A ilha dos dissidentes

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Capítulo 1

O tempo se arrasta quando se espera. Nunca acreditei nesse ditado. Pelo menos não antes das quase doze horas que se passaram até que me buscassem naquele quarto branco de hospital. Entre triagens, exames e medicações, estou exausta e com frio. Só quero ir para algum lugar onde a luz não seja constante, para descansar. É pedir demais uma horinha de sono? Não faço ideia de quando foi a última vez que dormi, só sei que foi muito antes do acidente. Era uma manhã de sábado e eu estava em uma cabine da quarta classe do navio com o nome mais estúpido do planeta: Titanic III. Não sei o motivo de escolherem esse nome, principalmente depois de os dois primeiros terem afundado. Também não entendo o porquê de eu estar nele e não a bordo do Rainha Helga ou algo assim. Minha jornada havia começado antes, em Kali, a província na qual eu morava. Como o lugar é palco da guerra sem fim entre a União, meu país, e o Império, a vida lá em geral é uma droga. Para dar um pouco de espe­­rança aos habitantes, o governo da província seleciona esporadicamente alguns voluntários para serem removidos para o continente Pacífico como refugiados. Viver como refugiado não parece ser muito melhor que residir em uma zona de guerra, mas pelo menos você não corre o risco de morrer a todo instante. É a melhor entre as minhas opções. 11


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