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O Japão se abre e torna a se fechar
prosseguir a aventura que conduziu até nós. Também ela deu grandes saltos tecnológicos, como aquele a que os anglo-saxões chamam de “revolução cognitiva” ou ainda de “grande salto à frente”. Ele teria acontecido a partir de 70000 BP. As ferramentas continuam a ser feitas de pedra, mas já pouco têm a ver com os seixos grosseiros dos primórdios do Homo habilis: o propulsor permite, como o nome indica, projetar uma lança com grande força e, portanto, caçar grandes animais. A invenção da agulha com buraco – as primeiras encontradas datam de 30 mil anos – e a consequente invenção da costura permitem dar um passo de gigante na luta contra o frio.
Com essa revolução cognitiva aparecem a linguagem articulada complexa – da mesma natureza das línguas que falamos hoje –, o sentido da abstração,a religião ou ainda as primeiras manifestações de arte – como as esplêndidas pinturas parietais realizadas nas paredes das grutas. Visto que as primeiras descobertas estavam na Europa Ocidental, na gruta de Altamira, na Espanha (com pinturas datadas entre 15000-13000 BP), e mais tarde na de Lascaux, na França (18000-15000 BP),5 os europeus pensaram durante muito tempo que esse nascimento da arte era um fenômeno que lhes pertencia. Bastou que se procurasse em outros lugares para perceber que não era nada disso. Descobriram-se obras magníficas na Indonésia e na Argentina que remontam a 13000 BP. Na África do Sul existem blocos de ocre com estrias que datam de 77000 BP. Isso prova que os homens de então se interessavam por esse pigmento.
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Depois do tempo da Pedra Talhada, cada vez mais aperfeiçoada, veio o tempo da Pedra Polida. Ela permite fazer outras ferramentas, mais precisas, mais cortantes, que servem às novas atividades a que se consagram os homens. Essa mudança marca tradicionalmente a passagem para o novo período da Pré-História: o Neolítico ou Nova Idade da Pedra.6 Ele corresponde a uma mudança tão fundamental que subverte em absoluto a vida da espécie humana.
5 As gravuras de Foz Coa datam de 26000-14000 BP. [N.T.] 6 Para simplificar, não mencionamos o Mesolítico, um período intermediário entre o
Paleolítico e o Neolítico que diz respeito sobretudo à Europa.
O NEOLÍTICO
As razões dessa alteração ainda não estão claramente estabelecidas. Imagina-se que um clima mais seco tenha levado a uma rarefação da caça e à necessidade de encontrar outras formas de alimentação para além dela. Ou que uma evolução demográfica tenha passado a exigir quantidades maiores. Ou, ainda, que os terrenos tenham se transformado, proporcionando novas atividades. Não há dúvida de que houve uma mudança, uma vez que ainda a estamos vivendo.
Até então, e desde a noite dos tempos, os homens viviam da caça e da coleta. Seu único animal aliado era o lobo, que, como um cão, protegia-os dos animais selvagens e ajudava-os a caçar. Em algumas centenas de anos, aprendem a plantar, a semear, a colher e a criar animais para obter o leite, a carne e a lã. Eram predadores. Tornam-se produtores. É aquilo a que um ilustre arqueólogo australiano dos anos 1920 chamou “revolução neolítica”.7 Ela se processa no Oriente Médio cerca de 12000 BP, com a domesticação das cabras e das ovelhas e das culturas da cevada, do trigo, das ervilhas, das favas e das lentilhas. Expande-se depois, na Europa, através dos Balcãs ou do Mediterrâneo. Depois surge na China, por volta de 10000 BP, quando se expande a cultura dos dois pilares alimentares da nossa civilização: o arroz, no Sul, e o painço, no Norte. Em seguida, encontramo-la por volta de 7000 BP no México e nos Andes, onde aparecem os campos de feijão, de abóboras e de milho. Mais tarde, cerca de 5000 BP, África, planta-se o painço e o sorgo.
Em alguns milênios, essa revolução se alastra por todo o planeta. Os caçadores-coletores são empurrados cada vez para mais longe. Nos nossos dias ainda existem, no círculo polar ou na África Central e Austral, algumas raras populações que praticam esse modo de vida. Convém recordar que foi assim que a humanidade viveu durante mais de 99% da sua existência.
Aparecem as primeiras aldeias. O regime alimentar permite aumentar a população, mas não traz só vantagens. Os açúcares lentos dos cereais provocam cáries dentárias, a promiscuidade com os
7 Ver Gordon-Childe (1892-1957).
animais transmite novas doenças. Até a estatura dos indivíduos se transforma. O Homo sapiens do fim do Paleolítico, o que pintava em Lascaux ou Foz Coa, tinha em média um pouco mais de 1,80 metros. Seu descendente, que deve curvar-se para cultivar a terra, submeter-se aos anos de penúria devidos às más colheitas e lutar contra novas doenças parasitárias, cai para 1,63 metros. Será preciso esperar pela segunda metade do século XX para voltarmos a encontrar a altura precedente.
Mas é evidente que essas vicissitudes não impedem o cérebro humano de funcionar. Continuam a surgir invenções determinantes. Em breve será a dos metais. Há muito os homens utilizavam alguns no seu estado natural, ou seja, no estado em que é possível encontrá-los na natureza. Por volta de 10000 BP, no Oriente Médio, percebem que é possível extrair o cobre do seu mineral, aquecendo-o. É o princípio da metalurgia. Ela progride quando, milênios mais tarde, se passa ao bronze, que é uma liga de cobre e de um pouco de estanho. A técnica é evidentemente mais complexa, e a necessidade de dispor dos dois metais já supõe a existência de redes comerciais para o aprovisionamento, na medida em que é raro encontrar os dois no mesmo lugar. Mais tarde, sem dúvida por volta de 4000 BP, chega o ferro, cuja produção repousa num domínio ainda mais impressionante dos fornos. Na época em que os europeus escreviam uma história estritamente europeia, acabava-se a Pré-História com essa passagem aos primórdios da metalurgia. Depois da Idade da Pedra Talhada (Paleolítico) e da Idade da Pedra Polida (Neolítico), vem a Idade do Cobre (também chamada Calcolítico), a Idade do Bronze e, por fim, a Idade do Ferro. Não há dúvida de que essas novas técnicas, que permitiram a fabricação de armas e objetos novos, provocaram mudanças importantes.
Em muitos outros locais do mundo, essa periodização não faz muito sentido, visto que essas novas invenções são contemporâneas de muitas outras, todas igualmente essenciais. No Oriente Médio ou no Egito, na China ou no norte do subcontinente indiano, aparecem, após o Neolítico, as primeiras grandes civilizações. É a elas que são consagrados os capítulos seguintes.