Minha estrela favorita

Page 10

Susan Elizabeth Phillips O mesmo porteiro trabalhava nessa noite. Ele parecia um torpedo do século dezenove: cabeça grande, corpo volumoso, pés grandes como nadadeiras. Da primeira vez, ele a impediu de entrar com um grunhido, ao mesmo tempo em que abria as portas douradas da boate para duas loiras de cabelos esvoaçantes. É claro que Piper o contestou. — Como assim, estão lotados?! Você está deixando essas duas entrarem. Ele cerrou os olhos e examinou o cabelo moreno e curto de Piper, sua melhor blusa branca e a calça jeans. — Foi o que eu disse. Isso aconteceu na noite de sábado. Piper não poderia fazer seu trabalho a menos que estivesse dentro da Spiral, mas como a casa só abria quatro noites por semana, ela não conseguiu fazer uma nova tentativa até o dia anterior. E embora tivesse penteado o cabelo e vestido saia e blusa, o porteiro não ficou impressionado, o que queria dizer que ela precisava caprichar mais. Então Piper comprou um vestido na H&M, trocou a botinha confortável por um par torturante de saltos agulha e pegou emprestada a clutch de sua amiga Jen. A bolsinha não era grande o bastante para guardar mais que seu celular, a identidade falsa e duas notas de vinte dólares. O resto – tudo que a identificava corretamente como Piper Dove – tinha ficado no porta-malas do carro: o notebook, uma bolsa com seus chapéus, óculos escuros, jaquetas e lenços que ela usava para compor seus disfarces e um objeto de aparência semiobscena chamado Comadre. A Spiral, batizada em homenagem aos passes em espiral de Cooper Graham – longos e mortalmente precisos –, era a casa noturna mais badalada de Chicago e, como era de se esperar, sempre havia fila em frente à corda de veludo da entrada. Ao se aproximar do Cabeça de Torpedo, ela inspirou fundo e jogou os ombros para trás, fazendo os seios se projetarem. — Vocês estão bombando esta noite, chefe — ela entoou com o sotaque britânico falso que andou praticando. O Cabeça de Torpedo reparou, primeiro, nos seios dela, depois seu olhar seguiu para o rosto, até descer e examinar as pernas. O cara era um porco. Ótimo. Ela inclinou a cabeça para o lado e abriu um sorriso que revelou os dentes brancos e alinhados, nos quais seu pai gastou milhares de dólares quando Piper tinha 12 anos, embora ela tivesse implorado para que ele usasse aquele dinheiro para comprar um cavalo para ela. Aos 33 anos, Piper ainda acreditava que o cavalo teria sido melhor negócio. — Eu ainda não consigo acreditar em como os homens americanos são grandes. — Com a ponta do dedo indicador, ela empurrou a ponte 12


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.