TCC arqurbuvv LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

GIULLIANNA DA SILVA SANGALI DE MELLO

VILA VELHA 2021


GIULLIANNA DA SILVA SANGALI DE MELLO

LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha como requisito parcial para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista.

VILA VELHA 2021




AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por me conceder força, proteção e ter me dado a oportunidade de chegar até a conclusão desse grande sonho, sem Ele nada seria possível. Minha eterna gratidão aos meus pais, Dalmir e Edi, por acreditarem em mim e me apoiarem a cada momento. Em especial a minha mãe que foi a maior fonte de inspiração para esse trabalho e que confiou a mim esse tema tão especial. Vocês são os alicerces da minha vida juntamente à minha irmã Eduarda, que vibrou a cada conquista e segurou minha mão a cada passo. E ao meu sobrinho Antônio, por sempre me fazer sorrir após um dia exaustivo. Ao meu amor e noivo Lucas, pela cumplicidade e confiança. Aos velhos amigos, pelo apoio e torcida, e aos amigos conquistados durante o curso, por viverem isso intensamente comigo. A todos os ex-alunos do Colégio Maria Mattos que colaboraram para o sucesso desse estudo. Em especial, a ex-aluna Nazareth. Agradeço a cada um dos professores que se dedicaram todos os dias nas aulas e me ensinaram sobre o amor pela arquitetura. Em especial a minha querida orientadora, Larissa por me acompanhar durante todo o curso e por não medir esforços para me ajudar. Saibam que o amor de vocês me fez prosseguir em direção à realização desse grande sonho. Sem vocês, eu não conseguiria. Esse não é o fim. É só o início! Muito obrigada!


RESUMO O presente trabalho consiste em um projeto de requalificação no edifício do Colégio Maria Mattos na cidade de Anchieta/ES com mudança de uso para o Centro Cultural Lugar e Memória com o conceito de resgatar as memórias do colégio e transformar o espaço em um ponto de encontro para o município. O Colégio Maria Mattos foi fundado em 1932 e deixou uma forte memória afetiva para todos que passaram por lá. Em 1998 o colégio fechou suas portas por falta de recursos e 2 anos depois o Estado alugou o prédio para dar início ao funcionamento da escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida. Em 2005 a escola foi municipalizada, atendendo a alunos de ensino fundamental. Por ser muito antigo, o prédio necessitava de manutenção para a segurança de seus alunos e até foi proposto pela prefeitura às irmãs carmelitas (proprietárias do local) uma reforma geral, mas não obtiveram sucesso nesse plano. Portanto, não foi possível prosseguir com as atividades da referida escola no prédio, precisando ser transferida para um outro local em 2019. Hoje, o edifício se encontra abandonado, sem uso e em mau estado de conservação. A população da cidade e os ex-alunos lamentam o descaso com essa edificação que possui um grande valor afetivo. O presente projeto busca retomar os valores perdidos com a degradação do edifício, resgatando as memórias vividas ali e ampliando a oferta de espaço público na cidade. A proposta conta com salas de pintura, cerâmica, auditório, ballet, biblioteca, aula de música, salas de coworking e outras atividades oferecidas aos visitantes. Além de fomentar o lazer e a cultura, o projeto conta com parcerias lucrativas para impulsionar o comércio local, com cafeteria, bistrô, loja e salas para aluguel. Palavras-chave: Anchieta, Centro Cultural, Colégio Maria Mattos, Espaço Público, Requalificação, Memória.


ABSTRACT The present work consists of a requalification project in the building of Colégio Maria Mattos in the city of Anchieta / ES with change of use to the Lugar e Memória Cultural Center with the concept of rescuing as memories of the school and transforming the space into a meeting point for the municipality. Colégio Maria Mattos was founded in 1932 and left a strong affective memory for everyone who went there. In 1998, the school closed its doors due to lack of resources and 2 years later the State rented the building to start operating the Sr. Terezinha Godoy de Almeida school. In 2005, the school was municipalized, serving elementary school students. As it is very old, the building needs maintenance for the safety of its students and the city government even proposed a general renovation to the Carmelite sisters (owners of the site), but they were not successful in this plan. Therefore, it was not possible to proceed with the school's activities in the building, having to be transferred to another location in 2019. Today, the building is abandoned, unused and in poor condition. The city's population and former students regret the neglect of this building, which has great affective value. This project seeks to recover the values lost with the degradation of the building, rescuing them as memories lived there and expanding the offer of public space in the city. The proposal has painting rooms, ceramics, auditorium, ballet, library, music class, coworking rooms and other activities offered to visitors. In addition to promoting leisure and culture, the project has profitable partnerships to boost local commerce, with cafeteria, bistro, shop and rooms for rent. Keywords:

Anchieta,

Requalification, Memory.

Cultural

Center,

Colégio

Maria

Mattos,

Public

Space,


LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Vista área do projeto do Memorial Brumadinho ........................................... 32 Figura 2 - Implantação do projeto do Memorial Brumadinho ........................................ 33 Figura 3 - Planta baixa do pavilhão do projeto do Memorial Brumadinho. ..................... 34 Figura 4 - Implantação do trecho do percurso do projeto do Memorial Brumadinho. .... 35 Figura 5 - Corte do Espaço Memória .......................................................................... 36 Figura 6 - Imagem do mirante do projeto do Memorial Brumadinho. ............................ 37 Figura 7 - Imagem do interior do pavilhão ................................................................... 38 Figura 8 - Imagem do percurso do projeto do Memorial Brumadinho. .......................... 39 Figura 9 - Imagem do Espaço Memória ....................................................................... 40 Figura 10 - Escultura .................................................................................................. 41 Figura 11 - Montagem com a localização da Casa Daros ............................................ 42 Figura 12 - Planta de situação da Casa Daros............................................................. 43 Figura 13 - Planta baixa do térreo e do 1º pavimento da Casa Daros .......................... 44 Figura 14 - Planta baixa do 2º e 3º pavimento da Casa Daros. .................................... 45 Figura 15 - Interior da Casa Daros .............................................................................. 46 Figura 16 - Interior da Casa Daros .............................................................................. 47 Figura 17 - Pátio interno da Casa Daros...................................................................... 48 Figura 18 - Localização do município de Anchieta. ...................................................... 53 Figura 19 - Praias de Anchieta/ES ............................................................................... 55 Figura 20 - Santuário Nacional de São José De Anchieta ............................................ 56 Figura 21 - Principais edificações históricas da cidade ................................................ 57 Figura 22 - Centro Cultural Anchieta ........................................................................... 58 Figura 23 - Edificações históricas da cidade de Anchieta/ES ....................................... 59 Figura 24 - Colégio Maria Mattos. ............................................................................... 61 Figura 25 - Desenho e pintura em aquarela da parte antiga de Anchieta. .................... 63 Figura 26 - Formatura - Colégio Maria Mattos ............................................................. 64 Figura 27 - Pintura em aquarela com alunas do Colégio Maria Mattos. ........................ 65 Figura 28 - Alunas Externas e Internas do Colégio Maria Mattos ................................. 66 Figura 29 - Alojamento no Colégio Maria Mattos ......................................................... 66


Figura 30 - Pintura em aquarela – Colégio Maria Mattos.............................................. 67 Figura 31 - Pintura em aquarela – cidade antiga com o Colégio Maria Mattos.............. 68 Figura 32 - Momento religioso – Colégio Maria Mattos ................................................ 69 Figura 33 - Pintura em aquarela – esportes no Colégio Maria Mattos........................... 70 Figura 34 - Desfiles pela cidade das alunas do Colégio Maria Mattos .......................... 71 Figura 35 - Eventos no Colégio Maria Mattos .............................................................. 73 Figura 36 - Salão de festas - Colégio Maria Mattos...................................................... 74 Figura 37 - Eventos no Salão do Colégio Maria Mattos ................................................ 75 Figura 38 - Atividades realizadas na escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida ............ 76 Figura 39 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos .................. 77 Figura 40 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos .................. 78 Figura 41 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos .................. 79 Figura 42 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos .................. 80 Figura 43 - Diagrama de análise do entorno ................................................................ 84 Figura 44 - Acesso do Colégio Maria Mattos ............................................................... 85 Figura 45 - Diagrama de análise de condicionantes físicos .......................................... 86 Figura 46 - Visuais do Colégio Maria Mattos ............................................................... 87 Figura 47 - Visuais do Colégio Maria Mattos ............................................................... 88 Figura 48 - Diagrama de figura-fundo.......................................................................... 88 Figura 49 - Análise dos limites e intercessões das poligonais de proteção federal, estadual e municipal ................................................................................................................. 89 Figura 50 - Proposta de setorização do entorno do Santuário Nacional de São José de Anchieta ..................................................................................................................... 90 Figura 51 - Planta Baixa Original - Térreo .................................................................... 92 Figura 52 - Planta Baixa Original – 1º Pavimento ......................................................... 93 Figura 53 - Imagens gerais da condição atual do Colégio Maria Mattos ....................... 94 Figura 54 - Patologias encontradas no Colégio Maria Mattos ...................................... 95 Figura 55 - Moodboard ............................................................................................. 101 Figura 56 - Implantação ............................................................................................ 105 Figura 57 - Setorização - Térreo ............................................................................... 107 Figura 58 - Setorização - 1º Pavimento ..................................................................... 109 Figura 59 - Estacionamento e Guarita ....................................................................... 112


Figura 60 - Chegada................................................................................................. 113 Figura 61 - Frente do Centro Cultural ........................................................................ 114 Figura 62 - Frente do Centro Cultural ........................................................................ 115 Figura 63 - Memorial ................................................................................................ 116 Figura 64 - Recepção ............................................................................................... 117 Figura 65 - Memorial ................................................................................................ 118 Figura 66 - Memorial ................................................................................................ 119 Figura 67 - Painel de recordações ............................................................................ 120 Figura 68 - Painel de recordações ............................................................................ 121 Figura 69 - Painéis com a história do Colégio Maria Mattos ....................................... 122 Figura 70 - Painel interativo ...................................................................................... 123 Figura 71 - Hall de circulação vertical ....................................................................... 124 Figura 72 - Vista do alto do Centro Cultural ............................................................... 125 Figura 73 - Vista do Caramanchão............................................................................ 126 Figura 74 - Entrada Secundária ................................................................................ 127 Figura 75 - Pátio Central ........................................................................................... 128 Figura 76 - Vista de cima para o pátio central ........................................................... 129 Figura 77 - Escultura ................................................................................................ 130 Figura 78 - Pátio Central ........................................................................................... 131 Figura 79 - Pátio Central ........................................................................................... 132 Figura 80 - Sino ........................................................................................................ 133 Figura 81 - Bistrô e Painel Instagramável .................................................................. 134 Figura 82 - Bistrô ...................................................................................................... 135 Figura 83 - Jardim .................................................................................................... 136 Figura 84 - Gruta ...................................................................................................... 137 Figura 85 - Espaço Infantil, Gramado para Piquenique e Quadra ............................... 138


LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Síntese das Análises dos Estudos de Casos ............................................... 50 Tabela 2 - Tabela de limites construtivos de cada setor ............................................... 91 Tabela 3 - Diretrizes e Ações ...................................................................................... 97 Tabela 4 - Programa de Necesidades ....................................................................... 102



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1 INTRODUÇÃO 1.1

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA

Existem momentos, vinculados a um tempo passado, presentes na memória que despertam sensações e reforçam a identidade de um determinado lugar. O sentimento de afeto adquirido através de uma experiência produz nas pessoas a memória desta. Os lugares de memória, criados pelo autor Nora (1993), são aqueles que independente das suas condições despertam e transcendem sentimentos afetivos. Um espaço que recorda momentos afetuosos e que é parte de todos que passaram por lá, o Colégio Maria Mattos, situada na cidade de Anchieta-ES, é de fato um lugar de memória. Entre o passado e o presente há um abismo chamado tempo e apesar de ser fruto de recordações especiais, o edifício do Colégio Maria Mattos (datado de 1938) sofreu com a ação do tempo e a falta de manutenção, encontrando, atualmente, em estado de desuso, por consequência de problemas estruturais. O edifício faz parte da herança histórica da cidade de Anchieta/ES e necessita de uma intervenção que atue nas estruturas pré-existentes com o intuito de relevar seu valor histórico, cultural e social, fortalecendo sua identidade para as próximas gerações. O problema principal é a inutilização do edifício e sua deterioração, sendo assim, a presente pesquisa traz uma proposta que alia a valorização do edifício histórico somada a uma intervenção de requalificação que propõe uma mudança de uso de escola para centro cultural. A proposta inclui atividades que reforcem os momentos vivenciados no Colégio, retomando os valores perdidos com a degradação do prédio, almejando ganhos econômicos, sociais, culturais e históricos. Baseado nesse sonho, o trabalho envolve uma revisão bibliográfica sobre o assunto, estudo de projetos de referência, depoimentos de ex-alunos do Colégio, história do colégio e análise do edifício e seu entorno a fim de compreender melhor sobre o Colégio Maria Mattos e eternizar sua história e memórias para a cidade de Anchieta através do projeto do Centro Cultural Lugar e Memória. LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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1.2

OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo geral desenvolver um ensaio projetual de requalificação do Colégio Maria Mattos, de modo a abrigar um centro cultural para o município de Anchieta, visando resgatar as memórias vividas no colégio, ampliar a oferta de espaço público na cidade, valorizar o encontro e retomar os valores perdidos com a degradação.

1.2.1 Objetivos Específicos Com a finalidade de alcançar o objetivo geral, esse trabalho engloba os seguintes objetivos específicos: a) Compreender os tipos de intervenção em edifícios históricos; b) Analisar projetos de referências com os mesmos objetivos c) Resgatar as memórias vividas no colégio, enfatizando a importância do edifício para a cidade; d) Identificar potencialidades e condicionantes do sítio físico (objeto de estudo); e) Desenvolver uma proposta projetual considerando novos usos e atividades relacionadas ao lazer e entretenimento.

1.3

JUSTIFICATIVA

O presente trabalho se justifica através da importância histórica do Colégio Maria Mattos e da condição de desuso que o edifício se encontra. Um prédio histórico que compõe a herança patrimonial da cidade de Anchieta e que marcou a vida de tantas pessoas, hoje, se apresenta com problemas estruturais e sem uma previsão de manutenção e de resgate da sua integridade. Essa pesquisa é fruto da inquietação de todos os ex-alunos e ex-professores - inclusive desta autora e de sua família que estudou e trabalhou por muitos anos lá - ao ver o prédio que simboliza tantos momentos inesquecíveis e que participou da formação social de tantas pessoas em estado de abandono. Além da LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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relevância deste projeto para os moradores, a proposta contribui na consolidação da herança histórica da cidade de Anchieta para as futuras gerações. A proposta se atém não puramente na recuperação do edifício, mas na necessidade de um espaço público que promova lazer e entretenimento na cidade. Sendo assim, a pesquisa se desenvolve em rumo a concretização deste sonho, dispondo da arquitetura para resolver questões sociais e históricas de uma cidade.

1.4

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a elaboração desta pesquisa, estrutura-se em seis partes. A primeira etapa trata sobre a revisão bibliográfica de autores, através de livros e artigos científicos, cuja suas produções sejam relacionadas ao tema de pesquisa, a fim de compreender os conceitos e termos pertinentes ao assunto do sentimento de memória e de intervenções em edifícios históricos. A segunda etapa da metodologia abrange a análise de estudos de casos relativos ao tema que contribuam para o desenvolvimento deste projeto. O primeiro trata sobre um projeto baseado em um forte conceito de memória e o segundo consiste em um projeto de requalificação de um centro cultural, proposta semelhante à desta pesquisa. A pesquisa extrai informações de localização, implantação, programas, funcionalidades, conceito, partido e decisões projetuais advindos de sites que descrevem sobre ambos. A terceira e quarta etapa da metodologia envolvem pesquisa e a realização de entrevistas e visitas técnicas para a obtenção de informação acerca da cidade de Anchieta e do Colégio Maria Mattos. Abrange uma revisão no conteúdo existente sobre a cidade e o colégio e ainda entrevistas com moradores da cidade, ex-alunos e ex-professores do colégio. Além da realização de enquetes na rede social Instagram com perguntas sobre o Colégio Maria Mattos, resultando em várias respostas de ex-alunos que contribuíram para o desenvolvimento deste projeto.

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A quinta etapa consiste no diagnóstico da área de estudo que busca analisar os condicionantes que poderão impactar nas decisões projetuais. Nessa parte é realizada uma análise do entorno considerando os fatores físicos pertinentes ao projeto e uma análise do próprio edifício evidenciando sua atual condição. Para finalizar, a última etapa compreende a proposta projetual baseada nos estudos realizados até aqui. Evidenciando as vulnerabilidades e os potenciais do edifício e seguindo com as diretrizes projetuais. Nesta fase o trabalho apresenta o projeto desde o conceito até imagens tridimensionais que elucidam a proposta conceitual do Centro Cultural.

1.5

ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS

O presente trabalho se desenvolve em 7 capítulos. Começando pelo capítulo 1 que apresenta a introdução da pesquisa, com a contextualização do tema, objetivos, justificativa, metodologia e organização dos capítulos. O capítulo 2 trata da contextualização teórica deste trabalho que compreende o estudo de conceitos através de revisão bibliográfica e definição de termos. O capítulo 3 apresenta o estudo de caso, o qual servirá de base para o desenvolvimento deste projeto, assim como na definição do conceito e do programa. Procurou-se analisar um projeto que tinha como base o apelo da memória e um forte conceito e outro que se assemelha com a proposta deste trabalho. O capítulo 4 é determinante para o entendimento acerca do tema principal desta pesquisa, envolve a história do município de Anchieta/ES e da importância que o Colégio Maria Mattos representa. A primeira parte do capítulo apresenta sobre a localização, o contexto histórico e aspectos turísticos, de lazer e de entretenimento da cidade de Anchieta. Já a segunda parte envolve o histórico do Colégio Maria Mattos e reúne relatos e imagens de ex-alunos e ex-professores. LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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O capítulo 5 compreende o diagnóstico da área de estudo que analisa os condicionantes físicos do terreno, seu entorno e o próprio edifício, apresentando a condição atual do edifício. O capítulo 6 que apresenta a proposta projetual do Centro Cultural com as diretrizes projetuais, conceito e partido, programa de necessidades e o estudo preliminar baseado em todo o conteúdo que foi disposto na pesquisa. Por fim, o capítulo 7 compreende nas considerações finais que consiste em uma breve conclusão da pesquisa.

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2 LUGAR E MEMÓRIA: CONCEITOS RELACIONADOS 2.1

LUGAR E MEMÓRIA

Segundo o dicionário de língua portuguesa Michaelis, o termo memória refere-se ao ato de lembrar e conservar ideias, momentos, imagens, conhecimentos e experiências adquiridas no passado. Trata-se da capacidade de recuperar e armazenar informações e fatos vivenciados através de alguma experiência passada. O cérebro transforma os momentos vividos no presente em recordações para o futuro. Também se compreende por memória as lembranças, as recordações, as relembranças, as impressões e reminiscências. Para Nora (1993), a memória está em constante evolução, aberta a mudanças, lembranças, esquecimentos e cercada por grupos vivos. A memória transcende o afeto e, ao contrário da história, não se atem apenas na continuidade dos fatos. Aristóteles (1986 apud ALMEIDA, 2015), ao distinguir memória e recordação, esclarece que a memória desperta a imaginação e percepções de um tempo vivido, considera uma experiência. Já a recordação é um estado especial da consciência, a evocação do que está guardado na memória. [...] a memória pertence àquela parte da alma à qual a imaginação também pertence [...]. porque é óbvio que se deve considerar o afeto que é produzido na alma pela sensação, e naquela parte do corpo que contém a alma (o afeto, o estado duradouro o qual chamamos memória) como um tipo de figura/retrato; [...]. falta ainda falar da recordação [...] ela não é nem a recuperação nem a aquisição da memória; porque quando se aprende ou recebe uma impressão sensória, não se recupera qualquer memória (porque nenhuma aconteceu antes), nem se adquire pela primeira vez; é somente quando o estado ou afeto foi induzido que existe memória. (ARISTÓTELES, 1986, p.293, apud ALMEIDA, 2015 p. 73).

De fato, como recorda o trecho acima, o afeto adquirido através de uma experiência produz nos seres humanos a memória desta. Ao deparar com imagens, objetos, lugares ou pessoas que despertam essa sensação é possível recordar e exaltar a memória que foi transformada nesse sentimento.

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Qualquer espaço ocupado por relações humanas passa a ser um lugar dotado de significados particulares, seja afetivo como numa escola primária, ou trágico como num cemitério. Os “lugares de memória” citado pelo autor Pierre Nora (1993) são aqueles que independente das condições do ambiente e da classificação em que ele se encaixam, evocam e transcendem significados afetivos, qualificando-os como um lugar de memória. O Gráfico 1 a seguir apresenta os 3 exemplos de lugares de memórias citados por Nora (1993). O primeiro é o puramente material, como um depósito de arquivos, o segundo é o funcional, como um testamento e o último o simbólico, como um minuto de silêncio. Para alguns esses lugares podem ser apenas lugares, mas para outros a experiência passada envolve afeto e a transforma em um lugar de memória. Gráfico 1 - LUGARES DE MEMÓRIA

Fonte: NORA, 1993 – adaptado pela autora

Simônides de Céos, o poeta e pintor grego no século V a.C., relaciona a arte da pintura com a arte da memória e estabelece um conjunto de técnicas para a memorização: A LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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recordação mnemônica que requer a lembrança e a criação de imagens na memória, bem como a organização das imagens em locais, ou lugares da memória. É preciso ver locais, ver imagens (SMOLKA, 2000). Os lugares de memória fundamentado por Nora (1993) são aqueles que possuem significados genuínos - vinculados a um tempo passado, mas vivo dentro de quem lembra - e que também resgatam sensações e reforçam as identidades do lugar. A memória enraíza-se no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto (NORA, 1993). Para Gastal (2002), os lugares se tornam únicos pelo afeto manifestado por ele, é através desse sentimento que o torna digno de memorizá-lo. As diferentes memórias estão presentes no tecido urbano, transformando espaços em lugares únicos e com forte apelo afetivo para quem neles vive ou para quem os visita. Lugares que não apenas tem memória, mas que para grupos significativos da sociedade, transformam-se em verdadeiros lugares de memória. (GASTAL, 2002, p.77)

Halbwachs (2013) foi um sociólogo francês que evidenciou o fator social nos estudos sobre memória e criou a categoria memória coletiva. Seu conceito baseia-se na memória advinda de uma experiência coletiva, mediante um convívio social em que a lembrança individual acontece a partir da interação do indivíduo com outras pessoas. Desse modo, a construção da memória de uma pessoa é resultado da contribuição de outros indivíduos de diferentes grupos inseridos no mesmo contexto, assim os dois tipos de memórias estão presentes, a coletiva e a individual. “Cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva” (HALBWACHS, 2013, p. 248). Como foi dito, a memória exerce contribuição sobre vários contextos sociais e está fortemente atrelada ao da identidade. Para Pollak (1992), a memória, individual ou coletiva, é parte constituinte do sentimento de identidade, ele reconhece a relação mútua que uma tem com a outra. A identidade cultural e a memória social se relacionam a partir do momento em que a identidade de um patrimônio gera significados e com o tempo a criação de memória se atrela a um estado de pertencimento.

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A recuperação de relatos, práticas e momentos afetivos é um gatilho para a ativação do sentimento de pertença presente na cabeça de quem lembra. Entre o passado e o presente há um abismo chamado tempo e a criação arquitetônica deve conectar o novo e o antigo com base no respeito e sensibilidade com as marcas da história (ALMEIDA, 2016). A memória é capaz de levar a lugares inimagináveis, e diante de algo que faz recordar, através dela é possível despertar as sensações de momentos únicos vividos no passado. Como diz a música e poesia do Victor Espadinha: Recordar é viver! A proposta para esse trabalho de conclusão de curso é reunir os momentos afetivos que foram vividos no edifício do Colégio Maria Mattos e materializar as características simbólicas que permitem que esses momentos sejam resgatados no coração de quem viveu por lá.

2.2

INTERVENÇÃO EM EDIFÍCIO HISTÓRICO

Com o passar do tempo, o interesse em preservar edifício históricos e patrimônios culturais cresceu em vários campos disciplinares, seja para legitimar e democratizar a cultura como para eternizar e enaltecer momentos vividos nesses monumentos. Para Feilden (1982 apud LERSCH, 2003), um edifício histórico é um testemunho vivo de valores seja arquitetônico, cultural, estético, histórico, documental, econômico, espiritual ou simbólico. O artigo 216 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) define o patrimônio cultural de forma abrangente, respeitando a memória e a identidade dos grupos envolvidos.

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988, p. 126)

Por mais desenvolvidos que os estudos estejam as cartas patrimoniais são documentos vivos quando se trata de preservação e ainda são utilizadas nas intervenções de caráter patrimonial e histórico. Datada em maio de 1964, no “II Congresso Internacional de Arquitetos e de Técnicos de Monumentos Históricos” e adotada por várias entidades de muitos países - tais como o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios a (ICOMOS) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) - , a Carta de Veneza, também conhecida como Carta Internacional para Conservação e Restauro de Monumentos é o documento principal que reconhece a importância da preservação dos monumentos como tesouro nacional e estabelece diretrizes acerca da conservação e do restauro de bens culturais, históricos, arqueológicos e artísticos. Portanto, cabe também nas discussões deste trabalho analisar o que esse documento direciona sobre as intervenções em edifícios históricos. A Carta de Veneza define “monumento histórico” como criação arquitetônica isolada, bem como “sítio urbano” ou “sítio rural” aquele que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. O artigo 2º da Carta de Veneza defende que ao conservar e restaurar qualquer monumento é necessário o amparo e a colaboração de todas as ciências e técnicas que possam contribuir de forma genuína para a proteção do patrimônio. A Carta de Veneza (1964) salienta sobre a relevância da conservação dos edifícios e o quanto esse processo está ligado na consolidação da identidade histórica do monumento. Dando prosseguimento, ao abordar o tema restauração os artigos da carta ressalvam que este é um procedimento de caráter excepcional e tem como finalidade conservar e relevar os aspectos estéticos e históricos respeitando de forma genuína sua essência e sua estrutura original.

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Nessa operação, o embasamento prático e teórico por profissionais especialistas são de extrema importância visto que só é tolerado o uso de técnicas e materiais novos (ou diferentes do original) quando testado e comprovado. Ao reconhecer a possibilidade de eliminar partes irrelevantes do monumento, a Carta é bastante criteriosa. Esse ato é considerado excepcional, visto que o ideal é conservar, porém só é tolerado quando o que se elimina é de pouco interesse e o que se releva possui grande valor histórico, estético e arqueológico. O artigo 12º da Carta destaca que o que for acrescentado ao monumento deve harmonizar com o conjunto, porém deve ser notório a distinção da parte original com a parte acrescida, para não haver falso histórico e equívoco quanto a memória do monumento (CARTA DE VENEZA, 1964). O autor Cesare Brandi é um dos principais teóricos acerca da restauração e suas contribuições baseadas no pensamento crítico influenciaram na consolidação do tema em campo disciplinar. Sua obra baseada na Carta de Atenas, chamada Teoria da Restauração, foi recentemente traduzida para a língua portuguesa por Beatriz Mugayar Kühl que contribuiu para a reflexão do tema relativo as práticas de restauro e para os estudos que envolvem a preservação no Brasil. Segundo Brandi (2004, p. 1) “entendese por restauração qualquer intervenção voltada a dar novamente eficiência a um produto da atividade humana”, ou seja, o termo restauração compreende-se por qualquer intervenção que objetiva restabelecer o funcionamento do produto, considerado por ele uma obra de arte, e que sua essência deve ser exclusivamente ligada a esse fim. O autor também se preocupa com a ausência de autenticidade das intervenções e salienta que essas não podem cometer falso histórico e apagar os traços do tempo na obra de arte (BRANDI, 2004). Outro teórico renomado do campo da preservação é o arquiteto italiano Giovanni Carbonara, um expoente de Cesare Brandi quando o assunto é restauração. Em seu livro “Architettura d’Oggi e Restauro, Un confronto antico-nuovo” transita não só pela área específica do restauro, mas também pela inserção da arquitetura contemporânea em monumentos pré-existentes e procura compreender o diálogo entre o novo e o antigo. Carbonara (2011, apud ALMEIDA, 2017) acredita que entre a criatividade e o ato da intervenção do projeto de restauro, existe uma linha tênue chamada sensibilidade, na qual o arquiteto deve compreender a vocação do monumento e considerar a história LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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vivida ali. O autor destaca que o próprio monumento é que evoca as diretrizes para o encontro com o novo e que o arquiteto tem o papel de interpretar a obra e restaurá-lo a fim de manter um bom êxito no final. Carbonara reconhece que a restauração é uma intervenção realizada em edifício histórico com o intuito de conservá-lo para próximas gerações, mantendo sua integridade. (CARBONARA, 2011, apud ALMEIDA, 2017). Ao longo do tempo, várias terminologias foram empregadas para classificar as intervenções realizadas em contextos urbanos e em edifícios históricos. A partir do momento que as cidades passaram a propor ações em áreas preexistentes constituídas de valores históricos e culturais foram surgindo termos para classificar o nível da intervenção, tais conceitos eram baseados em práticas precedentes de demolição, expansão e/ou mudança de uso. Considerando que cada país utiliza tais termos de maneira particular, conforme o contexto e criando significados de acordo com a tipologia do projeto, existe uma busca para a generalização dessas denominações, a fim de classificar de forma única as intervenções em edifícios históricos. Apesar da discursão e do empenho de especialistas em eventos sobre o assunto, a reprodução de vários documentos similares que serviriam para orientar as ações, somente dificultou a definição desses termos (VARGAS, CASTILHOS, 2009).

2.3

TERMINOLOGIAS

Na busca por compreender as terminologias que iniciam com o prefixo “re”, utilizadas para mencionar intervenções realizadas em áreas urbanas ou edifícios históricos, a Carta de Lisboa foi usada como referência científica. Renovação, Reabilitação e Requalificação são algumas das várias expressões utilizadas. Para a Carta de Lisboa (1995), a renovação refere-se a obra que envolve demolição e atribui nova estrutura para a área, reabilitação como obras que objetivam a recuperação e beneficiação, resolvendo questões funcionais e técnicas e a requalificação trata de intervenções que oferecem atividades adaptadas a esse local no contexto atual. Apesar do cunho científico da carta, os conceitos explícitos dão margem a outras interpretações e direcionam seus termos para o espaço urbano.

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Portanto, na tentativa de encontrar um termo que melhor condiz com a proposta deste trabalho surge uma dúvida entre os termos reabilitação e requalificação, por isso foi necessário consultar outras fontes para entender melhor as terminologias e encontrar aquela mais coerente com a proposta a ser desenvolvida neste Trabalho de Conclusão de Curso. No livro “Intervenções nos centros urbanos”, Vargas e Castilho (2009), citam o termo requalificação direcionando as ações que propiciam novas atividades econômicas e que dão vida a áreas decadentes da cidade, fortalecendo sua identidade e suas características. Nesta mesma linha, Moura (2005) acrescenta que a requalificação está ligada a mudança do valor da área, ao âmbito econômico, cultural, paisagístico e social. Possui também caráter transformador e está voltada a estabelecer novos padrões de organização e ocupação, visando o desempenho econômico. Tanscheit (2017) enfatiza que requalificação se refere a dar nova função afim de promover a melhora no edifício, ao contrário da reabilitação que trata de restaurar o edifício, mas sem mudança de uso original. Para o professor e mestre Luiz Marcello Goves Ribeiro, especialista em patrimônio e cultura, a reabilitação valoriza atividades e modos pré-existentes, sem mudança no uso ou nos comportamentos, já a requalificação envolve mudanças mais completas, como novo uso e interferência na integração de novos usuários e atividades. Diante de tudo que foi elucidado até aqui e do objetivo deste trabalho, o termo que melhorar se enquadra com a intervenção do edifício Maria Mattos, proposta para este trabalho é o de REQUALIFICAÇÃO. Com base nos autores citados, tal conceito considera sobretudo a intervenção que visa a melhoria da estrutura pré-existente, com o intuito de revelar seu valor histórico, cultural e social, fortalecendo sua identidade e focando no crescimento econômico. Abrange a mudança do uso original da construção e interfere na integração dos usuários e das atividades. Não se restringe apenas ao funcionamento em termos técnicos e funcionais, mas sim na transformação do edifício em um complexo que abriga e revela a memória e a identidade com ações e atividades lucrativas. LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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Portanto, por se tratar de uma intervenção em um edifício pré-existente repleto de histórias e fruto de lembranças inestimáveis e tendo em vista que este trabalho possui cunho mobilizador e almeja ganhos econômicos, sociais e culturais, o termo que melhor se enquadra é, de fato, o de requalificação.

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3 REFERÊNCIAS PROJETUAIS O presente capítulo busca analisar projetos referenciais que auxiliarão no desenvolvimento do trabalho. Com temas pertinentes ao resgate da memória, os projetos de edifícios históricos e centros culturais analisados buscam compreender as particularidades da concepção de cada proposta. Os estudos de caso selecionados foram o “Memorial Brumadinho” que possui um forte conceito atrelado a memória e a “Casa Daros” que se refere a um projeto de requalificação para um centro cultural que possui a arquitetura semelhante a do Colégio Maria Mattos. Na sequência, serão apresentadas observações sobre os edifícios, no que tange a relação com o entorno, conceito, partido, programa e demais funcionalidades de modo a auxiliar nas decisões de projeto.

3.1

MEMORIAL BRUMADINHO: O CONCEITO ATRELADO A MEMÓRIA

Em face a tragédia acontecida no dia 25 de janeiro de 2019, com o rompimento da barragem de rejeitos de minério da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) que provocou a morte de 272 pessoas, o projeto do Memorial Brumadinho do escritório GPA&A, fundado pelo arquiteto Gustavo Penna, propõe uma experiência sensível a esse momento tão doloroso, evocando uma reflexão sobre a memória e a dor que o desastre causou na comunidade e no Brasil. A escolha desse estudo de caso justifica-se em razão do modo em que o projeto é materializado, retratando um momento da história que marcou a vida de muitas pessoas e recorda de forma sensível o acidente. A partir da análise desse projeto de referência, objetiva-se extrair diretrizes projetuais que sirvam de referência para o projeto de requalificação do Colégio Maria Mattos.

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3.1.1 Relação com o entorno: Localização e Implantação O memorial está localizado na cidade de Brumadinho, Minas Gerais, próximo ao Córrego do Feijão. O terreno foi escolhido pela Avabrum, com visual para a área atingida pelo desastre. O terreno foi adquirido pela Vale, engloba uma área de 5 hectares, sendo que o edifício ocupará 1.220m² de área construída (ARCHDAILY BRASIL, 2020) que também será custeado pela empresa. Conforme ilustrado na Figura 1, o edifício é inserido em local estratégico voltado para o visual da área atingida. No meio do arvoredo original serão plantados mais 272 ipês amarelos, árvore símbolo do Brasil, para representar cada uma das vítimas da tragédia. Figura 1 - VISTA ÁREA DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

A implantação do projeto foi feita a partir de uma estrada próxima ao bloco principal conectando um percurso de 230 metros até um lago onde estará localizado um mirante LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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com vista para o lugar da tragédia. A Figura 1 acima evidencia a volumetria retorcida do pavilhão de entrada que revela o conceito arquitetônico, este descrito no item 3.1.3 deste trabalho. A implantação, ilustrada na Figura 2, corresponde a uma planta de cobertura que mostra os acessos, estacionamento, parte de serviços e áreas externas. A direita tem o estacionamento de acesso que direciona a caminhos fragmentados até as entradas do memorial, assinaladas com seta na Figura 2. A parte de trás conta com áreas livres que dão apoio e um respiro para as pessoas que estão nos espaços internos. Figura 2 - IMPLANTAÇÃO DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020 - adaptado pela autora.

3.1.2 Programas e Funcionalidades O programa de necessidades do Memorial foi pensado a fim de receber os visitantes para um tour que transmita emoção e mistério. Os ambientes acontecem na medida em que as paredes angulam, com recuos e avanços, que reforçam o mistério.

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A setorização interna do pavilhão (Figura 3) respeita as paredes desalinhadas e anguladas onde os ambientes vão surgindo de maneira despretensiosa. O foyer no núcleo do edifício serve para conectar os ambientes presentes no programa de necessidades. Á esquerda está o espaço meditativo que é uma sala ampla com pé direito variado, com área livre coberta e descoberta, resguardada pelas alturas da diferença da topografia. Ao lado nordeste, encontra-se o setor de serviços juntamente com uma cafeteria que também se abre para o jardim. A partir dessas áreas externas o visitante é conduzido ao percurso de 230 metros. Figura 3 - PLANTA BAIXA DO PAVILHÃO DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020 - adaptado pela autora.

O percurso (Figura 4) corta o terreno em direção a área do rompimento da barragem e o visitante percorre pelo caminho que é plano, porém enterrado cerca de 3 metros abaixo da terra (Figura 5). A forma do percurso lembra uma trincheira e estimula a introspecção, devido suas paredes altas, circulação estreita e uma única paisagem presente, o enquadramento final. No meio do caminho, o visitante se deparada com um monumento, mas antes há uma entrada para um ambiente no subsolo referente ao Espaço Memória que foi projetado para um descanso e para ser mais um elemento reflexivo.

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Figura 4 - IMPLANTAÇÃO DO TRECHO DO PERCURSO DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020 - adaptado pela autora.

O corte da Figura 5, ilustra o monumento, o percurso e o Espaço Memória enterrado. Este espaço convida para uma reflexão sobre as vítimas, suas paredes desalinhadas, seu teto angulado e o próprio piso completa a experiência de comover os visitantes. Projeções de imagens, mensagens e até cartas das famílias configura o ambiente imersivo. A partir daí, o percurso continua, mas agora com duas faixas de água no chão que escorrem do monumento, criando o conceito, e deságua no lago.

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Figura 5 - CORTE DO ESPAÇO MEMÓRIA

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

Após o percurso de 230 metros, a água desemboca no lago e o horizonte se abre para o vale, com a paisagem da área atingida. O fim do caminho oferece um espaço contemplativo, com um mirante e um lago que pode ser acessado, criando um ambiente para convivência, meditação e ar puro (Figura 6).

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Figura 6 - IMAGEM DO MIRANTE DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

3.1.3 Conceito, Partido e Decisões Projetuais O conceito foi o ponto chave do projeto do Memorial Brumadinho e esse foi o grande motivo de analisá-lo neste trabalho. Todo o projeto foi pensado e projetado para proporcionar uma reflexão direta e profunda em cada visitante. Seus elementos, paredes, tetos, caminhos e até o paisagismo direciona a introspecção e a solidariedade as pessoas que sofreram com o desastre. Além disso, o projeto desfruta de elementos que despertam os sentidos relacionados a percepção do meio externo e interno. A volumetria do pavilhão de entrada, retorcida e fragmentada, representa os sonhos que foram despedaçados e levados com a força avassaladora da lama. No interior do pavilhão há poucas frestas de luz (Figura 7), tornando o ambiente escuro como a onda de lama atingindo o edifício e apagando sol. O alto contraste de claro/escuro retrata o dia que não

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amanheceu, mas a esperança que sempre esteve presente, a luz no fim do túnel. (MEMORIAL BRUMADINHO, 2019). Figura 7 - IMAGEM DO INTERIOR DO PAVILHÃO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

As aberturas no teto representam a luz que faltou para as vítimas soterradas. Uma dessas frestas de luz reflete em uma drusa de cristais a cada dia 25 de janeiro de 2019, no horário exato de 12:28 horas. Suas paredes são em concreto aparente misturado à terra vermelha e incorporadas por peças metálicas retiradas dos escombros da tragédia, tornando testemunhas vivas, que agora foram ressignificadas em homenagem. Após a visita ao pavilhão, o visitante é direcionado a uma circulação enterrada, estreita e descoberta, que corta a floresta, em direção a área do rompimento da barragem. O traçado do percurso simboliza, segundo o arquiteto, uma linha no tempo e no espaço com o ponto final na fratura, servindo como testemunha de um acontecimento inesquecível na história. No percurso corresponde a Figura 8, nas inflexões das paredes os registros dos nomes das vítimas estimulam ao visitante uma profunda reflexão. LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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Figura 8 - IMAGEM DO PERCURSO DO PROJETO DO MEMORIAL BRUMADINHO

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

Desde o início do trajeto, o visitante avista uma grande escultura suspensa sobre as paredes, mas antes de chegar até ela se depara com uma parede inclinada convidando a adentrar ao Espaço Memória, como apresentada na Figura 9. Enterrado e repleto de heranças que levam, mais uma vez, a reflexão e a introspecção de quem entra.

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Figura 9 - IMAGEM DO ESPAÇO MEMÓRIA

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

Após sair desse espaço, o visitante passa por baixo da escultura, evidenciada na Figura 10. Um grande bloco em concreto, onde cai um véu de água sobre suas paredes, que representam as lágrimas, o pranto, o gesto mais humanitário e sensível existente quando alguém se depara com o sentimento da perda. Essa cascata d’água escorre pelas laterais e são conduzidas pelo restante do percurso até o mirante, onde desaguam no lago. E é ali, no cair da água e banhada pela imensidão da área atingida que a experiência finaliza (MEMORIAL BRUMADINHO, 2019).

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Figura 10 - ESCULTURA

Fonte: ArchDaily Brasil, 2020.

3.2

CASA DAROS: UM PROJETO DE REQUALIFICAÇÃO

A Casa Daros é um edifício neoclássico fundado em 1866 onde funcionava o Educandário Santa Tereza, projeto do Arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva. O prédio é de interesse histórico e passou por um processo de requalificação em 2007, pela equipe de arquitetos Ernani Freire Arquitetos Associados, adequando seu uso para um centro cultural para abrigar a Coleção Daros Latina Americana, considerada uma das coleções de artes contemporâneas da América Latina mais abrangentes na Europa. Tombado pelo Rio de Janeiro, em 1987, sua obra foi vistoriada por vários órgãos municipais. O grande desafio do projeto era reconhecer o potencial da arquitetura preexistente e trazer elementos contemporâneos que proporcionem o equilíbrio do passado com o presente (ARCHDAILY BRASIL, 2015).

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A Casa Daros foi escolhida como estudo de caso deste Trabalho de Conclusão de Curso por se tratar de um projeto de requalificação de um edifício histórico que antes de ser transformado em centro cultural era um edifício institucional onde funcionava uma escola. Trata-se de um referencial projetual semelhante ao que é almejado para este trabalho e por isso a importância de analisá-lo a fim de extrair informações pertinentes ao desenvolvimento da proposta projetual.

3.2.1 Relação com o entorno: Localização e Implantação O edifício onde está instalada a Casa Daros fica localizado em um terreno que possui cerca de 12 mil metros quadrados em Botafogo, no Rio de Janeiro. Como mostra na Figura 11, o terreno comporta um jardim de palmeiras imperiais e um pátio interno que foi transformado em uma grande praça a céu aberto. Seu entorno é rico em vegetação e possui usos comerciais e espaços livres de uso público, reforçando a vocação do lugar para atividades atrativas ao lazer. Figura 11 - MONTAGEM COM A LOCALIZAÇÃO DA CASA DAROS

Fonte: Google Earth, 2015 e Ame Arquitetura, 2014 - adaptado pela autora.

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A planta de situação evidenciada na Figura 12, mostra que o edifício se localiza na esquina de duas ruas movimentadas que são a Rua General Severiano e Avenida Lauro Sodré. O projeto possui uma preocupação com a localização dos acessos, sendo o de serviços na lateral do prédio, o do público na parte central e o de carga e descarga, na parte posterior do edifício. Sua forma surge contornando o pátio interno. Figura 12 - PLANTA DE SITUAÇÃO DA CASA DAROS.

Fonte: ArchDaily, 2015 - adaptado pela autora.

3.2.2 Programas e Funcionalidades O prédio possui 4 pavimentos, contando com o térreo e acontece apenas na lateral direita do edifício. A Figura 13 mostra que o centro cultural dispõe de usos com acessos restritos ao público, como administração e área de serviços. A circulação vertical é realizada através de 6 escadas e 2 elevadores.

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Figura 13 - PLANTA BAIXA DO TÉRREO E DO 1º PAVIMENTO DA CASA DAROS

Fonte: ArchDaily, 2015 diagramada pela autora, 2021.

Logo na entrada do centro cultural existe uma recepção para direcionar os visitantes ao andar de cima. O térreo conta com um auditório e uma sala multiuso que são usados em eventos, exibição de filmes e debates, um grande setor de serviços, uma loja bem equipada dedicada a livros de arte, acessórios, posters e um famoso restaurante que sua excelência transcende os cafés oferecidos em muitos centros de cultura da cidade (AME ARQUITETURA, 2014). Ao chegar no primeiro pavimento, o visitante passa pela recepção e é direcionado as salas de exposição que abriga o acervo de mais de 1.100 obras da coleção Daros Latino Americana. Nessa mesmo andar também tem uma sala dedicada a arte e educação. No segundo pavimento (Figura 14) encontra-se a administração, sendo um espaço restritivo para os visitantes e, no último pavimento, a biblioteca que é aberta ao público que visita o centro cultural.

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Figura 14 - PLANTA BAIXA DO 2º E 3º PAVIMENTO DA CASA DAROS.

Fonte: ArchDaily, 2015 diagramada pela autora, 2021.

3.2.3 Conceito, Partido e Decisões Projetuais O prédio que funcionou a Casa Daros é um exemplar do estilo neoclássico carioca dos anos de 1870 e o grande desafio desse projeto foi justamente atribuir ao edifício histórico elementos que o adaptasse ao novo uso, mas que ao mesmo tempo respeitasse sua estrutura original. O arquiteto decidiu utilizar elementos contemporâneos necessários para a adaptação do uso de centro cultural e se preocupou em recuperar a integridade da estrutura original do prédio que é emblemática da tipologia dessa construção. Conforme analisado no capítulo 2 deste trabalho, o teórico Giovani Carbonara defende que a relação entre o novo e o antigo deve ser feita de forma cautelosa e sensível ao olhar do arquiteto e que esse diálogo entre arquitetura preexistente e o estilo contemporâneo deve ser considerar a vocação do monumento e a história incorporada nele. Como é evidenciado na Figura 15, o projeto de intervenção da Casa da Daros se preocupou em decidir de forma minuciosa os elementos a serem incorporados à arquitetura de maneira a evidenciar a diferença do novo e do antigo, com a intenção de não cometer falso histórico. Por se tratar de um edifício antigo haviam muitas adaptações LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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tecnológicas e funcionais para viabilizar o funcionamento do centro cultural e todo estudo foi feito com a finalidade de estabelecer soluções que fossem adequadas para a tipologia do edifício. Figura 15 - INTERIOR DA CASA DAROS

Fonte: ArchDaily, 2015.

O conceito incorporado ao projeto de intervenção valorizou a arquitetura local e considerou a história e a estrutura original do edifício em todas as fases, da criação a concepção, fortalecendo a memória e restaurando a construção para eternizar sua identidade. Para materializar o conceito, o arquiteto propôs elementos contemporâneos com traços minimalistas e monolíticos com a intenção de minimizar a interferência e direcionar os olhares para a arquitetura preexistente. Foi necessário adicionar alguns elementos para adaptar o edifício ao seu novo uso e a novas tecnologias, como bancos, bancadas, escadas, luminárias, mesas, mas as soluções tomadas foram pensadas para interferir o mínimo na estrutura do prédio.

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A luminária da Figura 16, por exemplo, apresenta a preocupação do projeto por optar por elementos contemporâneos e minimalistas que ao olhar seja possível diferenciá-lo da estrutura histórica e ao mesmo tempo ele se “perde” ao observar a riqueza do edifício. Figura 16 - INTERIOR DA CASA DAROS

Fonte: ArchDaily, 2015.

A intervenção realizada na Casa Daros representou um símbolo de reforço e evidência ao patrimônio histórico do Rio de Janeiro. Um edifício do século XIX impregnado de memória e integralmente restaurado com exposição de uma coleção de arte contemporânea, pronto para receber pessoas do mundo inteiro, movimentando a economia, valorizando a memória e enfatizando a importância da cultura.

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Figura 17 - PÁTIO INTERNO DA CASA DAROS

Fonte: ArchDaily, 2015.

3.3

CONTRIBUIÇÕES PROJETUAIS

As análises presentes no Capítulo 3 dos projetos do “Memorial Brumadinho” e da “Casa Daros” contribuíram para o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso. O primeiro estudo de caso, destaca-se a forma com que o arquiteto reforçou o conceito através da arquitetura, e o segundo no modo em que o projeto consegue manter a integridade do edifício antigo e evidenciar sua estrutura, tomando decisões que impactassem ao mínimo o projeto original. A partir da análise do projeto do Memorial Brumadinho foi possível extrair informações importantes para aplicar no projeto final do Trabalho de Conclusão de Curso. A forma com que o arquiteto soube representar e materializar a dor e o sentimento causado pelo desastre foi admirável. A memória foi de fato materializada no projeto e os espaços proporcionam um sentimento de solidariedade, identidade e reflexão. Além das

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mensagens, fotos, nomes que recordavam diretamente as vítimas, o próprio projeto possui elementos que despertam a memória e é possível observar como os materiais usados propõe uma atmosfera nostálgica e estimulam os sentidos, como as peças metálicas retiradas dos escombros da tragédia, a forma do edifício, o paisagismo e outros aspectos intrínsecos da estrutura. De fato, a proposta do arquiteto Gustavo Penna para o Memorial Brumadinho pode contribuir para o desenvolvimento do projeto de requalificação do Colégio Maria Mattos, principalmente na maneira em que o conceito foi aplicado, extraindo ao máximo das informações existentes e incorporando-as na estrutura do projeto, transformando-o em um espaço imersivo e rico de experiências sensoriais. Como dito anteriormente, este trabalho busca empregar e ressaltar um conceito que seja capaz de despertar a memória dos tempos vividos no Colégio e por isso analisar o projeto do “Memorial Brumadinho” foi tão importante para a evolução do trabalho. O projeto da “Casa Daros” aproxima-se da proposta de intervenção do Colégio Maria Mattos. Assim como o edifício da “Casa Daros”, o Maria Mattos também acontece entorno de um pátio interno onde todas as suas janelas são voltadas para esse espaço. Evidencia-se no projeto da “Casa Daros”, a importância de manter a integridade e a originalidade do edifício histórico e a cautela que deve ser tomada de decisão ao escolher os elementos que irão compor essa arquitetura para nunca desviar o olhar e se confundir com o original. A “Casa Daros” é um exemplo vivo de um edifício histórico onde funcionava uma escola e que sofreu uma obra de requalificação transformando o seu uso para um centro cultural, a mesma ideia que esse Trabalho de Conclusão de Curso deseja propor para o edifício do Colégio Maria Mattos Com a finalidade de sintetizar as informações encontradas nas análises dos estudos de caso do Memorial Brumadinho e da Casa Daros e que porventura poderão ser utilizadas

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como inspirações no projeto de requalificação do Colégio Maria Mattos foi gerada uma tabela síntese com as principais diretrizes projetuais de aspectos analisado no capítulo. Tabela 1 - SÍNTESE DAS ANÁLISES DOS ESTUDOS DE CASOS TABELA SÍNTESE COM DIRETRIZES DOS ESTUDOS DE CASOS

LOCALIZAÇÃO E IMPLANTAÇÃO

FUNCIONALIDADE E PROGRAMA

CONCEITO E PARTIDO

Memorial Brumadinho

Casa Daros

Objeto principal do projeto. A implantação e localização do projeto reforçam o conceito e exprimem emoção ao visitante.

O projeto exaltou e respeitou a beleza e a história do edifício antigo que foi implantado o Centro Cultural.

A própria arquitetura guia o visitante e direciona dentro do Memorial. A presença de áreas livres e da cafeteria são relevantes ao projeto para dar um respiro a quem visita. Além da volumetria que retoma o conceito, as mensagens e os nomes das vítimas são elementos que resgatam a memória. O uso dos metais retirados da tragédia, do percurso, dos 272 ipês, da água cair no rio, entre outros são elementos que reforçam o conceito.

Pensar em espaços para eventos temporários abertos ao público é uma ótima ideia. A presença de um bom restaurante, loja e de áreas livres tornam o espaço mais atrativo. Para adaptar o edifício ao novo uso o arquiteto tirou partido de elementos contemporâneos e minimalistas que minimizassem a interferência no prédio e direcionassem os olhares para a arquitetura preexistente.

Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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4 O LUGAR DE MEMÓRIA: CONTEXTUALIZAÇÃO O corrente capítulo apresenta o município de Anchieta onde se localiza o Colégio Maria Mattos, objeto de intervenção deste trabalho. O estudo visa discorrer sobre a história da cidade e do colégio, a fim de compreender suas características e particularidades que poderão ser usadas na fundamentação da proposta deste Trabalho de Conclusão de Curso.

4.1

A CIDADE DE ANCHIETA/ES

4.1.1 Localização Ao sul do Espírito Santo (Figura 18), na região Sudeste do país, a cidade de Anchieta localiza-se cerca de 82 quilômetros da capital Vitória. Segundo estimativa do IBGE para 2020, sua população é estimada em cerca de 29.779 pessoas, ocupando uma área territorial de 409,691km² (IBGE, 2020). O município situa-se junto à foz do rio Benevente e faz divisa com Guarapari, Alfredo Chaves, Piúma e Iconha. A cidade possui 60 bairros e é dividida em 3 distritos administrativos: Alto Pongal, Anchieta (sede) e Jabaquara. (PREFEITURA DE ANCHIETA, 2010).

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Figura 18 - LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ANCHIETA.

Fonte: WIKIPEDIA, 2021.

4.1.2 História A cidade de Anchieta originou-se de uma aldeia de índios catequizados por padres da ordem jesuítica, sendo fundada no dia 15 de agosto do século XVI. Seu primeiro nome foi Reritiba, que em tupi significa “lugar de muitas ostras”. Seu ano de fundação é proveniente de algumas divergências, sendo considerados entre 1561 e 1569 (ANCHIETA, 2017a). O Padre José de Anchieta nasceu em 19 de março de 1534, em Tenerife, nas ilhas Canárias, arquipélago presente no Oceano Atlântico, no litoral da África. Seu interesse religioso surgiu quando foi para Portugal ingressar na Companhia de Jesus. Logo após, o Padre veio para o Brasil para pregar a religião católica aos indígenas e se dedicou intensamente a essa missão convertendo os índios ao catolicismo e por isso recebeu o título de apóstolo do Brasil (NEVES, 1995). Em 15 de agosto de 1579, o Padre José de Anchieta celebrava sua primeira missa na LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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Igreja Matriz, onde está localizado o Santuário da cidade (GONÇALVES, 1996), e reconhecendo a proximidade com a cultura e a arte do lugar, passou a viver na cidade de Anchieta, morando ali até o último dia de sua vida. Há controvérsias sobre o verdadeiro fundador de Reritiba, porém, segundo a tradição, a aldeia teria sido fundada pelo Padre Anchieta (NEVES, 1995). O Padre era dramaturgo, poeta, gramático, linguista, historiador e disseminava ensinamentos cristãos por onde passava. Foi canonizado no ano de 2014. Em virtude do crescimento demográfico, a aldeia tornou-se vila em 1759 e passou a se chamar Benevente, dando referência ao rio Benevente que banha a cidade. Logo, surge uma lei provincial nº 6 de 12 de agosto de 1887 e a vila Benevente foi elevada a cidade, nomeada de Anchieta, designação ratificada pela Lei Estadual 1307 de 1921. Anchieta é considerada uma das cidades mais antigas do estado do Espírito Santo.

4.1.3 Cultura, turismo e lazer A cidade de Anchieta é conhecida por suas belas praias e paisagens significativas. A cidade possui aproximadamente 30km de extensão litorânea, composta por enseadas, balneários, falésias, cabos e manguezais que enriquecem sua paisagem, abrangendo além do rio Benevente, 23 praias. Essa riqueza natural é explorada principalmente no verão e é responsável por grande movimentação na economia da cidade (ANCHIETA, 2017b). A Figura 19 a seguir é um esquema com algumas das praias encontradas em Anchieta.

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Figura 19 - PRAIAS DE ANCHIETA/ES

Fonte: Anchieta, 2017 - diagramado pela autora.

Entretanto, seu potencial turístico não se resume apenas nas áreas litorâneas, mas por ser uma das cidades mais antigas do estado, é proveniente de uma vasta herança histórica e cultural, testemunhos vivos de sua memória. Retomando os primórdios de sua fundação, um momento histórico e marcante foi o início da construção da Igreja Nossa Senhora da Assunção, em 1567, onde foi por muito tempo a única moradia jesuítica do sul da capitania, local estratégico escolhido pelo padre, de onde era possível avistar as embarcações que atravessavam o mar e o rio, vista preservada até hoje. Construída pelo Padre Anchieta juntamente com os índios, o Santuário Nacional de São José de Anchieta (Figura 20) é um conjunto arquitetônico jesuítico do período colonial, tombado em 1943 pelo IPHAN, fruto do reconhecimento do patrimônio para a memória nacional, faz parte do roteiro turístico, religioso e cultural da cidade (SANTUÁRIO NACIONAL DE SÃO JOSÉ DE ANCHIETA, 2014). Além disso, em anexo a igreja se encontra o Museu Nacional de Anchieta que abriga muitos vestígios que compõem o patrimônio histórico e cultural da cidade, como peças arqueológicas, objetos religiosos, relíquias de São José de Anchieta, entre outros artigos históricos.

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Figura 20 - SANTUÁRIO NACIONAL DE SÃO JOSÉ DE ANCHIETA

Fonte: Santuário Nacional de São José De Anchieta, 2014.

Nas imediações do Colégio Maria Mattos, objeto de estudo do corrente trabalho, estão localizadas as principais edificações do município, como é apresentado na Figura 21 a seguir.

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Figura 21 - PRINCIPAIS EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS DA CIDADE

Fonte: Google Earth, 2021 - adaptado pela autora.

O Santuário Nacional de Anchieta já apresentado acima é a construção mais antiga da cidade e se localiza próximo ao Colégio Maria Mattos. No Hotel Anchieta, conhecido como Centro Cultural Anchieta, gerenciado pela prefeitura, funciona atualmente a Escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida. A escola, desde 2000, funcionava no prédio do Colégio Maria Mattos, porém há dois anos foi impedida de continuar seu funcionamento por falta de manutenção e por isso as atividades da referida escola foram transferidas para o Centro Cultural Anchieta. O Hotel Anchieta (Figura 22) foi o primeiro da região e quando foi fundado, por Dom Helvécio em 1940, recebia os pais das alunas que estudavam no Colégio Maria Mattos. O hotel atingiu seu auge nos anos 60 e 70 e se tornou reconhecido no Espírito Santo, recebendo muitas autoridades, como governadores e vice-presidentes. É localizado em frente a baía e possui vista para o Santuário Nacional que fica acima do Hotel. (ANCHIETA, 2017a)

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Figura 22 - CENTRO CULTURAL ANCHIETA

Fonte: ANCHIETA, 2017a.

Com o passar do tempo, o Hotel encerrou suas atividades e ficou em estado de abandono total. Em 2012, o edifício passou por uma obra de restauro e mudança de uso para um Centro Cultural. O prédio faz parte da memória histórica da cidade e foi reformado para abrigar eventos, cursos, apresentações, tornando um atrativo cultural para Anchieta, porém, com a demanda de um espaço para comportar a Escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida, foi adaptado para exercer essa nova função. A Agenda 21, plano estratégico elaborado pelo Município de Anchieta em 2006, evidencia algumas edificações representativas no âmbito histórico e artístico da cidade. A Figura 23 foi elaborada a fim de sintetizar e localizar tais edificações históricas do município.

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Figura 23 - EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS DA CIDADE DE ANCHIETA/ES

Fonte: Agenda 21, 2006, Google Earth, 2021 - diagramado pela autora.

Como apresentado, na Figura 22, o Colégio Maria Mattos, Santuário Nacional de Anchieta, Museu Nacional de Anchieta, Hotel Anchieta, Capela de Nossa Senhora da Penha, Poço do Coimbra, Casa da Cultura, Antigo Armazéns do Porto, Antigo Chuveirinho e o Antigo Quitiba Club são edifício históricos relevantes para a história da cidade de Anchieta. O Chuveirinho e o Quitiba Club eram clubes de dança que faziam parte do lazer dos moradores, porém hoje não funcionam mais. A Agenda 21 (2006) apresenta alguns eventos e manifestações culturais que ainda são presentes

no

cotidiano

dos

moradores

da

cidade,

tais

como:

- Festa Nacional de São José de Anchieta: realizada em 09 de junho, data comemorativa da cidade. - Passos de Anchieta: Roteiro religioso de 100 quilômetros que resgata a trilha percorrida por São José de Anchieta. Cerca de 3 mil fiéis brasileiros e estrangeiros se deslocam da Catedral Metropolitana de Vitória e finaliza a caminhada no Santuário de São José de Anchieta (ANCHIETA, 2019).

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- Procissão Marítima de São Pedro: Evento tradicional em comunidade de pescadores. Com embarcações que percorrem a praia de Anchieta para comemorar o dia de São Pedro, considerado protetor dos pescadores. - Congo: Manifestação cultural dedicada a São Benedito que possui origem afro descente e está no roteiro de eventos da cidade. - Passos do Imigrante: Resgate do caminho feito pelos imigrantes que parte de Anchieta sede em direção ao distrito de Alto Pongal. - Jaraguá: Tradição folclórica da cidade em época de carnaval. Um grupo de homens fantasiados com caveira de cabeça de cavalo coberta por musgos. - Artesanato: Trabalho manual com matéria-prima natural da cidade, como conchas, fibras, escamas de peixes, resultando em peças decorativas, cestas, esteiras e luminárias. Além das visitas aos edifícios históricos, apreciação das belezas naturais e manifestações culturais presentes no cotidiano dos turistas e dos moradores, Anchieta possui uma agenda de eventos movimentadas para completar o turismo e o lazer do município. A Prefeitura de Anchieta promove eventos nacionais e municipais durante todo ano, como campeonato de esportes, Festival de Verão com shows nacionais, Carnaval, Festa da Agricultura, Festa de São Pedro, Feira de Negócios (Promove), Festival de Frutos do Mar de Iriri, reunindo seus moradores e turistas (ANCHIETA, 2019). Apesar de Anchieta ser detentora de muitas belezas naturais, históricas e ter uma cultura muito presente na vida de seus moradores, a cidade ainda carece de espaços públicos e de práticas sociais que reforcem sua beleza, cultura e história. Esse panorama engloba a ineficiência dos poucos espaços públicos existentes no município, bem como a deterioração, falta de manutenção e a ausência de um local que propõe acesso à cultura, a história e atividades de lazer. Além disso, a cidade é muito dependente de ações municipais para qualquer intervenção em sua área, embora essas ações aconteçam, até hoje não foi proposto um espaço cultural de qualidade a ponto de envolver a população, sendo necessário uma parceria público-privada para de fato ser instituído um espaço LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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público de qualidade. Diante deste cenário, este trabalho visa propor um projeto de intervenção no prédio do Colégio Maria Mattos transformando-o em um centro cultural que reforce a história do colégio, bem como do município, sendo um espaço público que propõe acesso a cultura e ao convívio social aos moradores da cidade.

4.2

O COLÉGIO MARIA MATTOS

Idealizado por Dom Helvécio Gomes de Oliveira e administrado pelas denodadas religiosas Irmãs Carmelitas da Divina Providência, o Colégio Maria Mattos (Figura 24) foi fundado em 1932. Sendo a primeira escola do interior do Espírito Santo, onde alunos de todas as partes do Brasil vinham estudar (GONÇALVES, 1996). Figura 24 - COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: IBGE, 1983.

Dom Helvécio foi fundador do Colégio Maria Mattos, nasceu na cidade de Anchieta no ano de 1876. Padre salesiano e arcebispo católico brasileiro, sua vida firmada na fé, LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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detinha como objetivo e legado atrair os jovens em busca de melhor instrução educacional. Em razão do seu amor à terra natal, fundou o colégio para que os jovens da cidade tivessem acesso à educação sem ter que se deslocar para outra localidade. Em homenagem a sua mãe, intitulou o colégio com seu nome, Maria Mattos (COLÉGIO MARIA MATTOS, 1997). A história da congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência se iniciou quando a Madre Maria das Neves resolveu dedicar sua vida a serviço de Deus, dos pobres e dos enfermos, no limiar do século XX. Em 2 de dezembro de 1899, a resolução foi oficialmente aceita pela igreja, onde outras irmãs juntaram-se a ela, se organizando e definindo-se como Congregação Religiosa. Sendo assim, como membros de uma igreja atenta a necessidades das pessoas, as irmãs realizavam trabalhos pastorais, de acordo com suas possibilidades. Seus trabalhos eram diversificados conforme a vocação do grupo, sendo estes relacionados a educação de jovens e adultos, em educandários, colégios, comunidades eclesiais; na área da saúde, em hospitais, asilos, postos de saúdes e na pastoral, em obras tradicionais em comunidades inseridas no meio do povo (COLÉGIO MARIA MATTOS, 1997). As primeiras Irmãs Carmelitas chegaram na cidade de Anchieta no início do ano de 1932 e em março do mesmo ano iniciaram seus trabalhos em função da educação de meninas aristocratas com uma pequena escola com 35 alunas matriculadas: 18 no curso primário e 17 no curso complementar. Em 1938, aconteceu o início das obras do Colégio Maria Mattos, tendo Dom Helvécio como fundador, sendo inaugurado no ano de 1940. A Figura 25 mostra um desenho e uma pintura em aquarela pintada pela ex-aluna Nazareth Bezerra Coury da parte antiga da cidade de Anchieta que mostra o Colégio Maria Mattos e o Santuário Nacional de São José de Anchieta (COLÉGIO MARIA MATTOS, 1997).

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Figura 25 - DESENHO E PINTURA EM AQUARELA DA PARTE ANTIGA DE ANCHIETA.

Fonte: COURY, 2021.

Uma escola católica que baseava suas ações educativas nos princípios evangélicos e a forma Carmelitana de viver na simplicidade. O desejo da escola era formar pessoas criativas, conscientes, livres e responsáveis, capazes de assumir responsabilidades pessoais e sociais, colaborando com sua formação e com a construção de uma sociedade mais fraterna em exercício da cidadania. Além disso, a escola promovia experiências que desenvolvesse na prática habilidades artísticas, técnicas, esportivas, descobertas, vivência em grupo, contribui na formação de sua personalidade quanto aos aspectos psicofísico, cultural e cívico (COLÉGIO MARIA MATTOS, 1997). Apesar de sua extrema importância para a cidade de Anchieta, não há muitas informações acessíveis sobre o Colégio Maria Mattos, porém algumas ex-alunas saudosas pelos tempos que viveram ali guardam imagens e recordações da época. Sendo assim, foi necessário procurá-las para compreender sobre a vida no colégio. A primeira a ser entrevistada foi aluna do Colégio Maria Mattos na década de 60, formada pela Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, especialista em restauração e conservação fotográfica, Maria de Nazareth Bezerra Coury finalizou sua carreira profissional trabalhando como restauradora de imagens no Instituto Moreira Sales – RJ. É uma artista e mora hoje em uma das casas históricas de Anchieta, próximo ao Colégio Maria Mattos. Faz parte de uma família tradicional da cidade e conheceu o fundador do Colégio Maria Mattos e do Hotel Anchieta, Dom Helvécio. A Figura 25 evidencia a Nazareth em sua formatura no Colégio Maria Mattos no ano de 1969. LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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Figura 26 - FORMATURA - COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

Apaixonada pela cidade e pelo Colégio, Nazareth se dedica na produção de pinturas em aquarelas para eternizar através de sua arte as memórias da sua vida escolar. A Figura 27 é uma das aquarelas da artista que mostra as alunas realizando tarefas agrícolas e o Colégio ao fundo.

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Figura 27 - PINTURA EM AQUARELA COM ALUNAS DO COLÉGIO MARIA MATTOS.

Fonte: COURY, 2021.

Em conversa com Nazareth, a ex-aluna relata que na época em que cursava o colegial, as alunas eram divididas entre internas e externas. As internas, advindas de outras cidades faziam parte do regime de internato, onde estudavam durante o dia e pernoitavam no alojamento, nas dependências do colégio. Já as externas, eram aquelas que estudavam durante o dia e retornavam as suas casas, pois suas famílias residiam na cidade. A Figura 28 faz referência as alunas externas ao lado esquerdo e ao grupo completo ao lado direito.

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Figura 28 - ALUNAS EXTERNAS E INTERNAS DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

Como o Colégio tinha alunas de outras partes do Brasil, o colégio possuía um alojamento para abrigá-las e de tempos em tempos, seus pais vinham visitá-las e se hospedavam no Hotel Anchieta, construído por Dom Helvécio a princípio para esse fim. A Figura 29 mostra o alojamento das alunas no Colégio Maria Mattos. Figura 29 - ALOJAMENTO NO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: ROSA, 2021.

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A Figura 30 apresenta mais uma aquarela da ex-aluna Nazareth. É possível observar suas janelas sequenciadas, cobertura em telha cerâmica, a capela na lateral direita, o catavento no jardim lateral e suas paredes pintadas em bege claro, a arquitetura do colégio do alto em vários pontos da área central da cidade. Figura 30 - PINTURA EM AQUARELA – COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

O Colégio Maria Mattos faz parte do roteiro histórico da cidade de Anchieta e se situa na parte antiga, próximo ao Hotel Anchieta, Santuário Nacional de Anchieta e as casas históricas. A Figura 31 é uma aquarela que mostra um panorama da cidade antiga, sendo possível ver o Colégio.

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Figura 31 - PINTURA EM AQUARELA – CIDADE ANTIGA COM O COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

Conforme mencionado, a escola era administrada pelas Irmãs Carmelitas e tinha em seu calendário momentos religiosos que envolviam as alunas. Em entrevista com a ex-aluna e ex-professora Suzan Mara Gonçalves Rosa, ela apresenta uma imagem (Figura 32) de um desses momentos religiosos no pátio central do colégio.

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Figura 32 - MOMENTO RELIGIOSO – COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: ROSA, 2021.

Muitas atividades eram realizadas no Colégio, como apresentações, teatro, musicais, ballet, sapateado, jogos e outras práticas artísticas. A ex-aluna Nazareth, retratou em uma de suas aquarelas uma partida do jogo de vôlei que era um dos esportes favoritos das alunas (Figura 33).

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Figura 33 - PINTURA EM AQUARELA – ESPORTES NO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: COURY, 2021.

Mais uma atividade que era tradição da cidade e fazia parte do calendário do colégio era o desfile alegórico em comemoração ao dia da cidade, 9 de junho e o desfile cívico no dia 7 setembro em comemoração à Independência do Brasil. A montagem de imagem a seguir (Figura 34) evidenciam esses eventos.

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Figura 34 - DESFILES PELA CIDADE DAS ALUNAS DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: ROSA, 2021.

A música sempre esteve em evidência nas atividades realizadas no colégio e a irmã Joana D’Arc compôs uma homenagem a escola que era cantada nos eventos e um de seus trechos está a seguir: Erguida na colina, junto ao mar, Beijada pela brisa, assim fagueira, que Escola alegre a nossa, singular Diversa das demais, alvissareira [...] Maria Mattos, meu segundo lar! Jamais esquecerei de ti na vida! No escrínio d’alma, és geme a rutilar... Oh! Sê bendita, escola tão querida! (MELLO, 2021)

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É relevante ressaltar que por um bom tempo o Colégio só matriculava alunas, mas chegou a um ponto (data desconhecida) que as Irmãs Carmelitas passaram a receber alunos também. Para o desenvolvimento desta pesquisa, também foi realizada entrevistas com uma exaluna, ex-professora do Colégio Maria Mattos, mãe da autora desta pesquisa e grande motivadora deste trabalho. Edi Teresinha da Silva Sangali de Mello, iniciou sua trajetória na escola no ano de 1977 e teve grande parte de sua vida dedicada ao colégio, possuindo muitas recordações. Admiradora do trabalho das irmãs carmelitas, começou cursando a 5ª série no colégio, formou-se em Contabilidade em 1983 e em Magistério em 1985 (cursos técnicos oferecidos na época pelo colégio Maria Mattos). Logo no ano de 1986 foi convidada para dar aula na mesma escola, até o seu fechamento em 1998, porém deu continuidade na escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida (escola que funcionava no mesmo prédio no ano de 2000, após o fechamento do Colégio Maria Mattos) e trabalha nesta escola até hoje. Os eventos sediados pelo colégio envolviam os alunos e suas famílias, sendo na maioria das vezes aberto ao público. Feira da Vida, Festa Junina, Feira Cultural, Cantatas de Natal, Festa de Fim de Ano e Campeonatos Esportivos eram algumas das comemorações que a escola junto dos alunos preparava durante o ano. Sempre envolviam a música, o teatro, a dança e práticas artísticas (MELLO, 2021). A Figura 35 reúne algumas recordações desses momentos.

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Figura 35 - EVENTOS NO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: MELLO, 2021 – adaptado pela autora.

Em anexo ao colégio existe um salão de festas onde eram realizados eventos do colégio e da cidade (Figura 36).

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Figura 36 - SALÃO DE FESTAS - COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: GOOGLE, 2012 - adaptado pela autora.

Com capacidade para 200 pessoas, o Salão do Maria Mattos era o local que acontecia a formatura do colégio, apresentações e até mesmo festas de aniversário de alunos do colégio. A Figura 37 evidencia uma das apresentações musicais, danças e até uma formatura do ensino fundamental I.

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Figura 37 - EVENTOS NO SALÃO DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: MELLO, 2021 – adaptado pela autora.

No ano de 1998, o Colégio Maria Mattos encerrou suas atividades, pois a mensalidade não era compatível a realidade financeira dos moradores e ainda o município já ofertava uma educação pública de qualidade e com isso houve uma baixa na procura de vagas para o ingresso no Colégio (MELLO, 2021). Com o fechamento do colégio, logo no ano de 2000 o munícipio sofreu com um aumento na demanda de escolas de ensino fundamental e com a ausência de prédios para sediar a escola, o estado alugou o edifício que funcionava o Colégio Maria Mattos para dar início a nova escola estadual, Irmã Terezinha Godoy de Almeida, nome dado a escola em homenagem a irmã carmelita que faleceu em exercício como diretora do colégio. Em 25 de julho de 2005, a escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida foi municipalizada, pois a partir desse ano a responsabilidade do ensino fundamental ficou a cargo dos municípios (MELLO, 2021).

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Apesar de ser administrado pela prefeitura, para a comunidade de Anchieta a escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida deu continuidade aos trabalhos desenvolvidos pelo Colégio Maria Mattos. No entanto, a escola criada precisou seguir as normativas municipais e é conceituada como uma das melhores escolas de fundamental I e II da cidade, sendo muito procurada para novas matriculas. A escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida começou seu funcionamento com muitos funcionários que estudaram e trabalharam no Colégio Maria Mattos e eles procuraram dar continuidade nas atividades que vivenciaram ali. Portanto, a nova escola continuou com a proposta de formar cidadãos críticos e conscientes para a sociedade, desenvolvendo habilidades artísticas, esportivas, sociais e empreendedoras. A Figura 38 evidencia algumas dessas atividades, sendo elas desfiles, oficinas artísticas, jogos e esportes.

Figura 38 - ATIVIDADES REALIZADAS NA ESCOLA IRMÃ TEREZINHA GODOY DE ALMEIDA

Fonte: MELLO, 2021.

Com o intuito de reunir informações dos ex-alunos do Colégio a pesquisa desenvolveu uma enquete na rede social Instagram para coletar dados relevantes para ser utilizado LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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no projeto de Requalificação do Colégio Maria Mattos. Iniciando com uma breve contextualização do tema do trabalho e a primeira pergunta foi “Você já estudou ou trabalhou no Colégio?” (Figura 39). Figura 39 - ENQUETE REALIZADA NO INSTAGRAM SOBRE O COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: SANGALI, 2021.

Cerca de 40 pessoas participaram da pesquisa e compartilharam sua experiência com a escola. A Figura 40 apresenta algumas das respostas dos ex-alunos para a segunda pergunta que foi “Quais atividades eram realizadas na época que você estudou/trabalhou lá?”.

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Figura 40 - ENQUETE REALIZADA NO INSTAGRAM SOBRE O COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: SANGALI, 2021.

As respostas (Figura 40) sobre as atividades que eram realizadas foram basicamente: feiras culturais, campeonatos, apresentações, acantonamentos, festas juninas, gincanas, teatro, dança, fanfarra, aulas de músicas, seminários, ballet e projetos de incentivo à leitura (SANGALI, 2021). A Figura 41 evidencia a pergunta “O que você mais gostava de fazer por lá?” e suas respectivas respostas.

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Figura 41 - ENQUETE REALIZADA NO INSTAGRAM SOBRE O COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: SANGALI, 2021.

As respostas da pergunta (Figura 41) sobre o que os alunos gostavam de fazer por lá foram basicamente: brincar no pátio central, sentar nas muretas, esportes, atividades artísticas, subir na pedra, brincar na quadra, escorregar nas barranceiras, brincar no parquinho, ir até a gruta, aulas de músicas, estudar, feiras, ficar na varanda da capela, jogar ping pong, comer a merenda da escola e contato com a natureza (SANGALI, 2021). A Figura 42 apresenta a pergunta e as respostas para “Você tinha um lugar preferido na escola? Qual?”.

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Figura 42 - ENQUETE REALIZADA NO INSTAGRAM SOBRE O COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: SANGALI, 2021.

O lugar favorito do Colégio para os alunos que responderam a pesquisa (Figura 42) eram basicamente: a quadra, o caramanchão, escadas, biblioteca, salão de festas, o pátio central, pedra ao lado da mesa de ping pong, raízes das castanheiras, corredor, gruta, jardim lateral, catavento, jardim entre o refeitório e a quadra e a varanda da capela (SANGALI, 2021). No ano de 2019, a escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida suspendeu as aulas no prédio histórico do Colégio Maria Mattos, pois em virtude de problemas estruturais foi condenada pela Defesa Civil para interromper as atividades no local. O funcionamento da escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida foi transferido para o prédio do antigo Hotel Anchieta. Em nota sobre o funcionamento da escola, a Prefeitura de Anchieta informa que a Secretaria de Infraestrutura estava avaliando as condições do edifício para providenciar uma manutenção. Ainda em nota, a prefeitura comunica que estava em negociação com a Congregação das Irmãs Carmelitas para que o município, por meio de uma cessão, possa administrar o prédio onde funcionou o Maria Mattos, promovendo assim as interferências necessárias para o funcionamento da escola. (PREFEITURA DE LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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ANCHIETA, 2019). O que se sabe no momento é que a Prefeitura de Anchieta tem como objetivo desapropriar outro terreno na cidade para realocar a Escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida, ou seja, aparentemente não possui interesse no prédio do Colégio Maria Mattos. Desde então, o prédio histórico do Colégio Maria Mattos se encontra em estado de desuso e nenhuma ação corretiva foi realizada.

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5 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO Uma das competências para a elaboração de um projeto é o estudo dos condicionantes físicos do terreno, seu entorno e a análise do próprio edifício. Seguindo esses aspectos, para dar prosseguimento ao Projeto de Requalificação do Colégio Maria Mattos, esse capítulo conta com a apresentação da condição atual do terreno e do seu entorno imediato, bem como as características atuais do edifício.

5.1

ANÁLISE DO TERRENO

A área do terreno possui aproximadamente 7.376 m² e localiza-se no Centro do município de Anchieta/ES, como a Figura 43 apresenta. Possui uma localização estratégica, pois além de situar-se no alto do Morro da Penha, o terreno fica próximo ao Santuário Nacional de São José de Anchieta, o único bem tombado da cidade a nível federal, e seu entorno possui características morfológicas de uma cidade colonial, considerando o arruamento estreito, ausência de calçadas e presença de edificações históricas de interesse de preservação. Como a área de estudo fica localizada na parte superior da cidade, o gabarito de entorno pouco interfere, mas as edificações do entorno possuem em geral no máximo 3 pavimentos. O uso predominante do entorno é residencial, mas suas imediações contam com o Santuário e os demais comércios da parte inferior da cidade que é bem variado (Figura 43).

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Figura 43 - DIAGRAMA DE ANÁLISE DO ENTORNO

Fonte: Elaborado pela autora com base no arquivo digital da Prefeitura de Anchieta e o Arcgis, 2021.

Vale ressaltar que as vias de acesso existentes foram criadas apenas para entrada e saída das pessoas que visitavam o Colégio Maria Mattos, são duas ruas de mão dupla, estreitas, sem calçadas e sem sinalização. O primeiro acesso se dá a partir da Avenida Anchieta, rua de acesso ao Santuário que recebe anualmente visitantes e a caminhada de peregrinação Passos de Anchieta, sendo um importante eixo de preservação. O segundo acesso parte do encontro do largo do Santuário e da rua Cristiano Dias Lopes. Além disso, a Rodovia do Sol (Av. Carlos Lindemberg), via radial que passa pelo litoral sul capixaba interligando a capital com o sul do estado, é a rua que antecede a Avenida Anchieta, esta que recebe os veículos que vão em direção ao Santuário e ao Colégio Maria Mattos (Figura 44).

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Figura 44 - ACESSO DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2021.

Para analisar os condicionantes que envolvem o Colégio Maria Mattos foi criado um diagrama de análise para extrair informações pertinentes ao desenvolvimento do projeto (Figura 45). Considerando que a área onde está situado o Colégio compreende a porção com mais edificações históricas preservadas da cidade sinalizamos a localização dessas que possuem o uso residencial. Além disso, a Figura 45 também demarca a edificação antiga do Colégio Maria Mattos (1932) e a parte que foi construída para adaptar a Escola Irmã Terezinha (2019). Através do estudo de insolação, constatou-se que fachada leste (parte de trás do colégio) recebe uma insolação mais amena e a fachada oeste e sul será mais afetada com a

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incidência solar, mas como apresenta o diagrama, o entorno imediato é arborizado e protege o edifício da incidência solar, proporcionando um clima agradável. O diagrama de análise dos condicionantes físicos (Figura 45) também destacou os possíveis acessos ao Colégio Maria Mattos, destacando a Rodovia do Sol em vermelho e as vistas da cidade baixa para o colégio. Próximo ao Colégio existe um espaço vazio que faz parte do terreno e é um potencial para a implantação do estacionamento para os visitantes do Centro Cultural Lugar e Memória, tal espaço foi destacado na Figura 45. Figura 45 - DIAGRAMA DE ANÁLISE DE CONDICIONANTES FÍSICOS

Fonte: Elaborado pela autora com base no arquivo digital da Prefeitura de Anchieta, 2021. LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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Localizado no alto do morro o terreno possui uma paisagem singular, com vistas para o mar e da cidade de Anchieta quase completa. Além disso, seu entorno arborizado valoriza as paisagens e propõe um ambiente agradável. A Figura 46 evidencia esses visuais que estão sinalizados no diagrama da Figura 45. Figura 46 - VISUAIS DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2021.

A localização estratégica no alto do morro permite que o edifício seja visto da parte baixa da cidade e a Figura 47 mostra como o edifício é visto dos pontos sinalizados no diagrama físico (Figura 45).

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Figura 47 - VISUAIS DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2021.

A Figura 48 compreende 3 diagramas de figura-fundo para ser possível analisar de forma mais clara a morfologia urbana do entorno do Colégio Maria Mattos (sinalizado em vermelho). O primeiro apresenta em negativo as ruas com um traçado desordenado e orgânico, mostrando a ausência de planejamento urbano para a área e a relação com a topografia. O segundo diagrama evidencia as edificações que foram construídas de forma irregular e sem seguir os padrões urbanísticos. O último evidencia as áreas livres do entorno onde é possível ver a preservação da vegetação. Figura 48 - DIAGRAMA DE FIGURA-FUNDO

Fonte: Elaborado pela autora com base no arquivo digital da Prefeitura de Anchieta, 2021.

Além do caráter morfológico e físico, é necessário analisar o contexto legal que envolve toda essa área histórica da cidade. LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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A dissertação de mestrado da autora Tatiana Alvarenga (ALVARENAGA, 2019) corresponde a um Projeto de Acessibilidade ao Santuário Nacional de São José de Anchieta e analisa as esferas de proteção existentes para a área de vizinhança da igreja. O trabalho observa as poligonais de proteção federal, estadual e municipal, comparandoas entre si. A Figura 49 evidencia os limites e as intercessões dessas poligonais, onde a federal (evidenciada em azul) é a mais abrangente e chega a contornar o mangue, o rio Benevente, o Quitiba (bairro da cidade) e outras partes da cidade. Figura 49 - ANÁLISE DOS LIMITES E INTERCESSÕES DAS POLIGONAIS DE PROTEÇÃO FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL

Fonte: ALVARENGA, 2019.

Segundo o parecer técnico federal realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), à respeito da Proposta de Normativa para delimitação de Poligonal e Setorização da Área de Vizinhança do bem tombado “Igreja Nossa Senhora da Assunção”, no município de Anchieta/ES, evidencia que todo entorno de bem tombado deve receber fiscalização e normativas com instrumentos legais para regular a relação

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do ambiente urbano com o patrimônio tombado, amenizando as possíveis interferências do entorno em relação ao monumento ou sítio histórico (INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL, 2019). A Figura 50 é a proposta da poligonal de setorização do entorno feito pela Superintendência do IPHAN. Figura 50 - PROPOSTA DE SETORIZAÇÃO DO ENTORNO DO SANTUÁRIO NACIONAL DE SÃO JOSÉ DE ANCHIETA

Fonte: IPHAN, 2019.

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Segundo a proposta de setorização, o Colégio Maria Mattos faz parte da SE-3B – Zona de Ocupação Controlada que é o setor: construído por duas manchas descontínuas que apresentam três importantes características em comum: baixa densidade de ocupação, o fato de que parte destes setores se implanta em terrenos de cota elevada [...] e a consequência óbvia desta condição topográfica que é a possibilidade de interferência direta na ambiência do monumento (IPHAN, 2019, p.3).

A Tabela 02 apresenta a tabela com as zonas e os instrumentos de limites construtivos para cada uma delas. Tabela 2 - TABELA DE LIMITES CONSTRUTIVOS DE CADA SETOR

Fonte: IPHAN, 2019.

Para este trabalho vale a pena ressaltar que o Colégio Maria Mattos faz parte da zona de proteção de todas as esferas citadas (municipal, estadual e federal), ou seja, apesar de não ser um patrimônio tombado, os órgãos fiscalizadores o incluem na zona de proteção por compreender a importância histórica, cultural e social que ele tem para a cidade de Anchieta. Sendo assim, é necessário seguir os instrumentos legais no desenvolvimento do Projeto de Requalificação do Colégio Maria Mattos.

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5.2

ANÁLISE DO EDIFÍCIO

O edifício antigo possui dois pavimentos e uma planta em formato de “U” onde as aberturas são voltadas para um pátio interno descoberto. Por volta do ano de 2004, a escola municipal Irmã Terezinha Godoy de Almeida funcionava no prédio do Colégio Maria Mattos e a estrutura original não estava suportando o funcionamento dos banheiros e da cozinha, sendo necessário construir uma nova estrutura para realocar esses ambientes para atender os alunos. A partir da construção do anexo, o edifício original passou a ser utilizado para salas de aulas e para o administrativo da escola. Além disso, existe o salão de eventos na frente do edifício, enumerado na legenda pelo número 6. A planta baixa a seguir corresponde a estrutura original dos dois pavimentos do edifício e como foi feita a setorização para atender o funcionamento da escola. Figura 51 - PLANTA BAIXA ORIGINAL - TÉRREO

Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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Figura 52 - PLANTA BAIXA ORIGINAL – 1º PAVIMENTO

Fonte: elaborado pela autora, 2021.

O edifício do Colégio Maria Mattos, objeto de estudo deste trabalho, encontra-se hoje em estado de desuso por uma decisão da Defesa Civil que determinou, em 2019, o encerramento das atividades no prédio (onde funcionava na época a Escola Municipal Irmã Terezinha Godoy de Almeida). Considerando a época da construção, ausência de manutenção e a degradação natural do prédio, o órgão identificou diversas patologias que oferecem riscos aos usuários e visto que apenas um reparo paliativo não seria capaz de solucionar o problema e portanto, determinou sua interdição. O relatório da vistoria técnica realizada em 2020, disponibilizado pela prefeitura, discorre sobre a razão da interdição (PREFEITURA DE ANCHIETA, 2020). Telhas quebradas, estrutura da cobertura infestada por cupins, piso estufado, calha obstruída, infiltrações, trincas e rachaduras são alguns dos problemas encontrados na construção. A Figura 53 apresenta algumas das imagens disponibilizadas no relatório do edifício em um ângulo geral.

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Figura 53 - IMAGENS GERAIS DA CONDIÇÃO ATUAL DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: PREFEITURA DE ANCHIETA, 2020.

Como o prédio é alugado, a Prefeitura de Anchieta reformou algumas vezes o edifício com soluções paliativas para os problemas questionados pela administração da escola, porém chegou a um ponto que somente uma reforma geral seria capaz de reestabelecer o funcionamento. Além disso, esses reparos temporários realizados pela prefeitura não consideraram o valor histórico da construção, ou seja, não foram executados respeitando a integridade original do edifício. Considerando a época da construção e a ausência de manutenção, o prédio passou por uma degradação natural, impossibilitando a permanência de pessoas até que alguma reforma total seja realizada. A Figura 54 apresenta diversas patologias que foram destacadas no relatório técnico da prefeitura.

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Figura 54 - PATOLOGIAS ENCONTRADAS NO COLÉGIO MARIA MATTOS

Fonte: PREFEITURA DE ANCHIETA, 2020.

Considerando a importância histórica do edifício do Colégio Maria Mattos e da atual situação que o prédio se encontra, este trabalho busca evidenciar os potenciais do edifício e recuperar sua estrutura original para servir a população de Anchieta como espaço de interação social, através de um Centro Cultural.

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6 PROPOSTA PROJETUAL O capítulo vigente apresenta a proposta projetual para o Centro Cultural Lugar e Memória no Colégio Maria Mattos, Anchieta/ES que foi desenvolvido através do embasamento teórico e analítico obtido nos capítulos apresentados anteriormente. Considerando o valor social, histórico e cultural que o Colégio representa para os munícipes da cidade, este trabalho visa desenvolver um ensaio projetual de requalificação do edifício do Colégio Maria Mattos, a fim de abrigar um centro cultural com o objetivo de ampliar a oferta de espaço público na cidade, valorizar o encontro e retomar os valores perdidos com a degradação do prédio.

6.1

DIRETRIZES PROJETUAIS

Através do referencial teórico, dos estudos de casos e da análise da área de estudo apresentados nesta pesquisa foi possível reconhecer premissas importantes para o projeto em questão. Sendo assim, para dar prosseguimento a proposta arquitetônica do Centro Cultural Lugar e Memória foi elaborado uma tabela síntese com as potencialidades, vulnerabilidades, diretrizes e ações para serem aplicadas no projeto (Tabela 03), onde a potencialidade é tudo aquilo que engloba o projeto e possui uma qualidade para ser explorada, a vulnerabilidade é a fragilidade existente em que o projeto deve amenizar, a diretriz é aquilo que direciona a ação e por fim vem a ação que se baseia nas diretrizes para valorizar ou amenizar os pontos resultantes da análise das potencialidade e vulnerabilidades de maneira a agregar no projeto final. Tabela 3 - DIRETRIZES E AÇÕES POTENCIALIDADES

VULNERABILIDADES

DIRETRIZES

MOBILIDADE

Ausência de calçadas Presença de duas vias de acesso exclusivo ao centro cultural

Via de acesso conectada a Rodovia do Sol

Piso irregular Ausência de sinalização para o pedestre Vias estreitas Iluminação precária Ausência de sinalização

AÇÕES Adotar padrões de acessibilidade nas ruas de acesso ao centro cultural

Priorização do pedestre

Informar o condutor

Transformar os acessos existentes em uso restrito a pedestre, ciclistas e embarque e desembarque de veículo para o acesso ao centro cultural Sinalizar o acesso ao centro cultural através de placas informativas Diferenciar ruas de acesso com pisos diferentes, ciclovia e árvores.

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USO DO SOLO SOCIOECONÔMICO

Ausência de ciclovia

Incentivar o uso de transporte coletivo e não motorizado

Situada na parte alta da cidade

Ausência de acessibilidade

Possibilitar o acesso inclusivo ao centro cultural

Localização próxima a área de interesse histórico

Ausência de sinalização para visita ao centro cultural

Informar os usuários da presença do centro cultural

Espaço vazio próximo ao centro cultural usado para estacionamento

Sem controle de uso

Adequar uso para servir ao centro cultural

Utilizar o espaço como estacionamento do centro cultural restringindo o uso apenas para visitantes e funcionários

Edifício com amplo e com boa estrutura

Interditado devido a degradação de sua estrutura

Reestabelecer a estrutura para tornar apta para o funcionamento

Reformar a estrutura preexistente

Diversos artistas na cidade

Pouco incentivo a arte

Incentivar e valorizar os artistas locais

Rota percorrida por visitantes e turistas para o Santuário

SOCIOCULTURAL

Conjunto de comércios e produtores locais

Riqueza histórica do edifício

Importância social do colégio

Arborização densa e variada AMBIENTAL/PAISAGÍSTIO

Ofertar serviço de bicicleta de compartilhada Conectar a ciclovia da orla com uma nova ciclovia para acesso ao centro cultural Adotar padrões de acessibilidade nas ruas de acesso ao centro cultural Permitir a subida de carros para embarque e desembarque para pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida Sinalizar a localização do centro cultural através de placas informativas e diferenciação no tratamento das vias de acessos

Oferta de transporte público próximo ao centro cultural

Visuais importantes

Presença de espaços livres

Presença de rochas naturais

Ausência de sinalização para o centro cultural Pouco incentivo turístico

Pouco incentivo a economia local Edifício em estado de desuso Diversas patologias Degradação e descaracterização

Descaso com o valor social dos alunos e funcionários

Ausência de vegetação no pátio central Ausência de área permeável no pátio central Ausência de valorização das visuais Ausência de espaços agradáveis para permanência Iluminação precária Ausência de mobiliário urbano Rochas naturais em locais pouco valorizados

Potencializar o turismo

Incentivar o comércio local

Destinar salas e lojas do centro cultural para exposição e vendas de produtos locais Realizar de eventos para exaltar a arte local Criar circuito cultural através da ida ao Santuário e ao Centro Cultural Lugar e Memória Criar mapa de implantação do Centro Cultural informando os setores do edifício Ofertar espaços agradáveis de permanência para os visitantes Criar lojas e restaurantes destinados a comerciantes locais Criar calendário de eventos para estimular o comercio local

Retomar os valores perdidos com a ação do tempo

Recuperar a estrutura e manter a integridade original do prédio histórico

Resgatar e fortalecer a memória afetiva do lugar

Criar elementos sensoriais para emocionar alunos e funcionários que possuem relação com o colégio Criar espaços que relembre a vida no colégio Valorizar os espaços preferidos dos alunos do colégio

Valorizar os elementos naturais

Propor paisagismo para o pátio interno com vegetação e área permeável

Valorizar as visuais

Criar espaços de contemplação para valorizar as visuais

Propor conforto e longa permanência aos visitantes

Valorizar os elementos naturais

Criar espaços agradáveis com mobiliários que estimulem a permanência Propor iluminação adequada a nível do pedestre Criar mobiliário com desenho único para o centro cultural Criar ambientes agradáveis entorno das rochas

Fonte: elaborado pela autora, 2021.

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A Tabela 03 sintetiza as ações que devem ser aplicadas no projeto nos aspectos da mobilidade para garantir o acesso inclusivo e seguro a todos, do uso do solo para aproveitar os espaços existentes, no ponto de vista socioeconômico com o intuito de valorizar os comerciantes locais e o turismo, sociocultural para fortalecer a memória afetiva do lugar e ressaltar a beleza do edifício e por fim no âmbito ambiental e paisagístico a fim de acentuar a natureza existente, os espaços livres e as visuais do edifício.

6.2

CONCEITO E PARTIDO

Considerando a importância do edifício para toda a cidade de Anchieta e ex-alunos do Colégio Maria Mattos o conceito escolhido para o projeto do Centro Cultural não poderia ser outro a não ser a exaltação da memória afetiva pelo Colégio Maria Mattos e por toda a história que se passou no edifício. A ideia é que o visitante sinta a experiência única que foi fazer parte do Colégio Maria Mattos e experimente de perto como e o motivo daquele espaço ser tão importante para tantas pessoas que tiveram suas vidas transformadas ali. O conceito é justamente enaltecer as memórias que foram construídas desde 1932 e não podem morrer com o passar do tempo. É preciso eternizá-las para que a herança afetiva seja consolidada para as futuras gerações. Com base em toda a pesquisa e nos depoimentos de vários ex-alunos e pessoas envolvidas com o colégio, o projeto propõe valorizar os espaços e as atividades que eram presentes na época do Colégio Maria Mattos para de fato relembrar e reviver esses momentos. Sendo assim, a proposta conta com um programa de necessidades que atenda essas atividades e ambientes agradáveis para o encontro que permitam que a experiência desse tempo reviva no coração dos visitantes. Para gerar a ativação da memória detalhes foram resgatados, como por exemplo o lugar do sino, a gruta, o catavento e outros pontos que faça com que o ex-aluno relembre e o visitante conheça a vida no antigo colégio. Sendo assim, o conceito do projeto se baseia na memória e na vivência do antigo Colégio Maria Mattos e o partido no resgate de elementos que correspondem com essa época.

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Vale a pena ressaltar que a linguagem dos materiais e dos elementos a serem acrescidos, fora a estrutura original do edifício, possuem uma linguagem totalmente contemporânea com o objetivo de fazer o contraste do novo com o antigo. Essa escolha foi baseada nos princípios de alguns teóricos do campo disciplinar do patrimônio histórico, assim como do autor Carbonara, citado nesta pesquisa no capítulo 2, que discorre sobre a inserção da arquitetura contemporânea em monumentos preexistentes. Nenhuma intervenção que foi proposta teve o intuito de falsear os elementos antigos ou cometer um falso histórico, pelo contrário, o objetivo foi justamente valorizar a estrutura antiga e as partes acrescidas terem uma linguagem contemporânea para diferenciar do antigo. A Figura 55 ilustra o moodboard com os elementos e materiais que foram utilizados no projeto do Centro Cultural Lugar e Memória. A madeira foi um material que foi explorado de várias formas, em decks, guarda corpo, como painel ripado e outros elementos que estarão presentes nas imagens em 3D. Além disso, uma cor que foi muito aplicada no projeto foi a bordô que é um tom presente nos revestimentos existentes do Colégio, nos uniformes dos alunos e que foi resgatada em várias superfícies por esse motivo. O piso escolhido para as áreas externas foi placas menores de concreto em um tom natural e mais claro. A vegetação também foi muito explorada no projeto para proporcionar passeios agradáveis aos visitantes. A curadoria dos mobiliários do projeto foi feita visando um design contemporâneo e limpo.

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100


Figura 55 - MOODBOARD

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

6.3

PROGRAMA DE NECESSIDADES

O programa de necessidades foi baseado nas atividades que eram realizadas na época do funcionamento do Colégio Maria Mattos e os usos foram escolhidos de acordo com a necessidade da cidade de Anchieta visando o resgate da memória e a oferta de um espaço público agradável para os visitantes. A proposta visa utilizar as instalações internas do edifício com atividades socioculturais voltadas ao público, mas também viabilizar o uso das áreas externas como forma de aumentar a oferta de espaços de lazer e encontro para a cidade. A Tabela 04 destaca os setores com seus respectivos ambientes que irão ser ofertados no Centro Cultural e que posteriormente irão ser apresentados da planta baixa de setorização. LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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Tabela 4 - PROGRAMA DE NECESSIDADES SETOR

Setor Entretenimento

AMBIENTES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15.

Memorial Recepção Pátio Central Capela Café Exposição de Arte Loja Bistrô Deck de Contemplação Gruta Espaço Infantil Espaço para Piquenique Quadra Jardim Lateral Pomar/Horta

16. Auditório

Setor Educacional

Setor Administrativo

Setor de Serviços

17. Sala de Aquarela 18. Sala de Cerâmica 19. Sala de Música 20. Sala de Ballet/Dança 21. Coworking 22. Biblioteca Municipal 23. Coordenação Administrativa 24. Apoio Administrativo 25. Diretoria 26. Coordenação Técnica 27. Museologia 28. Serviço Educativo 29. Almoxarifado 30. Sanitários 31. Limpeza 32. Estacionamento 33. Guarita 34. Copa/Vestiário 30.Sanitários 31.Limpeza

PAVIMENTO

Térreo

1º Pavimento Térreo 1º Pavimento Térreo 1º Pavimento

Térreo

1º Pavimento

Fonte: elaborado pela autora, 2021.

O setor de entretenimento é direcionado aqueles ambientes que são de livre acesso aos visitantes do Centro Cultural, envolve espaços internos e externos. O memorial fica no mesmo espaço que a recepção e são os primeiros ambientes a serem visitados, onde o primeiro abrigará registros do Colégio Maria Mattos e a recepção funcionará para informar os visitantes. O pátio central será um espaço para os visitantes caminharem, sentar nos banquinhos, aproveitarem ao ar livre e para a realização de eventos da região. A capela será direcionada a cerimônias e a visitas os usuários do Centro Cultural. O café e o bistrô são ambientes importantes para o empreendimento, tanto para movimentar a economia como para oferecer aos visitantes uma boa experiência gastronômica. As salas de exposição de arte serão direcionadas aos artistas locais que tenham vontade de expor suas obras. Para valorizar o comerciante local uma das salas será direcionada ao uso de LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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loja para a venda de produtos da região, como artesanato, cerâmicas, roupas, produtos caseiros, entre outros. A gruta é um elemento que sempre existiu no Colégio Maria Mattos e no projeto do Centro Cultural ela tem uma proposta de espaço para reflexão e meditação dos visitantes. O salão de eventos tem capacidade para cerca de 150 pessoas e abrigará o auditório do Centro Cultural para a realização de eventos, aulas de teatro e outras apresentações. Além desses, temos decks, espaço para piquenique, parquinho, quadra e jardins que são localizados em posição estratégicas para aproveitar os visuais, vegetação e elementos naturais com o intuito de proporcionar ao usuário uma experiência agradável. O setor educacional oferece aulas de dança, música, ballet, aquarela e cerâmica que foram atividades muito presentes na vida dos alunos do Colégio Maria Mattos e a cidade possui essa demanda direcionada aos moradores. O projeto propõe que esse setor seja administrado por iniciativa privada e essas salas seriam alugadas para professores da região ministrarem suas aulas. Além disso, o centro cultural conta com salas de coworking e a biblioteca municipal. O setor administrativo são ambientes como diretoria, coordenação, apoio, museologia e serviço educativo que são fundamentais para a gestão do centro cultural. Esse setor será responsável pela estrutura do Centro Cultural, organização do calendário de eventos, cadastro

dos

alunos

interessados

nas

atividades

ofertadas,

controle

dos

estabelecimentos (loja, bistrô e café), administração dos funcionários, logística das salas de exposição, pelo sistema de reserva das salas de coworking, entre outras atividades. Por fim, o setor de serviços que são aqueles ambientes responsáveis pelo funcionamento e limpeza do empreendimento.

6.4

ESTUDO PRELIMINAR

O projeto de requalificação do edifício do Colégio Maria Mattos que propõe o Centro Cultural Lugar e Memória para a cidade de Anchieta dispõe de um estudo preliminar para apresentar a proposta conceitual do projeto seguindo aspectos que priorizem a

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funcionalidade, a estética garantindo aos visitantes um passeio agradável e cheio de memórias para guardar. O nome escolhido para o Centro Cultural foi “Lugar e Memória” para enfatizar que o edifício que abrigou o Colégio Maria Mattos não é um prédio qualquer e sim um lugar que abriga muitas memórias, fazendo também a alusão ao autor Pierre Nora, citado nesta pesquisa que discorre sobre os lugares de memórias que são espaços como esse. Vale a pena relembrar que o objetivo deste trabalho é transformar a realidade atual do edifício em espaços convidativos de permanência e convivência pensando na necessidade do público alvo que são os moradores e turistas da cidade de Anchieta, oferecendo atividades e ainda proporcionar o resgate dos pontos simbólicos que o edifício em questão foi testemunho na época do Colégio Maria Mattos. O projeto propõe que a gestão e manutenção do Centro Cultural sejam realizadas através de uma parceria público privada. Serviços de reformas serão necessários no primeiro momento para reestabelecer a estrutura original do edifício e adaptá-lo ao novo uso. As salas destinadas as aulas de aquarela, cerâmica, música, dança, salas de coworking, cafeteria, loja e bistrô poderão ser alugadas para professores e comerciantes locais, garantindo lucro ao empreendimento e a economia da região. A implantação do Centro Cultural Lugar e Memória foi elaborada para apresentar a proposta como um todo em uma escala macro que engloba acessos, estacionamentos, áreas externas e internas e o paisagismo existente e proposto.

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Figura 56 - IMPLANTAÇÃO

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O visitante tem duas opções de acesso. A primeira é pela parte central da cidade onde foi proposto um estacionamento e uma guarita para informação, onde o visitante deixa o carro e sobe a pé até o edifício. E a segunda opção é pelo bairro Morro da Penha que é possível chegar ao Centro Cultural de carro, mas não estacionar, pois as vagas propostas são para embarque e desembarque, carga e descarga ou para idosos e pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida. A ideia é que os visitantes subam a pé e apreciem o caminho agradável sombreado pelas copas das árvores. O acesso secundário é feito pelo jardim lateral arborizado onde possui espaços agradáveis, assim como o catavento e o caramanchão que são elementos que foram resgatados da época do Colégio Maria Mattos e que nesse projeto possuem uma linguagem estética contemporânea. Inclusive, a proposta de resgatar o catavento é para reaproveitar o seu trabalho cinético para o fornecimento de energia eólica para abastecer parte da iluminação das áreas externas. A parte de trás do centro cultural conta com espaços ao ar livre para as crianças, gramado para piquenique, quadra, resgate da gruta com lago para meditação e um deck de contemplação para o visitante apreciar a vista. Vale a pena evidenciar que a vegetação existente foi preservada e ainda algumas foram propostas para completar o paisagismo do Centro Cultural para atrair ainda mais natureza para dentro da cidade proporcionando ambientes agradáveis aos visitantes. A planta baixa a seguir corresponde ao pavimento térreo com a setorização do edifício e das áreas externas identificadas e os acessos da proposta.

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Figura 57 - SETORIZAÇÃO - TÉRREO

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O pavimento térreo abriga muitos espaços livres como o largo da entrada com decks, vegetação, bancos, o jardim lateral que retoma o catavento que sempre existiu no colégio e foi retirado com passar dos anos, o pomar e a horta, o pátio central e ainda o jardim inferior que possui bancos, gruta para meditação, parquinho e espaço para piquenique. Além do acesso para o auditório, há mais dois acessos que o visitante pode adentrar ao edifício, um pelo jardim lateral, considerado o secundário e o acesso principal que é a entrada da recepção e do memorial. O visitante que entrar pelo memorial terá a oportunidade de conhecer de primeira a história do Colégio Maria Mattos e entenderá o motivo de ser tão querido por tantos. Após conhecer as memórias guardadas no edifício, o visitante poderá aproveitar dos outros espaços do centro cultural, como o pátio central, tomar um café, visitar a capela, contemplar a exposição de arte, visitar a loja, o bistrô, apreciar as paisagens e usufruir da área externa. Vale salientar que todos os fluxos percorridos pelos visitantes contemplam acessibilidade por meio de rampas e plataforma de elevação. O pavimento térreo do Centro Cultural conta com dois blocos de banheiros, contando com banheiros acessíveis e também com dois blocos de circulação vertical para acesso ao 1º pavimento por meio de escadas e elevadores. A seguir apresenta a planta baixa do 1º pavimento assim como a setorização proposta para o projeto do Centro Cultural Lugar e Memória.

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Figura 58 - SETORIZAÇÃO - 1º PAVIMENTO

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O 1º pavimento do Centro Cultural contempla os ambientes de sala de música e dança, que são práticas que existiam na época do Colégio Maria Mattos e a cidade de Anchieta possui moradores interessados nessas atividades. Professores de dança e música da região poderão dar aulas nessas salas e as aulas poderão ser agendadas na recepção. As salas de coworking presentes também nesse pavimento são destinados aquelas pessoas que precisam de um espaço com estrutura para reuniões, aulas de reforço escolar ou algo semelhante e a reserva do espaço será feita também na recepção do prédio. A biblioteca municipal de Anchieta funciona em um imóvel alugado pela prefeitura e esse projeto dispõe de um espaço adequado para a acomodação da biblioteca aberta ao público. Os visitantes do centro cultural que desejam visitar o primeiro pavimento terão a oportunidade de conhecer a biblioteca e observar pelas janelas do alto o espaço do térreo. Além disso, temos o auditório que será utilizado para a realização de eventos e apresentações que poderão ser sediados tanto pelos alunos do centro cultural como pelos moradores de Anchieta que desejarem.

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110


As imagens tridimensionais a seguir ilustram a proposta para o Centro Cultura Lugar e Memória, evidenciando a relação do novo com o preexistente e valorizando os pontos simbólicos do Colégio Maria Mattos. Para receber os visitantes foi proposto um pórtico de entrada com um estacionamento e uma guarita para informações (Figura 59). A ideia é que o visitante deixe seu carro estacionado e suba a pé até o Centro Cultural Lugar e Memória, considerando que apesar do percurso ser inclinado é possível subir sem se desgastar e ainda aproveitar o caminho arborizado. Para aqueles que preferirem ou para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida foi proposto um segundo acesso com vagas para cadeirante, idoso ou para embarque e desembarque no nível do centro cultural. Vale reforçar que as construções novas que foram propostas possuem uma linguagem contemporânea para não cometer falso histórico, seguindo as ideias de Carbonara (2011) quando trata da relação do novo com o antigo.

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Figura 59 - ESTACIONAMENTO E GUARITA

Fonte: Elaborado pela autora, 2021. LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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Figura 60 - CHEGADA

Após a chegada ao centro cultural, o visitante é recebido com um deck de contemplação, mobiliário para sentar, vegetação e o edifício que o convida para adentrar tanto pelo memorial ou pelo jardim lateral (Figura 60).

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 61 - FRENTE DO CENTRO CULTURAL

Além disso, logo na chegada está o auditório que teve sua arquitetura mantida e recebeu uma intervenção na parte da escada e foi acrescido a plataforma elevatória para garantir a entrada acessível. Na imagem a seguir também mostra aos fundos o segundo acesso que corresponde a uma rotatória com vagas para cadeirante, idoso e vaga para carga e descarga e embarque e desembarque. O deck que aparece na imagem na lateral esquerda propõe uma parada de contemplação sombreada pela árvore existente de copa ampla e

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

ainda por uma cobertura em madeira que se localiza onde era antigamente o caramanchão da escola (Figura 61).

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Figura 62 - FRENTE DO CENTRO CULTURAL

A frente do edifício dispõe de um deck com bancos sugerindo ao visitante a adentrar ao edifício. Nessa parte foi proposto um painel instagramável com o nome do Centro Cultural que funciona como um plano de fundo para os visitantes tirarem fotos (Figura 62).

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 63 - MEMORIAL O visitante que optar por adentrar ao edifício pela entrada principal irá encontrar a recepção e o memorial do Centro Cultural. O memorial foi pensado para ser um espaço que reúna memórias do Colégio Maria Mattos para que o visitante entenda o motivo principal da valorização daquele edifício que ele está conhecendo e para que aqueles que já conhecem a história relembrar e reviver um pouquinho daqueles momentos novamente. A imagem a seguir mostra a recepção na lateral direita e o memorial na lateral esquerda. A parede do centro da Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

imagem possui o nome gravado de alguns dos ex-alunos do Colégio Maria Mattos para representar o nome de tantos outros que também passaram pelo colégio (Figura 63).

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Figura 64 - RECEPÇÃO A recepção foi envolvida com um pórtico de madeira ripada e possui um balcão de apoio com cadeiras de espera. Uma cor que foi muito explorada nesse ambiente foi o bordô que é um tom emblemático para o colégio, pois sempre esteve presente nos revestimentos, nos bancos do pátio e até no uniforme dos alunos. A recepção foi criada para informar os visitantes e também atender aquelas pessoas que desejam usufruírem das atividades oferecidas no Centro Cultural. Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 65 - MEMORIAL Logo ao lado da porta de entrada temos um totem eletrônico informativo como uma espécie de guia para direcionar o visitante dentro do prédio. Ao caminhar até o centro do ambiente o visitante irá encontrar uma maquete física do centro cultural também para informar sobre as partes constituintes do edifício e para ser mais uma forma de eternizar a construção desse edifício importante. Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 66 - MEMORIAL O objetivo desse espaço foi justamente reunir as memórias afetivas que hoje viraram saudade. Sendo assim, através de um levantamento de imagens, relatos e histórias de ex-alunos do colégio foi possível reunir fotos de vários momentos especiais e foi criado um painel para abrigar essas recordações. Além desse painel, a Figura 66 a seguir mostra o pórtico que foi criado com portas pivotantes para convidar o visitante a continuar o percurso. Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 67 - PAINEL DE RECORDAÇÕES

A Figura 67 a seguir mostra as fotos de momentos reais dos alunos do Colégio Maria Mattos, tem algumas mais antigas e outras mais novas, fotos de eventos, das atividades do dia a dia e de apresentações anexadas ao painel da memória que possui a frase “recordar é viver” para instigar ao visitante a voltar no tempo ao apreciar aquelas imagens.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 68 - PAINEL DE RECORDAÇÕES Seguindo com o objetivo de eternizar as memórias no espaço do Memorial foi criado um painel com o nome, foto e biografia de algumas personalidades importantes que foram cruciais para o Colégio Maria Mattos. Dentre essas personalidades se encontram Madre Maria das Neves que foi a fundadora da Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência, Dom Helvécio fundador do Colégio Maria Mattos, Irmã Silvia professora de música e de geografia, Irmã Maria do Carmo professora de religião e geografia, Irmã Ignez foi a última diretora do Colégio, Irmã Tarcísia professora de Língua Portuguesa e diretora, Irmã Sônia diretora e Irmã Isolete que foi professora Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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de psicologia e diretora.

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Figura 69 - PAINÉIS COM A HISTÓRIA DO COLÉGIO MARIA MATTOS

Do outro lado temos 3 painéis que contam um pouco da história do Colégio Maria Mattos para os visitantes se informarem.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 70 - PAINEL INTERATIVO

No centro do memorial foi criado um painel interativo com a mensagem “guarde aqui a sua memória” para os visitantes que tiverem vontade de anexar uma mensagem, fotos ou qualquer coisa que relembre da época do colégio.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 71 - HALL DE CIRCULAÇÃO VERTICAL

Nesse mesmo ambiente encontra-se o hall de circulação vertical para o acesso ao pavimento superior com escada e elevador, assim como, o acesso aos sanitários que se localiza abaixo da escada.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 72 - VISTA DO ALTO DO CENTRO CULTURAL Voltando ao jardim lateral que sugere um acesso secundário, o visitante passa por uma guarita de informação e por pórticos de madeiras que o recepciona para adentrar ao jardim. Esse espaço dispõe de dois elementos simbólicos para o Colégio Maria Mattos. O primeiro é o catavento que foi retirado há alguns anos atrás, mas que sempre foi lembrado no jardim e esse projeto retoma com ele na mesma posição e com a proposta de reutilizar sua força cinética para a produção de energia eólica para abastecer parte da iluminação das áreas externas. E o segundo foi o Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

caramanchão que com o passar do tempo foi destruído, e o projeto propõe um caramanchão no mesmo lugar e com a mesma proposta que é ser um lugar para sentar, conversar apreciando a vista, mas com uma linguagem contemporânea.

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Figura 73 - VISTA DO CARAMANCHÃO O caramanchão sempre foi um elemento muito emblemático para a escola, além do visual que era possível apreciar, era um lugar de muita conversa e este projeto não poderia deixar de traze-lo de volta para continuar sendo testemunhos de momentos agradáveis. Com o passar do tempo, o caramanchão foi sendo destruído e o projeto propõe uma releitura contemporânea desse elemento com cobertura em madeira e guarda-corpo de vidro. A imagem a seguir mostra ao fundo a visual Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

do caramanchão onde é possível contemplar a vista da praia de Anchieta e da região central da cidade.

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Figura 74 - ENTRADA SECUNDÁRIA

Após passar pelo jardim lateral, o visitante encontra a capela a esquerda, o pomar a direita e é direcionado a uma escada ou plataforma elevatória para adentrar ao pátio central.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 75 - PÁTIO CENTRAL O pátio central é esse espaço amplo e livre que foi cenário de muita brincadeira, apresentações e momentos especiais do Colégio Maria Mattos. O aluno se sentia livre ao sair da sala e se deparar com esse espaço amplo e descoberto. A proposta desse projeto foi justamente continuar com essa sensação de liberdade que o espaço propõe, apesar de ser rodeado pelo edifício é um espaço agradável e propõe o passeio ao visitante. Um detalhe que não poderia faltar no projeto e que Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

também é muito representativo do Colégio são esses banquinhos que dividem a varanda do pátio que possuem alturas diferentes e sempre serviram de assentos para os alunos.

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Figura 76 - VISTA DE CIMA PARA O PÁTIO CENTRAL A Figura 76 a seguir é uma vista de cima para o pátio central que mostra uma faixa proposta na paginação do piso com um trecho do hino da escola que é lembrado por todos os alunos que diz “Maria Mattos, meu segundo lar! Jamais esquecerei de ti na vida! No escrínio d’alma, és geme a rutilar... Ôh sê bendita, escola tão querida!”

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 77 - ESCULTURA

O projeto propõe no pátio central uma escultura para os visitantes tirarem fotos com letras gigantes escrito “Lugar e Memória Desde 1932” que faz uma alusão ao nome do centro cultural que foi escolhido por se tratar de um lugar com muitas memórias juntamente com a data da fundação do Colégio Maria Mattos. Além da escultura, a Figura 77 a seguir mostra a capela aos fundos.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 78 - PÁTIO CENTRAL O pátio central e o auditório do Centro Cultural foram pensados para serem espaços para a realização de eventos da cidade, como o desfile para a divulgação do comércio local, eventos culturais, apresentações artísticas, palestras, concursos, entre outros. A Figura 78 a seguir mostra, na lateral esquerda da imagem, um deck que foi pensado para a apresentações e, na lateral direta da imagem, o deck Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

para as mesas da cafeteria do Centro Cultural.

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Figura 79 - PÁTIO CENTRAL Além disso, o pátio central será utilizado pelos alunos do Centro Cultural e será rotineiro encontrar por acaso uma aluna pintando sua tela e praticando o que foi aprendido nas aulas de pintura ofertadas pelo edifício. As salas de aquarela, música, pintura, dança, salas de coworking, lojas e biblioteca são localizadas no edifício que circunda o pátio.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 80 - SINO Outro elemento que foi resgatado da época do Colégio Maria Mattos foi o sino que alertava os horários aos alunos. A proposta foi voltar com o sino e ainda propor ao visitante a relembrar os velhos tempos tocando o sino. Ideias como essa faz com que os visitantes interajam com o edifício e sinta prazer em está ali. Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 81 - BISTRÔ E PAINEL INSTAGRAMÁVEL A imagem a seguir mostra um painel instagramável para o visitante tirar fotos localizado no lugar que tinha outro caramanchão e que também foi destruído com o passar do tempo. O painel em forma de arco possui um jardim vertical e uma frase que diz “Quantas memórias cabem no caramanchão?” para fazer com que o visitante relembre os momentos que passou ali. A esquerda aparece o bistrô que representa uma construção nova e consequentemente uma arquitetura contemporânea com pergolado, vidro, madeira e pórtico em Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

microsseixos. Para adentrar ao bistrô o visitante passa por cima de um espelho d’água e um jardim recepcionando o cliente.

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Figura 82 - BISTRÔ

Uma vista mais próxima no bistrô que é um espaço de passagem para aqueles que vão ao jardim dos fundos, mas também um espaço agradável para um happy hour, encontrar os amigos e se divertir com uma bela vista.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 83 - JARDIM

Logo após o bistrô o visitante é direcionado ao último espaço do Centro Cultural. Nesse jardim o visitante encontra a gruta com um espelho d´água, um deck para contemplação, um parquinho, um gramado para piquenique e uma quadra poliesportiva, além de bancos para sentar e aproveitar o espaço.

Um detalhe interessante que ao adentrar nesse jardim o visitante encontra do chão uma frase muito especial para o Colégio Maria Mattos que era dita pela fundadora da Congregação das Irmãs Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

Carmelitas da Divina Providência que dizia “A vida é curta! Vivamos com a consciência tranquila e teremos o céu perto de nós”.

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Figura 84 - GRUTA

A gruta sempre foi um elemento importante e representativo para o Colégio Maria Mattos e a proposta desse projeto foi resgatá-la com um espelho d’água e uma cruz para ser um espaço de meditação e sem uma religião definida. É um cantinho para o visitante relaxar, meditar e elevar o pensamento para coisas boas.

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

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Figura 85 - ESPAÇO INFANTIL, GRAMADO PARA PIQUENIQUE E QUADRA O espaço infantil foi pensado de uma forma interativa e orgânica com brinquedos em madeira para subir, escalar, pular, escorregar e correr. O gramado para piquenique foi direcionado para aqueles que gostam de reunir, fazer festinha e aproveitar o espaço. A quadra poliesportiva que existe até hoje, mas nunca teve boa estrutura para abrigar os usuários e foi destruída com o passar do tempo, foi proposta com cobertura e arquibancada para a realização de partidas, torneios e campeonatos da cidade. Fonte: Elaborado pela autora, 2021.

Assim foi idealizado esse sonho, um projeto que propõe um espaço público que abriga atividades que reforce os momentos vivenciados no Colégio Maria Mattos, retomando os valores perdidos com a degradação do prédio, almejando ganhos econômicos, sociais, culturais e históricos para a cidade, valorizando o encontro e a socialização das pessoas.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Colégio Maria Mattos simboliza muitos momentos marcantes na vida daqueles que passaram por lá e é fruto de uma forte representatividade na memória da população da cidade de Anchieta. Além de fazer parte da formação social de muitas pessoas, o prédio possui relevância também por compor a herança histórica da cidade. Atualmente, o edifício se encontra em estado de desuso e através de estudos em busca de intervenções que possam recuperar a estrutura pré-existente para reestabelecer o seu funcionamento, a presente pesquisa propõe um projeto de requalificação no prédio do Colégio Maria Mattos, com mudança de uso para um centro cultural. As análises feitas a partir dos estudos de referência contribuíram para o entendimento de um projeto que se atém em um forte conceito e de outro que possui uma proposta semelhante com a desta pesquisa, sendo possível extrair informações pertinentes ao projeto em questão. Ao questionar na rede social Instagram sobre atividades e recordações do Colégio Maria Mattos muitos ex-alunos compartilharam suas lembranças e foi possível perceber o valor afetivo que esses momentos representam na vida dessas pessoas, assim como a importância da recuperação do edifício para Anchieta. Além disso, a coleta dessas informações foi relevante para a aplicabilidade das diretrizes projetuais deste trabalho. Diante da memória afetiva que o Colégio Maria Mattos representa e de sua condição atual de desuso, o projeto propõe uma intervenção de requalificação com mudança de uso para centro cultural com a intenção de consolidar a herança histórica do município de Anchieta para as futuras gerações, abrigando atividades para o público que reforce os momentos vivenciados ali, retomando os valores perdidos com a degradação do prédio, almejando ganhos econômicos, sociais, culturais e históricos. O projeto do Centro Cultural Lugar e Memória oferece espaços agradáveis para receber o visitante e ambientes que sugerem uma volta aos tempos do Colégio Maria Mattos. A LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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proposta conta com um memorial que abriga recordações de ex-alunos do colégio, salas de aquarela, cerâmica, música, dança e exposição de arte para relembrar as atividades que eram praticadas antigamente ali. O programa de necessidades também conta com auditório, capela, espaço infantil, gramado para piquenique, quadra poliesportiva, gruta, biblioteca, bistrô, café e loja. Além disso, o visitante encontra espaços livres, arborizados e agradáveis para estar. A cada passo no centro cultural o visitante conhece um pouquinho da história do Colégio Maria Mattos. Sendo assim, a proposta se atém na história do Colégio e se sustenta com base na inquietação dos moradores de Anchieta e dos ex-alunos ao ver o edifício que tanto representa em estado de abandonado.

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LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

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TCC arqurbuvv LUGAR E MEMÓRIA: RESSIGNIFICANDO O COLÉGIO MARIA MATTOS, ANCHIETA/ES

1min
pages 112-138

Figura 59 - Estacionamento e Guarita

20min
pages 112-145

Figura 57 - Setorização - Térreo

1min
pages 107-108

Figura 58 - Setorização - 1º Pavimento

1min
pages 109-111

Figura 56 - Implantação

1min
pages 105-106

Tabela 3 - Diretrizes e Ações

7min
pages 97-100

Figura 53 - Imagens gerais da condição atual do Colégio Maria Mattos

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Figura 52 - Planta Baixa Original – 1º Pavimento

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page 93

Tabela 2 - Tabela de limites construtivos de cada setor

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Anchieta

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page 90

Figura 45 - Diagrama de análise de condicionantes físicos

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Figura 46 - Visuais do Colégio Maria Mattos

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Figura 44 - Acesso do Colégio Maria Mattos

1min
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e municipal

1min
page 89

Figura 43 - Diagrama de análise do entorno

1min
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Figura 42 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos

2min
pages 80-83

Figura 41 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos

1min
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Figura 37 - Eventos no Salão do Colégio Maria Mattos

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Figura 38 - Atividades realizadas na escola Irmã Terezinha Godoy de Almeida

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Figura 40 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos

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Figura 39 - Enquete realizada no Instagram sobre o Colégio Maria Mattos

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Figura 34 - Desfiles pela cidade das alunas do Colégio Maria Mattos

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pages 71-72

Figura 33 - Pintura em aquarela – esportes no Colégio Maria Mattos

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Figura 31 - Pintura em aquarela – cidade antiga com o Colégio Maria Mattos

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Figura 27 - Pintura em aquarela com alunas do Colégio Maria Mattos

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Figura 30 - Pintura em aquarela – Colégio Maria Mattos

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Figura 24 - Colégio Maria Mattos

2min
pages 61-62

Figura 25 - Desenho e pintura em aquarela da parte antiga de Anchieta

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Figura 23 - Edificações históricas da cidade de Anchieta/ES

2min
pages 59-60

Figura 22 - Centro Cultural Anchieta

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Figura 18 - Localização do município de Anchieta

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pages 53-54

Figura 17 - Pátio interno da Casa Daros

2min
pages 48-49

Figura 16 - Interior da Casa Daros

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Figura 15 - Interior da Casa Daros

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Figura 13 - Planta baixa do térreo e do 1º pavimento da Casa Daros

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Figura 14 - Planta baixa do 2º e 3º pavimento da Casa Daros

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Figura 11 - Montagem com a localização da Casa Daros

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Figura 9 - Imagem do Espaço Memória

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Figura 7 - Imagem do interior do pavilhão

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Figura 1 - Vista área do projeto do Memorial Brumadinho

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Figura 8 - Imagem do percurso do projeto do Memorial Brumadinho

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Figura 4 - Implantação do trecho do percurso do projeto do Memorial Brumadinho

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Figura 6 - Imagem do mirante do projeto do Memorial Brumadinho

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Figura 2 - Implantação do projeto do Memorial Brumadinho

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Figura 3 - Planta baixa do pavilhão do projeto do Memorial Brumadinho

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