Ash se viu encarando um par de olhos acesos, que brilhavam para ele desde o canto do quarto. A
base de sua coluna formigou. Seu coração foi de um galope à imobilidade. Um intruso. Como diabos ele tinha entrado? Não importa, disse para si mesmo. A dúvida podia esperar. A questão mais urgente era: como ele iria matar o canalha? Mentalmente, avaliou as armas disponíveis no quarto. O atiçador da lareira era a mais eficiente, mas estava fora de alcance. A faixa de seu robe se transformaria em um garrote decente num átimo. Se necessário, ele lutaria com as mãos. Sua única preocupação era manter Emma a salvo. Ash rolou para o lado e ficou de joelhos, colocando seu corpo entre ela e a ameaça. – Você tem três segundos para sair por onde veio – ele ordenou. – Ou juro que vou quebrar seu pescoço, vagabundo. O intruso atacou primeiro, pulando para frente com um berro demoníaco. Algo que parecia com uma dúzia de farpas afiadas como navalhas penetraram a roupa de dormir dele, atingindo-o no ombro e no braço. Aturdido, ele soltou um grito de dor. Emma jogou as cobertas para o lado. – Calças! Calças, não! O gato? Garras. Dentes. Sibilando. O gato. Ash cambaleou para fora da cama e girou o corpo para trás, agitando o braço para se soltar da fera, enquanto protegia seus órgãos reprodutores com a outra mão. Ele podia perder várias partes do corpo, mas não aquelas. Da cama, Emma gritava e implorava com a criatura infernal, sem sucesso. Ela jogou um travesseiro, que acertou Ash no rosto, mas não fez nada para desalojar o demônio que tinha levado para a casa dele. A próxima tentativa de Ash derrubou tudo o que havia sobre a penteadeira e que podia se desfazer em cacos, como seus pés descalços logo descobriram. Ele se bateu várias vezes contra o pilar da cama, tentando assustar a criatura e fazer com que o soltasse. Não funcionou. O gato continuava preso à sua camisa – e sua carne – como uma rebarba. Uma rebarba com dentes que uivava. Ash estava pronto para enfiar o braço, o gato e tudo mais no fogo – afinal, o que eram mais algumas queimaduras –, mas pelo queimado produzia um cheiro revoltante, e ele era decente o bastante para hesitar diante da ideia de matar o animal de estimação da esposa diante dos olhos dela. Não, ele o levaria até o jardim, no dia seguinte, e o mataria ali. No momento, contudo, ele precisa se livrar daquela coisa amaldiçoada. Deixando o baixo-ventre desprotegido, agarrou o animal pelo pescoço e sacudiu os dois braços até conseguir soltá-lo. O diabrete caiu no chão e saiu correndo, desaparecendo nas sombras. Para nunca mais voltar, se sabia o que era bom para a saúde. Ash verificou as joias da família. Todas presentes e aparentemente incólumes, mas tinham se recolhido tanto para dentro do corpo que não haveria como fazê-las colaborar de novo nessa noite. Nem por todas as tetas de Covent Garden. Era isso. Ele teria que dar outra caminhada longa e frustrada essa noite. – Você está sangrando? – Emma perguntou. – Só em vinte lugares. – Ele tocou o próprio ombro e fez uma careta. Seus dedos ficaram úmidos. – Maldito saco de pulgas. Ela se deixou cair na cama com um suspiro desanimado. – Eu sinto muito. Não tinha ideia de que ele estava no quarto. – Guarde o que estou dizendo – Ash disse, tenebroso. – Amanhã à noite ele não vai estar.
– Você casou mesmo com o Duque de Ashbury? – Davina Palmer passou o braço pelo de Emma, puxando-a para perto para sussurrar enquanto caminhavam pelo parque. – Se não se importa que eu