Revista Pluris

PLURIS

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we the PLURIS Pluralidade.

Cada um de nós carrega em si algo único, intransmitível, inexplicável, que só existe dentro de nós mesmos. A dor e a delícia de sermos apenas o que somos, sem mais nada a acrescentar. Alguns passam a vida apenas sendo... Mas existem aqueles que lutam, e fazem, e mudam, e vivem todos os dias de transmitir algo, quer seja sua arte, quer seu projeto, ou sua resistência e luta dentro de uma sociedade que nos silencia todos os dias em nome de ideias falhas e sistemas opressores. Queremos falar de quem faz, de quem vive, de quem existe.

Porque nós também existimos. Somos uma equipe. Somos artistas, ou simplesmente transmissores. Somos diferentes, somos plurais.

Somos PLURIS.

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SUMÁRIO DA UNIVERSIDADE PARA O WWW

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CULTURA (B)AFRO

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OS ALUNOS SUPER-HERÓIS DO IPPMG

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LIMITES HUMANOS

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PARA OUVIR: v n d r o i d

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PERFIL: CAMILA ZARITE

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O QUE OS MUROS FALAM

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PONHA SUAS IDEIAS NO MUNDO POR MEIOS RADIOFÔNICOS

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aRTE VIVA

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A EVOLUÇÃO FEMINISTA DAS PRINCESAS DA DISNEY

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ECOANDO UMA NOVA PRODUTORA

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SCARLETT johanson LEMOS diagramadora. revisora.

19 anos; @lemoscarlett; escorpiana; gaúcha;

suburbana; negra; canceriana; @gomesduds; 18 anos; editora. produtora gráfica.

EDUARDA GOMES

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MAURÍCIO ANJOS. diagramador. produtor gráfico.

21 anos; @pimpolhando; leonino; 90’s; hairstylist;

PLU

bombardeio girl; “capricorniana”; @pearlwho; 22 anos; coordenadora. diagramadora.

PÉROLA GONÇALVES.

BRUNA ESTEVES. coordenadora. editora.

19 anos; @brunafesteves; aquariana; carioca; mãezona;

RIS

fofíssima; libriana; @raphaaramos; 19 anos; diagramadora. revisora.

RAPHAELA RAMOS.

JOÃO LAGE. diagramador.

20 anos; @jovctr; sagitariano; tumblr boy; mundo da lua;

artista; the night; virginiano; @dje_govz; 70 anos; editor.

DIEGO MACHADO.

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Da universidade para o WWW Por Raphaela Ramos

Entre Todas As Coisas Daniel Bovolento, de 23 anos, carioca morando em São Paulo, é formado em Publicidade e Propaganda pela UFRJ e fundador do Entre Todas as Coisas, um blog sobre comportamento, relacionamentos, sexo e cultura das mais diferentes perspectivas e formas.

O ETC foi criado em 2010, em seu primeiro ano de faculdade. Após a criação de outros blogs que não foram para frente, Daniel escreveu uma novela para um projeto da aula de Linguagem Gráfica, momento em que percebeu o desejo de expor seus textos. Criou, então, o blog com o objetivo de

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escrever contos sobre mulheres para um futuro livro.

Para iniciar esse projeto, começou a escrever textos, todos com nomes femininos no título, num blog. Reunia neles características de mulheres que conheceu em sua vida, e postava sem muita frequência ou comprometimento. “Era um hobby que foi ganhando forma com o tempo”, conclui o escritor.

Sua maior dificuldade nesse processo de desenvolvimento do projeto foi a falta de público inicial, uma etapa comum quando não já se está na mídia ou se conta com a

ajuda de amigos famosos. “Escrever para ninguém é desanimador, mas com o tempo essas coisas ganham espaço e as pessoas ficam sabendo de você”, diz Daniel.

Nos três primeiros anos, escreveu no blog sozinho, até que em 2013 abriu espaço para novos colunistas devido aos muitos pedidos de publicação recebidos de leitores e escritores. Numa seleção de 10 dias, recebeu mais de 500 textos para avaliar, postou os 10 melhores no blog e os que tiveram mais acessos viraram colunistas. Depois foi incorporando pessoas que conheceu e produziam conteúdos interessantes, e hoje em dia o time conta com aproximadamente 15 colunistas fixos.

Com a criação do blog, a vida do fundador mudou totalmente. Daniel teve experiências profissionais e pessoais que s foram possíveis a partir do projeto, aprendeu a geri-lo como empresário, editor-chefe, escritor, social media, entre outras funções que tem que exercer diariamente.

Além disso, facilitou sua entrada no mercado literário, com a publicação de seu primeiro livro “Por onde andam as pessoas interessantes?”, em 2015.

Com o grande desenvolvimento das mídias digitais, o blogueiro percebeu entre elas o vídeo como uma forte ferramenta e começou a produzir vídeos em abril do ano passado. No entanto, apenas esse ano tem levado essa ideia mais a sério. “É apavorante sair de trás dos textos e colocar seu rosto na frente das câmeras. Mas tem sido um belo desafio”, admite.

Para o ano de 2016, planeja ainda muitas novidades como a criação de uma marca e a produção de conteúdos interativos.

“

O objetivo do ETC é provocar.

Quero que o leitor saia incomodado de lá. Pode ser com raiva, com alegria, pode sair triste ou devastado, mas quero que ele saia de lá diferente. Esse sempre será o objetivo do blog.

”

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LibertArte

A carioca Julia Bigio, de 19 anos, estudante de Comunicação na UFRJ, é criadora da página de desenhos no facebook LibertArte. Crescida no meio da arte, com seus pais desenhistas e sua avó e bisavó artistas plásticas, Julia não consegue se lembrar em que momento começou a desenhar. “Desenho desde sempre”, afirma.

Com sua entrada na Universidade, em 2014, começaram a lhe pedir para fazer desenhos. Em um ato em homenagem a um menino assassinado na Praia Vermelha, conhecido como “Saiato”, foi pedido a ela que fizesse ilustrações. Surgiu então a ideia de criar uma página para unir desenhos a causas sociais. “É positivo pois eu treino meu desenho e ainda estou fazendo bem para o mundo”, diz Julia.

A ideia se executou de forma livre, sem

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um plano semanal. “Quando não me forço a desenhar surgem trabalhos mais sinceros, que mexem comigo. Prefiro ter menos material na página, com mais qualidade, do que ter muitas coisas bonitinhas mas que não contemplam o que estou pensando”, diz ela. Uma grande dificuldade do projeto, no entanto, é a falta de tempo.

Os desenhos são encaixados nos momentos livres de sua agenda. A LibertArte foi criada em conjunto com uma amiga, mas Julia acabou levando o projeto adiante sozinha. É um desafio pois existem muitas páginas que postam com frequência e que contam com profissionais de marketing. Ela faz a gestão da página sozinha, a qual conta hoje com 466 seguidores.

A temática feminista, muito presente em seus trabalhos, já existia em sua vida na

época do Ensino Médio, mas a entrada na UFRJ possibilitou uma maior quantidade de material disponível e de pessoas envolvidas no movimento para trocar informações, a tornando mais engajada. “É um assunto sobre o qual não consigo ficar calada. Quando algo acontece, faço desenhos ou vídeos”, diz a estudante.

Uma mudança trazida pela criação da página foi a necessidade de ter que assumir a responsabilidade sobre seus desenhos.

Um caso, por exemplo, foi o de um aluno da UFRJ que fez comentários nas redes sociais contra o movimento feminista, causando grande repercussão entre os estudantes. Julia postou desenhos manifestando sua opinião sobre essa situação.

“Não coloquei o nome dele, mas todos sabem a que situação se refere”, afirma a desenhista. Outras situações também ocorreram, como um policial que reclamou de um desenho que se referia a sua profissão, afirmando ser um caso de “desacato à autoridade”.

Seu plano para o projeto é levá-lo mais a sério e ter pautas definidas para postar com maior frequência, porém sem se forçar a produzir. “Não pretendo dar um fim a ela, é uma parte de mim. Se eu não postar na página vou acabar postando na minha página pessoal. É um desabafo.”

Para sua formação, Julia tem dúvida entre Publicidade e Rádio TV. A primeira a atrai pela parte da arte gráfica, e se for segui-la pretende mudar o cenário da área. “Não quero contribuir com uma publicidade machista e segregacionista, faria a minha parte para produzir algo mais inclusivo e representativo”, diz ela.

Se for seguir para o audiovisual, pretende investir na produção de documentários, “É uma área que me encanta muito”.

Ripperismos Bárbara Ripper, de 19 anos, é estudante de Comunicação na UFRJ, e criou um canal de vídeos no Youtube chamado Ripperismos, junto de sua irmã, Fernanda Doti, de 15 anos.

O canal, criado em novembro de 2014, tem como objetivo mostrar o relacionamento entre as irmãs, da forma mais natural possível. “A gente se dá muito bem, de um jeito que eu vejo poucas irmãs por aí, e nossos sensos de humor, apesar de ter tons diferentes, têm uma boa sincronia, o que deixa tudo muito natural. O que as pessoas veem no canal é exatamente o que elas veem na vida quando eu e Nanda estamos juntas” conta Bárbara.

A ideia surgiu com a irmã mais nova, que sempre gostou de acompanhar vídeos e sabia da vontade da Bárbara de produzir conteúdo visual. Como nunca haviam visto um canal nesse formato, com duas irmãs falando sobre qualquer coisa, viram um grande potencial e uma oportunidade.

Bárbara pegou sua câmera, assistiu tutoriais de edição, e passaram a filmar toda semana.

Entre as dificuldades encontradas, estão o comprometimento em gravar os vídeos toda semana e a falta de materiais, como luz e microfone. Investimentos já estão sendo feitos, e os planos para 2016 são de investir cada vez mais nesse projeto.

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(Fernanda Cunha - ECO/UFRJ)

(Maria Julia Torres - CFCH/UFRJ)

(Leandro Freire - CT/UFRJ)

(Thamyres Gomes - ECO/UFRJ)

(Yuri Costa - ECO/UFRJ)

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(Elisabete Chaves - CLA/UFRJ)

(Thaina Farias - CLA/UFRJ)

CULT URA (B)AFRO: a ar te de ser nat ural

(Sarah Andrade - ECO/UFRJ)

(Jessica Prisciane - ECO/UFRJ)

(Carlos Vera Cruz - ECO/UFRJ)

(Ana Luiza Marciano - CT/UFRJ)

(Camilla Andrade - CFCH/UFRJ)

(Nathรกlia Braga - ECO/UFRJ)

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Os alunos super-heróis do IPPMG Por Maurício Anjos

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“Era uma vez uma ilha mágica, onde nela moravam bravas crianças. Com um grande espírito de equipe, elas caçavam, pescavam e até construíam suas próprias casas. Viviam naquela ilha em alegria com fadas, duendes e sereias, fazendo de cada dia uma grande aventura. Até que então um barco chegou à ilha e nele, uma surpresa que mudaria a rotina de todos: um maligno feiticeiro. Logo, as crianças teriam de se unir para proteger seu lar contra os obscuros poderes do bruxo.”

É assim que muitas crianças sonham.

Através de uma história, elas partem para um mundo encantado de fantasia, onde realizam sonhos, nutrem esperanças, encontram exemplos de superação e constroem valores. No projeto de extensão universitária “Alunos Contadores de Histórias”, realizado na UFRJ, crianças do Instituto de Pediatria da universidade são visitadas por estudantes determinados em distraí-las da realidade hospitalar.

Através de contos da literatura infantojuvenil, o projeto suaviza a estadia das crianças no instituto, além de oferecer um espaço de aprendizado para alunos da área de saúde. Temos aí um exemplo da prática da mediação de leitura.

Segundo Amanda Leal, pesquisadora e especialista em processos de mediação de leitura, o exercício dessa atividade propõe formas de incluir a leitura na rotina dos cidadãos. “Ler em voz alta, ao pé do ouvido, ou até fazer performances teatrais são algumas destas formas que exploramos”, explica a socióloga. O mediador tem como papel aprofundar leituras, discutindo e retratando temas, como moral e valores, ligados a um contexto social. Buscando entreter e instruir indivíduos, o profissional de mediação apresenta uma obra e propõe uma troca de experiências relacionadas a ela, provocando debates e tornando o exercício de leitura mais atrativo.

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No Instituto de Puericultura e Pediatria Margatão Gesteira/UFRJ, o projeto “Alunos Contadores de Histórias” utiliza a mediação de leitura como uma forma de prazer e divertimento para as crianças que lá são atendidas. De forma geral, os pacientes são portadores de doenças que exigem intenso acompanhamento médico, tais como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares e doenças respiratórias.

Entre exames regulares e visitas do médico, as crianças recebem os estudantes em seus leitos, que carregam seus jalecos coloridos e livros em suas bolsas, dispostos a alegrar e amenizar as desventuras de uma rotina hospitalar.

Carregando grande entusiasmo e um conto nas mãos, os universitários trazem um mundo imaginário para o hospital, onde a fantasia promove felicidade e bem estar. Tudo isso com o conto de histórias.

Com uma grande demanda de alunos da universidade interessados em participar do “Alunos Contadores de Histórias”, o projeto os convida para uma apresentação da estrutura e das fases do programa, sendo posteriormente realizado um processo seletivo por sorteio. Após a seleção dos alunos, eles são encaminhados à primeira fase do projeto conhecida como fase de treinamento. Nela, os envolvidos passam por palestras e reuniões internas que tratam de assuntos a respeito da relação que terão com as crianças atendidas pelo IPPMG/UFRJ. A segunda e última fase do projeto é a contação de histórias na prática, onde os participantes recebem as últimas orientações para finalmente interagir com as crianças. Ao decorrer do projeto, o ambiente acaba contribuindo com

“Não me vejo fazendo outra coisa que não seja levar esse mundo encantado de monstros, heróis e princesas para todas as crianças do IPPMG. Vamos sonhar com elas.”

Luís Fellipe, membro do projeto “Alunos Contadores de Histórias”.

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o aprendizado e desenvolvimento profissional e pessoal dos estudantes, por meio da vivência em uma área de saúde pública e da convivência com os pequenos pacientes.

Nos olhos e sorrisos dos alunos, gratidão. Nos olhos e sorrisos das crianças, vida. O encanto da mediação de leitura vai além dos contos de histórias. Luís Fellipe é integrante do projeto desde 2015. Para ele, contar histórias no IPPMG significa IPPMG significa “a possibilidade de poder ajudar a criança a desviar o foco de tudo aquilo que está passando, nem que seja por um instante. Nós transportamos as crianças para os heróis e personagens que tanto gostam”.

Enquanto contava sobre sua experiência no projeto, Luís relatou um caso que o sensibilizou. “Eu estava contando histórias para uma menina de manhã, mas teria que parar porque iriam realizar um procedimento com ela. Eu já ia guardando o livro quando, de repente, a menina fez um gesto para eu não parasse”, contou comovido. O participante do projeto prosseguiu dizendo que “ela não parou de prestar atenção na história até acabar o procedimento. Quando eu estava saindo, a mãe dela me

agradeceu dizendo que sua filha sempre fica tensa durante a coleta de sangue, mas que eu a tranquilizei”.

São iniciativas como a de Luís Fellipe e como a do projeto “Alunos Contadores de Histórias”, que fazem da mediação de leitura um objeto de ação transformadora.

Buscando alcançar um papel positivo no tratamento das crianças no IPPMG/UFRJ, a mediação revela como a leitura coopera para com o conforto e bem-estar desses pacientes. Seja levando um mundo de imaginação, sonhos e fantasias a crianças internadas em hospitais, contando exemplos de força e superação a quem tem desafios a ultrapassar ou mostrando que um grupo de crianças pode proteger o seu lar de um maligno feiticeiro.

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Limites

Humanos Por Eduarda Gomes

João Gabriel Barreto é cuiabano, apaixonado pelo Rio de Janeiro, cursa Comunicação Social na UFRJ e é o idealizador do projeto Limites Humanos, que visa criar um espaço seguro para reflexão sobre o padrão de beleza que é propagado e os preconceitos reproduzidos.

João, conta um pouco da sua história e do que você espera para o futuro.

Eu nasci em Cuiabá, Mato Grosso, em 1 de maio de 1996. Fiquei pouco tempo na capital e morei em várias cidades pequenas do interior por conta do trabalho da minha mãe. Em 2004, nos estabelecemos em Rondonópolis, que é para aonde eu sempre volto. Em 2010, vim fazer meu ensino médio no Rio, na Escola Sesc de Ensino Médio, onde eram oferecidos cursos técnicos. Quando estava em Macchu Picchu, no Peru, em 2011, fiquei rodeado de paisagens maravilhosas e queria registrar tudo, mas não conhecia a técnica de fotografia, não tinha a sensibilidade. Então, naquele ano, escolhi fazer os dois módulos de fotografia no Senac e me apaixonei. Desde então, eu decidi que queria trabalhar na área de comunicação e, em 2016.1, pretendo entrar na habilitação de Rádio&TV. De onde veio a ideia de explorar a formação dos corpos e suas histórias?

Eu sempre me senti deslocado em relação ao mundo. Fui uma criança feliz, mas um pouco solitária porque, desde que me entendo por gente, já tinha a consciência de que era gay. E esse entendimento faz com

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que a gente passe a se controlar, passe a medir os próprios passos e ter medo da própria sombra. Nunca tem alguém ali pra te apoiar e dizer que vai ficar tudo bem. Ser gay foi uma realidade cruel pra mim.

Quando estava entrando na adolescência, a puberdade me atingiu: vieram os pelos, as espinhas, a altura descomunal. Parece que aplicaram uma grande bomba de hormônios. Eu tinha 12 anos e me lembro de já ter mais de 1,80m, fazer a bigode e, para esconder os pelos da perna, só usar calça.

As espinhas foram minha maior desgraça.

Gastei muito dinheiro em remédios agressivos que não surtiram efeito, limpezas de pele, peelings e tudo que a medicina já inventou. Durante muitos anos, evitei o espelho por odiar o que eu via. Ser gay e feio era insuportável numa cidade como Rondonópolis, com empresários do agronegócio e madames ostensivas, conservadores até a raiz do cabelo e com vidas baseadas na própria imagem. Isso me doía muito e a única saída foi encontrar um espaço em que eu pudesse prosperar. Esse lugar foi o Rio, cidade que eu guardarei no meu coração até o final da vida.

Com a fotografia, eu descobri um talento e uma forma de construir minha própria rea-

lidade. Desde que a conheci, utilizei-a como um escape e me via triste quando estávamos afastados. É um relacionamento maravilhoso. Ao contrário dessa relação, estive em um namoro que prejudicou minha autoestima. Ouvi que se ficasse gordo, ele terminaria comigo. Aquilo foi um marco na forma como eu me relacionava com meu corpo e, a partir de então, eu botei como meta número um alcançar uma autoestima boa. E finalmente consegui, em 2015.

Sem dúvidas, pensar no projeto Limites Humanos fez parte dessa escalada. Em abril de 2015, comecei a pensar nele como uma forma de dar visibilidade a pessoas trans, porque faço parte de um projeto de pesquisa sobre cinema nacional queer e estou, de certo modo, inserido nesses debates sobre gênero. Mas, com o passar do tempo, eu percebi que o que queria fazer era muito maior: era necessária uma relação com a minha vivência, com as minhas dificuldades. Tirar do papel foi difícil, mas após ouvir o depoimento de uma amiga gorda que estava cansada de lutar contra tantos padrões, eu finalmente o coloquei em prática no início de outubro.

cante para as pessoas. Quero mexer nos sentimentos mais profundos delas e fazer com que tenham que refletir sobre aquilo.

Eu espero que todos os modelos saiam da sessão com uma cabeça nova e espalhem a mesma energia positiva que eu tento transmitir.

Da mesma forma, eu tento atingir cada coração de quem curte as fotos no Facebook e no Instagram. É uma forma de tentar não só criar um espaço seguro para todos os envolvidos, mas também leva-los a uma reflexão sobre o padrão de beleza que propagam e sobre os preconceitos ainda reproduzidos. É bem audacioso, mas pelas mensagens que recebo, acredito que o projeto está sendo bem sucedido.

Qual o principal objetivo do Limites Humanos?

O projeto age em três vertentes: no modelo, no espectador e em mim mesmo. Acredito que fotografar todas essas pessoas não servirá de nada se o meu olhar não for transformado no final dessa experiência.

Geralmente, separo 1h para cada modelo, de modo que ele ou ela conte suas experiências e, logo em seguida, fazemos a foto. Eu dispendo uma energia muito grande para isso, porque quero que surta efeito em mim.

Mas, eu devo dizer que a minha maior preocupação sempre foi deixar um legado mar-

Rhuan Paulo Figueiredo

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confessou seus piores traumas sem nos conhecermos. “Mas eu confio em você”, ela me disse.

Entre essas e tantas outras histórias de gratidão, o que sinto é inexplicável. Por um lado, esperava um retorno bacana dos modelos e dos seguidores nas mídias, mas não esperava que fosse tão visceral. Me parece que nada foi em vão.

Alana Donola

Como você se sente empoderando tantas pessoas, desde quem é fotografado a quem lê os depoimentos?

No ano passado, fotografei um rapaz e, algumas semanas depois, o encontrei em uma festa. Quando me viu, ele gritou “Dono da minha autoestima!”. Meu coração veio à boca quando escutei aquilo. Fotografei um dos meus melhores amigos, gay, que não era assumido para os pais. Para fazer o projeto, ele voltou para sua cidade e se assumiu. Um outro melhor amigo foi bulímico no ensino médio, mas nunca havia me contado nada, até que assumiu isso no seu texto pro projeto. Uma moça apareceu na caixa de mensagens da página e me

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Como aconteceu a escolha dos modelos? Qualquer um pode participar?

De início, chamei os amigos mais próximos e alguns conhecidos. Agora, já tenho pessoas que se auto-convidam, porque veem através dos anúncios que criei, ou amigos que já participaram. A intenção é trazer pessoas que não estão próximas aos corpos que encontramos nas revistas: homens brancos com gominhos na barriga e bíceps malhados e mulheres brancas com 0% de gordura e cabelos lisos. A proposta é diversificar, então, é necessário existir autocrítica antes de se auto-convidar.

Onde nossos leitores podem conhecer o projeto?

As redes sociais são facebook.com/ johnbarretao e instagram.com/johnbarretao.

Dandara JesuĂ­ne

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“Deus está morto. E agora? Agora nós somos Deus. Eu sou Deus. Eu crio a realidade que me cerca, esse mundo não existe por si só, tudo que existe é essa ilusão que o nosso cérebro cria. Os átomos que compõem o meu corpo são os mesmos que compõe as mais distantes estrelas que vemos no infinito do céu. O que sou eu, ser humano, tão evoluído, autoproclamado Deus desse universo vazio?”

Com raízes um tanto psicodélicas, passando por influências do seapunk e vaporwave – gênero musical e movimento artístico ascendente em meados do ano de 2010, que associam beats dos anos 90 e 80 com o uso de samples de dance alternativo – Luiz Farias, graduando de Comunicação Social pela UFRJ, surge com um projeto de não apenas música, mas também uma espécie de alter ego: V N D R O I D.

VNDROID:

Para Ouvir Por João Lage

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Em suas músicas de Rap Psicodélico Futurista, o artista retrata a relações sociais estabelecidas, autoestima, doenças psiquiátricas e questões existenciais, buscando trazer uma visão ao mesmo tempo que científica, subjetiva destas mesmas questões. Sua principal abordagem surgiu a partir da Cibercultura e os efeitos que a mesma trouxe enquanto modificadora das relações pessoais entre os indivíduos.

“A guerra cibernética já começou!” Foram estas as palavras de Sérgio Amadeu da Silveira, doutorando em Ciências Políticas pela USP, que cria uma abordagem crítica do falso poder e liberdade que a internet nos traz. Para exemplificar o que vem acontecendo com o mundo cibernético, diz que se luta em uma guerra sem donos, na qual a maior batalha é pela liberdade de conteúdos.

O que está acontecendo hoje, efetivamente, é a união entre ativistas tradicionais de velhos movimentos e de hackers.

Estes, que construíram comunidades nos anos 60, foram muito influenciados nos Estados Unidos pela contracultura americana e boa parte da lógica do pensamento hacker está no desenvolvimento de vários protocolos da internet. Não é à toa que a internet é uma rede não proprietária, que privilegia a liberdade ao invés do controle.

Os hackers, portanto, estavam muito preocupados em desenvolver códigos e permitir que as pessoas tivessem, na verdade, acesso ao software. A ideia de poder para o povo é a ideia de que se você distribui uma máquina que potencializa as

pessoas a usar e manipular informação e você democratiza essa máquina, acaba democratizando o poder. Ela era uma ideia utópica, mas os hackers trabalharam nisso e jogaram toda a sua capacidade no desenvolvimento de códigos, nos anos 80 e 90. Entretanto, no inicio do século XXI, principalmente, a internet passou a ser uma realidade de compartilhamentos de arquivos digitais, que separou os conteúdos em formatos do seu suportes.

Então, isso gerou uma série de problemas para a indústria de mídia, passando a existir diversas regulamentações em torno destes compartilhamentos, o que tornou da internet um espaço extremamente centralizador de poder, a favor de benefícios europeus e americanos.

Na página do V N D R O I D no Facebook, percebe-se a criação de uma estética em torno da mesma, com GIFs animados de desenhos e estátuas gregas que, segundo Luiz, têm um significado mais evidente no conceito da perfeição do ideal grego que, era após era, é resgatado como um passado ideal modelo das sociedades ocidentais, incluindo a contemporânea. “Eles são os falsos ídolos do vaporwave, os deuses que nunca seremos, a perfeição que simplesmente não existe e a pureza que buscamos exterminar.”

Para mais informações, curta a página do V N D R O I D no Facebook. Todas as músicas e ideias estão espalhadas por lá: www.facebook.com/vndroid

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Perfil:

Camila Zarite Por Diego Machado

Ser Atriz não é tarefa fácil e nunca será, ao contrário, é na maior parte das vezes um trabalho andrômico, verdadeiramente espinhento, que machuca e envolve os sentimentos mais profundos. Ser atriz é estar envolta em uma redoma de pesadelos, amores, tristezas, sacrifícios, sorriso, graça e glamour, pela própria natureza da profissão e principalmente pela forma como ainda encaramos o papel “Mulher” no grande teatro que é o mundo que vivemos.

De Dorothy Dandridge a Lupita Nyong’o, passando por Taís Araújo e Beyoncé, atrizes negras se destacam no mundo do entretenimento desde os primórdios da Indústria Cultural apontada por Adorno. No entanto, no mundo ocidental racista, suas trajetórias são e sempre foram marcadas por negligências, trabalho dobrado, salários menores e pouco reconhecimento.

Neste sistema de paradigmas contraditórios, cheio de conflitos visíveis, chamamos a atenção aos olhos nus pra situação feminina negra no mundo das artes.

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Camila Zarite é atriz e estuda Serviço Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Gostaríamos de saber se você sente uma diferença no tratamento que recebe como mulher e como negra e se existe uma diferença visível entre o machismo e o racismo no teatro?

Eu costumo dizer que o machismo dói menos em mim do que o racismo. E sei que o meio do teatro é machista pois a sociedade é machista! Mas é muito mais racista que machista. Há muitos papéis importantes para mulheres. Existe a oportunidade para as mulheres fazerem alguma coisa, as mulheres negras ganham apenas papéis de mulheres negras, que para os autores e diretores são empregadas ou “macumbeiras”, “barraqueiras” etc. E sempre vem identificado, é pra uma mulher negra. Os papéis são sempre destinados pela cor da minha pele e não só pelo gênero. Quando há anúncios de testes eles procuram ou uma mulher ou uma mulher negra, se o anúncio diz “procura-se uma atriz de 26 anos” eu já sei que não adianta me candidatar pois as atrizes brancas têm preferência. É subjetivo, não tá escrito, mas a gente sabe, a gente sente.

Pois são poucas as oportunidades que uma mulher negra tem de fazer um papel que não seja estereotipado.

Então quando você recebe um roteiro vem especificado isto é para uma mulher branca e isto para uma mulher negra?

Não. Então, para a mulher branca não vem especificado. Mas quando é mulher negra sim. Às vezes, na história a pessoa é negra mas nunca é só isso sempre tem mais coisa haver com a cor da pele. É difícil chamar uma atriz negra pra fazer um papel simplesmente, sempre é um papel

de negro, como se nossas vidas tivessem ficado presas a escravidão e se não interpretarmos empregadas e escravas não interpretaremos mais nada. Como se não fôssemos capazes de interpretar.

Durante todo o desenrolar do século XX pudemos perceber o pequeno espaço destinado as mulheres na arte, nos palcos, nas galerias, na tevê, no cinema, inclusive com menores salários. Como você vê isso, como você vive isso?

Salário não é uma coisa que está no meu patamar. Não estou no teatro pra ganhar dinheiro. Definitivamente desistiw disso, e nem sei se alguma vez eu tentei fazer isso. Mas eu acho que a arte como um todo está muito banalizada e faz com que essa questão de ganhar dinheiro se torne a urgência. Também acho que hoje em dia ninguém ganha dinheiro com a arte propriamente dita. O que gera muito dinheiro é o entretenimento bestial.

Como você sente essa crescente banalização da tua profissão?

Então, eu me posiciono não corroborando no meu trabalho com isso. Depois que eu entrei na universidade e me mudei para o Rio de Janeiro eu comecei a filtrar muitas das coisas que eu enxergava como boa e agora via que não eram tão boas assim.

Não aceito papel que eu não concorde. E como em qualquer outra profissão, a ética do profissional tem que vir antes. Já me chamaram pra algumas coisas de televisão e pra fazer algumas paradas que eu não concordo. Eu não fui. Eu fico muito triste; inclusive estou em busca de outra profissão porque se eu tiver que me adaptar a essa arte que está posta não vai dá certo. Então, eu prefiro fazer a arte como algo do meu dia a dia.

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Como estudante universitária e atriz, com você lida com essa a vida de ensaios e estudos acadêmicos? Explique esse jogo de cintura.

Então, eu não sei. Mas eu sempre arrumei tempo pra fazer teatro. Sempre! A minha vida se molda pra eu fazer teatro. Deixo de fazer qualquer coisa pra fazer isso. Já tentei não fazer, já tentei ficar fora um tempo. Mas é inevitável, querendo ou não eu sempre me envolvo em alguma peça. Eu sempre digo que não posso aceitar os trabalhos mas quando eu vejo já estou fazendo. Então, eu não sei, é natural.

Definitivamente o teatro não é só um hobbie pra ti?

É uma profissão que não me gera renda, por isso estou fazendo graduação em Serviço Social. Eu sou chamada para fazer peças e acaba que é um trabalho com certeza. Existe a responsabilidade, existe o compromisso, tudo igual a um trabalho qualquer. Eu tenho consciência de quão difícil é se dedicar só pra isso dependendo financeiramente só de mim como é o caso. É a minha profissão mas não é meu ganha pão.

Dos aspectos do cotidiano da vida de uma atriz, qual você considera o mais complicado de lidar?

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As pessoas falam muito do teste de sofá para a televisão; mas o teatro se tornou um lugar onde as pessoas teatro vão para relaxamento, passar tempo, esses tipos de coisas. Eu acho que as pessoas banalizam um pouco o que acontece no palco, e aí uma das coisas que eu mais tenho dificuldade é em aceitar que as pessoas não sejam tão profissionais. Tu faz uma cena de beijo, uma cena muito boa de beijo, as pessoas já acham que você tem uma coisa com o ator. Isso é algo que me deixa bem chateada e eu não sei lidar com isso. É falta de profissionalismo das pessoas, dos atores, das atrizes. Uma falta de respeito com os colegas. Uma falta de respeito com os colegas mesmo. As pessoas querem muito se derrubar. Isso é muito difícil.

Eu tenho uma curiosidade. Como se deu a sua vinda para a UFRJ? E por que Serviço Social?

Eu sempre fiz teatro social. Que é o teatro voltado mais para o cunho político, típico de Boal. Eu sempre fui ligada a Ongs desde pequena. Minha avó tem uma creche comunitária criada antes de eu nascer e funcionando até hoje, essa necessidade dela de ajudar as pessoas me contagiou, sempre estudei em escola pública, fazia capoeira, informática, tudo em órgãos do governo.

Então, fiz meu primeiro estágio no setor de Serviço Social da prefeitura de Porto Alegre e ali eu me apaixonei pela profissão.

No curso pré-vestibular popular que eu frequentei lá mesmo, eu descobri o que era luta de classes, movimentos sociais, política e percebi que eu não podia ficar de braços cruzados, eu tinha que fazer alguma coisa que pudesse transformar a sociedade. Eu fiz teatro em Porto Alegre e descobri que lá o teatro é extremamente branco, extremamente elitista. Não tem espaço nenhum, nem pra quem tá lá. É bem difícil. Por exemplo aqui no Rio de Janeiro tem um monte de ongs que dão aulas de teatro, em Porto Alegre já não tem, lá você só faz teatro se tiver dinheiro pra pagar.

Não era um lugar pra mim, e aí eu descobri que aqui havia uma das melhores escolas de Serviço Social da América Latina. Então resolvi que eu ia estudar aqui. Aqui tinha teatro e aqui tinha a melhor escola de Serviço Social.

Você disse que em Porto Alegre cursos de teatro são na maioria pagos e caros. Então quando e como você começou a fazer teatro?

Faço teatro desde quando comecei a fazer estágio. Então eu mesma pagava pelas aulas que na época não eram tão caras mas eu sempre contei com a ajuda da minha avó para custear o transporte até as aulas.

Depois disso não parei mais de trabalhar.

E você pensa em optar por uma de suas duas profissões no futuro?

Eu nunca pensei em outras profissões sem ser essas duas. E nem penso em largar nem uma e nem a outra. Ai é que tá, sou bolsista de pesquisa de saúde mental e o fato de ter experiência em teatro me ajudou muito. E quando eu vou fazer personagens no teatro o que eu sei de ciências humanas me ajuda também. A Arte está muito ligada a saúde que é a minha área de atuação no Serviço Social no momento.

Sempre quis fazer essa pergunta pra alguém. Dentre todos os gêneros de arte, qual o seu artista favorito?

Eu não sei responder essa pergunta. Por que pra mim um bom artista não é aquele que é bom em tudo, mas é aquele que faz bem o que se propõe a fazer. Tem artistas que são maravilhosos cantando mas compondo são uma merda, ou atuando são ruins mas tocando um instrumento são bons. Então sei lá... tenho vários nomes de pessoas que eu considero maravilhosas no que elas se propõem a fazer; Lauren Hill, Beyonce, Bob Marley, o rapper Valete.

Tem vários, no Brasil, eu gosto muito da Leci Brandão, acho ela uma artista foda.

Gosto da Alcione, Cartola, Cristiane Sobral, Carolina Maria de Jesus, Racionais mc’s, MC Marechal e o meu poeta querido, Mario Quintana, minhas queridas Pamela Amaro e Melissa Dornelles que são um exemplo para mim e mais um montem de gente linda e talentosa que existe nesse país. Eu não sou fascinada por ninguém não. Particularmente, eu acho estranha a idolatração.

Como um artista negro particularmente eu acho que todos nós acabamos por ser militantes do movimento negro. Sendo assim, como uma artista negra, quais a dificuldades você tem encontrado na sua trajetória desde os dezesseis anos quando você começou?

Desde os dezesseis anos vem aumentando concomitante à minha sensibilidade em reconhecer o racismo. Cada dia mais eu reconheço e cada dia mais eu enxergo mais e sofro mais. Recentemente eu saí de uma companhia de teatro que fiz parte durante dois anos. Saí porque foram racistas comigo, eu fui silenciada nesse espaço que se dizia propôr a discussão sobre as opressões. Eu estava me sentindo oprimida, e relatei isso aos meus co-

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legas, ao diretor, a uma atriz que se dizia muito minha amiga e parece que eles não se importaram com o que eu sentia. Se ofenderam quando eu falei que pessoas brancas não deveriam falar pelas pessoas pretas. Eu fiquei muito doente por conta disso, o racismo me adoece muito. É difícil abandonar um trabalho que é criação sua também, por conta disso, mesmo sabendo que você está certa. Resisti durante muito tempo, fiquei nesta companhia por tempos sofrendo com o que estavam fazendo comigo, até o dia que resolvi ir embora. Eu não conseguia mais sorrir, porque eles me sufocavam com o racismo deles. Eu ainda não tive coragem de colocar “pra foder” mesmo. Pelo menos estou conseguindo não ser obrigada a tolerar determinadas coisas. Isso faz com que eu perca vários trabalhos, vários; eu fico selecionando o que não é machista, o que não é racista, o que não é isso, o que não é aquilo e aí não sobra muita coisa, entendeu? Tem gente que consegue fazer uma peça besta, parabéns, eu não consigo.

Quais as personagens principais que você já teve a oportunidade de interpretar?

Fiz a Joana de Gota D’água, que foi assim, um marco na minha história no Rio De Janeiro, ela foi uma personagem que me fez sofrer muito, por que é uma mulher moradora de favela, com todas as subjetividades que uma mulher pobre tem, ou seja, toda a subjetividade que vi na minha mãe, na minha avó, em mim.

Joana pra mim foi uma personagem muito importante. Todos são, mas ela é a personagem principal, né?

A atriz Lupita Nyong’o que ganhou o prêmio Oscar em 2003 por 12 anos de escravidão. Em abril 2014 foi eleita como a mulher mais bonita do mundo pela revista People. Em 27 de fevereiro de 2014, em um almoço do Essence

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Mulheres Negras, em Beverly Hills, ela faz um discurso sobre a beleza das mulheres negras e falou sobre as inseguranças que tinha quando era adolescente, e disse que seus pontos de vista mudaram sobre si mesma quando ela viu a supermodelo sul-sudanesa Alek Wek alcançar o sucesso. Quando você percebeu o quanto é uma mulher linda? Alguma mulher te apontou enquanto a tua beleza enquanto mulher, enquanto pessoa, enquanto mulher negra?

Então, enquanto mulher, enquanto pessoa, enquanto mulher negra, é isso? Enquanto mulher eu sempre me achei bonita. Eu me encaixo no estereótipo de uma mulata. Eu sempre recebi elogio, nunca soube lidar com isso. Mas era uma beleza vazia entendeu? Eu me via bonita mais não como eu me vejo hoje. Eu relaxava o cabelo, usava outro tipo de roupa. Eu usava outro tipo de tudo, eu era completamente diferente do que eu sou naturalmente. Uma mulher que eu me identifico fisicamente é a Mariane de Castro por conta justamente do cabelo. Eu não gosto de falar que eu me acho bonita, porque bonita está dentro desse padrão, então ser bonita é irrelevante. Eu gosto do jeito que eu sou, como é meu cabelo, minhas pernas, meus longos braços.

To de boa.

A primeira premiação do Oscar foi em 1929, somente onze anos depois um negro é indicado e vence. Também se leva quarenta e oito anos entre a primeira indicação e a primeira premiação de atriz principal para uma mulher negra, ou seja, setenta e três anos depois da criação do prêmio.

E em 2016 parece que os anos vinte realmente estão em moda, oitenta e sete anos depois do início de tudo voltamos a zero indicados negros. O Oscar que é a premiação mais vista no mundo com um papel social e cultural

relevante. Gostaríamos de saber sua opinião a respeito disso.

“

Eu não gosto de falar que me acho bonita, ser bonita é irrelevante.

Eu concordo com o Snoopy Dogg, temos que criar um prêmio para nós pretos, temos que mostrar ao nosso povo que não estamos sozinhos e que juntos somos mais fortes. Tem uma coisa que parece que é ranking de possibilidades social, quando eu era pequena as pessoas olhavam pra mim e diziam que eu tinha que ser a globeleza. É isso, o máximo que posso ser é a globeleza, mostrar o meu corpo, mais do que isso não cabe pras negras, isso é horrível. Tem um concurso lá no Sul cujo o nome é Garota Verão, as meninas desfilam de biquíni e tal e as vencedoras são sempre brancas, obviamente. Sobre essas premiações é isso. Os critérios são brancos e a gente não se encaixa nisso mesmo, só acho que a gente tá bem atrasado pra reivindicar esse tipo de coisa. Isso era pra ter sido feito há muito tempo.

”

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O QUE OS MUROS FALAM

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Ponha suas ideias no mundo por meios radiofônicos

Por Scarlett Lemos

O estudante de Comunicação Social Kadu Barros, de 23 anos, está na habilitação de Rádio e TV na Escola de Comunicação UFRJ e é membro do coletivo da Rádio Interferência, uma das rádios livres da UFRJ que está entre as mais antigas do país.

O que é a rádio Interferência e quando surgiu?

A rádio surgiu em 1985 e, desde então, tem sido laboratório de experimentação tecnológica e artística em comunicação dos estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nesse tempo conviveram importantes personagens da luta política pela liberdade de radiodifusão e pelo direito humano à comunicação. O movimento de rádios livres é muito apagado pela mídia, e até criminalizado, mas foi o primeiro contato direto de grandes profissionais, entre fundadores e presidentes da AMARC Brasil (Associação Mundial de Rádios Comunitárias do Brasil), da UNIRR (União e Inclusão em Redes e Rádios) e desenvolvedores das tecnologias de TV e Rádio Digital que vêm sendo implementadas. Seu estúdio é localizado no prédio do DCE (Diretório Central dos Estudantes) do campus da Praia Vermelha, no Rio.

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Qual é o objetivo do projeto?

Nosso objetivo é garantir um direito de todos, mas negligenciado pelo Estado em nome de grandes empresas e influências do coronelismo: a radiodifusão. Espalhamos o Rádio Livre como ideologia, de apropriação política e tecnológica, criando redes de pequenas rádios comunitárias e livres por todo o mundo.

Quais são as maiores dificuldades?

As maiores dificuldades são os mitos e a midiatização de que rádio sem outorga é crime. Não é. É um ato de desobediência civil, em resposta a Ações de Descumprimento de Preceito Fundamental da Constituição. A maior parte da população não sabe que concessões de rádio e TV são públicas e temporárias, porque não há fiscalização sobre isso – existe emissora que se orgulha de manter a mesma outorga há 50 anos. Elas querem ser “a maior

rádio”, nós queremos que haja mais rádios pequenas.

A Rádio Interferência, diferentemente do que muitos pensam, é uma rádio livre e não pirata. Em que ponto o conceito de rádio livre se diferencia da rádio pirata?

“Rádio Livre”, na minha opinião, é a que luta pelo direito à livre radiodifusão, de uso público não estatal. Feita de pessoas, saberes, princípios e técnicas que passamos adiante. Todos os tratados pelo direito humano e universal à comunicação já assinados pelo Brasil tendem mais a este cenário do que às contradições da lei em que se pautam aqueles que nos chamam “piratas”. Condenar tanta gente junto parece supor que a lei abriga a todos – bem, desde 1998 existe a tal outorga de “rádio comunitária”, que é como um vestibular: quem preenche os requisitos pode entrar, mas as vagas são limitadas (e muito!). Quem fica de fora tem que pagar – no caso, criar uma grande emissora e competir pela maioria das outorgas. Quem baixa arquivos online conhece o xingamento de “pirata”. O movimento de rádios livres é ancestral das redes livres, do código aberto, do download gratuito, da mídia interativa e modelos de negócio horizontais. Os princípios que hoje dão fruto com a internet foram recusados no rádio, quando “a publicidade o salvou da extinção”. Se não faz sentido chamar de pirata a moça que baixa um CD, da mesma maneira é comparar radialivristas a esses inescrupulosos saqueadores. “Piratas são eles, que estão atrás do ouro.”

A rádio livre não é legal. A Interferência deseja, algum dia, conseguir uma concessão para então tornar-se legal?

Não. Acreditamos que é preciso permitir a livre radiodifusão para a sociedade civil.

Há anos diferentes gerações de comunicadores vêm tentando reformular a lei brasileira para que isso seja possível, como

em diversos países do mundo. Em 2015 participamos da fundação do Movimento Espectro Livre, que tem por objetivo regulamentar a reserva de algumas faixas de frequência para uso livre – com pesquisa, educação, arte e cidadania. Quando a lei foi feita, transmitir era um privilégio caro, mas hoje não há motivos, senão políticos, para manter essa atividade tão elitizada.

E o risco de a rádio ser fechada, como vocês lidam com isso?

Formando radialivristas seguros e competentes. É princípio constitucional a liberdade de comunicação por quaisquer meios independente de censura ou autorização, desde 1988. O fechamento de rádios feito pela ANATEL tem um respaldo legal frágil.

Na prática, o risco de criminalização é proporcional à acidez e ao impacto da crítica social que um coletivo faz. Abertamente, 34 deputados e 9 senadores mantém emissoras ilegais que, é claro, jamais foram ameaçadas. Quando vemos, em 5 anos, fecharem 198 rádios por falta de autorização, 30 por prova de interferência de sinal, e todas em comunidades periféricas pelo país, a peneira fica evidente.

Como funciona a programação da rádio?

A cada semestre ocorre pelo menos uma reunião geral para definir a divisão de horários entre os programas fixos, cada um geralmente com 1h de duração. Quem produz “programetes” menores ou sem tempo definido faz o seu horário de acordo com essa divisão. Estimulamos que tudo que for gravado antes ou enquanto vai ao ar, seja publicado no site para download ou para reprise nas lacunas da programação.

O conteúdo é livre, exceto proselitismo empresarial, político, religioso, ou de qualquer natureza; preenchemos os intervalos com todo tipo de arte e uma bela pitada de improviso.

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Como os gastos são custeados? A rádio não aceita patrocínio, o dinheiro sai do bolso dos próprios estudantes?

Todo o patrimônio de discos, equipamentos, e até os móveis, foi doado por parceiros e antigos membros. Também recorremos às políticas públicas de fomento em alguns casos, como o filme “Interferência 2.0”. Já realizamos muitos eventos de arrecadação, por isso são poucas as despesas financiadas diretamente. A Interferência só existe porque é coletiva, cada um ajuda como pode.

E a gestão, como funciona?

O Coletivo Interferência é responsável pela autogestão do espaço, das plataformas e todas as atividades do grupo. Estudantes de diferentes cursos participam desde a produção interativa de conteúdos à programação e distribuição.

A rádio também funciona online? Está nas redes sociais?

Sim, e estamos de site novo, o endereço é radiointerferencia.hotglue.me. Lá estamos

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reunindo um acervo com as produções dessas três décadas: áudios, filmes, textos e imagens sobre rádio e liberdade – para baixar ou ver online. Também temos uma página no Facebook: Interferência, onde publicamos notícias diversas, músicas e links interessantes.

A participação na rádio é aberta à todos os estudantes da UFRJ? É necessário conhecimento técnico na área de radialismo? Como posso participar?

Claro! Todas as nossas atividades são abertas à comunidade. Aqui, o conhecimento não é uma barreira, é um convite. Este ano estamos inaugurando um Curso de Rádio Livre, com oficinas de extensão para quem tiver interesse em produção técnica e artística para rádio. Queremos oferecer, além da experimentação e do aprendizado, uma capacitação profissional, certificada aos integrantes pela UFRJ. Para saber mais e participar basta entrar em contato pelo e-mail radiointerferencia@riseup.net.

Nos vemos lá!

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Ar te Viva

Por Pérola Gonçalves

A arte pode se manifestar das mais diversas maneiras. Aqui, iremos falar especificamente do que chamamos de “Arte viva”, que se baseia no corpo do artista e em suas próprias subjetividades para que se concretize. Entrevistamos quatro estudantes da UFRJ para saber um pouco mais de seus projetos e inspirações. Eles vêm de diferentes formações e vertentes do trabalho artístico, com suas próprias subjetividades e questões tratadas, mas todos possuem algo em comum: O uso de seu corpo como objeto principal de sua arte. A seguir, vamos conhecê-los e entender um pouco mais de seus processos.

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A poesia dançante de Isa Oliveira Isa Oliveira é carioca e está cursando o 6º período do curso de Bacharelado em Teoria da Dança. Antes de vir para a UFRJ, ela estudou Educação Física, mas conta que não se encontrou no curso por falta de uma poética do movimento.

Sua veia artística surgiu desde já quando era muito nova. Desde pequena, gostava de fazer colagens com figuras recortadas de livros didáticos. Era muito tímida, e começou a fazer dança depois de recomendarem à sua mãe que a colocasse em alguma atividade em grupo.

Isa tem os mais diversos projetos em seu currículo. Já trabalhou em teatro, compondo a Ópera Carmen, e dentro da UFRJ fez parte do PADE, grupo de pesquisa em africanidade na dança e educação. Ela tem um projeto de ensino de dança criativa, além de fazer muitas pesquisas em movimento, e entre seus trabalhos autorais se destacam a performance “Eu Lamacê” e o trabalho de videoarte “White Me”.

“Se eu não dançasse, o que que eu ia fazer?

Não sei, sabe, não sei.

Eu não imagino...”

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O trabalho “Eu Lamacê” nasceu de um dia em que estava na casa de amigos em Paraty, e se viu em um rio, cheio de lama.

Então, espontaneamente, entrou nessa lama, ficou nua e se pôs a dançar. A partir de fotos tiradas, montou sua apresentação, baseada no “nascer e morrer cotidiano”.

Imprimiu várias fotografias de tal momento em transparências e vegetais, pendurou-as em uma árvore e, assim, passou a nascer e morrer várias vezes. “A gente nasce e morre todo dia em diferentes momentos, tempos, épocas, luas... E só nós que sabemos disso em nosso íntimo. O outro, que está vendo de fora, não sabe.”

Já seu projeto White me foi produzido para a matéria da universidade “Memória Pessoal e Registro Autobiográfico”. Ela baseia seu trabalho na relação entre pessoas brancas e negras na sociedade, e compôs o projeto com uma videoarte, na qual ela aparece nua em frente às câmeras, dançando, e um efeito especial faz com que sua pele pareça branca.

O misticismo performático de Isaac Vale Estudante de Licenciatura em Dança da UFRJ, o performer, ator e produtor Isaac Vale veio para o Rio de Janeiro em busca de adicionar mais uma formação à sua já vasta lista de habilidades. Natural de Crato, no Ceará, radicado em Maceió, ele trabalha com teatro há 13 anos, nos mais diversos papéis, de ator a performer, produtor e cenografista.

Ao longo de sua carreira, já trabalhou diferentes projetos: em 2008, seu último ano em Maceió, fez um fez uma releitura das personagens de Alice no País das Maravilhas. Logo após, se mudou pra São Paulo, onde passou seis anos de sua vida e estudou cenografia e figurino, e lá participou de trabalhos como a reativação de um prédio inativo da cidade, por meio de uma arte feita com base em um texto de Heiner Miller, o Hamlet Machine.

Agora possui um projeto autoral ainda em desenvolvimento, que possui o nome de Mística. Baseado em estudos sobre teoria queer e sobre a arte da performance, está montando alguém que ainda não

ficou claro se é uma personagem, uma segunda personalidade ou ele mesmo. O projeto já rendeu vertentes como a festa Sodomistikka, promovida por alunos da Residência Estudantil da UFRJ, trabalhada com uma série de elementos pop e performances ao longo de sua duração.

Ao ser perguntado se se identifica mais com um lado do que com o outro de sua carreira, o estudante disse que não. Para ele, sua faceta artística e produtora caminham de mãos dadas, e não há exatamente uma divisão entre elas. Isaac é um artista, envolvido de corpo e alma em tudo o que faz, e não se divide em um ou outro.

“Segura...

Agarra teus pensaventos menina Ao menos de um jeito que eles voem sempre pra longe, Ao menos de um jeito que se espalhem E como sementes façam florir uma qualquer coisa cor, Uma qualquer coisa flor...”

Isaac Vale

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A dança libertadora de Eleonora Artysenk

Eleonora Artysenk é aluna do curso de Dança da UFRJ, natural de Santos-SP e dançarina há 10 anos. A dança para ela possui um significado especial: “com o tempo eu fui percebendo que dançar melhorava minha ansiedade, tirava o meu estresse... eu era boa nisso e as pessoas gostavam de me ver dançar. Hoje em dia não consigo pensar em outra coisa que eu poderia fazer, é estranho...”.

Desde pequena, Leo fez parte de companhias de dança, e possui um estilo muito voltado para o movimento em si, com pesquisas de performance e coreografia.

Em seus tempos de companhia, ela já dançou nos mais diversos lugares, especialmente na região litorânea de São Paulo, e

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também em festivais, como o de Joinville, SC. Após entrar na UFRJ, se engajou em pesquisas de movimento e corporeidade, baseando-se na busca pelo autoconhecimento a partir da dança, do ruído, da poética presente no movimento.

Desde que chegou ao Rio de Janeiro, a dançarina vem realizando projetos performáticos. Conta que logo no início de seu curso fora convidada a realizar um trabalho no Centro Cultural da Justiça Federal, acompanhando com dança a música tocada por uma orquestra. Ela também já trabalhou com o grupo Cazul, de pesquisas em movimento baseados na dança Vogue.

A arte corporal de Aldones Nino Aldones Nino é paulista, e está cursando História da Arte na UFRJ, após passagens em um curso de Filosofia e de Engenharia de Energias Renováveis. Escolheu a essa universidade após ter sido apresentado à EBA – Escola de Belas Artes por uma amiga, e se interessou pelo curso de História da Arte.

Também desenvolveu um trabalho na Reocupação da EBA-UFRJ em 2015, projeto criado pelos alunos como protesto contra a demora na entrega de um prédio novo para a Escola de Belas Artes. Na re-ocupação, Aldones trabalhou com uma amiga questões relativas à religião e à situação do Brasil como país laico, coisa que não se vê

Ele segue o caminho inverso dos outros artistas apresentados aqui: não possui exatamente uma linguagem artística desenvolvida, e preferiu ter um aprofundamento teórico antes de se decidir por qual vertente seguir. Seus trabalhos artísticos começaram a ser desenvolvidos apenas depois de ter entrado no curso, e considera estar em um “período de experimentação” no que diz respeito à arte.

Seus trabalhos principais são baseados em questões já estudadas previamente no curso de filosofia no curso de Filosofia, como a questão corporal e de gênero.

Aldones possui uma relação importante com seu corpo, coberto de tatuagens, e suas obras exploram principalmente a isto, a relação que ele próprio e os outros à sua volta possuem com o corpo.

Possui um projeto, baseado no conceito de máscaras, no qual aparece com o rosto vermelho de tinta, cujo conceito seria o de que, apesar de estar com a face tampada, ainda seria possível entender seus traços, entendê-lo como uma pessoa. A partir desse projeto, fez uma série fotográfica de nus, no telhado do prédio da Reitoria da UFRJ.

na prática. “A religião acaba se intrometendo na política, e eles discutem coisas sobre nosso próprio corpo, querem pautar como devemos nos comportar baseados em um livro sagrado... Então, tudo advém daquele livro e da interpretação colocada por cada um”, conta. Na execução do trabalho, ele colava partes da bíblia em uma mulher, nua, com uma mistura de água e cola, com o intuito de demonstrar de alguma forma “como essas palavras, deslocadas da realidade de quem não é da religião, tentam colocar uma capa em nosso corpo”.

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A evolução feminis ta das princesas da Disney Por Eduarda Gomes

Fernanda Breder é carioca, jornalista formada pela Escola de Comunicação (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de Feminismo e Príncipes Encantados – A representação feminina nos filmes de princesa da Disney, que de monografia virou e-book – depois de acrescentar a história de Frozen – e já está à venda nas principais plataformas digitais.

Fernanda, qual foi a sua principal motivação para iniciar o projeto e por que você escolheu a professora Cristiane Costa para ser sua orientadora?

A minha principal motivação para a pesquisa era o fato de discordar quando diziam que as princesas da Disney são “maus exemplos” para crianças. Quis investigar até que ponto isso seria verdade, mas principalmente contextualizar as personagens no período histórico em que cada filme foi criado, porque é muito fácil desconsiderar quão antigo é um filme de animação. Procurei a Cristiane para ser minha orientadora porque ela tem pesquisas na área, como o livro Eu compro essa mulher: romance e consumo nas telenovelas brasileiras e mexicana.

Só vocês duas trabalharam nessa linha de estudo?

Na época, sim. Mas novas pesquisas sobre o tema já foram desenvolvidas na ECO, uma focando nas vilãs, outra na Jasmine, do filme Aladdin, e uma terceira sobre “Frozen”.

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Qual era o principal objetivo?

Eu quis mostrar que cada princesa é influenciada pelo seu contexto histórico. Por exemplo, enquanto a Branca de Neve gosta de cuidar da casa, para Cinderela isso já é uma imposição, algo desagradável. Por que filmes tão próximos tem mensagens tão diferentes? Porque um é de 1938 e o outro de 1950, aconteceu toda a Segunda Guerra Mundial nesse meio tempo e isso impactou enormemente no papel das mulheres na sociedade. Outro aspecto abordado como as imagens podem impactar quem está sendo representado, ou seja, como o padrão impossível das princesas (belas, delicadas) influencia as meninas que crescem assistindo aos filmes. Acho que o que mais me surpreendeu durante a pesquisa foi perceber como as princesas são sempre solitárias, sem amigas, como a outra personagem feminina é sempre a vilã. Isso ressoa muito com o que Naomi Wolfe fala em “O mito da beleza”, segundo o qual se deve acreditar que mulheres são sempre rivais, inimigas, para que não consigam se unir e mudar as imposições culturais dominantes.

Como vocês fizeram para ele crescer e se tornar um e-book e quais foram as principais dificuldades enfrentadas?

A ideia surgiu porque o tema continua relevante, e depois da pesquisa a Disney lançou “Frozen”, então eu quis falar sobre esse filme também, já que tem duas protagonistas tão interessantes. Além disso, outras meninas me procuraram porque estavam desenvolvendo pesquisas semelhantes e fui chamada por um jornal de Pernambuco para dar entrevista sobre o trabalho. Eu achei que era um tema interessante e poderia ser levado para um público maior se estivesse em um formato menos acadêmico. Eu escolhi a e-galáxia porque foi a mesma editora que produziu o e-book de Sujeito Oculto, da Cristiane Costa, e convidei ela pra escrever a nota de abertura. Foi um projeto pequeno, acho que a maior dificuldade está na divulgação agora que foi lançado.

Até o fechamento dessa edição Feminismo e Príncipes Encantados estava entre os três produtos mais vendidos na categoria “Política, Filosofia e Ciências Sociais - Ciências Sociais - Ciência da Informação” no site Amazon.

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Ecoando uma nova produtora

Por Bruna Esteves

Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, assim como em outras instituições de ensino pelo país, o descaso do poder público é uma realidade. O escasso investimento destinado à universidade prejudica não apenas questões sérias como a falta de manutenção dos campi e falta de apoio aos terceirizados, mas também a necessidade de haver um montante de capital destinado aos programas dos estudantes.

Dessa forma, alguns projetos que seriam um diferencial no currículo acadêmico dos alunos não conseguem ser concretizados por não contarem com apoio suficiente.

timular a produção dos alunos do próprio curso, tendo em vista que há uma defasagem na parte prática de audiovisual e pouco contato dos alunos com o mercado.

Pretende, ainda, promover o diálogo com os alunos do ciclo básico para explicar melhor as áreas existentes no mercado audiovisual, o que a maioria desconhece antes de entrar na habilitação. Os planos para o futuro da produtora ainda não estão completamente definidos, mas a vontade do grupo de alunos de Comunicação Social é transformá-la em uma Empresa Júnior, que preste serviço extramuros.

Um deles, como conta Júlia Araújo, aluna de Rádio e TV, é a ideia de criar uma produtora para a Escola de Comunicação Social da UFRJ. O projeto não é uma pauta nova entre os professores e alunos do curso, mas nunca conseguiu ser levado adiante por dificuldades burocráticas e, especialmente, falta de dinheiro. No entanto, Júlia e mais um grupo de alunos da mesma habilitação não desistiram da ideia mesmo com todas as dificuldades enfrentadas. “Agora estamos tentando entrar em um edital do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) para conseguir recursos e bolsas”, disse a aluna que junto ao grupo busca formas alternativas de resolver o problema.

Além disso, assim que tiverem uma quantidade suficiente de equipamentos e conseguirem capacitar a equipe, o grupo responsável por esse projeto pretende entrar em contato com algumas organizações de favelas. Isso porque, querem produzir curtas junto com eles sobre um assunto de seu interesse. As produções, depois, seriam exibidas para os moradores das comunidades. “Um dos projetos é dar retorno também para fora da universidade”, constata Júlia. Embora o projeto ainda não tenha uma data certa para ser finalizado e ainda não esteja bem definido, os estudantes tentam, com as ferramentas que possuem, torná-lo uma realidade para dar benefícios e novidades ao curso de Comunicação Social da UFRJ.

O objetivo principal do projeto, de acordo com Julia, é que a produtora sirva para es-

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