Jornal ORL 31

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São esperados muitos otorrinolaringologistas espanhóis no 71º Congresso da SPORL-CCP

Número 31

JANEIRO-ABRIL 2024

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Fausto Fernandes:

“Ao nível da pré-graduação, a ORL deveria merecer mais atenção”

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Publicações

J.

Marques dos Santos, a propósito do 71º Congresso da SPORL-CCP / X Congresso Luso-Galaico de ORL:

“Esperamos a vinda de muitos otorrinos do norte de Espanha”

O próximo Congresso da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, que se realiza no final de abril, será aproveitado para “reatar os encontros científicos com os nossos colegas da Galiza”, sublinha José Marques dos Santos, presidente da SPORL-CCP.

O local para a realização do principal evento anual da Otorrinolaringologia portuguesa roda, habitualmente, entre o norte, o centro e o sul de Portugal. A escolha de Braga para palco da 71.ª edição do Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço terá contribuído

sobremaneira para a concretização do X Congresso Luso-Galaico de ORL. O presidente da SPORL-CCP confirma isso mesmo, admitindo que a proximidade física da cidade de

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Braga à Galiza foi um estímulo para que o desafio fosse lançado a Andrés Soto Varela, professor catedrático da Universidade de Santiago de Com-

postela e presidente da Sociedade Galega de Otorrinolaringologia e Patologia Cervicofacial.

“Ficou muito agradado com a ideia e aceitou de imediato”, refere J. Marques dos Santos, lembrando que a última reunião luso-galaica ocorreu em 2015. “Esperamos a vinda de muitos colegas do norte de Espanha, também pelo facto de

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existir uma estreita parceria entre as duas sociedades”, acrescenta. O 71.º Congresso da SPORL-CCP e o X Congresso Luso-Galaico de ORL vão decorrer em simultâneo, com um programa científico comum. A reunião estende-se por três dias, de 26 a 28 de abril, com as sessões acontecendo em quatro salas do Altice Fórum Braga. J. Marques dos Santos faz questão de salientar que, para além dos especialistas espanhóis que se deslocam desde a Galiza, virão também alguns otorrinos de renome do Hospital Universitário La Paz, em Madrid, como Javier Gavilán Bouzas, Luis Lassaletta, José Manuel Morales Puebla ou Isabel García Lopez. Também estarão presentes Manuel Manrique, da Universidade de Navarra, e Colin Butler, do Reino Unido.

Cecília Almeida e Sousa será a presidente de Honra do Congresso

A otorrinolaringologista Cecília Almeida e Sousa vai ser a presidente de Honra do Congresso de Braga. Aposentada desde novembro de 2021, mas mantendo a atividade clínica a nível privado, fez o internato da especialidade no Hospital de Santo António, acabando por ficar ligada àquela instituição durante 38 anos, os últimos

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16 como diretora do Serviço de ORL. Lecionou durante toda a sua vida profissional, nomeadamente como professora catedrática convidada do Mestrado Integrado em Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.

J. Marques dos Santos esclarece que “toda a Direção da SPORL-CCP votou favoravelmente que fosse alvo desta homenagem”, sendo Cecília Almeida e Sousa “uma pessoa consensual, muito prestigiada entre nós, reunindo todas as condições para ser a presidente de Honra deste evento”. De referir que a Comissão Organizadora do 71.º Congresso da SPORL-CCP é constituída por quatro elementos da Direção daquela Sociedade: Victor Correia da Silva (vice-presidente norte), João Elói Moura (secretário-geral) e ainda Sandra Alves e Tiago Órfão (vogais).

COORDENAÇÃO

Sandra Alves noticiassporl@gmail.com

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J. Marques dos Santos Andrés Soto Varela Cecília Almeida e Sousa

Depois de defender a tese tendo como palco a Universidade Autónoma de Madrid, José Marques dos Santos deixa a seguinte mensagem:

“Que o meu doutoramento sirva de exemplo e de estímulo para os nossos jovens otorrinos”

Foi a “experiência e uma paixão muito antiga” pela cirurgia do ouvido que contribuíram decisivamente para que o otorrinolaringologista José Marques dos Santos trabalhasse durante os últimos 4 anos numa tese de doutoramento que defendeu, perante um júri internacional, dia 8 de março, na Universidade Autónoma de Madrid.

José Marques dos Santos, 67 anos, atual presidente da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SPORL-CCP), desenvolveu, ao longo dos anos, “uma paixão muito grande pela reconstrução cirúrgica do ouvido médio”, o que haveria de tornar óbvia a escolha do tema para a tese do doutoramento que decidiu fazer.

“O meu trabalho de investigação procurou avaliar quais as vantagens da utilização de próteses de titânio nas diferentes técnicas cirúrgicas realizadas no ouvido médio, nomeadamente a sua eficácia, ou eventuais contraindicações. Fui apoiado neste estudo pelo meu diretor de tese, o Prof. Javier Gavilán Bouzas, professor da Universidade Autónoma de Madrid e diretor do Serviço de ORL do Hospital Universitário La Paz”, refere o médico.

Esse apoio, vindo de “um nome reconhecido a nível internacional”, terá sido decisivo, segundo

J. Marques dos Santos, para o levar a enfrentar o “desafio do doutoramento”. O prestígio do

“O meu trabalho de investigação procurou avaliar quais as vantagens da utilização de próteses de titânio nas diferentes técnicas cirúrgicas realizadas no ouvido médio.”

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exemplo otorrinos”

Hospital La Paz também contribuiu para essa sua decisão, recordando que, “durante muito tempo, à segunda-feira, apanhava o avião da noite para Madrid, porque à terça era dia de Bloco de Otologia”.

Também reconhece o orgulho em ter apresentado a sua tese de doutoramento, intitulada “Ganancia auditiva, biocompatibilidad y extrusión de prótesis de titanio en la reconstrucción quirúrgica del oído medio” , na Universidade Autónoma de Madrid, “muito prestigiada em Espanha e a nível internacional”, tendo, aliás, obtido na defesa da tese a distinção máxima atribuída por aquela instituição.

A avaliar a tese defendida por J. Marques dos Santos esteve um júri constituído por Serafin Sanchez (Univ. de Sevilha, próximo presidente da SEORL-CCC); Luis Lassaletta

(Univ. Autónoma de Madrid, presidente da Secção de Otologia da SEORL-CCC); José Manuel Morales Puebla (Univ. Autónoma de Madrid); João Paço (Univ. de Lisboa) e António Miguéis (Univ. de Coimbra).

“Nunca é tarde para ter um novo objetivo ou sonhar um sonho novo”

Coordenador do Serviço de ORL do Hospital CUF Viseu desde 2016, J. Marques dos Santos é natural de Luanda, licenciou-se em 1980 pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e dedicou

José Marques dos Santos foi eleito presidente da SPORL no seu 69.º Congresso Nacional, tomando posse alguns dias depois, a 28 de maio de 2022.

depois 38 anos da sua vida ao SNS (entre 1981 e 2019), os últimos dez dos quais como diretor do Serviço de ORL do Hospital de São Teotónio, que hoje integra a ULS de Viseu - Dão Lafões.

A sua ligação à Direção da SPORL-CCP iniciou-se em 2013, quando assumiu as funções de secretário-geral, ascendendo a vice-presidente da Zona Centro em 2016, repetindo esse cargo no mandato seguinte, iniciado em 2019. Foi eleito presidente desta Sociedade no seu 69.º Congresso

Nacional, tomando posse alguns dias depois, a 28 de maio de 2022. Ainda a propósito do seu doutoramento, J. Marques dos Santos faz questão em recordar a frase que escolheu para concluir a apresentação da sua tese, da autoria do escritor e filósofo C. S. Lewis: “Nunca é tarde para ter um novo objetivo ou sonhar um sonho novo.”

“Achei que se adaptava perfeitamente à minha carreira, uma vez que, depois de ter sido diretor de serviço durante 10 anos num hospital público, mais 8 que já levo com a mesma responsabilidade numa instituição privada, e de presidir a uma sociedade científica, digamos que a tese era algo que me faltava. E, felizmente, consegui!”, exclama, concluindo: “”Que isto sirva de incentivo e de exemplo para os mais jovens. Pessoalmente, eu já não precisava deste título para a minha carreira, mas espero que esta minha atitude sirva de estímulo para os nossos jovens especialistas. Que não desistam de sonhar um sonho novo, ou de cumprir um novo objetivo, porque é compensador!”

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Serafin Sanchez, João Paço, Luís Lassaletta, J. Marques dos Santos, Javier Gavilán Bouzas, António Miguéis e José Manuel Morales Puebla

Fausto Fernandes, presidente de Honra da Reunião do Núcleo Norte

“Ao nível

da

pré-graduação, a ORL deveria para

que outras especialidades tivessem

Fausto Fernandes lamenta que a formação em ORL seja tão escassa durante o ensino pré-graduado, traduzindo-se desde logo nalguma carência de conhecimentos das equipas de Cuidados de Saúde Primários sobre esta área. Após 39 anos de carreira pública, o médico aposentou-se, em 2016, contudo, a sua dedicação aos doentes tem-se mantido, através do setor privado. Esta entrevista concedida à Just News aconteceu na sequência da homenagem que lhe foi prestada na Reunião do Núcleo Norte / Reunião do Interno ORL, eventos dinamizados pela SPORL-CCP, no final de novembro, em Guimarães.

Just News (JN) − Para si, o nariz é uma parte importante do corpo?

Fausto Fernandes (FF) − O nariz num adulto pesa só 70 gramas, mas é muito importante no género humano pelo seu papel na função respiratória, no olfato… O olfato é fundamental para a alimentação, a defesa, a orientação e o relacionamento entre as pessoas. Exemplo da sua importância foi que durante a covid-19 muitas pessoas ficaram sem olfato e sentiram como essa falta era importante.

Por outro lado, em termos estéticos, o nariz é muito relevante, sendo marcante para a beleza e o equilíbrio da face. Um aspeto interessante é que, aquando do conhecimento presencial de duas pesso-

as, é o órgão que fica mais próximo do outro.

JN − A relevância do nariz é reconhecida por todos os otorrinolaringologistas. Os colegas das demais especialidades valorizam o nariz de igual forma?

FF – No que respeita à especialidade, é um órgão de grande importância, pela sua função, pela patologia que por vezes apresenta e, atualmente, pela área da cirurgia plástica do nariz. Tivemos o gosto de participar na introdução no nosso país desta vertente cirúrgica, a rinoplastia, e ainda ter colaborado na sua divulgação.

Ao nível da pré-graduação, a Otorrinolaringologia deveria merecer mais

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Norte 2023 da SPORL-CCP:

deveria merecer mais atenção, tivessem mais conhecimentos nesta área”

Fausto Fernandes:
“Quero é que sejam honestos e felizes!”

Fausto Fernandes nasceu no Porto, precisamente no Dia de São João (24 de junho) do ano de 1952. Fez todos os seus estudos na Cidade Invicta, incluindo a licenciatura em Medicina. O internato de Policlínica seria realizado no Hospital de São João. Fazendo então parte integrante da carreira médica, em 1979, foi colocado no Serviço Médico à Periferia, em Vimioso. Recorda a “experiência fantástica” que viveu e conta que, durante esse ano, juntamente com dois colegas que viriam mais tarde a optar pelas especialidades de Endocrinologia e de Psiquiatria, faziam em clínica “tudo”, porque não havia médico residente, incluindo pequenas cirurgias, redução de fraturas simples, partos, exames de radiologia, etc. “Uma experiência enriquecedora do

atenção. Os colegas de outras áreas têm muito pouca informação sobre a nossa especialidade. No sistema de saúde onde estamos inseridos, em que os CSP são extremamente importantes e desempenham um trabalho fantástico, valia a pena

ponto de vista médico e humano”, reconhece.

Pai de um “rapaz” de 43 anos, dentista, e de uma “menina” de 40 anos, farmacêutica, adianta que nunca lhes apontou um caminho a seguir. “Quero é que sejam honestos e felizes”, sublinha. Com uma neta de 13 anos e um neto de 9, adianta que o rapaz joga no Boavista Futebol Clube, pelo que, por vezes, acompanha os seus jogos, aos sábados de manhã.

Quanto a hobbies, há uns anos, tentou jogar golfe, mas diz não ter jeito. Por sua vez, gostava muito de esquiar, atividade a que dedicava duas semanas por ano, mas há três anos deixou de poder fazê-la por limitações físicas. Desde então, durante os seus tempos livres, procura ler, ir ao cinema e estar com os amigos.

que essa e outras especialidades tivessem mais formação nesta área, sede de inúmeras patologias. Neste sentido, têm sido desenvolvidas inúmeras ações de formação.

(Continua na pág. 8)

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JN − Em que momento da sua vida equacionou seguir ORL? Foi no decorrer do curso?

FF – Não! Quando vim do Serviço Médico à Periferia, fiquei mais de 2 anos no Hospital de São João a trabalhar em Medicina Interna e Cardiologia e gostava bastante desta última. Em 1981, participei no concurso para entrada na especialidade, tendo ficado bem colocado, pelo que podia escolher a área de que gostava. Estava indeciso entre Cardiologia e Otorrino, mas sentia que esta seria uma especialidade com grande campo de desenvolvimento. Decidi então ir para ORL no Hospital de São João.

Devo dizer que foi uma grande surpresa, porque pensava que seria menos trabalhosa que Medicina Interna. Nós partimos de uma base de conhecimento muito pequena do que é, na realidade, a especialidade -- o seu âmbito, o seu campo de atuação, as patologias --, porque praticamente não temos formação. Saímos do curso a saber muito pouco de patologias de ouvido, nariz, faringe e pescoço. Foi, por isso, uma agradável e apaixonante surpresa!

JN − A complexidade da especialidade surpreendeu-o?

FF – Sim! E o desenvolvimento que teve, nomeadamente com a introdução das novas tecnologias. Houve uma clara evolução desde que eu entrei, em 1982, no Hospital de São João. Tive o prazer de dinamizar e inovar em algumas áreas, nomeadamente, da vertigem, da cirurgia funcional e plástica do nariz e das patologias do sono, que são desafios interessantes.

JN – Essa evolução tem sido gradual?

FF – Sim. Deve-se muito ao facto de podermos contactar colegas de todo o mundo, podendo participar em cursos e formações, bem como estágios, no estrangeiro. Houve uma abertura fantástica. Antigamente, eram poucos os que iam para fora do país. A partir de determinada altura, as pessoas passaram a poder ir, as portas estavam abertas. Foi possível ir aprender com colegas e serviços de referência mundial. Tal deve-se ao bom nome que deixamos, à abertura e facilidade de ir pelo mundo, bem como à muito importante sponsorização da formação médica. Até à década de 80, quase não havia apoio da indústria farma-

cêutica e dos equipamentos a essa formação. No início dos anos 90, o paradigma mudou e as empresas começaram a investir mais na formação dos médicos. Registou-se um desenvolvimento muito grande, até há cerca de três anos, quando começou a observar-se um declínio. O budget que é alocado a essa formação tem vindo a desaparecer. Houve um ressalto tremendo, a vários níveis.

JN – Quais são os países com que a ORL portuguesa tem interagido e aprendido mais?

FF – Relativamente à Europa, são fundamentalmente Espanha, França, Itália e Grã-Bretanha. Fora da

“No início dos anos 90, o paradigma mudou e as empresas começaram a investir mais na formação dos médicos. Registou-se um desenvolvimento muito grande, até há cerca de três anos, quando começou a observar-se um declínio.”
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Europa, destaco a colaboração com os colegas do Brasil e dos Estados Unidos. É de realçar a colaboração fraterna com os colegas espanhóis e, entre estes, os colegas galegos, no intercâmbio científico e troca de experiências. Curiosamente, tivemos o prazer de ajudar a estabelecer a parceria com o Brasil, criando os congressos luso-brasileiros (com os presidentes Dr. Manuel Filipe Rodrigues e Marcos Mocellin, respetivamente, da Sociedade Portuguesa e da Sociedade Brasileira de ORL), em 1997, data a partir da qual muitos colegas têm ido lá, dada a facilidade da língua, a simpatia e a massa crítica muito superior à nossa. Do ponto de vista

tecnológico, há ainda a realçar os colegas de outros países europeus e dos EUA, muito desenvolvidos do ponto de vista formativo, que nos ajudam muito e vêm até cá com a maior das simpatias e facilidades.

A tentativa de reunir as condições necessárias ao exercício clínico

JN – Como surgiu a Medicina na sua vida? Foi influenciado por alguém?

FF – Gostava da área, desde pequeno. Tive dois médicos amigos que nunca me disseram “Vai!”, mas cuja dedicação e sentido de utilidade eu apreciava. Eram para mim referências como pessoas, cidadãos e

o curso com uma Bolsa de Mérito da Fundação Calouste Gulbenkian. Havia a condição de não poder ter nenhuma nota inferior a 14. Volta e meia, ficava um pouco “roído” quando me convidavam para ir a uma festa de garagem e eu recusava, porque tinha teste no dia seguinte. Se fosse hoje, iria. Por sua vez, trocava o tempo dedicado ao lazer e amigos pelo estudo para os testes. Tinha que ser!

JN – Gostou de fazer o internato da especialidade no Hospital de São João?

médicos. Transmitiram-me o sentido de missão, de ser útil ao outro.

JN – Era um jovem ajuizado?

FF – Tinha de ser! Não que me impusessem. Os meus pais não eram ricos, mas não tínhamos necessidades. A partir do 6.º ano, no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, tive boas notas. Tive também a melhor nota de entrada no exame de admissão, na Faculdade de Medicina. Ganhei um prémio fabuloso, no valor de 2000 escudos. Estávamos em 1970!

JN – Os seus pais nunca tiveram de obrigá-lo a estudar? Fê-lo sempre por sua iniciativa?

FF – Era o meu trabalho! Fiz todo

FF – Gostei. Ao mesmo tempo que decorria o internato da especialidade, era assistente da Faculdade, e daí veio o “bichinho” pela investigação clinica e pela docência. Estive no serviço 5 anos. Aprendi muito com os colegas e criei boas amizades para a vida. Estávamos em 1987. Após concurso público realizado no Hospital de Santo António, fui colocado no recém-inaugurado Hospital de Chaves, na altura, a três horas e meia de distância do Porto. A medida teve impacto em mim e em mais 24 colegas de Cirurgia Geral, Anestesia, Oftalmologia, Ortopedia, Cardiologia e outras especialidades. Eu fui o primeiro otorrinolaringologista de Chaves. Quando lá cheguei, apresentaram-me um gabinete de consulta fantástico, envidraçado, com vista para a Serra do Larouco, Montalegre, mas não tinham equipamento nem material cirúrgico. Sem internamento nem acesso ao bloco operatório!

JN – Como reagiu a esse cenário?

FF – Tinha duas hipóteses. Nessa altura, o presidente da Comissão Instaladora da Administração era o Dr. Júlio Montalvão Machado, uma pessoa fantástica.

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(Continuação da pág. 9)

“Você quer ir-se embora?”, perguntou-me ele.

“Sr. Dr., eu não estou aqui a fazer nada. Na minha clínica, no Porto, tenho muitos doentes. No São João, tinha todas as condições, trabalhava em equipa, e aqui não há nada”, disse eu.

“Não faça isso, nós vamos arranjar-lhe as condições. É preciso organizar”, respondeu-me.

Nessa altura, pedi apoio à Secretaria de Estado da Saúde, tendo ido algumas vezes a Lisboa, para que me ajudassem a montar e a organizar um serviço, em termos de recursos humanos e equipamentos. Elaborei um projeto e, entretanto, consegui que um colega de clínica geral fosse ajudar-me. E devo dizer que me ajudou muito. Ficámos grandes amigos. Foi na época da primeira bancarrota, daí que os financiamentos

do Ministério da Saúde estivessem totalmente parados. Não consegui equipamento nenhum. Depois, aconteceu algo de curioso. Em 1988, estava a desabafar com amigos sobre a falta de condições para tratar doentes do foro de ORL do Alto Tâmega. Então, este amigo sugeriu que apresentasse um projeto a uma ONG da CEE chamada “Comission Femmes D´Europe”, porque com certeza iriam ajudar financeiramente. “Preciso de umas centenas ou de milhares de contos”, respondi-lhe.

Essa Comissão funcionava no Edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia, e era presidida pela esposa do senhor embaixador da Bélgica e também pela esposa do presidente da Comissão Europeia, madame Dellors. Esta Comissão financiava anualmente alguns projetos. Fiz uma exposição e o meu projeto foi aprovado. Deram-me um cheque

de 4800 contos, em francos belgas, que, à época, era muito dinheiro, dando para equipar todo o Serviço. Entreguei o cheque na Administração, mas o equipamento não chegou. Infelizmente, foi destinado a outro Serviço. Fiquei desiludido. Decidi sair!

JN – Então e depois? FF – Nessa altura, fui convidado a reorganizar o Serviço de ORL do antigo Hospital Distrital de Guimarães, que estava desativado há já alguns anos, e eu mostrei vontade de ir: Contudo, não me deixariam sair porque éramos poucos os otorrinos em Trás-os-Montes, tendo o hospital a cobertura de 180 mil habitantes.

De Guimarães, trataram da minha transferência. Assim foi. Fiquei mais três meses a operar os doentes que estavam em lista de espera para cirurgia e depois fui-me embora. Acabei por estar cerca de quatro

anos em Chaves, tendo realizado imensa clínica, embora com enormes dificuldades, já que estive, como especialista, sempre sozinho. Mas a verdade é que cresci muito do ponto de vista humano e médico. Ainda assim, continuei lá com o meu consultório durante 17 anos. Tive a oportunidade de tratar milhares de doentes!

JN – Como correu a experiência em Guimarães?

FF – Após concurso, entrei para o quadro do Hospital de Guimarães. Consegui organizar o Serviço. Durante dois anos era só eu. Fazia tudo o que fosse preciso, mas deram-me condições para tal. No início, ninguém queria ir para lá, porque o Serviço era muito reduzido. Felizmente, quando saí, éramos 14, incluindo internos, passando a ser escolha de colegas com qualidade e empenho, devido à qualidade do desempenho

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e ao ambiente que lá se vivia. Entretanto, passaram por lá outros elementos de grande mérito, que muito ajudaram a desenvolver o Serviço e que se encontram agora noutras instituições, ocupando, inclusive, lugares de Direção.

“Acabei por estar cerca de quatro anos em Chaves, tendo realizado imensa clínica, embora com enormes dificuldades, já que estive, como especialista, sempre sozinho. Mas a verdade é que cresci muito do ponto de vista humano e médico.”

Acabei por ficar em Guimarães 25 anos, de 1991 a 2016, sendo que entre 2002 e 2007 assumindo as funções de diretor clínico do Hospital. Recordo que a 25 de setembro de 1991, pouco depois da minha chegada, mudámos para o novo edifício, entretanto batizado de Hospital da Senhora da Oliveira. Mais tarde, seria criado o Centro Hospitalar do Alto Ave, que reunia 720 camas, e foi nesse ano que cessei as minhas funções como diretor clínico, regressando ao Serviço de ORL.

O contributo para a evolução da SPORL-CCP

JN – Sempre manteve uma ligação à SPORL-CCP e uma presença

permanente nas suas reuniões, nomeadamente no Congresso?

FF – Sim, estou presente sempre que posso. O Congresso anual é muito importante, não só pela vertente científica e pela troca de experiências como também pelo convívio com os colegas. A este 71.º Congresso Nacional da SPORL-CCP não vou poder ir, porque fui convidado a palestrar no 14th Course on Obstructive Sleep Apnea, organizado pelo Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Fuenlabrada, da Universidade Autónoma de Madrid, que decorrerá entre 24 e 26 de abril.

Na SPORL-CCP, assumi diversas funções. A mais marcante, até pelas dificuldades existentes ao tempo, foi a de tesoureiro…

JN – E aceitou?

FF – Sim, fui o tesoureiro da SPORL-CCP entre 2001 e 2004. O ambiente era de grande conflito a nível das contas. Foi necessário arrumar as

contas. A situação lá se resolveu, tendo as mesmas sido aprovadas por unanimidade durante aquele período. No último ano, foram-no, inclusive, por unanimidade e aclamação. Triplicámos o saldo, sendo este, no final, de cerca de 620 mil euros.

Ao longo do tempo, assumi ainda as funções de secretário da Assembleia-Geral (1995-1997) e de vogal do Conselho Fiscal (2013-2016). Com muito gosto, fui também vogal da Direção da Sociedade Galega de OR (2005-2022), aproveitando para estreitar as relações entre as duas sociedades e os seus membros, com intercâmbio frutuoso entre os otorrinos dos dois países.

“Acho que, hoje em dia, a SPORL-CCP é uma sociedade agregadora.”

JN – Considera que a SPORL-CCP tem representado o papel que se esperaria de uma sociedade científica?

FF – Sim. Como acontece com todas elas, no seu crescimento, terá passado por algumas dificuldades e ajustes. Colaborei, dentro do que me foi possível, dando o meu modesto contributo com dedicação e entusiasmo. Assistindo de fora, penso que será uma entidade agregadora e que desempenha um papel essencial na transmissão dos conhecimentos científicos da especialidade a todos os membros e principalmente aos mais novos.

JN – Gostou de ser homenageado na Reunião do Núcleo Norte / / Reunião do Interno ORL?

FF – Claro! Foi uma generosidade da atual Direção da SPORLCCP, que agradeço. Gostei muito de ser homenageado, porque eu sinto e

(Continua na pág. 12)

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(Continuação da pág. 11)

emociono-me com a manifestação dos meus pares e da comunidade! Não estava à espera e fiquei até um pouco admirado. Foi com emoção que ouvi os meus colegas a falar de improviso, do coração, sobre a minha carreira. Todos foram fantásticos nos seus discursos. Mas perdoem-me que destaque as palavras proferidas pelo atual diretor do Serviço de ORL do Hospital da Senhora da Oliveira, Dr. Rui Fonseca, e do senhor presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Dr. Domingos Bragança, este último pelo reconhecimento da comunidade que sirvo. Acho que foi um momento muito natural. Desinteressadas, foram palavras que me caíram muito fundo.

“Gostei muito de ser homenageado, porque eu sinto e emociono-me com a manifestação dos meus pares e da comunidade!”

JN – Vai-se mantendo profissionalmente ativo, presumo que seja porque gosta muito do que faz! FF – Sim! Há duas canções do meu tempo jovem com as quais me identifico. Uma delas é a “Still Crazy After All These Years”, de Simon & Garfunkel, e a outra é a “That’s Why I’m Here”, de James Taylor. Acho graça a isto. As pessoas ainda se lembram de mim, às vezes. Para além da minha atividade clínica diária, continuo a colaborar em cursos nacionais e internacionais, agora mais na área da apneia do sono.

Foto 2006

Colaboro ainda na docência da Escola de Medicina do Minho e no Módulo de Otorrinolaringologia da CESPU - Licenciatura em Medicina Dentária. Estou ainda envolvido na docência de mestrados no Polo de Braga da Universidade Católica.

Entretanto, acabou de sair um livro da Editora Springer e coordenado por três colegas estrangeiros, Obstructive Sleep Apnea – a multidisciplinary approach, tendo eu escrito um dos capítulos, a convite dos editores, o que muito me honrou. Foi um desafio enorme, mas que me deu imenso prazer.

go diretivo do Colégio da Especialidade de ORL da Ordem dos Médicos. Entre outras atividades, era o coordenador do grupo encarregue da atribuição da equivalência da especialidade a colegas estrangeiros. Como referi atrás, também participo em ações de formação de colegas mais novos, em pós-graduação, agora principalmente na área do sono.

JN – Por que razão um homem do Porto é benfiquista?

FF – Em primeiro lugar porque comecei a ver futebol no início dos anos sessenta, no tempo em que o Sport Lisboa e Benfica tinha das melhores equipas do mundo, com jogadores como o Eusébio, o José Augusto, o Coluna e o Simões. Depois, tendo andado num liceu localizado na área de influência do FC Porto, por diversos motivos, nunca simpatizei com o clube. Entendo que seja um pouco estranho, dado que sou intensamente nortenho... menos no futebol! No entanto, não sou fanático. Até sou sócio do Vitória de Guimarães.

JN – Como é o seu dia-a-dia? FF – Continuo com os meus consultórios privados em Gondomar e em Guimarães. Este último existe há já 32 anos, desde 1991. Posso dizer que já estou a operar os netos dos meus primeiros doentes. Também estou no Hospital da Luz Guimarães, sendo que entre 2016 e 2021 fui diretor clínico da instituição, tendo colaborado na sua abertura e organização. Às terças-feiras de manhã, opero alternadamente no Hospital da Luz Guimarães e no Hospital da Lapa, no Porto. Durante quatro mandatos, entre 2012 e 2023, desempenhei o car-

JN – Se não tivesse seguido Medicina, que outra profissão acha que poderia ter abraçado?

FF – Também gostava bastante de Direito, só que não tenho muito jeito, porque digo o que penso e sou muito afetivo e sincero. Sinto que teria sido um mau jurista. Também aconteceu, nos idos de 74, a minha incursão na política. Juntamente com amigos, e reportando-me ao meu ídolo Dr. Francisco Sá Carneiro, ajudei então a fundar uma juventude partidária. No entanto, mantendo as minhas ideias e ideais, verifiquei rapidamente que não me enquadrava nos partidos políticos.

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Reunião do Núcleo Norte / Reunião do Interno ORL, Guimarães, 25-26 nov 2023

Fausto Fernandes: ex-diretor de Otorrino do H. de Guimarães

homenageado pela SPORL

A sessão de abertura da Reunião do Núcleo Norte da SPORL ficou marcada pela homenagem prestada ao otorrinolaringologista Fausto Fernandes, cujo nome o seu sucessor na direção do Serviço de ORL do Hospital Senhora da Oliveira considera “indissociável” do mesmo.

Coube precisamente ao atual diretor, Rui Fonseca, que diz procurar “preservar o espírito de camaradagem e entreajuda extraordinário” que encontrou quando chegou ao Hospital de Guimarães como recém-especialista, recordar o percurso profissional de Fausto Fernandes, marcado pelos 25 anos em que esteve à frente do Serviço de ORL.

A homenagem a este médico foi, de facto, o ponto alto da cerimónia de abertura da última Reunião promovida pela Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, que se realizou em Guimarães, em simultâneo com a Reunião do Interno ORL, no final de novembro. Numa sessão conduzida por Victor Correia da Silva, vice-presidente da SPORL, o presidente da Comissão de Internos de ORL foi o primeiro a intervir. Pedro Alexandre não dei-

xou de elogiar o modelo de reunião conjunta, “fomentando a parceria e o conhecimento entre formandos e formadores, portanto, entre internos e especialistas”.

Aproveitando a ocasião, o novo presidente do Colégio da Especialidade de Otorrinolaringologia da Ordem dos Médicos lembrou que

O novo presidente do Colégio da Especialidade de Otorrinolaringologia da OM lembrou que a formação é “uma das grandes preocupações” daquela estrutura.

a formação é “uma das grandes preocupações” daquela estrutura, que procedeu, em 2022, a uma nova atualização do programa de formação na área da ORL. “Procura-se, em primeiro lugar, que haja uma maior justiça e, principalmente, uma equidade grande entre os vários júris, tentando criar regras que sejam o mais universais possível, pois, tem-se verificado que existem diferenças que poderão ser minimizadas com estes critérios”, afirmou Nuno Trigueiros.

“Um exemplo de dedicação e um médico atento ao pormenor”

Foram muitos os elogios dirigidos a Fausto Fernandes no decorrer da sessão de abertura da Reunião do Núcleo Norte da SPORL, evento que teve na sua coordenação os otorrinos Sandra Alves, Tiago Órfão

e Victor Correia da Silva. Por exemplo, Clara Pais Dias, diretora clínica do Hospital Senhora da Oliveira, referiu-se ao homenageado considerando que “foi quem conseguiu pôr o Serviço de ORL no mapa e fazê-lo crescer”.

(Continua na pág. 16)

14 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 evento
Fausto Fernandes com a coordenação da Reunião: Victor
A paixão da Medicina, da Otorrinolaringologia e dos Doentes

“Nunca pensei ter esta distinção, é um enorme privilégio”, afirmou Fausto Fernandes, reconhecendo que foi protagonista de “uma carreira feita a pulso, com muito empenho e extrema dedicação, com muitos sucessos e também alguns insucessos, a amizade e a benevolência dos meus colegas”.

Admitiu igualmente: “A Medicina, a Otorrinolaringologia e os Doentes foram para mim uma paixão que tenho vivido de uma forma intensa, nos mais diversos cargos, e que tenho desempenhado com enorme prazer.”

No rol de agradecimentos, onde não podia deixar de incluir a sua família e a própria “família da ORL”, Fausto Fernandes referiu-se expressamente “às gentes, às entidades, aos doentes e aos meus amigos de Guimarães, que desde a primeira hora, em 1991, tão bem me acolheram, integraram e estimaram, fazendo-me sentir vimaranense”, frisando ser “sócio do Vitória e com as quotas em dia”. Fausto Fernandes continua a exercer no Hospital da Luz Guimarães, de que foi diretor clínico entre 2016 e 2021.

Janeiro-Abril 2024 • Jornal ORL 15 evento
Victor Correia da Silva, Sandra Alves e Tiago Órfão

(Continuação da pág. 14)

Mas também o presidente da Câmara Municipal de Guimarães não poupou nos elogios ao “amigo e médico de referência na sua especialidade”. O autarca Domingos Bragança afirmou ser Fausto Fernandes “um exemplo de dedicação, com uma vida inteira entregue à exigência que é ser profissional de saúde, e um médico atento ao pormenor”.

Tendo-se licenciado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em 1976 e cumprido o seu internato da especialidade no Hospital de São João, esteve colocado no Hospital de Chaves durante 3 anos, até ser convidado, em 1991, para organizar o Serviço de ORL do Hospital de Guimarães, ainda instalado no velho edifício.

Rui Fonseca, que descreveu o trajeto profissional de Fausto Fernan-

des, deixou claro que foi a partir de 1992, já em novas instalações, que o Serviço de ORL “se desenvolveu em múltiplas vertentes, crescendo em número de médicos, de equipamentos e de tempos cirúrgicos”. As consultas específicas foram criadas em 2001 e foi a partir de 2009 que começou a receber internos de Formação Específica em ORL.

Fausto Fernandes assumiu a direção do Serviço entre 1991 e 2016. Pelo meio, de 2002 a 2007, foi diretor clínico da instituição. Paralelamente, também passou pela Direção da SPORL e foi membro do Colégio de ORL da Ordem dos Médicos.

“Em Guimarães, vim encontrar um Serviço com um espírito de camaradagem e de entreajuda extraordinário, um ambiente de grande amizade entre os colegas, que tento preservar desde a sua jubilação, em 2016”, reportou Rui Fonseca.

16 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 evento
Mesa da sessão de abertura: Victor Correia da Silva, Clara Pais Dias, Domingos Bragança, Fausto Rui Fonseca e Pedro Alexandre

Rui Fonseca: “O

Serviço de ORL do Hospital de Guimarães e o seu nome são

indissociáveis. Fausto Fernandes não é uma referência, é a referência do Serviço.”

Janeiro-Abril 2024 • Jornal ORL 17 evento
Fernandes, Nuno Trigueiros,

70.º Congresso Nacional da SPORL-CCP / XII Congresso Luso-Brasileiro

João Paço homenageado numa reunião a presença de muitos colegas do “país

A presença espanhola não podia (obviamente!) deixar de se fazer sentir na última edição do Congresso da SPORL, que se realizou no Algarve, entre 12 e 14 de maio de 2023, mas foram os otorrinos brasileiros que mais deram nas vistas. O que até se compreende, tendo em conta que, em simultâneo, decorreu o XII Congresso LusoBrasileiro de ORL. A sessão de abertura, em que participaram responsáveis das sociedades congéneres de Espanha e do Brasil, teve o seu ponto alto na homenagem a João Paço, presidente de Honra do principal evento anual da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Mais de 700 participantes, perto de 500 dos quais médicos, passaram pelo Grande Real Santa Eulália, em Albufeira. O presidente da SPORL não deixaria de se referir ao “empenho e esforço” da Comissão Organizadora em concretizar o 70.º Congresso, salientando o papel de Pedro Escada, vice-presidente Sul da Sociedade e diretor do Serviço de ORL da ULS de Lisboa Ocidental, que teve o apoio dos restantes elementos que constituíam a CO: Maria Assunção O’Neill, do mesmo Serviço, e ainda João Elói Moura e Paulo Vera-Cruz, respetivamente, secretário-geral e tesoureiro da SPORL. Importa deixar registado que o 70.º Congresso coincidiu com o 70.º aniversário da SPORL-CCP (1953-2023).

José Marques dos Santos apresentou as boas-vindas a todos quantos fizeram questão de se deslocar a Albufeira, começando por dirigir-

-se a Fabrizio Romano, 1.º vice-presidente da Associação Brasileira

(Continua na pág. 20)

18 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 evento

Luso-Brasileiro de ORL

reunião que registou irmão”

O Congresso de Albufeira registou

mais de 700 participantes.

Janeiro-Abril 2024 • Jornal ORL 19 evento

(Continuação da pág. 18)

de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).

“Um bem-haja por estar presente e pela fantástica e grande comitiva brasileira que o acompanhou. É um prazer acolher-vos entre nós, sintam que estão em vossa casa”, disse o presidente da SPORL, aproveitando para agradecer a Renato Routhmann a “simpatia e gentileza com que nos recebeu em Porto Alegre, a mim e a toda a comitiva portuguesa que pôde estar presente no Congresso brasileiro”.

Ao usar da palavra, Renato Routhmann diria que “a parceria entre a ABORL e a SPORL tem trazido inúmeros frutos, promovendo muito o relacionamento entre os otorrinos dos dois países, o que me deixa particularmente feliz”.

Dirigindo-se depois à comitiva espanhola, J. Marques dos Santos cumprimentou Manuel Bernal Sprekelson, presidente da Sociedade Espanhola de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SEORL-CCC), frisando: “São bons amigos, são como família!”. Respondendo mais tarde à saudação, aquele dirigente felicitaria a SPORL pelo seu 70.º aniversário. Prosseguindo na sua intervenção, J. Marques dos Santos dirigiu um cumprimento especial à presidente da Associação Portuguesa de Otoneurologia (APO), destacando a “parceria fantástica” que tem existido entre as duas instituições, “que tem funcionado e tem dado muito bons resultados”. “Temos tido uma colaboração próxima, cordial e respeitadora entre a APO e a presidência da SPORL e estamos gratos por isso”, concordaria Sandra Costa. As últimas palavras de J. Marques

(Continua na pág. 22)

O presidente da SPORL não deixaria de se referir ao “empenho e esforço” da Comissão Organizadora do 70º Congresso.
20 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 evento
Janeiro-Abril 2024 • Jornal ORL 21 evento

(Continuação da pág. 20)

dos Santos foram dedicadas a João Paço, presidente de Honra do 70.º Congresso: “É um amigo de há 48 anos, por quem eu tenho um apreço muito grande como profissional e como pessoa e que tem feito um percurso maravilhoso.”

“É com muita honra que recebo este reconhecimento, numa fase de um percurso profissional que irá terminar em ano e meio, dois anos, quando deixar a coordenação do Serviço de ORL do Hospital CUF Tejo, que tem hoje 20 especialistas, dos quais 10 estão a tempo inteiro”, afirmou o homenageado, acrescentando:

“A medicina mudou muito. A medicina que nós tínhamos quando eu cheguei ao Serviço há 20 anos não é a que temos hoje. Temos agora uma medicina muito mais repartida por subespecialidades e isso faz com que eu tenha que ter vários experts nas diferentes áreas.”

Miguel Magalhães, presidente do Colégio da Especialidade de ORL da Ordem dos Médicos, Ilídio Gonçalves, diretor do Serviço de ORL da agora ULS do Algarve, e Carlos Rolo, presidente da CM de Albufeira, também integravam a mesa de abertura.

Coube à otorrinolaringologista

Cristina Caroça, que integra o grupo de ORL do Hospital CUF Tejo, a responsabilidade de apresentar o homenageado. E não teve dúvidas em afirmar que João Paço dirige aquele que é, “sem dúvida, um Serviço de excelência”, caracterizado pelo “trabalho de equipa” e onde se vive “um turbilhão de atividade científica e clínica”.

“É um orgulho trabalhar com o Prof. João Paço”, assegurou, antes de apresentar um vídeo reple-

to de mensagens proferidas por profissionais daquela instituição hospitalar, de várias áreas – entre médicos internos e especialistas, enfermeiros, gestores, técnicos e auxiliares – e que com ele lidam diariamente.

Aqui se reproduz uma dessas mensagens:

“Ao Prof. João Paço, não poderíamos deixar de agradecer a fonte de inspiração e o legado que tem vindo a passar aos seus pares e a todos aqueles que o serão no futuro, assumindo, dia após dia, um verdadeiro compromisso com a formação médica, com uma valorização dos profissionais de saúde emgeralecomodesenvolvimento da medicina em Portugal. Acreditou e provou que o setor privado da Saúde, além da atividade clínica diferenciada, tem competência

e mérito na formação dos futuros médicos do país e no desenvolvimento da investigação científica. Ao longo da sua carreira na CUF, tal como nas diferentes maratonas em que participou, esteve sempreaolharparaafrente.Para além de um cirurgião virtuoso, foi pioneiro e inovador em diversos momentos.Alcançaraidoneidade formativa em Otorrino, tornando a CUF no primeiro prestador de cuidados de saúde privado a formarjovensmédicosemPortugal,é um dos muitos feitos do Prof. João Paço, do qual muito nos orgulhamos.ObrigadoProf.JoãoPaçopor ser um verdadeiro testemunho da importância do ensino clínico, da importância do trabalho em equipa e sobretudo por acreditar e apostar sempre nas novas geraçõesprofissionais.”

22 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 evento
Janeiro-Abril 2024 • Jornal ORL 23 evento
Em particular junto de doentes mais idosos e com múltiplos fatores

Uso precoce de aparelhos auditivos reduz

A validada correlação entre perda auditiva (não reabilitada), aumento do declínio cognitivo e demência no idoso foi alvo de debate, em simpósio patrocinado pela Widex, no 70.º Congresso Nacional da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Na referida sessão, moderada pelo presidente da SPORL-CCP, José Marques dos Santos, partilharam-se dados que comprovam o peso da audição (neste caso, da falta dela) no declínio cognitivo do idoso. Foi ainda comentado o estudo longitudinal ACHIEVE, cujos resultados preliminares – divulgados recentemente em Amesterdão – se traduzem numa excelente notícia: o recurso a aparelhos auditivos reduz a probabilidade de progressão para demência, em particular junto de doentes mais idosos e com múltiplos fatores de risco.

Jorge Humberto Martins, audiologista dos Centros Auditivos Widex e docente da Escola Superior de Saúde do Politécnico de Coimbra, recordou que “cerca de 430 milhões de pessoas em todo o mundo manifestam perda auditiva moderada ou severa” e que “55 milhões sofrem de demência”.

Ao analisar uma amostra de doentes que procuraram uma primeira consulta nos Centros Widex em 2022, o audiologista salientou que 53% dos elementos deste grupo tinham pelo menos uma surdez ligeira em ambos os ouvidos e que a idade média daqueles que apresentavam surdez moderada era de 69,4 anos. Assim, revela-se evidente a urgência de nesta faixa etária se

impedir a progressão da perda auditiva, não apenas para manter a qualidade de vida, funcionalidade e interação social/familiar do doente, mas também para evitar ou atrasar potenciais situações de demência.

Autoridades de Saúde devem favorecer estratégias de intervenção na perda auditiva, para reduzir o impacto da demência no tecido social

Frank Lin, diretor do Cochlear Center for Hearing and Public Health da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, investigador e professor de Otorrinolaringologia, Saúde Mental e Epidemiologia, frisou a circunstância de a publi-

cação Lancet ter criado há alguns anos um comité internacional de investigadores com o objetivo de

identificar os principais fatores de risco para demência modificáveis que possam ser alvo de medidas

24 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 informação
José Marques dos Santos, Jorge Humberto Martins e Frank Lin

risco de demência em pacientes idosos fatores de risco

Frank Lin: “A perda auditiva é o fator de risco modificável com contributo mais significativo para a evolução demencial.”

prioritárias por parte das autoridades de saúde em cada país: “O comité realizou um estudo em 2017, repetido depois em 2020, que permitiu detetar dez fatores de risco

que os governos em todo o globo devem priorizar, com vista a reduzir a probabilidade de progressão para a demência. (…) O que o relatório deste comité concluiu foi que a perda auditiva – em fases intermédias ou tardias de vida do indivíduo – é o fator de risco modificável com contributo mais significativo para a evolução demencial.”

Mecanismos neurológicos ligam perda de audição diretamente ao défice cognitivo

Mas, afinal, de que forma pode a insuficiência auditiva influenciar

as capacidades cognitivas? A este propósito, Frank Lin evocou as clássicas teorias do psicólogo Daniel Kahneman sobre sistemas cognitivos de capacidade limitada, as quais nos explicam que, “sempre que é enviado um sinal acústico degradado para o cérebro este é forçado a alocar uma porção significativa de recursos cognitivos para gerir tal sinal degradado”. Esta hipótese encontra respaldo em investigações mais recentes, aludidas pelo diretor do Cochlear Center for Hearing and Public Health, em particular estudos de ressonância

com perdas mesmo que moderadas de audição, elas estão a recrutar regiões do cérebro geralmente não associadas ao processamento do som, para compensar sinais acústicos degradados”.

Já uma segunda teoria que associa a perda auditiva aos défices cognitivos (e que não se substitui à primeira, mas antes convive com ela sinergicamente) sustenta que a limitação da capacidade auditiva transforma, de forma direta, a integridade estrutural do cérebro. “Sabemos hoje que dois dos fatores que podem lesar o cérebro e a sua

magnética funcional que nos mostram que, “de forma consistente, pessoas com audição reduzida a quem são feitos testes audiológicos apresentam atividade diminuída no córtex auditivo primário. O mais interessante é que nestas mesmas pessoas parece assistir-se a uma atividade neurológica compensatória no córtex pré-frontal, ou seja,

integridade estrutural são a doença microvascular e a neuropatologia, que, por coincidência ou não, são também as duas causas principais de demência em fases mais avançadas da vida. Mas agora surgem-nos dados de que a incapacidade auditiva pode representar uma “agres-

(Continua na pág. 26)

Janeiro-Abril 2024 • Jornal ORL 25 informação reduz

(Continuação da pág. 25)

são” adicional para o cérebro. Isto porque tal incapacidade leva a ativações reduzidas de determinadas regiões do cérebro (córtex auditivo primário, giro temporal superior), que ao longo do tempo acabam por sofrer um processo acelerado de atrofia”, testemunhou Frank Lin. Por último, o especialista norte-americano recordou que a perda auditiva empurra muitas vezes as pessoas para o isolamento social, sendo esta a terceira ligação concomitante entre a surdez e o défice cognitivo/demência.

Evidência científica demonstra que a reabilitação auditiva protege contra a demência

Face ao exposto, torna-se óbvia a conclusão de que é essencial travar ou compensar a perda auditiva para melhorar a probabilidade de o idoso não ter de enfrentar os efeitos negativos da demência. Linha de atuação justificada, aliás, por múltiplos estudos realizados no passado e sublinhados por Frank Lin, de que é exemplo o Baltimore Longitudinal Study of Aging (BLSA). Este ensaio enfatizou o facto de “pessoas com perda auditiva ligeira, moderada e grave terem um risco duplicado, triplicado e quintuplicado, respetivamente, de serem diagnosticadas com demência, comparativamente com pessoas com audição normal”. Contudo, ensaios observacionais como este não permitem desenhar uma imagem clara da influência real da capacidade auditiva na deterioração dos défices cognitivos. Tal só pode ser alcançado mediante um estudo de intervenção, longitudinal e aleatorizado, que consiga medir com precisão os efeitos

sobre o declínio auditivo, demência e outros indicadores chave (atrofia cerebral, custos com saúde, etc.) da reabilitação/tratamento da perda auditiva. No fundo, a base do estudo Aging and Cognitive Health Evaluation in Elders (ACHIEVE), que tem como um dos investigadores principais Frank Lin e cujos resultados iniciais foram, entretanto, apresentados em Amesterdão: “Cerca de mil adultos foram recrutados para este estudo nos EUA, todos com perda auditiva ligeira a moderada e sem tratamento. Inicialmente, estas pessoas foram aleatorizadas para dois grupos, sendo que no primeiro receberam a melhor intervenção auditiva possível (sessões com audiologista, colocação de diapositivo ou implante, se necessário), enquanto no segundo foram expostas a um programa educativo para a saúde (com acompanhamento de enfermeira especializada e aconselhamento sobre estilos de vida, dieta, etc.). Foram depois acompanhadas durante três anos, com avaliações semestrais de função cognitiva

O estudo ACHIEVE revelou que, ao longo de 3 anos, a intervenção auditiva reduziu as alterações cognitivas em 48%.

os 739 voluntários da comunidade. Os resultados preliminares deste ensaio, revelados recentemente pela equipa de Frank Lin durante a Alzheimer’s Association International Conference, em Amesterdão, mostram que a intervenção auditiva beneficiou sobretudo os indivíduos que provinham do estudo cardiovascular. Neste subgrupo específico, a intervenção auditiva reduziu as alterações cognitivas em 48%, ao longo de um período de três anos.

global e análise detalhada de outcomes secundários, como função social, demência, quedas e hospitalizações ou alterações detetadas em ressonância magnética.”

Os participantes tiveram origem em duas populações distintas: um grupo de adultos inseridos num estudo cardiovascular prévio e um segundo grupo, de voluntários saudáveis, recrutados na comunidade. Os 238 participantes integrados a partir do estudo cardiovascular eram, em média, mais velhos e com maior número de fatores de risco para declínio cognitivo do que

Os investigadores acreditam que o impacto positivo foi notado, estatisticamente, durante o intervalo do estudo na população mais idosa e com maior índice de risco, porque esta apresenta um ritmo de declínio cognitivo três vezes mais rápido do que entre os voluntários da comunidade. Todavia, a equipa está convencida de que as intervenções auditivas também poderão acarretar vantagens no abrandamento do declínio cognitivo junto do subgrupo de voluntários da comunidade, embora tais efeitos demorem mais de três anos a ser detetados.

26 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 informação
Técnica aplicada em Rinoplastia deu a o destaque em três capas de 3 revistas

Miguel Gonçalves Ferreira, médico da agora designada ULS de Santo António e doutorado na área da Rinoplastia pelo ICBAS - Universidade do Porto, foi distinguido pela 3.ª vez como capa de uma revista científica.

Depois de ter sido capa da revista de dezembro de 2019 do The Laryngoscope, e em junho de 2022 da Facial Plastic Surgery and Aesthetic Medicine, foi em julho de 2023 capa da Facial Plastic Surgery. A característica dismórfica mais relevante no nariz caucasiano é a chamada “bossa nasal”. Neste contexto, Miguel Gonçalves Ferreira criou em 2014 uma nova técnica para rinoplastia – spare roof technique (SRT) –, a qual permite corrigir a bossa nasal e, simultaneamente, preservar estruturas nasais importantes, como as cartilagens laterais superiores.

Esta técnica foi o foco do seu projeto de doutoramento em Ciências Médicas e permite obter um dorso uniformemente liso e estruturalmente estável, demonstrado através de cálculos de engenharia e dos resultados estéticos e funcionais alcançados – publicados no artigo que foi selecionado para capa da revista norte-americana The Laryngoscope –, tendo como 1.ª autora Mariline Santos, também do Serviço de ORL da ULS de Santo António.

O objetivo foi conceber uma técnica mais precisa, eficaz, rápida e menos agressiva. Após inúmeros

ensaios em cadáver e iterações de engenharia de estruturas, em colaboração com um grupo de estudo de Engenharia da Universidade do Minho, foi possível desenvolver esta nova técnica, que está hoje difundida por todo o mundo.

Desde 2014, a técnica tem sido utilizada e foram já desenvolvidas, testadas e publicadas por Miguel Gonçalves Ferreira três variantes da técnica original, que assim permitem uma maior versatilidade da técnica face às diferentes deformidades da pirâmide nasal, além da bossa nasal: SRT – A, SRT – B e SRT – Reverse.

A SRT – A permite a correção da bossa nasal em doentes cuja morfologia dos ossos próprios do nariz seja em “S”, o que corresponderá a cerca de 60-80% dos narizes caucasianos. A SRT – B, também chamada de Técnica Ferreira – Ishida, destina-se à correção da bossa nasal em doentes cuja morfologia dos ossos próprios do nariz seja em “V”, o que corresponderá a uma minoria dos narizes caucasianos. Ao contrário da SRT-A, na SRT-B o bony cap (ossos próprios do nariz) é preservado. Em ambas as variantes da SRT, o cirurgião isola todo o

teto cartilaginoso do terço médio (parcial ou totalmente), separando o septo quadrangular das cartilagens laterais superiores (CLS). Não havendo divisão das CLS entre si e, por isso, com menor risco de defeitos iatrogénicos. Todo o trabalho para modelar o dorso nasal é efetuado por baixo do dorso, sem necessidade de dissecção do dorso e com a inovadora osteotomia Ssbdorsal, também desenvolvida pelo autor. Na prática, esta osteotomia permite efetuar uma fratura transversal, mas por via endona -

A SRT – A permite a correção da bossa nasal em doentes cuja morfologia dos ossos próprios do nariz seja em “S”, o que corresponderá a cerca de 60-80% dos narizes caucasianos.

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Miguel Gonçalves Ferreira científicas

sal (subdorsal) e em “ramo verde” – situação nunca conseguida anteriormente nas diversas abordagens que foram sendo testadas por diversos autores em todo o mundo.

A mais recente variação da SRT é a SRT – Reverse, cujo artigo foi selecionado para capa da revista Facial Plastic Surgery and Aesthetic Medicine . A SRT- Reverse destina-se à correção do nariz em sela, o qual pode resultar de cirurgias nasais prévias, doenças sistémicas ou traumatismos nasais.

A Spare Roof Technique (a, b e reverse) tem-se revelado como a mais versátil técnica de rinoplastia de preservação, com as suas múltiplas aplicações.

A capa de dezembro de 2019 aparece na sequência do artigo Spare roof technique in reduction rhinoplasty: Prospective study of the first one hundred patients

The Laryngoscope

2019-12 | Journal article

DOI: 10.1002/lary.27804

A Spare Roof Technique (a, b e reverse) tem-se revelado como a mais versátil técnica de rinoplastia de preservação, com as suas múltiplas aplicações. Esta técnica tem sido divulgada e demonstrada pelo autor em diversos congressos por todo o mundo e é hoje praticada em inúmeros centros internacionais de Rinoplastia. Devido ao seu crescente interesse pela Medicina Baseada na Evidência aplicada à Rinoplastia, tendo criado um grupo de 1500 cirurgiões de rinoplastia de todas as especialidades e de todo o mundo, em 2022, foi convidado como Guest Editor do número especial da Facial Plastic Surgery – Thieme – “Rhinoplasty”. Neste número foram publicados três artigos da ULS de Santo António.

A sua técnica foi proposta e aceite como capa de revista.

A capa de junho 2022 aparece na sequência do artigo Preservation Rhinoplasty in the Saddle Nose: The Reverse Spare Roof Technique

Facial Plastic Surgery & Aesthetic Medicine

2022-06-01 | Journal article

DOI: 10.1089/ fpsam.2022.0036

A capa de agosto 2023 aparece na sequência do artigo

Facial Plastic Surgery - Issue 04

· Volume 39 · August 2023

Rhinoplasty - Guest Editor:

Miguel Gonçalves Ferreira, MD, PhD

DOI: 10.1055/s-013-57895

Janeiro-Abril 2024 • Jornal ORL 29 notícia

Falecimento de Wolfgang Steiner

Natural de Crailsheim, Alemanha, onde nasceu em 1942, Wolfgang Steiner faleceu de 5 de fevereiro, aos 81 anos. Em 1969, graduou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Erlangen/Nuernberg. Licenciou-se em Medicina em 1971. De 1971 a 1986 trabalhou no Hospital Universitário de Otorrinolaringologia em Erlangen, completando a sua especialização em Otorrinolaringologia em 1975. Doutorou-se em 1979, sendo desde 1986 diretor do Departamento de Otorrinolaringologia da Universidade de Goettingen, cargo que manteve até se retirar. Era casado com Grazia Steiner, desde 1966, tendo três filhos e cinco netos.

Steiner foi presidente da Sociedade Alemã de Otorrinolaringologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço (1997-1998), presidente do grupo de estudos oncológicos da Sociedade Alemã de Otorrinolaringologia (1992-1996) e presidente da Sociedade Alemã de Endoscopia e Técnicas de Imagem (2000-2001). Teve uma atividade científica intensa e extremamente relevante

na área do cancro da laringe e hipofaringe, tendo sido responsável pela introdução de um conceito completamente novo no tratamento cirúrgico do cancro, segundo o qual, sob visão microscópica e

utilizando o LASER CO2 através de um micromanipulador, a ressecção tumoral é efetuada em fragmentos contíguos, até obter a sua exérese total.

Esta técnica permite preservar o máximo possível de tecido saudá-

vel e funcionalmente importante, evitando procedimentos cirúrgicos abertos, traqueotomias e cirurgias ablativas da laringe. Para alem disso, permite sobrevivências sobreponíveis às de outros métodos cirúrgicos radicais ou terapêuticas com radioquimioterapia.

Foi autor de mais de 120 publicações em revistas científicas indexadas, em diferentes idiomas, e foi editor ou coeditor de vários livros.

O seu manual de Cirurgia a Laser para a UADT, com foco especial no cancro, foi publicado em alemão em 1996 e em inglês em 2000.

Realizou, desde 1990, mais de 60 cursos sobre Microcirurgia Transoral LASER com cirurgia ao vivo, que ocorreram em Göttingen, Kiel e outras cidades da Europa e EUA. Concretamente, participou em quatro cursos internacionais de Cirurgia Transoral LASER realizados em Portugal, no IPO do Porto, de 2008 a 2011.

Foi membro honorário das sociedades de Otorrinolaringologia húngara, polaca, sul-africana e espanhola e do Royal College of Surgeons of England.

II Curso Teórico-Prático de Introdução à Otorrinolaringologia - InOrl

No dia 6 de janeiro, decorreu o II Curso Teórico-Prático de Introdução à Otorrinolaringologia - InOrl, organizado pelo Serviço de ORL da ULS de Santo António, com o patrocínio científico da SPORL. Contou com a presença de 17 internos de formação específica que iniciaram o seu internato a 1 de janeiro de 2024. O curso iniciou-se pela abordagem teórica geral de todas as áreas

de ORL, tendo-se seguido uma parte prática, nomeadamente, manobras para VPPB, rinoscopia, otoscopia, laringoscopia indireta e endoscópica, remoção de corpos estranhos, etc.

Wolfgang Steiner teve uma atividade científica intensa e extremamente relevante na área do

cancro da laringe e hipofaringe, tendo sido responsável pela introdução de um conceito completamente novo no tratamento cirúrgico do cancro.

Foi homenageado com diversos prémios profissionais nacionais e internacionais, sendo o último a prestigiada Medalha Albrecht von Haller, da Universidade de Göttingen, atribuído em setembro de 2022.

30 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 notícias
Janeiro-Abril 2024 • Jornal ORL 31

Sistema de apoio à escuta inaugurado na Meo Arena

A Lisbon Film Orchestra (LFO) acaba de estrear o novo sistema de apoio à escuta, implementado pela Widex - Especialistas em Audição, na Meo Arena. Esta iniciativa faz parte do projeto de democratização do acesso à cultura da pessoa com deficiência auditiva, levado a cabo pela Widex desde 2017, com o objetivo de equipar as principais salas de espetáculo do país com o sistema de anel magnético. O sistema de anel magnético consiste na instalação de um anel de indução magnética para facilitar as condições de escuta a pessoas com dificuldades auditivas, utilizadoras de aparelhos auditivos.

Em Portugal, o Teatro da Trindade foi a primeira sala de espetáculos a beneficiar desta tecnologia, seguindo-se a Casa da Música e, mais recentemente, a Meo Arena. “Mais de 8000 pessoas assistiram

ao espetáculo que marcou a estreia do sistema de anel magnético na Meo Arena. Este momento representou mais um passo na inclusão das pessoas com dificuldades auditivas no acesso à cultura. Estamos muito satisfeitos por termos ajudado a proporcionar aos utilizadores de aparelhos auditivos uma experiência sonora completamente diferente”, destaca Tiago Nunes, diretor-geral da Widex Portugal. Tiago Nunes acrescenta ainda que “com esta iniciativa, tivemos também a oportunidade de sensibilizar as autoridades, os agentes económicos do mundo dos espetáculos e as pessoas com audição normal para a importância de dotar os espaços culturais com este tipo de infraestruturas. Na Widex, trabalhamos com o intuito de fazer a diferença na vida das pessoas com dificuldades auditivas. Enquanto

empresa líder na área da reabilitação auditiva em Portugal, acreditamos que os espetáculos são para serem ouvidos por todos. Neste sentido, assumimos um papel ativo para que mais salas de espetáculos do país sejam equipadas com o sistema de anel magnético, garantindo que a cultura esteja ao alcance de todos de forma igualitária.”

Tiago Nunes: “Assumimos um papel ativo para que mais salas de espetáculos do país sejam equipadas com o sistema de anel magnético.”

Estima-se que, em Portugal, existam mais de dois milhões de pessoas com algum tipo de dificuldade auditiva; um número que está a aumentar devido à maior exposição da população ao ruído, bem como ao aumento da esperança média de vida.

Em Portugal, ainda estão a ser dados os primeiros passos no que diz respeito ao sistema de anel magnético, mas já existem alguns países europeus que o utilizam amplamente em salas de espetáculos, museus e transportes públicos, entre outros locais. Todos podemos contribuir para o equipamento das salas de espetáculo do nosso país e, consequentemente, para uma cultura mais inclusiva, através do projeto “Runners For Health”. Para mais informações, consulte: https://www.widex.pt/pt-pt/lp/ landing-page-runnersforhealth

ULS de Braga assinalou Dia Mundial da Audição com rastreios

A Unidade Local de Saúde de Braga realizou rastreios auditivos gratuitos no Hospital de Braga, no dia 5 de março, assinalando o Dia Mundial da Audição. A iniciativa, dinamizada pelo Serviço de Otorrinolaringologia, em linha com a OMS, visa avaliar a saúde auditiva da população e sensibilizar para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce de doenças auditivas.

O rastreio destinava-se a maiores de 6 anos com sintomas de alteração da qualidade auditiva e que não estivessem a ser seguidos em Otorrinolaringologia na ULS de Braga, consistindo na realização de um audiograma.

“A perda auditiva pode ter um impacto sig-

nificativo na qualidade de vida das pessoas, afetando a sua comunicação, as suas relações sociais e o seu bem-estar geral” afirmou Luís Dias, diretor do Serviço de ORL da ULS de Braga. “Este rastreio permite identificar precocemente os casos de perda auditiva e encaminhá-los para o tratamento adequado, prevenindo o agravamento do diagnóstico de cada utente”, sublinhou.

O Dia Mundial da Audição assinala-se a 3 de março e promove a consciencialização para a importância da saúde auditiva e para a necessidade de prevenir a perda auditiva. A OMS estima que, em 2050, 900 milhões de pessoas em todo o mundo terão perda auditiva incapacitante. Segundo relatório da OMS, atualmente, existirão cerca de 466 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência auditiva, ou seja, cerca de 6% da população mundial.

32 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 notícias

Genebra recebeu o World Hearing Forum

Decorreu entre 27 e 29 de novembro de 2023, na sede da OMS, em Genebra, o World Hearing Forum, com o lema “Cuidados Otológicos e Auditivos para Todos”. Procedeu-se à discussão com stockholders, sendo o último dia dedicado ao trabalho com todos os membros do fórum. Foram constituídos vários grupos de trabalho, nomeadamente: Resolution and Report, World Hearing Day, Make Listening Safe, Changemakers e Resource Mobilization

Luísa Monteiro esteve presente nesta reunião e integra atualmente o grupo de trabalho Make Listening Safe, coordenado por Katya Freire. Este é dedicado à divulgação dos malefícios do ruído em ambiente profissional ou

lúdico, através de campanhas nos media, organizações educativas e ações de sensibilização da popu-

lação, particularmente dos mais jovens.

Segundo Luísa Monteiro, “o objetivo é trabalhar para que o Dia Mundial da Audição se transforme numa jornada de informação e divulgação da prevenção da perda auditiva, da desmistificação da hipoacusia e de todos os preconceitos que envolvem os portadores de perda auditiva. Ao longo do ano, pretendemos divulgar junto do público, e especialmente dos jovens, a prevenção da hipoacusia desenvolvida por ambientes sonotraumáticos, através de práticas seguras de audibilidade. Os profissionais de saúde,

Luísa Monteiro integra atualmente o grupo de trabalho MakeListening Safe, coordenado por Katya Freire.

nomeadamente os otorrinolaringologistas, deverão ter um papel muito ativo e na linha da frente na divulgação e implementação destas informações e destas medidas”.

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Springer lança livro sobre apneia obstrutiva do sono

Foi lançado em novembro passado o livro Obstructive Sleep Apnea – a multidisciplinary approach, publicado pela editora Springer. Os autores, Peter M. Baptista, Rodolfo Lugo Saldaña e Steve Amado, referências mundiais na área do sono, contaram com a colaboração de Fausto Fernandes, otorrinolaringologista em Guimarães, na elaboração do capítulo “Sleep Related Breathing Disorders” (págs 43-66).

Cancro da laringe: aprender a viver após a cirurgia em debate no São João

O Serviço de Otorrinolaringologia da ULS de São João promoveu recentemente uma reunião de laringectomizados, com a qual se pretendeu partilhar conhecimento sobre a doença, tratamento e sequelas do mesmo para os doentes e seus cuidadores, além de proporcionar um momento de convívio e troca de experiências clínicas e pessoais.

O cancro da laringe é um dos mais frequentes cancros da cabeça e do pescoço. Com cerca de 600 novos casos por ano, Portugal é o terceiro país da Europa com maior incidência deste tipo de cancro (corresponde a 2% de todos os cancros diagnosticados). A grande maioria destes casos é diagnosticada já numa fase avançada, em que o tratamento adequado é a remoção de toda a laringe: laringectomia total. Como se sabe, após a remoção da laringe, o doente perde a capacidade de falar e é sujeito a uma traqueostomia. No São João, é utilizado um método de reabilitação vocal com recurso a uma prótese fonatória, colocada durante a cirurgia de remoção da laringe, que permite ao doente manter uma boa comunicação oral.

“O recurso a este método cirúrgico acontece há já 15 anos, demonstrando excelentes resultados”, salienta a otorrinolaringologista Helena Silveira. “Não obstante, este é

Autobiografia “Dar som à vida”

Foi no dia 23 de novembro que João Paço lançou a sua autobiografia Dar som à vida , cujo prefácio foi elaborado pelo general Ramalho Eanes.

um tratamento cirúrgico muito mutilador, não só a nível físico como psicológico, para o utente mas também para a família, pelo que é essencial uma boa preparação do doente e um acompanhamento, antes, durante e depois da cirurgia.” Para tal, o São João dispõe de uma equipa multidisciplinar (médicos,

“O recurso a uma prótese fonatória acontece há já 15 anos, demonstrando excelentes resultados”, salienta a otorrinolaringologista Helena Silveira.

enfermeiros, terapeutas da fala, nutricionista, psicóloga e assistente social) para um acompanhamento abrangente do utente após o diagnóstico.

“Habitualmente, pedimos a um utente já operado e reabilitado para dar o seu testemunho e procuramos também o apoio da Associação Portuguesa de Limitados da Voz para intervir junto de um doente que esteja naquele momento a iniciar o processo, de forma a

O evento decorreu no Grémio Literário, em Lisboa, e contou com a presença de mais de 300 pessoas.

elucidá-lo e integrá-lo nestes cuidados”, acrescenta a especialista. A maior incidência de casos acontece em homens com mais de 60 anos, mas existem também casos em mulheres e em doentes mais jovens, “como por exemplo um utente nosso submetido à remoção da laringe quando tinha 40 anos”. No Serviço de ORL do São João realizam-se em média 18 laringectomias totais por ano, tendo em seguimento ativo na consulta cerca de 80 doentes. No encontro procurou-se dar alguma formação prática e importante no que diz respeito à doença em si, ao seu tratamento e sequelas que este implica, mas também foram focados aspetos importantes ao nível da alimentação, acompanhamento psicológico e apoios sociais. “A reabilitação é mesmo muito importante e alegra-nos o facto de termos bastantes doentes que mesmo após este diagnóstico avassalador e tratamento radical mantêm a sua atividade profissional, integrados na vida familiar e socialmente ativos”, refere Helena Silveira, acrescentando: “Para os próprios profissionais acabou por ser também um momento de convívio com os doentes e suas famílias, partilha que também é importante no sentido de alicerçar e reforçar a relação com os doentes.”

34 Jornal ORL • Janeiro-Abril 2024 notícias

Cloridrato de Azelastina + Propionato de Fluticasona ARIA 2020: À frente no tratamento da rinite alérgica1

Terapêutica de Referência na Rinite Alérgica

2,3

 Alívio significativo dos sintomas em 5 minutos 4

 2x mais eficaz que os Corticosteroides intranasais 5

 Adequado para adultos e adolescentes ≥ 12 anos

INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RCM. NOME DO MEDICAMENTO Dymista 137 microgramas / 50 microgramas por aplicação Suspensão para pulverização nasal COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA Cada g de suspensão contém 1000 microgramas de cloridrato de azelastina e 365 microgramas de propionato de fluticasona. Uma aplicação (0,14 g) liberta 137 microgramas de cloridrato de azelastina (=125 microgramas de azelastina) e 50 microgramas de propionato de fluticasona. Excipientes com efeito conhecido: Uma aplicação (0,14 g) liberta 0,014 mg de cloreto de benzalcónio. FORMA FARMACÊUTICA Suspensão para pulverização nasal. Suspensão branca, homogénea. Indicações terapêuticas Alívio dos sintomas da rinite alérgica sazonal e perene moderada a grave se a monoterapia com o anti-histamínico ou com o glucocorticoide intranasal isolado não for considerada suficiente. Posologia e modo de administração Posologia: Para um benefício terapêutico completo é essencial a utilização regular. Deve evitar-se o contacto com os olhos. Adultos e adolescentes (idade igual ou superior a 12 anos): Uma aplicação em cada narina duas vezes ao dia (de manhã e à noite). Crianças com idade inferior a 12 anos: Dymista não é recomendado para crianças com menos de 12 anos, porque não foi estabelecida a segurança e eficácia neste grupo etário. Duração do tratamento: Dymista é adequado para utilização a longo prazo. A duração do tratamento deve corresponder ao período de exposição alérgica. Modo de administração: Dymista destina-se apenas a uso nasal. Preparação do spray: O frasco deve ser agitado suavemente antes de utilizar durante 5 segundos, inclinando para baixo e para cima e seguidamente remover a tampa protetora. Antes da primeira utilização Dymista deve ser acionado pressionando para baixo e libertando a bomba 6 vezes. Se Dymista não for utilizado por mais de 7 dias deve ser acionado uma vez pressionando e libertando a bomba. Utilização do Spray: Agite cuidadosamente o frasco durante 5 segundos, inclinando para cima e para baixo. Seguidamente remova a tampa protetora. Após assoar o nariz, aplicar a suspensão uma vez em cada narina mantendo a cabeça inclinada para baixo (ver figura). Após utilização, limpar a parte superior e colocar a tampa protetora. Contraindicações Hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer um dos excipientes. Advertências e precauções especiais de utilização A utilização concomitante de propionato de fluticasona e ritonavir deve ser evitada, salvo se os potenciais benefícios para o doente forem superiores ao risco de efeitos adversos sistémicos aos corticosteroides. Podem ocorrer efeitos sistémicos de corticosteroides inalados, particularmente quando prescritos em altas doses por períodos prolongados. Estes efeitos são menos prováveis de acontecer do que com corticosteroides orais e podem variar de doente para doente e conforme a preparação corticosteroide. Efeitos sistémicos potenciais podem incluir síndroma de Cushing, situações Cushingoides, supressão das suprarrenais, atraso no crescimento em crianças e adolescentes, cataratas, glaucoma e mais raramente, uma série de efeitos psicológicos ou comportamentais incluindo hiperatividade psicomotora, alterações do sono, ansiedade, depressão ou agressão (particularmente em crianças). Dymista sofre um metabolismo de primeira passagem, portanto a exposição sistémica ao propionato de fluticasona em doentes com doença grave no fígado pode aumentar. Isto pode provocar um aumento da frequência de reações adversas sistémicas. O tratamento com doses mais altas do que as recomendadas para os corticosteroides nasais pode provocar supressão das suprarrenais clinicamente relevante. Se houver evidência para a utilização de doses superiores às recomendadas, deve considerar-se uma cobertura adicional com corticosteroides sistémicos durante períodos de stress ou cirurgia eletiva. Em geral a dose das formulações intranasais de fluticasona deve ser reduzida para a dose mais baixa com a qual é mantido o controlo eficaz dos sintomas da rinite. Doses mais altas que as recomendadas não foram testadas com Dymista. Tal como com todos os corticosteroides nasais, a quantidade total sistémica de corticosteroides deve ser considerada quando outras formas de tratamento corticosteroide são prescritas concomitantemente. Foram notificados em crianças tratadas com corticosteroides nasais, atrasos no crescimento com as doses aprovadas. Uma vez que o crescimento continua na adolescência, recomenda-se que o crescimento de adolescentes sujeitos a tratamentos prolongados com corticosteroides nasais seja também monitorizado regularmente. Se o crescimento for retardado, a terapêutica deve ser revista com o objetivo de reduzir a dose do corticosteroide nasal se possível, para a dose mais baixa eficaz capaz de manter os sintomas controlados. Podem ser notificados distúrbios visuais com o uso sistémico e tópico de corticosteroides. Se um doente apresentar sintomas como visão turva ou outros distúrbios visuais, o doente deverá ser encaminhado para um oftalmologista para avaliação de possíveis causas que podem incluir cataratas, glaucoma ou doenças raras, como a coriorretinopatia serosa central que foram notificadas após o uso de corticosteroides sistémicos e tópicos. É necessária uma monitorização apertada em doentes com uma alteração da visão ou com antecedentes de pressão ocular aumentada, glaucoma e/ou cataratas. Se houver qualquer razão para acreditar que a função suprarrenal está comprometida, deve ter-se cuidado quando se transferem os doentes de um tratamento esteroide sistémico para o Dymista. Em doentes com tuberculose, com qualquer tipo de infeção não tratada, ou que tenham sido sujeitos a uma cirurgia recente ou traumatismo no nariz ou boca, os possíveis benefícios do tratamento com Dymista devem ser ponderados frente aos possíveis riscos. Infeções nas vias nasais devem ser tratadas com antibacterianos ou antimicóticos, mas não constituem uma contraindicação específica ao tratamento com Dymista. Dymista contém cloreto de benzalcónio. A utilização a longo prazo pode causar edema da mucosa nasal. Interações medicamentosas e outras formas de interação Propionato de fluticasona: Em circunstâncias normais, atingem-se concentrações baixas de fluticasona após aplicação intranasal, devido ao extenso metabolismo de primeira passagem e uma depuração sistémica alta mediada pelo citocromo P450 3A4 no intestino e no fígado. Salienta-se que interações significativas mediadas pelo propionato de fluticasona são improváveis. Cloridrato de azelastina: Não foram realizados estudos específicos de interação com o cloridrato de azelastina spray nasal. Foram realizados estudos de interação com altas doses orais. Contudo, não têm relevância para a azelastina Spray Nasal porque as doses nasais recomendadas promovem uma exposição sistémica muito mais baixa. No entanto, deve ter-se especial cuidado quando se administra cloridrato de azelastina a doentes a tomar sedativos ou medicação para o sistema nervoso central porque o efeito sedativo pode ser potenciado. O álcool pode também potenciar este efeito. Efeitos indesejáveis As frequências são definidas da forma seguinte: Muito Frequentes (≥1/10); Frequentes (≥1/100, <1/10); Pouco frequentes (≥1/1.000, <1/100); Raros (≥1/10.000, <1/1.000); Muito raros (<1/10.000); Desconhecido (não pode ser calculado a partir dos dados disponíveis). Doenças do sistema imunitário: Muito raro: Hipersensibilidade incluindo reações anafiláticas, angioedema (edema da face ou língua e erupção cutânea), broncoespasmo; Doenças do sistema nervoso: Frequente: Cefaleias, disgeusia (sabor desagradável), cheiro desagradável, Muito raro: Tonturas, sonolência; Afeções oculares*: Muito raro: Glaucoma, aumento da pressão intraocular, cataratas, Desconhecido: Visão turva (ver secção 4.4); Doenças respiratórias, torácicas e do mediastino: Muito frequente: Epistaxe, Pouco frequente: Desconforto nasal (incluindo irritação nasal, picadas, prurido) espirros, secura nasal, garganta seca, irritação da garganta, Muito raro: Perfuração do septo nasal**, erosão da mucosa, Desconhecido: Úlceras nasais; Doenças gastrointestinais: Raro: Boca seca, Muito raro: Náuseas; Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos: Muito raro: Erupção cutânea, prurido, urticaria; Perturbações gerais e alterações no local de administração: Fadiga (cansaço, exaustão), fraqueza. * Foram identificados um número muito pequeno de notificações espontâneas após o tratamento prolongado com propionato de fluticasona intranasal. ** Foi notificada perfuração do septo nasal após a utilização intranasal de corticosteroides. Podem ocorrer efeitos sistémicos de alguns corticosteroides nasais, particularmente em altas doses por períodos prolongados. Foi notificado atraso no crescimento em crianças que receberam corticosteroides nasais. O atraso no crescimento pode ser possível também em adolescentes. Em casos raros foi observada osteoporose, se glucocorticoides nasais foram administrados a longo prazo. Rev: agosto 2020 Medicamento Sujeito a Receita Médica. 37% de Comparticipação. Para mais informações deverá contactar o titular da autorização de introdução no mercado. Titular de AIM: BGP Products, Unipessoal, Lda., uma empresa Mylan. e-mail da farmacovigilância: pv.portugal@viatris.com

BIBLIOGRAFIA: 1. Bousquet J, et al. J Allergy Clin Immunol 2020; 145: 70-80. 2. Carr W, et al. J Allergy Clin Immunol. 2012; 129(5): 1282-1289. 3. Leung et al. J Allergy ClinImmunol.2012;129(5):1216.4.BousquetJ,etal.JAllergyClinImmunolPract2018;6(5):1726-1732.e6.5.MeltzerEetal.IntArchAllergyImmunol2013;161:369-77. 4/2021/BGP/273

Janeiro-Abril 2024 • Jornal ORL 35

CONGRESSO NACIONAL DA SOCIEDADE PORTU GUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO X CONGRESSO Altice Fórum Braga LUSO-GALAICO de ORL

26 a 28 abril 2024

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