Revista GUETO Ano IV, n. 07 (2016)

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brancos, mas que um outro alguém da família era negro e que isso justificava a cor de sua pele. Diante dessas posturas podemos refletir a maneira como o entendimento sobre a genética para estes alunos entre 7 e 12 anos serve como justifica para quase todo o traço negro existente em seus próprios corpos. Com a exibição de vídeo-músicas que discutiam a cor da pele, ficamos “chocados” com a fala de uma das alunas, negra, ao deparar-se com a imagem de uma mulher negra de black power24, expôs que aquela seria a mulher mais feia que ela havia visto, e ao ser questionada sobre qual o motivo dela ter estranhado tanto a moça, ela com naturalidade, afirmou que já começava pela cor de sua pele, que era extremamente escura, depois o nariz e boca eram muito grandes e por fim o cabelo alto e crespo fazia com que parece que ela havia tomado um choque, os demais alunos concordaram com a fala da colega. Então resolvemos utilizá-la como próprio exemplo, ao citar o seu cabelo crespo visivelmente alisado por produtos químicos, e para ela foi uma grande afronta, pois continuava insistindo em dizer que seus cabelos eram naturalmente lisos e que sua mãe lhe passava produtos apenas para diminuir o volume e que a cor de sua pele era um marrom quase amarelo o que não fazia dela negra, muito menos seus lábios carnudos. Até esta mesma criança entender que seu cabelo era crespo e que também era negra, traçamos um difícil caminho, pois esta mesma criança era apontada pelos colegas como uma das incentivadoras dos apelidos racistas aos colegas. Ali apresentou-se a importância, através dos métodos adotados, de se construir junto a turma o sentimento de herança de uma cultura multiétnica, fazendo com que todos identifiquem-se com a influência negra em sua realidade. Para isso é preciso que as crianças entendam que: O Brasil, país multi-étnico [sic] e pluricultural, [...] em que todos se vejam incluídos, em que lhes seja garantido o direito de aprender e de ampliar conhecimentos, sem ser obrigados a negar a si mesmos, ao grupo étnico/racial a que pertencem e a adotar costumes, idéias [sic] e comportamentos que lhe são adversos. (BRASIL, 2004, p.18)

Assim, no decorrer da semana, permitimos o esclarecimento e estudo sobre a 24

Também considerado por alguns como afro, foi considerado um estilo político pelo

movimento de contestação dos negros desencadeado a partir da década de 60. Esse momento, ao atribuir ao cabelo crespo o lugar da beleza, representava simbolicamente a retirada do negro do lugar da inferioridade racial, no qual fora colocado pelo racismo.


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