Etnomatemática - Elo entre as tradições e a modernidade (Nova edição)

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E ducação M atemática

Houve surpresa e curiosidade em toda a Europa pelas novas terras e pelos novos povos. O imaginário europeu se viu estimulado pelos descobrimentos, sobretudo pelo continente americano, o Novo Mundo. O Velho Mundo, Eurásia e África, era conhecido, pois os intercâmbios culturais e econômicos, reconhecidos pelos historiadores da Antiguidade, datam de milênios. Portanto, esses povos e essas terras despertaram menos controvérsias. O novo estava no Novo Mundo. Cronistas portugueses e espanhóis são responsáveis por importante literatura descrevendo natureza, fenômenos e povos encontrados. O relato de outras formas de pensar, encontradas nas terras visitadas, é vasto. Sempre destacando o exótico, o curioso. Particularmente interessante é como o outro, o novo homem, é visto na literatura. Um exemplo é A ­tempestade, de Shakespeare.2 Porém o reconhecimento de outras formas de pensar como sistemas de conhecimento é tardio na Europa. Em pleno apogeu do colonialismo, há um grande interesse das nações europeias em conhecer povos e terras do planeta. Surgem as grandes expedições científicas. Desdobra-se, nos séculos XVIII e XIX, a polêmica sobre a “inferioridade” do homem, da fauna e da flora, e da própria geologia, do Novo Mundo.3 Das grandes expedições científicas, a que produziu m ­ aior impacto talvez tenha sido a de Alexander von Humboldt (1768-1859), que, já em idade avançada, sintetizou sua visão de um universo harmônico na obra Cosmos. Humboldt é explícito na sua adesão ao racionalismo eurocêntrico: [...] é aos habitantes de uma pequena seção da zona temperada que o resto da humanidade deve a primeira revelação de uma familiaridade íntima e racional com as forças governando o mundo físico. Além disso, é da mesma zona (que é aparentemente mais favorável aos progressos da razão, a 2

Um interessante estudo da presença do Novo Mundo na literatura, focalizando o conhecimento científico, é o livro de Denise Albanese: New Sience, New World, Duke University Press, Durham, 1996.

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Antonello Gerbi: O novo mundo: história de uma polêmica (1750-1900), trad. Bernardo Joffily (orig. 1996), Companhia das Letras, São Paulo, 1996.

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