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INOVAÇÃO COM MUITO ESTILO
Recém empossada na Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, a Secretária Executiva
Luciana Leite assegura:
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“Daremos ainda mais dinamismo e vitalidade ao turismo do estado”
Por Carlos Eduardo Oliveira
“Sou uma soteropaulistana”, brinca Luciana Leite, durante a entrevista. “Gosto muito de São Paulo, do acesso à cultura que a cidade permite. Shows, exposições, museus, e principalmente cinema. Sou muito cinéfila”, revela. Natural de Urussanga, região de Ilhéus, zona cacaueira da Bahia (“separei muita semente de cacau na fazenda da família”), a Secretária Executiva do turismo paulista assume o cargo após anos de elogiável gestão como Secretária de Turismo de Ilhabela, onde esteve à frente de cases de sucesso. Caso, por exemplo, da campanha anywhere office –em tradução literal, “escritório em qualquer lugar”, alusão à bem sucedida promoção de incentivo ao home office no paradisíaco município. Cooptada pelo atual planejamento do governo do estado, Luciana antecipa muita positividade para o momentum do turismo paulista. “Temos grandes pautas para nosso plano de gestão de 2023”.
HANDS ON – Como foi seu começo de carreira? Qual sua formação profissional, e como derivou para a administração pública?
“TEMOS ÓTIMOS
PROGRAMAS E VAMOS
TRABALHAR PARA
QUE ELES SE TORNEM PRODUTOS QUE SIRVAM
Luciana Leite – Meu início de carreira se deu ainda enquanto cursava a faculdade de turismo na Bahia. Trabalhei por oito anos como guia de turismo local, fazendo o receptivo de grupos internacionais de alemães, suíços e franceses, o que me fez entender o perfil do consumidor e suas expectativas. Logo em seguida, migrei para o setor público. Comecei a trabalhar na Emtursa, a empresa de Turismo de Salvador, cuidando do turismo na cidade de Salvador, e na sequência, na Bahiatursa, empresa de turismo da Bahia, onde permaneci por 15 anos como diretora responsável pela promoção internacional do estado. Em 2005, recebi o convite de Caio Luiz de Carvalho, que tinha sido primeiro ministro de Turismo na gestão do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, para fazer parte de sua equipe na SPTuris, a Secretaria de Turismo da cidade de São Paulo.
HANDS ON – E quais foram os passos seguintes?
LL – Foi neste momento que saí da Bahia para vir para São Paulo, motivada pela coragem do Caio de trazer uma baiana para cuidar do turismo da cidade. Migrei para o setor privado, onde permaneci por cinco anos como diretora na Reed Exhibitions, uma das maiores organizadoras de eventos do mundo, cuidando da principal feira latino-americana: a WTM Latin America. Na pandemia, fui convidada pelo prefeito Toninho Colucci para ser secretária de Desenvolvimento Econômico e do Turismo de Ilhabela e senti que era uma grande oportunidade para evoluir e mudar. Lá, fiquei por dois anos, até receber o convite honroso do secretário Roberto de Lucena, para assumir a secretaria executiva da Setur-SP.
HANDS ON – Que avaliação faz dos desafios como Secretária em Ilhabela, em período que inclusive coincidiu com a pandemia?
LL – Comecei a trabalhar em Ilhabela em janeiro de 2020, em plena pandemia, quando estava proibido fazer qualquer tipo de promoção para viagens. As fronteiras estavam fechadas e só existia a possibilidade de fazer viagens internas pelo Brasil. O cenário de confinamento alargou nossos horizontes e me fez enxergar uma excelente oportunidade, especialmente por conta da tendência de deslocamentos para destinos de natureza, ao ar livre. Começamos, então, a fazer a promoção dentro do próprio estado, e lançamos o conceito anywhereoffice.
HANDS ON – O que exatamente era o projeto?
LL – Ilhabela se tornou o primeiro destino brasileiro a se apropriar desse conceito de trabalhar em qualquer lugar do mundo. Investimos em estruturação do destino, qualificação, em segmentação da oferta e diversificação de experiências, trabalhamos bastante os eventos e a promoção. Com isso, os resultados vieram.
HANDS ON – Traduzidos em números, quais foram esses resultados?
LL – Ilhabela foi um dos únicos destinos turísticos brasileiros que já em 2021 conseguiu recuperar seu fluxo turístico, recebendo 1,6 milhão de visitantes, a mesma quantidade de 2019. O observatório de turismo continuou registrando excelentes resultados em 2022: melhor ocupação hoteleira dos últimos sete anos, com média de 72,44%, e 1,8 milhão de visitantes. Ilhabela se reposicionou como destino de natureza, definitivamente a cidade não é mais apenas um destino de sol e praia, tanto que em pleno mês de julho, recebeu 160 mil visitantes, um aumento de 23% na taxa de ocupação hoteleira na baixa temporada, se comparado com 2021. O turismo aquecido impulsionou a economia, o faturamento das empresas do setor foi de 178 milhões no ano passado.
HANDS ON – Acredita que o conceito do anywhere office, o home office, seja definitivo, no pós-pandemia?
LL – Sim. Hoje, é irreversível. Chegou para ficar. Há empresas que exigem dois dias presenciais por semana, de seus colaboradores. Mas veja, quando começamos, o Brasil e o mundo estavam parados. E eu, que acabara de assumir a pasta do turismo em Ilhabela, cidade de eminente vocação turística, tinha a missão de promover a cidade de alguma maneira. E creio que conseguimos.

HANDS ON – Como se deu a transição do exercício em Ilhabela, para o Turismo de São Paulo?
LL – A mudança para São Paulo se deu em comum acordo com o prefeito Colucci. Fui muito bem recebida pelo secretário Roberto de Lucena, e temos o governador Tarcísio de Freitas, que acredita que o turismo é um vetor de desenvolvimento de enorme relevância econômica. Temos programas excelentes, deixados pela gestão anterior, aos quais vamos dar continuidade e ampliá-los. Ao mesmo tempo, estamos acrescentando novas iniciativas que darão ainda mais dinamismo e vitalidade ao turismo de São Paulo.
HANDS ON – A retomada do setor do turismo no pós-pandemia de certa forma “destrava” projetos e programas que ficaram parados em anos recentes. Quais os principais focos da Secretaria para 2023?
LL – Temos ótimos programas e vamos trabalhar para que eles se tornem produtos que possam servir à plataforma do turismo, gerando emprego e renda para a população. Em nosso plano de gestão, teremos foco na qualificação profissional, na regionalização, vamos consolidar a política de Distritos Turísticos e ampliar as oportunidades de investimentos, entre outras grandes pautas. O estado possui 645 municípios, dos quais 210 são turísticos. A muitos deles ainda falta vontade política, equipe qualificada e orçamento. Um dos desafios é conseguir levar o turismo ao máximo possível de municípios, conscientizar os prefeitos sobre a relevância de apostar no setor, além de capacitar os profissionais da área.
HANDS ON – Qualificação e infraestrutura são pontos fundamentais, não?
LL – Não adianta apenas ter potencial para o turismo, é preciso infraestrutura de acesso, mão-de-obra qualificada e produtos comerciais para colocarmos nas prateleiras das agências de viagens, além de fazermos promoção. Hoje, dentre os projetos, temos o plano de Regionalização do Turismo Paulista, cujo objetivo é integrar e investir em infraestrutura através do DADE (DepartamentodeApoio ao Desenvolvimento das Estâncias), estamos também apostando no Turismo Rural, por meio da criação de um plano estratégico, e queremos trabalhar com a valorização da gastronomia regional. Temos muito trabalho pela frente e contamos com a chancela do governador e o engajamento do secretário.
HANDS ON – No que consiste o programa dos Distritos Turísticos?
LL – São áreas delimitadas, não necessariamente regiões de turismo, nas quais desenvolveremos politicas que facilitem o acesso dos turistas e desenvolvam o potencial desses locais. É um projeto público-privado do nosso Plano de Metas para 2023, que também envolve um comitê gestor local e para o qual captaremos alguns grupos empresariais como investidores. Mais ou menos como Orlando, na Flórida, faz com sucesso. Um desses distritos é denomina-se Serra Azul, e envolve as cidades de Jundiaí, Vinhedo, Louveira e Itupeva. Mas há outros polos, em outras regiões do estado.
HANDS ON – O setor M.I.C.E. é de extrema importância e peso significativo para o turismo do estado. Em que pontos a Secretaria e o setor convergem? Quais os pontos que podem ser melhorados ou ampliados nessa relação?
LL – O setor M.I.C.E é o sonho de consumo de qualquer destino, porque aumenta muito o ticket médio de gastos do visitante, pago pelas empresas através de seus CNPJs. A cidade de São Paulo já tem uma ocupação muito alta em relação ao turismo de negócios. A ocupação da rede hoteleira ficou em 65% em 2022, de acordo o com Centro de Inteligência da Economia do Turismo (CIET), ligado à Secretaria de Turismo e Viagens. Mas temos muitos destinos do estado que já estão investindo na capacitação para receber esses grupos corporativos, para reuniões, incentivos, convenções, congressos ou feiras. Ilhabela começou a trabalhar o setor M.I.C.E, fizemos um inventário dos equipamentos, uma sensibilização com o trade local para capacitar a mão-de-obra. Temos cidades prontas, como Santos, Atibaia, Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos, Olímpia – essa, a maior rede hoteleira do estado fora da capital – e outras que ainda estão sendo preparadas.


HANDS ON – Há pouco, foi anunciada uma força-tarefa em prol da recuperação do litoral norte. O que de concreto já foi discutido, para ser colocado em prática?
LL – Nós nos reunimos com os prefeitos do Consórcio Turístico e o trade do Litoral Norte, onde colhemos as principais demandas da região na área de infraestrutura turística, crédito e promoção. De imediato, o governo de São Paulo disponibilizou crédito de 100 milhões de reais para o ecossistema do turismo no litoral norte, por meio da Desenvolve SP, facilitando o primeiro acesso através do Programa de Crédito Turístico no Portal da Secretaria de Turismo. No total, a Desenvolve SP liberou mais de 500 milhões de reais em crédito para diversas áreas entre o público e o privado, sendo 100 milhões para o turismo. Em seguida, o governo de São Paulo, com a ajuda da iniciativa privada, acolheu nos meios de hospedagem de São Sebastião mais de mil desabrigados e desalojados, garantindo ocupação a parte dos meios de hospedagem da cidade nesse momento mais crítico, ativando assim também a rede de bares e restaurantes.
HANDS ON – Quais os próximos passos?
LL – Agora, diante da infraestrutura regional e os acessos restabelecidos, a Setur SP, juntamente com a Secom SP, estão desenvolvendo campanha de promoção do litoral norte paulista como destino turístico, em cooperação com ABAV, ABIH-SP, Braztoa, CVC Viagens, Befly Travel, Orinter Tour & Travel, Airbnb, Embratur, Ministério do Turismo e Sebrae, para qualificação do destino, produtos e promoção turística para os próximos feriados e para a baixa temporada, que é o período mais crítico. A Secretaria de Cultura desenvolverá agendas culturais na região nos próximos meses, na baixa temporada. Embora os municípios de Bertioga, Caraguatatuba, Ilhabela e Ubatuba tenham mais rapidamente do que São Sebastião voltado à normalidade da capacidade de receberem o fluxo turístico, esse fluxo era indesejado num primeiro momento, pelo tamanho da operação desenvolvida em São Sebastião, que envolvia resgate e socorro e recuperação de infraestrutura e serviços. Depois, tínhamos as rodovias e acessos com diferentes graus de insegurança.

HANDS ON – O turista poderá voltar ao litoral norte paulista?
LL – Agora, através do Turismo de São Paulo, vamos estimular o retorno dos visitantes à região com uma campanha de marketing e comunicação. Isso deve acontecer em breve, quando a defesa civil avaliar que o aumento do fluxo de pessoas não tenha impacto negativo no comércio e nos serviços da região, que por hora tem como prioridade atender a população local.
