Jornal Médico 126

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A PARTILHA DE BOAS PRÁTICAS ENTRE TODAS AS UNIDADES DO SNS

dos cuidados de saúde www.justnews.pt

hospitais deviam ter Consulta e Internamento de Geriatria"

A suA coordenAdorA, LAurindA siLvA, reconhece que o processo (“desgAstAnte, condensAdo e intenso”) de trAnsição pArA modeLo B foi “muito importAnte” pArA A novA reALidAde que se vive nestA unidAde dA uLs dA ArráBidA e cujA “pedrA BAsiLAr” do seu funcionAmento é A orgAnizAção.

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Hospital do Mar disponibiliza Internamento de Psiquiatria

P. 6/9 com cobertura diária de um conjunto de profissionais de várias áreas, incluindo a MFR

USF Sado com + capacidade de resposta e + qualidade de atendimento informação

manter uma exposição semelhante no estado estacionário da fração ativa são as seguintes: Risperidona 37,5 mg de ação prolongada a cada duas semanas para OKEDI 75 mg injetável em intervalos de 28 dias. Risperidona 50 mg de ação prolongada a cada duas semanas para OKEDI 100 mg injetável em intervalos de 28 dias. Doses esquecidas: Para evitar o esquecimento

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Os doentes com compromisso da função hepática têm aumentos da concentração plasmática da fração livre de risperidona. OKEDI deve ser utilizado com precaução nestes grupos de doentes. Recomenda-se uma titulação cuidadosa com risperidona oral (reduzindo para metade as doses iniciais e efetuando lentamente a titulação) antes de iniciar o tratamento com OKEDI numa dose de 75 mg, se a tolerabilidade de uma dose oral de, pelo menos, 3 mg for confirmada. População pediátrica: A segurança e eficácia em crianças e adolescentes com menos de 18 anos não foram estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Indicado apenas para via intramuscular e não deve ser administrado por via intravenosa ou subcutânea nem por qualquer outra via. Deve ser administrado por um profissional de saúde. OKEDI deve ser administrado por injeção intramuscular profunda no deltoide ou no glúteo, utilizando a agulha estéril adequada. A seringa pré-cheia de pó de OKEDI deve ser reconstituída com a seringa pré-cheia de veículo fornecida imediatamente antes da administração por injeção. O processo de reconstituição deve ser efetuado de acordo com as Instruções de utilização. Contraindicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. Efeitos indesejáveis: As reações adversas ao medicamento (RAM) mais frequentes que foram notificadas num ensaio clínico de fase 3 são: aumento da prolactina sanguínea, hiperprolactinemia, acatisia, cefaleias, sonolência, aumento de peso, dor no local de injeção e tonturas. RAM notificadas em ensaios clínicos e na experiência pós-comercialização: Muito frequentes: insónia, parkinsonismo, cefaleias. Frequentes: pneumonia, bronquite, infeção das vias respiratórias superiores, sinusite, infeção das vias urinárias, otite, gripe, hiperprolactinemia, aumento de peso, aumento do apetite, diminuição do apetite, perturbações do sono, agitação, depressão, ansiedade, sedação/ sonolência, acatisia, distonia, tonturas, discinesia, tremores, visão turva, conjuntivite, taquicardia, hipertensão, dispneia, dor faringolaríngea, tosse, congestão nasal, dor abdominal, desconforto abdominal, vómitos, náuseas, obstipação, diarreia, dispepsia, xerostomia, dor de dentes, erupção cutânea, eritema, espasmos musculares, dor musculosquelética, lombalgia, artralgia, incontinência urinária, edema, pirexia, dor no peito, astenia, fadiga, dor, quedas, do no local de injeção, tumefação no local de injeção. Pouco frequentes: infeção das vias respiratórias, cistite, infeção ocular, amigdalite, onicomicose, celulite infecciosa localizada, infeção viral, acarodermatite, neutropenia, diminuição da contagem de leucócitos, trombocitopenia, anemia, diminuição do hematócrito, aumento da contagem de eosinófilos, hipersensibilidade, diabetes mellitus, hiperglicemia, polidipsia, diminuição de peso, anorexia, aumento do colesterol sanguíneo, aumento dos triglicéridos sanguíneos, mania, estado confusional, diminuição da libido, nervosismo, pesadelos, discinesia tardia, isquemia cerebral, perda de consciência, convulsões, síncope, hiperatividade psicomotora, perturbação do equilíbrio, coordenação anormal, tontura postural, perturbação da atenção, disartria, disgeusia, hipostesia, parestesia, fotofobia, olho seco hipersecreção lacrimal, hiperemia ocular, vertigens, acufeno, otalgia, fibrilhação auricular, bloqueio auriculoventricular, perturbação da condução, prolongamento de QT no eletrocardiograma, bradicardia, eletrocardiograma anormal, palpitações, hipotensão, hipotensão ortostática, rubores, congestão das vias respiratórias, respiração sibilante, epistaxe, incontinência fecal, fecaloma, gastroenterite, disfagia, flatulência, aumento das transaminases, aumento da gama-glutamiltransferase, aumento das enzimas hepáticas, urticária, prurido, alopecia, hiperqueratose, eczema, pele seca, descoloração da pele, acne, dermatite seborreicac perturbação cutânea, lesão cutânea, aumento da creatina fosfoquinase sanguínea, postura anormal, rigidez articular, edema articular, fraqueza muscular, dor no pescoço, polaquiúria, retenção urinária, disúria, disfunção erétil, perturbações ejaculatórias, amenorreia, perturbação, menstrual, ginecomastia, galactorreia, disfunção sexual, dor mamária, desconforto mamário, corrimento vaginal, edema da face, calafrios, aumento da temperatura corporal, marcha anormal, sede, desconforto no peito, mal-estar, sensação anormal, desconforto, dor resultante da intervenção, desconforto no local de injeção, eritema no local de injeção. Raros: infeção, agranulocitose, reação anafilática, secreção insuficiente de hormona antidiurética, glicosúria, intoxicação hídrica, hipoglicemia, hiperinsulinemia, catatonia, sonambulismo, perturbação alimentar relacionada com o sono, embotamento afetivo, anorgasmia, síndrome neuroléptica maligna, doença vascular cerebral, coma diabético, titubação da cabeça, ausência de resposta a estímulos, nível de consciência deprimido, glaucoma, perturbações do movimento ocular, rotação ocular, crostas na margem das pálpebras, síndrome da íris flácida (intraoperatória), arritmia sinusal, embolia pulmonar, trombose venosa, síndrome da apneia do sono, hiperventilação, crepitações, pneumonia por aspiração, congestão pulmonar, disfonia, perturbação respiratória, pancreatite, obstrução intestinal, edema da língua, queilite, icterícia, erupção medicamentosa, caspa, rabdomiólise, síndrome neonatal de privação medicamentosa, priapismo, atraso da menstruação, ingurgitamento mamário, hipertrofia mamária, corrimento mamário, hipotermia, diminuição da temperatura corporal, algidez periférica, síndrome de privação medicamentosa, induração. Muito raros: cetoacidose diabética, íleo, angioedema. Desconhecido: síndrome de Stevens-Johnson / necrólise epidérmica tóxica. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas ao INFARMED, I.P. (Tel: +351 217987373), Linha do Medicamento:

Doentes complexos dos CSP discutidos em consulta multidisciplinar

projeto-piLoto ArrAncou há um Ano nA então ucsp pArede, que, entretAnto, deu LugAr à usf AvencAs. o ALArgAmento A outrAs unidAdes dA uLs de LisBoA ocidentAL é um dos oBjetivos.

José Frias Bulhosa

c onsonância da nova proposta de organização da saúde oral em portugal com a agenda da oms

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Lara Cunha os enfermeiros perioperatórios e a gestão da incerteza no raciocínio clínico

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JORNALMÉDICO

Diretor: José Alberto Soares Redação: Miguel Anes Soares, Raquel Braz Oliveira Fotografia: Tomás Domingues Publicidade: Diogo Varela Diretor de Produção Gráfica: José Manuel Soares Diretor de Multimédia: Luís Soares Morada: Alameda dos Oceanos, Nº 25, E 3, 1990-196 Lisboa JornalMédicoé uma publicação híbrida da JustNews de periodicidade mensal, dirigida a profissionais de saúde, isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9/06, Artigo 12º nº 1A Tiragem: 12.000 exemplares Preço: 3 euros Depósito Legal: 355.701/13 Notas: 1. A reprodução total ou parcial de textos ou fotografias é possível, desde que devidamente autorizada e com referência à Just News . 2. Qualquer texto de origem comercial eventualmente publicado neste jornal estará identificado como “Informação”.

Publicações

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Para o desenvolvimento completo destes SSO será importante, numa 1.ª fase, a sua integração na estrutura orgânica das ULS.

Santa Maria trata glaucoma com técnica inovadora

O Serviço de Oftalmologia da ULS de Santa Maria realizou pela primeira vez uma cirurgia inovadora para tratamento do glaucoma: a micro-esclerostomia minimamente invasiva. É executada em poucos minutos e sem necessidade de suturar o olho, com um pós-operatório rápido e confortável para o doente. Os primeiros cinco doentes foram intervencionados, no final de maio, utilizando a técnica MIMS (sigla inglesa para minimally invasive micro sclerostomy ).

“A técnica tem passos muito simples e consiste em fazer um túnel na parte branca do olho (a esclera) para diminuir a tensão ocular. Este procedimento demora menos de 10 minutos, quando uma cirurgia tradicional pode levar até uma hora, porque implica construir uma canalização nova para diminuir essa pressão”, explica Luís Abegão Pinto, responsável pela Consulta de Glaucoma da ULSSM.

ESTRATÉgIA gLOBAL E PLANO DE AçãO EM SAúDE ORAL 2023-2030

Consonância da nova proposta de organização da saúde oral em Portugal com a agenda da OMS

A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou recentemente um novo documento estratégico, Estratégia Global e Plano de Ação em Saúde Oral 2023-2030, caracterizando e perspetivando a agenda global de saúde oral da OMS até 2030, através de um conjunto completo de políticas e medidas a implementar globalmente.

As doenças orais continuam a estar entre as 10 doenças não transmissíveis mais comuns em todo o mundo, afetando cerca de 3,5 mil milhões de pessoas, não apresentando abrandamento desde os anos 90, e em alguns grupos populacionais tem até crescido a sua prevalência. Esta carga de doença tem aumentado, particularmente nos países de baixo e médio rendimento, e em algumas situações tem aumentado o diferencial, relativamente ao acesso a cuidados básicos e essenciais de saúde oral, entre os mais ricos e os mais pobres, como está demonstrado para Portugal no mais recente relatório da OECD (2023), Health at a Glance 2023: OECD Indicators. Este classifica Portugal como o pior da OCDE, no que respeita ao acesso e ao maior diferencial entre os indivíduos ricos e mais pobres no que respeita às necessidades não satisfeitas neste domínio.

Conceptualmente, uma boa saúde oral é essencial para comer, respirar e falar e contribui para a saúde em geral dos indivíduos. Eventos como a dor orofacial e o desconforto associado às doenças orais contribuem fortemente para uma diminuição da concentração e da capacidade produtiva, conduzindo a ausências à escola ou ao trabalho e a degradação do estado de saúde oral promove o isolamento social e o empobrecimento.

Foi destacado no prefácio do documento, pelo diretorgeral da OMS, Dr. Tedros Ghebreyesus, que os estadosmembros demonstraram um compromisso com a melhoria da saúde oral, através da progressiva adoção da importante Resolução sobre saúde oral em 2021, bem como da posterior Estratégia Global sobre Saúde Oral em 2022.

Seguiu-se, em 2023, o desenvolvimento do Plano de Ação Global para a Saúde Oral 2023-2030, que traduz a mais atual visão e objetivos estratégicos globais, através de uma série de 100 ações para uma intervenção mais forte e coordenada em saúde oral. A par disto, está também consignado no documento um conjunto de 11 metas globais para acompanhar o

progresso na saúde oral, para todos os indivíduos e comunidades, até 2030.

Se não forem tratadas, as doenças orais podem ter um impacto grave na saúde. No entanto, muitas doenças orais são, em grande medida, evitáveis e podem ser tratadas através de procedimentos simples e não invasivos ao nível dos CSP e aliviar eficientemente a necessidade de recorrer a consulta hospitalar.

O Dr. Ghebreyesus reporta ainda que “a OMS apoia os Estados-Membros na implementação dessas políticas, dentro de seu próprio contexto nacional, para em conjunto reverter-se o padrão de negligência na saúde oral, melhorar a cobertura e o acesso numa dimensão global e garantir que todos recebam os cuidados essenciais de que precisam”.

A nível nacional, o Relatório da Saúde Oral 2.0, publicado em finais de 2023, e o mais recente Manual de Orientação para Criação e Desenvolvimento dos Serviços de Saúde Oral (SSO) nas ULS constituem-se como um importante passo para se alterar o clássico panorama de negligência com o estado da saúde oral da população portuguesa e em prol de uma mais eficiente articulação no SNS e com outros setores onde os cuidados de saúde oral estão também implementados.

Para o desenvolvimento completo destes SSO será importante, numa 1.ª fase, a sua integração na estrutura orgânica das ULS e constituir os mesmos, desde logo, com todos os profissionais de saúde oral (médicos estomatologistas, médicos dentistas, higienistas orais e assistentes dentários), bem como de outros profissionais de saúde que estejam envolvidos na prestação de cuidados e na monitorização da saúde oral.

Posteriormente, estas unidades ou serviços terão que delinear as respetivas carteiras de serviço no âmbito dos CSP e Cuidados Hospitalares e formas de acesso e trajetos centrados no utente entre os diferentes níveis de cuidados sempre que isso for necessário, sem descurar a importante ação comunitária e preventiva em escolas, ERPI ou outras.

Presentemente, a rápida instalação dos SSO e a rentabilização dos equipamentos instalados será um enorme contributo para o acesso a cuidados de saúde oral de excelência e na medida das necessidades mais prementes da população servida pelas ULS.

Uma parceria que se justifica

APAFIC – Portuguese Association for Integrated Care e a Just News têm um histórico de colaboração mútua que tem sido importante para a divulgação de atividades relacionadas com a integração de cuidados em Portugal. Assim, faz todo o sentido juntar sinergias para alavancar a sua promoção de uma forma mais estruturada. Com a parceria que agora se anuncia, pretende-se reforçar a divulgação de BOAS PRÁTICAS na área dos cuidados integrados, projetos ou programas que estão a decorrer nas instituições de saúde, sociais, comunitárias, associativas, autárquicas etc. e que são do conhecimento da PAFIC. Não esqueceremos os eventos programados, nacionais e internacionais, que abordem esta temática. E estaremos atentos às publicações de referência, para que possamos partilhar conhecimentos atualizados sobre uma temática tão vasta, mas com um forte impacto na forma como as instituições devem organizar a prestação de cuidados para responderem às verdadeiras necessidades das pessoas. Contamos convosco!

Celebrar 25

anos

de casamento na capela do Hospital de Braga

A capela da unidade hospitalar da ULS de Braga acolheu, dia 22 de maio, a celebração dos 25 anos de casamento de um utente de 53 anos, ali internado há várias semanas. A trombose renal de que foi vítima João Ferreira “obrigou” a que a cerimónia de renovação de votos de casamento com Maria Júlia Cunha, da mesma idade, acontecesse no próprio hospital, com a presença de um dos assistentes da instituição, o padre Adelino Domingues.

A celebração mereceu a especial atenção dos profissionais de saúde do internamento do Serviço de Neu-

rologia, tendo João Ferreira deixado um agradecimento especial à enfermeira Paula Nogueira.

Gastrenterologia da ULSALG tem nova sala de exames especiais

O Serviço de Gastrenterologia da ULS do Algarve, cujo diretor é Bruno Peixe, já começou a utilizar a nova sala de exames especiais, no Hospital de Faro. Trata-se da adapta-

ção de uma das salas de endoscopia da unidade de técnicas, que permite a realização de procedimentos que carecem de apoio de fluoroscopia e da anestesiologia, nomeadamente as CPRE (técnica endoscópica avançada do pâncreas e das vias biliares) e a colocação de próteses no tubo digestivo.

Esta melhoria permitirá a autonomia do Serviço de Gastrenterologia na realização destas técnicas, dispensando a deslocação da equipa clínica e do equipamento à sala de angiografia do Serviço de Radiologia ou ao Bloco Operatório.

Adelaide Belo Presidente da PAFIC

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM

Pedro Melo Doutor em Enfermagem.

Professor adjunto na Escola Superior de Enfermagem do Porto

Conhecimentos fragilizados, crenças comprometidas e valores desestruturados são elementos que esvaziam a sobrevivência das Pessoas Humanas e os seus comportamentos de adesão à procura da saúde, à harmonia social, à inclusão e ao sentido de Vida Saudável.

A urgência dos processos intencionais

No “Diagnóstico de Enfermagem” deste mês vamos explorar um dos grandes desafios que exige inovação nos cuidados de saúde ao nível global: a urgência dos processos intencionais.

Pergunta-se, ao ler esta primeira frase, o que significa “processos intencionais” e porquê serem uma urgência?

Começo por refletir sobre o primeiro conceito: Jaqueline Fawcett, autora do Metaparadigma da Enfermagem, apresenta-nos nos anos setenta do século XX um conjunto de conceitos metaparadigmáticos que enformam a Ciência de Enfermagem. Entre os vários conceitos, está o conceito de “Pessoa”, que é o alvo dos cuidados de Enfermagem. Fawcett indica que a “Pessoa”, enquanto alvo dos cuidados de Enfermagem, exige um olhar clínico para três tipos de processos: os processos intencionais, os processos não intencionais e os processos de interação com o ambiente. Neste contexto, em várias publicações, tenho apresentado a Enfermagem como sendo a ciência e a profissão que estuda, diagnostica e intervém nas firmezas e infirmezas das Pessoas Humanas. Vamos na coluna deste mês falar das infirmezas das Pessoas Humanas relacionadas com os seus processos intencionais.

Os processos intencionais das pessoas relacionamse com tudo aquilo que influencia os processos de tomada de decisão. Portanto, a Enfermagem, nesse domínio, avalia, do ponto de vista diagnóstico, dados que permitem identificar diagnósticos de Enfermagem epicêntricos para a tomada de decisão das Pessoas Humanas. Na Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) existe um foco de atenção dos enfermeiros que se designa mesmo por “Processo de tomada de decisão” e estou convicto de que é um dos focos fundamentais para garantir a sustentabilidade da vida humana.

Este foco torna-se um diagnóstico quando são avaliados critérios de diagnóstico que o enformam. Falamos primeiro que tudo dos conhecimentos. A literacia é uma base fundamental para a tomada de decisão. Claramente, as fragilidades nos conhecimentos sobre tantas dimensões que influenciam a saúde das pessoas, das famílias, das comunidades e populações têm a ver com um investimento dos sistemas de saúde para potenciar a promoção da saúde e a prevenção das infirmezas (prefiro chamar infirmezas em vez de doenças, porque estamos num campo muito mais vasto da saúde, que é a Enfermagem).

Quando reflito com os estudantes sobre o processo de tomada de decisão, costumamos enquadrar os conhecimentos como os tijolos de uma parede. São eles que lhe conferem a estrutura fundamental. Mas uma parede só com tijolos é frágil, tal como um processo de tomada de decisão onde só se consideram os conhecimentos. Há outros elementos importantes

que influenciam a tomada de decisão das Pessoas Humanas, como as crenças. Na metáfora da parede, as crenças são o cimento que liga os tijolos que são os conhecimentos. Consoante damos dinamismo às nossas crenças, vamos deslocando de forma diferente os tijolos dos conhecimentos, arrumando-os de forma diferente uns dos outros, fazendo, por isso, de nós “paredes diferentes”, mesmo que com “tijolos iguais”.

São as crenças que dão consistência e forma à estrutura. Ora, nas Pessoas Humanas, as crenças são influenciadas por muitos fatores, tais como as experiências, a interação social, os media, o sistema cultural, entre outros. Podemos neste campo afirmar que as Pessoas Humanas, globalmente, associam a uma literacia frágil um sistema de crenças que compromete processos de tomada de decisão, aproximando-as das doenças, de comportamentos discriminatórios ou da desarmonia social.

Dados epidemiológicos que indicam o aumento das doenças cardiovasculares, da obesidade e de alguns tipos de cancro associados aos comportamentos, mas também uma política global orientada para guerras, rigidez social não inclusiva, exercício fraco da cidadania, entre outros, demonstram bem que “as paredes” se encontram deformadas. Mesmo que o acesso à informação seja cada vez maior. Ou seja, nunca houve uma quantidade tão grande de tijolos disponíveis, mas muitos são ocos e o cimento que os une deforma a parede.

No âmbito da tomada de decisão, além dos conhecimentos e das crenças, há ainda os valores. Na mesma metáfora da parede, diria que os valores são a tinta que confere camadas e cor à parede. Ao contrário das crenças, os valores são estruturas hierarquizadas que servem de bússola para a nossa tomada de decisão. Se o meu valor fundamental for a verdade ou o altruísmo, vou ter uma cor que caracteriza uma parede orientada para o sentido de servir os outros e de garantir a dignidade (a minha e a dos outros). Mas se o meu valor fundamental for o dinheiro ou o poder egoísta, talvez tenha uma tonalidade menos apelativa, cobrindo os conhecimentos e crenças com uma cor que não lhes confere o real sentido de Ser Pessoa Humana.

Ora, conhecimentos fragilizados, crenças comprometidas e valores desestruturados são elementos que esvaziam a sobrevivência das Pessoas Humanas e os seus comportamentos de adesão à procura da saúde, à harmonia social, à inclusão e ao sentido de Vida Saudável. Se os nossos governantes à escala global não consideram tudo isto uma urgência é porque são também eles paredes escuras, deformadas e frágeis. Haja Enfermeiros e Enfermeiras orientados para uma decisão clínica que permita diagnosticar e intervir nos processos intencionais das Pessoas Humanas.

Eventos em destaque MEDICINA gERAL E FAMILIAR

III Jornadas do Núcleo de Internos Jacinto Magalhães

Salão Nobre da Câmara

Municipal de Paços de Ferreira 20 de setembro

Organização: Núcleo de Internos Jacinto Magalhães da ULS Tâmega e Sousa

11.as Jornadas do gIMgAS

Online 23 e 24 de setembro

Organização: grupo de Internos de Medicina geral e Familiar de Almada e Seixal

10.as Jornadas do grupo de Estudos de Doenças Respiratórias

31.º Encontro do Internato de MgF da Zona Norte

Exponor 16 a 18 de outubro

Organização: internos e especialistas de MgF da Direção de Internato Emílio Peres, ULS São João

V Jornadas da Foz

Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz 17 e 18 de outubro

Organização: internos de MgF da Comunidade de Prática Formaticva (CPF) da Figueira da Foz

15.º Encontro Nacional das USF

Lisboa

10 e 11 de outubro

Organização: gRESP

Centro Nacional de Exposições, Santarém 18 e 19 de outubro

Organização: Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar

Lara Cunha

Enf.ª espec. em Enfermagem Médico-Cirúrgica (ramo Pessoa em Situação Perioperatória). Bolseira de Doutoramento na Unid. Invest. em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA:E), Escola Sup. Enferm. de Coimbra (ESEnfC)

Atitudes dos enfermeiros perioperatórios revelam-se cruciais na gestão da incerteza no

raciocínio

clínico

O cuidado de saúde é uma dança delicada entre o conhecimento científico e a arte da prática clínica. No centro dessa dança está o enfermeiro perioperatório, cujo papel é crucial na gestão do cuidado à pessoa em situação perioperatória antes, durante e após os procedimentos cirúrgicos/anestésicos. No entanto, existe uma nuvem cinzenta latente sobre esse cenário – a incerteza(1)

A incerteza é uma companheira constante na jornada do enfermeiro, especialmente no contexto perioperatório, onde cada movimento pode ter repercussões significativas na gestão de risco cirúrgico e a vulnerabilidade dos que estão ao nosso encargo é notória(2). Neste cenário complexo, as atitudes dos enfermeiros em relação à incerteza desempenham um papel fundamental na consciência cirúrgica.

Um estudo recente explorou essas atitudes, no qual é revelado um espetro de crenças e perceções entre os enfermeiros perioperatórios(3). Num extremo encontramos a resistência à incerteza, refletida em crenças negativas e o medo de parecer frágil e incompetente no ambiente laboral. Esse receio, muitas vezes, leva à tomada de decisões solitárias e dúbias, com potencial risco para a prestação de cuidados de saúde seguros e de qualidade.

Não obstante, é possível que a luz penetre pela estrutura da nuvem, mesmo que densa e maturada. Outros enfermeiros expressam uma abordagem mais positiva, encarando a incerteza como uma oportunidade de crescimento e de mudança. Reconhecem, pois, que é na incerteza que a autoconfiança é fortalecida e as competências são otimizadas. Este mindset de aprendizagem contínua é essencial num campo tão dinâmico como a enfermagem perioperatória.

Mas como podemos cultivar essa mentalidade positiva imiscuída na incerteza? A resposta reside na promoção de um ambiente clínico healthcare provider friendly de apoio multidisciplinar e aprendizagem contínuas. Os enfermeiros precisam sentir-se seguros para expressar as suas dúvidas e procurar orientação quando necessário. Programas de educação contínua e espaços

para reflexão sobre a prática clínica são essenciais para nutrir a cultura de acolhimento, ao invés da punição do erro.

Além disso, é crucial reconhecer a importância do autocuidado na gestão da incerteza. Os enfermeiros perioperatórios são submetidos a uma carga emocional significativa na sua praxis diária. É fundamental oferecer suporte emocional e ferramentas pragmáticas para lidar com o stresse e a pressão associados à tomada de decisões em situações incertas.

Em última análise, as atitudes dos enfermeiros perioperatórios em relação à incerteza moldam não apenas a sua própria prática clínica mas também o cuidado que prestam à pessoa e família. Cultivar uma mentalidade de resiliência não só fortalece os enfermeiros individualmente, mas também eleva o padrão de cuidado e segurança para todos os envolvidos(3)

Como comunidade de saúde, devemos reconhecer a complexidade dos cenários clínicos da prática e valorizar o que de melhor têm os contextos: a sua massa crítica laboral, que deve fazer um caminho de aproximação multiprofissional, de forma a responder aos desafios de gestão da incerteza num ambiente incerto e inconstante(4). Somente assim podemos garantir que cada pessoa cuidada recebe o melhor cuidado possível.

Referências bibliográficas:

1. Han PK. Uncertainty in medicine: A framework for tolerance: Oxford University Press; 2021.

2. Cunha LDM, Pestana-Santos M, Lomba L, Reis Santos M. Uncertainty in post-anaesthesia nursing clinical reasoning: An integrative review in the light of the model of uncertainty in complex health care settings. Journal of Perioperative Nursing. 2022;35(2):e32-e40.

3. CUNHA LDM, PESTANA-SANTOS M, LOMBA L, SANTOS MR. Barriers and facilitators to managing uncertainty in nurses’ clinical reasoning in post-anaesthesia care units: a qualitative thematic analysis. Australian Journal of Advanced Nursing. 2023;40.

4. Cunha LD, Pestana-Santos M, Lomba L, Santos MR. “A Certainty for you Does Not Mean That it is a Certainty for Science”: A Phenomenological Analysis of Experiences of Uncertainty in Clinical Reasoning of Nurses in the Postanesthesia Care Unit. Journal of PeriAnesthesia Nursing. 2023.

Infeções respiratórias – reforço das medidas de prevenção e controlo de infeção

ADireção-Geral da Saúde (DGS) reportou, em junho, um aumento da transmissão da covid-19, que apresenta uma tendência crescente, com um valor que supera o pico de incidência do último inverno. Observa-se, igualmente, uma tendência crescente da proporção de episódios de urgência por covid-19 em todas as regiões e grupos etários, sendo o crescimento mais evidente nos grupos etários com mais idade.

A mortalidade específica por covid-19 correspondeu a 9 óbitos a 14 dias por milhão de habitantes. Os indivíduos mais velhos, ou com doenças subjacentes, ou previamente não infetados, podem desenvolver sintomas graves, se infetados.

Assim, e apesar da situação epidemiológica de momento ter um impacto limitado na procura dos serviços de saúde e na mortalidade geral, face à tendência de crescimento observada e ao período estival, com maior contacto entre as pessoas, vem-se reforçar a importância de adequar as medidas de proteção.

A DGS recomenda o reforço das medidas básicas de prevenção e controlo de infeção respiratória:

• quem tiver sintomas de infeção respiratória – tosse, febre, dor de cabeça, dificuldade respiratória –, deve optar por usar máscara, manter distanciamento físico e evitar ambientes fechados ou aglomerados;

• deve-se adotar a etiqueta res-

Luís

Duarte Costa inicia mandato de 3 anos à frente da SPMI

Luís Duarte Costa, que coordena o Atendimento Urgente de Adultos do Hospital da Luz Lisboa, sucede a Lèlita Santos, diretora do Serviço de MI da ULS de Coimbra, na presidência da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, para cumprir um mandato de 3 anos. A tomada de posse aconteceu a 26 de maio, último dia do 30.º Congresso Nacional de MI.

Filho de um gastrenterologista e de uma pediatra, Luís Duarte Costa é natural de Lisboa e fez o seu curso de Medicina na Faculdade de Ciências Médicas, que terminou no ano 2000. Especialista de MI desde 2008, é casado com uma médica de família e tem duas filhas. Fará 48 anos dia 22 de julho!

A fotografia inclui ainda o ex-

O novo presidente da SPMI, que tem uma ligação a esta instituição com perto de 20 anos, tendo integrado os seus Corpos Sociais durante praticamente todo esse período, destaca como prioritário “retomar a atratividade da MI, para que todos se revejam numa especialidade fulcral a nível hospitalar”.

-presidente da SPMI Luís Campos, a quem foi atribuído, também durante o último Congresso, o Prémio Nacional de Medicina Interna, considerando a sua “relevante contribuição para o prestígio e avanço científico da especialidade” e por “constituir um exemplo de trabalho e dedicação profissional”.

Ferreira Vicente

é o novo presidente da SPMR

Luís Ferreira Vicente, que tomou posse como presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução no Congresso realizado em maio, faz questão de sublinhar que, nesta área, “todos os profissionais são essenciais e formam uma equipa multidisciplinar”. Referindo-se a médicos, enfermeiros, embriologistas e psicólogos, acrescenta que “a SPMR reflete isso mesmo».

momento, a MR não está limitada aos tratamentos de infertilidade, oferecendo a possibilidade de ultrapassar diversos problemas”. A possibilidade de oferecer uma gravidez a mulheres solteiras ou a casais de mulheres, através da realização de tratamentos com doação de gâmetas, bem como de proceder ao diagnóstico pré-implantação, no caso dos casais que tenham doenças

piratória, ao tossir ou espirrar: tapar o nariz e a boca com um lenço de papel ou com o braço e, posteriormente, deitar o lenço no lixo e lavar as mãos, ou usar solução alcoólica com pelo menos 60% álcool;

• lavar e/ou desinfetar as mãos frequentemente;

• manter os espaços ventilados, preferencialmente através de ventilação natural, procedendo à abertura de portas e/ou janelas;

• ligar SNS 24 – 808242424, em caso de persistência dos sintomas.

Aquele responsável, que coordena o Centro de Procriação Medicamente Assistida do Hospital Lusíadas Lisboa desde fevereiro de 2022, não tem dúvidas em afirmar que, “neste

genéticas ou cromossómicas, transferindo apenas os embriões que não serão portadores de doença, são exemplos apontados por Luís Ferreira Vicente.

Corpos Sociais da SPMR 2024-2027: Ana Paula Soares, Ricardo Santos, graça Pinto, Ana Aguiar, Daniela Couto, Margarida Silvestre, Luís Ferreira Vicente, Joana Mesquita guimarães, Sérgio Reis Soares, Mariana Veloso Martins, Ana Sousa Ramos, Rui Miguelote e Joaquim Nunes
Luís Duarte Costa, Lèlita Santos e Luís Campos

Fernando Salvador, presidente do 30.º CNMI: “Nenhum hospital sobrevive sem MI”

Opresidente do 30.º Congresso Nacional de Medicina Interna (CNMI), que decorreu entre 23 e 26 de maio, em Vilamoura, foi bem claro ao intervir na sessão de abertura do evento. Fernando Salva dor garantiu que “nenhum hospital funciona sem esta especialidade ver dadeiramente integradora”.

Dirigindo-se aos congressistas na cerimónia de abertura, como presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), Lèlita Santos alertou para “o período de grandes dificuldades” que a sua es pecialidade atravessa, apelando à valorização da mesma. E sublinhou, sem hesitar, que é na MI que “estão os médicos mais resilientes e mais versáteis”.

No entanto, a médica frisou se rem “necessárias medidas urgentes, que tardam, o que, evidentemente, proporciona desmotivação e desâni mo, que podem tornar-se crónicos e irreversíveis”.

“Precisam de ser procuradas so luções no programa de formação, nas dotações dos serviços de MI, nos limites ao trabalho contínuo, no número de doentes observados por internistas, na possibilidade de for mação contínua e na discriminação positiva enquanto especialidade de suporte dos hospitais”, enumerou Fernando Salvador, que dirige o Ser viço de MI da ULS de Trás-os-Montes e Alto Douro, responsável pela orga nização desta edição do CNMI.

No seu entender, “o trabalho adi cional tem de ser valorizado e têm de ser criadas estruturas físicas e até departamentais para uma melhor gestão do doente”. Para além de que “só otimizando o internamento para doentes realmente agudos, reduzin do globalmente os de índole social, teremos serviços de MI eficientes”.

Entretanto, ao usar da palavra, o bastonário da Ordem dos Médicos fez questão de reconhecer “o contri buto que a MI tem dado na liderança dos serviços de Urgência”, prestando assistência “aos doentes mais graves e diferenciados”.

Carlos Cortes afirmou ainda: “É preocupante eu encontrar nos hospi tais médicos de MI exaustos, incapa zes de corresponder a todas as solici tações, que não desistem de fazer o seu trabalho.”

A ministra da Saúde quis associar -se à cerimónia de abertura do Con gresso e fê-lo através de videochama

da. Reconhecendo ser a MI “essencial para todo o sistema de Saúde”, assumiu a “disponibilidade absoluta do Governo em valorizar esta especialidade de forma totalmente prioritá-

todos os internistas”, Ana Paula Martins insistiu num aspeto: “O vosso papel ao longo dos anos, e em todo o país, tem sido por demais relevante.” Garantiu também estar o Ministério

QUANDO A DOR ACABA VIVEMOS A VIDA AO MAXIMO

Serviço de MI da ULS de Coimbra organiza Congresso de 2025

O Convento de São Francisco, em Coimbra, foi o local escolhido para a realização, entre 22 e 25 de maio de

2025, do próximo CNMI, cuja organização será da responsabilidade do Serviço de MI da ULS de Coimbra.

FORMA FARMACÊUTICA Comprimidos brancos, alongados e ranhurados. Na dosagem de 75 mg 650 mg, o comprimido pode ser dividido em doses iguais. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS Tratamento sintomático da dor moderada a intensa em que se considera ser adequada a combinação de tramadol e paracetamol POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO Posologia: Adultos e adolescentes (com 12 ou mais anos de idade): Recomenda-se uma dose inicial de dois comprimidos de Zilpen 37,5 mg / 325 mg ou um comprimido de Zilpen 75 mg 650 mg. Se necessário, podem ser tomadas doses adicionais, não ultrapassando 8 comprimidos de Zilpen 37,5 mg 325 mg ou 4 comprimidos de Zilpen 75 mg / 650 mg (equivalente a 300 mg de tramadol e 2600 mg de paracetamol) por dia. O intervalo entre as doses não deve ser inferior a seis horas. Caso seja necessário um tratamento repetido ou prolongado com Tramadol Paracetamol, como consequência da natureza e gravidade da patologia, deverá efetuar-se uma monitorização cuidadosa e regular. População pediátrica: Não se recomenda o tratamento nesta população de doentes. Doentes Idosos: Podem ser utilizadas as doses usuais, embora seja de assinalar que em voluntários com mais de 75 anos a semivida de eliminação do tramadol aumentou 17% após administração oral. Em indivíduos com mais de 75 anos de idade, recomenda-se que o intervalo mínimo entre as tomas não seja inferior a 6 horas, devido à presença do tramadol. Insuficiência renal: Devido à presença de tramadol, não se recomenda a utilização de Tramadol/Paracetamol em doentes com insuficiência renal grave (depuração da creatinina < 10 ml/min). Em casos de insuficiência renal moderada (depuração da creatinina entre 10 e 30 ml/min), o intervalo entre as tomas deverá ser aumentado para 12 horas. Como o tramadol é removido muito lentamente por hemodiálise ou por hemofiltração, a administração após a diálise para manter a analgesia não é normalmente necessária. Insuficiência hepática: Em doentes com disfunção hepática grave não se deve utilizar Tramadol/Paracetamol. Em caso de insuficiência hepática moderada deve ser cuidadosamente considerado o prolongamento do intervalo entre as doses Modo de administração: Administração oral. Os comprimidos devem ser engolidos com uma quantidade suficiente de líquido. CONTRAINDICAÇÕES Hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer um dos excipientes; Intoxicação aguda pelo álcool, fármacos hipnóticos, analgésicos de ação central, opiáceos ou fármacos psicotrópicos; Paracetamol / Tramadol não deve ser administrado a doentes em tratamento concomitante com inibidores da Monoamino Oxidase (MAO) ou dentro das duas semanas após paragem do tratamento; Disfunção hepática grave; Epilepsia não controlada por tratamento.ADVERTÊNCIAS E PRECAUÇÕES ESPECIAIS DE UTILIZAÇÃO Nos doentes com dependência de opiáceos e com um historial de dependência ou abuso de drogas, o tratamento só deve efetuar-se por um período curto e sob vigilância médica. O Tramadol/Paracetamol deve ser usado com precaução em doentes com traumatismo craniano, em doentes predispostos a convulsões, apresentando perturbações biliares, em estado de choque, com alteração da consciência de origem desconhecida, com problemas que afetam o centro respiratório ou a função respiratória ou com aumento da pressão intracraniana.EFEITOS INDESEJÁVEIS Os efeitos indesejáveis mais frequentemente referidos durante os ensaios clínicos, realizados com a associação de paracetamol/tramadol, foram náuseas, tonturas e sonolência, observados em mais de 10 % dos doentes. Perturbações do foro psiquiátrico: - Frequentes (≥1/100 a <1/10): confusão, alterações do humor (ansiedade, nervosismo, euforia), perturbações do sono Doenças do sistema nervoso: - Muito frequentes (≥1/10): tonturas, sonolência - Frequentes (≥1/100 a <1/10): cefaleias, tremor Doenças gastrointestinais: - Muito frequentes (≥1/10): náuseas - Frequentes (≥1/100 a <1/10): vómitos, obstipação, xerostomia, diarreia, dor abdominal, dispepsia, flatulência Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos: - Frequentes (≥1/100 a <1/10): sudação, prurido Embora não tendo sido observados durante os ensaios clínicos, não podem ser excluídos os seguintes efeitos secundários, associados ao uso isolado de tramadol e paracetamol: Tramadol: - Hipotensão postural, bradicardia, colapso (tramadol); - A vigilância pós-comercialização do tramadol revelou alterações raras da ação da varfarina, incluindo aumento do tempo de protrombina. - Após a administração de tramadol podem ocorrer efeitos secundários psíquicos que variam individualmente na intensidade e natureza que incluem alterações no humor, alterações na atividade e na capacidade cognitiva e sensorial. - Foi relatado agravamento de asma, embora não tenha sido estabelecida uma relação causal. - Sintomas de reações de privação, semelhantes às que ocorrem durante a privação de opiáceos, podem manifestar-se da seguinte forma: agitação, ansiedade, nervosismo, insónia, hipercinesia, tremor e sintomas gastrointestinais. Paracetamol: - As reações adversas do paracetamol são raras, no entanto, pode ocorrer hipersensibilidade incluindo erupções cutâneas. - Vários relatos sugerem que o paracetamol pode produzir hipoprotrombinemia quando administrado com substâncias análogas à varfarina. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 1749-004 Lisboa Tel: +351 21 798 73 73 E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt DATA DA REVISÃO DO TEXTO Agosto 2021. Para mais informações deverá contactar o titular da autorização de introdução no mercado. MSRM. Medicamento comparticipado escalão C.

ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO. NOME DO MEDICAMENTO: Zilpen LP 75 mg + 650 mg comprimidos de libertação prolongada. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Cada comprimido de libertação prolongada contém 75 mg de cloridrato de tramadol equivalente a 65,88 mg de tramadol e 650 mg de paracetamol. FORMA FARMACÊUTICA: Comprimido de libertação prolongada. Comprimidos ovais, biconvexos, com duas camadas revestidos por película, de cor branca a quase branca numa das faces e amarelo pálido na face oposta, com manchas escuras. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Indicado para o tratamento sintomático da dor moderada a intensa em adultos e adolescentes com mais de 12 anos. O uso de Zilpen LP deve restringir-se aos doentes com dor moderada a intensa em que se considera ser adequada a combinação de tramadol e paracetamol. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia: Adultos e adolescentes (com 12 ou mais anos de idade): A posologia deve ser ajustada individualmente à intensidade da dor e à sensibilidade do doente. Deve geralmente ser escolhida a dose analgésica eficaz mais baixa. Recomenda-se uma dose inicial de um a dois comprimidos de Zilpen LP. Se necessário podem ser tomadas doses adicionais, não ultrapassando os 4 comprimidos por dia. O intervalo entre as doses não deve ser inferior a doze horas. Zilpen LP não deverá, em nenhuma circunstância, ser tomado durante mais tempo do que o estritamente necessário. Caso seja necessário um tratamento repetido ou prolongado, como consequência da natureza e gravidade da patologia, deverá efetuar-se uma monitorização cuidadosa e regular (sempre que possível, com intervalos no tratamento), de forma a avaliar se é necessário continuar o tratamento. População pediátrica: Não se recomenda o tratamento nesta população de doentes. Doentes idosos: Em doentes idosos até 75 anos, sem insuficiência hepática ou renal clinicamente estabelecida, não é habitualmente necessário qualquer ajuste posológico. Em doentes com mais de 75 anos o tempo de eliminação pode estar aumentado. Deste modo, se necessário, os intervalos entre as doses devem ser prolongados em função das necessidades do doente. Doentes com insuficiência renal/diálise: Devido à presença de tramadol, não se recomenda a utilização de Zilpen LP em doentes com insuficiência renal grave. Em casos de insuficiência renal moderada, deve ser considerado um aumento no intervalo entre as doses. Como o tramadol é eliminado apenas muito lentamente por hemodiálise ou por hemofiltração, a administração pós-diálise para manter a analgesia não é normalmente necessária. Disfunção hepática: Em doentes com insuficiência hepática, a eliminação do tramadol encontra-se prolongada. Nestes doentes, o prolongamento do intervalo entre as doses deverá ser criteriosamente considerado em função das necessidades do doente. Devido à presença de paracetamol, Zilpen LP não deve ser utilizado em doentes com disfunção hepática grave Modo de administração: Administração oral. Os comprimidos devem ser engolidos inteiros, com uma quantidade suficiente de líquido. Não devem ser partidos nem mastigados. CONTRAINDICAÇÕES: Hipersensibilidade conhecida às substâncias ativas a qualquer um dos excipientes; Intoxicação aguda pelo álcool, fármacos hipnóticos, analgésicos de ação central, opiáceos ou fármacos psicotrópicos; Não deve ser administrado concomitantemente com inibidores da MAO ou dentro das duas semanas após paragem do tratamento; Disfunção hepática grave; Epilepsia não controlada por tratamento. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Os efeitos indesejáveis que poderão ocorrer durante o tratamento com Zilpen LP são classificados de acordo com os seguintes grupos por ordem de frequência: Muito frequentes (≥1/10); Frequentes (≥1/100 a <1/10); Pouco frequentes (≥1/1000 a <1/100); Raros (≥1/10000 a <1/1000); Desconhecido (não pode ser calculado a partir dos dados disponíveis). Dentro de cada grupo de frequência, os efeitos indesejáveis são apresentados por ordem decrescente de gravidade. Os efeitos indesejáveis mais frequentemente referidos durante os ensaios clínicos, realizados com a associação de paracetamol/tramadol, foram náuseas, tonturas e sonolência, observados em mais de 10 % dos doentes. Efeitos indesejáveis listados por classes de sistemas de órgãos: Perturbações do foro psiquiátrico: Frequentes: confusão, alterações do humor, ansiedade, nervosismo, euforia, perturbações do sono. Doenças do sistema nervoso: Muito frequentes tonturas, sonolência. Frequentes: cefaleias, tremor. Doenças gastrointestinais: Muito frequentes náuseas. Frequentes vómitos, obstipação, xerostomia, diarreia, dor abdominal, dispepsia, flatulência. Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos: sudação, prurido. Embora não tendo sido observados durante os ensaios clínicos, não podem ser excluídos os seguintes efeitos indesejáveis, associados ao uso isolado de tramadol e paracetamol: Tramadol: Hipotensão postural, bradicardia, colapso (tramadol); Após a administração de tramadol podem ocorrer efeitos secundários psíquicos que variam individualmente na intensidade e natureza. Estes incluem alterações no humor, (geralmente alegria, ocasionalmente disforia), alterações na atividade (geralmente diminuição, ocasionalmente aumento) e alterações na capacidade cognitiva e sensorial (por ex. decisão de agir, perceção de doença). Foi relatado um caso de agravamento de asma, embora não tenha sido estabelecida uma relação causal. Sintomas de reações de privação, semelhantes às que ocorrem durante a privação de opiáceos, podem manifestar-se da seguinte forma: agitação, ansiedade, nervosismo, insónia, hipercinesia, tremor e sintomas gastrointestinais. Paracetamol: Os efeitos adversos do paracetamol são raros, no entanto, pode ocorrer hipersensibilidade incluindo erupções cutâneas. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www. infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos, Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53,1749-004 Lisboa, Tel: +351 21 798 73 73, Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita), E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt DATA DA REVISÃO DO TEXTO Agosto 2022. Para mais informações deverá contactar o titular da autorização

DOR CRÓNICA
DOR AGUDA
Fernando Salvador

gRUPO LUZ SAúDE É PIONEIRO NA REgI ãO DE LISBOA E VALE DO TEJO E NA ZONA SUL A CRIAR ESTA VALêNCIA NUMA

com a cobertura diária de uma equipa multidisciplinar, do hospital do mar integra-se num amplo

desde fevereiro deste Ano que As pessoAs com perturBAções psiquiátricAs em fAse AgudA têm umA respostA de internAmento inéditA num hospitAL privAdo dA áreA de LisBoA. A existênciA de um corpo cLínico muLtidiscipLinAr, permAnente e diário, ALiAdA

A condições hoteLeirAs superiores são mAis-vALiAs pArA os doentes, que veem AgorA mAis compLetA A ofertA integrAdA de cuidAdos de sAúde mentAL no grupo Luz sAúde.

João Data Franco foi convidado há mais de um ano para assumir a coordenação do Internamento de Psiquiatria do Hospital do Mar, tendo aceitado de imediato. O desafio foi-lhe lançado por Maria João Heitor, consultora do Grupo Luz Saúde para a Saúde Mental e mentora deste projeto, que haveria de arrancar no final de fevereiro.

Vocacionado para a doença mental grave em situação aguda, o mesmo surge como uma resposta para os doentes que necessitam de ser hospitalizados. “Na prática privada, com muita frequência, deparo-me com a necessidade de internar doentes, dada a dificuldade de tratamento em ambulatório. Muitas vezes, as opções eram endereçar uma carta ou telefonar ao colega do hospital público da área de residência do doente que estivesse de Urgência, o que gerava algum atrito no processo de admissão”, começa por referir o psiquiatra.

E acrescenta: “Há serviços constantemente lotados e doentes internados nas urgências, porque os hospitais do Serviço Nacional de Saúde não conseguem dar resposta a tantos pedidos. Acontece que, muitas vezes, o critério de internamento não é meramente clínico, mas também logístico, ao depender da existência de vaga, e esta unidade agora criada no Hospital do Mar vem procurar colmatar essa lacuna e responder às necessidades das pessoas que precisam de ser hospitalizadas.”

Na realidade, prossegue João Data Franco, “havendo um critério médico de internamento e vaga disponível, o doente pode ser admitido”. Contudo, verificam-se ainda alguns constrangimentos de or-

dem financeira, por, “eventualmente, as pessoas não procurarem seguros com esta cobertura, ou pelo facto de as companhias seguradoras colocarem barreiras que não são sentidas por quem, por exemplo, é vítima de um enfarte”.

A perceção que o nosso interlocutor tem é que “se alguém tiver um problema ‘orgânico’, ainda que a doença mental envolva um órgão como outro qualquer, depara-se com menos obstáculos, sendo maior a probabilidade de ter um seguro que contemple o seu problema de saúde”. Tal deve-se ao facto de “haver ainda um estigma muito grande relativamente à patologia

João Data Franco: “Se alguém tiver um problema ‘orgânico’, ainda que a doença mental envolva um órgão como outro qualquer, depara-se com menos obstáculos, sendo maior a probabilidade de ter um seguro que contemple o seu problema de saúde.”

psiquiátrica, não só por parte das seguradoras como da própria sociedade em geral”.

A resposta a doentes com gravidade clínica e social

Maria João Heitor avança que, apesar de estarem a surgir outras unidades de internamento a nível privado, “a do Hospital do Mar foi a primeira a abrir com características de internamento de adultos para situações agudas com um corpo clínico multidisciplinar permanente e di-

al ou outro tipo de patologia, ainda que estabilizada, carece de um grande apoio do cuidador informal, pelo que muitos doentes acabam por ficar na ressaca de um internamento agudo, enquanto casos sociais, por um conjunto de atritos”. De facto, “frequentemente, a alta acaba por ser atrasada por falta de resolução social, porque as famílias não estão habilitadas a cuidar do doente ou por não terem as condições habitacionais adequadas”.

Assim, “embora possam estar mais estabilizados clinicamente, os

ário, incluindo médicos psiquiatras, enfermeiros especializados, técnicos auxiliares de saúde e outros profissionais, na região de Lisboa e Vale do Tejo e na zona sul do país”.

Considerando “a prevalência da doença mental, e especialmente da doença mental grave”, João Data Franco vê com bons olhos a decisão do setor privado em apostar nesta área: “Certamente que haverá procura, acabando por ser uma mais-valia existirem equipas vocacionadas para o tratamento em regime de internamento de casos graves em situação de descompensação, resposta que, em ambulatório, não está a ser efetiva.”

Neste leque de situações enquadram-se, a título de exemplo, casos de depressão, ansiedade grave, esquizofrenia e outras psicoses, perturbações da personalidade, obsessivo-compulsiva ou bipolar, síndrome de burnout grave e adições. Contudo, não rejeita que no Internamento do Hospital do Mar sejam também admitidos casos numa vertente mais social, para descanso dos cuidadores. O médico distingue, por outro lado, que “uma deficiência intelectu-

doentes com escasso suporte social e familiar têm frequentemente características complexas e necessitam de um serviço que responda às suas necessidades, pelo que o Hospital do Mar surge como uma instituição capaz de receber temporariamente estes doentes, enquanto não surgem vagas em instituições mais vocacionadas para internamentos de longa duração, para onde possam transitar”.

João Data Franco adianta terem já sido recebidos doentes graves semiestabilizados, vindos de outras instituições, para dar continuidade à sua convalescença no nosso hospital. “Tratando a fase aguda, há ainda um conjunto de sintomas residuais que levam mais algum tempo a ser ultrapassados, e aqui temos condições que nos permitem ajudar”, sublinha.

Maria João Heitor, por sua vez, salienta o facto de o Internamento de Psiquiatria estar inserido numa estrutura hospitalar com múltiplas valências de apoio, como a Medicina Interna, a Medicina Geral e Familiar, a Neurologia ou a Medicina Física e de Reabilitação. Isto para além da capacidade de resposta a outros níveis: nutrição, psicologia, neuropsicolo-

gia, neuroestimulação, fisioterapia, terapia ocupacional, terapia da fala, animação sociocultural e serviço social.

Com uma estrutura de 14 camas, distribuídas por dois quartos individuais e seis duplos, com casas de banho privadas adaptadas, “oferecemos um maior conforto ao doente, mas essencialmente um serviço médico completo e de qualidade, com este tipo de dinâmica”, frisa João Data Franco.

Maria João heitor com psiquiatras da equipa: André Delgado, Rita Avelar e João Data Franco

multidisciplinar, internamento de psiquiatria

conjunto de respostas de sm

Dado este Internamento de Psiquiatria apenas receber doentes que ali chegam de forma voluntária, é oferecida uma total abertura para poderem deixar esse espaço e circular pelas áreas comuns do edifício, a não ser que exista alguma contraindicação.

A parceria com os colegas para a referenciação de doentes

Ainda que, geralmente, os doentes sejam referenciados pelo seu psiquia-

“Na doença mental, como em qualquer outra, temos de ter o mesmo rigor e a mesma idoneidade para proceder ao internamento de alguém”, observa o médico.

tra assistente, seja do Grupo Luz Saúde ou externo, após a identificação da necessidade de acompanhamento em regime de internamento, outros casos são encaminhados a partir de um Serviço de Urgência ou de outro Internamento. Alguns doentes têm mesmo procurado esta resposta por iniciativa própria ou de familiares.

Em todo o caso, é feita uma avaliação inicial, sendo que, caso a pessoa não esteja a ser acompanhada, “essa avaliação psiquiátrica terá de ser mais estruturada e formal, de forma a verificar se reúne os critérios necessários e garantir que é oferecida a resposta de que necessita”.

O médico não exclui cenários, como a referenciação a partir do médico de família. Realça, sim, a necessidade de “haver uma avaliação rigorosa para internar apenas aqueles que tiram benefício, sendo que não há ninguém mais habilitado do que um psiquiatra para a realizar”. Como alerta, “na doença mental, como em qualquer outra, temos de ter o mesmo rigor e a mesma idoneidade para proceder ao internamento de alguém”.

A nacionalidade do doente também não é uma restrição, “desde que a equipa consiga falar a língua, uma vez que, na Psiquiatria, a comunicação é uma peça-chave”.

Enquanto alguns exames e análises podem ser feitos no próprio Hospital do Mar, outros meios complementares de diagnóstico e terapêutica exigem a deslocação do doente a outras unidades, geralmente do Grupo Luz Saúde, o que “é fácil, dada a articulação estreita que existe”.

Olhando para o futuro, a ambição é reforçar a equipa médica, com a entrada, já a curto prazo, de mais dois psiquiatras, para “dar uma cobertura mais uniforme e facilitar admissões”, e também captar mais doentes. “O objetivo é que esta Unidade de Internamento seja útil e haja uma boa dinâmica e rotatividade. Esperamos conseguir fazê-la crescer, por-

JOãO DATA FRANCO, COORDENADOR:
“O meu interesse e a minha formação e experiência são em doença mental grave”

Natural de Lisboa, João Data Franco, 40 anos, formou-se pela FMUL. De seguida, realizou o Ano Comum no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, tendo regressado a Lisboa e ao Hospital de Santa Maria em 2009, para realizar o internato de Psiquiatria, disciplina que lhe interessava desde o 4.º ano do curso, quando contactou com ela pela primeira vez. Em 2015, um ano após ter-se tornado especialista, começou a

nha formação e experiência são em doença mental grave, descompensada, que motiva internamentos”, destaca.

Atualmente, além desta atividade, a que se dedica a tempo parcial, realiza consultório privado e, desde 2021, dá aulas práticas de Psiquiatria na Universidade Católica Portuguesa. Aliás, a docência é outra das suas áreas de paixão, tendo começado a dar aulas na FMUL enquanto assisten-

trabalhar no Serviço de Psiquiatria do Hospital Beatriz Ângelo, onde se manteve até setembro de 2023.

A sua dedicação ao internamento naquela instituição, tendo até chefiado uma das equipas, contribuiu fortemente para ter sido desafiado a assumir a coordenação do Internamento de Psiquiatria do Hospital do Mar. “O meu interesse e a mi-

que há procura”, distingue João Data Franco. Para tal, considera essencial “dar a conhecer o projeto aos colegas, pelo menos da Área Metropolitana de Lisboa, e ter casos de sucesso”. Assim que o doente recebe alta deve voltar ao seguimento pelo seu médico assistente, esclarecendo o psiquiatra que “não faria sentido algum absorvê-lo, a não ser que não tenha acompanhamento de ambulatório estruturado, devendo, nesse caso, ser encaminhado para o especialista mais indicado, dentro ou fora do Grupo Luz Saúde”. Caso contrário, “a ideia não é desviar os doentes, pois, tal geraria desconfiança, mas devolvê-los ao seu médico, até porque essa é a única forma de estes entrarem numa boa parceria connosco”.

te convidado desde o segundo ano do seu internato, até fevereiro deste ano.

Dedica-se ao diagnóstico e tratamento de doenças psiquiátricas, nomeadamente, depressão, ansiedade, perturbação obsessivo-compulsiva, perturbação bipolar, esquizofrenia, psicose e perturbação de pânico.

Neste processo, “há um envolvimento da equipa de saúde hospitalar, do doente, dos seus cuidadores ou familiares e do seu médico assistente, para identificar as necessidades de apoio em casa e de cuidados de saúde em ambulatório e, desta forma, reduzir a necessidade de readmissão e alcançar o maior sucesso na reintegração sociofamiliar e comunitária”.

Helena Bárrios: a garantia da máxima estabilização orgânica

Enquanto médica de família, Helena Bárrios é um dos elementos que dão apoio ao Internamento de Psiquiatria, em caso de necessidade. “Enquanto os

(Continua

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colegas psiquiatras gerem as alterações psiquiátricas e comportamentais do doente, nós integramos esta equipa como consultores, para responder a problemas médicos não psiquiátricos, o que engloba estabilizar as doenças crónicas, otimizar e tratar problemas agudos intercorrentes, como seja uma infeção, e identificar precocemente situações agudas mais graves”, refere. “O objetivo é assegurar a máxima estabilização do doente, para que possa

reagir da melhor forma aos tratamentos psiquiátricos, usufruir de todos os serviços terapêuticos do hospital e atingir os seus objetivos”, complementa. Apesar de não haver médicos de MGF e de Medicina Interna alocados ao Internamento de Psiquiatria, o facto de haver sempre algum destes especialistas em permanência no hospital permite que, em caso de necessidade, o mesmo se desloque ao Internamen-

to para avaliar o doente. “Discutimos os casos com os colegas e estamos ao corrente das situações. Caso algum doente apresente necessidades médicas crónicas, é combinado um acompanhamento mais próximo”, explica.

A médica garante existir “uma boa complementaridade entre a MGF e a MI, porque enquanto a primeira está mais focalizada nas necessidades do doente, que se vão alterando ao longo da sua vida, e tem uma visão mais alargada dos contextos social e familiar, a MI está mais centrada no diagnóstico e no tratamento agudo em internamento, e essa junção é uma mais-valia”. Nesse sentido, entende que “ambas as especialidades, com os seus perfis de diferenciação, se enquadram muito bem nas necessidades que surgem no contexto deste internamento”.

Helena Bárrios concluiu a sua formação pela FMUL em 1994. Especialista em MGF, começou a orientar a sua atividade para as áreas de geriatria e cuidados paliativos e foi nesse contexto que começou a colaborar no Hospital do Mar, em 2009. No ano seguinte, passou a estar na instituição a tempo inteiro e, em 2014, assumiu a função de diretora clínica adjunta. Tendo a instituição começado por se diferenciar no acompanhamento dos doentes nas áreas de geriatria, demência, doença crónica e cuidados paliativos, “desenvolveu uma equipa multidisciplinar, porque o cuidado ao doente frágil assim o exige”. Posteriormente, “percebemos que essa equipa tinha potencial para dar apoio a outras tipologias de doentes, nos campos da reabilitação ortotraumatológica e cognitiva e, de forma muito natural, surgiu a oportunidade de oferecer também uma resposta de internamento a doentes psiquiátricos”.

A médica de família realça que, “por vezes, quando se fala de multidisciplinaridade em termos hospitalares, tal está associado à componente médica”. Contudo, no caso do Hospital do Mar, “há um enfoque multidisciplinar de vários grupos profissionais, o que permite identificar as necessidades do doente sob o ponto de vista das várias áreas”.

Pedro Freire: o triângulo doente, família e equipa no processo de recuperação

Pedro Freire é, desde a abertura desta resposta, o enfermeiro responsá-

CALDAS DE ALMEIDA, DIRETOR CLíNICO DO hOSPITAL DO MAR:

“Era importante que os doentes pudessem usufruir de todos os serviços que este hospital oferece”

“Na Luz Saúde, entendemos que, para construir um hub global de saúde mental, além do acesso a resposta especializada, era importante que os doentes psiquiátricos agudos e complexos estivessem num local onde pudessem usufruir de todos os serviços que este hospital oferece”, começa por explicar Manuel Caldas de Almeida, diretor clínico do Hospital do Mar desde 2006.

Paralelamente, “as condições arquitetónicas e ambientais muito agradáveis, num espaço hospitalar, mas com enquadramento de conforto, em que os doentes estão vestidos com a sua roupa e podem sair dos serviços, diferenciam-no de um hospital de agudos”, refere, notando que a ideia é “os doentes vestirem-se e deslocarem-se pelo hospital para realizar as atividades de fisioterapia ou terapia ocupacional, o que justifica o facto de, em cada piso, haver salas de estar confortáveis, que não são comuns noutras instituições”.

O médico, que é especialista em MGF, sublinha “o efeito que este ambiente e o recurso a uma equipa multidisciplinar têm a nível psicológico nos doentes, sejam eles psiquiátricos ou paliativos, o que se enquadra na filosofia do Hospital do Mar”.

Na sua opinião, “esta plasticidade do hospital e o seu investimento

na qualidade de vida dos doentes foram determinantes para a escolha desta instituição para acolher um Internamento de Psiquiatria e conseguir oferecer, assim, uma resposta de saúde mental global”, rejeitando que a decisão tenha estado relacionada com a necessidade de doentes, até porque “a taxa de ocupação hospitalar ronda os 95%”. Manuel Caldas de Almeida esclarece, aliás, que, para conseguir criar este Internamento, foi preciso utilizar parte da área destinada aos doentes ortotraumatológicos, admitindo reorganizar o espaço em caso de necessidade: “O meu objetivo é

que esta unidade tenha muito êxito e que daqui a um ano a área que agora ocupa jão não seja suficiente, exigindo a transferência dos doentes ortotraumatológicos para outro local.”

O diretor clínico espera que possa haver muita rotatividade de doentes, sem reinternamentos: “Queremos que as pessoas nos recomendem, mas não voltem. A ideia não é só estabilizá-las e dar-lhes apoio durante algumas semanas – é trabalhar para que regressem a casa melhor do que estavam quando foram admitidas aqui e não precisem de nós de novo.”

No caso do espaço do Internamento de Psiquiatria, nota ter existido “um trabalho de pesquisa internacional, de forma a criar uma unidade adaptada à área da saúde mental, do ponto de vista arquitetónico, decorativo e de segurança”.

A residir no Alentejo, onde é provedor da Santa Casa da Misericórdia de Mora, o médico de família assume ainda, desde o início de 2024, a coordenação da Comissão Executiva do Plano Nacional de Saúde para as Demências. Com competência em Gestão de Serviços de Saúde e em Geriatria, em 2005, foi convidado a participar no projeto de abertura do Hospital do Mar, que viria a ser inaugurado no ano seguinte.

vel pelo Internamento de Psiquiatria. Com 30 anos de carreira, já tinha tido a experiência de inaugurar o Serviço de Psiquiatria do Hospital Beatriz Ângelo. Foi, entretanto, desafiado a integrar este projeto, tendo transitado para o Hospital do Mar em dezembro de 2023, para operacionalizar a abertura da Unidade. É responsável pelas equipas de enfermagem e de auxiliares de ação médica.

Para já, a Unidade conta com quatro enfermeiros dedicados e outros quatro em regime de prestação de serviços, a maioria com especialização em Saúde Mental e Psiquiátrica ou experiência na área, e ainda nove auxiliares. Contudo, estes números não são estanques, adaptando-se às necessidades.

“Temos um bom rácio, de um enfermeiro para sete doentes, e enquanto ainda não temos a capacidade máxima de doentes internados, podemos fazer turnos noutros serviços com mais carências, garantindo uma otimização dos recursos humanos. Também no caso dos auxiliares, a alocação é flexível, consoante a lotação”, explica Pedro Freire.

Dado o interesse que manifesta pelo doente paliativo, também no seu caso, acaba por fazer alguns turnos noutros serviços. “Faço-o com todo o gosto e prazer. Aqui, dada a proximidade dos serviços, é fácil percebermos a tipologia dos doentes e prestarmos cuidados individualizados a cada um”, refere. Pedro Freire reconhece que “este Internamento é pioneiro, quando, a

nível da saúde mental, não há muitas respostas diferenciadas”. Considera, por isso, “importante haver este serviço bastante completo, ao nível da equipa e da organização em que está inserido”.

Ao nível da enfermagem, “além dos cuidados básicos, são realizadas atividades psicoeducativas, socioculturais e sociorrecreativas, individuais ou de grupo, de acordo com as necessidades dos doentes, procurando sempre envolver as famílias e pessoas significativas, que são importantes para o seu tratamento e recuperação”. Como destaca, “nós empoderamos os doentes e as famílias e pessoas significativas e não podemos dissociá-los. A equipa multidisciplinar, o doente e a família são três polos muito importantes para o processo de recuperação”.

O enfermeiro responsável explicita que “as atividades podem ser tão simples como incidir em treinos de atividades de vida diária, como tomar banho, relembrar ou criar rotinas, reconhecer a doença e os seus sinais e sintomas, uma vez que quanto mais precocemente os detetarem mais rapidamente podem pedir ajuda e garantir a adesão ao regime terapêutico e a sua correta gestão”.

“Nós

empoderamos os doentes e as famílias e não podemos dissociá-los”, destaca Pedro Freire.

Com uma vasta experiência em Enfermagem, Pedro Freire, lisboeta, 52 anos, iniciou o seu percurso no Serviço de Hematologia do Hospital dos Capuchos. Foi aí que identificou a importância de “ter outro tipo de competências para ajudar os doentes, concretamente ao nível da saúde mental”. Em 2010, realizou a especialização em Saúde Mental e Psiquiátrica, quando já trabalhava em Psiquiatria. Durante a sua carreira, passou pelos hospitais Miguel Bombarda, Júlio de Matos e Beatriz

da pág.
Pedro Freire

Ângelo, antes de transitar para o Hospital do Mar.

Alexandra Paulo: a reabilitação individual ou em grupo, de acordo com as capacidades e dificuldades

A trabalhar no Hospital do Mar desde a sua inauguração, em 2006, a fisioterapeuta Alexandra Paulo assumiu três anos depois a função de terapeuta coordenadora. Nesse âmbito, a sua principal preocupação é “garantir que os doentes possam beneficiar de um conjunto de recursos, seja de fisioterapia, neuroestimulação, terapia ocupacional, terapia da fala ou animação sociocultural, numa linha de continuidade”.

Com um conjunto de programas definidos, o processo começa pela avaliação individual dos doentes pós-referenciação do médico ou enfermeiro da unidade, sendo os mesmos integrados nas terapias de acordo com as suas capacidades e dificuldades ou necessidades. “Se tiverem indicação, e se for possível, o desejável é que os doentes possam realizar as atividades nos espaços próprios, isto é, no ginásio e nas salas de trabalho, onde têm acesso a outro tipo de equipamentos e podem trabalhar em grupo”, expõe.

Alexandra Paulo considera que “a socialização com os outros doentes e os terapeutas acaba por ser muito funcional e positiva, porque permite-lhes estar num contexto mais semelhante ao da realidade exterior, e, se o objetivo é evitar o reinternamento,

cabe-nos fazer a preparação da passagem para o mundo exterior da forma mais suave e real possível”.

Os grupos, que não ultrapassam os seis elementos, são “estudados e constituídos com objetivos terapêuticos predefinidos, juntando doentes com algumas características semelhantes, potenciando o plano terapêutico individual de cada um”.

Contudo, “caso ainda não tenham condições para se deslocar ao exterior e necessitem de um ambiente mais recatado, securizante e hipoestimulado, podem realizar as atividades na Unidade, onde o terapeuta se desloca”. Uma opção intermédia consiste no uso do espaço do jardim, onde “pode continuar a haver uma relação de um para um, mas num ambiente menos protegido, onde há outros estímulos, que podem ser usados para trabalhar a readaptação ao exterior”.

Claro que, geralmente, “antes de ser integrado no grupo, há uma intervenção individual durante alguns dias, para a equipa conhecer melhor o doente, os seus défices ou dificuldades, até para não se correr o risco de a intervenção ser precoce e depois correr mal”. Mesmo após a transição para o grupo, esclarece que “tal não inviabiliza que mantenha uma intervenção individual paralela”.

Na área da fisioterapia, Alexandra Paulo avança que procuram

“trabalhar muito a autonomia e a funcionalidade, uma vez que acontece frequentemente os doentes apresentarem défice de força, astenia ou diminuição da tolerância ao esforço, que pode resultar de períodos prolongados de internamento ou até mesmo da terapêutica instituída”.

Reconhecendo que “o exercício na área da saúde mental é importantíssimo”, afirma que os programas de fisioterapia nesse âmbito visam “estimular uma maior produção de massa muscular e capacidade de resistência cardiovascular, promovendo o bem-estar físico, o que vai contribuir para que os doentes se sintam melhor, com maior autoestima e se tornem mais sociáveis e, desta forma, influenciar o seu bem-estar geral e o relacionamento com o outro”.

A terapeuta coordenadora identifica como mais-valia “os doentes poderem usufruir de todos os recursos de reabilitação disponíveis no Hospital do Mar, com flexibilidade e adaptabilidade às suas reais necessidades”, distinguindo como ponte forte “o trabalho em equipa que é realizado sempre em prol do melhor cuidado ao doente”.

Formada em 2000 pela Escola Superior de Saúde de Alcoitão, Alexandra Paulo tem-se dedicado à área da reabilitação. Sempre trabalhou a nível privado, tendo começado pela vertente da ortotraumatologia.

ISABEL VAZ, PRESIDENTE DO CA DO hOSPITAL DA LUZ LISBOA E CEO DA LUZ SAúDE:

“Passamos a garantir uma resposta integral também na área da Psiquiatria e SM”

Questionada sobre a data em que se terá começado a idealizar a criação do Internamento de Psiquiatria do Hospital do Mar, Isabel Vaz, presidente do Conselho de Administração do Hospital da Luz Lisboa (HLL) e CEO da Luz Saúde, explica ter sido em pleno período da pandemia. De facto, em 2020, “o Grupo Luz Saúde procedeu a uma reflexão estratégica relativamente ao aprofundar da sua atuação na área da Saúde Mental, a qual, tendo sido desde sempre uma aposta do HLL, já compreendia respostas múltiplas de ambulatório de Psiquiatria e Psicologia, bem como o apoio ao internamento médico-cirúrgico”.

“Dada a elevada prevalência das perturbações psiquiátricas, assim como a escassez de respostas estruturadas e coordenadas no setor privado, em particular ao nível do internamento, foi decidido avançar com o Internamento Psiquiátrico no Hospital do Mar. Esta unidade do Grupo Luz Saúde trabalha em estreita integração clínica com o HLL, nomeadamente nas áreas das demências, reabilitação especializada em regime de internamento e cuidados paliativos”, refere a responsável.

Isabel Vaz não tem dúvidas de que esta valência “é, seguramente, um contributo para aumentar e melhorar o leque de respostas na área metropolitana de Lisboa e na zona

“Oferecemos toda a segurança e qualidade”

Para Maria João Heitor, consultora do Grupo Luz Saúde para a Saúde Mental desde 2022 e mentora deste projeto, “a área da SM tem sido, provavelmente, aquela com respostas mais escassas ao nível dos hospitais privados, em particular no internamento”.

Por isso, dedicou-se desde a primeira hora ao projeto de criação do Internamento de Psiquiatria do Hospital do Mar, que “levou mais de um ano de preparação e reuniões, com a seleção do corpo clínico, definição de indicações e de tipologias de doentes e articulação com as diferentes portas de entrada, nomeadamente o Serviço de Atendimento Urgente do Hospital da Luz Lisboa, a Linha Saúde 24, o ambulatório de Psiquiatria e a MGF do Hospital da Luz Lisboa”. A médica adianta que, presentemente, esta reposta está ainda a ser divulgada à classe psiquiátrica alargada, para além das próprias unidades Luz Saúde.

Neste processo, foi necessário ainda “desenhar as respostas clínicas e de reabilitação necessárias e um conjunto de procedimentos

e circuitos importantes, além de realizar obras de adaptação de espaços”.

Maria João Heitor, presidente cessante da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, reconhece “a segurança e qualidade oferecidas por este Internamento, graças à cobertura diária de uma equipa multidisciplinar e à sua inte-

gração num conjunto de respostas mais amplo”.

Nesse âmbito, realça “a estreita articulação deste Internamento com as clínicas da rede Hospital da Luz do Sul e da Ilha da Madeira, nesta primeira fase, envolvendo uma oferta integrada de cuidados de saúde mental em ambulatório, com consultas de Psiquiatria e de Psicologia, gerais e diferenciadas, entre elas de Saúde Mental Perinatal, Patologia do Sono e Psico-oncologia”.

Neste conjunto de respostas, verifica-se existir também “uma colaboração estreita e investimento num projeto paralelo que está a decorrer ao nível da medicina preventiva, através de variados programas, nomeadamente de higiene e patologia do sono, prevenção de adições a substâncias e de dependências comportamentais, gestão do stress e prevenção do burnout”.

A nossa interlocutora avança que, para breve, está prevista a criação de uma resposta complementar ao internamento no Hospital do Mar. “Queremos dispor de um hospital de dia, destinado aos do-

Sul, tendo contado com o apoio das várias seguradoras e subsistemas de saúde em termos da cobertura do financiamento aos seus beneficiários”.

Admitindo tratar-se de “uma mais-valia indiscutível para todo o ecossistema clínico do HLL e para os seus profissionais”, destaca “o entusiasmo e a competência de uma equipa clínica multidisciplinar, experiente e fortemente comprometida com este novo projeto do Grupo Luz Saúde. Passamos, assim, a poder garantir aos nossos clientes uma resposta integral também na área da Psiquiatria e Saúde Mental, desde os cuidados ambulatórios ao Serviço de Urgência e ao Internamento especializado”.

entes que já não precisem de estar internados, mas necessitem de uma maior estabilização do quadro clínico e de treino de competências e desenvolvimento de capacidades numa perspetiva de reabilitação psicossocial”, distingue.

No Hospital da Luz Lisboa, estão ainda a ser programadas consultas e grupos terapêuticos para perturbações do comportamento alimentar, de pânico e de personalidade borderline, distimia e luto. Deverá ainda ser criada uma unidade para técnicas de neuromodulação com eletroconvulsivoterapia, tratamento off-label com cetamina, em terapia isolada ou combinada com intervenção psicológica, tratamento com escetamina e estimulação magnética transcraniana, em articulação com uma consulta de depressão resistente.

“Já existiam respostas de Psiquiatria e Saúde Mental de ambulatório, em muitas unidades de saúde do Grupo, com profissionais de excelência, contudo, este projeto global vem reforçar e alargar estas respostas, quer de ambulatório, quer agora com o Internamento de Psiquiatria”, remata.

MARIA JOãO hEITOR, CONSULTORA DO gRUPO LUZ SAúDE PARA A SAúDE MENTAL:
Alexandra Paulo

informação informação

1.º CONgRESSO wES (wORkShOPS EM ESqUIZOFRENIA) – PONTES PARA O SUCESSO

Especial Especial

Discutir nas suas múltiplas vertentes uma patologia

Dossier Dossier

promover A AtuALizAção de conhecimentos e A trocA de experiênciAs entre profissionAis de sAúde que LidAm com A esquizofreniA foi o gr Ande oBjetivo dA rovi Ao orgAnizAr o 1.º congresso Wes – pontes pAr A o sucesso, que decorreu no convento do BeAto, nos diAs 21 e 22 de junho. os psiquiAtr As migueL BAjouco, ciro oLiveir A, pedro morgAdo e AnA mAtos pires, que constituíAm o comité científico do Wes, deixAm Aqui os seus comentários soBre o evento.

“Foi uma oportunidade para aprofundar os conhecimentos num conjunto alargado de tópicos relativos à esquizofrenia, desde a evolução histórica do tratamento em Portugal até à mais recente evidência na abordagem psicofarmacológica da fase aguda da doença”, considera Miguel Bajouco, da ULS de Coimbra, salientando o “conjunto de sessões de excelente conteúdo teórico, mas com índole sobretudo prática”.

O destaque desta primeira edição nacional do WES foi para três workshops: farmacocinética e adesão; o papel dos injetáveis de longa duração (ILD) como terapêutica de 1.ª linha, desde o diagnóstico precoce à resistência ao tratamento; e os desafios da polifarmácia e da patologia dual nos doentes com esquizofrenia.

Houve ainda a possibilidade de assistir ao filme “ Esquizofrenia no Cinema”, do realizador espanhol Raul Alda, que, como refere Miguel Bajouco, “serviu de mote à discussão sobre a representação da doença veiculada pelo cinema e nos media e que é fonte para o estigma que existe em relação a pessoas com esta doença”.

O psiquiatra de Coimbra não

deixa de realçar a importância da apresentação do estudo RESHAPE (estudo internacional RWE), que está a ser realizado (em recrutamento de doentes) no nosso país e irá “permitir obter dados nacionais sobre o tratamento com a formulação ILD da risperidona, que recorre à nova tecnologia ISM”, a qual foi também apresentada.

Miguel Bajouco realça a importância da apresentação dos resultados mais recentes do estudo RESHAPE.

Para Miguel Bajouco, o 1.º Congresso WES “constituiu uma iniciativa valiosa numa patologia tão complexa e multifacetada como a esquizofrenia, uma vez que promoveu a disseminação de novas práti-

cas, estratégias terapêuticas e avanços científicos que podem melhorar significativamente a qualidade de vida dos doentes”.

Ciro Oliveira reconhece que os encontros científicos “são sempre uma oportunidade de aumentar o conhecimento, não apenas porque são espaços de divulgação daquela que é a informação científica mais atualizada como também por serem um lugar de discussão da ciência atual, da prática quotidiana e dos seus desafios, e ainda do desenvolvimento futuro na área”.

É por isso, acrescenta, que “um encontro científico bem organizado e que mescle a teoria e a prática é,

Todos saímos mais ricos em conhecimento

Pedro Maldonado

Diretor-geral da ROVI Portugal

Na ROVI, como empresa farmacêutica, trabalhamos para apoiar a pesquisa e a investigação e fomentar o conhecimento, até porque cremos que uma sociedade informada é uma sociedade mais saudável. Seguindo este princípio, realizámos, dias 21 e 22 de junho, o 1.º Congresso WES em Portugal.

A intenção deste modelo de Workshops em Esquizofrenia (WES) é a de promover a interatividade, a troca de experiências, falar das práticas e das diferentes abordagens clínicas, perceber a doença do ponto de vista de quem a tem e dos próprios cuidadores, representados pelas associações de doentes, assim como o envolvimento das pessoas no processo de diagnóstico e terapêutico. Tínhamos dois pressupostos que queríamos garantir, por um lado, que os elementos da Comissão Científica que reunimos para

este evento tivessem total liberdade de abordar os temas que considerassem pertinentes, e, por outro, que palestrantes e participantes pudessem sentir-se num ambiente descontraído, mas de participação e intervenção.

Foi para nós um sucesso conseguir reunir, durante dois dias, médicos psiquiatras do continente e ilhas para discutir as novas abordagens na esquizofrenia e verificar que, no final, todos saímos deste evento mais ricos em conhecimento.

A todos o meu obrigado. Mais iniciativas virão.

inevitavelmente, um evento que acrescenta saber e que promove as melhores práticas clínicas, o que, inevitavelmente, trará benefício direto aos doentes e, por consequência, às suas famílias e à sociedade”.

O psiquiatra da ULS de São José classifica mesmo o 1.º Congresso WES como “um momento de aprendizagem invulgar”. Lembrando que a esquizofrenia é uma perturbação psiquiátrica que levanta “tantos desafios” – clínicos, de diagnóstico, terapêuticos, pessoais, familiares, sociais e laborais, para além do estigma que se lhe associa –, sublinha “a oportunidade que foi organizar um evento exclusivamente dedicado a esta condição, discutindo-a de forma alargada, nas suas múltiplas vertentes”.

“Estou em crer que este WES foi muito bem-sucedido e que todos os participantes saíram com mais conhecimento e mais bem preparados para desenvolver uma clínica alicerçada no melhor conhecimento teórico e nas melhores práticas”, conclui Ciro Oliveira.

“Uma extraordinária oportunidade formativa”

Pedro Morgado, da ULS de Braga, faz um balanço igualmente positivo do encontro que a ROVI organizou, até porque nele participaram palestrantes nacionais e estrangeiros “de grande qualidade”, acabando por se tornar, na sua opinião, “uma extraordinária oportunidade formativa”.

Ana Matos Pires: “O 1.º Congresso WES mostrou como é possível organizar um encontro científico eclético e de qualidade superior.”

“O programa foi organizado para navegar por uma perspetiva histórica da esquizofrenia em Portugal, atualizar a evidência científica mais recente acerca dos diversos tratamentos, refletir sobre a farmacocinética e a farmacodinâmica dos diferentes antipsicóticos, explorar a gestão medicamentosa da patologia dual, encontrar caminhos para gerir a polifarmácia, identificar e tratar as formas resistentes e, ainda, auscultar as visões do cinema, da sociedade e das famílias sobre a esquizofrenia”, afirma o psiquiatra.

“O 1.º Congresso WES mostrou como é possível organizar um encontro científico eclético e de qualidade superior. Obrigada à ROVI por isso e por provar como uma empresa farmacêutica pode ser uma aliada da transmissão de

patologia tão complexa e multifacetada

conhecimento”, afirma Ana Matos Pires, não poupando nos elogios à realização da iniciativa: “O seu su cesso mostra a mais-valia que será a sua continuidade!”

E prossegue: “Venha o próximo, repleto de informação de excelência e de uma participação cada vez mais alargada a todos, nomeadamente, a quem tem responsabilidades nas áreas da saúde, do trabalho e social, da justiça, da educação, das artes, do ensino e da investigação.”

A médica da ULS do Alto Alente jo lembra o facto de a perturbação esquizofrénica ser uma entidade nosológica que necessita de ser abor dada nas suas diferentes perspetivas – “desde a etiopatogenia à clínica, do tratamento psicofarmacológico às abordagens psicossociais e psicotera pêuticas”.

Para além disso, frisa Ana Matos Pires, “tem implicações no próprio, na família e na sociedade em geral, havendo um longo caminho a per correr em Portugal no sentido de diminuir o estigma e desenvolver um lobbying claro, sério e organiza do, cujo objetivo último é melhorar a vida das pessoas doentes. Também este aspeto foi conseguido, envolven do a participação de cientistas, clíni cos e familiares, sem esquecer a arte, neste caso, o cinema, como um meio a usar”.

Referindo-se aos diferentes workshops, o facto de versarem temas mais particulares “permitiu uma discussão alargada e o resumo

das mensagens-chave, transmitidas numa sessão própria para todos os

terminaria sem agradecer à ROVI o convite para estar presente, “enten

confiança naquilo que é para mim uma causa pessoal e profissional – a

em Portugal e, sobretudo, a defesa dos direitos dos doentes mentais

Percursos Assistenciais Integrados da ULSLA com resultados “extremamente positivos”

Ao fim de um ano de atividade, a implementação dos Percursos Assistenciais Integrados (PAI), “digitalizados e com follow-up através de automação”, na ULS do Litoral Alentejano (ULSLA) tem permitido “obter resultados extremamente positivos” junto das pessoas com insuficiência cardíaca e com multimorbilidade, refere Adelaide Belo.

Em declarações à Just News, a coordenadora do Núcleo de Integração de Cuidados da ULSLA e do Programa de Gestão de Caso lembra que o projeto arrancou em junho de 2023, com o PAI das pessoas com IC. Seguiu-se, em outubro, o das pessoas com multimorbilidade (PAI MM), ou seja, que têm pelo menos duas de três patologias: IC, diabetes e DPOC.

Adelaide Belo salienta que “os resultados deste tipo de programas só têm impacto a médio/longo prazo”. Nesse sentido, esclarece que foi decidido avaliar a utilização dos Serviços de Urgência e Inter-

namento de um grupo de doentes em programa há pelo menos 6 meses – envolvendo 617 do PAI IC e 285 do PAI MM –, comparativamente com o período homólogo anterior. Verificou-se uma redução de 78% no número de internamentos de doentes com multimorbilidade, de 95 para 21. Quanto aos episódios registados no Serviço de Urgência, a

Adelaide Belo salienta que “os resultados deste tipo de programas só têm impacto a médio/longo prazo”.

- Anúncio Okedi_Anuncio_AF.pdf 2 08/11/2022 11:06

redução foi de 59%

Também no caso das pessoas com IC os dados são muito animadores. Ao fim de seis meses houve menos 158 episódios na urgência, o que equivale a uma redução de 33%, descendo os internamentos de 228 ‘para 148, ou seja, menos 35%.

De referir que a 30 de abril de 2024 estavam inscritos na plataforma digital 3437 pessoas (2022 com IC e 1415 com MM), com uma média de idades de 78 anos.

É, assim, fácil compreender que os PAI da ULSLA sejam candidatos à 17.ª Edição do Prémio de Boas Práticas em Saúde 2024, estando o projeto “entre os finalistas selecionados para a fase de avaliação científica”.

“A reorganização da prestação dos cuidados conseguida com a implementação dos PAI permite ter o doente no radar, prestar o cuidado certo, no momento certo, pela equipa mais adequada”, afirma Adelaide Belo.

SOFIA DUqUE, COORDENADORA DO NúCLEO DE ESTUDOS

“hospitais deviam e internamento

o tempo pAssA e A inquietAção de sofiA duque AumentA reLAtivAmente Ao que não se fAz, “mAs podiA e deviA fAzer-se!”, pArA promover A geriAtriA no nosso pAís, ApesAr de o número de pessoAs idosAs não pArAr de AumentAr. em todo o cAso, reconhece que As coisAs mudArAm muito nos úLtimos Anos. “não tem nAdA A ver!”, excLAmA A médicA, ArriscAndo dizer que “A geriAtriA poderiA muito Bem ser umA suBespeciALidAde dA medicinA internA”.

Com 43 anos de idade completados nos últimos dias de maio, Sofia Duque teria 25 quando, ao cumprir o internato do Ano Comum, e com o início da prática clínica, percebeu que a especialidade que mais a atraía era a Medicina Interna, pondo de parte a Medicina Geral e Familiar, que era uma hipótese que também colocava. Entretanto, também chegava rapidamente à conclusão de que tinha um gosto especial em lidar com as pessoas mais idosas.

Deu-se depois a circunstância de ter iniciado o seu internato da especialidade “num Serviço que valorizava a diferenciação dos internistas”, estimulando a que isso acontecesse logo desde o início da formação. Lembra, por isso, com visível saudade, a sua chegada à Medicina IV do Hospital de São Francisco Xavier e a influência que o então diretor do Serviço, Luís Campos, haveria de ter no seu futuro profissional”.

“Quando fui chamada a identificar uma área de diferenciação, pensei, desde logo, que me interessaria mais que a área escolhida fosse ainda pouco desenvolvida e inovadora, com a perspetiva de poder fazer algum trabalho de desenvolvimento e investigação. Por outro lado, tinha consciência da gratificação que me trazia o contacto com as pessoas mais velhas, em oposição ao que pensavam alguns colegas da minha geração”, recorda Sofia Duque, acrescentando:

“Percebi rapidamente que o meu interesse estava focado na Geriatria, embora o desafio tenha sido grande, pois, tratava-se de uma área muito subdesenvolvida. Na altura, fui de alguma forma pioneira, obrigando-me a procurar formação fora do país, tanto em congressos como em estágios, tendo sempre o apoio do meu Serviço. Da minha geração, terei sido das primeiras pessoas a procurar formação práti-

A expectativa originada com a criação do Colégio da Competência de geriatria

Sofia Duque reconhece que a criação do Colégio da Competência de Geriatria, que ocorreu em 2014, trouxe consigo “uma grande expectativa de que se pudesse assistir ao desenvolvimento desta área, com a abertura de consultas e de unidades de Geriatria nos hospitais, mas isso só aconteceu decorrente da vontade pessoal deste ou daquele colega e não de uma forma estrutural”.

“Não se entendeu que os hospitais devessem ter uma consulta de Geriatria da mesma forma que têm consultas de diabetes, de doenças autoimunes ou de hipertensão arterial”, lamenta a internista.

Deverão ser pouco mais de uma centena os médicos a quem foi formalmente atribuído este título, mas, como diz Sofia Duque, “uma coisa é alguém ter a competência e outra

bem diferente é ter tido realmente formação prática em Geriatria, pois, isso é que faz a diferença na forma como abordamos os idosos na prática clínica”.

Serão pouco mais de uma centena os médicos com competência em Geriatria.

Numa fase inicial de reconhecimento da competência, “houve uma admissão menos minuciosa, em que ter formação prática em Ge-

deviam ter consulta de g eriatria

para doentes com maior fragilidade”

“A Geriatria não está contemplada de forma estrutural no SNS”, insiste Sofia Duque.

criação eriatria

riatria não era um requisito básico. Entretanto, nos últimos anos, tem havido uma evolução no sentido de aprimorar e tornar mais rigorosos os critérios de atribuição do título. Foi reconhecido que a formação prática em serviços de Geriatria é fundamental para se mudar o paradigma da assistência clínica às pessoas mais velhas. Em alternativa, e considerando a escassez desses serviços em Portugal, essa formação poderá ser obtida com médicos com competência que na sua prática clínica diária apliquem os princípios básicos da Geriatria”.

Na ausência dessa formação, “torna-se necessário demonstrar, com uma prova prática rigorosa, que o candidato sabe aplicar num doente os princípios básicos fundamentais da prática clínica em

ca em Geriatria e a ter essa oportunidade, inclusive, dando seguimento à mesma, em busca de respostas clínicas.”

Em anterior entrevista à Just News, em 2022, Sofia Duque criticava o facto de a Geriatria “não estar contemplada no SNS”. A situação mantém-se: “Continuamos a ter apenas respostas pontuais que, no fundo, resultam de um grande interesse pessoal demonstrado por alguns médicos, mas a Geriatria não está, de

facto, contemplada de forma estrutural no SNS.”

No seu entender, tal acontece “porque se entende que outras especialidades são capazes de dar resposta adequada aos problemas das pessoas mais velhas”. Ora, “todos aqueles que tiveram uma formação mais diferenciada, com acesso a outros modelos de cuidados, testemunhando determinadas respostas clínicas em Geriatria, facilmente concluem que se poderia atender melhor a população idosa, de uma forma mais especializada”.

No tratamento das pessoas idosas “haver alguém com formação em Medicina Interna é fundamental, mas importa que tenha depois um domínio das patologias específicas das pessoas mais velhas. Trata-se de um treino que não acontece de forma universal porque o estágio de Geriatria não é obrigatório no internato médico de MI, o mesmo sendo verdade para a MGF.”

Geriatria: uma subespecialidade da Medicina Interna?

Olhando para a realidade de outros países “que já estiveram na nossa situação”, e considerando que o reconhecimento da competência de Geriatria pela Ordem dos Médicos “não impulsionou a sua entrada nos hospitais de forma universal”, a coordenadora do NEGERMI avança que “a formação de uma massa crítica independente, ou seja, a criação da especialidade ou da subespecialidade de Geriatria será, provavelmente, a força motriz necessária para desenvolver, de uma forma mais sólida, esta área, seja nos CSP como nos cuidados hospitalares”.

A nível europeu, “a Secção de Medicina Geriátrica da União Europeia de Médicos Especialistas já consagrou o conteúdo do currículo da formação pós-graduada em Geriatria e fica claro que a Geriatria, a Medicina Interna e a MGF não se intersubstituem, mas antes complementam-se”.

tes mais seguros para as pessoas mais velhas, com a implementação de práticas clínicas mais favoráveis, que previnam a sua deterioração, procurando evitar, por exemplo, que após um internamento hospitalar se torne mais difícil o regresso ao domicílio por se instalar um quadro de dependência”, afirma a médica, acrescentando:

“Para além, obviamente, da própria MI, a Geriatria está em condições de colaborar com outras especialidades no sentido de abordar doentes mais frágeis e ajudar a adequar as respostas a dar aos mesmos. Estou a pensar na Oncologia, na Ortopedia ou na Cardiologia, entre outras.” No entender de Sofia Duque, “a Geriatria poderia muito bem ser uma subespecialidade da MI, em que à forte componente de formação em patologias médicas crónicas e agudas da MI se adicionaria uma preparação mais específica para as patologias próprias desta população idosa com grande fragilidade”.

Tomar vai receber a próxima reunião anual do NEgERMI

Geriatria. Qualquer médico que tenha a oportunidade de trabalhar de perto com um geriatra reconhecerá formas de avaliação e procedimentos distintos que constituem a verdadeira prática clínica da Geriatria – e isto não se aprende nos livros de texto!”

O Núcleo de Estudos de Geriatria da SPMI tem dado o seu contributo, “promovendo, de forma sistemática e incrementada ao longo do tempo, formação nesta área ministrada por especialistas com a competência e o treino prático em Geriatria, porque achamos que isso faz a diferença”, sublinha Sofia Duque. De referir que a principal iniciativa do NEGERMI nesta área é a Bolsa para Estágios Clínicos de Geriatria, que tem vindo a ter um número crescente de candidatos.

Mas também, acrescenta a nossa entrevistada, mais custo-efetiva, pois, “há vários estudos que mostram que a Geriatria poupa recursos económicos e atrasa a institucionalização, o que é fundamental para garantir a sustentabilidade dos serviços de saúde”.

“Já poderíamos ter reconhecido, por exemplo, que todos os hospitais têm que ter uma Consulta de Geriatria e uma Unidade de Internamento de Agudos para os doentes com maior fragilidade, que apresentam um maior risco de deterioração funcional ou cognitiva, mais complexos, não só com doenças crónicas mas também com síndromes geriátricas. Ou até uma Unidade de Ortogeriatria, em articulação com a Traumatologia, da mesma forma que devia ser possível fazer a identificação dos doentes com fragilidade nos serviços de Urgência para adequado encaminhamento. Por outro lado, nos CSP devia haver a valência de Saúde do Idoso”, afirma Sofia Duque, prosseguindo:

“Para além da própria MI, a Geriatria está em condições de colaborar com outras especialidades no sentido de abordar doentes mais frágeis e ajudar a adequar as respostas a dar aos mesmos”, garante a médica.

Sustentando a posição privilegiada da MI na capacidade de resposta aos doentes com multimorbilidade, Sofia Duque adianta que “o grande enfoque da Geriatria” são aqueles idosos complexos que, adicionalmente, apresentam várias síndromes geriátricas. E enumera as quedas, a polimedicação, os problemas nutricionais, a sarcopenia, a fragilidade, a demência... No fundo, o alvo será “o doente frágil, com grande risco de deterioração funcional e cognitiva”. “Precisamos de promover ambien-

A 7.ª Reunião do Núcleo de Estudos de Geriatria vai decorrer em Tomar, a 28 e 29 de novembro próximos, e uma das mesas-redondas do primeiro dia visa precisamente fazer o ponto da situação da Geriatria em Portugal. O programa inclui temas tão variados como a terapêutica na insuficiência cardíaca, a covid-19 no doente idoso, a prevenção de quedas no idoso frágil ou a abordagem à psicogeriatria (demência e delirium). O 2.º dia incluirá sessões sobre a inteligência artificial nesta área, doença renal crónica, insulinoterapia no idoso, infeções, vacinação, doenças do movimento e até se discutirá a possível incorporação da saúde oral na avaliação geriátrica global.

Sofia Duque: “O alvo da geriatria é o doente frágil, com grande risco de deterioração funcional e cognitiva”

Medidor de G licemia + C e tonemi

UNIDADE DE SAúDE FAMILIAR

SADO, ULS DA ARRáBIDA

NOVO MEDIDOR com as MESMAS TIRAS

g arantindo capacidade de resposta é agora reforçada a prevenção, promovendo

Após oito Anos de existênciA, A equipA dA usf sAdo viu o finAL de 2023 mArcAdo peLA pAssAgem A modeLo B. com um grAu de mAturidAde e união mAior, os profissionAis destA unidAde têm AgorA investido nA proximidAde e nA LiterAciA em sAúde dA popuLAção.

Quando assumiu a coordenação da USF Sado, em dezembro de 2022, Laurinda Silva sentiu que “a equipa estava motivada e que era possível não só oferecer um melhor serviço aos utentes como também proporcionar outras condições de trabalho aos próprios profissionais”. Naquela altura, a médica tinha plena perceção de que “muito do desempenho não era retratado, por erros de registo ou porque não havia um cronograma”. Na sua opinião, “era necessário investir na organização da Unidade para, assim, tentar elevá-la a modelo B, uma vez que a equipa merecia ver valorizado o trabalho que estava a desempenhar desde 2015 e tinha capacidade para tal”.

Em conjunto, decidiram que faria sentido investir nesse crescimento e, durante o ano de 2023, realizaram todo o trabalho burocrático associado à Grelha DiOr-CSP e às auditorias da ERA, para “garantir um atendimento de qualidade e uniforme”.

Tal contemplava também, naquele momento, alargar o horário de atendimento até às 20 horas, o que exigia a necessidade de criar uma 6.ª lista. “Dado o elevado número de utentes sem médico na área de Setúbal, essa possibilidade foi bem acolhida pelo então diretor executivo e pelo Conselho Clínico e de Saúde do ACES, e conseguimos criar uma nova lista em tempo recorde”, justifica. Atualmente, não recusa a possibilidade de voltar a expandir a equipa, o que considera ser “ótimo tanto para a Unidade como para a própria ULS da Arrábida”, distinguindo o “apoio recebido do antigo ACES e também de outras unidades modelo B neste processo de candidatura e de ascensão”.

Reconhecendo o “espírito de equipa e de entreajuda existente no Sado”, Laurinda Silva destaca que, “apesar de o processo ter sido desgastante, condensado, intenso e ter até exigido de nós mais

do que era suposto e interferido com a qualidade de vida pessoal, traduziu-se também num crescimento enquanto pessoas, dadas as discussões críticas construtivas e os momentos de lazer vividos juntos nesse período”.

Retrospetivamente, a coordenadora da USF considera que o processo de transição a modelo B foi “muito importante para a equipa ganhar as bases que lhe permitem ter esta capacidade de resposta e de qualidade de atendimento, e cuja pedra basilar é a organização”.

Laurinda Silva:

“Sem dúvida que devíamos ter outro tipo de apoio nesta logística, mas não nego que o processo nos fez amadurecer e criar as raízes que nos proporcionam a qualidade que temos hoje.”

Contudo, faz um apontamento: “Sem dúvida que devíamos ter outro tipo de apoio nesta logística, porque somos profissionais de saúde e não temos bases nesse âmbito burocrático, mas não nego que o processo nos fez amadurecer e criar as raízes que nos proporcionam a qualidade que temos hoje”.

Por isso mesmo, sempre partilhou com a equipa que a atitude a tomar devia ser a de “procurar dar o nosso melhor, sabendo que somos médicos, enfermeiros e secretários clínicos, pelo que temos de estar dis-

postos a ouvir críticas construtivas e a aprender com os auditores sobre o que podemos melhorar”.

A nossa interlocutora considera que tal atitude foi essencial “até para evitar a frustração relacionada com a densidade de trabalho burocrático, ao reconhecerem, por exemplo, que a elaboração dos documentos não visa apenas a sua afixação, mas a garantia de uma uniformização de práticas, o que é benéfico para a atuação da equipa”.

Com um edifício próprio, constituído pelo piso térreo e pelo superior, Laurinda Silva reconhece as boas condições estruturais do espaço, o que “é uma mais-valia para o trabalho de qualidade que pode ser desempenhado hoje em dia, algo que não é transversal a todas as unidades”.

A literacia em saúde como meio para a prevenção

Com um leque de quase 11 mil utentes, das freguesias de Gâmbia-

-Pontes-Alto da Guerra e do Sado, Laurinda Silva comenta que “a grande área de abrangência se traduz em dificuldades na acessibilidade à Unidade de alguns utentes de zonas mais afastadas, pela limitação de horários dos transportes públicos”.

Enquanto as listas mais antigas, como a que a coordenadora da USF herdou de um médico que se reformou, “são caracterizadas por terem utentes mais idosos e portugueses”, as duas listas mais recentes, constituídas em 2021 e 2023, reúnem já “um leque significativo de estrangeiros

Medidor de Glicemia + Cetonemia

Maior Simplicidade e Fiabilidade para pessoas com Diabetes

resposta e qualidade de atendimento, promovendo a literacia em saúde

“Enquanto Unidade dos CSP, a prevenção só é feita se houver literacia em saúde”, refere a coordenadora.

que vêm trabalhar ou viver a sua reforma em Portugal e grupos populacionais mais jovens”.

A especialista em MGF comenta que a zona do Sado “é muito interessante, porque, sendo caracteristicamente rural, situa-se ao mesmo tempo perto da cidade, abrangendo

na sua população muitos pescadores, agricultores e trabalhadores fabris por turnos”.

A oferecer atualmente apenas a carteira básica de consultas, a equipa desta Unidade tem procurado, desde o ano passado, “envolver mais os utentes na vida da

Nome: Deriva do facto de a USF se localizar na freguesia do Sado, junto à Reserva Natural do Estuário do Sado.

Logótipo: Pretende simbolizar três características da zona que envolve a USF: o azul do rio Sado, o verde da Serra da Arrábida e o rosa dos flamingos do Estuário do Sado.

USF, porque, enquanto Unidade dos CSP, a prevenção só é feita se houver literacia em saúde”. A nossa interlocutora acredita mesmo que, “na sociedade atual, a literacia em saúde é cada vez mais importante, ao contribuir para que as pessoas ganhem conhecimentos e definam prioridades”.

Nesse sentido, estabeleceram já a realização anual de pelo menos três atividades com os utentes, baseadas em sessões de esclarecimento sobre temas considerados, em reunião geral, como pertinentes. Este ano, foi já promovida uma atividade que incidiu, com sucesso, sobre os rastreios oncológicos: “Convocámos uma amostra de utentes que tinham rastreios em atraso e muitos

LAURINDA SILVA, COORDENADORA:

“A porta fica aberta”

Laurinda Silva nasceu a 27 de dezembro de 1989, na ilha Terceira. Antes de iniciar o 5.º ano de escolaridade, os pais decidiram que “queriam dar outros horizontes às suas filhas”, pelo que os quatro vieram viver para o continente, concretamente para a zona de Setúbal. Desde criança que queria ser médica, pelo facto de poder salvar vidas. Candidatou-se à Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Universidade da Extremadura e

ordenação da Unidade e lutou pela sua transição a modelo B, que acabou por verificar-se um ano depois. Nas consultas que realiza, Laurinda Silva assume garantir frequentemente aos utentes que “a porta fica aberta”, no sentido de dar-lhes abertura para voltarem ao seu contacto em caso de necessidade. “A verdade é que ficam muito tranquilos e é rara a vez em que voltam. Esta situação acontece muito nos casos em que as crianças não têm, no momento da

gostou muito da experiência que viveu, nomeadamente por lhe ter proporcionado “contactar com uma cultura muito diferente”. Em 2016, realizou o Ano Comum no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, e, no ano seguinte, iniciou o internato de MGF na USF Luísa Todi. Pouco depois de se tornar especialista, foi convidada a integrar a USF Sado, para assumir a lista de um médico que ia reformar-se, o que veio a suceder em março de 2022. No final desse ano, assumiu a co-

compareceram nas sessões de esclarecimento e puderam esclarecer dúvidas e perceber a importância dos mesmos.” Ainda que nem todos tenham comparecido, a médica distingue que “aqueles que vieram irão, certamente, passar a palavra, o que é importante”. A coordenadora da Unidade admite que sempre gostou de di-

consulta, indicação para antibiótico. Se piorarem, os pais sabem que têm aqui uma porta aberta”, refere.

A médica admite que, além do conhecimento que tem das famílias, gosta muito do “poder da continuidade e da proximidade associadas à MGF”.

Apesar de o seu tempo pessoal ser neste momento dedicado, praticamente em pleno, aos seus dois filhos, de quatro anos e de sete meses, Laurinda Silva refere que alguns dos seus hobbies favoritos são ler e viajar.

namizar projetos na comunidade, realçando como “tais atividades são fundamentais para captar a atenção da população e incentivar à sua proatividade”. E explica: “Nós somos um para aproximadamente 1900 utentes. Se conseguirmos que eles próprios tenham uma boa lite-

(Continua na pág. 16)

(Continuação da pág. 15)

racia em saúde e saibam que está na altura de fazer os exames de vigilância, em termos de rastreios, já será uma benesse, porque não nos escapará nada, o que é determinante na MGF enquanto especialidade centrada na prevenção”. Em simultâneo, reconhece que “a interação entre a equipa e os utentes aproxima-nos, o que é uma segunda vantagem”.

Durante este ano, deverão ainda ser realizadas ações nas áreas da insuficiência cardíaca e da doença pulmonar obstrutiva crónica. No caso da IC, nota ser essencial “alertar para os sintomas, porque, muitas vezes, os utentes acabam por os camuflar”, salientando “a interferência que a IC tem na qualidade de vida”. Com este trabalho, acredita ser possível “tirar maior proveito do aparelho de teste do NT-proBNP e diagnosticar mais casos de IC”.

A flexibilidade e o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional

Laurinda Silva avança que “a formação é um dos pilares de uma Unidade, tanto em termos internos como externos, por isso, mensalmente, é realizada pelo menos uma sessão formativa na USF, com um preletor interno ou vindo de fora, e regularmente a equipa frequenta formações externas”.

Avaliando o IDG e o IDE atuais, a coordenadora considera serem “bons, para uma Unidade que ainda só tem um ano de existência enquanto modelo B, e mostram que a equipa está no bom caminho e muito motivada”. Acredita que o facto de terem “consolidado todo o

processo em termos de protocolos e de procedimentos agilizou imenso a perspicácia de todos na organização de agendas, o que contribuiu para garantir que os utentes tivessem o acesso que precisam para manter a sua qualidade de vida em termos de saúde”.

No entanto, não recusa a possibilidade de “o grupo ser exigente e conseguir mais”. Na realidade, “há sempre aspetos a melhorar no atendimento ao utente, dos quais podemos tirar benefício para a sua saúde e qualidade de vida”.

A médica de família adianta que “uma das características incutidas

JUAN BAUTISTA, INTERNO DO 2.º ANO:

“Temos conseguido gerir as situações e a flexibilidade que nos caracteriza também nos define enquanto equipa”, considera a médica.

foi precisamente pensar e querer alcançar mais em equipa” e refere que, “após ter sido implementado durante o ano anterior, o conceito está agora a ser colocado em prática de forma mais eficiente”. Por se tratar de “um grupo muito jovem, tal implica momentos de assistência à família e de licença de parentalidade, determinando ausências que têm que ser colmatadas”.

Apesar dos desafios adjacentes à conjugação das vidas profissional e pessoal, destaca a forma positiva como os têm enfrentado: “Na realidade, temos conseguido gerir as situações e a flexibilidade que nos

“Muitas vezes, as pessoas queixam-se, mas não colaboram com este tipo de atividades, que podem salvá-las em caso de risco”

Natural de Cúcuta, Juan Bautista, de 48 anos, foi um dos 42 médicos colombianos contratados pelo Estado português para começar a trabalhar, em abril de 2011, nos centros de saúde com maior carência de médicos de família. Formado em Medicina pela Universidade El Bosque, em Bogotá, e a trabalhar em medicina de família há seis anos, decidiu aceitar o desafio, tal como a sua esposa, igualmente médica, e vieram para Portugal, com uma filha de dois anos.

Começou por trabalhar na UCSP São Sebastião, mas tinha o desejo de estudar mais e fazer a especialidade de MGF, pelo que, em 2015, avançou para o Ano Comum no Hospital de São Bernardo. Durante algum tempo, trabalhou ainda na UCSP Quinta do Conde e, em 2023, iniciou a especialidade de MGF na USF Sado, uma unidade por onde tinha passado durante o Ano Comum, sendo que já conhecia alguns dos profissionais do tempo da UCSP São Sebastião. “Gostava da equipa, da zona e não pensei duas vezes”, refere.

Não teve dúvidas sobre a escolha da MGF como especialidade: “Já levo muitos anos de experiência nesta área, os doentes já me conhecem e respeitam. Nesta altura, não queria

começar uma especialidade do zero, mas antes melhorar a minha prática, até porque gosto muito de trabalhar na comunidade e acho que, com o meu feitio, consigo chegar facilmente à população e convencer, muitas vezes, os utentes a realizar mudanças.”

Por já ter experiência nesta área, o seu internato não está a seguir os moldes clássicos, encontrando-se, praticamente desde início, a realizar consultas de forma autónoma. “A minha orientadora percebeu que havia condições para tal, mas, por respei-

to, coletivismo e vontade de aprender outras abordagens, também temos trabalhado em conjunto, e, por vezes, até pedimos uma terceira ajuda, o que é muito enriquecedor”, distingue.

Em conjunto com os três colegas internos, têm investido na organização de intervenções junto da comunidade. Juan Bautista destaca particularmente a ação direcionada aos doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica, em 2023, que deu origem ao trabalho “DPOC: o desafio de manter o pulmão saudável”, reconhecido com o primeiro prémio nas Jornadas Hispano Lusas de Médicos de Atención Primaria, em março de 2024.

O médico explica que a ação, que deverá ser repetida este ano, consistiu na “convocatória dos doentes diagnosticados com DPOC que não estavam a cumprir todos os critérios de seguimento e não tinham uma adequada medicação, tendo-se seguido a melhoria da função, o ajuste da terapêutica, o pedido de novos estudos para avaliar a evolução da doença, ou o encaminhamento para o hospital”.

Em maio, foram realizados programas de rastreio oncológico e Juan Bautista lamenta apenas que a população não tenha aderido tan-

caracteriza também nos define enquanto equipa. Manter um equilíbrio saudável nem sempre é fácil e aí a entreajuda faz toda a diferença para, em períodos de maiores ausências, não entrarmos em frustração e conseguimos obter sempre bons resultados.”

A coordenadora da USF sublinha que “os profissionais são o motor da Unidade”, mas reconhece que “ter um Conselho Técnico assertivo e colaborativo é, sem dúvida, uma mais-valia”, mostrando-se “muito contente com toda a equipa”.

Tiago Paulino: o reconhecimento do valor da equipa dentro e fora de portas

Tiago Paulino foi o último médico a integrar a USF Sado. Em 2023, quando terminou o internato da especialidade, feito nesta Unidade, foi convidado a continuar enquanto especialista, assumindo uma 6.ª lista, que seria criada. “Em Setúbal, a população tem uma grave carência de médicos de família e a nossa missão passa também por alargar a área de abrangência da Unidade conforme é feita a expansão da equipa. Enquanto, quando era interno, só havia quatro listas, que davam resposta à freguesia do Sado. Com a criação de mais duas, em 2021 e em 2023, conseguimos alargar à freguesia de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra”, refere.

Pelo facto de a freguesia ter “uma baixa densidade populacional e lá residirem vários idosos sem capacidade de locomoção por via própria”, Tiago Paulino acaba por ser dos médicos que realizam mais domicílios. No seu leque de utentes, tem também muitos estrangeiros, sendo que a nacionalidade predominante é a brasileira, mas muitos são ainda chineses que vieram viver a sua reforma para as praias do Sado, e outros são naturais de países de Leste, como a Roménia, a Bulgária e a Ucrânia.

to quanto o previsto: “O protocolo contemplava 60 doentes, conseguimos a confirmação de 35, mas apenas 23 estiveram presentes. Muitas vezes, as pessoas queixam-se, mas não colaboram com este tipo de atividades, que podem salvá-las em caso de risco.”

Apesar de se mostrar desgostoso, o interno não baixa os braços: “Não vamos desistir. Temos de procurar novas ferramentas e novos incentivos para captar a população e o próprio Estado devia começar a punir este tipo de situações, porque é a única forma de responsabilizar as pessoas. Claro que pelo menos as duas dezenas de participantes ficaram com alguma informação sobre os rastreios, mas queríamos ter alcançado muitos mais.”

Quanto às suas áreas de intervenção preferenciais, Juan Bautista salienta que a diabetes é, para si, “uma paixão, porque os exames não são lineares e é preciso alguma inteligência e capacidade de análise do doente”. Neste domínio, destaca que “nem todos os doentes têm as mesmas características e interesses, pelo que é preciso preparar e analisar a consulta, sendo necessário, por vezes, impor-nos de certa forma para o doente mudar a sua atitude”.

Neste último caso, nota que “as consultas são mais desafiantes porque, para além do distanciamento inerente à própria cultura, há uma

IDALINA MARTINS, ENFERMEIRA

“À nossa experiência

Idalina Martins é uma das enfermeiras fundadoras da USF Sado, pois, já trabalhava no Sado desde 2001, tendo passado por outros modelos organizacionais, concretamente a Unidade Funcional e a UCSP Sado. Em 2015, com a reforma de vários médicos e enfermeiros, a equipa da UCSP ficou “muito desfalcada e viveu uma fase difícil”, o que motivou a criação de uma USF. Apesar de, na altura, cada enfermeiro estar mais responsável por certo programa, no seu caso, o de saúde infantil e juvenil, Idalina Martins adianta que “todos acabavam por desempenhar todos os programas, pelo que o modo de funcionamento já se assemelhava, de alguma forma, ao do enfermeiro de família, o que facilitou essa transição, com a mais-valia de conhecer muito bem a população”. Com uma equipa de enfermagem madura, na faixa dos 40 a 60

barreira linguística inevitável, que dificulta a perceção de alguns aspetos que, na língua materna, seriam mais facilmente compreendidos”.

Apesar de gostar muito de todas as áreas de cuidados da MGF, até porque se considera uma pessoa comunicativa e sempre acreditou que “na consulta era possível resolver muitos dos problemas dos utentes em vários âmbitos”, se tivesse de apontar uma, diria Planeamento Familiar. “Acaba por ser a área de que mais gosto, porque engloba as vertentes endócrina e de procedimentos, com a colocação de dispositivos intrauterinos e de implantes subcutâneos”, conta.

Dado o facto de a sua lista ser “muito jovem e contrastante com as que servem a freguesia do Sado, em que 20% das mulheres estão em idade fértil”, é com muita regularidade que o médico coloca métodos contracetivos de longa duração, realiza rastreios do cancro do colo do útero em atraso ou não regularizados, ou acompanha grávidas e mulheres que pretendem engravidar.

À data da reportagem, Tiago Paulino encontrava-se a orientar o estágio de duas semanas de uma aluna de Medicina do 1.º ano da FMUL que havia pedido para fazer o primeiro estágio do curso nesta USF. “Para mim, é uma honra receber alu-

“É uma honra receber alunos, não só porque não me esqueço de onde vim mas também porque, quando eu fui estudante, gostava que me recebessem e integrassem bem, por isso, entendo que devemos dar esse retorno às gerações futuras”, comenta Tiago Paulino.

nos, não só porque não me esqueço de onde vim mas também porque, quando eu fui estudante, gostava que me recebessem e integrassem bem, por isso, entendo que devemos dar esse retorno às gerações futuras”, comenta.

O médico considera que “a expansão da equipa e o exigente e trabalhoso processo de transição a modelo B trouxeram uma grande coesão e foram demonstrativos da qualidade de desempenho das atividades diárias junto da população, o que também tem contribuído para o reconhecimento da USF e para a motivação dos próprios profissionais”.

Apesar de ser o elemento mais novo do grupo e o único homem, o médico foi eleito pelos pares para assumir a coordenação da USF nas ausências de Laurinda Silva, o que veio a verificar-se entre o final de 2023 e março de 2024, quando a médica esteve de licença de maternidade. Apesar da responsabilidade, admite que contou sempre com o apoio de todos: “Foi uma experiência dinâmica e interessante e nunca me

anos, e um grupo médico mais jovem, a rondar os 30 e os 40 anos, Idalina Martins considera que “à nossa experiência e mestria de conhecimento ao longo dos anos juntou-se a inovação, energia e atualização dos jovens médicos, que tinham feito o seu internato em USF modelo B”. Entende, por isso, que “o trabalho de entreajuda foi essencial para a passagem a modelo B”. Por ser um dos elementos integrantes do Conselho Técnico, desde 2021, participou ativamente no projeto, mas também delegou algumas responsabilidades, admitindo ter sido “um período muito trabalhoso, que exigiu muitas horas pós-laborais, desde logo, para a elaboração de um conjunto vasto de documentos”. Contudo, sublinha, “todo o conhecimento adquirido proporcionou um forte crescimento pessoal e de grupo, que nos tornou mais coesos”.

Destaca ainda que, enquanto

unidade formativa, “foi possível envolver os estudantes e internos de Medicina e de Enfermagem no processo, o que resultou num trabalho muito produtivo e gratificante”. Apesar de ser natural de Montemor-o-Novo, Idalina Martins, de

deixaram desamparado na tomada de decisões.”

Natural do Pinhal Novo, Tiago Paulino, de 31 anos, fez a sua formação médica na Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Nova de Lisboa. A sua expectativa era realizar o

O médico percecionou que “ia aprender muito, não só em termos profissionais, mas também humanos”.

internato de MGF numa unidade da capital, contudo, a experiência de estágio que viveu em 2018, na USF Sado, durante o ano comum, veio alterar a sua ideia. “Apaixonei-me pela equipa e pela população e acabei por fazer o internato da especialidade aqui. Foi interessante porque queria ter feito o estágio no Pinhal Novo, mas, dada a inexistência de vaga, acabei por escolher esta USF sem saber ao que vinha, e a verdade é que adorei!”, refere.

A sua orientadora de internato, Joana Alves, que foi uma das impulsionadoras da USF Sado, revelou-se “uma pessoa de referência ao longo da formação” e Tiago Paulino percecionou que, “com aquela equipa, ia

ULS DA ARRáBIDA:

“A equipa tem incentivado uma maior responsabilidade e envolvimento dos utentes na gestão da sua própria saúde”

Sara André, diretora clínica para a área dos CSP da ULS da Arrábida desde o início do ano, destaca como “a USF Sado tem vindo a demonstrar um trabalho exemplar e comprometido ao longo dos últimos anos, que culminou na transição para modelo B”. Na sua opinião, “este progresso deve-se a uma equipa altamente dedicada, que tem investido na melhoria contínua dos processos e na implementação de boas práticas assistenciais”.

informadas sobre a sua saúde e a adotar comportamentos mais saudáveis”.

58 anos, foi residir para o Faralhão, em Setúbal, com 13 anos. Formou-se pela Escola Superior de Enfermagem de Artur Ravara, em 1989, e iniciou a sua carreira há 35 anos. Durante os primeiros 11, desenvolveu um percurso a nível hospitalar, em Setúbal, no Montijo e no Outão, nas áreas de Enfermagem Médico-Cirúrgica e de Saúde Materna e Infantil.

Entretanto, concorreu para os CSP e, quando verificou que tinha sido colocada no lugar onde residia, assume ter ficado “apreensiva e expectante”. No entanto, admite que, “desde início, sempre soube separar muito bem a Idalina pessoa da Idalina enfermeira e os utentes perceberam a separação”.

Hoje em dia, refere acompanhar já os filhos de pais que viu nascer nas maternidades dos hospitais onde trabalhou, tendo vindo a testemunhar a sua evolução ao longo dos anos.

Concretizando, nota que “a aposta em formação contínua, na utilização de novas tecnologias e na promoção de uma cultura de qualidade e segurança dos cuidados tem sido essencial”, sendo que “o esforço conjunto da equipa resultou num aumento significativo da satisfação dos utentes e na eficiência dos serviços prestados, permitindo-lhes alcançar este novo patamar”.

A médica, que exercia funções na USF de Santiago de Palmela, considera a aposta da USF Sado na literacia em saúde dos utentes e na aproximação à comunidade como “uma iniciativa de extrema importância, uma vez que tal contribui para capacitar os utentes a tomar decisões mais

Neste âmbito, reconhece ainda que, “através de ações educativas, workshops e distribuição de materiais informativos, a equipa tem conseguido fortalecer a relação com a comunidade, incentivando uma maior responsabilidade e envolvimento dos utentes na gestão da sua própria saúde”. Paralelamente, “esta proximidade facilita a identificação de necessidades específicas e a implementação de intervenções mais eficazes e personalizadas”.

Com vista a “promover uma maior integração e coordenação entre as várias unidades de saúde”, Sara André adianta que a implementação de consultadorias em várias áreas “tem permitido uma melhor gestão dos casos clínicos e um apoio especializado quando necessário”. Na realidade, reconhece que “o esforço colaborativo visa não apenas melhorar a qualidade dos cuidados prestados mas também facilitar a troca de informações entre os profissionais de saúde e definir planos terapêuticos mais eficazes”.

Apesar de trabalhar diariamente no Hospital de São Bernardo, a vogal do CA da ULS da Arrábida realiza visitas regulares às unidades que estão sob a sua alçada, visitas essas que considera “essenciais para manter um contacto direto com os profissionais, compreender as suas necessidades e desafios e apoiar na implementação de melhorias”. Distingue que a articulação com os coordenadores das USF e das UCSP “é facilitada por uma comunicação aberta e contínua, o que permite uma rápida resolução de problemas e uma coordenação eficaz das atividades”. Nesse sentido, garante que “este modelo de gestão colaborativa é fundamental para assegurar a qualidade e a integração dos cuidados de saúde prestados”.

(Continua na pág. 18)
Tiago Paulino
FRANCELINA

FERREIRA, SECRETáRIA CLíNICA DO CONSELhO TÉCNICO:

“As USF são mais trabalhosas, mas mais prazerosas”

A muito pouco tempo de fazer 65 anos de vida e 45 de carreira, a secretária clínica Francelina Ferreira, elemento integrante do Conselho Técnico, deverá iniciar o processo de aposentação já durante o mês de julho. Segundo o olhar de quem já passou por tantas unidades e fases dos CSP, “as USF são mais trabalhosas, mas mais prazerosas, porque, apesar do ritmo acelerado, os frutos que colhemos são visíveis, o que se reflete numa grande satisfação pessoal”. A profissional admite que, desta forma, “os utentes estão mais contentes e a resposta é garantida”.

Com três postos de atendimento, as quatro secretárias clínicas dividem-se entre essa zona e a do backoffice, para responderem às solicitações presenciais e não presenciais dos utentes. No backoffice, realizam tarefas relacionadas com “organização das pastas, envio de convocatórias e marcação de consultas pedidas por e-mail”, que admite terem “progredido mais do que alguma vez imaginado, num lugar rural e com grande parte da população idosa”. Contudo, a verdade é que “as pessoas habituaram-se e solicitam até o agendamento de consultas online”.

Se, por um lado, Francelina Ferreira se mostra contente com o apoio dado pelo quiosque eletrónico, não pode dizer o mesmo quanto ao telefone, que admite ser “o calcanhar de Aquiles do secretariado clínico”. Apesar de o sistema de atendimento SARA estar prome-

tido há dois anos, a verdade é que ainda não foi implementado e as chamadas por atender continuam a motivar algumas reclamações. Começou a trabalhar na UCSP Sado em 2014 e acompanhou a evolução daquela Unidade para USF modelo A e, depois, para modelo B, transição que admite ter sido “trabalhosa, mas compensadora”. Chegou aí depois de ter passado por outras unidades dos CSP no Barreiro e no Pinhal Novo

e também pelo secretariado da ARS de Setúbal. A secretária clínica refere ter testemunhado “a descentralização e, agora, um regresso às origens com a centralização que está a ocorrer, desde os serviços médico-sociais, passando pelos centros de saúde, as sub-regiões e as ARS, até à generalização das ULS”.

processo de vacinação no CVC de Setúbal, que aconteceu durante cerca de três anos. Duas outras colegas assumiram a responsabilidade pelos CVC de Sesimbra e de Palmela.

“Foi um processo complexo e, embora a gestão central tenha sido repleta de incertezas e com orientações feitas ao minuto, Portugal conseguiu responder bem à questão e às constantes mudanças de diretrizes graças à permeabilidade dos profissionais”, observa. Em 2022, assumiu a função de

aprender muito, não só em termos profissionais, mas também humanos”.

Ana Paguia: o reflexo das ações na prevenção e promoção da saúde

A enfermeira Ana Paguia começou a trabalhar na USF Sado em junho de 2021, contudo, durante ainda algum tempo, viu a sua atenção direcionada para a equipa de vacinação covid-19. De facto, em dezembro de 2020, quando ainda trabalhava na UCSP Santos Nicolau, havia sido requisitada para gerir o

enfermeira responsável, representando as cinco colegas – três delas enfermeiras generalistas e as outras duas com especialidade, uma em Enfermagem Comunitária e a outra em Saúde Mental e Psiquiátrica. À data da reportagem, realizada em junho, a enfermeira era a orientadora de um aluno do 1.º ano de En-

Ana Paguia
(Continuação da pág. 17)

fermagem, experiência que considera positiva para ambos: “Para eles, é importante conhecerem unidades que estejam a funcionar com uma boa organização e para nós também é muito bom porque nos obriga a estar mais atentos às atualizações e a fazer mais pesquisa.”

“Muitas vezes, na área da saúde, estamos tão focados no objetivo de tratar a doença que colocamos a literacia, a prevenção e a promoção da saúde em segundo plano”, destaca Ana Paguia.

CARACTERIZAçãO DA POPULAçãO INSCRITA (JUNhO DE 2024)

Utentes: 10.633 (14.115 UP)

Idosos: 2435 (Índice de dependência: 38,77%)

Crianças e jovens com idade

≤ 14 anos: 1563 (Índice de dependência:23,91%)

Mulheres em idade fértil (dos 15 aos 54 anos): 2636

ATIVIDADE (2023)

Consultas médicas

Contactos diretos: 20.058

Contactos indiretos: 15.516

Domicílios médicos: 181

Enfermagem

Contactos diretos: 12.154

Contactos indiretos: 1534

Domicílios de enfermagem: 172

PROFISSIONAIS (JUNhO DE 2024)

Médicos: 6

Enfermeiros: 6

Assistentes técnicos: 4

Internos de Formação Específica em MgF: 4

No período atual, adianta que têm estado muito focados em fazer planos de acompanhamento interno para conseguirem manter os indicadores, contudo, garante que “o grupo é dinâmico e tem muitas ideias e vontade de as concretizar, pelo que certamente surgirão novos projetos”.

Ana Paguia nasceu há 43 anos em Setúbal. Sempre quis exercer uma profissão na área da saúde e acabou por escolher Enfermagem. Formou-se em 2002, pela Escola Superior de Enfermagem Bissaya Barreto. Logo começou a trabalhar no Hospital de

São Bernardo, em Setúbal, onde passou três anos no Serviço de Medicina Interna, antes de transitar para o de Oncologia, que descobriu ser a sua paixão e onde permaneceu durante 13 anos.

Pelo facto de ter participado, naquele Serviço, em vários projetos direcionados para a vertente comunitária, uma área que sempre lhe interessou, decidiu avançar para a especialização em Saúde Comunitária. Tal levou-a, depois, a ingressar nos CSP, em 2018. Quando questionada sobre a possibilidade de voltar à Oncologia,

responde: “Tenho saudades, mas não estou arrependida da escolha que fiz, porque aqui não estamos só a lidar com a doença e muito do que se faz nos CSP é fundamental para obter ganhos em saúde na população. Muitas vezes, na área da Saúde, estamos tão focados no objetivo de tratar a doença que colocamos a literacia, a prevenção e a promoção da saúde em segundo plano. Embora muitas vezes aquilo que façamos não tenha efeito imediato, nem tanta visibilidade, sabemos que são ações extremamente importantes.”

"Aqui não estamos só a lidar com a doença",

afirma a enfermeira Ana Paguia.

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Um som natural faz toda a diferença para quem tem

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A nAturALidAde sonorA, trAço distintivo dos ApAreLhos Auditivos dA Widex, esteve no cerne do simpósio pAtrocinAdo por AqueLA empresA e reALizAdo no âmBito do 71.º congresso nAcionAL dA sociedAde portuguesA de otorrinoLAringoLogiA e cirurgiA de cABeçA e pescoço (sporL- ccp), que decorreu em BrAgA no finAL de ABriL o especiAListA frAncis KuK (AudioLogistA e investigAdor doutorAdo peLA universidAde de ioWA) mostrou nA ocAsião que A tecnoLogiA impLementAdA peLA Widex nos seus ApAreLhos Auditivos está focAdA nA defesA do enveLope temporAL, por formA A preservAr o máximo de detALhes sonoros e sALvAguArdAr As cApAcidAdes comunicAtivAs dos utiLizAdores, soBretudo quAndo estes enfrentAm proBLemAs de cognição.

De acordo com Tiago Nunes, country manager para Portugal da WS Audiology (grupo no qual se insere a Widex), a naturalidade do som é uma característica que faz parte da história desta organização e dos aparelhos auditivos que desde sempre disponibilizou a todos quantos enfrentam défices auditivos, recordando:

“Em 1956, nascemos da visão de um engenheiro e de um homem com perfil comercial, que já trabalhavam

Tiago Nunes: “Todas as inovações que a Widex tem introduzido têm sempre em mente a premissa de que nada pode comprometer a qualidade e a naturalidade do som.”

nesta indústria, cujo objetivo passava por criar uma nova marca com uma missão principal, a de proporcionar às pessoas com problemas de audição o som mais natural possível. Hoje, com quase 70 anos de história, este princípio continua tão atual como naquela altura, ou ainda mais. Todas as inovações que a Widex tem introduzido têm sempre em mente a premissa de que nada pode comprometer a qualidade e a naturalidade do som”.

Tiago Nunes frisou ainda que, no presente, quer utilizadores, quer profissionais da Audiologia e da Medicina reconhecem que os aparelhos da Widex oferecem “um som inigualável”.

Mas o que determina exatamente, do ponto de vista técnico, este elevado índice de qualidade e naturalidade do som Widex e por que motivo é essencial reter a naturalidade dos sinais acústicos? Francis Kuk, diretor do Laboratório ORCA-USA (Office of Research in Clinical Amplification), entidade ligada à investigação e desenvolvimento na área da Audiologia localizada em Chicago e pertencente ao Grupo WS Audiology, lembrou no decurso deste simpósio, através de comunicação virtual à distância, que os dispositivos auditivos devem ser vistos “um pouco como os alimentos”. E justificou:

“Extraem os sons do meio ambiente, procuram compensar a perda auditiva das pessoas e no decurso deste processo podem introduzir distorções que alteram a forma do som e removem importantes características naturais que estão presentes no sinal discursivo ou auditivo. Assim, o que pretendemos idealmente é criar aparelhos auditivos que logrem preservar o máximo de detalhes naturais do som, à imagem do que sucede com o esforço de preservar os nutrientes naturais nos alimentos frescos.”

É indispensável evitar distorções do envelope temporal para assegurar uma boa comunicação

Para Francis Kuk, torna-se, pois, óbvio que “manter os detalhes sonoros é fundamental para garantir que o cérebro tem a tarefa facilitada

no que respeita a perceber o sentido do contexto em que a pessoa se movimenta”. Um dos domínios onde é possível atuar para conservar tais detalhes é o envelope temporal, isto é, as mudanças de amplitude sonora ao longo de um determinado período

de tempo, bem como no rácio pico/ /vale sonoro e rácio pico/próximo pico sonoro. Todos estes trâmites são cruciais para definir a naturalidade do som captado e estão sujeitos a alterações ou distorções múltiplas, por saturação, clipping, atraso, reverberação, compressão ou ruído de fundo.

Proteger a integridade do envelope temporal é algo desejável, na ótica do investigador norte-americano, porque “quando, estamos perante um envelope temporal bem definido e o contraste entre picos e vales da onda sonora é bem distinto, o bloqueio em fase dos neurónios é facilitado”. Um estudo publicado em 2024 (Hannemann R. et al, Does amplitude compression help or hinder attentional neural speech tracking?,bioRxiv, 24:578931) comprova, aliás, que se o sinal sonoro não estiver comprimido a magnitude da resposta neuronal é mais forte, por comparação com a resposta a um sinal objeto de compressão.

“Tal evidência sugere-nos que se reduzirmos o contraste entre os sons mais altos e os mais suaves, retirando a clareza ao som, dificultamos a capacidade da pessoa se focar naquele sinal e, em consequência, deterioramos a capacidade de entendimento discursivo”, clarificou Francis Kuk. O especialista acrescentou que, “nos últimos 20 anos, a literatura realça o quão importante é manter a informação temporal do som, es-

tiva, algo que é sobretudo marcado nas pessoas com perda moderada a grave”.

Otimização de canais de processamento e velocidade de compressão ajudam a explicar o sucesso da tecnologia Widex

Nesta sessão, o diretor do Laboratório ORCA-USA analisou as dimensões inovadoras dos aparelhos

Francis Kuk:

“Quando estamos perante um envelope temporal bem definido e o contraste entre picos e vales da onda sonora é bem distinto, o bloqueio em fase dos neurónios é facilitado.”

pecialmente para as pessoas com capacidades cognitivas reduzidas, na medida em que necessitam de todos os estímulos possíveis para que possam entender a informação recebida. Até um certo ponto, poderemos incluir os idosos nesta categoria, já que alguns deles apresentam cognição comprometida e necessitam que os sons sejam mais naturais”. Por outro lado, a investigação clínica tem vindo a provar que, “à medida que a perda auditiva aumenta, a nossa dependência da informação aumenta também de forma significa-

da Widex, que ajudam a compreender como se torna possível gerar um som natural e detalhado, o que é essencial incorporar e o que é secundário. Assim, a Widex decidiu, há mais de três décadas, apostar na otimização maximizada dos canais de processamento, respeitando a forma como o ouvido trata o som naturalmente, ao invés de uma multiplicidade excessiva de canais, que podem levar à distorção no som, ou smearing

Segundo o audiologista norte-americano, “a Widex tomou a decisão de limitar a 15 o número de canais nos aparelhos auditivos, de forma a otimizar a precisão do som e, em simultâneo, preservar a informação temporal do sinal”. Outro aspeto nuclear em que a empresa se tem empenhado prende-se com a otimização da velocidade de compressão, optando por uma compressão lenta e tempos de ataque e libertação longos, que permitem preservar o envelope temporal do sinal.

De acordo com Francis Kuk, “a Widex orgulha-se de ter introduzido compressão de ação lenta há quase 30 anos e de transitar agora gradualmente para o que designamos por compressão dual, que ainda usa a alternativa de compressão lenta e limita a largura de banda, para que consigamos preservar o envelope temporal ao máximo”.

Francis kuk
Tiago Nunes

SEUS APARELhOS AUDITIVOS

tem perda auditiva

Aparelhos da Widex lideram mercado no que respeita ao delay no processamento do sinal

Todos os aparelhos auditivos apre sentam um delay, ou atraso, entre o momento da captação do som e a sua entrega amplificada ao utilizador. Mas esse delay varia de dispositivo para dispositivo e de marca para marca.

“Quando lançámos o primeiro apa relho, conseguíamos obter um

que oscilava entre 5 e 2 mseg, valores substancialmente mais baixos do que os aparelhos dos competidores de en tão. Contudo, o mais impressionante é que há dois ou três anos reduzimos esse delay para algo como 0,5 mseg, por intermédio da ZeroDelay Techno logy®, presente nos aparelhos Widex MOMENT com PureSound munhou o Francis Kuk.

As equipas de investigação do ORCA-USA realizaram, inclusive, um estudo que procurou aferir, entre pessoas com limitações auditivas e a utilizarem aparelhos com diferentes níveis de delay, qual seria o tempo de resposta à frequência ( following response – FFR). Se na maioria dos aparelhos utilizados não existia sincronicidade entre os picos do sinal de estímulo e os picos da resposta, no caso do aparelho Widex MOMENT registou-se uma sincroni cidade quase perfeita entre os picos FFR e os picos do sinal acústico de estímulo, circunstância que demons tra o seu mérito em manter a natura lidade do som.

A fechar a sua comunicação, Francis Kuk defendeu uma ideia in teressante, a de que o próprio visual e a configuração de alguns aparelhos Widex podem influenciar a pre servação da naturalidade do som: “Recentemente, disponibilizámos o aparelho auditivo com recetor no canal SmartRIC, o qual possui um ângulo entre os dois microfones que

fica próximo da horizontal, algo que compara bem com o ângulo típico de 30º a 40º característico de outros

AF Widex_SPORL_ImprensaSMARTRIC.pdf 4 22/04/2024 15:56

aparelhos semelhantes existentes no mercado. Os nossos estudos revelam que existe um ganho médio de 1.25

dB e uma melhoria de 12,5% na compreensão discursiva com o recurso ao SmartRIC versus os outros apare-

lhos, graças à diferença no formato do aparelho e à horizontalidade dos microfones”.

O ALARgAMENTO A OUTRAS UNIDADES DA ULS DE LISBOA OCIDENTAL DO PROJETO CRIADO EM 2023

resposta global e integrada da consulta do doente complexo permite gerir

constituídA em junho de 2023, nA ucsp pArede, A consuLtA muLtidiscipLinAr do doente compLexo visAvA promover A discussão muLtidiscipLinAr de cAsos compLexos, otimizAndo tempo e recursos nA resoLução dA situAção gLoBAL dos utentes referenciAdos. este projeto-piLoto foi dinAmizAdo por dois médicos, nA ALtur A internos do 4.º Ano de mgf, joão r nunes pires e mAriAnA cAstro guimArães, suportAdos peLA médicA rAqueL BAptistA Leite, especiAListA em mgf e coordenAdor A dA unidAde. entretAnto, em jAneiro deste Ano, A ucsp pArede foi extintA, dAndo LugAr à usf AvencAs, gAr Antindo, no entAnto, A continuidAde do projeto. os dois jovens médicos, já especiAListAs e A AguArdAr A ABertur A do procedimento concursAL pAr A integr Arem A usf AvencAs, AmBicionAm A AmpLificAção destA respostA A utentes de outr As unidAdes dA uLs de LisBoA ocidentAL

Mariana Castro Guimarães e João R. Nunes Pires juntaram-se à equipa da UCSP Parede em março de 2023, no seu 4.º ano de internato, para fazer um estágio de cinco meses numa unidade com características distintas dos seus locais de formação. Quando perceberam que o tempo de consulta era verdadeiramente insuficiente para responder às necessidades dos utentes sem médico de família que estavam a acompanhar, viram com bons olhos a ideia da coordenadora desta Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de criar uma Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo.

Já desde agosto de 2022, quando chegou à UCSP Parede, que Raquel

Baptista Leite, hoje com 34 anos, vinha a confrontar-se com “um leque de utentes com uma multiplicidade de problemas, das mais diversas dimensões, para além da biológica, que eram ingeríveis naquele tempo de consulta”.

Quando percebeu que a sua dificuldade era partilhada por outros colegas, procuraram, em conjunto, responder a algumas questões:

“Quais são os motivos que nos levam a atrasar a nossa consulta? Fomos nós que mudámos ou foram os utentes?” Concluíram que, de facto, estes eram diferentes.

“Muitos deles sem médico de família, não tinham um seguimento longitudinal prévio, com frequên-

cia, nem mesmo registos clínicos anteriores, não podendo, por isso, ter a mesma abordagem dos outros utentes que mantinham um acompanhamento regular. Pelo menos nesta fase, essa abordagem tinha de ser especial”, refere Raquel Baptista Leite. Daí nasceu a ideia de criar uma consulta multidisciplinar inspirada nas reuniões que são feitas em contexto hospitalar, por exemplo, com os doentes oncológicos, em que os casos são levados a discussão entre as várias especialidades envolvidas e o feedback é transmitido aos doentes pelo médico assistente. Neste projeto, as consultas multidisciplinares decorrem mensalmente, sem a presença dos utentes, reunindo a equi-

Uma equipa verdadeiramente multidisciplinar…

pArA ALém dA componente médicA, A consuLtA muLtidiscipLinAr do doente compLexo moBiLizA outros profissionAis de váriAs áreAs. A just neWs registou os depoimentos dA Assistente sociAL sAndrA secretário, dA psicóLogA teresA cAsteLo, dA nutricionistA inês domingos e dAs enfermeirAs AnABeLA roque, deoLindA BernArdo e AnA sofiA sAntos.

Sandra Secretário, assistente social:

“Por vezes, temos que encontrar algumas respostas mais criativas...”

Natural de Évora, Sandra Secretário, 44 anos, ainda colocou a hipótese de cursar Direito, mas acabou por se licenciar em Política Social, “com o objetivo de trabalhar como assistente so-

cial”, como faz questão em sublinhar. Chega aos CSP em 2006, numa altura em que, recorda, é implementada a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e, nesse âmbito,

são criadas, em alguns centros de saúde, equipas próprias, numa das quais acabou por se integrar a nossa interlocutora. Surgiriam depois os ACES e as URAP, tendo a profissional passado a fazer parte da Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados do Agrupamento de Cascais.

A intervenção de Sandra Secretário apenas acontece, obviamente, nos casos em que se considera que tal é necessário, sendo que a avaliação da situação se faz, habitualmente, em consulta própria, entretanto agendada para o efeito. Contudo, sempre que necessário, avança-se para a visita

domiciliária, com o objetivo de se “fazer o levantamento das necessidades do utente em causa e o encaminhamento para as respostas existentes”.

“O utente é avaliado não apenas no contexto de tratamento da doença.

A complexidade dos casos tem-nos mostrado que a doença que originou a consulta é apenas um dos fatores, que poderá ser resolvido ou atenuado intervindo noutras dimensões do problema, como a psicológica e a social. O contributo da assistente social é trazer para a equação da avaliação do caso o contexto familiar, social e cultural e a resposta às necessidades identificadas, quer sejam económicas, de apoio social, de integração institucional, ou outras”, refere Sandra Secretário.

Uma das situações que acabou por envolver vários dos elementos da equipa multidisciplinar formada no âmbito do projeto de acompanhamento de doentes crónicos complexos é bem demonstrativa da importância do papel da assistente social.

O primeiro pedido de intervenção chegara à assistente social apresentado por uma médica de família,

a propósito de uma criança de um ano e meio que passava o dia sozinha com a mãe, invisual, analfabeta e com aparente défice cognitivo, vivendo no seio de uma família guineense em que o pai e a avó trabalham. “Na verdade, todos os elementos do agregado tinham várias fragilidades e, por isso, foi decidido realizar uma visita domiciliária conjunta, e até pedimos a um médico que fizera voluntariado na Guiné e tinha aprendido a falar crioulo que nos acompanhasse, para servir de tradutor”, explica Sandra Secretário, concluindo que, “por vezes, temos que encontrar algumas respostas mais criativas...” Foi então possível perceber que a casa não tinha condições de habitabilidade, que, afinal, o grande problema da mãe era não conseguir entender o português e que o pai sofria de epilepsia, condição de saúde em consequência da qual dera uma queda que lhe originara um traumatismo craniano e um consequente período de internamento hospitalar. Na altura em que a Just News conversou com esta assistente social,

Raquel Baptista Leite

onsulta multidisciplinar situações limite

a criança já havia dado entrada numa creche, tinha sido reforçado o pedido de uma habitação digna para o agregado e diligenciava-se no sentido de proporcionar formação profissional à mãe.

Anabela Roque, enfermeira de Saúde Escolar:

“Chegam-nos muitas sinalizações através da escola”

Integrando a equipa de Saúde Escolar da UCC Girassol desde maio de 2023, Anabela Roque foi, a certa altura, confrontada com a situação de uma criança natural de outro país que fora sinalizada pela escola primária que frequenta. As razões para tal prendiam-se com uma situação de doença mal esclarecida e o fraco desempenho escolar que apresentava. Foi este caso que acabou por conduzir esta enfer-

meira até à Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo, de que agora faz parte.

“O que eu fiz foi, no fundo, fazer a ponte entre a escola e os cuidados de saúde primários, para que, no âmbito da consulta de MGF, pudesse realizar os exames necessários que esclarecessem os antecedentes da patologia de que a criança sofria. Ao mesmo tempo, também era preciso perceber por que razão, tendo sido matriculada no 3.º ano de escolaridade, com a garantia de que frequentara a escola no seu país de origem, afinal, não sabia ler nem escrever. Importava avaliar se tinha algum atraso de desenvolvimento, ou se,

então, não tinha era sido estimulada o suficiente”, refere Anabela Roque. Apresentado o caso em reunião da equipa multidisciplinar, concluiu-se que a criança teria de ser submetida a uma avaliação psicológica, “até por falar tão pouco”; que, eventualmente, necessitaria de ser referenciada para a Consulta de Desenvolvimento, “para despistar algum problema do foro cognitivo”; e que a realização de exames médicos, “por a família não possuir qualquer relatório”, poderia ser fundamental para conseguir ter um histórico da sua doença.

Anabela Roque faz questão em deixar claro que “o doente complexo também é aquele que, sob o ponto de vista psicológico, não está bem, havendo muitas situações, inclusive, familiares e até de maus tratos, que também são detetadas nas escolas. Daí que o doente complexo, sob o ponto de vista físico, psicológico e emocional, possa muito bem ser uma criança”.

Nascida e criada no concelho de Cascais, mais concretamente na Parede, Anabela Roque tem 49 anos. Fez o curso de Enfermagem em Lisboa, mas

pa gestora, enfermeiro comunitário, psicólogo, assistente social e nutricionista, podendo ainda ser ativada a colaboração dos profissionais dos cuidados continuados, dos cuidados paliativos e da saúde escolar.

Tratando-se de um projeto-piloto, tem abrangido apenas os doentes da UCSP Parede, agora USF Avencas, e que apresentem pelo menos um problema em cada uma das seguintes dimensões: biológica, psicológica e social. Raquel Baptista Leite, a responsável pela conceptualização do projeto, considera que, “à semelhança das vias verdes hospitalares, também os CSP têm de proporcionar vias verdes que atuem rapidamente”, que é o que se pretende com esta consulta.

“Temos vindo a receber referenciações de casos emergentes, que

João R. Nunes Pires explica que o intuito é que a referenciação contemple “os utentes que mais beneficiam de uma discussão multidisciplinar e integrada”.

não podem aguardar seis meses pela primeira consulta de Psicologia ou pelo apoio financeiro para pagar a renda ou a medicação crónica. São aqueles que precisam mesmo de uma resposta, daí também haver critérios de referenciação tão apertados”, justifica a médica.

Neste âmbito, João R. Nunes Pires acrescenta que o intuito é que a referenciação contemple “os utentes que mais beneficiam de uma discussão multidisciplinar e integrada”, uma vez que, “num processo normal, a comunicação associada à referenciação não é tão bidirecional, rápida e efetiva quanto se pretende”. Nestas consultas, que decorrem mensalmente e durante cerca de duas horas, “os vários grupos profissionais debatem em conjunto a forma como devem ser abordadas as problemáticas do utente”.

Raquel Baptista Leite destaca que esta dinâmica garante “uma otimização de recursos porque, enquanto no passado acontecia o médico fazer três referenciações, para proporcionar ao doente apoio psicológico, nutricional e social, havendo o risco de se perder informação quando o utente tem de detalhar a sua história inúmeras vezes, com este projeto, essa apresentação é feita em equipa e há um gestor de caso que representa um elo de ligação com o utente”.

Mariana Castro Guimarães admite que destas consultas resulta “um plano conjunto mais estruturado e personalizado, otimizando-se o tempo e os recursos disponíveis,

em pequena dizia que queria ser “médica de bebés” e, antes de decidir ser enfermeira, ainda esteve dois anos na Faculdade de Ciências de Lisboa, no curso de Biologia. Trabalhou 8 anos no Hospital de São José e conseguiu depois a transferência para os CSP, sendo que, nessa altura, já tinha decidido especializar-se em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica, tendo igualmente no currículo uma pós-graduação em Gestão em Saúde.

Deolinda Bernardo, coordenadora da UCC Girassol: “Auxiliar a pessoa a enfrentar o processo adaptativo em que se encontra”

Com a especialidade de Enfermagem Comunitária, concluída em 2010, e um mestrado em Gestão em Enfer-

magem, obtido em 2022, Deolinda Bernardo, 55 anos, trabalhou quatro anos no Hospital de Santo António dos Capuchos, em Lisboa, mas em setembro de 1995 passou a integrar o ACES Cascais. Está ligada à então designada “visita domiciliária” praticamente desde o início, sendo coordenadora da Unidade de Cuidados na Comunidade Girassol desde 2017. A profissional faz questão de lembrar que o objetivo de uma UCC é “assegurar respostas integradas, articuladas, diferenciadas, de grande proximidade às necessidades em cuidados de saúde e sociais da popu-

(Continua

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com respostas profícuas e mais céleres, conseguindo avançar-se mais rapidamente do que se as referenciações fossem realizadas separadamente”.

A primeira reunião multidisciplinar aconteceu a 16 de junho de 2023 e desde então já foram discutidos mais de três dezenas de utentes. “Nessa ocasião, resumimos o trabalho que está a ser feito com cada utente em seguimento e discutimos quatro novos casos”, esclarece.

Numa fase inicial, os utentes que podiam ser abrangidos nesta consulta eram os da UCSP Parede, quer tivessem ou não médico de família, e ainda casos referenciados diretamente pelo Conselho Clínico e de Saúde do antigo ACeS de Cascais.

A recompensa por fazer a diferença

Mariana Castro Guimarães adianta que tanto ela como o colega João R. Nunes Pires têm “aprendido imenso sobre os recursos disponíveis na comunidade”, frisando mesmo que não teriam conhecimento da existência de muitos deles se não tivessem esta oportunidade de cooperação com outros profissionais de saúde.

Suportando-se num exemplo que “representa bem a mais-valia desta consulta”, o médico destaca a referenciação de uma utente invisual que estava desempregada e a cuidar do seu filho de 18 meses, que culminou numa visita domiciliária conjunta com vários elementos profissionais:

“Além de termos sinalizado os recursos que permitissem capacitar a utente para uma vida autónoma, na visita ao seu domicílio, conseguimos identificar outras problemáticas até então desconhecidas, como o facto de morar num sótão com condições precárias e cujo acesso − umas escadas íngremes e sem qualquer proteção − repre -

(Continuação

lação onde está inserida”, para além de que “tem como missão promover a recuperação total ou parcial dos utentes e contribuir para a sua reabilitação, autonomia e reintegração familiar e na sociedade”.

“Os enfermeiros da UCC Girassol, assumindo o papel de gestores de caso, ao planearem, organizarem e monitorizarem o processo, avaliam as necessidades, desenvolvendo planos individuais de cuidados, facilitando a acessibilidade aos serviços de saúde e promovendo a qualidade do contacto com a pessoa e a sua família”, explica a coordenadora.

O que se pretende, com esse tipo de intervenção, é claro: “Permitir que a pessoa alvo desses cuidados desenvolva os conhecimentos, a capacidade e a confiança de que necessita para tomar decisões sustentadas e gerir de forma mais eficiente o seu projeto de saúde.”

Estes enfermeiros são ainda “agentes facilitadores da colaboração entre os elementos da equipa multidisciplinar”.

Para Deolinda Bernardo, “é importante que na avaliação de um doente crónico complexo se perceba qual a natureza da transição que este está a experienciar ou, como acontece frequen-

sentava uma fonte de risco iminente de acidente para si ou para o seu filho de 18 meses, que tinha começado a andar.”

Acrescenta que, “adicionalmente, foi possível excluir a suspeita da médica de família de um quadro de défice cognitivo, dada a ausência de interação com a utente e exclusiva intermediação por parte da sogra nas consultas que haviam tido na UCSP, o que veio a revelar tratar-se, sim, de uma falha de comunicação, uma vez que a utente, natural de Guiné-Bissau, apenas falava crioulo. Tal só foi possível com a ajuda de um colega médico que falava o idioma e se disponibilizou para a tradução durante a visita”.

O sentimento de gratificação perante o sucesso deste caso é inevitável: “Quando percebemos que, hoje em dia, essa família está numa nova casa com condições sanitárias, o filho tem finalmente vaga numa creche, a utente tem o apoio de uma associação para conseguir arranjar um emprego adaptado e tem as suas comorbilidades devidamente acompanhadas ao nível dos CSP e no hospital de referência, temos noção dos resultados práticos deste projeto.”

Esse foi “um dos casos que marcaram a equipa e no qual temos plena noção da diferença que fizemos, e que seria muito mais difícil sem um projeto deste tipo”, reconhece João R. Nunes Pires. De facto, “em consulta ou numa visita domiciliária, não seria possível uma avaliação tão completa porque não estaria atento a dimensões e detalhes que vão para além da minha formação médica. E o mesmo aconteceria com os restantes profissionais envolvidos. Além disso, esta dinâmica acaba por proteger o utente, ao evitar que tenha a sua intimidade repetidamente ‘invadida’ pelos vários profissionais que o procuram ajudar”.

Raquel Baptista Leite recorda-se do caso de uma criança que “parecia sofrer de maus-tratos, dado mostrar sinais de má higiene e desnutrição, tendo vindo a veri-

temente, para a qual ele ainda nem sequer tem consciência de estar a viver”. E acrescenta que “só assim se pode ir ao encontro das reais necessidades da pessoa, auxiliando-a a desenvolver competências para enfrentar o processo adaptativo em que se encontra, de forma a atingir a desejável estabilidade na transição e o nível máximo de autonomia e bem-estar possível”.

Teresa Castelo, psicóloga clínica e da saúde:

“O fator psicológico intervém fortemente na maior parte das situações”

Tendo exercido Enfermagem durante uma década, nos hospitais de Santa Maria e de São Francisco Xavier, nesse período, decidiu tirar um segundo curso: Psicologia. “Foi o que me fez sentido naquela altura!”, afirma Teresa Castelo, psicóloga clínica desde 1997. Refere que, após um estágio de 5 anos na especialidade da carreira de técnico superior de saúde, em contexto hos-

ficar-se que, afinal, sofria de uma doença inflamatória intestinal rara em idade pediátrica. Mais uma vez, salvou-se uma vida!”

“Saímos sempre da reunião com a sensação de missão cumprida, sentindo que o tempo foi aproveitado da melhor forma para melhorar a qualidade de vida dos utentes”, destaca Mariana Castro Guimarães.

A coordenadora da USF Avencas comenta tratar-se de “doentes muito complexos em situações limite, desde os mais novos aos mais velhos”, frisando “não se tratar apenas de idosos com pluripatologia, que, aliás, representam uma minoria”.

No seu caso, por ser uma das médicas que têm referenciado utentes para este projeto, diz “testemunhar bem o impacto desta consulta nos utentes, o que é verdadeiramente recompensador”. Uma das alterações que identifica é a diminuição drástica da vinda dos utentes hiperfrequentadores às consultas, porque “passam a ver as suas necessidades respondidas de forma integrada e, por ventura, muitos dos seus problemas de saúde eram manifestações de problemas sociais que estavam por orientar. Sem esta consulta, eles seriam orientados possivelmente só daí a vários meses e sem a mesma eficácia”.

Sendo um dos elementos médicos presentes nas consultas multidis-

pitalar, entrou no quadro da ARSLVT como psicóloga, passando a integrar a URAP do ACES Cascais quando a mesma foi criada e mantendo-se, assim, há uns 20 anos nos CSP.

Questionada sobre qual o papel da Psicologia nos CSP, responde que “presta serviços psicológicos aos indivíduos, às famílias e à comunidade, fazendo a integração da promoção da saúde e a prevenção da doença, assim como o apoio assistencial. Neste contexto, é feita uma abordagem de avaliação e intervenção (apoio psicológico, acompanhamento e aconselhamento) individual e de grupo, de modo a dar resposta ao nível de projetos de saúde adequados à população”.

Convidada a participar na Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo, não hesitou em aceitar o desafio, afirmando: “Este projeto tão

ciplinares, juntamente com João R. Nunes Pires, Mariana Castro Guimarães reconhece que o trabalho é gratificante: “Saímos sempre da reunião com a sensação de missão cumprida, porque definimos um plano estruturado para cada caso e sentimos que o tempo foi aproveitado da melhor forma para melhorar a qualidade de vida dos utentes referenciados. Queremos fazer a diferença na vida dos utentes que nos são referenciados e que precisam mesmo da nossa colaboração.”

Também os utentes têm vindo a referir o impacto positivo destas consultas na sua saúde quando respondem ao questionário de satisfação que lhes é apresentado aquando da alta. Ainda que a discussão multidisciplinar cesse por já não ser necessá-

amplo e interessante junta profissionais de saúde de várias áreas em reuniões regulares, permitindo facilitar a comunicação entre nós, aumentando a rapidez de intervenção no utente como um todo. Especificamente na área das suas dificuldades psicológicas, possibilita avaliar a situação e intervir terapeuticamente, melhorando a sua qualidade de vida.”

Teresa Castelo esclarece que quase todos os casos que são apresentados necessitam da sua intervenção porque, “para além das múltiplas patologias que as pessoas apresentam, o fator psicológico intervém fortemente na maior parte das situações”.

Ana Sofia Santos, enfermeira de cuidados paliativos: “Temos uma visão diferente sobre as pessoas que estão em casa”

A primeira entrevista de trabalho de Ana Sofia Santos, hoje com 39

ria, tal não invalida que o utente possa manter o seguimento em certas áreas profissionais.

O alargamento desta via verde aos cuidados primários e secundários

Na altura em que a reportagem foi realizada, os nossos interlocutores ambicionavam a integração de um terapeuta familiar e de um tradutor na equipa e adiantavam que o objetivo futuro passaria pelo alargamento da consulta, tornando a referenciação acessível a qualquer profissional de saúde do ACeS Cascais. Esse avanço carecia da “solidificação do projeto e do envolvimento de mais profissionais”, como explicava João R. Nunes Pires, uma vez que, “naquele momento, a expansão

anos, foi no Hospital da Luz Lisboa e a única vaga que havia era na Unidade de Cuidados Paliativos (CP). Estávamos em 2008 e a enfermeira nem pensou duas vezes, aceitando de imediato a proposta. “Deparei-me com uma realidade que não conhecia, mas pela qual me apaixonei. Gosto muito desta área dos CP, de fazer parte do fim de vida das pessoas, de lidar com a proximidade da morte, percebendo que a nossa finitude é um desafio para nós todos os dias”, comenta. Por ali ficou 10 anos, até um concurso a colocar na Equipa Comunitária de Cuidados Paliativos do ACES de Cascais. Especialista em Enfermagem de Reabilitação, Ana Sofia Santos logo esclarece que “em CP também se reabilita muito, ao procurar-se aumentar a qualidade de vida da pessoa enquanto ela viver”.

Atrás: Deolinda Bernardo, João R. Nunes Pires, Mariana Castro Guimarães e Anabela Sandra Secretário, Inês Domingos e Teresa Castelo
da pág. 23)

significaria prescindir da qualidade do acompanhamento longitudinal que estamos a proporcionar a estes utentes”.

O intuito seria, nos meses seguintes, abrir o projeto aos polos Parede/ /Carcavelos e São Domingos de Rana e expandi-lo depois para a outra área do concelho, contemplando Cascais, Estoril e Alcabideche, através da criação de uma outra equipa.

Raquel Baptista Leite acreditava que, “se as consultas passassem a ser quinzenais, provavelmente seria possível abarcar utentes de outras unidades, uma vez que a UCSP corresponderia à unidade mais problemática, ao englobar utentes sem médico de família”. Na verdade, “nas listas trabalhadas ao longo dos anos, como são as das USF, não haverá tantas situa-

A sua ligação à UCSP da Parede e a relação de trabalho com o então interno de MGF João Pires e a própria coordenadora, Raquel Baptista Leite, colocou-a, obviamente, a par da criação da Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo. Sugeriu então que a Equipa dos CP também fizesse parte do projeto. E justificou porquê: considerando que todo o doente paliativo é sempre complexo, muito provavelmente iriam surgir casos em que essa presença faria todo o sentido.

Até porque, como afirma Ana Sofia Santos, “em cuidados paliativos, atuamos de uma forma multidisciplinar, com todos os elos que temos ao nosso alcance, quer seja da comunidade ou da parte hospitalar, e temos uma visão diferente sobre as pessoas que estão em casa porque, como equipa comunitária, só fazemos visita domiciliária”.

“A verdade é que acabamos por olhar para cada caso num contexto que nos permite mais facilmente perceber como aumentar a qualidade de vida do doente com intervenções muitas vezes não farmacológicas. Conseguimos, assim, adaptar as nossas decisões ao meio em que determinada pessoa está inserida, por

Raquel Baptista Leite: “O acesso à saúde é apenas uma pequena percentagem da saúde global do doente, contudo, também é verdade que quem não tem médico de família fica à margem da sociedade e só chega aos cuidados de saúde numa situação de desespero.”

ções limite”, o que, do seu ponto de vista, “é demonstrativo da iniquidade que existe nos acessos aos cuidados de saúde”.

A médica reconhece que “o acesso à saúde é apenas uma pequena percentagem da saúde global do doente, contudo, também é verdade que quem não tem médico de família fica à margem da sociedade e só chega aos cuidados de saúde, nomeadamente às UCSP, numa situação de desespero”. Para si, “é muito triste saber que no mesmo edifício, na mesma região ou país há utentes que têm direito a tudo e outros a nada”.

Para que esta espécie de via verde não terminasse nos CSP, “o projeto deveria abranger também a participação dos cuidados secundários, nomeadamente quando são necessárias referenciações a consulta hospitalares”, defende João R. Nunes Pires. Nesse sentido, “torna-se importante formalizar a articulação entre cuidados de saúde primários e hospitalares, para

termos uma perceção da realidade muito mais concreta”, explica a enfermeira, acrescentando:

“Temos muitos doentes idosos, e mesmo casais, propostos para discussão em reunião no âmbito desta consulta e quase todos têm patologias crónicas, ou já tiveram, por exemplo, um problema oncológico, apresentando habitualmente um certo grau de demência, surgindo muitas questões que são inerentes aos cuidados paliativos.”

Inês Domingos, nutricionista:

“Trata-se de montar e desmontar um puzzle”

Começa por dizer que está presente em todas as reuniões. Com acesso aos casos que vão ser discutidos entre 24 a 48 antes, consulta cada um dos processos clínicos, para ter uma ideia das condições médicas e psicossociais de cada doente selecionado.

“Se existir algo que possa oti-

que o seguimento seja o mais completo possível”.

À data de hoje, junho de 2024, cinco meses depois de a UCSP Parede ter dado lugar à USF Avencas, sendo esta uma das unidades que integram a ULS de Lisboa Ocidental, Raquel Baptista Leite confirma que o projeto continua a decorrer, embora vivendo um momento de transição.

“Faz sentido que ganhe novos moldes e proporcione uma resposta mais abrangente, não apenas aos utentes sem médico, mas também com médico, não só da USF Avencas, mas também da área geográfica Parede - Carcavelos - São Domingos de Rana”, afirma.

“Acima do valor da nossa identidade enquanto equipa, seja USF, UCSP ou UCC, existe um valor maior, que é o do cidadão, para o qual estamos a trabalhar, no sentido de aumentar a saúde das comunidades”, comenta Raquel Baptista Leite.

Como salienta, “depois de contactar com a realidade dos utentes sem médico de família, não é possível ignorá-la e é inevitável e perturbador pensar na iniquidade de cuidados e de acesso à saúde que existe. É uma experiência realmente transformadora”. Por outro lado, “percebemos que, acima do valor da

mizar com a minha intervenção, partilho-o na reunião”, garante a nutricionista Inês Domingos, 43 anos, esclarecendo: “Por vezes, surgem-nos dúvidas, enquanto debatemos os casos, porque, na realidade, trata-se de montar e desmontar um puzzle, encontrar o que falta e que peça podemos acrescentar, com os recursos que temos, para completar o resultado final naquele utente.” Há situações em que “basta efetuar sugestões ao colega que fica gestor daquele caso”, mas também há outras em que “elaboro um aconselhamento mais detalhado, que pode ser remetido ao doente, ou procedo mesmo ao agendamento de consulta presencial”. Isso acontece quando, por exemplo, “existe uma grande descompensação metabólica, ou no caso de crianças, em que é muitas

O entusiasmo pela dinamização de novos projetos

Mariana Castro Guimarães e João R. Nunes Pires, ambos com 30 anos, são dois entusiastas e dinamizadores natos de novos projetos. Dado o seu interesse por esta tónica do doente complexo, Mariana Castro Guimarães deverá assumir a responsabilidade pelo projeto da Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo assim que integrar a atual USF Avencas enquanto especialista.

Já João R. Nunes Pires dará continuidade a outra das suas áreas preferenciais, o projeto da Unidade de Medicina do Viajante e do Centro de Vacinação Internacional de Cascais, do qual foi impulsionar e cuja criação veio a efetivar-se em abril de 2023. Aliás, em plena pan-

nossa identidade enquanto equipa, seja USF, UCSP ou UCC, existe um valor maior, que é o do cidadão, para o qual estamos a trabalhar, no sentido de aumentar a saúde das comunidades”.

demia, no 1.º semestre de 2021, realizou, em formato online, uma pós-graduação em Medicina do Viajante, pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical – Universidade Nova de Lisboa

Os dois assumiram um papel determinante no projeto enquanto impulsionadores da criação da Consulta Multidisciplinar do Doente Complexo e gestores de caso. “Quando integrámos a UCSP Parede, deparámo-nos com situações bastante complexas, que iam muito para além da nossa formação pré e pós-graduada, porque abrangiam também problemas sociais e psicológicos, com os quais não estávamos familiarizados ou preparados”, contextualiza o médico.

Se a médica considerava ter já “alguma sensibilidade para situações limite”, acredita que o facto de ter-se confrontado com a organização de uma UCSP e com o tipo de utentes que esta abrange mudou a sua visão sobre os cuidados de saúde. “Não se pode tratar por igual o que é diferente e tem de se olhar para os serviços de outra forma” realça.

vezes fundamental avaliar questões sensoriais e neuromotoras para a alimentação”.

Inês Domingos explica que, no âmbito da sua intervenção, avalia as causas orgânicas ou doenças físicas que levam determinado utente a ser referenciado para a equipa e “qual a sua interferência na sua capacidade de autoalimentação, de dirigir e absorver nutrientes, de os utilizar para os processos biológicos, de serem transportados, metabolizados e, por fim, excretados”.

“Esta é a abordagem física ou orgânica da nutrição, a que respondemos através do aconselhamento e prescrição alimentar, podendo englobar estratégias de suporte nutricional por via oral, enteral ou parental domiciliária”, refere.

Porém, dadas as características e complexidade destes utentes, “é fundamental a colaboração e definição de estratégias integradas contemplando a intervenção médica e de enfermagem, para conjuntamente se alcançar uma resposta verdadeiramente estruturada e adequada a estas necessidades, mas também uma otimização metabólica e uma melhor gestão farmacoterapêutica e da doença de base”.

“A inclusão da componente psicossocial deste modelo, que contempla o assistente social e o psicólogo, articulando com a nutrição e a enfermagem – com a área educativa em contexto escolar e com as instituições de apoio social na comunidade e autarquias –, permite ainda dar resposta a algumas das mais prevalentes ‘doenças’ da atualidade, a insuficiência económica, a pobreza e a solidão”, considera Inês Domingos.

A profissional, que trabalhou no Hospital de Santa Cruz e tem mais de 10 anos como docente do ensino superior e formadora na Alzheimer Portugal, aplaude este “modelo de intervenção colaborativa e partilhada, que gera um ambiente de suporte e aprendizagem entre todos”. Inês Domingos, que integrou o ACES Cascais em setembro de 2022, destaca o trabalho de investigação que desenvolveu, no âmbito do seu doutoramento em Ciências Biomédicas (ramo molecular), em unidades de Medicina Intensiva com doentes graves infetados com SARS-CoV-2, em que o objetivo principal foi a identificação de fatores metabólicos, nutricionais e moleculares para desfecho fatal.

Anabela Roque; à frente: Ana Sofia Santos,

CONCLUSõES DE INqUÉRITO PROMOVIDO PELO OBSERVATóRIO DE SAúDE MENTAL DA SPPSM RECOMENDAM A TOMADA DE MEDIDAS

7% dos atletas sofrem com sintomas

depressivos e/ou de ansiedade

depressão e AnsiedAde são ApenAs dois dos proBLemAs dA áreA dA sAúde mentAL que podem AfetAr os AtLetAs de ALto rendimento, sendo que mAis de 90% deLes não têm Acesso direto A Apoio psiquiátrico.

Como seria de esperar, é na fase de competição que os atletas mais sofrem com sintomas de depressão e/ou de ansiedade, comparativamente com aqueles que se encontram já num momento de pós-carreira, sendo essa diferença mais evidente no caso da ansiedade. E a percentagem sobe de 7 para 10% (1 em cada 10) quando se fala de burnout

Realizado pelo Observatório de Saúde Mental da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), foram consideradas como válidas para inclusão neste inquérito online as respostas dadas por 147 atletas de alta competição, com idade igual ou superior a 18 anos.

“Foram utilizadas escalas de depressão, ansiedade, burnout, risco de alcoolismo e resiliência e foi também avaliado o consumo de substâncias ilícitas, o acesso a cuidados de saúde mental e o estigma associado à doença mental”, esclarece a coordenadora do inquérito, Maria João Heitor, diretora do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Beatriz Ângelo (ULS de Loures-Odivelas) e presidente cessante da SPPSM.

A divulgação dos resultados do inquérito foi, aliás, um dos pontos altos do programa do II Seminário Nacional de Saúde Mental no Desporto de Alta Competição, realizado no final de maio, em Lisboa. O evento, cuja primeira edição aconteceu em novembro de 2022, tem uma

organização conjunta da Associação dos Atletas Olímpicos de Portugal (AAOP), presidida por Luís Alves Monteiro, e da SPPSM.

18% dos atletas admitiram ter ou ter tido uma doença mental diagnosticada por um médico ao longo da sua vida, sendo que 30% deles não realizaram qualquer tipo de tratamento.

De referir que quase 1 em cada 5 atletas (22,9%) classificam como “desequilibrada” a conciliação entre a vida pessoal e familiar com o desporto. Mais de metade (57,9%) admitem que a transição para a fase pós-carreira foi “difícil” ou “muito difícil”.

Entretanto, 18% admitiram ter ou ter tido uma doença mental

diagnosticada por um médico ao longo da sua vida, sendo que 30% deles não realizaram qualquer tipo de tratamento (consultas, medicação ou outro). Foi também possível concluir que 15,3% dos atletas considerados no inquérito mantêm um consumo excessivo de álcool, sobretudo no pós-carreira, enquanto o uso de substâncias ilícitas (15,2%) se apresenta similar, em competição ou não.

Verificou-se, igualmente, que, no clube/entidade a que estão ligados, 36,7% dizem não ter acesso direto a um psicólogo e 93,3% referem ter idêntica dificuldade relativamente ao apoio psiquiátrico, obrigando-os

a seguir o circuito habitual da população em geral, o que pode ser mais demorado.

Em termos de como cada um perceciona o estigma contra a doença mental, curiosamente, mais de 50% consideram que a procura de cuidados de saúde mental não iria colocar em risco a sua carreira ou relações profissionais. No entanto, 22,4% afirmam que esse risco existe, ou seja, 1 em cada 5 atletas teriam receio de procurar ajuda.

“Se pensarmos que os problemas psiquiátricos podem aumentar o risco de lesão física e, quando esta existe, atrasar a recuperação do atleta, compreendemos ainda mais a sua

extrema relevância”, afirma Maria João Heitor.

A necessidade de elaborar recomendações nacionais

A coordenadora do inquérito promovido pelo Observatório de Saúde Mental da SPPSM defende que “seria importante criar um grupo de trabalho multidisciplinar, nomeadamente com profissionais de Saúde Mental, para a questão ser estudada a partir deste primeiro diagnóstico da situação”. Como base de trabalho, já existem declarações de consenso e orientações internacionais, incluindo um documento do Comité Olímpico, produzido em 2019.

Maria João Heitor considera ser necessário que sejam emitidas recomendações e um conjunto de medidas nacionais em quatro vertentes: prevenção (com identificação de fatores de proteção e de risco); avaliação (precoce em atletas de risco); intervenção (farmacológica e não farmacológica, por exemplo, psicoterapêutica); e reintegração (de atletas que tenham estado temporariamente afastados dos treinos e da competição, por problemas de saúde mental).

“É importante que na elaboração destas recomendações estejam envolvidos profissionais de Saúde Mental, em conjunto com treinadores, atletas e outros stakholders que tenham um conhecimento profundo dos ambientes desportivos”, frisa a psiquiatra. E acrescenta, na lista de medidas a tomar, a promoção da literacia em saúde mental de atletas, treinadores, famílias e público em geral, bem como a divulgação destas temáticas à sociedade civil.

Maria João Heitor conclui ainda que “o sofrimento psicológico e a experiência de ter uma doença mental pode também ser mais uma oportunidade de aprendizagem, crescimento e desenvolvimento pessoal e não apenas algo negativo”.

Experiências imersivas nos Cuidados Paliativos da ULSRL

OServiço de Cuidados Paliativos da ULS da Região de Leiria (ULSRL), no âmbito de um protocolo com a Academia dos Sonhos do Centro Social Paroquial dos Pousos (CSPP), tem vindo a proporcionar viagens virtuais aos seus utentes desde o final de fevereiro. Com a ajuda de óculos virtuais, todas as quartas e sextas-feiras, uma animadora sociocultural e uma terapeuta ocupacional presenteiam-nos com uma “viagem”... que permite sair e voar para bem longe, mas sem sair do lugar.

“Trata-se uma experiência imersiva com o objetivo de diminuir a dor total e a angústia existencial. Através de vídeos a 360º curtos, para prevenção dos enjoos e mal-estar, a experi-

ência dura o tempo que a pessoa tolerar e desejar. As “viagens” levam os utentes para lugares inimagináveis, desejados e/ou locais relacionados com as suas histórias de vida, tendo em conta a sua condição de saúde frágil e na impossibilidade de se deslocarem fisicamente”, explica Catarina Faria, diretora do Serviço de CP da ULSRL.

Para usufruir desta experiência virtual, são elegíveis as pessoas acompanhadas pelo Serviço com 65 ou mais anos, bem como está incluída a interação com doentes que estejam no domicílio e institucionalizados, mediante sinalização. O impacto destas experiências imersivas está a ser mensurado, com a criação de uma parceria com o Politécnico de Leiria,

antes, durante e depois da “viagem”, em que são aplicadas três métricas: vitalidade, depressão e felicidade, de acordo com a capacidade cognitiva e a literacia da pessoa. “A integração de tecnologias digitais, numa lógica inovadora, quanto ao uso da realidade virtual com acompanhamento terapêutico, é um meio de estimulação neurológica e de permissão para outras emoções e reações cognitivas. A nossa prioridade é dedicada aos idosos que se encontram em situação de maior vulnerabilidade”, destaca Alexandra Neves, coordenadora do projeto da Academia dos Sonhos. O protocolo surgiu no âmbito da candidatura ao Prémio BPI Fundação “la Caixa” Seniores 2023.

O impacto destas experiências imersivas está a ser mensurado, com a criação de uma parceria com o Politécnico de Leiria, antes, durante e depois da “viagem”.

Luís Alves Monteiro (AAOP) e Maria João heitor (SPPSM)

três são de mais

Abrunheira

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