Paracelso - Botanica oculta

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"Combinando-se esta fórmula com álcool puro (como se faz com o sal de tártaro), obtêm-se um azeite e uma água, que é preciso separar. Esta água dissolve o sal de ouro e, uma vez que se acha bem saturada de metal, resulta um líquido excelente com o qual se regam as videiras doentes, as árvores frutíferas que crescem pouco, etc." A PALINGENESIA Pouco ou muito, já existe quem se ocupe, na atualida-de, dos problemas misteriosos da biologia dos três reinos inferiores da Natureza; os mais intuitivos de nossos contemporâneos estão convencidos de que existe algo por trás da botânica e da zoologia oficiais. Este algo, os grandes iniciados de todos os tempos o conheceram e, ao menos em cintilações, deixaram-no refulgir no mundo. Se a Alquimia é célebre na história do desenvolvimento científico do nosso Ocidente, a Botânica Oculta é muito menos conhecida e a Zoologia Oculta é ignorada quase por completo. Apesar disso, as três existem, quais desenvolvimentos sucessivos de uma única noção: a vida terrestre. Para cada um dos três reinos desta Vida, pode-se reconstituir a Arte e a Ciência que lhes eram consagradas nos antigos Templos da Sabedoria, mas este não é o lugar mais adequado para construir hipóteses sedutoras. E nas sínteses desaparecidas outra coisa não vamos buscar senão os estritos materiais de que precisamos para construir a teoria de nosso objetivo. Entre o mundo material e o mundo espiritual há algo que faz as vezes de intermediário, que é o mundo astral: este mundo astral, que se prodigaliza e repete através dos três reinos da Natureza, chama-se, segundo Paracelso, Leffas para os vegetais e, combinado com sua força vital, constitui o Ens primum, que possui as mais altas virtudes curativas. E é ele e nenhuma outra coisa o verdadeiro objetivo da Palingenesia. Como se vê, é uma arte tríplice, que consiste em fazer reviver a alma, isto é, simplesmente o fantasma da planta; ou então em fazer reviver o corpo e a alma da planta; ou, em última análise, criá-la com materiais tomados ao reino mineral. Apresentaremos algumas receitas palingenésicas que se referem em sua totalidade ao primeiro trabalho. Não se tem conhecimento de nenhum escrito sobre a ressurreição e a criação física das plantas. "Um tal Polonois conhecia a arte de encerrar os fantasmas das plantas dentro de suas redomas, de modo que, sempre que lhe aprazia, fazia aparecer uma planta numa redoma. Cada recipiente continha seu arbusto; no fundo aparecia, igualmente, um pouco de terra semelhante a cinza. Tudo isso fechado hermeticamente. Quando queria expor esse arbusto diante de alguém, esquentava suavemente a parte inferior da redoma. O calor que penetrava nela fazia sair do seio da matéria lodosa um caule, uns galhos, seguidos de folhas e flores, segundo a natureza da planta, cuja alma tinha encerrado; e essa visão permanecia intacta aos olhos dos espectadores enquanto durava o calor excitante. "É invariavelmente sobre o padrão mórfico da planta, sobre seu corpo sideral ou potencial — substrato da matéria visível (ela mesma reduzida ao estado de caput mortuum) — que o fantasma vegetal se delineia, em objetivação efêmera no primeiro caso; e que, no outro caso, preside de modo vegetativo o agrupamento molecular da matéria nascente. "No Grande Livro da Natureza, publicado no século passado sob os auspícios da seita mística Rosa-Cruz, encontramos todas as fases da operação espagírica necessária para chegar a obter o fênix vegetal. É o vaso preparado para a prova de palingenesia, o que o autor cita por meio desta metáfora. Quanto às manipulações essenciais, será sob reservas que revelaremos o receituário, procurando resumir o pormenor das minuciosas prescrições formuladas da página 15 à página 19. "1.o - Antes de tudo, é preciso triturar bem, num almofariz, quatro libras de grão bem maduro da planta da qual se deseja tirar a alma; em seguida se procurará conservar a pasta resultante no fundo de uma vasilha muito transparente e muito limpa. "2.° — Um dia, ao anoitecer, se a atmosfera for bem pura e o céu se apresentar muito sereno, expõe-se dito produto à umidade noturna, para que se impregne da virtude vivificante que existe no orvalho. "3.o e 4.° — Ter-se-á muito cuidado em recolher e filtrar uma boa quantidade de dito orvalho, conquanto seja; porém, antes do despontar do sol, porque este aspiraria a parte mais preciosa, que é extraordinariamente volátil. "5.° — Ato contínuo, destilar-se-á o Iíquido filtrado. Do resíduo ou das escórias é conveniente que se saiba extrair um sal muito estranho, porém de aparência muito agradável! "6.° — Borrifar-se-ão os grãos com o produto da citada destilação, previamente saturada com o sal em questão. Imediatamente se introduzirá a vasilha, hermeticamente fechada com bórax e vidro moído, entre o estrume de uma cavalariça. '7.o — Depois de um mês, o grão se terá transformado numa espécie de gelatina; o espírito será como a pele de diversas cores que flutuará entre toda a matéria. Entre a pele e a substância lodosa no fundo da vasilha se observará uma espécie de rocio esverdeado que representará um campo de messe. "8.° — Quando a fermentação chega a este ponto, a mistura produzida dentro de sua vasilha (a qual continuará exatamente fechada) será exposta de dia aos ardores do sol e de noite à irradiação lunar. Durante os períodos chuvosos é preciso transferir a vasilha, colocando-a em lugar seco e temperado até que o bom tempo volte. Para que a operação seja perfeita, terão que transcorrer vários meses em ditas condições — melhor um ano — até que se observe que a mistura dobrou seu tamanho e que a película desapareceu. Então será sinal de que o êxito não tardará. "9.o — Em seu último estado de elaboração, a matéria deve aparecer em pó e de cor azulada.

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