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OFUTURO É AGORA
Sócio-presidente da Eccaplan Consultoria em Sustentabilidade, empresa pioneira no setor, Fernando Beltrame adverte: é provável que feiras ou eventos descompromissados com a pauta ESG estejam com os dias contados
Por Carlos Eduardo Oliveira
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Com a retomada em escala global do setor M.I.C.E. no cenário pós-pandemia, o compromisso com causas ambientais de empresas – e de patrocinadores, é bom não esquecer – tornou-se questão inexorável ao setor. É essa a análise de Fernando Beltrame, da Eccaplan. “Hoje, a tendência é de que as empresas criem internamente políticas de ações recomendáveis e obrigatórias para todos os seus eventos externos. E isso só tende a escalonar”.
HANDS ON – Nunca se falou tanto em eventos sustentáveis, comprometidos com a redução de emissões de carbono, como agora, no pós-pandemia. Por que?

Fernando Beltrame – Isso vem crescimento do tema ESG, que hoje é parte da estratégia da maioria das empresas. E com a questão da mídia enfocando o tema, consumidores e empresas têm se preparado muito, em relação ao tema. E o evento é um momento de celebração, do bem receber seus clientes apresentar novos produtos e serviços. E nenhuma companhia, hoje, quer ser associada a um evento que não tem preocupações ambientais. Não adianta ter um estande espetacular, lançar uma super marca, um super produto, para depois esse evento gerar pilha de lixo no pavilhão e que vai acabar indo para um aterro. Então, as empresas têm se preocupado cada vez mais não só com a realização do evento, mas com o que será feito com o impacto desse evento. Porque todo evento geram impacto no meio ambiente, isso é inevitável. Ou seja, a empresa tem que buscar caminhos de diminuir esse impacto, através de ações de redução e compensação.
HANDS ON – Existem normativas para isso?
FB – Sim. É o caso da ISO 20121 (N.E.: norma internacional para gestão sustentável de eventos, criada pela International Organization for Standardization), que trata da gestão e sustentabilidade de eventos, especificamente sobre planejamento, montagem, realização, desmonte e . Envolve toda uma metodologia para que as companhias busquem boas práticas.
HANDS ON – Que outras ações viu escalonar, nesse sentido?
FB – Outra tendência que vimos crescer em 2022 foi as empresas criarem internamente políticas de ações recomendáveis e obrigatórias para todos os seus eventos externos. Posso mencionar na lista, por exemplo, bancos e até gigantes do ramo alimentício que já colocam em prática isso em suas ativações. Há agencias de publicidade que chega e nos falam: “O cliente exigiu tal ação, temos tal valor já aprovado e vamos aplicar”. Então, já não se trata de abrir a planilha do Excel e “ir cortando linhas”. Ao contrário, as empresas realmente estão investindo nisso.
HANDS ON – Qual é a percepção geral?
FB – Isso é um dado muito interessante: ninguém é contra. Hoje, pesquisas apontam que 92% de pessoas e consumidores querem observar essas ações por parte das empresas e têm interesse em levar um estilo de vida mais saudável. Porem, só 13% desses pesquisados consegue efetivamente mudar as coisas no seu dia a dia. Ou porque não tem acesso, ou porque produtos e serviços sustentáveis são mais caros. As razões são diversas. Por sua vez, as empresa querem mudar, mas nem sempre sabem como. Por isso, são levadas a achar que os custos dessas ações ambientais são proibitivos.
HANDS ON – Em proporção ao tamanho do evento, que custos são esses?
FB – Quando se trabalha um evento sob o selo evento neutro, gestão ambiental ou compensação de carbono, no curso do evento o valor não chega a 1%, ou 2%, no máximo, do custo total. E, a depender das circunstâncias ou do evento, às vezes é até menos que isso. Porque ao invés de gastar com caçambas, transporte e taxa de aterro, com ações ESG o custo acaba sendo bem menor. E ainda gera emprego em cooperativas de catadores, que separam o material reciclado.

HANDS ON – Como se dá a relação entre redução de custos e uma eventual lucratividade, na abordagem ESG de feiras e eventos?
FB – É uma conta até simples. Hoje, os patrocinadores de grandes eventos já assumiram com- promissos de ESG ou de redução de CO2. Quando nós disponibilizamos o selo de neutralidade para um evento, é porque os requisitos dos patrocinado res foram atendidos. Isso é um grande diferencial, através do qual a empresa consegue se diferenciar e obter maiores patrocínios.



HANDS ON – Nesses casos, o ganho, o “lucro”, é indireto, não?
FB – Exato. Sem isso, por vezes o patrocínio pode nem acontecer, porque o patrocinador não vai apoiar algo que vai contra sua política. A empresa pode não ter redução de custos, mas tem algo maior: acesso a bons patrocínios, que vão bancar o evento. Hoje, para muitos patrocinadores, isso é obrigatório. O empresário tem que ter essa consciência, aliás, deve saber que essa questão cada vez vai se tornar mais importante e decisiva, tão decisiva como obrigações óbvias, como não ter crianças trabalhando no estande, por exemplo. Outra questão é a mídia. Quando ações ambientais estão envolvidas, isso é pauta, gera conteúdo e engajamento nas redes.
OUTRA QUESTÃO É A MÍDIA. QUANDO
HANDS ON – Fora do evento, no cotidiano das empresas, essas ações também são observadas?
FB – Em uma boa e efetiva gestão de ações ambientais para a redução de emissões de carbono o serviço começa em casa. E traz benefícios e compensações financeiras. A primeira delas é a redução com custos gerados com a energia. Outra é a redução dos resíduos gerados, através da orientação dos colaboradores com campanhas de informações sobre coleta seletiva, educação ambiental, etc. isso reduz os custos com caçambas, transportes de resíduos, taxas, etc.
HANDS ON – Outro ponto importante: como reduzir ou mesmo neutralizar impactos das empresas de transportes? Da aviação comercial, por exemplo?
FB – O tema principal da compensação é a transparência. É importante que as empresas que oferecem opções de compensação de impactos ambientais em suas viagens terem a transparência de mostrar, tipo, “olha, essa sua viagem emitiu X, e essa emissão vai ser reduzida se você apoiar esse projeto aqui, que é certificado”. Esse é o primeiro passo: a transparência de cálculos de compensação. Depois, o desenvolvimento de um sistema que integrar ao sistema de passagens aéreas que calcule emissões por bilhete, e entregue ao cliente com o cálculo de quanto ele emitiu e qual o projeto a ser apoiado. Um programa denominado “Passagem Neutra”, por exemplo, é extremamente benéfico para o e-commerce de uma empresa aérea ou mesmo de transporte rodoviário.
HANDS ON – Como criar adesão de empresas ainda não comprometidas com causas ambientais em seus eventos?
FB – Esse é um bom desafio. Por isso é que é bacana divulgar as boas práticas. Trata-se de algo relativamente novo, que angaria muito interesse, então é fundamental incentivar mais companhias a aderir. Principalmente para o público ainda não exatamente familiarizado com a questão. Um evento de economia e finanças, por exemplo. Tentar incluir esse tema no radar de diferentes tipos de empresas. Todos os setores, hoje, precisam incluir a questão ambiental em suas ações.
