O segredo do Conde

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— Naquela noite, eu pensei que você fosse o Albert — ela disse com a voz rouca, fechando os olhos. — Eu sei. Só percebi depois do beijo. Eu tinha me convencido de que você estava me esperando. Que tolo eu fui. Quando você me chamou de Albert, foi como um soco no estômago, mas isso não diminuiu a confusão que você criou dentro de mim. Abrindo os olhos, Julia o descobriu observando-a de novo, seu rosto uma máscara impassível, mas, ainda assim, nas profundezas castanhas dos olhos dele estavam o desejo, a carência. Como ela tinha sido tão cega antes? Ele sempre foi tão desagradável que ela nunca se deu ao trabalho de observar além da superfície. — Como você pensou que eu fosse Albert no jardim, pensei que havia uma chance, após quatro meses de separação de seu marido, de que você pudesse se enganar de novo, e assim eu conseguisse fazer o que ele tinha me pedido. Julia podia jurar que, desde o momento em que entrou na biblioteca, ele estava sendo mais honesto com ela do que nunca, mas parte daquela história não fazia sentido. Ele estaria apenas tentando se safar do que tinha feito? Tudo que ele dizia não passava de uma mentira para conquistar o perdão dela? Como Julia podia confiar no que ele dizia quando tinha feito algo tão desonesto? Ela franziu a testa. — Quando Albert lhe pediu que fizesse o que fosse necessário para eu não perder o bebê? — Perdão? — Ele arregalou os olhos. — Suponho que a história sobre a morte de Edward é, na verdade, a de Albert, e que ele morreu no mesmo instante. Correto? Ele aquiesceu solenemente. — Então como ele teve chance de lhe pedir qualquer coisa? Como é possível que tudo isso que você fez... — ela fez um gesto com o braço abrangendo semanas de enganação — ... tenha sido a pedido dele? Edward levantou o copo e fez uma careta quando viu que estava vazio. — Uma noite estávamos sentados diante da fogueira e Albert disse que, se algo acontecesse com ele, eu não deveria deixar você saber até o bebê nascer. Ele tinha medo de que a notícia pudesse causar um aborto. Foi como uma premonição, eu acho. — Mais uma vez, não acredito em você. — Era muito forçado. Ou ele estava mentindo sobre o pedido de Albert ou sobre a forma como seu marido morreu. Ela pensou que fosse vomitar. — Ele não morreu de imediato, morreu? Baixando o copo, Edward o apertou tanto que as juntas de seus dedos ficaram brancas. Ele encarou Julia. — Foi como eu contei. Ele morreu com o primeiro golpe. Ele não pestanejou nem desviou os olhos. Ela queria acreditar que a morte de


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