I SECON-FOSSI | 2011 | ISSN: 2237-7751

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nova narrativa de si através da certeza na capacidade de alcançar um novo patamar na relação com o conhecimento. Arfuch (2002) chama a atenção para o valor do texto biográfico, o qual, segundo a autora, “impõe uma ordem à vida do narrador e do leitor, à vivência por si fragmentária e caótica da identidade” (ARFUCH, 2002, p.47). A escrita possui a capacidade de ordenar as idéias e a biografia organiza a vida, colocando uma ordem de importância para os fatos retidos na memória. “ou colocando-os numa ordem de importância que se quer dar a eles, de acordo com o interlocutor ou o público a que se destina a história narrada [...] pode-se dizer que é contando a própria vida, a experiência pela qual ele passa, que o sujeito dá sentido à própria existência” (SCHOLZE, 2007, p.144). Na perspectiva foucaultiana, a capilaridade do poder coloca em embate os sujeitos sociais nas mais diferentes situações. Tanto o ambiente familiar como o escolar são bastante propícios para os jogos de poder. No primeiro, as figuras paterna e materna exercem poder entre si e em relação aos filhos, procurando mantê-los dentro de certos padrões morais e éticos próprios do grupo familiar, apoiados na tradição na qual foram constituídos. Na escola, as figuras do professor e do diretor impõem o ritmo da escolarização aos estudantes, instalados muitas vezes por determinações governamentais. Regras de conduta, tempo de estudar, descansar e de produzir, induzem ao disciplinamento dos corpos e das mentes. Na medida em que se acredita que uma nova estética da existência pode ser desenhada, criam-se condições para que a reflexão seja cada vez mais aprofundada tanto em nível intersubjetivo como intrasubjetivamente. O grupo exerce uma influência bastante grande principalmente entre os jovens que necessitam da aceitação (e reconhecimento) de seus pares para se sentirem mais seguros e mais confiantes. A Universidade pretende introduzir elementos como a autonomia, a crítica, a autoria – este desafio precisa ser entendido como algo novo, tanto para os estudantes como para o professor. Há que se romper com os paradigmas construídos por mais ou menos dez anos de vida escolar nas crianças e nos jovens. É compreensível que haja resistência. A provocação da troca de experiência e circulação da produção textual auxilia neste reconhecimento e o aporte de textos que discutam diversidade pode auxiliá-los a recompor suas noções às vezes estereotipadas sobre determinados segmentos sociais. Nessa perspectiva, pode-se apoiar na obra O que é o autor (FOUCAULT,1992) e propor a ruptura com determinados discursos e a construção de uma nova singularidade. A experiência da escrita é um exercício de transformação


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