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A DEMOCRACIA DO CAPITAL
Senão, vejamos: cerca de R$ 12 milhões em negócios transacionados diretamente entre empreendedores e investidores, dos quais a organização do evento nada pleiteia; o complexo Sheraton São Paulo WTC, na zona sul paulistana, lindamente decorado e abarrotado de visitantes (33 mil), ao longo de três dias, com 600 expositores que nada pagaram para participar (e ainda receberam os estandes prontos); 537 workshops; apoios e patrocínios de gigantes como Prefeitura de São Paulo, Sesi, Senai, IFood, BTG Pactual, Febraban, Grupo Carrefour, etc; presenças do calibre do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, dos apresentadores Luciano Huck e Marcelo Tas, o empresário Abílio Diniz, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, entre outros. Um balanço pra lá de positivo, o da segunda edição da Expo Favela Innovation, em São Paulo.
E com todo esse lastro, o criador do evento, num arroubo de descontração, adentra o auditório lotado para a abertura oficial arriscando passinhos de dança no palco, ao som de um DJ. Um ex-residente da Favela do Sapo, no Rio, com palestras em universidades como Harvard, London School of Economics, MIT (Massachusetts Institute of Technology). “Esse é o start de um movimento de massificação da nossa potência”, assinala o empresário Celso Athayde. “Se hoje a grande mídia nos destaca, é pela ousadia em realizar um evento num espaço nobre em São Paulo onde as grandes marcas fazem suas ações, unindo empreendedores da base social da pirâmide a grandes empresários. Promovendo o encontro de gestores de bilhões com gente que administra uma barraca de hot dog, e que também tem sua relevância”.
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Está tudo lá: empreendedorismo, tecnologia, cultura, inovação, arte, moda, gastronomia, games. Maior evento do gênero no Brasil, a Expo Favela Innovation é o, digamos, offspring (“filhote”, em tradução literal) da atuação de Athayde à frente da CUFA (Central Única das Favelas), ONG fundada por ele (e pelo rapper MV Bill) no Rio em 1999, hoje presente em todos os estados e até no exterior – e de fundamental papel ao longo da pandemia (ver box). Feira de negócios que contempla empreendedores e startups de periferia, a Expo Favela tem como core dar visibilidade a essas iniciativas e, assim, promover o encontro com investidores que possam acelerar esses negócios, gerando oportunidades, empregos e renda. De acordo com dados da primeira edição, em 2022 estiveram presentes ao evento 307 fundos de investimentos. “A Expo Favela dá aula de inovação e democratização dos lucros”, estampou recentemente a revista VEJA.
Não por acaso, em 2023 a feira acontece em praticamente todas as capitais e no Distrito Federal, antes da apoteose, em dezembro, no Expo Center Norte, para 180 mil pessoas. “Para mim, que sou do Parque Santo Antônio, é uma alegria imensa participar da Expo Favela”, declara o prefeito Ricardo Nunes. “Trabalhamos para que São Paulo seja uma cidade de diálogo, que não exclua ninguém. Que reduza as desigualdades e gere emprego e renda a empreendedores de todas as raças e cores”. Luciano Huck: “A Expo Favela é importante para o empreendedor que não nasceu com grandes oportunidades ao seu redor. Para que possamos romper essa cruel loteria, e darmos oportunidades a todos, independentemente de onde nascerem”.
Trajetória de (muita) superação
“Agora é fácil. Difícil era correr do rapa nos tempos de camelô lá em Madureira”, brinca Athayde, fundador e CEO do Favela Holding. Nascido em Nilópolis, na Baixada Fluminense, sua trajetória de vida passou longe de um mar de rosas. Aos seis anos, saiu de casa com a mãe e o irmão para literalmente morar na rua, “debaixo de um viaduto”, ele revela. “Depois, morei num abrigo. Aí mudamos para o Pavilhão de São Cristóvão (N.E.: hoje palco da famosa
Celso e o filho, Tales Athayde: à frente da holding pioneira em atuação nas comunidades

Feira Nordestina) e depois para a Favela do Sapo, onde me criei”. Por anos, batalhou como camelô, em Madureira e no centro do Rio. A redenção começou através da música: o envolvimento com bailes de black music acenou-lhe com oportunidades – tanto que, muitos anos mais tarde, passou a empresariar artistas de sucesso do rap, como o amigo MV Bill e os Racionais MCs. Criou projetos super bem sucedidos, como o Prêmio Hutus, de hip-hop; autodidata, tornou-se escritor e co-autor de best sellers (entre eles, “Cabeça de Porco” e “Falcão – Meninos do Tráfico”) e dirigiu documentários (baseado no livro homônimo, “Falcão...” estreou na TV Globo em 2006, no “Fantástico”, com maciça audiência e repercussão).
O Favela Holding surgiu em 2013 – a primeira holding reunindo empresas com o objetivo de atuar em comunidades e ajudar o desenvolvimento das economias locais. Sob seu “guarda-chuva” situa-se, entre outras companhias e projetos, a Vai Voando, agência de viagens criada para aproximar o transporte aéreo de populações de menor renda, e que já conta com centenas de endereços e franquias país afora. Tamanhos pioneirismo e ousadia renderam-lhe reconhecimentos globais, como a nomeação em 2017 de Empreendedor Social do Ano, pela revista Isto É Dinheiro, e o prêmio do Fórum Econômico Mundial 2022 como Empreendedor de Impacto e Inovação, que lhe foi outorgado em Davos, na Suíça, pela Fundação Schwab. Anos antes, em 2015, quando da inauguração da CUFA Nova York, liderou uma caravana de perto de cem moradores de periferias à NY, onde foi recebido – e discursou – na ONU, palestrou na Columbia University e selou parceria da ONG com o Facebook.
“Sou empresário alternativo. Opero onde as empresas normalmente não operam, onde o empreendedor não tem o ‘Habite-se’ e é informal porque o espaço físico onde ele atua e onde mora é informal”, define-se. “Não necessariamente falo a língua do mercado. O que faço é plugar os dois lados. Para viabilizar que empresários e empresas entrem onde até hoje boa parte deles não conseguiu entrar, ou seja, nas comunidades. E que, por sua vez, os empreendedores das comunidades tenham mais oportunidades”. Hoje, os filhos Vinicius e Thales estão com ele à frente do Favela Holding – o último é responsável por novos negócios e planos de expansão. Um terceiro rebento, Celso Athayde Junior, engenheiro, trabalha na Rede Globo.
O céu é o limite
Grupo Carrefour, Luiza Trajano (leia-se, Magazine Luiza), TV Globo (que, diga-se, armou enorme estande na ExpoFavela 2023, em São Paulo), Ambev, Febraban, Grupo VR, Instituto C&A, Sesi, Senai, Sebrae, IFood, BTG Pactual – interlocuções importantes, que atestam a capilaridade de seus projetos. “São empresas e marcas de grande relevância, que nos ajudaram e
CUFA, A NAVE-MÃE
Entre Américas do Sul e do Norte, África e Europa, a CUFA – Central Única das Favelas contabiliza atualmente presença em 20 países. No Brasil, atua em todos os estados e no DF. Criada em 1999, a ONG exerceu papel fundamental nas comunidades brasileiras, ao longo da pandemia. Através de projetos como o Mães da Favela, foram doadas cerca de 500 mil toneladas de alimentos, que somaram R$ 600 milhões em doações, impactando positivamente cerca de 13 a 14 milhões de moradores das periferias.


ajudam no desenvolvimento de projetos sociais. Estamos evoluindo. A cada dia temos mais espaço, falamos de números maiores. Prova de que é possível construirmos, juntos, maiores oportunidades para todos”.
Números bem maiores, aliás. Nos dias 1, 2 e 3 de dezembro de 2023, a Expo Favela Innovation retorna novamente a São Paulo, após literalmente rodar o Brasil, dessa vez no Expo Center Norte – a expectativa é que circulem perto de 180 mil pessoas nos três dias do evento. Sucesso exponencial para quem atua há apenas dois anos no sempre concorrido calendário de feiras e eventos do país.
prêmio de Empreendedor de Impacto
PROJEÇÕES PANORÂMICAS E MAPEADAS.
PAINÉIS DE LED


CAPTAÇÃO DE IMAGENS, TRANSMISSÃO SIMULTÂNEA, STREAMING E SATÉLITE
PRODUÇÃO DE CONTEÙDO, GRAVAÇÃO E EDIÇÃO DE VIDEOS

