Brochura | As espécies de algas castanhas gigantes de Portugal

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Guia de campo As espĂŠcies de algas castanhas gigantes de Portugal


Edição: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda (info@gobius.pt | www.gobius.pt) Produção de conteúdos: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda, Centro de Ciências do Mar e Departamento de Oceanografia e Pescas, Universidade dos Açores, segundo o novo acordo ortográfico. Coordenação editorial e executiva: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda Coordenação científica: Ester A. Serrão - Centro de Ciencias do Mar e Universidade do Algarve Fotografias: AlgaeBase (p 8); Shutterstock (p 6) Capa: Zona entremarés, Viana do Castelo, 2009 (Jorge M. F. Assis - Gobius) Esquemas e Ilustrações: J. T. Tavares - Gobius Design gráfico: Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda © Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda e Centro de Ciências do Mar, 2011 A publicação “Guia de campo, as espécies de algas castanhas gigantes de Portugal” não pode ser reproduzida por qualquer forma ou quaisquer meios eletrónicos, mecânicos ou outros, incluindo fotocópia, sem prévia autorização do Centro de Ciências do Mar e da Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda. Citação: Assis, J; Tavares J.T., Serrão E.A.; Alberto F; Ferreira C; Tavares D; Paulos L; Tempera F. (2011). Guia de campo. As espécies de algas castanhas gigantes de Portugal. Centro de Ciências do Mar e Mundo Gobius Comunicação e Ciência, Lda


Florestas marinhas _ 3

Que forma possuem as algas kelp? Embora todas as algas tenham sido consideradas como plantas durante muito tempo, as algas castanhas são evolutivamente muito distantes das plantas. As algas não possuem verdadeiras raízes, caules, folhas e flores. Na sua grande maioria, as espécies de kelp são constituídas por um conjunto de lâminas, um estipe e uma base. As lâminas são estruturas planas e as principais responsáveis pela absorção de nutrientes da coluna de água e pela realização da fotossíntese, processo de utilização da luz solar e de moléculas simples, como o dióxido de carbono e os sais minerais, para produção de matéria orgânica. Este processo permite que cresçam, gerando ao mesmo tempo oxigénio e biomassa. O crescimento das espécies de kelp ocorre na base das lâminas, num tecido de células indiferenciadas com capacidade de divisão contínua. As terminações das lâminas são as partes mais velhas e encontram-se frequentemente esfarrapadas. Ao contrário das plantas com raízes, a base das espécies de kelp não é responsável pela absorção de nutrientes. Essa estrutura funciona apenas para a fixação da alga aos fundos rochosos. O estipe é uma estrutura flexível que suporta as lâminas e que permite aguentar fortes correntes marítimas. Em algumas espécies (ex. Saccorhiza polyschides) o tecido do estipe, localizado a poucos centímetros da base, expande-se ao longo do crescimento, transformandose num bolbo que acaba por cobrir a sua base.

. Estrutura geral das espécies de algas kelp

Lâmina .

Lâmina .

Estipe . . Base

Estipe . . Base


Florestas marinhas _ 4

Laminaria hyperborea Laminaria hyperborea é uma espécie perene que pode viver até aos 18 anos. Em Portugal, distribui-se até aos 20 m de profundidade sobre fundos rochosos de regiões expostas a correntes, que vão desde a foz do Rio Minho (Caminha) a Vila do Conde (Porto). O comprimento das lâminas varia com a estação do ano, a idade da alga e a localização, alcançando os 2 m, em alguns casos. Em cada ano, a nova lâmina cresce por baixo da velha (início de novembro), deixando um claro colar entre as duas. O tecido da lâmina velha desaparece totalmente durante a primavera até ao início do verão. As lâminas, de cor castanha, são escuras, rígidas e espalmadas, normalmente, divididas em 5 a 20 tiras. A base da alga é formada por um entremeado de pequenos rizoides (hápteros) que resultam num órgão de fixação cónico em plantas adultas. O estipe da alga é cilíndrico, de diâmetro maior junto à base, apresentando uma textura rugosa (exceto em plantas muito novas), bastante rígido. O comprimento do estipe varia dependendo da localização e profundidade (geralmente maior com a profundidade). Esta espécie é facilmente confundida com Laminaria ochroleuca na costa portuguesa. Uma característica distintiva desta espécie é o facto do estipe ser fortemente colonizado por outras espécies de algas e de pequenos animais (permitindo fazer a distinção com a Laminaria ochroleuca).

Adulto .

. Jovem


Florestas marinhas _ 5

Laminaria ochroleuca

. Distribuição em Portugal continental

Laminaria ochroleuca é uma espécie de kelp perene. A idade máxima que pode atingir é ainda desconhecida (provavelmente da mesma ordem de grandeza do que a Laminaria hyperborea, isto é, 18 anos). Em Portugal, habita fundos rochosos de zonas abrigadas ou de moderado hidrodinamismo. Distribui-se dos 3 aos 18 m de profundidade (profundidade ótima de crescimento aos 5 m), desde a foz do Rio Minho (Caminha) a Leça da Palmeira (Porto), reaparecendo a sul, entre o Cabo Raso (Cascais) e o Cabo Espichel (Sesimbra) e na Costa Vicentina (Arrifana, Odemira). É conhecida por formar densas florestas em zonas não costeiras de grande profundidade (mais de 30 m), como a Montanha de Camões (Cascais), o Banco de Gorringe, e ilhéus Formigas no arquipélago dos Açores. O comprimento das lâminas pode alcançar os 2 a 3 m em alguns casos. É uma espécie com elevada semelhança morfológica com Laminaria hyperborea. No entanto, tanto o estipe como a lâmina são mais claros, com um tom amarelado. Uma da principais características que permite distinguir esta espécie é o facto do estipe da alga ser suave e, normalmente, limpo de colonização por outras algas ou pequenos animais. O estipe cilíndrico e a ausência de um bolbo são características distintivas em relação à espécie Saccorhiza polyschides.

Adulto .

. Jovem


Estipe e bolbo de Saccorhiza polyschides.


Florestas marinhas _ 7

Saccorhiza polyschides Saccorhiza polyschides é uma espécie anual, aparecendo na primavera e, geralmente, só sendo visível até finais de setembro. Em Portugal, distribui-se até aos 19 m de profundidade sobre fundos rochosos desde a foz do Rio Minho (Caminha) a Aveiro, reaparecendo mais a sul na região do Cabo Mondego (Figueira da foz), entre Peniche e Ericeira, entre o Cabo Raso (Cascais) e o Cabo Espichel (Sesimbra) e na região do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, entre o Cabo Sardão (Almograve) e a Carrapateira (Vila do Bispo). As lâminas variam de comprimento com a idade, a profundidade e a localização, alcançando os 3 m de comprimento em condições ótimas. A lâmina, de cor castanha, é escura, larga, espalmada e dividida em 3 a 30 tiras ou fitas. A parte terminal da lâmina apresentase esfarrapada no final da estação de crescimento (final do verão). A base é, inicialmente, formada por pequenos rizoides (hápteros) que ficam cobertos pelo crescimento de um bolbo formado pela expansão de tecido, inicialmente, localizado a poucos centímetros da base. O bolbo pode ter até 30 cm de diâmetro. O estipe é espalmado e retorcido na parte mais basal, muito resistente mas flexível. A forma do estipe e a existência do bolbo são as características distintivas mais evidentes entre esta espécie e L. ochroleuca. Em estados juvenis as semelhanças são maiores entres as duas, contudo, podem diferenciar-se porque S. polyschides tem, a alguns centímetros da base, um anel saliente que irá formar o bolbo.

Adulto .

. Jovem


Saccharina latissima arrojada sobre areia.


Florestas marinhas _ 9

Saccharina latissima Saccharina latissima é uma espécie perene, pode viver de 2 a 4 anos e, em Portugal, coloniza fundos rochosos ou de rocha rolada da região de Viana do Castelo. É muito comum na praia Amorosa, na zona a descoberto nas marés mais baixas. Em Portugal, a sua distribuição em profundidade não é ainda conhecida, no entanto, sabe-se que em outras regiões pode ser avistada até aos 30 m de profundidade. O comprimento das lâminas varia com a idade da alga e a localização, variando de 30 cm a 1,5 m em Portugal. É uma espécie que, em condições ótimas, pode atingir os 3 m de comprimento. Esta estrutura pode apresentar de 10 a 50 cm de largura, e as algas de maiores dimensões podem apresentar margens onduladas. Durante o inverno perde a sua lâmina, retomando o seu crescimento até ao fim da primavera. No final do verão, a lâmina apresenta-se degradada nas suas extremidades. Regra geral, esta espécie possui uma coloração castanho esverdeado, com a forma de uma banda única contínua. Possui uma zona de tecido mais espesso que confere rigidez à lâmina, ao longo da sua região central. O seu tecido pode ser mais suave ou rígido ao toque dependendo das condições do local, sendo, contudo, a lâmina na sua totalidade muito flexível. A base é, geralmente, compacta, com rizoides (hápteros) curtos e o estipe é flexível e, normalmente, curto.

Adulto .

. Jovem


Florestas marinhas _ 10

Undaria pinnatifida Undaria pinnatifida é uma espécie anual, nativa do Japão, que invadiu muitos dos mares e oceanos, desde a Europa até à Nova Zelândia. Foi recentemente detetada na região do Porto (2008) e do Cabo Mondego (2010). É uma espécie oportunista, de rápido crescimento, com a habilidade de colonizar ambientes perturbados, podendo atingir 1,5 m de comprimento e tornar-se muito abundante. Por ser uma espécie não nativa, poderá alterar o equilíbrio das comunidades marinhas. Coloniza fundos rochosos ou de rocha rolada pouco profundos, em zonas de baixo hidrodinamismo, dos 2 aos 20 m de profundidade. Em regiões protegidas da ondulação dominante pode formar comunidades bastante densas. A lâmina é larga e recortada, afunilando nas extremidades. Possui uma nervura central individualizada em todas as idades. O seu estipe é achatado e possui ondulações (semelhantes a Saccorhiza polyschides), mas nunca é helicoidal na base. Os indivíduos jovens apresentam uma lâmina pouco recortada. Esta característica altera-se gradualmente ao longo do seu desenvolvimento, dando origem a uma lâmina mais recortada e a um estipe proporcionalmente mais curto. Adulto .

. Jovem


Florestas marinhas _ 11

Phyllariopsis brevipes Phyllariopsis brevipes é uma espécie anual, que se distribui até aos 21 m de profundidade sobre fundos rochosos do infralitoral, na região de Perafita (Porto) e, mais a sul, entre Peniche e a ilha do Farol (Faro). Regra geral, atinge os 50 cm de comprimento, no entanto, em condições ótimas pode atingir 2 m. A lâmina é larga e oval, podendo rasgar-se e deteriorar-se nas extremidades. Apresenta soros durante o verão, uma mancha escura na região basal da lâmina, onde se libertam os esporos. A sua textura é mais ou menos irregular com pontuações. Os indivíduos jovens são semelhantes aos adultos, mas sem soros na lâmina, sendo esta mais clara. O estipe é bastante curto e fino (cerca de 3 mm).

Phyllariopsis brevipes var. purpurascens A variedade purpurascens distribui-se dos 7 aos 10 m de profundidade sobre fundos rochosos do infralitoral, desde os Farilhões (Peniche) à praia da Ingrina (Vila do Bispo). É facilmente identificada através da localização da mancha de soros. Nesta, a sua localização não é imediatamente a seguir ao estipe como na espécie Phyllariopsis brevipes. Tal como Phyllariopsis brevipes a sua lâmina é larga e oval, pode rasgar-se e deteriorar-se nas extremidades e atinge, regra geral, os 50 cm de comprimento.

Adulto .

. Jovem


Florestas marinhas _ 12

Phyllariopsis purpurascens Phyllariopsis purpurascens é uma espécie anual, de águas temperadas, que se distribui até aos 22 m de profundidade sobre fundos rochosos do infralitoral desde os Farilhões (Peniche) à praia da Ingrina (Vila do Bispo). É uma espécie que pode atingir 1,5 m de comprimento. A lâmina é larga e em forma de lança, podendo rasgar-se e deteriorar-se nas extremidades, principalmente, em zonas de elevado hidrodinamismo. Apresenta soros durante o verão, sob a forma de uma mancha escura na região basal (produzidos na parte inferior da lâmina, nunca atingindo o seu bordo), de onde se libertam os esporos. A sua textura é mais ou menos irregular com pontuações. Os indivíduos jovens são semelhantes aos adultos, mas sem soros na lâmina. Nesse caso, a lâmina apresenta-se, regra geral, de cor amarelada. A base é constituída por um disco simples com rizoides curtos. O estipe é, no geral, maior que o dos indivíduos de Phyllariopsis brevipes, podendo atingir os 12 cm de comprimento. São espécies de maior profundidade podendo ser confundidas com os estados juvenis de S. polyschides, sendo o anel na base do estipe, desta última, a característica distintiva neste caso.

Adulto .

. Jovem


Guia de campo “as espécies de algas castanhas gigantes de Portugal” é uma publicação que surge no âmbito do projeto Findkelp (www.findkelp.org).

_ iniciativa

_ desenvolvimento

_ apoios


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