A Psicanálise dos Contos de Fadas

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"Eu lhe apresentava o ar, o fogo, a água e a terra como lindas princesas, e tudo na natureza assumia um significado mais profundo", recordava ela."Inventávamos estradas entre as estrelas, e os grandes espíritos que encontraríamos... Ele me devorava com os olhos; e se o destino de um de seus favoritos não corria como ele queria, eu podia ver a raiva em seu rosto ou os esforços para não romper em lágrimas. Ocasionalmente ele interferia dizendo: "Mãe, a princesa não se casará com esse alfaiate miserável, mesmo se ele matar o gigante", quando então eu parava e adiava a catástrofe até a noite seguinte. Assim, a imaginação dele muitas vezes substituía a minha; e quando na manhã seguinte eu ajeitava o destino de acordo com a sugestão dele e dizia: - "Você adivinhou, foi o que aconteceu ele ficava todo excitado e podia-se ver seu coração batendo." 50 Nem todos os pais podem inventar estórias tão bem como a mãe de Goethe - que durante sua vida foi conhecida como uma grande contadora de estórias de fadas. Contava-as de acordo com os sentimentos internos dos ouvintes quanto à forma que as coisas deveriam acontecer no conto, e este era considerado o modo certo de contá-lo. Infelizmente, muitos pais modernos não tiveram quem lhes contasse contos de fadas quando crianças; e, tendo sido privados do intenso prazer, e do enriquecimento da vida interna que estas estórias dão à criança, mesmo os melhores pais não são capazes" de fornecer ao filho aquilo que esteve ausente de sua própria experiência. Neste caso, uma compreensão intelectual de como um conto de fadas pode ser significativo para a criança, e por quê, deve substituir a empatia direta baseada nas lembranças da própria infância. Quando falamos aqui de uma compreensão intelectual do significado de um conto de fadas, devemos enfatizar que não servirá de nada aproximar-se da narrativa dos contos de fadas com intenções didáticas. Quando em vários contextos deste livro mencionamos que o conto de fadas ajuda a criança a entender-se a si própria, a se orientar para encontrar soluções para os problemas que a conturbam, etc, isso tem sempre um significado metafórico. Se a audição de um conto de fadas permite à criança adquirir tudo isto por si mesma, esta não foi a intenção consciente nem dos que no passado obscuro inventaram as estórias, nem dos que, ao recontá-la, transmitiram-nas por várias gerações. O propósito ao contar a estória de fadas deveria ser o da mãe de Goethe: uma experiência compartilhada de fruir o conto, embora o que contribua para isto possa ser completamente diferente para a criança e para o adulto. Enquanto a criança frui a fantasia, o adulto pode derivar seu prazer da satisfação da criança; enquanto a criança pode sentir-se exultante porque entende melhor alguma coisa sobre si mesma, o prazer do adulto ao


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