Revista Maçã Verde

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Leitura

Sentada em um banco de praça lendo

O

livro por Grazi Cipriano

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Elvis Presley, com fones de ouvidos, camiseta branca e um coque bem frouxo no cabelo, assim, foi a primeira vez que te vi. Fiquei com medo de falar com você. Um menina tão bonita e autêntica, tão simples, tão tranquila. Tanta tranquilidade que fez minhas pernas fraquejarem ao te olhar do outro lado da rua. Fiquei me perguntando, o que faria uma menina como você todos os dias às 17:00h da tarde ir até a praça. Essa praça com um dos dois balanços quebrados, um escorrega vermelho, gangorras de madeira e 3 bancos de concreto. Mas você sempre sentava no mesmo banco. Aquele banco que ficava perto da velha árvore que já era morada de pássaros. Foi então, que ao admirá-la todos os dias de trás do balcão da farmácia, um dia, você não usou o marca textos e fechou o livro. Tirou os fones e deitou no banco. Deitou por exatos 4 minutos. Ficou olhando para a árvore e depois se levantou, colocou novamente os fones e atravessou a rua. Meu coração acelerou. Eu não podia acreditar. A vi entrar na farmácia e me perguntar onde estavam as dipironas e, eu, um rapaz tão bobo e desengoçado só soube olhar para as sardas na sua bochecha rosada. Meu Deus, eu havia me apaixonado. E aquela era a hora de eu me apresentar, estava tudo tão mais fácil! Você veio até mim, sem vergonha, sem exitar, e pronto, era chegada a hora e eu disse: - Ao lado do balcão. Quão estupído eu sou. Não consegui me apresentar, não consegui dizer uma palavra sincera. Eu só queria dizer que meu nome é Leonardo. Eu só queria perguntar qual era o nome da menina que eu olhava durante um mês.

Passando-se 3 meses, eu já havia perdido as esperanças de vê-la novamente e então, você estava lá, olhando para aquela velha árvore de galhos frágeis. E como se uma força maior me puxasse para fora daquele balcão, quando dei por mim, já estava atravessando a pista e andando em sua direção. E sim, mais uma vez eu não consegui dizer uma palavra. Paralisei 30 segundos ao seu lado e você olhou pra mim e com aquelas sardas no rosto disse: O medo é como os galhos dessa árvore. Eles são frágeis... E quando ela falou “frágeis”, eu a beijei. A beijei tão intensamente que quando abri meus olhos ela ainda estava com os dela fechados. E foi quando ela disse: - Me chamo Ana. E depois de sete anos, em uma casa na beira da praia, estava eu casado com a mulher mais linda do mundo; Era Ana, grávida de 9 meses. Com longos cabelos castanhos, olhos verdes e sardas na bochecha rosada. Um dia Ana me disse que a sete anos atrás, quando voltava de uma palestra, o trânsito estava terrivel naquele dia, o ônibus que ela estava ficou parado por 15 minutos na frente de uma farmácia pequena e ela olhou para um rapaz que lia Elvis Presley. Ela gostou tanto da atitude daquele rapaz por ler um livro tão incomum em um século que a geração não lia como antes que decidiu comprar o mesmo livro para ler durante uma viagem, mas as coisas mudaram. Todos os dias ela ia pra frente da farmácia para falar com aquele rapaz que tanto lhe chamou atenção, mas ao invés disso, ela teve medo. Então, em um dia nublado, ela fechou os olhos e deciciu falar com ele. E para puxar assunto, ela perguntou onde estavam as dipironas. Ana mudou meus dias, Ana me deu um filho chamado Miguel. Ana nunca leu Elvis Presley. 21


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