100 lendas do folclore brasilei a s franchini

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– Ora, eu dou um jeito! – disse ela, segura de si. – Venha comigo! O casal atravessou a mata até encontrar uma árvore de galhos resistentes e flexíveis. – Ótimo, esta é perfeita! – disse ela, começando a escalar o tronco. O índio ficou observando-a sonhadoramente, a relembrar o seu primeiro encontro. – O que está esperando? Suba comigo! – ralhou ela, do alto. Os dois encarapitaram-se no galho mais alto, que começou a vergar até atingir o chão. – Agora, desça – disse ela, com a mesma segurança de sempre. – Mas você pode se machucar! – gemeu ele. – Ah, que bobagem! – disse ela, botando-o pra fora do galho com um empurrão. Assim que o índio caiu, o galho catapultou a jovem para o alto, numa velocidade espantosa. – Me aguarde, eu voltarei! – disse ela, misturada já com as nuvens. O tempo passou até que, no primeiro temporal, o índio começou a correr pra todo lado, esperando a descida da amada. Dali a instantes, enxergou-a pendurada num galho. – Me ajude, isto está pesado! – disse a índia. Ela atirou do alto um saco enorme cheio de sementes que quase esmagou o marido e depois desceu, num pulo, com a suavidade que lhe era peculiar. – O que está fazendo? O marido estava comendo as sementes com as duas mãos. – Isto não é para comer, mas para plantar! Então ela ensinou o kaiapó a fazer uma roça, e depois a semeá-la. – Você não vai acreditar no que vai surgir daqui! – disse ela, vaidosa. Não demorou muito e começou a surgir uma plantação enorme de milho. – Puxa, que lindo! – exclamou ele. – Mas e destas outras, por que nada nasceu? – Você que pensa! – disse ela, arrancando de debaixo do solo tubérculos enormes de batata, inhame e mandioca. – Mais tarde nascerão as árvores frutíferas, e muitas delícias mais! Os dois se abraçaram, felizes, e desde então a fome deixou de afligir os kaiapós.


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