera dele. O pequeno herdeiro cresceria grande. Mas por enquanto ele dormia profundamente, com os sonhos mais leves que um pequenino poderia ter. Denis Dodds envolveu o garoto em seus braços, lançando olhares desconfiados para o pequeno grupo do lado de fora de sua casa. Fechou a porta sem se esquecer de tranca-la bem.

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Dois Colégio Kings

Anos haviam se passado, desde aquela noite em que Johnny Kennedy fora deixado junto aos Dodds, porém então, Johnny já não era mais um pequeno bebê, o menino iria completar seus exatos doze anos a poucos dias e já era um garoto comum – ou pensava ser – como todos os outros da rua onde morava. Sua aparência era idêntica ao de seu pai. Um rosto magro, cabelos castanhos claros caídos sobre a testa, e seus olhos... Os olhos, azuis como o céu de um dia claro. Johnny tinha um pequeno defeito, sua capacidade de querer saber das coisas era grande, para ser mais exato, ele era bastante curioso. Os anos na casa dos Dodds não fora lá o perfeito, mais tinha algo naquela família que o deixava alegre. Os Dodds eram muito bem humorados e se divertiam muito quando o assunto fosse família e a única coisa em que derrubava o ambiente alegre naquele lugar era o nome Kennedy... Johnny nunca descobriu quem era seus pais, e como eles morreram. Sim, os Dodds optaram em não falar do tal Sr. Kennedy. Esse era um mistério enorme para o garoto, que os Dodds nunca revelaram. Quando a palavra “Pais” vinha da boca de 35


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Johnny, Denis Dodds – seu tio – ficava furioso e o mandava para o quarto em silêncio. Afonso, o Afonsinho, também não era mais um pequeno menino que fazia suas artes, agora era um menino mais velho, três anos amais que Johnny, porém era um grande companheiro de Johnny na escola. Eles estudavam num colégio local, chamado “Benzer”, um pequeno colégio em Nova Lisa. E era nesse colégio que Johnny passou a pior fase da sua vida medíocre. Por alguma razão as pessoas o olhavam com desprezo, mesmo antes de conhecê-lo, ele não sabia ao certo, mas qualquer um que olhava para ele logo virava a cara. Johnny pensava sobre isso e nunca chegou à conclusão, porem decidiu deixar assim mesmo, por que mesmo sem ninguém saber ele era uma aberração – como ele próprio o chamava. Johnny em certas noites deixava literalmente de ser ele mesmo. Todas as noites de lua cheia o garoto ganhava forças sobrenaturais além dos olhos brilharem intensamente em uma luz azul florida. Johnny não fazia ideia do que estava acontecendo, apenas os Dodds sabiam disso, mas nunca chegaram a conversar sobre o assunto. Por causa disso, decidiu simplesmente deixar as pessoas de lado, não queria machucar ninguém, pois quando seus olhos brilhavam ele perdia a consciência e quando acordava logo de manhã, fizera um grande estrago. Importava com os outros, não queria machucar ninguém, o último que se dizia amigo dele acabara num hospital e atualmente anda de cadeira de rodas. Johnny se sentiu péssimo quanto a isso, tentou procurar esse tal garoto, mais nunca o encontrou novamente, ouvira boatos de que a família dele mudara de país. Fora desse ocorrido que Johnny agora se isola, não queria machucar mais ninguém, o que talvez fora esse boato o motivo a qual todos o odiavam… quem sabe? Eram exatamente cinco da tarde de uma sexta–feira quando finalmente a história começa. Johnny e Afonsinho voltavam do colégio exausto e muito sonolento. Johnny estava sujo e todo rasgado, passara o dia inteiro fugindo dos colegas, nada muito divertido, mas era apanhar ou machuca-los. Se machucasse seria expulso e seus tios tomariam severas atitudes, se fosse pego tudo ficaria bem.

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Johnny decidiu inutilmente ser pego, pois não queria matar ninguém, nem seu pior inimigo. Afonsinho em geral todo reluzente e admirado por todos, naquele momento carregava ao peito um broche em forma de estrela gravado o nome: “estudante do mês” e exibia um grande sorriso no rosto. Para onde quer que ele olha–se, tinha alguém que acenava para ele. – O que foi Joh? – perguntou ele parecendo finalmente notar o primo. – Algo o incomoda? – Não, estou bem. – disse Johnny passando a mão pelo rosto suado. – estou meio cansado... só isso. – Só isso. – riu Afonsinho. – olhe para você, está todo acabado, não me diga que David atacou você outra vez. Johnny pensou, se ele não poderia bater no garoto sem o mata-lo, talvez Afonsinho desse um jeito nele, ou talvez fosse piorar as coisas, pois iria ser conhecido pela escola como: “O fracassado”. É… era melhor deixar quieto. – Não. – respondeu com os punhos cerrados. – eu apenas caí. – Outra vez?! – se surpreendeu Afonsinho. – Caracas! Você já caiu umas cinquenta vezes esta semana. – Hã… é. – respondeu o garoto. Os garotos chegaram a Rua João Barros, estavam quase em casa. Johnny olhou para trás e poderia jurar ver um gato se escondendo dele. Era um gato muito estranho, sempre estava o perseguindo seja lá onde for. Johnny notava o gato que sempre tentava se esconder sem sucesso. Voltou à atenção para frente, tinha de esquecer aquele gato idiota. – Hum… Afonsinho. – Chamou Johnny. – Sim. – respondeu o garoto mandando beijo a uma loira ali perto. Afonsinho era o galã de Benzer, mas para Johnny era o mais idiota. – O que foi Joh? – Cara, me chama de Johnny, apenas Johnny está bem? – Nossa que mau humor, eu te fiz algo? – Afonsinho franziu a testa. – Desculpe. – Johnny ajeitou a mochila nas costas. – Mas, é que... por que as pessoas me odeiam, será que foi o que aconteceu com meu amigo Scot? 37


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Afonsinho pareceu congelar, o menino de cadeiras de rodas se chamava Scot e Afonsinho o conhecia tão bem quanto conhecia a si próprio. O menino pareceu perder a fala. – Não sei Joh... quer dizer Johnny. – respondeu. – Não ligue para isso, eu também tenho inimigos... e olhe lá em... – e deu uma grande gargalhada. – Sei. – Johnny contemplou o chão, fazia muito isso. – será que é o fato, de eu ser diferente, ter olhos que... – Silêncio. – pediu Afonso. – sabe que não pode dizer isso no meio da rua e se alguém ouvir? Johnny decidiu não falar mais nada. O sol estava se pondo à medida que os meninos avançavam, o peso nas costas de Johnny estava intensamente, o garoto suava, só não sabia se era calor. O número 52 estava ficando mais perto. Johnny sabia que Afonsinho não tinha a mínima ideia de como ele estava se sentindo, desde pequeno, ninguém notava que ele estava daquele jeito, triste e isolado. Para as pessoas ele era apenas mais um no mundo e não tinha nada de errado com ele, o que era completamente ao contrário. Mais uma vez o garoto olhou para trás, o gato novamente pulou para uma lata de lixo próxima – como se Johnny não fosse notar – aquele gato estava o perseguindo já fazia três anos desde que se lembrava, mas nunca chegou tão próximo dele, por que o gato era mascote de sua vizinha, a Sra. Bell. Uma mulher muito estranha vestia sempre um manto negro e cobria completamente o rosto, além de uma enorme corcunda nas costas. A mulher sairá de casa em muitas poucas vezes, quase nunca viam ela, mas isso não era razão para aproximar de seu gato que assim como ela, era muito sinistro. Afonsinho acenou novamente para um grupo de garotas que caminhavam em direção oposta deles, elas sorriram para ele e olharam constrangidas para Johnny, até então ouviu comentarem: “Por que o menino mais gato de Benzer anda com um garoto desses?” como também: “Olhe só para aquele menino, por que ele está andando com ele”. Johnny tinha uma sensação descomunal de que aquelas meninas estavam falando de Afonsinho e estavam certas, Por que ele, Johnny, andava com um garoto desses?

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– Não quero nem saber o que papai vai dizer ao ver você assim. – comentou Afonsinho de nariz empinado. – Ele falou para min ficar de olho em você, mas você vivi brincando de pega–pega com seus amigos. Johnny cerrou os punhos. – Eles não são meus amigos. – disse entre os dentes. – e não quero nada com eles... apenas que fiquem bem longe de min... só isso. – Hum, não queria insultar nem nada... – Afonsinho. – Johnny chamou interrompendo–o. – Sim... – Cale sua boca. – pediu quase educadamente. Afonsinho não disse mais nada, talvez não esteja querendo ser assassinado por Johnny, aqueles poderes sobrenaturais do garoto tinham que ficar nele e apenas ele. Quando finalmente chegaram ao nº 52, os garotos entraram em casa. O hall de entrada dava acesso à sala de estar, ampla e muito bonita. Era branca e tinha uma decoração de tirar o folego. Três sofás de couro encostados à parede, a poltrona no tio Denis inquieta num canto, uma enorme TV de 50 polegadas pregada à parede, além de um belíssimo lustre cravado no teto. Quadros e plantas alimentavam o local de alegria e harmonia. Tia Tânia viera correndo abraçar os meninos. – Que bom que chegaram. – ela abraçou Afonsinho, Johnny tentou deslizar pelo canto para ir direto ao quarto. – O que é isso. – ela apontou para a estrela de Afonsinho. – Não acredito... Estudante do mês outra vez... Johnny?! – Sim tia Tânia. – respondeu o garoto tendo que pôr um fim em sua luta pela vitória. – Que situação é essa, queira me explicar. – tia Tânia estava usando um avental, pois estava preparando o jantar para aquela noite, tio Denis estaria chegando mais cedo da empresa e é claro estaria com muita fome. Johnny olhou para sua tia, não sabia o que dizer. Se falasse mentira como simplesmente caiu na escola, ela iria até lá confirmar essa história e conhecendo muito bem tia Tânia, Johnny supôs que dizer a verdade era muito melhor. – Uma emboscada. – respondeu. 39


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Tia Tânia arregalou os olhos para ele, fitou–o demoradamente, engoliu em seco. – Alguém se machucou... Hã, quero dizer... você está bem? Johnny olhou fundo nos olhos da tia e acenou afirmativamente. – Com licença. – pediu e assim que pode subiu as escadas para o segundo andar pulando de dois e dois degraus. – Tome banho e se vista para o jantar. – gritou a tia. – Não vou jantar hoje. – gritou Johnny de volta. Johnny trancou a porta do quarto, estava esperando a hora mais agradável do dia, tomar um belo banho e cair na cama. Ali era o lugar a qual gostava de ficar, tinha tudo que um garoto comum gostaria de ter num mundo em que tudo era tecnológico. O quarto era grande, avia uma cama de solteiro encostada a um canto da parede esquerda, a direita uma escrivaninha com vários cadernos e livros iluminados por um abajur, a um canto um grande guarda–roupa que ligava a uma porta para um banheiro luxuoso. O mais incrível de tudo aquilo era o vídeo game de última geração e um belíssimo Notebook, descansando em cima da cama. Johnny jogou a mochila em cima da cama, descalçou os sapatos sujos e jogou para um lado, o garoto caminhou até o guarda–roupa e tirou vestes limpas e quentes onde a todo custo queria vesti-las. Johnny foi para seu belíssimo banho. Naquele momento já no chuveiro, apesar do súbito barulho que o chuveiro fazia, ele ouviu um barulho em seu quarto. Desligou o chuveiro para ouviu melhor... e nada. Ligou-o outra vez. “Eu devo estar ficando maluco”, disse para si mesmo, mas o mesmo barulho retomava ao seu quarto. Johnny decidiu parar por ali, se secou e se vestiu, porém quando abriu a porta foi tomado por uma luz azul. Ele não conseguia ver o que era aquilo que estava em sua cama projetando uma luz muito brilhante, seus olhos foi se acostumando com a luz ao se aproximar, era nada menos que um papel florido, triangular, azul e não tinha indícios de que fosse ligado na tomada, para ser tão brilhante daquele jeito. Johnny apertou os olhos para ver o que tinha escrito nele: Colégio Kings Diretora: A. Mello 40


O segredo do amuleto

Johnny olhou para todos os lados para tentar achar o suposto brincalhão, mas não avia ninguém em seu quarto a não ser por ele próprio. Johnny decidiu abriu o envelope cujo estava lacrado por um símbolo muito diferente. Um triângulo com três coroas dentro, Johnny abriu: J. Kennedy João Barros, Nº 52. Nova Lisa. O Senhor Johnny Kennedy tem uma vaga em aberto no Colégio Kings e terá de se apresentar às três da tarde do dia seguinte com um acompanhante, à escola está lhe oferecendo essa oportunidade e será única. Você terá que saber de tudo. Aguardamos sua resposta pela manhã. Vossa senhoria, A. Mello Johnny ficou de boca aberta. O que era esse tal Colégio Kings e por que mandara essa carta para ele? O coração do garoto acelerou ao lembrar que alguém tinha posto aquilo ali, pois ouvira um sinistro barulho. Quem seria A. Mello e por que ele tinha uma vaga? Será que fora seus tios? Ele jogou a carta em cima da cama e correu para o corredor chamando por eles, quando esses chegaram até seu quarto, Johnny apontou para a cama. Tio Denis se aproximou lentamente da carta e a segurou–a na mão. – Não acredito. – disse ele de boca aberta para a esposa. – Eles o reclamaram, estão querendo Johnny de volta. – Hã! – disse Johnny de boca aberta. – Quem me quer de volta? – Deixe me ver isso querido. – pediu Tânia arrancando a carta das mãos de tio Denis, olhou por um longo tempo para as palavras e se virou para o marido. – é mesmo... Denis. Tio Denis olhava para a carta como se ela fosse ataca-lo ou algo mais parecido, o que Johnny achava que aquela carta não fosse capaz. Do nada ele mudou de feição, e abriu um largo sorriso. 41


O segredo do amuleto

– Acho que está na hora de contar algo para você Johnny. – disse ele. – Oque está acontecendo? – Na verdade, você saberá e em breve. – tio Denis pegou no braço de tia Tânia ainda com a carta na mão levando-a para fora do quarto. Fechou a porta ao passar. Na manhã seguinte antes do café, Johnny limpou seu guarda-roupa. Iriam para um colégio interno chamado Kings. Isso era loucura! Não demorou em arrumar suas coisas. O garoto não dormira direito aquela noite, pois era um assunto que não saia de sua cabeça e isso mais uma vez estava o perturbando. Tivera um sonho muito sinistro essa noite, tinha sonhado que estava se transformando em algo horrível, peludo, assustador e até dolorido. Sabia que era apenas um simples sonho que na verdade era um terrível pesadelo. Johnny não sabia o motivo mais acordara aquela manhã todo dolorido. Era assustador ter esses sonhos, não era a primeira vez que acontecera isso ao garoto, geralmente acontecem em noites de lua cheia quando subitamente perde a consciência e acaba fazendo besteiras, nada o fazia ficar melhor depois disso. E esse era o maior dos problemas agora, toda noite de lua cheia ele perdia a consciência e atacava as pessoas, mas essas noites e quase todas às vezes ele ficava na casa dos Dodds e não à solta nas ruas. O problema era que ele estava indo para Kings, um colégio interno e deveria ficar naquele lugar em todas as noites de lua cheia, mas uma coisa era boa, o ano estava acabando e só avia uma lua cheia para se preocupar, o que já era grande coisa. Ele descera com as malas para o andar de baixo e não pode deixar de ouvir uma voz conhecida. Tio Denis e tia Tânia conversavam baixo. – Ele terá mesmo que ir Denis? – falava a tia. – Claro. – respondeu o tio. – O Sr. Gana nos deu total confiança, e assim é melhor para o garoto, ira conhecer o povo dele. O coração de Johnny saltou. O povo dele? O que significava isso... ele se aproximou para ver pelo buraco da fechadura da porta que dava passagem para a cozinha onde discutiam: Johnny viu tio Denis atrás de um grande jornal e tia Tânia lhe servindo café à mesa. 42


O segredo do amuleto

– Não sei não querido. – falou sua tia. – Não sei se aquele lugar é adequado a ele. – Adequado? Tânia! O garoto faz parte daquele lugar. – E se ele não se adaptar? – É o povo dele Tânia. Alguém havia cutucado Johnny pelas costas. O garoto se virou e levou um grande susto, a aparência de Afonsinho era assustadora. O garoto estava com o cabelo todo bagunçado e seus olhos estavam cansados, quase fechados. – O que está fazendo ai no chão? – perguntou ele num longo bocejo. – Eu? É… nada, eu só… eu. – Johnny não conseguia explicar. Afonsinho olhou de lado para seu primo e depois entrou na cozinha. Johnny franziu a testa e entrou logo em seguida. O banquete de café da manhã foi perfeito, tudo do que mais Johnny gostava. Tia Tânia olhou para ele e lhe ofereceu uma xícara de café – coisa que nunca fazia – Johnny negou o café, uma das coisas que detestava. Logo em seguida Tio Denis lhe ofereceu uma torrada meio queimada – coisa que nunca fazia –, Johnny mais uma vez negou. Olhou para os tios e se levantou. – O que está acontecendo aqui? – disse ele em alto tom de voz. – Johnny! – exclamou a tia seca. – Não está acontecendo nada aqui, quer fazer o favor de se sentar? – O que é aquela carta? – perguntou ele apontando para cima, como se a carta de fato estive–se naquela direção. – A sua matricula, só isso. Agora se cale. – disse tio Denis calmo. – Que carta? – perguntou Afonsinho com a boca cheia de torrada. – Não é da sua conta! – disse os três juntos deixando Afonsinho de olhos esbugalhados. Johnny se sentou, mas não estava satisfeito com a resposta, sabia que seus tios tinham alguma ideia do que aquela carta queria dizer e também quem era as pessoas de que enviara a carta. Johnny pensou em fazer uma coisa que nenhum garoto comum que sabia dos fatais perigos faria. – É sobre meu pai, não é... Kennedy?

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O segredo do amuleto

Foi o luto, o fim. Denis Dodds congelou, tia Tânia caiu da cadeira. O nome tabu fora falado naquele ambiente, os Dodds não suportavam esse nome, nunca falavam sobre o assunto. Tânia se levantou, mas ainda com os olhos nos de Johnny. Tio Denis abaixou o jornal lentamente da sua visão e encarrou Johnny com olhos penetrantes. – O que disse? – perguntou. – Eu perguntei se meu... – Fecha essa boca menino! – gritou ele. – Não! Não tem nada a ver com ele... faça alguma coisa de bom e comece a arrumar essa cozinha... com licença! Tio Denis saiu furioso escada a cima, tia Tânia correu para alcançar o marido. Afonsinho estava com uma cara como se não entendesse nada. Ainda passando margarina na torrada, olhou para Johnny. – Ruim para você, vai ter que arrumar a cozinha. – e deu uma gargalhada. – Nada disso. – disse Johnny, o sorriso estampando–se em sua boca. – Lembre–se que fui eu quem vendeu a estrela de “estudante do mês” para você? Então o que aconteceria se o “Estudante do mês”, Johnny Kennedy abrir a boca? – Safado! – gritou Afonsinho. – Está bem eu te ajudo, mas fica quieto, ok? Aquela história estava muito mal contada, Kings não era de fato uma simples escola em que qualquer pessoa possa entrar, por que nenhuma escola que Johnny saiba manda cartas brilhantes diretamente para os alunos. Isso era incomum ao que se estava acontecendo, estaria partindo para esse novo colégio interno há poucas horas, tio Denis enviou e-mails confirmando a entrada de Johnny e para surpresa dele próprio. Afonsinho também ia nessa jornada. O garoto chutou as paredes do quarto, quebrou seu novo celular, espetou o gato preto que perseguia Johnny com uma faca e mesmo assim iria para Kings. Depois que Johnny colocou Afonsinho para lavar a loca, varrer a casa e ainda por cima arrumar sua cama, ameaçando–o de contar sobre a estrela de “Estudante do Mês” outra vez só para ter certeza de que ele não faria nada. Johnny finalmente fizera alguma coisa, reuniu todos os lixos acumulados na casa e jogou tudo numa sacola, decidido em separar a reciclagem com muita calma. Feito isso o garoto saiu para deixar o lixo na calçada, onde naquele dia seria dia de coleta. 44


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Johnny teve dificuldades de levar tudo sozinho para fora, levara cinco viagens para completar o trajeto de colocar o lixo para fora. Nova Lisa era uma cidade tão tecnológica que Johnny ficava se perguntando como os Dodds ainda não tinha a empregada robô que sairá no mercado há pouco tempo. Alias a cada dia uma coisa nova era inventada para ajudar a vida domesticas das pessoas. O mundo estava avançando proporções inimagináveis a olhos humanos. Johnny era muito pequeno para desfrutar tamanha imensidão e pensava a cada dia como as coisas mudariam daqui dez anos. Nova Lisa por si era uma cidade muito clara em tecnologia. Os pontos de ônibus eram automáticos, bancos e lojas comerciais eram tudo computadorizados, porém tio Denis não queria investir em um computador para controlar a sua empresa, segundo ele, computadores são inteligentes demais para levantar uma empresa como a dele. Johnny não sabia se um computador tinha tantas qualidades para tanto, e mesmo assim sabia que Denis Dodds precisava muito de um deles, suas rugas e olheiras de estrese estavam ficando cada vez mais intensas. E com um mundo altamente tecnológico, uma simples carregada de lixo para Johnny era um tanto normal. Quando estava na última viagem de colocar todo o lixo para fora de casa ele não demostrava que estava nada cansado, vivia correndo dos “amigos” na escola e uma corridinha não iria mata-lo, Porem quando sua última viagem chegou enfim, ele não esperava que a velha senhora Bell estive-se parada a cerca que sapara as duas casas, Johnny olhou para ela e no momento seguinte decidiu desviar o olhar e não incomoda-la, mas não esperava que essa senhora o chamasse a atenção. – Olá meu querido. – disse ela, sua voz fina e franca. – Como vem andando? – Hã… é… olá Sra. Bell. – respondeu Johnny jogando a última sacola em cima dos demais, admirado de como uma família tão pequena acumulava tanto lixo, assim virando–se para a velha. – estou bem sim... – Para um jovem como você, deveria estar bem mesmo. – disse ela sem Johnny ter certeza se ela abria um sorriso. Aquela velha morava lá desde que Johnny era pequeno, o garoto nunca vira o seu rosto, nem saberia dizer quem era ela. Uma coisa tinha certeza, Bell era muito estranha. 45


O segredo do amuleto

– Por acaso, você viu minha gata Lala por ai? – perguntou ela. – faz um tempo que não a vejo. Johnny se aproximou mais da cerca. – Sabe de uma coisa. – disse. – esse seu gato vive me perseguindo... ele não é normal. A Sra. Bell deu uma gargalhada alta e olhou para o céu. – Ela é mesmo muito curiosa. – disse ela, Johnny franziu a testa. – Nossa faz tanto tempo que eu não vejo essas constelações. – Constelações? – repetiu Johnny olhando para o céu claro, sem nuvens e também sem estrelas. – não tem estrelas no céu a esta hora do dia. – Correto. – a velha olhou novamente para Johnny. – mas só por que está um dia lindo, não é motivo para eu não vê-las. Elas sempre estão lá, sempre no mesmo lugar. Johnny olhou para os olhos da velha, um era de cor castanho, já o outro era uma espécie de branco-leitoso, o garoto supôs que aqueles olhos tinham algo a ver com isso. Era uma razão estranha de poder ver estrelas a luz do dia, por que segundo ele, humanos comuns não poderiam ver. – Eu tenho que ir. – disse Johnny olhando de lado para Bell. – Vou ter que arrumar as malas... – Está indo para o colégio Kings, meu bem? – interrompe-o ela. – Como sabe? – Hã... que bom. – ela pareceu abrir um sorriso, colocou as mãos enrugadas sobre a cerca. – Ira gostar de lá... um lugar agradável, se assim poço dizer. Johnny olhava admirado para ela, como seria possível ela saber? – Ainda não compreendo, como... – Claro. – Bell deu um passo para trás e ergueu a cabeça para o céu novamente. – ou achou que você era o único diferente nesse mundo tolo. O coração de Johnny disparou automaticamente a essas palavras. Diferente? Mas como assim, o que ela queria dizer? Seria que Bell sabia do segredo de Johnny e dos Dodds? Será que ela sabia sobre os poderes que supostamente Johnny obtinha dentro de si? Bell olhou para Johnny mais intensamente, seu olho leitoso deu um breve trêmulo. 46


O segredo do amuleto

– Quando foi à última vez em que seus olhos brilharam em noites de lua cheia? Johnny caiu com um baque surdo no chão, pareceu quebrar todos os ossos de seu corpo. Como Bell sabia disso? Não tinha como saber, apenas os Dodds sabia de seus olhos, nem mesmo os alunos de Benzer sabia a real situação de Johnny, não tinha como ela saber. – Como sabe de meus olhos? – perguntou ele quase bufando. – Bom, sendo eu quem sou, tenho meus próprios segredos. – disse a velha. Johnny se levantou cautelosamente do chão, passando a mão sobre as costas doloridas. – Os Dodds sabem disso? – perguntou. – Se devem ou não saber… eu não sei. – Mais isso é um segredo. Bell olhou novamente para o céu, contemplou o azul sinistramente igual aos olhos de Johnny. A velha franziu a testa e olhou para Johnny mais atentamente. – Marte prevê guerra. – disse ela. – Oque? – Johnny não fazia ideia do que a velhota estava falando. – Claro… ele é o deus da guerra. Kings o chama… seu destino está cada vez mais perto Johnny. – Isso tem a ver com meu pai? – Johnny falou do nada, não queria ter feito aquilo de fato. Bell olhou para ele seriamente, Johnny notou uma pequena veia pressionar a testa da velha, tão enrugada quando suas mãos. Porém tinha algo naquela velha senhora que Johnny se familiarizava, ela de fato era muito estranha assim como ele. Bell era diferente dos outros. Idêntica a Johnny, não na aparência, é claro, mais sim em caráter e estranheza completa. Johnny sabia que Bell não falaria nada a respeito de seu pai. E não era de hoje que o garoto vem notando que o nome de seu pai tem transtornado todos, os Dodds nem se quer pode ouvir esse nome, Bell por mais que não caiu literalmente por causa do nome, apenas ficou calada. – Você sabe algo sobre o Colégio Kings? – perguntou Johnny mudando dramaticamente o rumo da coisa. 47


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Bell pareceu rir. – Kings é uma instituição para crianças especiais. Assim como você. – Explique melhor. – pediu Johnny. – Lá é onde tudo acontece Johnny, seu lugar é lá. Não posso contar as coisas assim. Lá aprendera que a vida não se resume a simples coisa, ela é fonte que gera o futuro do novo ser. – Poderia explicar de uma língua a qual eu poça entender! – exclamou Johnny de boca aberta. – Tenho que ir Johnny. – falou ela depois de um breve silêncio. – Fique junto de amigos... a partir daqui sua vida não será a mesma. Olhe para a casa dos Dodds e fique bem. Johnny olhou para a casa, se era para olhar ou não, ele não fazia ideia, mas olhou só para ter certeza. Foi quando virou a cabeça levou um grande susto, Bell avia sumido, literalmente desapareceu do nada, a única coisa que Johnny via era a pequena cerca branca que separava as casa que há segundos atrás estava a Sra. Bell com suas mãos enrugadas apoiadas. Johnny voltou em tempo para terminar de arrumar sua mala, não parou de pensar um segundo em Bell. Não entendera muito bem o porquê ela sairá finalmente daquela casa para falar com ele, como ela sabia que ele estava embarcando para Kings? Até mesmo sobre seus olhos? Bell era muito sinistra, Johnny ficou pensando em sua face, o que poderia esconder atrás daquele lenço? O que poderia estar por trás? Simplesmente foi assim, Bell tomou sua mente. Era perto de uma e meia da tarde depois do almoço, os Dodds estavam reunidos na sala de estar. Tia Tânia usava um vestido verde, seus cabelos negros caídos sobre o ombro, à mulher carregava uma quantidade grande de joias que Johnny pensou se fosse mesmo necessário. Tio Denis usava uma calça florida, extremamente ridícula, pois em geral tio Denis sempre passava várias horas debaixo de um terno. Afonsinho ainda emburrado – pois não queria deixar Benzer – usava uma camisa branca com um colete xadrez por cima, seu cabelo negro como o dos pais estava todos repicados deixando apenas uma longa franja na frente, espetados em ângulos diferentes. Johnny não estava melhor. Seu cabelo castanho claro sempre desalinhado, impossível de arrumar, usava uma simples camisa 48


O segredo do amuleto

branca e calça jeans, com o logotipo “My Pocket” gravado no bolso de trás e um sapato muito gasto. Tio Denis estava largado em sua poltrona, tia Tânia e Afonsinho estavam nos sofás assistindo um noticiário na TV. Quando Johnny chegou a sala, ele olhou para o tio que não despregava os olhos da TV, ele pegou o controle remoto para desligar a TV, mas a notícia seguinte pegaram todos de surpresa: “Ataque em Kings: Professora assassinada” “Mais um episódio agora no colégio Kings. O autor Celelo Angelo acusado de três homicídios fora capturado essa manhã por policiais de São Christopher. O homem acusado de suposto assassinou de uma professora que dava aulas de álgebra na instituição de uma das maiores escolas de São Christopher. A Senhora Helena Leão fora vista uma última vez rondando um edifício abandonado onde antes existia um orfanato. Não sabemos o real motivo para esse crime. Celeno Angelo vem sendo investigado há anos e após sua captura ele disse a um de nossos jornalistas: “Ainda não terminei minha missão”. O corpo de Helena Leão não fora encontrado. Celeno Angelo casado com Lassa Angelo tem dois filhos, sendo que um deles estuda atualmente no Colégio Kings… E o colégio informa que continua sempre o mesmo, que os estudantes não precisam entrar em pânico. Celeno Angelo aguarda julgamento”. Todos se entreolharam assustados. Mais um motivo para Johnny estranhar essa façanha. Uma mulher foi morta e supostamente dava aula em Kings. Tio Denis tirou o controle das mãos de Johnny e desligou a TV e se afastou como se nada tivesse acontecido. – Estão prontos? – perguntou ele. – Denis! – exclamou tia Tânia olhando feio para o marido. – Viu? Era disso que estava falando. Não podemos levar os garotos. – Que Bom. – disse Afonsinho abrindo um sorriso. – não iremos mais… nossa! Que surpresa. Tio Denis o olhou feio. 49


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– Claro que vão! Eu estudei em Kings durante minha infância, é uma instituição muito boa. – Mas... – Nada de mais Tânia. O assassinato nem foi no colégio está bem. Temos que ser previsíveis, sabemos do real ato. Vamos! Sem dizer mais nada os quatro em poucos minutos estavam dentro do carro de trabalho de tio Denis. Afonsinho ficara outra vez muito emburrado, decididamente não estava querendo ir. Mas algo ainda incomodava muito Johnny, essa história já saiu do controle. Tio Denis falara que estudou em Kings. Seria mesmo que o colégio era bom? Normal? Johnny estava com frio na barriga só de pensar. Denis Dodds dera a partida no carro, e em seguida saíram. Seus tios ficaram calados por um bom trajeto. Johnny imaginava sua vida em Kings... Seu aniversário estava chegando e com ele a lua cheia. Conseguiria se enquadrar nessa nova escola? Johnny achava que talvez conseguisse, pois nunca tinha estado na cidade de São Christopher e ainda mais no Colégio Kings, receava que nada desse certo. Estava muito preocupado com o que poderia acontecer... – Está bem Johnny? – perguntou Afonsinho no banco de trás do carro com Johnny. – Eu? Claro por que não estaria? – respondeu ele. – Relaxa, Cloe também está no sexto ano. Quem sabe ela não caia em sua sala. Johnny sentiu sua pele queimar, ficara muito vermelho, esse nome o derrotava. – O que tem ela estudar em Kings? – perguntou torcendo a cara. – Sempre quando ela vem passar as férias na casa do pai. – Afonsinho riu. – você vive gabando na janela do quarto. – Não é verdade. – respondeu Johnny parecendo o semáforo vermelho a frente. Cloe MacLaine era vizinha dos Dodds. O quarto de Johnny era para o lado da casa de Cloe e justamente a janela de seu quarto ficava de frente a janela dela. Johnny nas férias passara maior parte do tempo no quarto esperando ver Cloe. Era 50


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a única garota que não tinha medo ou desprezava Johnny, sempre estavam unidos desde pequenos o que é claro, não teve como se conter, Johnny produziu um grande amor por Cloe, à garota de seus sonhos. Cloe tinha a mesma idade que ele, falara para ele que estudava em Kings o que fez Johnny pensar se era o mesmo colégio Kings e se seria um lugar bom se assim fosse. Ela tinha cabelos castanhos ondulados e olhos à mesma cor, Cloe tinha um charme que só Johnny conseguia enxergar. Uma forte emoção surgiu no rosto do garoto, tinha esperanças já que Cloe era a garota de seus sonhos. Johnny colocou a cara sobre a janela do carro, espiando os carros da avenida ao lado virem na outra mão, Johnny jurou ter visto Cloe em todos os carros, e isso acontecia naturalmente quando ele pensava nela. Era quase três da tarde e eles haviam deixado Nova Lisa para trás e entraram em São Christopher, não demorou muito para tio Denis encontrar sua antiga escola. Ele parou em frente a um grande casarão vermelho e olhou para os garotos. – Chegamos... Ha a que saudade. Que saudade! – e eles desceram do carro. Tio Denis tirou as malas do carro e saiu puxando, ele estava ansioso para rever a escola a qual estudou. Afonsinho olhou em volta para um grupo de meninas que estavam usando uniformes idênticos, camisa branca e saia rosa. Um grupo de meninos usava camisa branca e short vermelho. Ele fez uma cara horrível. – Em Benzer não tinha essa coisa idiota. – resmungou. – Temos mesmo que usar isso? – Sim querido. – respondeu tia Tânia passando a mão pelos cabelos de Afonsinho. – Mais de uma olhada em volta, não é um máximo? – Sabe. – concluiu Afonsinho. – Isso vai ser divertido. – e jogou um sorriso para uma menina que vinha em direção oposta deles, ela travou no local e abriu um sorriso rosado. Quando chegaram às grandes portas de ouro, Johnny logo notou que aquele local era muito rico. Tio Denis abriu as portas lentamente mostrando um lindo salão grande. Um espaço para lazer a espera, várias colunas de mármore sustentavam um teto alto, vasos de plantas e flores enfeitavam o local, mais a frente

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um grande balcão se encontravam três mulheres vestindo uniformes idênticos, um azul claro. Eles se aproximaram admirando tudo. – Posso ajudar? – falou a mais nova delas quando se aproximaram do balcão. – Olá, sou Denis Roberto Dodds. – respondeu ele. – Tenho duas vagas aqui neste colégio, uma em especial. – disse as três últimas palavras quase num sussurro. Johnny rezou para que não fosse ele, mas tio Denis tirou a carta brilhante do bolso e a entregou. – Sim. – ela olhou para Johnny. – Queira me seguir pequeno jovem, vou lhe mostrar o seu quarto. Johnny pegou sua mala e foi para o outro lado do balcão. – Até mais querido. – disse sua tia dando lhe um beijo em sua testa. – Tome cuidado. – aconselhou seu tio bagunçando ainda mais seu cabelo. – A gente se vê Joh. – gritou Afonsinho que depois que beijou os pais seguiu uma mulher mais velha por outra porta. Os Dodds estavam com brilho nos olhos ao verem Afonsinho ali, numa das melhores escolas da cidade, até mesmo Johnny, pois queriam o melhor para ele. Eles acenaram para ele enquanto a moça da recepção fechava a porta. O corredor era muito estranho e espaçoso, muitas estátuas de mármore estavam expostos aos cantos, quadros antigos parecia olharem para ele, Johnny continuou seguido à mulher por vários corredores, parecendo um grande labirinto, quando enfim chegaram ao quarto de número 140, foi que a mulher parou e se virou para Johnny. – Você fica aqui. – disse ela entregando a Johnny um maço de roupas, cujo era os uniformes de Kings. – O uso é obrigatório e também isso. – ela lhe entregou um crachá, que informava “Johnny Kennedy – 6º Ano”. – Isso também e obrigatório, se não estiver usando ambos, terá severas consequências. Encontrara seus novos colegas de quarto aqui. Até mais. Assim ela saiu desfilando de volta. Ok. Até ali tudo bem, mas Johnny ainda tinha de conhecer seus colegas de quarto, levou a mão à porta e bateu três vezes e nada. Tornou a bater e nada 52


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novamente. Johnny supôs que ninguém estivesse lá, então tomou a decisão de entrar em seu próprio quarto e não tinha razão para ficar esperando alguém. A cena que ele se deparou foi horrível, no quarto havia quatro camas, duas delas estavam completamente desarrumadas a um canto do quarto, os guarda– roupas eram cravados nas paredes. No outro lado do quarto havia duas camas arrumadas onde havia um pequeno grupo de três estudantes. Um menino muito gordo estava em pé parado, tinha cabelos ruivos cacheados, o uniforme da escola parecia ter o dobro do tamanho para caber o garoto dentro dele, estava de punhos fechados. Outro garoto era moreno, seu físico era de assustar, o menino era grande e musculoso e parecia estar desrespeitando as regras da escola, pois usava uma camisa regata como a de Afonsinho. O terceiro garoto estava prensado na parede pelo menino musculoso, o menino gordo serrava os punhos para ele. – Avisamos você, não avisamos. – dizia o garoto gordo. – Me desculpe, me desculpe. – implorava o garoto prensado na parede a uma grande altura pelo garoto moreno. – eu juro que não sabia, por favor. – Nós avisamos agora tem que pagar. – gritou o menino gordo erguendo o punho para acertar o garoto. A cena era horrível, Johnny tinha que fazer algo para evitar que o garoto bate–se no outro, então tomou folego: – Com licença. – disse ele o mais alto que pode. A cena parecia lenta, o garoto gordo olhou para Johnny com desgosto e abaixou os punhos lentamente, o moreno soltou o menino que caiu no chão com força e não se levantou. Os dois garotos veio na direção de Johnny e ele sabia o que viria em seguida, em poucos segundos ele também estaria no chão. Mais não poderia deixar que aquilo continuasse com o menino, estava pronto para levar à sura, pois os dois meninos a sua frente eram duas vezes maior que ele, Johnny fechou os olhos, mas... – Quem é você? – disse o gordo. Johnny olhou no crachá dos meninos, o do gordo lia-se “Tiago Clay” e o do moreno lia-se “Alberto Holman”, depois de ler os nomes Johnny voltou a encaralos tentando não desviar o olhar. 53


O segredo do amuleto

– S... sou Johnny. – disse ele. – Você é o nosso novo colega de quarto? – perguntou Alberto o moreno. – Sim. – Johnny tremeu da cabeça aos pés ao dizer isso. Os garotos se entreolharam e caíram na gargalhada, Johnny olhou para os lados em busca de entender a piada e concluiu que a piada era ele mesmo, estava parado ali na frente dos possíveis valentões de que ouvira fala, quando voltava da escola com Afonsinho, e pelo que Afonsinho disse, ele não tinha muita certeza de que iria se enquadrar. Os garotos por um momento riram e quando recuperaram o folego Tiago o gordo disse: – Escuta aqui moleque. – tomou folego respirando fundo. – Se não quiser encrenca, fique longe de nosso caminho está certo ou vai acabar como aquele ali. – ele apontou para o menino no chão entre as camas arrumadas. – Vamos Alberto, Hugo está me esperando. Alberto saiu em direção a uma das camas desarrumadas e tirou do meio dentre outras a camisa da escola, pois por cima da camisa regata e saiu do dormitório com Tiago, Johnny o ouviu reclamar. – Que frescura esses uniformes, me pareço um otário. – Alberto você não parece otário, você é um otário. Quando as vozes foram sumindo pelo corredor misturando com as outras vozes de lá fora, Johnny fora se aproximando do menino caído no chão. O garoto gemia deitado, Johnny o segurou pelo braço e o pôs sentado na cama. – Você está bem? – perguntou. – Sim, estou. Obrigado. – disse o garoto numa voz fraca. – onde estão meus óculos? Johnny se curvou para baixo e apanhou os óculos do garoto, eram amarelos bem claros. O menino repôs os óculos no rosto, ele era muito branco, Johnny supôs que a palidez dele era natural. Tinha cabelos dourados, muito claro, seus olhos eram azuis como o de Johnny, e por um momento Johnny pensou se os olhos do garoto brilhassem também. Johnny correu os olhos para o uniforme do garoto onde não havia crachá. – Como se chama? – perguntou Johnny. – Me chamo... é... é... Fred. – respondeu ele ajeitando a lente dos óculos. 54


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Johnny encarrou Fred por um longo momento, dava para ver em sua aparência que não fora o primeiro ataque que acontecera com ele, o garoto tinha vários hematomas. – O que aconteceu? – arriscou Johnny em perguntar. Fred ergueu a cabeça. – Eu mexi nas coisas deles, sabe. –deu um suspiro. – Estava procurando meu crachá, eles pegaram ontem e eu acabei de catar. – Você não pode deixar isso assim. – Johnny se sentou na cama defronte. – Reclame na diretoria. – Isso não vai adiantar. – Fred esfregou os olhos por trás dos óculos. – aquela diretora não é normal, ela não me ouve e sempre está mal humorada. – ele abaixou a voz. – E é uma piada, sabe, ela usa um cabelo cor–de–rosa, uma doida de pedra essa Alicia. – Cor–de–rosa? Parece uma piada mesmo. – riu Johnny ofegando. Johnny observou Fred satisfeito, ninguém nunca parara para conversar com ele, Fred tinha algo similar a Johnny ele só não sabia o que, mais o que seria? Johnny correu os olhos pelo quarto, ao lado da cama de Fred havia vários livros de todos os tipos, desde infantil a cientifico, havia também várias caixas de óculos encima da cama arrumada, Fred parecia bem organizado. – Você gosta de ler. – falou Johnny voltando ao olhar de Fred que o encarava. – É muitos livros para uma pessoa só. Fred riu. – Meu pai. – ele comentou esticando–se por cima da cama para pegar alguns dos trinta livros do outro lado da cama. – Meu pai meio que me obriga sabe, ele diz que tenho de melhorar muito neste ano ou não ganho meu Skate novo. – Pelo menos você tem alguém em que se preocupa com você. – Johnny desanimou no mesmo instante olhando a capa de um dos livros de Fred “Revoada de Vampiros” em que o pegou. – Você não disse que eram livros de estudos? – e lhe mostrou o livro.

Fred arregalou os olhos e puxou com força o livro das mãos de

Johnny que não entendeu nada. – É só... é. – Fred escondeu o livro e procurava a resposta. – Um simples livro que estou lendo.

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– Tudo bem. – disse Johnny desconfiado da resposta de Fred. – Que tal darmos uma volta pelo colégio, você poderia me mostrar às novidades. – Está bem. – Fred guardou o livro. – Além do mais, quero saber o conteúdo desse livro. Fred riu. Johnny não sabia o porquê estava ali, mas ali estaria fazendo um novo amigo, alguém que no futuro gosta-se dele. Alguém para trocar ideias e desabafar. Só ali olhando para Fred foi que Johnny percebeu que o garoto era estranho, mais Fred parecia uma pessoa boa. Comparando com ele e o seu segredo… bom, pelo menos uma vez na vida Johnny queria viver como um garoto comum.

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