Esplendor da Honra

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Os gritos da batalha torturaram Madelyne. Sua mente visualizava o que não conseguia ver, prendendo-a dentro de um purgatório de pensamentos obscenos. Nunca testemunhara de fato uma batalha antes, apenas ouvira narrativas exageradas de destreza e da bravura dos soldados vitoriosos que se vangloriavam. Mas nenhuma dessas histórias incluía as descrições dos homicídios, e quando os soldados em combate jorraram para fora do pátio, o purgatório mental de Madelyne se transformou num inferno real, com o sangue das vítimas transformado no fogo de vingança do seu captor. Apesar de os números favorecerem os homens de Louddon, Madelyne logo percebeu eles que estavam despreparados para lutar contra os soldados bem treinados de Duncan. Viu quando um dos soldados do irmão levantou a espada contra o barão e perdeu a vida por causa disso, testemunhou quando outro guerreiro ávido atirou sua lança à frente e, em seguida, viu estupefata quando tanto a lança quanto o braço foram separados do restante do corpo. Um grito ensurdecedor de agonia seguiuse ao ataque quando o soldado caiu à frente no chão, agora banhado pelo próprio sangue. O estômago de Madelyne se contorceu ante tantas atrocidades; ela fechou os olhos para bloquear o terror, mas as imagens continuaram a atormentá-la. Um garoto que Madelyne imaginou ser o escudeiro de Duncan correu até parar junto dela. Tinha cabelos loiros claros e estatura mediana e tantos músculos que poderia passar por obeso. Ele sacou uma adaga e a sustentou diante de si. Mal prestou atenção a ela, mantendo o olhar direcionado em Duncan, mas Madelyne acreditou que ele tivesse se posicionado de modo a protegê-la. Vira Duncan gesticular para o rapaz pouco antes. Madelyne tentou desesperadamente se concentrar no rosto do escudeiro. Nervoso, ele mordia o lábio inferior. Ela não sabia bem se o gesto era causado por medo ou por excitação. E, de repente, ele saltou para a frente, deixando-a desprotegida de novo. Ela se voltou para Duncan, notando que ele deixara o escudo cair, e viu o escudeiro correndo para recuperá-lo para o seu senhor. Na pressa, ele deixou cair a própria adaga. Madelyne correu e apanhou a adaga, e depois se apressou para junto do poste novamente, para o caso de Duncan procurá-la. Ajoelhou-se e começou a cortar as cordas que prendiam suas mãos. O cheiro acre de fumaça a alcançou. Levantou o olhar bem a tempo de ver uma chama surgir na porta do castelo. Servos agora se misturavam aos homens que combatiam, tentando chegar à liberdade ao dispararem para os portões frontais. O fogo os perseguia, chamuscando o ar. Simon, primogênito do capataz de Saxon e agora já idoso, abriu caminho até Madelyne. Lágrimas marcavam o rosto enrugado, os ombros largos pendiam para baixo em desespero. – Pensei que a tivessem matado, milady – ele sussurrou ao ajudá-la a se levantar. O servo pegou a adaga de suas mãos e rapidamente cortou as amarras. Assim que foi solta, ela o segurou pelos ombros. – Salve-se, Simon. Esta batalha não é sua. Rápido, saia daqui agora. A sua família precisa de você. – Mas milady… – Vá, antes que seja tarde – Madelyne implorou. A voz dela estava carregada de medo. Simon era um homem temente a Deus que lhe mostrara bondade no passado. Ele não tinha saída, assim como os demais servos, tanto pela posição social quanto por herança, preso às terras de Louddon, e essa já era uma sentença severa demais para qualquer homem suportar. Deus não seria tão cruel a ponto de exigir também sua vida. – Venha comigo, Lady Madelyne – Simon suplicou. – Vou escondê-la. Madelyne balançou a cabeça, negando-se a ir.


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