Revista GPS Brasilia 17

Page 122

João Vicente tinha apenas sete anos de idade quando partiu para o exílio com a família. Chegaram ao Uruguai dia 2 de abril de 1964. “Meu pai acreditava que a situação política seria passageira e tinha esperanças de retornar em breve ao Brasil”, lembra. A história conta que o período foi mais longo do que parecia. Foram 12 anos de ditadura. A expectativa de Jango de voltar ao País não foi atendida. Faleceu dia 6 de dezembro de 1976, em Mercedes, no Uruguai. Deixou dois filhos, uma mulher e muitas histórias. Assumindo a responsabilidade de eternizar o legado do pai, João Vicente expressa no livro as atribulações da família que assistiu de longe a consolidação da ditadura no Brasil. “Eu resgato como era a convivência em casa com um pai ex-presidente. Ao mesmo tempo, narro a relação humanista dele com os amigos”, conta. A palavra “exílio” não é comum no vocabulário de uma criança. João lembra que o pai tentava explicar aos filhos a presença da família em outro país, o porquê de não poderem retornar ao Brasil e como lidar com a saudade. Além de diálogos e lembranças, a obra é constituída por várias cartas pessoais, entrevistas e documentos inéditos sobre o período. Todavia, João alerta que Jango e Eu não se trata de um livro acadêmico ou para pesquisa, mas, sim, de uma extensão da história de alguém que amava o Brasil. “Meu pai nunca desistiu do País. Sofreu com a distância e por não poder ajudar de perto os brasileiros”, conta. Aos poucos a família entendia o que acontecia. Foram pegos de surpresa pelo golpe militar. Quando perceberam a situação, já era tarde. Na década de 1960, as ditaduras formavam-se na América Latina e tornaram-se “aves peregrinas”, como descreve o autor. Voavam de país em país em busca de estabilidade. Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile, e tantos outros Estados viveram seus governos militares. Personalidades próximas a Jango também são lembrados no livro como Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Celso Furtado, Raul Ryff e Miguel Arraes. “Descrevo algumas das muitas visitas desses personagens à nossa casa no exílio. Em todos os diálogos, meu pai sempre dizia com firmeza que só voltaria ao País quando o último exilado também retornasse”, relembra João.

EM MONUMENTO Muito antes de o livro acontecer, outro elemento em homenagem ao presidente João Goulart foi preconcebido. Com assinatura de Oscar Niemeyer, o Memorial Liberda-

Divulgação

EM PÁGINAS

de e Democracia Presidente João Goulart seria um grande salão histórico, com lembranças da ditadura e do exílio. O plano inicial era levantar o prédio em Brasília, no Eixo Monumental, entre o Memorial JK e a Catedral Rainha da Paz. Porém, em 2015, a obra gerou polêmica pelo Ministério Público. O órgão investigava se as regras de transferência da área pública ao Instituto foram corretamente cumpridas. Por causa disso, o Governo do Distrito Federal decidiu anular a construção do espaço. Mesmo revoltado com a decisão do GDF, João e o Instituto mantêm o projeto. Desta vez, com foco na cidade do Rio de Janeiro. No desenho do monumento, Niemeyer atinge a cúpula do memorial com uma flecha vermelha que traz escrito o ano 1964. Segundo João, o memorial não seria um mausoléu, como foi construído para o ex-presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília. A ideia é criar um espaço onde a sociedade recorde o momento triste da democracia brasileira. “A intenção do arquiteto era criar um monumento em homenagem à liberdade e à democracia, para as pessoas não esquecerem o terror da ditadura”, finaliza. Instituto João Goulart www.institutojoaogoulart.org.br Livro: Jango e Eu: memórias de um exílio sem volta Autor: João Vicente Goulart Editora: Civilização Brasileira

120 « GPSBrasília

GPS_brasilia_edicao_17.indd 120

26/08/17 11:38


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.