Jornal Médico 123

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Cristina Bárbara “O MF nunca esteve tão bem preparado para lidar com as doenças respiratórias”

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23 - 26 Maio 2024

USF AlbUrrICA , Ul S DO ArCO rIbeIrINhO

Dinamizar consultas específicas adequadas às necessidades dos seus utentes

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Criada há menos de três anos, a equipa tem procurado conquistar o seu espaço e crescer progressivamente, a fim de atrair colegas e abraçar mais listas de utentes. A criação das consultas de Obesidade, Contraceção e Cessação Tabágica insere-se nesse objetivo, que tem como desígnio maior servir a população do barreiro. “Os CSP têm de estar habilitados a olhar para as mulheres conforme elas vão amadurecendo”

Pedro Melo Anemia democratocítica

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9º Congresso Ibérico de Medicina Interna

Centro de Congressos do Algarve, Vilamoura

CLáuDIO REBELO, PRESIDENTE DA SECçãO DE MENOPAuSA DA SPG:

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CL áuDIA VICENTE, COORDENADORA DO GRESP:

“Dispondo de mais armas terapêuticas, o médico de família consegue gerir hoje melhor o doente respiratório, otimizando de forma individualizada o seu tratamento, o que é desafiante mas igualmente interessante”

“A MGF não recebe o reconhecimento proporcional à sua importância”

A afirmação foi proferida por Rui Costa na sessão de abertura das VI Jornadas Multidisciplinares de MGF, evento que bateu o recorde de participação.

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ESPECIAL

Primeiros 1000 Dias de Vida

Joana Sousa Alimentação e suplementação na grávida: qual a evidência?

Rafaela B. Campanha Tabaco na grávida: quais os riscos?

Inês Lima Ferreira

O impacto da alimentação e da nutrição no leite materno

Carolina Andrade e Sousa Atividade física na grávida: quais as recomendações?

Rita Cabrita

Amamentação: dos mitos à evidência

Ana Helena Pinto

Como promover uma alimentação saudável e sustentável?

Ana Margarida Pinto

Babyledweaning– qual a evidência?

Marta Barroca Hábitos de sono saudáveis no bebé: qual o segredo?

Ana Margarida Pinto / Mariana

Liñan Pinto / Marta Filipa Lopes / / Telma Nogueira

Fortalecer a literacia alimentar

Mariana Vaz Marques

Mindfulnessna gravidez e no puerpério

Vanda Guerra Atividade física

Nesta edição Especial Primeiros 1000 Dias de Vida Espaço Dor - ASTOR 2024
dos
Publicações Diretor: José Alberto
Mensal • Abril 2024 Ano XII • Número 123 • 3 euros Catarina
Congresso Nacional de Medicina Interna www.justnews.pt
cuidados de saúde primários
Soares
Jesus A elevada comorbilidade entre dor crónica e patologia psiquiátrica
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PUB
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PUB Cuidados Respiratórios Domiciliários 40x40_gasoxmed_02.indd 1 14/06/18 14:26

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM

Anemia democratocítica

estranho fazer esta afirmação, não é? Mas vou usar outro exemplo para me tornar mais compreensível: As vacinas têm sido vítimas do seu próprio sucesso. Porquê?

Porque desde que o Programa Nacional de Vacinação começou a ser implementado em Portugal, nos anos sessenta do século XX, a maior parte das doenças foram erradicadas ou diminuídas de tal forma que não é fácil conhecer alguém que padeça de uma doença para a qual estamos universal e gratuitamente protegidos. Isso significa que, como diz o velho ditado português, “o que os olhos não veem o coração não sente”. E, por isso, o medo das doenças deixou de ser

uma emoção impulsionadora à adesão às vacinas e os movimentos antivacinas foram, por isso, aumentando.

Pois bem, o exercício da cidadania orientada para a Liberdade tem sido vítima do sucesso da democracia, que faz este abril de 2024 cinquenta anos de plenitude em Portugal. Cinquenta anos chegam para que as gerações que foram nascendo e crescendo não tenham tido contacto com um regime político ditatorial e, portanto, da mesma forma que o medo das doenças não permite ter o mesmo sentido de adesão às vacinas, o medo da repressão e da punição pelo exercício pleno da cidadania deixou de estar presente no sentido de adesão à defesa da democracia.

Na medicina há um diagnóstico de um tipo de anemia, designada por anemia macrocítica, que, numa definição genérica, se caracteriza pela existência de glóbulos vermelhos com um tamanho maior do que o normal. Neste “Diagnóstico de Enfermagem” vamos refletir sobre um novo conceito, adaptado do referido: a anemia democratocítica

À semelhança da anemia macrocítica, neste caso, temos uma diminuição no volume de cidadania plena, por um tamanho aumentado da democracia. Parece

O exercício da cidadania orientada para a Liberdade tem sido vítima do sucesso da democracia, que faz este abril de 2024 cinquenta anos de plenitude em Portugal.

Por isso a designação de anemia democratocítica, um vazio de compreensão plena do sentido da Liberdade, por um aumento do ambiente democrático. Mas o aumento do ambiente democrático não é positivo? É o mesmo que o oxigénio, fundamental para respirar e viver, mas se consumido em ambientes de ausência de controlo pode provocar hiperoxia (excesso de oxigénio), com danos graves para a saúde. A exposição a informação não controlada, que aumenta ideais de uma toxicidade social, pode, da mesma forma, ser altamente mortal para uma sociedade democrática.

Atualmente, na arena virtual das redes sociais, por exemplo, as pessoas são expostas a informação tóxica (ainda que também a informação saudável), mas cuja ausência

A exposição a informação não controlada, que aumenta ideais de uma toxicidade social, pode, da mesma forma, ser altamente mortal para uma sociedade democrática.

de controlo permite uma sobredosagem de desinformação e informações falsas, o que aliado a uma iliteracia para o filtro e processamento de informação torna os ambientes atuais democraticamente asfixiantes.

Não é um problema exclusivo de Portugal. Tal como as alterações climáticas, as alterações democráticas são igualmente um flagelo que à distância de um clique pode ativar uma bomba atómica, potenciar genocídios, instigar o racismo, a xenofobia, a homofobia e uma roupagem de ódio, tecida com linhas de desumanização, que nos afastam da condição de Pessoas Humanas.

É um privilégio a ciência, a filosofia, a construção histórica do desenvolvimento humano nos demonstrar que ser Pessoa Humana é diferente de ser apenas um Ser Humano biológico, que assim se designa por se distinguir de outras espécies, como os cães, os gatos, os insetos. A espécie humana, desde logo, desenvolveu competências que lhe permitiu andar em pé, inventar a roda, descobrir o fogo, construir cidades, desenvolver sociedades.

As pólis, na Grécia antiga, onde os “Politikos” tinham o privilégio de exercer direitos e viver numa cidade organizada em eixos sociais evoluídos, são um exemplo das qualidades da espécie humana. Mas ser Pessoa Humana, nos preceitos de Arendt, é usar uma inteligibilidade de que somos dotados para garantir a nossa dignidade e as dos outros. Quando afirmamos, então, que alguém não tem direito a viver, a existir, a decidir sobre a sua identidade e condição, estaremos a ser Pessoas Humanas?

A anemia democratocítica tem, felizmente, tratamento. Alimentar os Seres Humanos de informação (desde a idade pré-escolar), de Amor (desde que nascem), de sentido de respeito (desde as escolas às ruas onde vivemos), para que se tornem Pessoas Humanas e o aumento das Pessoas Humanas torna a democracia viva em dose saudável.

Abril é um bom mote para pensar nisso com a seriedade que merece.

É este o número que vai ficar para sempre associado às VI Jornadas Multidisciplinares de MGF. Representa o total de inscritos numa reunião que à nascença (2019) já fazia adivinhar que haveria de crescer muito, em participação e em notoriedade! Os principais “culpados” por este sucesso aparecem na foto mais pequena, compreendendo-se, obviamente, o ar satisfeito de Manuel Viana, Rui Costa e Paulo Pessanha. Nota importante: as próximas Jornadas vão decorrer entre 20 e 22 de março de 2025.

2 | Jornal Médico Entrevista Abril 2024 Entrevista JORNALMÉDICO diretor: José Alberto Soares redação: Miguel Anes Soares, Raquel Braz Oliveira Fotografia: Nuno branco, Nuno Cruz publicidade: Ana Mota, Diogo Varela diretor de produção Gráfica: José Manuel Soares diretor de multimédia: luís Soares morada: Alameda dos Oceanos, Nº 25, e 3, 1990-196 lisboa Jornalmédicoé uma publicação híbrida da JustNews de periodicidade mensal, dirigida a profissionais de saúde, isenta de registo na erC, ao abrigo do Decreto regulamentar 8/99, de 9/06, Artigo 12º nº 1A Tiragem: 12.000 exemplares preço: 3 euros depósito Legal: 355.701/13 Notas: 1. A reprodução total ou parcial de textos ou fotografias é possível, desde que devidamente autorizada e com referência à JustNews. 2. Qualquer texto de origem comercial eventualmente publicado neste jornal estará identificado como “Informação”. Publicações geral@justnews.pt agenda@justnews.pt Tel. 21 893 80 30 www.justnews.pt Siga-nos just news
Pedro Melo Doutor em enfermagem. Professor adjunto na Escola Superior de enfermagem do Porto
2500

Entrevista

“As mulheres têm de ter as suas equipas dos CSP conforme vão amadurecendo e a garantir respostas

Alertando para a necessidade de se prestar um maior cuidado a esta fase da vida das mulheres, Cláudio Rebelo lembra o papel central da MGF nesta matéria, ao ter a oportunidade de sensibilizar as mulheres para a adoção de hábitos de vida saudáveis. Esta ação contribui para que a transição para a menopausa decorra de forma mais serena, ao mesmo tempo que permite que a eventual intervenção do ginecologista se centre na sintomatologia de mais difícil controlo ou nas mulheres com múltiplas comorbilidades.

“Com sintomatologia que chega a atingir 85% das mulheres, podemos considerar que é normal um conjunto de sintomas existir quando uma mulher entra em menopausa”, começa por referir Cláudio Rebelo, presidente da Secção Portuguesa de Menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, esclarecendo que, “classicamente, a definição de menopausa surge na mulher que está há 12 meses sem menstruar, após um período de um a dois anos de irregularidades menstruais”.

Perante os sinais que vão surgindo nesse período da vida da mulher, o médico, que coordena a Ginecologia/Obstetrícia do Hospital CUF Porto, avança que há duas opções: “Ou fazemos de conta que ‘o leque’ resolve os sintomas vasomotores, que os cremes lubrificantes solucionam as queixas vulvovaginais e que o risco cardiovascular ou de fratura osteoporótica deve ser tratado mais tarde por outras especialidades, não havendo, portanto, necessidade de acompanhar as mulheres em menopausa, ou, pelo contrário, consideramos que há ganhos visíveis em termos de qualidade de vida quando são adequadamente acompanhadas”.

Cláudio Rebelo adianta que “muitas das mulheres se preparam para esse mo-

mento e conseguem fazer uma transição serena para o pós-menopausa, refletindo-se em menos sintomas que interfiram com o seu dia-a-dia e a sua qualidade de vida”.

Cláudio Rebelo alerta para a necessidade de “garantir o acompanhamento da mulher durante a transição para a menopausa, sensibilizando-a para as questões da nutrição e do exercício físico”.

Contudo, nota que, “tendencialmente, como cuidadoras da família, as mulheres, muitas vezes, esquecem-se delas

e só voltam a pensar em si quando os filhos entram na faculdade”. Acontece que, “enquanto no passado as jovens eram mães aos 25 anos e os filhos ingressavam no ensino superior quando estavam em pré-menopausa, agora fazem-no na faixa dos 30-35 anos, pelo que já só voltam a dar mais atenção a si próprias com mais de 50 anos”. Por conseguinte, “frequentemente, chegam à Consulta de Menopausa com alguns maus hábitos, como tabagismo, excesso de peso e obesidade”.

O ginecologista/obstetra revela que, “quando comparada com a mulher europeia, a mulher portuguesa entra na menopausa sem ter hábitos de prática de

exercício físico regular, nem preocupação com o seu controlo de peso”. Tal reflete-se no “aparecimento de mulheres na casa dos 50 anos com um perfil tensional elevado, por exemplo, levando o médico a questionar-se se esse quadro não existia já antes”. É com frequência que o nosso entrevistado ouve as mulheres dizer: “Agora que estou na menopausa, tudo me apareceu – o colesterol alto, o ganho de peso, a hipertensão!” Contudo, sublinha que “não é por terem entrado na menopausa que essas alterações aconteceram. Na verdade, era algo que já estava a suceder, mas não foi devidamente acompanhado, e só quando sur-

ge uma sintomatologia mais marcada da menopausa, que as impossibilita de fazer tudo aquilo a que estavam habituadas, é que vão preocupar-se com a sua saúde”.

Nesse sentido, alerta para a necessidade de “garantir o acompanhamento da mulher durante a transição para a menopausa, sensibilizando-a para as questões da nutrição e do exercício físico, para que, durante a menopausa, o médico, com a sua visão integrada, se centre nos sintomas”.

O presidente da Secção Portuguesa de Menopausa da SPG adianta que a menopausa está prevista acontecer entre os 45 e os 55 anos, sendo que,

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CL áuDIO REBELO, PRESIDENTE DA SECçãO PORTuGuESA DE MENOPAuSA DA SOCIEDADE PORTuGuESA DE GINECOLOGIA:
“A mulher em menopausa que não vê a sua resposta nos CSP dificilmente chegará a uma consulta hospitalar em tempo útil para ser tratada”, evidencia o ginecologista
CSP habilitadas a olhar para elas respostas às suas queixas”

no caso da mulher portuguesa, a média situa-se nos 50 anos e seis meses. Perante o surgimento de sintomas e irregularidades menstruais em mulheres mais jovens, “pode ser necessário

“A menopausa mais preocupante é a falência ovárica prematura, pelos riscos de saúde que acarreta nas mulheres que estão em menopausa abaixo dos 40 anos”, esclarece o médico.

recorrer a um doseamento hormonal para verificar se se trata do diagnóstico de menopausa precoce ou, por outro lado, de uma disfunção da tiroide ou do eixo hipotálamo-hipófise que justifique tais sintomas”.

O médico esclarece que “a menopausa mais preocupante é a falência ovárica prematura, pelos riscos de saúde que acarreta nas mulheres que estão em menopausa abaixo dos 40 anos”. Neste grupo, podem encontrar-se as “doentes que fizeram quimioterapia para cancro da mama ou uma neoplasia hematológica, mulheres fumadoras, com doenças autoimunes, com um histórico familiar de falência ovárica prematura e em situações mais raras com doenças genéticas como a síndrome do X frágil”.

Apesar de “muitas vezes estarem na terceira década de vida, estas mulheres têm uma reserva ovárica baixa e estão num caminho de pré-menopausa, repre-

sentando um grupo de alto risco cardiovascular e síndrome metabólica”.

“A necessidade de voltar a discutir esta fase da vida das mulheres”

Cláudio Rebelo defende que “as mulheres têm de ter as suas equipas dos CSP habilitadas a olhar para elas conforme vão amadurecendo e a garantir respostas às suas queixas”. Por esse motivo, enquanto presidente da Secção Portuguesa de Menopausa, tem procurado levar informação aos colegas de MGF, também por identificar “um maior interesse desta nova geração de médicos de família em saberem mais sobre menopausa e em terem mais respostas para dar às mulheres em (pré) menopausa, algo que foi ligeiramente perdido nos currículos do curso de Medicina e do internato”. Na sua opinião, um dos motivos que terá contribuído para essa realidade foi a inclusão da Consulta de Menopausa na Consulta de Ginecologia Geral, na grande maioria dos hospitais centrais do SNS.

Apesar de reconhecer que “esta não é uma tarefa fácil para o médico de família, quando lhe é solicitado um leque de atividades tão grande”, o nosso interlocutor salienta a “necessidade

O presidente da SPM alerta que “é preciso perceber que não é a mulher que está diferente; ela é a mesma. Trata-se, sim, de uma fase de três a cinco anos em que a flutuação hormonal gera mais sintomas”.

de voltar a discutir esta fase da vida das mulheres, porque a maioria irá recorrer aos CSP”.

Cláudio Rebelo alerta que “é preciso perceber que não é a mulher que está diferente; ela é a mesma. Trata-se, sim, de uma fase de três a cinco anos em que a flutuação hormonal, nomeadamente a nível central, gera mais sintomas. Adicionalmente, muitas vezes, a mulher já chega deprimida à menopausa e a situação agrava-se porque deixa de se conhecer”.

Outro dos desafios relaciona-se com o facto de se tratar de “um tipo de consulta que exige tempo, quando a pressão do cumprimento de 15 minutos nos CSP é grande, além de terem uma série de objetivos a cumprir, onde, dada a visão do poder político, não se integra ainda nas grelhas ter a mulher em menopausa bem tratada e com qualidade de vida”.

“A população em menopausa do sul da Europa é diferente”

Acreditando que “a população em menopausa do sul da Europa é diferente da anglo-saxónica ou da nórdica”, a Secção Portuguesa de Menopausa juntamente com a Associação Espanhola para o Estudo da Menopausa e a Sociedade Italiana de Menopausa formaram o grupo POESI, cujo nome resulta da junção das iniciais dos países. O intuito é “promover mais publicações e colaborações

Neste contexto, sublinha que, “se a base da pirâmide são os CSP, é preciso dar ferramentas aos colegas para tratarem as principais patologias e garantir que ninguém fica sem resposta”. O facto de a maioria dos pedidos de referenciação serem canalizados para a Consulta de Ginecologia Geral, dada a extinção da Consulta autónoma de Menopausa em muitos hospitais, tem dificultado, na sua ótica, a garantia de resposta a esta população:

entre todos, a fim de garantir um melhor e mais personalizado cuidado às mulheres em menopausa”.

Um dos trabalhos em desenvolvimento consiste na criação de uma aplicação móvel com um score de sintomas baseado na Escala Cervantes, “para tentar dar respostas mais personalizadas na terapêutica individualizada a cada mulher”.

“A mulher em menopausa que não vê a sua resposta nos CSP dificilmente chegará a uma consulta hospitalar em tempo útil para ser tratada. Quando tem sintomas de difícil controlo, não consegue esperar e, se tiver capacidade financeira, recorre à medicina privada.”

“Com os doentes, descobri a minha vocação para ser médico, mais do que cientista”

Cláudio Rebelo nasceu a 30 de novembro de 1973, na Póvoa de Varzim. Lá viveu toda a sua infância e adolescência, período durante o qual idealizou que queria ser cientista e dedicar-se à Genética. Contudo, o seu tio médico sugeriu-lhe outra possibilidade – estudar Medicina e decidir depois se preferia ser geneticista ou cientista.

Aceitou a proposta e a verdade é que, no decorrer do curso, que frequentou na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, a sua ideia mudou: “Durante os três primeiros anos, percebi que não gostava muito de Ciência Básica e, nos anos seguintes, na clínica, com os doentes, descobri a minha vocação para ser médico, mais do que cientista.”

Após realizar o internato de formação geral no Hospital de Santo António, cumpriu o de Ginecologia/Obstetrícia no Hospital de São João, que concluiu há 18 anos. Logo na primeira semana de internato, foi convidado a participar no Congresso Mundial de Menopausa, em Berlim, e, após ouvir uma palestra magistral de Leon Speroff, apaixonou-se pela área.

A experiência positiva que viveu no Hospital Pedro Hispano, durante o 5.º ano de internato, levou-o a iniciar e desenvolver aí parte da sua carreira. Permaneceu na instituição, dedicado à menopausa e à ginecologia geral e oncológica, até novembro de 2023, data em que trocou o SNS pela atividade privada, que já mantinha em simultâneo há 17 anos. Desde novem-

bro que é o coordenador de Ginecologia/ /Obstetrícia do Hospital CUF Porto. É ainda diretor clínico da InvictaSaúde, uma clínica do Porto.

A sua ligação à Sociedade Portuguesa de Ginecologia iniciou-se na altura do seu internato, sendo que acompanha a Secção Portuguesa de Menopausa da SPG desde a sua criação, no início de 2017. Em janeiro de 2023, tomou posse como seu presidente.

Casado com uma anestesista, adianta que o seu filho, de 15 anos, bem como a sua filha, de 13, não ambicionam até agora seguir Medicina. Além de ser “apaixonado por viagens”, gosta muito do tempo que passa na cozinha. “Cozinhar é a ação que faço tão bem ou melhor do que operar!”, garante.

Jornal Médico | 5 Abril 2024 PUB Entrevista

Notícia

RuI

GERAL E FAMILIAR:

“A MGF não recebe o reconhecimento proporcional à sua importância”

“A valorização profissional é determinante para atrair e manter médicos qualificados nesta especialidade” – alertou Rui Costa ao intervir na sessão de abertura da última edição das Jornadas Multidisciplinares de MGF, evento que o seu copresidente classificou como “a grande referência formativa da área atualmente”.

A VI edição destas Jornadas anuais, que manteve o formato híbrido adotado em 2021, em consequência das restrições originadas pela pandemia de covid-19, foi a mais concorrida de sempre, tendo o número de inscrições superado a barreira das 2500, cerca de metade das quais presenciais. O local da reunião manteve-se (Sheraton Porto), decorrendo a mesma entre os dias 21 e 23 de março.

Projeto lançado em março de 2019 pelos médicos de família Paulo Pessanha, Manuel Viana e Rui Costa, logo ficou decidido que a condução da sessão de abertura de cada edição iria rodando entre os três, cabendo ao anterior coordenador do GRESP-APMGF assumir essa tarefa agora em 2024.

Para além dos três responsáveis pelas Jornadas, a mesa de abertura, cuja sessão aconteceu ao final da manhã do primeiro dia de trabalhos, incluía o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, e a vereadora da CM do Porto, Catarina Araújo.

Na sua intervenção, Rui Costa afirmou que “os médicos de MGF atuam como coordenadores da prestação de cuidados de saúde, integrando informações de diferentes especialidades e garantindo uma abordagem unificada e efetiva para o utente”.

Complementarmente, salientou que “o trabalho em equipa e a adequa-

da articulação entre os diferentes níveis de prestação de cuidados de saúde, de forma a promover o custo-efetividade, a produtividade e a verdadeira integração dos cuidados de saúde, são desafios que o médico de MGF deve assumir e liderar”.

Quanto aos desafios que a MGF enfrenta, referiu “a falta de recursos, tanto humanos quanto materiais e financeiros”, sugerindo ser necessário, nomeadamente, promover remunerações adequadas

“para garantir o crescimento, a eficiência e a eficácia dos serviços de MGF e a satisfação de quem trabalha nesta área”.

Rui Costa lembrou ainda que “a constante evolução da medicina requer uma formação e atualização profissional contínua”. Nesse sentido, será preciso “garantir que os médicos estejam atualizados com as últimas práticas e avanços científicos”, pois, isso será “essencial para oferecer cuidados de saúde de elevada qualidade”.

Não excluindo o papel das novas tecnologias na medicina, defendeu que deviam ser “criadas e adotadas soluções de Inteligência Artificial que tornem os CSP atrativos, melhorando a eficiência, tanto para os médicos como para os doentes, e contribuir para os tão necessários e desejados cuidados de saúde de menor custo, mais eficientes e mais seguros.”

Carlos Cortes: “Vocês têm de saber continuar a defender a vossa especificidade”

Reagindo às palavras de Rui Costa sobre a falta de valorização da MGF, o bastonário da Ordem dos Médicos frisou que “a OM dá muito valor à MGF” e disse inclusivamente que a considera, a título pessoal, “a especialidade mais importante

do SNS e do Sistema de Saúde em Portugal, porque tem características únicas e diferenciadoras”. A primeira característica que apontou foi “a maneira como concebe a relação médico/doente”, adiantando tratar-se, provavelmente, da “única especialidade que tem esta proximidade com o doente, porque não se envolve só com ele, mas com todo o seu ambiente familiar e a comunidade, o que lhe confere uma capacidade única de privilegiar, valorizar, dignificar e dar uma plataforma humana à relação médico-doente”.

Carlos Cortes deixou vários elogios à MGF. Reconhecendo o “desenvolvimento notável na área técnico-científica” observado nos últimos anos, disse desconhecer a existência de “outra especialidade em que a formação médica esteja tão bem organizada e seja tão exigente do ponto de vista do seu internato médico como na MGF.”

Mas também partilhou algumas das suas preocupações, uma das quais relacionada com o futuro dos CSP no seio das ULS: “Acho que Portugal tem de desenvolver a integração de cuidados de saúde,

mas não defendo que tenha de ser uma fagocitose e que os CSP tenham de ser engolidos pelos hospitais”.

Nesse contexto, disse “temer muito pelo futuro da MGF e, obviamente, pelo acesso dos doentes, pela alta diferenciação que esta especialidade tem tido, pela sua especificidade, face ao que está a acontecer nas ULS”.

E acrescentou ainda: “Tenho as maiores reservas sobre a independência e autonomia dos CSP, absolutamente fundamental para o seu funcionamento. Receio verdadeiramente que venham a perder aquilo que conquistaram ao longo dos anos, com o desenvolvimento muito infuso e atabalhoado, sem nenhuma preparação, das ULS.”

Lembrando que “os CSP são, neste momento, o lugar de duas especialidades – MGF e Saúde Pública –, em que uma não tem nada a ver com a outra”, Carlos Cortes afirmou não querer que haja “a tentação de os dirigentes políticos confundirem o médico de família, que é um médico altamente diferenciado e especializado na prestação de cuidados de saúde à comunidade”.

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Carlos Cortes, Manuel Viana, Catarina Araújo, Rui Costa e Paulo Pessanha

Notícia

Para evitar essa situação, fez um pedido à audiência: “Vocês têm de saber continuar a defender a vossa especificidade!”

E alertou que essa proatividade tem de ser maior no contexto atual: “Vivemos um momento particularmente decisivo, de grande incerteza, onde teremos um novo Governo com alguma instabilidade. Saímos de uma maioria absoluta para uma maioria muito ténue e é relevante termos essa noção, porque vai colocar em cima dos médicos, da OM e das organizações que representam os médicos uma responsabilidade que não tiveram nos últimos anos. Passamos a ter um papel muito mais decisivo num momento da vida do país em que as nossas soluções, opiniões e posições vão importar mais do que alguma vez foram consideradas nestes últimos anos. Não queria que nós falhássemos e que os médicos de MGF falhassem esse desafio.”

No que respeita ao trabalho da Ordem dos Médicos, referiu estar a tentar organizar, juntamente com o Colégio da Especialidade de MGF, a APMGF e a USF-AN, “uma plataforma para defender as conquistas que a MGF tem conseguido alcançar nestes últimos anos e um caminho para o futuro que diferencie e valorize ainda mais a especialidade”. E convidou cada um dos participantes nas Jornadas a abraçar a causa: “Não depende só da OM, mas de todos os MF. Cada um, na sua posição e unidade, tem um contributo a dar para este caminho. É este grande desafio que vos convido a abraçar.”

Catarina Araújo: a necessidade de “um olhar cuidado e redobrado”

Catarina Araújo, vereadora da Câmara Municipal do Porto, também usou da palavra para salientar o papel dos CSP como “o primeiro contacto com o Sistema Nacional de Saúde, colocando os especialistas em MGF na linha da frente,

em proximidade e em comunicação com a população.”

Tendo como um dos seus pelouros a Saúde e Qualidade de Vida, Juventude e Desporto, a vereadora não pôde deixar de transmitir uma mensagem de esperança: “No atual momento político, em que foi já indigitado um primeiro-ministro, que a Saúde e em particular a MGF venham a ter um olhar cuidado e redobrado da atenção, do papel e do reconhecimento que lhe é merecido e devido.”

Catarina Araújo sublinhou que “o aumento da esperança média de vida, fruto dos avanços em Medicina, quer-se acompanhado de um aumento da esperança de vida com saúde, o que representa, simultaneamente, um ganho e um desafio, exigindo a adoção de medidas combinadas, que incluam o reconhecimento da importância do estilo de vida como uma forma de promoção da saúde e de prevenção da doença”. Quanto à construção e à execução

do Plano Municipal de Saúde, realizadas em conjunto com os CSP e as restantes entidades parceiras locais, disse estar a ser feito “um acompanhamento próximo do plano de ação, mobilizando recursos comunitários para ultrapassar constrangimentos, adequar decisões e orientar ações no sentido da melhoria constante.”

Nome do medicamento: Rosamera 10 mg+5 mg+4 mg, 10 mg+5 mg+8 mg, 10 mg+10 mg+8 mg, 20 mg+5 mg+4 mg, 20 mg+5 mg+8 mg, 20 mg + 10 mg + 8 mg comprimidos revestidos por película. Composição qualitativa e quantitativa: cada comprimido revestido por película contém respetivamente 10mg, 10mg, 10mg, 20mg, 20 e 20mg de rosuvastatina (sob a forma de rosuvastatina cálcica), 5mg, 5mg, 10mg, 5mg, 5mg e 10mg de amlodipina (sob a forma de besilato de amlodipina) e 4mg, 8mg, 8mg, 4mg, 8mg e 8mg de tert-butilamina de perindopril. Indicações terapêuticas: Rosamera está indicado para terapêutica de substituição em doentes adultos controlados adequadamente com rosuvastatina, perindopril e amlodipina, administrados concomitantemente com o mesmo nível de dose da associação para o tratamento da hipertensão essencial e uma das seguintes condições coincidentes: hipercolesterolemia primária (tipo IIa incluindo hipercolesterolemia familiar heterozigótica), dislipidemia mista (tipo IIb) ou hipercolesterolemia familiar homozigótica. Posologia e modo de administração: A dose recomendada de Rosamera é um comprimido por dia, de preferência tomado de manhã e antes da refeição. A combinação de dose fixa não é adequada para terapia inicial. Antes de alterar para Rosamera, os doentes devem estar controlados com doses estáveis dos monocomponentes tomados ao mesmo tempo. A dose de Rosamera deve basear-se nas doses dos componentes individuais da combinação no momento da mudança. Se for necessária a alteração da posologia para qualquer uma das substâncias ativas da combinação fixa devido a qualquer motivo (por exemplo doença diagnosticada recentemente, relacionada com a alteração da condição do doente ou devido a interação medicamentosa), os componentes individuais devem ser utilizados novamente para determinação da posologia. Os idosos podem ser tratados após se considerar a função renal e a resposta da pressão arterial. Em doentes com compromisso renal grave (clearance de creatinina abaixo de 30 ml/min), o tratamento está contraindicado. Em doentes com compromisso renal moderado (clearance de creatinina 30-60 ml/min) recomenda-se uma titulação individual da dose com os monocomponentes. Em doentes com clearance de creatinina maior ou igual a 60 ml/min, não é necessária nenhuma alteração da dose. O acompanhamento médico usual inclui monitorização frequente dos níveis de creatinina e de potássio. No compromisso hepático grave, o tratamento está contraindicado. Rosamera está contraindicado em doentes com doença hepática ativa. Em doentes com compromisso hepático moderado, não é necessária nenhuma modificação da dose. Não se verificou um aumento da exposição sistémica à rosuvastatina em indivíduos com pontuações de 7 ou inferiores na classificação de Child-Pugh. No entanto, tem sido observado um aumento da exposição sistémica em indivíduos com pontuações 8 e 9 na classificação de Child-Pugh. Nestes doentes deve ser considerada a avaliação da função renal. Não existe experiência em indivíduos com pontuações na classificação de Child-Pugh superior a 9. Foi observado um aumento da exposição sistémica da rosuvastatina em indivíduos asiáticos. São conhecidos tipos específicos de polimorfismos genéticos que podem levar ao aumento da exposição à rosuvastatina. Para doentes que são conhecidos por terem esses tipos específicos de polimorfismos, é recomendada uma dose diária mais baixa de rosuvastatina. A rosuvastatina é um substrato de várias proteínas transportadoras. O risco de miopatia (incluindo rabdomiólise) aumenta quando a rosuvastatina é administrada concomitantemente com determinados medicamentos, que podem aumentar a concentração plasmática da rosuvastatina devido a interações com essas proteínas transportadoras. Sempre que possível, devem ser considerados medicamentos alternativos, e se necessário, considerar temporariamente a interrupção da terapêutica com rosuvastatina. Em situações em que a administração concomitante destes medicamentos com rosuvastatina é inevitável, o benefício e o risco do tratamento concomitante e os ajustes na dose de rosuvastatina devem ser cuidadosamente considerados. Rosamera não deve ser utilizado em crianças e adolescentes devido a preocupações com a eficácia e tolerabilidade ainda não foram estabelecidas. Método de administração: via oral. Contraindicações: Hipersensibilidade às substâncias ativas, ou a qualquer inibidor da ECA, derivados da dihidropiridina ou a qualquer um dos excipientes do medicamento. Compromisso hepático grave. Doença hepática ativa, incluindo elevações persistentes e inexplicáveis das transaminases séricas e qualquer elevação das transaminases séricas excedendo 3 vezes o limite superior da normalidade (LSN). Compromisso renal grave (clearance creatinina <30 ml/min). Miopatia. Doentes tratados concomitantemente com a associação de sofosbuvir/velpatasvir/voxilaprevir. Terapias concomitantes com ciclosporina. Gravidez e aleitamento. Mulheres em idade fértil que não adotam medidas contracetivas apropriadas. História de angioedema (edema de Quincke) associado a terapêutica prévia com inibidor da ECA. Angioedema hereditário/idiopático. O uso concomitante de Rosamera com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal (TFG < 60 ml/min/1,73m2). Tratamentos extracorporais que levam ao contacto do sangue com superfícies carregadas negativamente (ver secção 4.5). Estenose bilateral da artéria renal ou estenose da artéria renal num único rim funcional. No uso concomitante com sacubitril/valsartan, Rosamera não deve ser iniciado antes de 36 horas após a última dose de sacubitril/valsartan. Hipotensão grave. Choque (incluindo choque cardiogénico). Obstrução do trato de saída do ventrículo esquerdo (por ex. estenose aórtica de grau elevado). Insuficiência cardíaca após enfarte agudo do miocárdio, hemodinamicamente instável. Efeitos indesejáveis: Os eventos adversos mais frequentes observados com perindopril são: tonturas, cefaleias, parestesias, vertigens, alterações visuais, zumbidos, hipotensão, tosse, dispneia, dor abdominal, obstipação, diarreia, disgeusia, dispepsia, náuseas, vómitos, prurido, erupção cutânea, cãibras musculares e astenia. Os seguintes efeitos indesejáveis podem ser observados durante o tratamento: Diabetes mellitus1, tonturas, dor de cabeça, parestesia, vertigem, sonolência, compromisso visual, zumbidos, palpitações, Hipotensão (e efeitos relacionados com hipotensão), afrontamentos, tosse, dispneia, dor abdominal, disgeusia, dispepsia, náuseas, vómitos, alteração dos hábitos intestinais (incluindo diarreia e obstipação), prurido, erupção cutânea, espasmos musculares, mialgia, inchaço dos tornozelos, astenia, fadiga, eosinofilia, hipoglicémia, hipercaliemia reversível com descontinuação, hiponatremia, alterações de humor, perturbações do sono, insónia, depressão, síncope, tremor, hipoestasia, taquicardia, arritmia (incluindo bradicardia, taquicardia ventricular e fibrilação auricular), vasculite, broncoespasmos, rinite, boca seca, prurido, urticária angioedema da face, extremidades, lábios, mucosas, língua, glote e / ou laringe, reações de fotossensibilidade, penfigoide, hiperidrose, alopécia, púrpura, descoloração da pele, exantema, artralgia, dores nas costas, Insuficiência renal, perturbações da micção, noctúria, aumento da frequência urinária, disfunção eréctil, ginecomastia, dor no peito, dor, mal-estar, edema periférico, pirexia, edema, aumento da ureia no sangue, aumento da creatinina no sangue, aumento do peso, diminuição do peso, quedas, trombocitopenia, hipersensibilidade, incluindo reações de angioedema, síndrome de secreção inapropriada de hormona antidiurética (SIADH), confusão, pancreatite, aumento das transaminases hepáticas, agravamento da psoríase, miopatia (incluindo miosite), rabdomiólise, rutura muscular, síndrome semelhante ao lúpus, insuficiência renal aguda, anúria/oligúria, aumento da bilirrubina no sangue, aumento das enzimas hepáticas, agranulocitose ou pancitopenia, diminuição da hemoglobina e hematócrito, leucopenia/ neutropenia, anemia hemolítica em doentes com deficiência congénita em G-6PDH, hiperglicemia, polineuropatia, perda de memória, neuropatia periférica, hipertonia, angina de peito, enfarte do miocárdio, possivelmente secundário a hipotensão excessiva em doentes de alto risco, AVC possivelmente secundário a hipotensão excessiva em doentes de alto risco, pneumonia eosinofílica, gastrite, hiperplasia gengival, hepatite citolítica ou colestática, icterícia, eritema multiforme, síndrome de Stevens-Johnson, dermatite exfoliativa, edema Quincke, hematúria, perturbações do sono (incluindo insónias e pesadelos), miastenia grave, miastenia ocular, fenómeno de Raynaud, necrólise epidérmica tóxica, reação medicamentosa com eosinofilia e sintomas sistémicos (DRESS), afeções dos tendões, por vezes complicadas devido a rutura e miopatia necrosante imunomediada. Tal como se verifica com outros inibidores da redutase da HMG-CoA, a incidência de reações adversas medicamentosas tende a ser dose-dependente. Informação adicional relacionada com rosuvastatina: Efeitos renais: Em doentes tratados com rosuvastatina foi observada proteinúria, detetada por tiras de teste, sendo maioritariamente de origem tubular. Variação dos valores de proteinúria, desde ausência ou vestígios até um resultado ++ ou superior, foi observado em < 1% dos doentes em determinada altura durante o tratamento com 10 mg e 20 mg, e em aproximadamente 3% dos doentes tratados com 40 mg. Com a dose de 20 mg foi observada uma ligeira variação, desde ausência ou vestígios até um resultado +. Na maioria dos casos, a proteinúria diminui ou desaparece espontaneamente com a continuação da terapêutica. Até ao momento, a análise de dados provenientes de ensaios clínicos e da experiência pós-comercialização não identificou uma associação causal entre a proteinúria e doença renal aguda ou progressiva. A hematúria tem sido observada em doentes tratados com rosuvastatina e os dados de estudos clínicos mostram que a ocorrência é baixa. Efeitos no músculo esquelético: Efeitos no músculo esquelético, p. ex. mialgia, miopatia (incluindo miosite) e, raramente, rabdomiólise com ou sem insuficiência renal aguda têm sido notificados em doentes tratados com rosuvastatina em todas as doses, em particular, com doses > 20 mg. Em doentes tratados com rosuvastatina foi observado um aumento dos níveis de CK relacionado com a dose; na maioria dos casos essa elevação foi ligeira, assintomática e transitória. Se os níveis de CK forem elevados (> 5xLNS), o tratamento deve ser interrompido. Efeitos hepáticos: Tal como com os outros inibidores da redutase da HMG-CoA, um aumento das transaminases, relacionado com a dose, foi observado num pequeno número de doentes tratados com rosuvastatina; na maioria destes casos, o aumento foi ligeiro, assintomático e transitório. Foram notificados os seguintes acontecimentos adversos com algumas estatinas: disfunção sexual. Casos raros de doença pulmonar intersticial, especialmente com terapêutica de longa duração. População pediátrica: As elevações da creatinaquinase > 10 x LSN e os sintomas musculares após exercício ou aumento da atividade física foram observados mais frequentemente em ensaios clínicos de 52 semanas em crianças e adolescentes em comparação com os adultos. Noutros aspetos, o perfil de segurança de rosuvastatina foi semelhante em crianças e adolescentes comparativamente com adultos. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao: INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos, Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53, 1749-004 Lisboa, Tel.: +351 21 798 73 73, Linha do Medicamento 800222444 (gratuita), E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt. Para mais informações consultar o Titular da AIM: Krka d.d., novo mesto ou Distribuidor: Krka Farmacêutica, Lda. Medicamento sujeito a receita médica. Regime de comparticipação: escalão B (69%). Data de revisão do texto: maio de 2023. PI_Text048566_5.

Jornal Médico | 7 Abril 2024

Entrevista

CRISTINA BáRBARA , DIRETORA DO PROGRAMA NACIONAL DE DOENçAS RESPIRATóRIAS (PNDR) DA DGS:

“O médico de família nunca esteve tão bem prepar para lidar com as doenças respiratórias”

A integração destas patologias na agenda dos cursos de Medicina tem contribuído, na opinião da pneumologista Cristina Bárbara, para que a classe médica fique habilitada a fazer o seu diagnóstico e tratamento. O GRESP - Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias assume um papel complementar, enquanto pilar na formação pós-graduada da MGF.

Just News (JN) – Não falta quem diga que as doenças respiratórias continuam a ser o “parente pobre” da MGF. Que comentário lhe sugere esta afirmação?

Cristina Bárbara (CB) – Ao contrário das outras patologias crónicas, as doenças respiratórias não estavam na “agenda do dia” até 2011, havendo uma razão para tal. É que foi só a partir dessa altura que, na sequência de uma reunião ao mais alto nível – o Millenium Summit das Nações Unidas –, se conseguiu o comprometimento por parte dos ministros da Saúde de todos os países envolvidos, incluindo Portugal, num melhor acompanhamento das doenças crónicas, e nessa altura a lista já incluía as respiratórias. E porquê? Porque são a 3.ª principal causa de morte nos países desenvolvidos.

JN – Portanto, não era apenas Portugal que as desvalorizava?

CB – Não, era um problema internacional. A prioridade dos países é dirigida para o que causa mais mortalidade – a doença cardiovascular e o cancro. É a partir de 2012 que a situação se altera, tanto que é precisamente nesse ano que é criado o PNDR. O que estava na agenda prioritária da MGF eram sobretudo as doenças cardio e cerebrovasculares, que continuam a ser a primeira causa de morte, mas, fruto do belíssimo desempenho dos profissionais, têm vindo a decrescer significativamente, como sucede noutros países.

JN – Ainda há dias uma médica dizia que, na sua lista de utentes, 500

sofriam de hipertensão, 300 de diabetes e só depois apareciam as doenças respiratórias, o que faz com que, como ela, a generalidade dos colegas se preocupe em atualizar-se mais nessas duas áreas...

CB – É verdade, a doença CV é a mais prevalente, nomeadamente, através da HTA, portanto, tem de ser prioritária. Também a diabetes é uma patologia altamente preocupante e corresponde a um dos programas mais antigos a nível de doenças crónicas da DGS. Os indicadores de monitorização dessas patologias estão a ser satisfeitos. Agora, é altura de se cumprirem os indicadores para as doenças respiratórias, e tem havido um excelente desempenho por parte da MGF.

JN – O número de pessoas com doença respiratória é hoje semelhante ao que era há 20 ou 30 anos?

CB – Não, tem vindo a aumentar, por dois motivos. Primeiro, porque há sempre um delay entre a prevalência dos hábitos tabágicos e a ocorrência das doenças, ou seja, nós podemos já estar numa tendência decrescente, mas ainda estamos a sofrer os efeitos do passado. O que eu estou a ver hoje ao espelho não é o reflexo dos hábitos tabágicos de hoje, mas de há 15 ou 20 anos.

“Há uma doença que tem vindo a crescer devido a questões ambientais e que não está na agenda da MGF – a patologia do interstício.”

Foi ao frequentar a cadeira de Pneumologia que o seu interesse pela área despertou

Natural de Faro, Cristina Bárbara mudou-se com a família para Lisboa com 12 anos. Desde criança que via na Medicina o seu futuro, tendo acabado por realizar o curso na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Foi quando frequentou a cadeira de Pneumologia, regida por Ramiro Ávila, que o seu interesse pela área eespertou. “Não foi só a forma como a cadeira estava organizada, mas também como estava

estruturado o Departamento que o Prof. dirigia no Pulido Valente”, evidencia.

Logo contactou com a Urgência Respiratória do HPV, a única em Lisboa. Em 1987, iniciou o internato de Pneumologia na instituição. Entretanto, haveria de se doutorar em 2000 e de assumir a direção do Serviço em 2009. Na sequência da criação do CHLN, três anos depois, foi convidada para dirigir toda a Pneumologia do Centro Hospitalar, levando a cabo

Algo mais preocupante ainda são as condições ambientais, basicamente, a poluição do ar e as alterações climáticas. Os doentes respiratórios são, no que diz respeito às patologias crónicas, os mais vulneráveis, por exemplo, às ondas de calor, no que se refere a excesso de mortali-

dade, e à poluição atmosférica. Enquanto não melhorarmos as questões ambientais, vamos ter reflexo nas doenças respiratórias. Era previsível que, nos países industrializados, a asma e a DPOC aumentassem, mas há uma doença que tem vindo a crescer devido a questões ambientais e não está na agenda da MGF, que é a patologia do interstício.

“É altamente eficaz e efetivo todo o investimento feito na prevenção”

JN – Como diretora do PNDR, quais são as suas prioridades?

o plano de fusão dos dois anteriores serviços. Na mesma altura, foi convidada por Fonseca Antunes a participar na elaboração do PNDR.

Atualmente, além de gerir os dois polos do Serviço de Pneumologia, dirige ainda o Departamento de Tórax, que integra, além da Pneumologia, o Serviço de Cirurgia Torácica. “A Pneumologia só faz sentido com a Cirurgia Torácica, devido à grande prevalência do cancro do pulmão”, explica.

CB – No percurso do doente, todas as vertentes da prevenção são importantes, que deve existir desde até mesmo antes do nascimento. Portugal é ainda um dos países onde há um défice de investimento na prevenção primária, e temos de continuar a fazer essa aposta, porque é altamente eficaz e efetivo todo o investimento feito na prevenção.

JN – O que abarca, para si, o termo “prevenção”?

CB – Inclui a prevenção primária, antes de ocorrer a doença, a prevenção secundária, com o diagnóstico e trata-

mento precoces, e a terciária, mediante os cuidados de reabilitação. O ideal é que a pessoa nem sequer chegue ao médico. Estamos a falar de prevenção quando alguém cuida da sua saúde, de modo a evitar ficar doente e a estar o mais saudável, nomeadamente através da atividade física.

Quanto mais educada e literada estiver uma população relativamente a fatores de risco, mais bem preparada estará para não vir a ter as doenças, logo, temos de investir nesse âmbito desde que a criança nasce. É preciso atentar aos fatores de risco que vão ter repercussão nas doenças respiratórias, como o tabagismo, a obesidade, a alimentação, o exercício físico e o ambiente. Particularmente, este

“Ao modificarmos as condições de vida nas cidades, criando zonas verdes e com menos poluição, estamos a atuar na

prevenção.”
8 | Jornal Médico Abril 2024
Cristina Bárbara: “O PNDR tem tido esta grande vantagem de estar a ser coadjuvado pelo GRESP, que tem realizado um trabalho ímpar a nível nacional”

último tem sido esquecido, mas tem de estar na agenda do dia.

JN – No ambiente, também inclui o de casa?

CB – O meu conceito de ambiente é tudo aquilo que está fora da pessoa, seja natural, seja construído. O que é um ambiente construído? É, por exemplo, o das casas, mas também o digital e as próprias condições sociais. Por isso, ao modificarmos as condições de vida nas cidades, criando zonas verdes e com menos poluição, estamos a atuar na prevenção.

“Quando um médico de família tem informação tem dúvidas, e o GResP tem sido um pilar na formação”

JN – Como é que os CsP podem ser um agente importante neste âmbito?

CB – Os CSP são a porta de entrada do acesso do doente ao seu médico de família. Por isso, é necessário os colegas estarem preparados para fazer um diagnóstico precoce das doenças respiratórias mais prevalentes, concretamente a asma, a DPOC e a SAOS, que se relaciona com a obesidade.

Devo salvaguardar, enquanto pneumologista, que o cancro do pulmão é uma doença respiratória major e determinante para a Pneumologia, contudo, não se enquadra no PNDR, mas no Programa Nacional para as Doenças Oncológicas.

Os cuidados secundários devem estar reservados para as situações mais complexas e que exigem intervenção diagnóstico-terapêutica da Pneumologia, logo, também nesse aspeto são alvo do PNDR.

JN – Considera que a MGF está bem preparada para fazer esses diagnósticos?

CB – O médico de família nunca esteve tão bem preparado para lidar com as doenças respiratórias como agora, porque estas patologias entram na agenda dos cursos de Medicina, pelo que, quando o médico se forma, está habilitado a diagnosticar e tratar uma asma, uma DPOC, ou a suspeitar de um cancro do pulmão. É impossível formar médicos sem estarem habilitados nestas patologias, que são as mais prevalentes.

Quando um médico de família tem informação tem dúvidas, e o GRESP tem sido um pilar na formação. O PNDR tem tido esta grande vantagem de estar a ser coadjuvado pelo GRESP, que tem realizado um trabalho ímpar a nível nacional. Por outro lado, é ambicioso, e prova disso é as pessoas dizerem “infelizmente, ainda não tenho aquilo que queria ter”, o que significa que reconhecem a área respiratória como uma necessidade e têm ambição.

JN – essa evolução sucedeu quando? Na última década?

CB – Não propriamente, porque só existe um programa nacional designado para todas as doenças respiratórias desde 2012, mas desde 2000 que havia um outro, coordenado pelo Prof. António Bugalho de Almeida, de controlo da asma. A partir de 2005, existiu ainda um programa de prevenção e controlo da DPOC, do qual eu fazia parte, juntamente com a Prof.ª Maria João Marques Gomes.

“Não

serve de nada medicar bem um doente com o melhor inalador possível se não o souber utilizar, o que só é possível através dos ensinos.”

JN – Qual é o papel da enfermagem na abordagem destas doenças?

CB – O papel dos enfermeiros na área respiratória tem sido muito esquecido. Na realidade, não há enfermeiros suficientes, e essa é uma questão pela qual temos de lutar, porque não serve de nada medicar bem um doente com o melhor inalador possível se ele não o souber utilizar, o que só é possível através dos ensinos.

Mais, os cuidados diferenciados são finitos e há muitas tarefas realizadas pelo médico que deviam ser executadas pelo enfermeiro de família, especialmente de follow-up, como saber se o doente tomou a vacina anual, se está a aviar adequadamente as receitas, ou se faz bem a inaloterapia.

Sabemos que os doentes economicamente mais desfavorecidos são aqueles que têm menos literacia, logo, eles são os que precisam de mais sessões de educação. Nesse sentido, alguém altamente diferenciado em termos de literacia em saúde pode até nem sequer precisar da ajuda do enfermeiro, enquanto outra pessoa e outro cuidador podem precisar de mais intervenções ao longo do ano. O tipo de intervenção tem de ser ajustada às necessidades do doente, sobretudo pela gravidade da doença e pela literacia em saúde.

JN – O desafio acresce quando há múltiplos inaladores?

CB – Sim, cada inalador é diferente do outro, pelo que, até para nós, pneu-

CL áuDIA VICENTE, COORDENADORA DO GRESP, FALA EM “TRATAMENTO OTIMIzADO DE FORMA INDIVIDuALIzADA”

mologistas, que lidamos diariamente com eles, se torna desafiante, dada a múltipla variedade de dispositivos existentes. Maior dificuldade terá, por isso, um médico de família, que tem um volume de doentes menor.

O GRESP tem feito um trabalho exemplar e ímpar, com a divulgação de vídeos sobre técnicas inalatórias na sua plataforma institucional, que são usados pelos profissionais. Hoje em dia, quando prescrevo um inalador, partilho sempre um vídeo, porque as pessoas estão habituadas a ver no seu dispositivo móvel, e gostam.

Mas a verdade é que há sempre um novo dispositivo que espera por si, portanto, terá de haver uma legislação de uniformização, até para benefício ambiental, porque, atualmente, há uma grande poluição derivado dos plásticos em circulação. Temos de evoluir para uma economia circular de poupança de resíduos e tóxicos para o ambiente.

Uma das coisas que inicialmente mais me faziam confusão era a consecutiva eliminação dos dispositivos dos inaladores, a cada nova prescrição, por não haver possibilidade de prescrição de recargas, para a continuidade do tratamento.

JN – No seu entender, a referenciação para os cuidados hospitalares funciona bem?

CB – Apesar de estar muito melhor, não há integração de cuidados, porque durante um longo período de tempo estas entidades trabalharam separadas. Por outro lado, a prática clínica não acompanhou o avanço da tecnologia. Refiro-me à integração digital dos cuidados, portanto, nós ainda estamos muito centrados na era do telefone, e não temos a integração de cuidados com a agilidade que devíamos.

Uma das consequências boas, entre todas as más, da covid-19 foi o mundo ficar interconectado com redes, o que foi uma grande mudança de paradigma no nosso país e no resto do mundo. Ao termos ficado interconectados com a OMS e com o ECDC, ganhámos capacidade de monitorizar as patologias com plataformas informáticas.

No entanto, continuamos a ter a dificuldade da integração dos diversos sistemas e plataformas informáticos entre as várias instituições do mesmo e de diferentes níveis de cuidados. Tenho esperança que saibamos aproveitar o grande volume de investimento do PRR para esta área e recuperar o tempo perdido.

Nota: entrevista originalmente publicada no Jornal das 9.as Jornadas do GRESP (outubro 2023).

MF gere hoje melhor o doente respiratório

Numa altura em que o GRESP prepara as 10.as Jornadas, a sua coordenadora, Cláudia Vicente, sublinha que “a doença respiratória tem um papel muito relevante no nosso dia-a-dia enquanto médicos de família”.

Cláudia Vicente garante que tudo será feito para que as próximas Jornadas do GRESP - Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF, que se realizarão em Lisboa, dias 10 e 11 de outubro de 2024, “mantenham a dinâmica e o rigor científico que foi caracterizando cada uma das nove edições anteriores”, desde que a primeira reunião teve lugar, em fevereiro de 2012, no Porto.

A atual coordenadora deste Grupo da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar dedicado às doenças respiratórias nos Cuidados de Saúde Primários salienta que “as conquistas conseguidas têm sido muitas na área da saúde respiratória e que tem mudado bastante a perspetiva do que o médico de família pode fazer pelo doente com este tipo de patologia”.

“Para além disso”, prossegue, “o mundo mudou muito na última década, com um impacto significativo na saúde respiratória, tendo a Medicina procurado acompanhar essa mudança. O efeito das alterações climáticas e da poluição é indiscutível e a relevância que as doenças respiratórias ganharam é evidente. Veja-se que a DPOC é a terceira causa de morte a nível mundial e o cancro do pulmão é o que apresenta maior mortalidade”.

As 10.as Jornadas do GRESP realizam-se em Lisboa, nos dias 10 e 11 de outubro.

Cláudia Vicente, que é médica de família na USF Araceti, refere também “a autêntica revolução observada ao nível das vacinas, em particular na área respiratória”, e o facto de “dispormos de guidelines cada vez mais difundidas pela prática clínica, inclusive, com características de maior aplicabilidade na consulta médica”.

A coordenadora do GRESP não deixa de referir igualmente “a quantidade de novos dispositivos inalatórios surgidos nos últimos anos, cada vez menos complicados de usar e mais eficazes”. E aproveita para realçar o papel desempenhado pelos medicamentos biológicos, a nível hospitalar, que “vieram mudar completamente o paradigma do tratamento dos doentes graves, nomeadamente no caso da asma” e esperando que, em breve, da DPOC.

Cláudia Vicente: “Estão disponíveis mais armas terapêuticas para abordar a doença respiratória”

“Dispondo de mais armas terapêuticas, o médico de família consegue gerir hoje melhor o doente respiratório, otimizando de forma individualizada o seu tratamento, o que é desafiante mas igualmente interessante. Sabemos que atuar precocemente e medicar com certos fármacos impede agudizações e a progressão da doença, no caso das patologias respiratórias obstrutivas”, afirma a médica.

“A doença respiratória tem um papel muito relevante no nosso dia-a-dia enquanto médicos de família”, conclui Cláudia Vicente, consciente “da importância do diagnóstico precoce e de ter a doença bem controlada, até porque o doente que abordamos nos CSP é tipicamente complexo e com várias comorbilidades”.

Jornal Médico | 9 Abril 2024
Notícia
ado

Espaço ASTOR 2024

Nestas páginas reproduzem-se alguns artigos originalmente publicados no Jornal do 31.º

Congresso Medicina de Dor – ASTOR 2024, evento realizado no final de janeiro.

uma reflexão sobre a Inteligência Emocional e a Inteligência Artificial

Cristina Catana

Psicóloga Clínica e da Saúde do Serviço de Psicologia do HGO - CMDBCL do HGO (Ul S Almada-Seixal)

A interrogação do “Que há de Novo?” é o mote da ASTOR 24, que desafia debates e diálogos entre áreas científicas, tecnológicas, criativas e humanistas envolvidas para a investigação, compreensão, diagnóstico e tratamento da Pessoa que sofre de dor crónica.

Assim, neste tempo contemporâneo marcado pela veloz mudança, imprevisibilidade, disrupção e, sem dúvida, marcado pelo incontornável impacto da IA, como se acolhe e trata a Pessoa com dor, que, potencialmente, padece no corpo e sofre na alma a Solidão, a Exclusão e a Falta de Empatia?

Temos a tendência de pensar que a Máquina é fria e lógica e que o Ser Humano é afetivo e empático. Mas este juízo não será só parcialmente verdadeiro?

A tecnologia científica aplicada ao tratamento da dor tem um valor indesmentível. Sabemos que a pessoa que padece de dor tem padrões muito próprios que são afetos à linguagem do al -

goritmo, embora esta não exclua a complexidade da subjetividade da vivência do próprio doente.

E se há um padrão emocional comum da pessoa com dor crónica é aquele que contém os sentimentos da Solidão, do Anonimato e da Exclusão. É frequentemente manifestado o sentimento de se ficar à margem de um mundo que se pauta pela dicotomia produtividade vs inutilidade.

A dor crónica atinge o tecido psicossocial da Pessoa!

Não será a IA que castra a Inteligência Emocional Empática de cada um de nós, mas sim a forma como, nos dias de hoje, as inter-relações tendem a tornar-se imprevisíveis, descartáveis, pouco compassivas e superficiais. Esta falta de tempo para nos relacionarmos e aprofundarmos os vínculos torna-nos vulneráveis para o sofrimento psíquico e somático.

A dor crónica atinge o tecido psicossocial da Pessoa!

Provavelmente, a Solidão e o Vazio serão a maior dor contemporânea, disfarçada e mascarada no seu contrário no universo das telas das redes sociais. Sofre-se e nega-se.

Como consideramos que nos relacionamos na Rede da IA?

A IA fascina os otimistas, que a veem como uma resposta às barreiras biológicas e aos diversos desafios humanos, incluin-

do o envelhecimento, a doença e a morte. Para os pessimistas a IA assusta, receando que, porventura, o Ser Humano se torne obsoleto e servo perante a anunciada etapa de Superinteligência Artificial que irá superar a Inteligência Humana? Teremos o retorno do velho conflito entre Criador e Criatura.

A IA já é uma extensão de nós mesmos, uma ampliação da nossa memória, uma ampliação do conforto. É-nos imprescindível. Hoje, temos software em tudo para, aparentemente, termos mais tempo para viver. Nunca tivemos tanto consumismo de conforto.

A viagem no tempo-espaço realiza-se num “aqui-agora-já” e a democratização do acesso ao conhecimento tem sido uma grande revolução da Internet.

Desde a pandemia de covid-19 que se realizam consultas de Psicologia online para aqueles que não lhes é possível o acesso presencial. Com a IA criaram-se múltiplas possibilidades, inclusive terapêuticas. Potencia boas respostas e boas investigações. Mas de modo algum secundariza o valor da Relação Presente e Empática e o valor da vivência na realidade e subjetividade de cada pessoa.

Não é defensável a castração do Novo Paradigma por causa da Angústia do Desconhecido, mas o será no reforçar a nossa proatividade através da construção de boas pontes que integrem o Mundo Virtual com o Mundo Real e Presencial. Que integre a Inteligência Emocional com a Inteligência Artificial (que de artificial tem pouco por ser gerada pela lógica do conhecimento humano).

O futuro dos cuidados de enfermagem na Era Digital

Teresa Nogueira

enfermeira, Centro Multidisciplinar de Dor Beatriz Craveiro Lopes, HGO, Ul S Almada-Seixal

A tecnologia digital contribuiu para avanços e benefícios significativos na área da saúde. Esta evolução observa-se também na Enfermagem, nomeadamente na melhoria da comunicação, no envolvimento do doente e família no seu projeto de saúde, na obtenção de dados com evidência cientifica e na otimização dos cuidados de enfermagem.

As competências tecnológicas são, atualmente, consideradas como fundamentais na prestação de cuidados de enfermagem. Porém, torna-se essencial a capacidade de articular e integrar nos cuidados de enfermagem a tecnologia e o conhecimento científico para benefício do doente/ /família, dos enfermeiros e das próprias organizações de saúde. Neste equilíbrio é fundamental não perder as dimensões do cuidado, como a presença, a atenção, a escuta, a compaixão e a humanização.

Colocam-se, assim, algumas questões: como é que a Enfermagem se adapta ao mundo tecnológico e digital?

Como podem os enfermeiros integrar as tecnologias digitais sem descurar a relação humana na prática de cuidados?

Fátima Naves

enfermeira, Clínica da Dor, IPO de Lisboa

Os sistemas de informação têm como finalidade obter uma linguagem comum, facilitar a comunicação, a melhoria e eficácia dos cuidados, e estão a transformar os cuidados de enfermagem desde o seu planeamento até à avaliação dos resultados. A linguagem informática padronizada existente explicita as práticas e os conhecimentos específicos dos enfermeiros? De que modo contribui para uma melhoria da qualidade dos cuidados?

A convicção de que a utilização da tecnologia despersonaliza os cuidados de enfermagem pode não ser legítima. A desumanização não depende da tecnologia em si, mas de como cada enfermeiro a utiliza na sua prática clinica, do significado que lhe dá, e a sua interpretação do que é a técnica e o humano. Por exemplo, a tecnologia pode ser uma extensão da pessoa, contribuindo para a humanização dos cuidados ao aproximar o doente/família do enfermeiro e permitindo a prestação de cuidados de enfermagem à distância.

Assim, que desafios éticos emergem da tecnologia em enfermagem? Como se perspetiva a Enfermagem do futuro?

10 | Jornal Médico Abril 2024
CATARINA JESuS, PSIquIATRA DO CENTRO MuLTIDISCIPLINAR DE DOR BEATRIz CRAVEIRO LOPES:
“A comorbilidade entre patologia psiquiátrica e dor crónica é muito elevada”

Desde outubro que a equipa do CMDBCL integra uma psiquiatra que, apesar de estar apenas a tempo parcial, representa uma enorme mais-valia para os doentes que ali são acompanhados, representando a disponibilização de uma valência que a Direção do Centro já tinha identificado há bastante tempo como necessária. Nesta conversa com a JustNews, Catarina Jesus, 35 anos, apresenta-se e fala sobre a relação próxima que existe entre patologia psiquiátrica e dor crónica, que, aliás, se potenciam uma à outra.

A ligação da psiquiatra Catarina Jesus ao Centro Multidisciplinar de Dor do Garcia de Orta, hospital que hoje em dia integra a ULS Almada-Seixal, iniciou-se há pouco mais de um ano, quando foi convidada para fazer duas apresentações na edição de 2023 do Congresso de Medicina da Dor. Numa delas abordou a relação que existe entre a dor e a depressão e na outra debruçou-se sobre a dor nociplástica, um conceito recente que, como se sabe, caracteriza as situações em que o processamento da dor está alterado, sem evidência de lesão tecidular concreta ou potencial, nem de lesão do sistema somatossensorial.

O convite para colaborar com o CMDBCL de uma forma regular, assegurando a Consulta de Psiquiatria nas instalações de que o Centro dispõe no concelho de Almada, a uns 4 km de distância do HGO, surgiria a seguir. A resposta de Catarina Jesus foi positiva e em outubro já estava ao serviço dos utentes que mais necessitavam da sua intervenção.

Mas será que a existência de um especialista em Psiquiatra numa estrutura inteiramente dedicada à dor pode mesmo ser útil? “Eu diria que sim, tendo em conta uma compreensão biopsicossocial da dor. Ou seja, ela é multifatorial e efetivamente nós sabemos que a comorbilidade entre patologia psiquiátrica e dor crónica é muito elevada, com estudos realizados a indicarem que 2/3 dos doentes com dor apresentam ansiedade, depressão e/ou perturbações do sono.”

“E também está evidenciado que, por exemplo, no caso da depressão, a presença desta patologia aumenta o risco de persistência da dor e da sua intensidade, e que, por outro lado, a existência de dor crónica também pode agravar o prognóstico de depressão. Ou seja, na realidade, verifica-se haver uma relação bidirecional, sendo certo que podemos ajudar um doente com dor a melhorar o controlo da mesma se

também tratarmos da sua saúde mental”, afirma Catarina Jesus.

Referindo que os doentes com dor crónica, comparativamente com a população em geral, correm um risco cinco vezes superior de vir a sofrer de depressão, a psiquiatra salienta que a probabilidade de surgir um quadro de ansiedade ainda é maior. Para além de que “se o doente se sentir mais ansioso pode aumentar a intensidade da dor”.

Segundo a nossa interlocutora, há ainda outros aspetos a ter em conta, nomeadamente a circunstância de que “até 80% dos doentes com dor crónica têm disfunção sexual, com 40% deles a deixarem mesmo de ter vida sexual”. Quanto às perturbações do sono, que “são muito prevalentes”, a relação bidirecional também se observa aqui: a dor interfere com o sono e o dormir mal acaba por agravar a dor, para além de aumentar a

vulnerabilidade ao desenvolvimento de outras patologias do foro psiquiátrico.

A intervenção da Psiquiatria “não é por a dor ser inventada”

Comparativamente com a população habitualmente atendida pela Psiquiatria geral, os doentes observados por Catarina Jesus no Centro Multidisciplinar de Dor Beatriz Craveiro Lopes têm, em média, uma idade superior, mas o número de utentes do sexo feminino é igualmente superior, confirmando que também há jovens com dor crónica que necessitam de apoio psiquiátrico.

“Quando uma pessoa vive com dor desde muito cedo, a situação não é muito diferente da verificada relativamente a outras condições crónicas, como a diabetes. Tendo em conta a minha experiência, a patologia

Primeiro contacto com uma uD foi no Egas Moniz

Natural de Sever do Vouga, distrito de Aveiro, Catarina Jesus estudou Medicina em Coimbra, terminando o curso em 2011. Foi só durante o internato do Ano Comum, ao fazer um estágio opcional de Psiquiatria, que começou a tomar forma a ideia de se especializar nessa área, o que viria a concretizar no então Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental. Circulou entre o São Francisco Xavier, o Egas Moniz e até o Hospital de Santa Cruz, acabando por explorar bastante, também nesta última unidade, a área da Psiquiatria de Ligação. Dois anos depois de ter iniciado o internato de Psiquiatria, começou em 2016 o seu envolvimento com a Unidade Multidisciplinar de Dor do CHLO, coordenada pela anestesiologista Lídia Cunha e localizada no Hospital Egas Moniz, acabando por participar nas reuni-

prevalente será afetiva, ou seja, estamos a falar de perturbações depressivas e de ansiedade, mas é algo complexa a necessidade de intervenção. Esta é mais desafiante pela constância da patologia desde uma idade precoce. Contribui para a dificuldade em aceitar as limitações e a intervenção, pois nunca se teve o que estes doentes consideram uma ‘vida normal’, que identificam quando se comparam com os seus pares”, afirma Catarina Jesus.

De qualquer forma, “a Psiquiatria tem sido cada vez mais encarada como uma área médica necessária e a própria pandemia de covid-19 contribuiu muito para isso, alertando para a importância de as pessoas cuidarem da sua saúde mental, o que tem feito diminuir o estigma em relação a esta área da medicina. Isso resulta da partilha de

ões multidisciplinares que regularmente se realizavam. Manteve essa ligação à área da dor até ao final da sua formação como interna, em 2018, e que ainda se prolongou por um período de 2019. Nessa altura, já tinha no seu currículo várias pós-graduações, nomeadamente em Sexologia e Psicoterapia Interpessoal (níveis A e avançado).

O destino seguinte seria a cidade de Caldas da Rainha, mais precisamente o Serviço de Psiquiatria da agora designada ULS do Oeste, onde permaneceria até setembro último. Aí criou e coordenou o Grupo de Trabalho de Prevenção do Suicídio, sendo que foi habitual nesse contexto acompanhar doentes em que um dos fatores de risco de suicídio identificados era precisamente a dor crónica associada a incapacidade e perda de autonomia.

informação mas também porque as pessoas já falam mais sobre estas doenças, até por haver figuras públicas a fazê-lo na primeira pessoa”.

A especialista alerta, contudo, para o facto de ser “muito importante, nesta área da dor, que o utente a quem é sugerido que tenha um acompanhamento psiquiátrico não conclua, incorretamente, que o querem encaminhar para a Consulta de Psiquiatria por a manifestação de dor ser inventada, por não ser real. Ele deve ser esclarecido que se trata de uma intervenção complementar e que a deve encarar como uma melhoria dos cuidados que lhe estão a ser prestados. Portanto, nós, enquanto prestadores de cuidados de saúde aos utentes, temos que ser cuidadosos com a forma como comunicamos”.

Jornal Médico | 11 Abril 2024
Espaço ASTOR 2024
“Se o doente se sentir mais ansioso a intensidade da dor pode aumentar”, frisa a psiquiatra

Singularidades no cuidar do doente oncológico Alimentação

enf.ª

A essência da enfermagem oncológica é descrita e sentida como complexa, multifatorial e ontológica. Convergem os achados literários que o contacto direto com a vulnerabilidade e com a incerteza exige um Ser e estar efetivos, de forma a dar resposta às mais elevadas e profundas necessidades.

Um cuidar “singular”, onde são descritas como experiências positivas a relação próxima estabelecida com o doente, no engagement; o impacto e a diferença efetiva na (qualidade) vida do Outro. Como experiências negativas, verificamos a dificuldade em lidar com algumas situações complexas; o contágio emocional; o encarniçamento terapêutico e os dilemas éticos e morais.

No exercício da enfermagem oncológica, as competências urgem cada vez

mais de diferenciação, na promoção da saúde; na prevenção; no diagnóstico; no tratamento; na reabilitação e na paliação.

Documentos de posição publicados pela European Oncology Nursing Society (2014), pela European Cancer Organisation (2017) e pela Ordem dos Enfermeiros (2021) destacam como principal qualificação nesta área: a liderança para organizar; coordenar; ensinar; avaliar; intervir e ajustar cuidados, nos diferentes níveis de atuação. Nesta qualificação acrescida, encontramos competências, integradas em vários domínios: ético-legal; técnico-científico; psicológico e social; espiritual; relacional, com destaque para a importância do raciocínio clínico/capacidade de tomada de decisão e para a comunicação.

A comunicação, na qualidade e nas técnicas que permitem a sua utilização, é de forma transversal sentida e reconhecida como uma das competências com mais significância, influenciando a saúde dos doentes e família e o funcionamento/optimização das equipas de saúde.

Na prática clínica, são comuns expressões de reconhecimento, por parte de doentes e família, que apontam para uma eventual diferença em relação a outros cuidados, prestados em outros contextos que não os oncológicos. Diferenças apontadas sobretudo nesta comunicação, na relação terapêutica e no interesse manifestado.

Estudos revelam que os enfermeiros oncológicos, que conseguem estabelecer relações mais fortes com os doentes e assegurar cuidados que consideram de excelência, têm geralmente níveis mais elevados de satisfação face à sua profissão.

Este olhar sobre o Outro é considerado como absolutamente primordial em oncologia, com destaque para o sentido de humanitude e empatia, na expressão do compromisso e da confiança.

A empatia tem vindo a ser descrita como uma forte arma terapêutica neste contexto, nos mais diversos artigos científicos, com outcomes psicológicos, no reforço da dignidade, e outcomes físicos, na expressão da resposta imunitária.

Estudos revelam que os enfermeiros oncológicos, que conseguem estabelecer relações mais fortes com os doentes e assegurar cuidados que consideram de excelência, têm geralmente níveis mais elevados de satisfação face à sua profissão. Não obstante a multiplicidade de papéis e responsabilidades, sobretudo quando não clarificadas e reconhecidas, pode constituir, nestes, uma fonte de stresse mais elevada.

O desafio estará nesta habilidade de saber gerir as respostas face às potencialidades e necessidades não apenas dos doentes e família mas também das culturas organizacionais e dos profissionais de saúde que as integram. Tendo como mindset uma enfermagem de precisão, cujos cuidados são planeados “à medida”, considerando todos os determinantes em saúde, de forma a garantir a intervenção certa para o doente certo, no momento certo, com o enfermeiro certo.

Referências:

- European Cancer Organisation (2017). ECCO Value of Specialised cancer nursing – position statement.

- European Oncology Nursing Society (2014). EONS Position statement: The role of nurses in cancer care.

- Ordem dos Enfermeiros (2021). Regulamento n.º 766/2021 da Competência Acrescida Diferenciada em Enfermagem Oncológica, publicado no Diário da República, 2.ª série, Parte E,n.º159.

O corpo em ação: da evidência à prática

Inês Oliveira

Psicomotricista no CMDbCl bolseira de doutoramento (FCT) em Psicologia no ISCTe-IUl

Embora a ideia de estarmos sintonizados com o corpo seja geralmente aceite como benéfica para a saúde e o bem-estar, surgem algumas questões: E quando a informação corporal traz sofrimento? Ou quando, ao nos sintonizarmos com o corpo, somos confrontados com dor ou incapacidade?

A vivência da dor emerge como um fenómeno que transcende a simples perceção física, imergindo-se num profundo diálogo entre mente e corpo. Pela perspetiva da experiência corporal, a linguagem própria do corpo manifesta-se através de

um amplo espetro de sensações, alertando-nos para estados de (des)equilíbrio e providenciando-nos pistas fundamentais que orientam a ativação dos nossos processos de autorregulação.

A consciência interocetiva, i.e., a capacidade de sentir, interpretar e regular as sensações internas tem-se revelado fundamental em diversos domínios da saúde, incluindo a saúde mental, a gestão de doenças crónicas e, em particular, a dor crónica. Ao estarmos sintonizados com as nossas sensações corporais, tornamo-nos capazes de identificar e compreender os

Telmo Barroso Nutricionista

Todos sabemos que a nossa alimentação desempenha um papel crítico na nossa saúde e bem-estar geral. E, no entanto, muitas vezes subestimamos o quanto e o que comemos pode afetar não apenas o nosso peso e aparência mas também outros fatores, como a dor crónica.

Alguns fatores que podem ajudar os sintomas de dor crónica

Inflamação

Uma quantidade significativa de dor crónica é o resultado de inflamação crónica, e há evidências substanciais que sustentam que o que você come pode contribuir para a inflamação. Em outras palavras, comer certos alimentos, como alimentos processados, etc., que muitas vezes contribuem para aumentar a inflamação no corpo, pode levar a um aumento ou aumento da intensidade dos sintomas de dor crónica.

psicomotora

sinais expressos pelo nosso organismo e adotar comportamentos mais adaptativos.

Além disso, a consciência interocetiva e a regulação emocional estão intimamente ligadas. O reconhecimento e a interpretação das respostas físicas associadas às emoções são cruciais para a autorregulação emocional, permitindo o ajustamento adaptativo e eficaz das respostas emocionais.

Contudo, a experiência de dor impacta os processos de consciência interocetiva, moldando a forma como as sensações internas são percebidas. O corpo é constantemente interpretado através da lente

da dor. Isso conduz, por exemplo, ao aumento da atenção a sinais de desconforto ou à diminuição da capacidade de discriminar sensações.

Sintonizar com o corpo em dor é fundamental para alcançar a regulação emocional e para adotar estratégias de coping mais eficazes na gestão da dor. Contudo, deve ser um processo partilhado, no qual os profissionais suportam e facilitam esse encontro, reduzindo a apreensão à medida que novos significados emergem. É um caminho que implica não só a capacidade de detetar sensações (com precisão) mas também

12 | Jornal Médico Abril 2024
Dora Franco gestora do IPO lisboa, com espec. em enf. SM e Psiquiátrica. Pres. da Secção Regional do Sul da Ordem dos enfermeiros
Espaço ASTOR 2024

Alimentação e dor crónica

Peso

Estar com excesso de peso ou obesidade não é apenas prejudicial para a sua saúde e bem-estar geral, mas o excesso de peso pode desempenhar um papel no aumento dos sintomas de dor crónica. Isso ocorre porque o aumento de peso aumenta a força exercida pelas articulações, o que pode causar mais dor e desconforto crónico.

saúde intestinal

A saúde intestinal é outro fator importante a considerar ao discutir a relação entre nutrição e dor crónica. A saúde intestinal pode desempenhar um papel muito importante na dor crónica. Novas pesquisas demonstram que as alterações negativas nas bactérias intestinais não estão apenas ligadas a condições gastrointestinais, tais como doença inflamatória intestinal e doença do intestino irritável. Mas a disbiose intestinal também tem sido associada a outras condições dolorosas, como fibromialgia e dor inflamatória. Portanto, para manter uma boa saúde intestinal, é importante seguir um padrão alimentar que também seja rico em fibras (prebióticos) e alimentos probióticos.

Intolerâncias alimentares

Algumas pessoas têm certas intolerâncias alimentares que também podem desempenhar um papel e aumentar os sintomas de dor crónica. Embora o tipo específico de intolerância alimentar possa variar de pessoa para pessoa, as intolerâncias alimentares comuns incluem glúten ou laticínios. Como resultado, no caso de intolerância alimentar, evite consumir esses alimentos como forma de ajudar

a controlar ou melhorar os sintomas da dor crónica. Assim como um aumento de sensibilidade, sem patologia, denominada síndrome de cólon irritável, pode exacerbar

direta ou indiretamente a dor crónica.

Deficiências nutricionais

Não menos importante, o facto de não

de compreender os estímulos internos, à luz das suas relações com pensamentos, emoções ou circunstâncias.

No contexto da experiência de dor persistente, autorregulação baseada na informação corporal implica saber quando dirigir ou manter a atenção nos processos corporais, conhecer e tolerar um espetro de sensações alargado e identificar quando e como repor o equilíbrio. Para que a grelha de leitura baseada nas sensações internas do corpo permita alcançar a homeostasia e promover o bem-estar, ao invés de aumentar a entropia.

seguir um padrão alimentar equilibrado, repleto de uma variedade de nutrientes essenciais, pode causar ou aumentar os sintomas de dor crónica. Isso ocorre porque a falta de

certos nutrientes essenciais na sua dieta, por exemplo, a deficiência de vitamina D, pode aumentar o risco de sentir dores ósseas ou musculares ao longo do tempo.

E QUANTITATIVA Cada comprimido contém 37,5 mg de cloridrato de tramadol e 325 mg de paracetamol, ou 75 mg de cloridrato de tramadol e 650 mg de paracetamol.FORMA FARMACÊUTICA Comprimidos brancos, alongados e ranhurados. Na dosagem de 75 mg / 650 mg, o comprimido pode ser dividido em doses iguais. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS Tratamento sintomático da dor moderada a intensa em que se considera ser adequada a combinação de tramadol e paracetamol POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO Posologia: Adultos e adolescentes (com 12 ou mais anos de idade) Recomenda-se uma dose inicial de dois comprimidos de Zilpen 37,5 mg 325 mg ou um comprimido de Zilpen 75 mg 650 mg. Se necessário, podem ser tomadas doses adicionais, não ultrapassando 8 comprimidos de Zilpen 37,5 mg 325 mg ou 4 comprimidos de Zilpen 75 mg / 650 mg (equivalente a 300 mg de tramadol e 2600 mg de paracetamol) por dia. O intervalo entre as doses não deve ser inferior a seis horas. Caso seja necessário um tratamento repetido ou prolongado com Tramadol Paracetamol, como consequência da natureza e gravidade da patologia, deverá efetuar-se uma monitorização cuidadosa e regular. População pediátrica: Não se recomenda o tratamento nesta população de doentes. Doentes Idosos: Podem ser utilizadas as doses usuais, embora seja de assinalar que em voluntários com mais de 75 anos a semivida de eliminação do tramadol aumentou 17% após administração oral. Em indivíduos com mais de 75 anos de idade, recomenda-se que o intervalo mínimo entre as tomas não seja inferior a 6 horas, devido à presença do tramadol. Insuficiência renal: Devido à presença de tramadol, não se recomenda a utilização de Tramadol/Paracetamol em doentes com insuficiência renal grave (depuração da creatinina < 10 ml/min). Em casos de insuficiência renal moderada (depuração da creatinina entre 10 e 30 ml/min), o intervalo entre as tomas deverá ser aumentado para 12 horas. Como o tramadol é removido muito lentamente por hemodiálise ou por hemofiltração, a administração após a diálise para manter a analgesia não é normalmente necessária. Insuficiência hepática: Em doentes com disfunção hepática grave não se deve utilizar Tramadol/Paracetamol. Em caso de insuficiência hepática moderada deve ser cuidadosamente considerado o prolongamento do intervalo entre as doses Modo de administração Administração oral. Os comprimidos devem ser engolidos com uma quantidade suficiente de líquido. CONTRAINDICAÇÕES Hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer um dos excipientes; Intoxicação aguda pelo álcool, fármacos hipnóticos, analgésicos de ação central, opiáceos ou fármacos psicotrópicos; Paracetamol / Tramadol não deve ser administrado a doentes em tratamento concomitante com inibidores da Monoamino Oxidase (MAO) ou dentro das duas semanas após paragem do tratamento; Disfunção hepática grave; Epilepsia não controlada por tratamento.ADVERTÊNCIAS E PRECAUÇÕES ESPECIAIS DE UTILIZAÇÃO Nos doentes com dependência de opiáceos e com um historial de dependência ou abuso de drogas, o tratamento só deve efetuar-se por um período curto e sob vigilância médica. O Tramadol/Paracetamol deve ser usado com precaução em doentes com traumatismo craniano, em doentes predispostos a convulsões, apresentando perturbações biliares, em estado de choque, com alteração da consciência de origem desconhecida, com problemas que afetam o centro respiratório ou a função respiratória ou com aumento da pressão intracraniana.EFEITOS INDESEJÁVEIS Os efeitos indesejáveis mais frequentemente referidos durante os ensaios clínicos, realizados com a associação de paracetamol/tramadol, foram náuseas, tonturas e sonolência, observados em mais de 10 % dos doentes. Perturbações do foro psiquiátrico: - Frequentes (≥1/100 a <1/10): confusão, alterações do humor (ansiedade, nervosismo, euforia), perturbações do sono Doenças do sistema nervoso: - Muito frequentes (≥1/10): tonturas, sonolência - Frequentes (≥1/100 a <1/10): cefaleias, tremor Doenças gastrointestinais: - Muito frequentes (≥1/10): náuseas - Frequentes (≥1/100 a <1/10): vómitos, obstipação, xerostomia, diarreia, dor abdominal, dispepsia, flatulência Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos: - Frequentes (≥1/100 a <1/10): sudação, prurido Embora não tendo sido observados durante os ensaios clínicos, não podem ser excluídos os seguintes efeitos secundários, associados ao uso isolado de tramadol e paracetamol: Tramadol: - Hipotensão postural, bradicardia, colapso (tramadol); - A vigilância pós-comercialização do tramadol revelou alterações raras da ação da varfarina, incluindo aumento do tempo de protrombina. - Após a administração de tramadol podem ocorrer efeitos secundários psíquicos que variam individualmente na intensidade e natureza que incluem alterações no humor, alterações na atividade e na capacidade cognitiva e sensorial. - Foi relatado agravamento de asma, embora não tenha sido estabelecida uma relação causal. - Sintomas de reações de privação, semelhantes às que ocorrem durante a privação de opiáceos, podem manifestar-se da seguinte forma: agitação, ansiedade, nervosismo, insónia, hipercinesia, tremor e sintomas gastrointestinais. Paracetamol: - As reações adversas do paracetamol são raras, no entanto, pode ocorrer hipersensibilidade incluindo erupções cutâneas. - Vários relatos sugerem que o paracetamol pode produzir hipoprotrombinemia quando administrado com substâncias análogas à varfarina. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da

uso de Zilpen LP deve restringir-se aos doentes com dor moderada a intensa em que se considera ser adequada a combinação de tramadol e paracetamol. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia: Adultos e adolescentes (com 12 ou mais anos de idade): A posologia deve ser ajustada individualmente à intensidade da dor e à sensibilidade do doente. Deve geralmente ser escolhida a dose analgésica eficaz mais baixa. Recomenda-se uma dose inicial de um a dois comprimidos de Zilpen LP. Se necessário podem ser tomadas doses adicionais, não ultrapassando os 4 comprimidos por dia. O intervalo entre as doses não deve ser inferior a doze horas. Zilpen LP não deverá, em nenhuma circunstância, ser tomado durante mais tempo do que o estritamente necessário. Caso seja necessário um tratamento repetido ou prolongado, como consequência da natureza e gravidade da patologia, deverá efetuar-se uma monitorização cuidadosa e regular (sempre que possível, com intervalos no tratamento), de forma a avaliar se é necessário continuar o tratamento. População pediátrica: Não se recomenda o tratamento nesta população de doentes. Doentes idosos: Em doentes idosos até 75 anos, sem insuficiência hepática ou renal clinicamente estabelecida, não é habitualmente necessário qualquer ajuste posológico. Em doentes com mais de 75 anos o tempo de eliminação pode estar aumentado. Deste modo, se necessário, os intervalos entre as doses devem ser prolongados em função das necessidades do doente. Doentes com insuficiência renal/diálise: Devido à presença de tramadol, não se recomenda a utilização de Zilpen LP em doentes com insuficiência renal grave. Em casos de insuficiência renal moderada, deve ser considerado um aumento no intervalo entre as doses. Como o tramadol é eliminado apenas muito lentamente por hemodiálise ou por hemofiltração, a administração pós-diálise para manter a analgesia não é normalmente necessária. Disfunção hepática: Em doentes com insuficiência hepática, a eliminação do tramadol encontra-se prolongada. Nestes doentes, o prolongamento do intervalo entre as doses deverá ser criteriosamente considerado em função das necessidades do doente. Devido à presença de paracetamol, Zilpen LP não deve ser utilizado em doentes com disfunção hepática grave Modo de administração: Administração oral. Os comprimidos devem ser engolidos inteiros, com uma quantidade suficiente de líquido. Não devem ser partidos nem mastigados. CONTRAINDICAÇÕES: Hipersensibilidade conhecida às substâncias ativas a qualquer um dos excipientes; Intoxicação aguda pelo álcool, fármacos hipnóticos, analgésicos de ação central, opiáceos ou fármacos psicotrópicos; Não deve ser administrado concomitantemente com inibidores da MAO ou dentro das duas semanas após paragem do tratamento; Disfunção hepática grave; Epilepsia não controlada por tratamento. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Os efeitos indesejáveis que poderão ocorrer durante o tratamento com Zilpen LP são classificados de acordo com os seguintes grupos por ordem de frequência: Muito frequentes (≥1/10); Frequentes (≥1/100 a <1/10); Pouco frequentes (≥1/1000 a <1/100); Raros (≥1/10000 a <1/1000); Desconhecido (não pode ser calculado a partir dos dados disponíveis). Dentro de cada grupo de frequência, os efeitos indesejáveis são apresentados por ordem decrescente de gravidade. Os efeitos indesejáveis mais frequentemente referidos durante os ensaios clínicos, realizados com a associação de paracetamol/tramadol, foram náuseas, tonturas e sonolência, observados em mais de 10 % dos doentes. Efeitos indesejáveis listados por classes de sistemas de órgãos: Perturbações do foro psiquiátrico: Frequentes confusão, alterações do humor, ansiedade, nervosismo, euforia, perturbações do sono. Doenças do sistema nervoso: Muito frequentes: tonturas, sonolência. Frequentes cefaleias, tremor. Doenças gastrointestinais: Muito frequentes: náuseas. Frequentes: vómitos, obstipação, xerostomia, diarreia, dor abdominal, dispepsia, flatulência. Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos: sudação, prurido. Embora não tendo sido observados durante os ensaios clínicos, não podem ser excluídos os seguintes efeitos indesejáveis, associados ao uso isolado de tramadol e paracetamol: Tramadol: Hipotensão postural, bradicardia, colapso (tramadol); Após a administração de tramadol podem ocorrer efeitos secundários psíquicos que variam individualmente na intensidade e natureza. Estes incluem alterações no humor, (geralmente alegria, ocasionalmente disforia), alterações na atividade (geralmente diminuição, ocasionalmente aumento) e alterações na capacidade cognitiva e sensorial (por ex. decisão de agir, perceção de doença). Foi relatado um caso de agravamento de asma, embora não tenha sido estabelecida uma relação causal. Sintomas de reações de privação, semelhantes às que ocorrem durante a privação de opiáceos, podem manifestar-se da seguinte forma: agitação, ansiedade, nervosismo, insónia, hipercinesia, tremor e sintomas gastrointestinais. Paracetamol: Os efeitos adversos do paracetamol são raros, no entanto, pode ocorrer hipersensibilidade incluindo erupções cutâneas. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem

Jornal Médico | 13 Abril 2024 QUANDO A DOR ACABA VIVEMOS A VIDA AO MAXIMO DOR CRÓNICA DOR AGUDA 1 INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO. NOME DO MEDICAMENTO: Zilpen LP 75 mg + 650 mg comprimidos de libertação prolongada. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Cada comprimido de libertação prolongada contém 75 mg de cloridrato de tramadol equivalente a 65,88 mg de tramadol e 650 mg de paracetamol. FORMA FARMACÊUTICA: Comprimido de libertação prolongada. Comprimidos ovais, biconvexos, com duas camadas revestidos por película, de cor branca a quase branca numa das faces e amarelo pálido na face oposta, com manchas escuras. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Indicado para o tratamento sintomático da dor moderada a intensa em adultos e adolescentes com mais de 12 anos. O
quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www. infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos, Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53,1749-004 Lisboa, Tel: +351 21 798 73 73, Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita), E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt DATA DA REVISÃO DO TEXTO: Agosto 2022. Para mais informações deverá contactar o titular da autorização de introdução no mercado. MSRM. Medicamento comparticipado. Escalão C. Zona Industrial da Abrunheira Rua da Tapada Grande n.º2 Abrunheira 2710-089 Sintra NIF 500626413 www.tecnimede.com TZILP231A1CG janeiro/2023, revalidado anualmente Referências: 1. Dados IMS [data on file] Nov 2022 INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO. Zilpen 37,5 mg 325 mg comprimidos Zilpen 75 mg / 650 mg comprimidos COMPOSIÇÃO QUALITATIVA
relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 1749-004 Lisboa Tel: +351 21 798 73 73 E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt DATA DA REVISÃO DO TEXTO: Agosto 2021. Para mais informações deverá contactar o titular da autorização de introdução no mercado. MSRM. Medicamento comparticipado escalão C.
Espaço ASTOR 2024

reportagem USF Alburrica

uNIDADE

DE SAÚDE FAMILIAR ALBuRRICA, uNIDADE LOCAL DE SAÚDE DO ARCO RIBEIRINHO

Conquistar a identidade da equipa e dinamizar específicas adequadas às necessidades

Desde a criação da USF Alburrica, há menos de três anos, que a equipa tem procurado conquistar o seu espaço e crescer progressivamente, a fim de atrair colegas e abraçar mais listas. A criação das consultas de Obesidade, Contraceção e Cessação Tabágica insere-se nesse objetivo, que tem como desígnio maior servir a população do Barreiro, atendendo às suas necessidades específicas.

Após um período de cerca de uma década em que Sandra Silva Serrado, a coordenadora da USF Alburrica, esteve desvinculada da Função Pública, em 2019, entendeu que estava na altura de voltar à área em que se tinha formado. Integrou, assim, a UCSP Barreiro e deparou-se com uma realidade singular, em que “os próprios utentes sem médico faziam alguma pressão sobre aqueles que o tinham” e logo pensou, juntamente com alguns colegas, na possibilidade de criar uma USF e dividir formalmente as áreas.

Ao mesmo tempo, era uma forma de atrair colegas a trabalhar nesse espaço e, consequentemente, de integrar mais utentes: “Se criássemos uma nova unidade, se crescêssemos devagar e se nos diferenciássemos através de consultas ‘fora da caixa’, podíamos cativar mais colegas, abraçar mais listas e, eventualmente, conseguir transitar para um novo edifício.”

Em janeiro de 2021, a candidatura foi submetida e, em outubro, a USF Alburrica arrancou, com cinco médicos de família, três internas de MGF, cinco enfermeiros e quatro secretários clínicos. Contudo, logo nos meses seguintes, sofreram algumas perdas, com a saída de dois médicos, um por reforma e o segundo por ter decidido abraçar outro projeto profissional.

“Nessa altura, não sabíamos a força que tínhamos”, comenta Sandra Silva Serrado, reconhecendo que, “com a ajuda de todos, foi possível cobrir as valências das duas listas que estavam a descoberto”.

Apesar de “o caminho mais fácil corresponder à saída dos cerca de 3000 utentes, não era justo que se fossem associar aos 22 mil que já incorporavam a UCSP Barreiro”. Ao mesmo tempo, “a retirada dos utentes implicaria também a perda dos enfermeiros e dos assistentes técni-

cos, que não era uma opção, porque se há algo que sempre existiu desde o início foi companheirismo e união”.

Assim, tendo plena consciência de que não estariam a chegar aos utentes da mesma forma que os seus médicos de família, entenderam que “o melhor seria, através da realização de horas extraordinárias, perceber como ajudar cada pedido feito por aqueles utentes, prestando especial atenção aos grupos prioritários”. De forma que a atividade não se tornasse exaustiva, entenderam que cada um dos médicos deveria dedicar-se às áreas de que mais gostava. Por isso, no caso da coordenadora, ficou mais adstrita às consultas de Diabetes, Saúde do Adulto e Saúde Infantil, enquanto as colegas se dedicavam mais à Hipertensão, ao Planeamento Familiar e também à Saúde Infantil.

Com a integração de dois especialistas, durante o ano de 2023, atualmente,

acredita que a equipa médica irá crescer, pelo menos, para seis médicos, sendo que o projeto inicial contempla a existência de oito médicos, oito enfermeiros e seis secretários clínicos.

Na sua ótica, a concretização desse ideal está cada vez mais perto, dado que, “agora, já temos uma identidade – somos

Sandra Silva Serrado:

“A retirada dos utentes implicaria também a perda dos enfermeiros e dos assistentes técnicos, que não era uma opção.”

as listas de utentes já estão integralmente cobertas. “Voltámos a respirar e, agora, podemos crescer!”, comenta a coordenadora. Com o término do internato da atual interna do 4.º ano, Sandra Silva Serrado

a USF Alburrica e estamos simplesmente inseridos no edifício da Quinta da Lomba enquanto o projeto de construção da nova edificação, no Bairro da Escavadeira, está em curso.

“Agora, já temos uma identidade – somos a USF Alburrica e estamos simplesmente inseridos no edifício da Quinta da Lomba enquanto o projeto de construção da nova edificação está em curso”, enaltece a coordenadora.

Fazendo um paralelismo com o que considera suceder nos hospitais, em que “as pessoas tendem a generalizar a crítica que fazem às urgências, às instituições e ao próprio SNS, quando há tantas valências a funcionar tão bem”, Sandra Silva Serrado entende que, “apesar de o Centro de Saúde onde a USF está inserida abranger também valências tão boas, como a URAP e a UCC, a população continua a associar o espaço às filas que se formam a cada manhã, estigmatizando áreas que funcionam bem em virtude de outras que não funcionam da mesma forma”.

Por ter a experiência de ter feito urgência hospitalar, de forma exclusiva, durante cerca de uma década e continuar a desempenhar essa atividade aos fins-de-semana, a médica afirma que, “por vezes, saber dizer ‘não’ à prescrição de um an-

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Maior Simplicidade e Fiabilidade para pessoas com Diabetes

dinamizar consultas da população

tibiótico, por exemplo, leva mais tempo do que simplesmente dizer ‘sim’, o que atrasa a fluidez da Urgência, ao mesmo tempo em que cerca de 90% dos casos não deviam lá estar”.

Também por esse motivo é que a equipa da USF decidiu manter as duas listas: “Ao não termos rejeitado aquelas listas, conseguimos evitar a ida dessas pessoas à Urgência, pelo menos assim o esperamos.”

A implementação progressiva de carteiras adicionais

Com a restituição da equipa, em 2023, reuniram-se as condições necessárias à recuperação dos projetos antigos e à criação de novos, o que Sandra Silva Serrado considera ser também um fator

reportagem USF Alburrica

que contribuirá para cativar novos profissionais a juntarem-se à equipa.

Criada em março de 2020, ainda na UCSP Barreiro, e logo suspensa devido ao surgimento da pandemia de covid-19, a Consulta Intensiva de Cessação Tabágica, dinamizada pela médica Helga Rocha Ferreira, foi retomada em dezembro de 2023, já nesta USF.

Já a Consulta de Contraceção foi implementada em maio de 2023, pela médica Isabel Madaleno, como forma de fazer face à dificuldade sentida principalmente pela UCSP Barreiro, devido à falta de médicos, mas também pela USF, quanto à colocação de métodos contracetivos. No caso da USF, admite que a existência desta consulta específica “é uma mais-valia, por

(Continua na pág. 16)

SANDRA SILVA SERRADO, COORDENADORA:
“Acabei por seguir o meu sonho, mas de uma forma acidental”

Com um ano de idade, emigrou com os seus pais para a Venezuela, onde viveu até aos oito anos, quando regressaram à ilha.

O seu sonho, desde sempre, era ser médica e, concretamente, “médica do centro de saúde”, porque, vivendo na Calheta, a algumas dezenas de quilómetros do Funchal, “o centro de saúde estava aberto 24 horas, tinha inclusivamente um pequeno internamento, pelo que aquela era a grande referência que tinha”.

Contudo, apesar da vontade, Sandra Silva Serrado não queria sair da ilha da Madeira e, na altura, no final dos anos 90, lá ainda não eram lecionados os primeiros anos do curso de Medicina. Assim, no 12.º ano decidiu abdicar do sonho e equacionou seguir Enfermagem. No entanto, a falta de falanges, uma deformidade, no seu caso, congénita, foi um fator impeditivo, na altura, da sua candidatura à Escola Superior de Enfermagem de São José de Cluny, na Madeira.

Após ter recebido tal notícia, estabeleceu contacto com algumas instituições do continente e percebeu que poderia, na verdade, ingressar em Medicina, o seu verdadeiro sonho, mediante a apresentação de um atestado de robustez física e psíquica e, com 17 anos, começou o curso de Medicina em Coimbra. “Acabei por seguir o meu sonho, mas de uma forma acidental, porque, se me tivessem permitido seguir enfermagem na minha terra, hoje em dia seria enfermeira”.

Apesar de sempre ter acreditado que regressaria à Madeira, o amor ‘falou

mais alto’ e levou-a da Figueira da Foz até ao Barreiro. Foi durante o internato de MGF, que realizou na USF São Julião da Figueira – uma das primeiras 50 USF a ser constituídas, coordenada por José Luís Biscaia, um dos mentores da reforma dos CSP de 2005 – , que conheceu aquele que viria a ser o seu marido.

Na altura, já enquanto especialista, para se aproximar do Barreiro, escolheu transitar para Mira de Aire, a vaga mais a sul possível da Zona Centro, com o objetivo de posteriormente pedir mobilidade. Contudo, rapidamente percebeu que não lhe seria permitido, por se tratar de “uma zona extremamente carenciada”, o que a levou a desvincular-se da Função Pública, em 2011.

Durante a década seguinte, esteve praticamente dedicada à urgência hos-

pitalar de várias instituições, como seja os hospitais de Vila Franca de Xira e de Beja, exceto durante os primeiros anos de vida do seu filho, em que trabalhou como médica de uma seguradora internacional. Dado o seu gosto, atualmente, continua a fazer urgência no Hospital Distrital do Montijo, aos fins-de-semana. No seu dia-a-dia, a médica não prescinde de praticar exercício físico, reconhecendo esses momentos também como “uma ponte entre a vida laboral e pessoal, onde as energias negativas podem ser transformadas nalgo positivo”.

Hoje em dia, o seu filho, já com 15 anos, pensa seguir as pisadas da mãe. Quanto às suas origens, com o passar do tempo, conseguiu trazer a mãe e o irmão para junto de si.

Nome: Após terem equacionado um leque de opções como “Barreiro” ou “Barreirense”, “Escavadeira” – os lugares onde a USF se localiza atualmente e para onde se vai deslocar no futuro –, consideraram que o mais bonito seria adotar o nome de um símbolo do Barreiro. Dessa forma, lembraram-se que Alburrica seria uma forma de homenagem aos três Moinhos de Vento de Alburrica, símbolos da cidade do Barreiro.

Logótipo: Contém os três elementos que caracterizam a cidade do Barreiro –os Moinhos de Vento de Alburrica, a Praia Fluvial de Alburrica e a Muleta (embarcação típica do rio Tejo).

Jornal Médico | 15 Abril 2024
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Sandra Silva Serrado nasceu a 1 de outubro de 1978, na ilha da Madeira.

reportagem USF Alburrica

(Continuação da pág. 15)

possibilitar que as utentes sejam encaminhadas para essa colega, tanto no caso de não se sentirem à vontade em que esse ato fosse feito pelos seus médicos, por serem do sexo masculino, como de os próprios profissionais não estarem confortáveis em fazê-lo”.

Adicionalmente, existe ainda desde dezembro de 2023 a Consulta Multidisciplinar de Tratamento da Obesidade, um projeto idealizado anteriormente à pandemia. Aliás, alguns meses antes, ainda na UCSP Barreiro, foram elaborados inquéritos dirigidos aos utentes que voluntariamente quisessem responder, com o objetivo de fazer o levantamento do seu Índice de Massa Corporal e explorar a sua motivação para participar numa eventual Consulta de Obesidade.

Durante uma semana, o questionário foi aplicado e a conclusão foi clara: “Efetivamente, havia um IMC muito elevado entre os utentes, sendo que estes não tinham essa perceção. Geralmente, o excesso de peso era por eles considerado normal e aqueles que tinham obesidade entendiam ser excesso de peso.”

Quanto à motivação, a maioria dos utentes mostraram interesse em frequentar uma consulta desse tipo, o que levou inclusivamente a equipa a criar uma página de Facebook onde seriam colocadas todas as informações.

Sandra Silva Serrado é a dinamizadora desta consulta que, para já, é dirigida apenas aos utentes que “estejam disponíveis para alterar o seu estilo de vida através da modificação de hábitos alimentares, sendo que, numa fase seguinte, poderá ser introduzida a prescrição medicamentosa”.

Através da sua página de Instagram, a médica, que já foi obesa, partilha com esses utentes que estão motivados o seu dia-a-dia, no sentido de “provar que há momentos altos e baixos, mas que é possível”.

A médica acredita mesmo que, “em primeira instância, é preciso trabalhar essas mudanças, para que depois a medicação possa potenciar o efeito”, explicando que “pelo facto de a medicação apenas reduzir entre 5 a 10% do peso essa perda só será suficiente se a pessoa estiver na fronteira entre o excesso de peso e a obesidade”. Além disso, “se não existir uma modificação dos hábitos alimentares, inevitavelmente, a pessoa voltará ao estado anterior”.

De forma a reforçar a motivação dos utentes, a coordenadora da USF partilha com eles a sua página de Instagram “tryingtogetfit78”, onde publica fotografias e vídeos relativos aos seus treinos diários. Na verdade, ninguém melhor do que a médica, que já foi obesa, para partilhar o seu testemunho e os seus dias, “mais e menos cor-de-rosa, no sentido de provar

“A minha vida é um puzzle”

A residir em Carcavelos, Sara Neto, de 34 anos, percorre diariamente “com gosto” 80 km para ir trabalhar, uma vez que diz adorar pertencer à USF Alburrica. “Na altura, quando escolhi a vaga da então UCSP Barreiro, toda a gente me aconselhava a não o fazer e, curiosamente, neste momento, estou a gostar mais e melhor integrada na equipa do que a maior parte dos meus colegas que estão em unidades que diziam ser muito boas. Neste momento, tenho até perspetivas de vir a ficar aqui enquanto especialista”, adianta.

Com um grande fascínio pelo corpo humano, sempre pensou seguir a área da Saúde. Enquanto atleta de alta competição, ainda equacionou ser fisioterapeuta, contudo, a Medicina prevaleceu. Após ter realizado o Ano Comum no Hospital Distrital de Santarém, integrou a USF Alburrica justamente no ano após o surgimento da pandemia de covid-19, o que entende ter prejudicado a sua formação. “Vivi ainda o modelo híbrido das consultas, com uma grande carga de teleconsultas e de testes covid-19”, conta.

que há momentos altos e baixos, mas que é possível”.

Por ter vivido essa experiência, Sandra Silva Serrado sabe “o que é estar do outro lado e o que custa ter vontade de comer algo que não é possível, mas também por que razão é importante não o fazer”, por isso, mostra-se disponível para “ajudar, ouvir, desesperar e chorar com quem quiser ser ajudado”. No seu caso, com a alteração do estilo de vida, conseguiu perder 40 kg.

Além da presença em simultâneo de médica e enfermeira, também está prevista a intervenção, quando necessário, de nutricionista e psicóloga, precisamente pela “relevância da atuação multidisciplinar”. Para já, a médica encontra-se a dedicar uma hora semanal a esta consulta, acompanhando os utentes de forma quinzenal, e não trimestral como seria previsto, por entender que durante um período

tão extenso “podem ser cometidos grandes erros”.

Tendo como orientadora de formação Sandra Serrado Silva, a interna admite “ter tido muita sorte” e que as duas têm “uma relação incrível”, desde logo por partilharem o gosto pelo exercício físico.

“Apoiamo-nos mutualmente e, neste momento, se o concurso se repetisse, voltaria a escolher a mesma especialidade e unidade”, confessa. Na verdade, Sara Neto diz

ter percebido ainda no 3.º ano que a MGF era “a área de que mais gostava e, curiosamente, as melhores relações foram estabelecidas com tutores de MGF”.

Além de si, que está a frequentar o 4.º ano de internato, a equipa conta ainda com uma interna que está a concluir a especialidade e uma outra que está a iniciá-la.

No seu caso, admite identificar-se mais com a vertente das doenças metabólicas, nomeadamente diabetes e hipertensão. Por ter realizado uma pós-graduação em Medicina Desportiva, futuramente, a médica gostaria de vir a implementar, eventualmente ainda este ano, uma carteira adicional relativa a uma Consulta de Medicina Desportiva.

O objetivo seria “prestar apoio a atletas, através da realização de exames médico-desportivos, mas também consciencializar a população para a importância da prática de exercício físico, que é tão necessária, e investir na prescrição de exercício”.

Após uma fase inicial, em que a consulta seria dirigida aos utentes da USF

Alburrica, o intuito seria alargá-la depois às restantes USF do Arco Ribeirinho, por se tratar de “uma área que é tão escassa no país”.

Para já, Sara Neto realiza, tal como a sua coordenadora, a Consulta Multidisciplinar de Tratamento da Obesidade, “vertente que se complementa com uma possível Consulta de Medicina Desportiva”. O facto de ser vice-campeã mundial e campeã nacional (2023) e vice-campeã europeia (2022) de Duatlo representa um desafio diário adicional na vida de Sara Neto, ao obrigá-la a compatibilizar as duas atividades. Nesse sentido, geralmente, ainda de madrugada, antes de ir para a USF, faz o primeiro treino diário, realizando o segundo durante a hora de almoço ou ao fim do dia. Foi o que aconteceu no dia em que a Just News conversou com a profissional, que, aproveitou o período de almoço para ir correr 12 km. “Costumo ir até à Moita ou Azeitão de bicicleta ou correr até à mata da Machada. A minha vida é um puzzle!”, comenta, adiantando que este ano deverá participar na Volta a Portugal em Bicicleta.

Para evitar que tal aconteça e reforçar a sua presença na vida dos utentes, Sandra Silva Serrado avançou para a criação de um grupo de Whatsapp onde publica exemplos de refeições saudáveis e treinos que faz, ao mesmo tempo que espera que os utentes façam o mesmo e coloquem questões. Contudo, lamenta que essa proatividade por parte dos utentes não esteja a acontecer: “Deixamos ‘uma porta aberta’ para a entreajuda e a partilha de experiências e de dúvidas, mas temos verificado uma total falta de dinâmica, porque ninguém se expressa, o que é grave, porque pode significar que estão a ser cometidos muitos erros”.

Apesar do seu grande empenho e da aparente motivação dos utentes, Sandra

16 | Jornal Médico Abril 2024
SARA NETO, INTERNA DO 4.º ANO DE FE EM MGF:

Silva Serrado considera que os resultados estão aquém das expectativas, por isso, tenciona criar “um programa informático que contemple uma grelha com as alterações nutricionais e um espaço onde os utentes possam registar as suas informações”.

A renovada disponibilidade para o crescimento profissional

A coordenar a USF desde o seu arranque, Sandra Silva Serrado acompanhou de perto o processo de candidatura a modelo B, que aconteceu em fevereiro de 2023 e que, no fim do ano, recebeu a validação do Conselho Clínico e de Saúde do ACES Arco Ribeirinho, tendo ficado apenas a

faltar a certificação da ERA. A transição acabou por concretizar-se a 1 de janeiro de 2024, sendo que, por terem atingido um IDG superior a 60% em 2022, a partir de fevereiro de 2024, a equipa começou a receber incentivos financeiros.

Apesar de se situar na União das Freguesias de Alto do Seixalinho, Santo André e Verderena, no concelho do Barreiro, a área de influência da USF corresponde a todas as freguesias do concelho, uma vez que as listas de utentes inscritos já estavam anteriormente definidas para cada médico. Também por isso são, principalmente duas delas, “listas extremamente envelhecidas, que não representam a população da Quinta da Lomba, que tem bastantes jovens e imigrantes a residir aí e a trabalhar em Lisboa”.

Com um leque de recursos físicos muito completo, onde se integra, por exemplo, o Cantinho da Amamentação, a coordenadora da Unidade lamenta apenas a falta de climatização, “um fator relevante para a saúde de todos”, o que tem levado a equipa a recorrer a aparelhos de aquecimento e arrefecimento pessoais, a bem da sua saúde e da dos utentes.

Além de serem recebidos internos de MGF desde o arranque da USF, esta unidade também acolhe internos de formação geral e alunos de Medicina e de Enferma-

gem. Após um período mais conturbado, em que era preciso assegurar resposta às duas listas de utentes que estavam a descoberto e desenvolver o processo de candidatura a USF modelo B, algumas atividades ficaram necessariamente mais comprometidas, nomeadamente a formação.

“Naquele contexto, a equipa viveu um grande crescimento em termos organizacionais e processuais. Com a reposição do quadro de profissionais e a passagem a modelo B, podemos ‘respirar’ e voltar a dedicar-nos ao nosso crescimento profissional, frequentando formações, convidando elementos externos a partilhar os seus conhecimentos e desenvolvendo projetos de investigação”, refere.

Isabel Madaleno: continuar a dinamizar a Consulta de Contraceção para benefício da população do Barreiro

Foi durante o estágio de Ginecologia que realizou no Hospital do Barreiro que a médica Isabel Madaleno desenvolveu a sua apetência para a colocação e remoção de métodos contracetivos de longa dura-

ção. Começou por realizar essa prática na UCSP Baixa da Barreira, onde trabalhou durante 22 anos, e, com a sua transição para a USF Alburrica, aquando da sua criação, deu continuidade a esse projeto.

reportagem USF Alburrica

“Neste concelho, temos muitas mulheres a querer utilizar métodos contracetivos de longa duração, cujo acesso à consulta é dificultado por não terem médico de família”, adianta, referindo que tal cenário motivou a necessidade de constituir uma consulta dirigida a esse grupo populacional.

Dada a sua experiência, Isabel Madaleno assegurou a resposta médica, juntamente com a enfermeira Ilda Roque e a secretária clínica Irina Martins. “O trabalho de articulação é feito pelas três, a fim de garantir às mulheres a colocação, alte-

(Continua na pág. 18)

ILDA ROquE, ENFERMEIRA DO CONSELHO TÉCNICO:

“O objetivo é trabalhar temáticas em que os utentes sentem mais dificuldades e que gostariam de ver abordadas”

Após cerca de uma década a trabalhar em meio hospitalar, Ilda Roque concorreu aos CSP, por considerar que lhe “agradaria o tipo de trabalho executado e o papel que o enfermeiro desempenhava nos cuidados de saúde, caracterizado também por uma maior proximidade às famílias”.

Teve perceção dessa realidade quando fez os ensinos clínicos em centro de saúde, no âmbito da sua especialização em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica. Em 2000, trocou uma Unidade de Cuidados Intensivos por uma UCSP e não se arrepende: “É um trabalho diferente, em que desempenhamos atividade em vários programas.”

Em 2021, fez parte da equipa inicial que fundou a USF Alburrica e, desde então, é uma das cinco enfermeiras que compõem o grupo de enfermagem. Integra o grupo de trabalho “Crescer em Parceria”, constituído por enfermeiras especialistas de Saúde Infantil e Pediátrica do antigo ACES Arco Ribeirinho e do CHBM. Além de si, existe uma colega com a mesma especialização. Da mesma forma, nota existir também um projeto em Saúde Mental desenvolvido pelas duas instituições, onde está integrada a colega que tem a especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica. Além da participação da equipa de enfermagem na Consulta Multidisciplinar do Tratamento da Obesidade, Consulta de Contraceção e Consulta Intensiva de Cessação Tabágica, a enfermeira destaca a proatividade do grupo no que respeita ao projeto “Cantinho da Saúde”, que visa a promoção da literacia em saúde da população, através de sessões de educação para a saúde. Iniciado no final do ano passado, com o levantamento das necessidades de cada grupo de utentes, através da aplicação de questionários na Consulta de Enfermagem, o projeto deverá prosseguir entretanto com a elaboração do plano anual de sessões de acordo com a informação recolhida.

“O objetivo é conseguir trabalhar temáticas em que os utentes sentem

mais dificuldades e que gostariam de ver abordadas”, resume. Antes ainda, a equipa alocou um espaço da USF à fixação de informação pertinente, tendo como objetivo promover a literacia em saúde dos utentes.

A enfermeira, que integra o Conselho Técnico e em simultâneo exerce funções de gestão, nota que, embora a equipa tenha sido sempre constituída por cinco enfermeiros, entre 2021 e 2022, foi uma das responsáveis do Centro de Vacinação contra a Covid-19 do Barreiro, o que a levou a estar ausente em certos períodos. Contudo, orgulha-se de, “com o trabalho e a interajuda de todos, ter sido possível assegurar as várias atividades”.

Nesse contexto pandémico, reconhece que, “apesar dos desafios, o bom ambiente vivido diariamente entre a equipa foi essencial para conseguir ultrapassar essa fase”.

Apesar de ter nascido, em fevereiro de 1967, no distrito de Évora, Ilda Roque sempre residiu na região de Lisboa. Em 1989, formou-se pela Escola Superior de Enfermagem de Calouste Gulbenkian e começou por trabalhar dois anos no Serviço de Neonatologia do Hospital de Santa Maria. Entretanto, com a inauguração do Hospital Garcia de Orta, transitou para a Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos dessa instituição, onde permaneceu até 2000.

Jornal Médico | 17 Abril 2024
Isabel Madaleno

reportagem USF Alburrica

(Continuação da pág. 17)

ração ou continuação do método contracetivo”, explica. A intervenção é realizada pelas duas primeiras profissionais na sala de Planeamento Familiar.

Isabel Madaleno nota que, “por vezes, as mulheres têm dúvidas quanto ao que devem fazer e, nesse sentido, a consulta engloba o aconselhamento, a orientação e a realização do procedimento”. E desenvolve: “Tentamos ir ao encontro do que cada uma pretende e dar-lhe a conhecer as opções disponíveis nesse sentido.” Nesse âmbito, tem bem presente que “a nossa missão e função como médicos é também esclarecer dúvidas e desmistificar algumas ideias preconcebidas”.

“A nossa missão e função como médicos é também esclarecer dúvidas e desmistificar algumas ideias preconcebidas”, enaltece Isabel Madaleno.

Constituída em maio de 2023, a Consulta de Contraceção é realizada às terças-feiras à tarde e a maioria dos pedidos parte de utentes da UCSP Barreiro.

A médica esclarece que, tratando-se da colocação de um método intrauterino ou subcutâneo ou da substituição de determinado método por outro, “há necessidade de a mulher fazer um exame prévio, de forma a confirmar que não está grávida”.

No caso da colocação de um dispositivo intrauterino, “é preciso conhecer aquele útero, através de ecografia, o que exige a articulação com o colega da unidade a que a utente pertence, de forma a chegar à consulta já com o exame realizado. Também após a colocação, é geralmente pedida outra ecografia, para certificação da correta posição de dispositivo IU”.

No que respeita a utentes da USF Alburrica, a nossa interlocutora avança

MARIA JOãO INVERNO, INTERLOCuTORA DO SECRETARIADO CLíNICO:

“Tivemos de aprender a exercer uma dinâmica distinta e a reprogramar o nosso chip”

A USF Alburrica correspondeu à primeira unidade com este tipo de modelo organizacional em que Maria João Inverno trabalhou. Até então, tinha desempenhado atividade em várias UCSP, por isso, tem bem presentes as diferenças que existem entre os dois formatos: “Se calhar, tivemos de aprender não a trabalhar com diferentes programas – porque eram os mesmos –, mas a exercer uma dinâmica distinta e a reprogramar o nosso chip.”

A secretária clínica reconhece que as principais dissimilitudes se relacionem com a identificação dos programas de saúde relativos ao tipo de consulta em causa. “No modelo anterior, talvez não se valorizassem devidamente os programas relativos nomeadamente às consultas de Hipertensão e de Diabetes, atendendo-se apenas às vagas disponíveis. Por sua vez, em USF, é preciso perceber qual é o tipo de consulta e agendá-la em conformidade”.

Ao terem sido confrontados com um período mais árduo, em que duas listas ficaram a descoberto, a nossa interlocutora enaltece o trabalho que existiu no sentido de “aprender a fazer uma gestão dos recursos disponíveis e da oferta que podia ser feita”.

Com quatro secretários clínicos desde o arranque da USF, Maria João Inverno refere que, no momento atual, um

dos colegas está integrado em duas microequipas. No seu caso, por assumir a função de interlocutora do secretariado

clínico e devido à existência de apenas dois postos no atendimento e um no back-office, no período em que todos os elementos estão presentes, dedica-se à realização de trabalho de back-office na sala reservada à coordenação.

Colocando muitas esperanças no processo de transição para as futuras instalações da Unidade, a secretária clínica admite que “essa mudança, associada à passagem a modelo B e ao recebimento de incentivos, contribuirá para cativar

profissionais a integrar a equipa e, consequentemente, trazer mais utentes para a USF”.

Em termos práticos, Maria João Inverno adianta que o quiosque eletrónico apenas permite efetivar consultas, “o que, apesar de não corresponder ao ideal, permite retirar muitos utentes do balcão”. Relativamente aos contactos disponibilizados pela Unidade, lamenta que não esteja atribuída uma linha fixa, o que “obriga a que o contacto preferencial se resuma ao e-mail”.

Nascida há 47 anos, no Barreiro, Maria João Inverno completou o 12.º ano de escolaridade e, algum tempo após ter trabalhado noutras áreas, surgiu a oportunidade de integrar a equipa de profissionais do Hospital São Francisco Xavier, como auxiliar de alimentação e dietética. Trabalhou nesse espaço entre 1999 e 2005, quando, após concorrer aos CSP, ficou colocada na UCSP Moita como assistente operacional a desempenhar funções administrativas. Passou por outras unidades, como a UCSP Alhos Vedros, até, em 2016, ter passado a integrar a carreira de assistente técnica.

Em janeiro de 2017, começou a trabalhar na UCSP Baixa da Banheira, tendo logo de seguida transitado para a UCSP Barreiro, onde se manteve até à fundação da USF Alburrica.

que, na altura em que duas listas ficaram a descoberto, esta consulta foi essencial para responder aos pedidos dessas utentes, sendo que, progressivamente, com a integração de mais elementos na equipa, tem existido uma redução da procura. Ainda assim, ela subsiste, até porque “há uma técnica associada à colocação do dispositivo intrauterino, que requer treino e confiança das equipas médica e de enfermagem”. Nesse sentido, entende tratar-se de “uma consulta proveitosa, que deve continuar”, observando que “até ao momento, as senhoras têm ficado satisfeitas com o processo”.

Isabel Madaleno nasceu em Lisboa, há 62 anos, mas reside no Barreiro desde sempre. Inscrita na OM desde 1993, desenvolveu o seu percurso profissional na Margem Sul, tendo realizado o internato de formação geral no Hospital do Barreiro e o internato da especialidade no Centro de Saúde do Feijó.

Ao aperceber-se do seu gosto por várias vertentes da Medicina, a MGF cativou-a, pela sua “versatilidade e abrangência, bem como pela proximidade ao outro”.

Helga Rocha Ferreira: o relançamento da Consulta Intensiva de Cessação Tabágica

Helga Rocha Ferreira, de 49 anos, é cabo-verdiana e foi o ideal de ser médica que a trouxe até Portugal, numa altura em que o curso não era lecionado em Cabo Verde. Formou essa ideia no seio familiar, uma vez que a sua mãe sempre teve o sonho de ser enfermeira, que acabou por não concretizar em prol da família, e o seu pai tinha um problema de visão. A irmã mais velha abriu caminho ao enveredar pela Medicina e, concretamente, pela Oftalmologia, e Helga Rocha Ferreira seguiu os seus passos e, aos 18 anos, veio para Portugal e começou a estudar na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

Sempre teve a intenção de regressar ao seu país, até ter conhecido o seu marido, quando se fixou no Barreiro. Desenvolveu a sua vida familiar em paralelo com a académica, o que a levou a prolongar um pouco no tempo o seu percurso formativo.

Quando chegou o momento de decidir que especialidade abraçaria, reconhecia o seu gosto imenso pela Saúde Pública, “talvez pelas origens que tinha e pelo impacto que podia ter na comunidade ao, através da mudança, prevenir a doença”.

Através das missões que fez em Marrocos durante quatro anos e em

18 | Jornal Médico Abril 2024
Helga Rocha Ferreira

Angola no espaço de um ano e meio, ao longo da sua vida, teve clara noção dessa capacidade: “Principalmente em Angola, tornou-se muito visível para mim como os cuidados básicos de saúde fazem diferença na vida das pessoas. Mudando um pouco a lupa, rapidamente nos apercebemos de que o SNS é um autêntico luxo, quando em certos hospitais vi pessoas a partilhar a

KARINA CALISTO, ENFERMEIRA RESPONSáVEL PELAS CONSuLTAS DE OBESIDADE E DE CESSAçãO TABáGICA:

“É essencial haver um sentimento de empatia”

Quando Karina Calisto regressou aos CSP, em 2013, começou a trabalhar ainda na UCSP Avenida Bocage, no Barreiro, que veio, entretanto, a ser desativada com vista à junção de todos os profissionais nas instalações da Quinta da Lomba. Com a idealização do projeto da USF Alburrica, logo se identificou com o seu propósito e integrou a equipa inicial. O mesmo sucedeu em relação à constituição da Consulta Intensiva de Cessação Tabágica e da Consulta Multidisciplinar do Tratamento de Obesidade, sendo que é uma das duas enfermeiras que as dinamiza.

No caso da primeira, lamenta que, devido à covid-19, a sua realização tenha sido logo suspensa durante uma temporada, sendo seu desejo, da enfermeira Olívia e da médica Helga Rocha Ferreira “ver a consulta sedimentar-se a curto prazo”, após a sua retoma em moldes necessariamente diferentes. Como explica, antigamente, “éramos duas enfermeiras e dois médicos, com o apoio e o incentivo ainda da psicóloga da URAP, que conseguimos implementar a consulta com muita força e grande gosto”.

Já relativamente à segunda, que está a dar os primeiros passos este ano, a enfermeira alerta que “muitas

cama de hospital e cuidados primários tão desorganizados”. Também em Marrocos viveu a experiência de ajudar refugiados, através da realização de consultas a grávidas, num contexto em que “muitas mulheres engravidavam por violações no decurso da travessia do Mediterrâneo”.

Entretanto, acabou por regressar numa altura em que um dos seus nove filhos precisava de maior apoio familiar, e a MGF acabou por se apresentar como “uma especialidade cativante, que podia oferecer um contacto mais direto e

patologias agravam devido ao facto de as pessoas terem obesidade, e havendo múltiplos casos de utentes

diabéticos e hipertensos essa situação poderia ser evitada ou controlada se o excesso de peso fosse eliminado”.

Karina Calisto evidencia que, “geralmente, a reversão do excesso de peso está associada à aquisição de hábitos de vida saudáveis, relacionados com a alimentação, o exercício físico e o descanso”. Numa zona em que “muita gente tra-

individualizado do que a Saúde Pública”.

Avançou para a realização do internato da especialidade no Centro de Saúde da Quinta da Lomba e já enquanto especialista, em março de 2020, inaugurou a Consulta Intensiva de Cessação Tabágica, conjuntamente com um colega, após ter frequentado, em 2019, o 12.º Curso de Cessação Tabágica para Médicos da ARS Lisboa e Vale do Tejo. Contudo, apenas duas semanas depois, esta acabou por ser interrompida por ocasião da pandemia de covid-19, ten-

balha por turnos, nos setores fabril e da saúde, ou necessita de deslocar-se para Lisboa, o descanso torna-se diminuto e, por vezes, nem sequer é de qualidade, o que se traduz em hábitos de vida não saudáveis, e que geralmente são desvalorizados”.

Neste contexto, a nossa interlocutora admite haver “gente cada vez mais nova, na ordem dos 30 e 40 anos, com o diagnóstico de diabetes e de hipertensão”. Sublinha que estas consultas surgem como “uma tentativa de fazer regredir o excesso de peso e a obesidade, assim como reduzir ou cessar o consumo de tabaco, e retardar o surgimento de possíveis patologias”.

Karina Calisto valoriza o facto de a Consulta Multidisciplinar de Tratamento de Obesidade ser realizada em simultâneo por médica e enfermeira, o que permite “uma sintonia de discurso, uma facilitada identificação dos erros e um trabalho reforçado de motivação”. Como explica, “muitas vezes, por vergonha ou personalidade, confrontamo-nos com a ocultação ou a transmissão de informações diferentes pelo utente, e essas divergências condicionam a adaptação dos ensinos à necessidade dos utentes”.

do sido retomada só apenas em dezembro de 2023 – já na USF Alburrica – unicamente por si e por uma enfermeira com formação na área de cessação tabágica. Assim que os três internos, que também a integram, juntamente com outra enfermeira, terminarem os seus compromissos relativos ao internato, poderão “alargar o âmbito da consulta – que, para já, está muito dirigida aos utentes da USF – a todo o concelho”.

Ficha técnica

Por outro lado, “é mais fácil identificar e corrigir erros e motivar os utentes, o que se estende à Consulta Intensiva de Cessação Tabágica”.

Considerando “essencial haver um sentimento de empatia da equipa face aos utentes”, a enfermeira orgulha-se bastante da forma como “a equipa consegue incentivar a população a adquirir comportamentos saudáveis”.

Karina Calisto nasceu na África do Sul e soma 45 anos de vida. Quando completou cinco, os seus pais entenderam que era tempo de regressar a Portugal e fixaram-se na Figueira da Foz. Por gostar muito da área da Saúde, seguiu Enfermagem, na Escola Superior de Enfermagem de Bissaya Barreto. No decurso desse período, identificou-se com o trabalho realizado em CSP e logo começou a trabalhar no Centro de Saúde de Condeixa.

Menos de um ano depois, transitou para a Figueira da Foz, tendo depois arriscado uma experiência em cuidados hospitalares, em Lisboa. Manteve-se durante uma década no Bloco Operatório da Urgência de São José, até que, “por gosto e por motivos profissionais”, regressou aos CSP, desta vez no Barreiro.

Para já, a médica, que é elemento integrante do Conselho Técnico, está a dedicar uma hora por semana a esta consulta, o que se traduz em duas primeiras consultas e na existência de pelo menos oito utentes em seguimento. Apesar de, em 2020, a consulta ter funcionado muito pouco tempo, a médica nota que “a sua dinâmica era maior, uma vez que a equipa tinha um maior número de horas dedicadas a ela”.

Caracterização da população inscrita (março de 2024)

Utentes:

Idosos:

Crianças e jovens com idade ≤ 14 anos:

Mulheres em idade fértil (dos 15 aos 54 anos)

Atividade (2023)

Consultas médicas

Contactos diretos:

Contactos indiretos:

Domicílios médicos:

Enfermagem

Contactos diretos:

Contactos indiretos:

Domicílios de enfermagem:

Profissionais (março de 2024)

Médicos:

enfermeiros:

Secretários clínicos:

Internos de Formação específica em MGF:

8205 (11.699 UP)

2569 (Índice de dependência: 55,88%)

1039 (Índice de dependência: 22,6%)

1678 12.284 9370

Jornal Médico | 19 Abril 2024 reportagem USF Alburrica
69 13.669 860 218 5 5 4 3

notícias

Dieta na menopausa

A menopausa é o fim permanente das menstruações, da ovulação e da fertilidade. É confirmada após 12 meses consecutivos sem qualquer período menstrual e, de entre as várias alterações endócrinas que caracterizam a progressiva perda da função ovariana a mais importante é a diminuição dos níveis circulantes de esteroides ovarianos. A diminuição dos níveis de estradiol está associada com sintomas vasomotores, é a causa da atrofia urogenital, da perda óssea e do aumento de risco de doenças cardiovasculares e metabólicas.

Embora a menopausa seja caracterizada como um momento em específico, a transição e os sintomas associados podem durar vários anos. Esta fase está associada também a um aumento da prevalência de obesidade, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares (DCV) e osteoporose. A diminuição dos níveis de estrogénio está associada à perda de massa magra (lean body mass - LBM) e com o aumento de massa gorda (fat mass - FM) diretamente.

De entre vários aspetos modificáveis dos estilos de vida, a dieta é essencial, pois, pode contribuir para aumentar a longevidade e a qualidade de vida.

O processo de envelhecimento, por si, aumenta as necessidades diárias de proteína. Vários estudos indicam que ingestões mais elevadas de proteína estão associadas a níveis mais elevados de LBM em mulheres pós-menopausa, e também níveis mais elevados de consumo de proteína (1,2 g/kg/ /dia) foram associados com um risco mais baixo de fragilidade e melhor função física.

Também os vários componentes de um padrão de Dieta Mediterrânica (DM) foram associados com melhores medidas musculares em mulheres em pós-menopausa. A presença de vários antioxidantes na DM, como betacaroteno, vitamina C e E, protegem dos efeitos deletérios do stress oxidativo.

Relativamente ao consumo de hi-

dratos de carbono, uma dieta pobre em hidratos parece não ter efeito superior na redução de FM comparativamente a uma dieta com valores normais. Contudo, fontes de hidratos de carbono com maior teor em fibra parecem mostrar benefícios.

Vários estudos demonstram a importância de consumo adequado de cálcio e vitamina D para uma melhor densidade óssea, prevenindo osteoporose e fraturas. As recomendações de cálcio para o adulto são de 1000 mg/dia, para os idosos a referência é 1200 mg/dia, por outro lado, a Sociedade Norte-Americana de Menopausa recomenda 1000 a 1500 mg/dia para mulheres em pós-menopausa. A suplementação em cálcio e vitamina D parece ser uma boa estratégia para prevenção de fraturas.

Mulheres em pós-menopausa têm duas a três vezes uma prevalência mais elevada de síndrome metabólica, comparativamente com mulheres na pré-menopausa com a mesma idade. A transição na menopausa leva a alterações no perfil lipídico com 10 a 15% mais de LDL e triglicéridos. Também para a diminuição do risco de DCV uma dieta saudável é altamente recomendada. As várias sociedades científicas recomendam um padrão de dieta tendo como base fontes de proteína vegetais, frutos secos, peixe, fontes de ómega 3, gorduras, principalmente insaturadas, e fontes de hidratos principalmente provenientes de cereais integrais e pelo menos cinco porções de frutas e vegetais por dia, com um consumo moderado de produtos lácteos.

A suplementação em fitoestrógenos, como as isoflavonas de soja, pode ser suficiente para diminuir os sintomas da menopausa e ser uma alternativa à terapêutica hormonal de substituição. Alimentos que contenham fitoestrogénios como a soja e a linhaça podem ter várias vantagens para além da hormonal, como o seu teor em cálcio, e vantagens para a saúde cardiovascular. Para além de uma dieta equilibrada, com o controlo de micronutrientes e alimentos chave, o exercício físico moderado também está recomendado, sendo importante para a manutenção de um estado nutricional saudável e com vantagens para o bem-estar físico e emocional. Mulheres com mais sintomas nesta fase de vida devem procurar um acompanhamento nutricional específico e adaptado às suas necessidades.

Referênciabibliográfica:

- Silva TR, Oppermann K, Reis FM, Spritzer PM. Nutrition in Menopausal Women: A Narrative Review. Nutrients. 2021; 13(7):2149 https:// doi.org/10.3390/nu13072149.

- Chen L-R, Chen K-H. Utilization of Isoflavones in Soybeans for Women with Menopausal Syndrome: An Overview. International Journal of Molecular Sciences. 2021; 22(6):3212. https:// doi.org/10.3390/ijms22063212.

Internos de MGF da uLS de Coimbra organizam MGF Summit

É com grande entusiasmo que um grupo de médicos internos de Medicina Geral e Familiar da ULS de Coimbra está a preparar o MGF Summit. Estas jornadas, cuja 1.ª edição se realiza em 2 e 3 de maio, contam com o apoio da Associação Portuguesa de Telemedicina.

Em declarações à Just News, João Lopes Guedes, presidente da Comissão Organizadora, explica que a ideia do evento surgiu “numa conversa entre amigos, todos internos de MGF de várias unidades da ULS de Coimbra, que partilhávamos pontos de vista relativamente aos vários cursos, congressos e jornadas que já tínhamos frequentado”.

“Todos concordaram que faltava algo que desse menos ênfase à teoria e mais importância à prática clínica, que valorizasse as particularidades de cada doente e fosse além do que está explanado nos livros e nas guidelines”, afirma João Lopes Guedes.

E acrescenta: “Posto isto, não houve dúvidas de que tínhamos que dar início a um novo projeto! Começámos a fazer brainstorming sobre as temáticas a incluir nestas Jornadas, de forma a torná-las úteis, tanto para médicos internos como para especialistas, e com o desejo de que no final todos se sintam mais bem preparados e mais confortáveis a lidar com as variadas patologias apresentadas pelos nossos doentes.”

Relativamente à equipa de palestrantes, “está já planeada a apresentação dos oradores ao longo das próximas semanas na nossa página de Instagram, onde to-

dos os interessados podem saber as novidades e destaques do MGF Summit”. Já se sabe, contudo, que são, maioritariamente, profissionais da ULS de Coimbra: “São pessoas que conhecemos e em quem depositamos a nossa confiança para fazer sessões que vão ao encontro daquilo a que nos propomos, o foco na atuação prática e não tanto numa abordagem teórica profunda, ainda que esta não fique descurada.»

Segundo João Lopes Guedes, o apoio da Associação Portuguesa de Telemedicina (APT) tem sido importante, “desde o primeiro momento, a definir uma linha condutora, tanto no formato como nos conteúdos mais atualizados sobre o estado da arte nestas temáticas”.

Um apoio “extremamente útil”, por ser precisamente a 1.ª edição do MGF Summit e, “como tal, surgem algumas dificuldades logísticas, como em qualquer evento que esteja a dar os primeiros passos”.

Uma vez que a CO definiu que seria importante que este evento “pudesse alcançar qualquer médico do país, a modalidade online tornou-se óbvia e vimos na APT um parceiro fulcral para obtermos uma plataforma para transmissão do evento e para nos ajudar com toda a logística e organização envolvida na concretização do mesmo”.

Aplicações e ferramentas eletrónicas no Internato Médico

Quanto aos temas a abordar nas jornadas, João Lopes Guedes salienta que,

Comic Con Portugal: os super-heróis da DGS

A Direção-Geral da Saúde (DGS) participou na Comic Con Portugal de 2024, onde apresentou os novos super-heróis criados para o evento.

Na área Kids, a DGS organizou atividades para os mais novos, que, ao longo dos quatro dias, puderam criar uma banda desenhada com sugestões no âmbito da alimentação saudável, jogar os “Exploradores da Saúde”, e participar num desafio de criação de uma narrativa sobre o que podemos e devemos fazer pela nossa saúde, com foco no estilo de vida saudável.

No espaço da DGS foi possível, ain-

da, tirar fotografias, assumindo o papel de super-herói da Saúde.

“Exploradores da Saúde” é um jogo lançado pela DGS no Dia Mundial da Criança (1 de junho), fruto de uma parceria entre a Divisão de Literacia, Saúde e Bem-Estar com os Programas Nacionais e as restantes Direções e Divisões da DGS, com o objetivo de promover de forma lúdica e divertida a literacia em saúde de crianças do 1.º ciclo do ensino básico.

Este jogo aborda vários temas na área da saúde, nomeadamente, vacinação, saúde oral, prevenção e controlo de infeções, acidentes, saúde mental, alimen-

“desde o início, pretendemos ir além do óbvio e do que se tem visto e feito, assim como ter um sentido muito prático. Considerámos que seria interessante ter uma sessão sobre um tema pouco habitual, mas que pudesse ser uma mais-valia para todos os participantes”.

O médico interno refere-se à sessão “Aplicações e ferramentas eletrónicas no Internato Médico” e desenvolve a ideia: “O Internato Médico, nomeadamente o de MGF, é muito trabalhoso e vai muito além da prática clínica e do estudo e preparação teórica; passa por fazer variados trabalhos, elaborar relatórios, organizar certificados... Tudo isto é muito dispendioso em termos de tempo, pelo que considerámos que seria interessante facilitar aos médicos esta parte morosa do seu internato e permitir que dediquem o seu tempo ao que realmente interessa: à prática clínica e à preparação para a mesma”.

Por outro lado, esclarece que esta sessão permite “dar a conhecer algumas ferramentas que têm relevância para todos os médicos, não apenas os internos, e que podem auxiliar na prática diária, como calculadoras, app, sites onde podem obter mais facilmente informações e dados de que precisam, de fontes fidedignas, creditadas e com informação científica verificada”.

Neste debate em particular, será de especial relevância o contributo da Associação Portuguesa de Telemedicina, “trazendo os conhecimentos que têm neste mundo das tecnologias associadas à Medicina”.

tação saudável e atividade física. O jogo foi produzido pela Ideias com História e não é comercializado. Está disponível em vários Agrupamentos de Escolas do país, no âmbito da parceria com o projeto “Bola Mágica / Hora dos SuperQuinas“ da Federação Portuguesa de Futebol, bem como da intervenção realizada pelas equipas de Saúde Escolar. Poderá ler mais sobre este tema no site da DGS.

20 | Jornal Médico Abril 2024
Filipa Almeida Azevedo Nutricionista Auchan. Membro da Ordem dos Nutricionistas n.º 1914N filipalaborinho.azevedo@auchan.pt
auchaneeu.auchan.pt/vidasaudavel/
Espaço Nutrição Apoio:

ESPECIAL

Estilo de Vida Saudável nos Primeiros 1000 Dias de Vida

este especial inclui um conjunto de artigos originais que procuram resumir o que foi transmitido aos participantes no Curso estilo de Vida Saudável nos Primeiros 1000 Dias de Vida – Formação em 1000 Minutos, realizado nos dias 14 e 15 de setembro de 2023, na Faculdade de Medicina da Universidade de lisboa.

Discutir hot-topicsrelativos ao período que inclui a gravidez e os primeiros dois anos de vida da criança

O Curso Estilo de Vida Saudável nos Primeiros 1000 Dias de Vida – Formação em 1000 Minutos pretendeu formar os participantes com base na evidência científica atual das melhores práticas para a promoção de um estilo de vida saudável nos primeiros 1000 dias de vida, discutir hot-topics e desenvolver competências de boas práticas em mindfulness, alimentação e nutrição, sono e promoção da atividade física adaptadas a cada fase.

O evento estava aberto a médicos, enfermeiros, nutricionistas, estudantes de pré e de pós-graduação e outros profissionais de saúde com interesse na área.

O primeiro dia incluiu diversas sessões teóricas dedicadas a várias temáticas relacionadas com a gravidez, a amamentação, o primeiro e o segundo ano de vida. No segundo dia, existiu uma componente teórico-prática, com três workshops sobre: alimentação e nutrição; mindfulness na gravidez e no puerpério: e atividade física. Limitados a 20 inscritos cada, as vagas foram totalmente preenchidas.

Maria Ana Kadosh, Sara Madeira e Joana Sousa, docentes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, foram as diretoras do Curso, tendo a sua organização sido da responsabilidade do Laboratório de Nutrição e do Centro de Nutrição Avançada da FMUL, em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Medicina do Estilo de Vida.

Jornal Médico | 21 Abril 2024
Sara Madeira, Maria Ana Kadosh e Joana Sousa

Especial

Alimentação e suplementação na grávida: qual a evidência?

2) Ter uma alimentação equilibrada, completa e variada, de acordo com o tempo de gestação e englobando todos os grupos de alimentos nas porções ajustadas às necessidades;

3) Assegurar o cumprimento das regras de segurança alimentar características deste período.

A alimentação e nutrição adequadas e um estado nutricional ajustado são dos fatores de programação metabólica que mais influenciam a saúde durante a gravidez e a 1.ª infância. Sãos aspetos chave para garantir uma alimentação saudável e segura durante a gravidez:

1) Garantir uma evolução ponderal adaptada ao período da gestação e tendo por base o peso antes da conceção;

Estar grávida não é sinónimo de comer por dois! As necessidades nutricionais de uma mulher no período de gestação variam de acordo com o trimestre de gestação, sendo que a necessidade de acréscimo energético apenas se verifica a partir do 2.º trimestre e não ultrapassa as 500 kcal no final da gestação, face às necessidades de uma mulher saudável em idade fértil. Para tal, é suficiente ajustar o plano alimentar diário com o aumento de aproximadamente uma porção de alimentos do grupo das frutas, uma porção de alimentos do grupo dos cereais, derivados e tubérculos, uma porção de laticínios, uma porção de frutos oleaginosos e duas porções de carne, pescados ou ovos.

No que respeita à suplementação, é recomendada a suplementação em ácido fólico, ferro e iodo.

A mulher grávida deve adotar uma rotina alimentar, com a realização de um número regular de refeições diariamente, respeitando as porções e doses corretas, não adotando práticas alimentares restritivas. A água deve ser a bebida de eleição e é fundamental para um bom estado de hidratação, devendo respeitar um consumo de 8-10 copos de água distribuídos ao longo do dia. O consumo de bebidas alcoólicas está totalmente desaconselhado na gravidez e lactação e a ingestão de cafeína não

Tabaco na grávida: quais os riscos?

Rafaela B. Campanha

durante a gravidez é ainda mais grave, uma vez que afeta tanto a mãe quanto o feto. Apesar das inúmeras campanhas de sensibilização sobre os riscos do tabagismo na gravidez, muitas mulheres continuam a fumar durante esse período crítico.

As novas formas de consumo de nicotina disponíveis, como o tabaco aquecido, constituem uma nova ameaça, aliciando o público feminino através de estratégias de marketing direcionadas e apresentando-se erradamente como uma alternativa mais segura que o tabaco convencional.

Fumar durante a gravidez continua a ser um problema de saúde pública relevante em Portugal e em todo o mundo. O tabagismo ativo deve ser encarado como uma doença multissistémica e a gravidez como uma oportunidade única para deixar de fumar, com benefícios a curto e longo prazo. O impacto do tabagismo

O tabagismo durante a gravidez está associado a uma série de complicações para a saúde da mãe. As mulheres grávidas que fumam têm um risco aumentado de desenvolverem condições como pré-eclampsia e diabetes gestacional. Além disso, o tabagismo está associado a um maior risco de parto prematuro

e de complicações durante o parto. As mães fumadoras também têm uma recuperação pós-parto mais difícil e estão mais sujeitas a contrair infeções respiratórias.

O feto é especialmente vulnerável aos efeitos nocivos do tabagismo durante a gravidez. A exposição ao fumo do tabaco está associada a um maior risco de restrição do crescimento intrauteri-

A cessação tabágica durante a gravidez é fundamental para reduzir os riscos para a mãe e para o feto.

deve ser superior a 200 mg/dia (2 cafés expresso).

As mulheres grávidas devem ser aconselhadas a adotar uma dieta equilibrada com fontes alimentares importantes de nutrientes específicos, sendo que a suplementação pode ser alternativa quando se evitam alimentos de origem animal, ou existe um maior risco de défices nutricionais específicos, reduzindo a incidência de resultados maternos e fetais negativos e garantindo, de uma forma segura e económica, a redução do risco.

No que respeita à suplementação, é recomendada a suplementação em ácido fólico, ferro e iodo. Relativamente ao ácido fólico, a suplementação é amplamente recomendada antes e durante a gravidez para prevenir defeitos no tubo neural do feto. Em relação ao ferro, sabe-se que as necessidades estão aumentadas para responder ao aumento do volume sanguíneo e crescimento fetal. Um défice de ferro

aumenta o risco de anemia materno, por isso, essa suplementação deve ser considerada. Em relação ao iodo, é fundamental para o desenvolvimento neurológico do feto, sendo primordial garantir a sua ingestão adequada através da alimentação e complementar com suplementação sempre que necessário.

Deve existir maior atenção para a suplementação de outros nutrientes, nomeadamente cálcio, zinco ou vitamina B12, quando a puérpera apresenta um padrão alimentar vegetariano e dependendo do tipo de padrão adotado.

Em relação à suplementação de outro tipo de nutrientes, a sua recomendação só deverá ser realizada de acordo com uma necessidade clínica identificada e sempre que a alimentação não seja suficiente para suprir as necessidades. A evidência neste domínio é ainda pouco robusta para que exista uma recomendação generalizada de suplementação de outros nutrientes.

no, o que pode resultar em baixo peso à nascença e complicações de saúde a longo prazo para o bebé. Além disso, os bebés nascidos de mães fumadoras têm um risco aumentado de nascerem prematuros, o que pode levar a problemas de desenvolvimento e de saúde ao longo da vida.

A cessação tabágica durante a gravidez é fundamental para reduzir os riscos para a mãe e para o feto. Parar de fumar durante a gravidez pode levar a melhorias significativas na saúde materna e fetal. O quanto antes a mulher grávida deixar de fumar maiores serão os benefícios.

É importante que as mulheres grávidas que desejam parar de fumar recebam o apoio necessário. Os profissionais de saúde desempenham um papel crucial na identificação e no acompanhamento de mulheres grávidas fumadoras. Estratégias como a terapia de substituição de nicotina

e aconselhamento especializado são recursos valiosos para ajudar as mulheres a parar de fumar com segurança durante a gravidez.

Uma abordagem mais global através da intervenção nos vários pilares da Medicina do Estilo de Vida, como um plano de nutrição e de exercício personalizado, aumentarão a probabilidade de sucesso, com ganhos adicionais para a saúde.

O tabagismo durante a gravidez representa um sério risco para a saúde materna e fetal. As complicações associadas ao tabagismo podem ter consequências a curto e longo prazo para o bebé. Portanto, é essencial que as mulheres grávidas que fumam evitem o tabaco e procurem apoio para parar de fumar. A cessação tabágica durante a gravidez é uma medida essencial para garantir uma gravidez saudável e o nascimento de um bebé saudável em Portugal e em todo o mundo.

22 | Jornal Médico Abril 2024
Joana Sousa Nutricionista especialista em Nutrição Comunitária e Saúde Pública. Professora na FMUl Pneumologista. Clínica Myalgia. HVFX, ULS do Estuário do Tejo
Atividade física na grávida: quais as recomendações?

Carolina Andrade e Sousa

Fisioterapeuta. Diretora clínica da Power Clinic

De acordo o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (CAOG) (2020), na ausência de complicações obstétricas ou médicas, ou de contraindicações, a atividade física durante a gravidez é segura e desejável. As grávidas devem ser encorajadas a continuar ou a iniciar atividades físicas seguras.

• Todas as grávidas que fazem exercício devem ser acompanhadas e ter um plano ajustado.

• 150 minutos por semana de exercí-

cio moderado aeróbio, 3x/semana (recomendação mínima).

• Todas as grávidas que já faziam mais tempo de exercício e de maior intensidade podem e devem continuar.

• As grávidas que não faziam exercício devem começar e podem ir aumentando gradualmente.

• Ter em conta as alterações no corpo ao nível das articulações, equilíbrio e respiração.

• Manter uma boa hidratação.

• Evitar o sobreaquecimento.

Durante a gravidez, é seguro a mulher fazer vários tipos de exercício, como pilates, dança, hidroterapia, treino funcional, bicicleta estática, exercício aeróbio, andar, alongamentos. Não é considerado seguro fazer exercício com impacto, anaeróbio, acima de 1800 de altitude, com risco de queda e mergulho.

O CAOG confirma-nos que a atividade física na gravidez proporciona ótimos benefícios na saúde materna e fetal.

Para a grávida:

• Diminuição do risco de pré-

-eclampsia, HTA e diabetes gestacional, ganho excessivo de peso, complicações no parto e depressão pós-parto

• Maior incidência de parto vaginal

Para o bebé:

• Menos complicações no recém-nascido

• Passagem das hormonas do bem-estar para bebé

• Menos risco de natimortalidade

Quanto às contraindicações para a re-

O CAOG confirma-nos que a atividade física na gravidez proporciona ótimos benefícios na saúde materna e fetal.

alização de exercício, temos 2 tipos (BJSM, 2020.):

Absolutas

• Descolamento da placenta

• Placenta prévia depois das 20 semanas

• Colo do útero curto

• Doença respiratória grave

• Doença cardíaca grave com intolerância ao exercício

• Arritmia grave ou não controlada

• Vasa prévia

• Diabetes de tipo 1 não controlada

• Restrição do crescimento intrauterino

• Ameaça de parto pré-termo na gravidez atual

• Pré-eclampsia grave

• Gravidez de 3 ou mais bebés

Relativas, estas variam de grávida para grávida e devem ser discutidas com o médico, de forma a avaliar o risco/benefício de forma individual.

• Gravidez gemelar depois das 28 semanas

• Perturbações respiratórias ligeiras

• Diabetes tipo 1 bem controlada

• Pré-eclampsia ligeira

• Doença da tiroide não tratada

• Distúrbios alimentares

• Tabagismo moderado-pesado (> 20 cigarros por dia) na presença de comorbilidades

O exercício físico pode causar parto pré-termo?

Uma revisão sistemática e meta-análise de 2016 (AJOG) em mulheres grávidas de peso normal com gestação única sem complicações demonstrou que o exercício aeróbico durante 35-90 minutos, 3-4x/semana não está associado a um risco acrescido de parto pré-termo ou a uma redução da idade gestacional média no parto. É importante relembrar que as pessoas a quem é prescrito repouso prolongado ou atividade física restrita correm riscos de tromboembolismo venoso, desmineralização óssea, descondicionamento físico e efeitos psicológicos negativos.

O impacto da alimentação e da nutrição no leite materno

Inês Lima Ferreira

Mestranda em Nutrição Clínica na FMUL

O leite materno (LM) adequa-se, de maneira inigualável, às necessidades nutricionais e imunológicas do lactente, promovendo o seu bom desenvolvimento e crescimento, sendo considerado por várias organizações profissionais de saúde como a fonte de alimentação “gold-standard” para o bebé.

A composição do LM não é estática, variando, dinamicamente, com o decorrer

do período de lactação, ao longo do dia, e até mesmo ao longo da mesma mamada. Também são verificadas alterações na composição em resposta à alimentação e nutrição materna, sendo esta associação o principal foco deste artigo.

Uma vez que a desinformação existente em torno desta temática motiva restrições alimentares maternas que, além de desnecessárias, podem impactar, negativamente, a mãe e o lactente, é fundamental desmitificar, com evidência, as conceções que levam as lactantes a modificar a alimentação durante este período.

Primeiramente, é importante estabelecer que a associação entre a alimentação e nutrição materna e o LM é um tópico que continua a ser estudado pela literatura, não sendo ainda conhecida a verdadeira extensão desta relação. No entanto, sabemos que a ingestão materna de alguns nutrientes e substâncias é refletida no leite humano, podendo impactar o lactente.

De forma sucinta, atualmente, não existe evidência que suporte restrições alimentares e nutricionais maternas durante a lactação, com uma exceção – o álcool. Durante este período, é recomendada a abstinência total desta substância, não tendo sido, ainda, determinada a quantidade que pode ser consumida pela mãe sem impactar, adversamente, o bebé. O álcool passa, livremente, para o LM, podendo causar atrasos no crescimento, psicomotores, irritabilidade, entre outros efeitos adversos.

Contrariamente à narrativa com que várias vezes nos deparamos, o consumo de álcool durante a lactação diminui, ainda, a quantidade de leite produzido. Uma vez que a concentração desta substância no LM se aproxima da sua concentração no organismo da mãe, a lactante que escolha consumir álcool deve aguardar, no mínimo, duas horas e meia por cada 12-15 gramas de álcool que consumir antes de voltar a amamentar.

Também a cafeína passa para o LM. Uma vez que doses maiores estão as-

sociadas a efeitos adversos no lactente, nomeadamente, irritabilidade, alterações no padrão de sono e anemia, a ingestão materna desta substância durante a lactação não deve exceder os 200 miligramas diários, equivalente a dois cafés. Não obstante, mais estudos são necessários para sustentar esta recomendação.

O consumo de álcool durante a lactação diminui a quantidade de leite produzido.

Como referido anteriormente, a ingestão materna de certos nutrientes é refletida no LM, sendo a gordura o macronutriente mais extensivamente estudado pela literatura neste sentido. Sabemos que as escolhas alimentares

lipídicas maternas modulam o teor de ácidos gordos do leite, nomeadamente de ácidos gordos polinsaturados, e mais especificamente de ácido docosahexaenóico (DHA).

O DHA é crucial para o neurodesenvolvimento do lactente, sendo este o único lípido com necessidades aumentadas durante a lactação. O LM é a principal fonte de DHA para o lactente e, uma vez que o teor de DHA reflete a ingestão materna, é fundamental garantir um aporte materno adequado através da inclusão de fontes ricas em DHA na dieta da mãe, nomeadamente peixes gordos.

Devido à presença de mercúrio, a DGS recomenda um consumo semanal de pescado não superior a 3 porções, mas não inferior a 2 porções semanais (aprox. 230-300 g/semana). As lactantes devem, ainda, privilegiar o consumo de peixes com baixos níveis deste contaminante e evitar o consumo de peixes com níveis elevados de mercúrio, como é o caso do atum fresco.

Jornal Médico | 23 Abril 2024 Especial

Amamentação: dos mitos à evidência

A amamentação é a forma natural e desejável de as mães alimentarem os seus filhos durante os primeiros anos de vida, sendo recomendada pela OMS até pelo menos aos 2 anos, devendo ser mantida enquanto a criança e a mãe o desejem. É consensual a evidência sobre os riscos que corre um bebé não alimentado com leite humano. Assim sendo, porque é tão variável o tipo de apoio na amamentação que as mães recebem dos profissionais de saúde? Porque há tantos mitos relacionados com o aleitamento materno?

A causa é multifatorial, mas para ela muito contribui o facto de os profissionais de saúde chegarem à profissão com pouca ou nenhuma formação na área. De acordo com a evidência científica, o apoio prestado na amamentação está muito relacionado com a experiência no local de trabalho e com a experiência pessoal de amamentação. Assim, se o profissional teve uma história de amamentação bem-sucedida, onde ultrapassou as dificuldades que lhe surgiram, tende a valorizar mais a sua importância e vai prestar um melhor apoio às pessoas que amamentam. Por outro lado, se teve uma má experiência, a tendência é oferecer o leite artificial à primeira dificuldade.

Torna-se necessário clarificar alguns mitos ou convicções amplamente disseminados acerca da amamentação, contribuindo para a melhoria do apoio prestado às mães que amamentam.

1. Começando por falar sobre o intervalo e a duração de cada refeição na mama, existem, basicamente, duas abordagens em relação ao horário de amamentação: a livre demanda ou alimentação responsiva, que encoraja que o bebé vá à mama quando deseja e lá se mantenha até querer/precisar,

e a amamentação guiada pelo relógio, em que é recomendado que as mães amamentem os seus filhos em função do tempo entre refeições, restringindo tanto a frequência das mesmas como a sua duração. O exemplo paradigmático será amamentar de 3 em 3 horas, durante 15 minutos em cada mama. Esta recomendação veio das práticas associadas à alimentação com biberão e leite artificial que, por ser muito indigesto, requer um tempo mínimo de intervalo entre refeições, e, por ser sempre igual na composição, implica um período de digestão semelhante.

As recomendações atuais das principais entidades ligadas à saúde do bebé são para amamentar em livre demanda, porque a produção de leite é conduzida pela relação entre o apetite do bebé e a sua necessidade, a frequência e eficácia da remoção de leite da mama e a anatomia da mama da mãe. Como há grande variabilidade destes fatores de díade para díade, não é possível definir um padrão que se aplique universalmente, sem que daí possam advir consequências, como a diminuição da produção de leite e a consequente diminuição de ganho ponderal pelo bebé, que podem culminar num desmame precoce.

Como promover uma alimentação saudável e sustentável?

A chegada aos 12 meses assinala a meta da liberalização da alimentação. Recomenda-se que o bebé possa, gradual e progressivamente, aproximar-se da alimentação dos pais, cuidadores e família, integrando-a. É assim o momento da inclusão e integração do bebé na alimentação da família, um processo que deve incluir a progressão das texturas e o alcance da normalização dos alimentos sólidos, ao mesmo tempo que deve ser acompanhado com a manutenção da amamentação até aos 24 meses (quando possível). Este passo implica, contudo, o levantar de importantes questões:

• Como é a alimentação da família/ pais/cuidadores?

• Há uma alimentação da e em família?

• A mesma é energética e nutricionalmente adequada?

• Mantém excluídos os produtos com adição de açúcares, gorduras, sal e outros aditivos?

Numa alimentação que pretende ser saudável e, por isso, completa, equilibrada e variada, fornecedora da energia adequada, proporcionadora de bem-estar e contributo para um bom estado de saúde (bem-estar físico, mental e social), mas que pretende também ser sustentável. Ou seja, com condições para se manter no futuro. Condições essas pessoais – ao nível dos hábitos − e condições de disponibilidade – ao nível dos recursos.

Integrar o bebé numa alimentação saudável e sustentável (ou, para não ser redundante, apenas sustentável) é, assim, integrá-lo numa alimentação completa, variada e equilibrada, promotora de bem-estar e saúde e com condições (ao nível dos recursos e hábitos) para se manter no futuro.

São inúmeros os fatores internos e pessoais, externos e ambientais que influenciam a alimentação, pelo que as intervenções dos profissionais de saúde neste âmbito devem ter isso em conta. As famílias de hoje vivem desafios exigentes, como a gestão do tempo e do orçamento familiar, a falta de capacitação para a preparação e confeção de alimentos, a desvinculação da alimentação por parte dos adultos e o consequente desconhecimento sobre sazonalidade, por exemplo.

Esta é, por isso, uma etapa de responsabilidade e oportunidade da, com e para a família. Um momento para uma revisão geral e de melhoria (também alimentar), onde os profissionais de saúde devem ser capacitados e facilitadores.

Aproveitar o valor pedagógico do ato de alimentar, em todas as dimensões, é uma das estratégias. Nutrir ao mesmo tempo que se impacta positivamente a vinculação familiar, a relação com a alimentação, a modulação do paladar, o desenvolvimento e o crescimento, o estado de saúde, o ambiente, a economia e a sociedade, e que se aproxima à natureza, reconhece e respeita o valor do momento da refeição, desenvolve a motricidade, a comunicação e o vocabulário. Onde estar à mesa exterioriza o valor vital que o alimento tem.

Promover uma alimentação saudável e sustentável dos 12 aos 24 meses pressupõe assumir essa mesma alimentação como sendo a da família, integrar uma alimentação que inclua diariamente todos os grupos alimentares, de forma equilibrada e variada no tempo, acompanhar a sazonalidade, preferir a proximidade na compra, alimentar para vincular.

Os 12 aos 24 meses é um período de oportunidade em família para a sustentabilidade da saúde alimentar, para a qual, enquanto profissionais de saúde, (nos) devemos capacitar.

2. Outra das questões é se devemos recomendar “esvaziar a mama até ao fim”, antes de mudar de mama. Este mito surgiu pelo receio associado às diferentes concentrações de gordura no início e no fim da refeição de leite materno. De facto, a concentração de gordura vai aumentando gradualmente à medida que a mama vai ficando mais vazia. Os bebés amamentados em livre demanda vão à mama em intervalos de tempo que não são iguais ao longo do dia, o que faz com que ingiram diferentes concentrações de gordura nas várias refeições. Os estudos realizados não mostraram qualquer distinção no total de gordura ingerida em 24 horas em bebés que trocam de mama mais vezes ou que fazem intervalos diferentes entre refeições.

Tendo como base esta recomendação, muitas mães mantêm o bebé na mesma mama, mesmo quando este já não está a comer, “porque temos de dar a mama até ao fim”. Claro que se o bebé está com boa transferência de leite na mama não vamos mudá-lo para a outra mama. Mas se o bebé adormece na mama ou muda para sucção não nutritiva antes de estar satisfeito, ficar na mesma mama pode levar a que não ingira tudo o que precisa. Quando tal aconte-

Baby

ce, podemos fazer compressões mamárias, de forma a aumentar a transferência de leite da mama para o bebé, que, em geral, rapidamente retoma a sucção nutritiva. Quando estas não funcionam, podemos trocar de mama. Assim, aumentamos a quantidade de leite que o bebé ingere e asseguramos a produção de leite.

3. A perceção pela mãe de pouco leite ou de leite fraco é uma importante causa de desmame precoce. Quando a mãe fica insegura em relação ao seu leite, pensa em oferecer leite artificial por biberão, porque a ideia de que o filho possa estar a passar fome é, obviamente, intolerável para qualquer mãe. O bebé, mesmo que não tenha fome, em geral, aceita. Nesta idade, o reflexo de sucção e deglutição são involuntários. De seguida, faz um período de sono maior, porque o leite artificial é mais indigesto e porque ingeriu mais do que precisava e a mãe é levada a concluir (erradamente) que a sua hipótese de leite fraco ou insuficiente se confirma. Desta forma, pode dar-se início ao desmame antes do desejado porque, diminuindo a quantidade de leite materno extraído pelo bebé, a produção de leite tende a ajustar-se para baixo.

Numa pequena percentagem de mães, pode acontecer que o leite produ-

led weaning – qual

O Baby-Led Weaning (BLW), também conhecido como “autoalimentação”, é um método que tem vindo a ganhar popularidade nos últimos anos.

Inicialmente descrito por Gill Rapley, enfermeira parteira no Reino Unido, em 2001, apresenta-se como uma alternativa ao método tradicional de diversificação alimentar.

No método BLW, o controlo da alimentação é dado ao lactente, cabendo aos pais a vigilância do processo e a disponibilização de vários tipos de alimentos adequados a cada etapa do desenvolvimento.

O método BLW apresenta as seguintes características-chaves:

1) Amamentação em exclusivo até aos 6 meses (embora reconheça que alguns lactentes sejam alimentados a fórmula) e aquando a iniciação da diver-

sificação alimentar − nunca antes dos 6 meses − não há restrição nas tomas de leite;

2) O lactente senta-se à mesa para participar nas refeições familiares, onde são oferecidos alimentos da refeição familiar em forma de “finger food” com dimensão adequada para que a criança consiga pegar com a mão;

3) Compete ao lactente comer sozinho e decidir, dentro do que lhe é oferecido, quais os alimentos que vai ingerir e em que quantidade.

Os benefícios do BLW mais reportados prendem-se com:

1) Menor risco de desenvolver excesso de peso e obesidade, ao incentivar o respeito pelos sinais de fome e saciedade, levando a uma melhor autorregulação;

2) Menor seletividade alimentar;

3) Melhor desenvolvimento de competências motoras.

Por outro lado, este método levantou preocupações relacionadas com a adequação energética e nutricional, com especial foco na adequação da ingestão de ferro e no risco de engasgamento. No entanto, sendo um método ainda recente, as primeiras publicações surgiram em 2010, na sua grande maioria, reportando estudos observacionais com qualidade metodológica muito pouco robusta.

Em 2015, foi realizado o primeiro estudo clínico randomizado, com uma

24 | Jornal Médico Abril 2024
Rita Cabrita Médica de família na UCSP Olivais, ULS de São José. Consultora de lactação (IbClC) Ana Margarida Pinto Professora auxiliar no laboratório de Nutrição, FMUl Ana Helena Pinto
Especial
Nutricionista, fundadora e CeO da Nutrition for happiness

zido não seja realmente suficiente para as necessidades do bebé. Nesses casos, estamos perante uma hipogalactia. Mesmo nestas situações, se for desejo da mãe, podemos potenciar a produção de leite materno ao máximo. A amamentação numa situação de verdadeira hipogalactia deve ser protegida e mantida em simultâneo com a suplementação de leite artificial. Devemos ter em mente que cada gota de leite materno é preciosa e deve ser celebrada. Como pode um leite que dá nome à espécie ser fraco? Ele é produzido especificamente para as nossas crias, tal como acontece com os outros mamíferos.

O leite humano tem inúmeras substâncias na sua composição e evoluiu para dar resposta às múltiplas necessidades de cada fase de vida do bebé: nutricionais, imunitárias, de crescimento e desenvolvimento. E dar de mamar é muito mais do que alimentar. A amamentação é “a ferramenta fisiológica do vínculo entre a mãe e o bebé”. As crianças mamam por conforto, quando se magoam, estão tristes, aborrecidas ou doentes. Além disso, bebés alimentados com leite artificial têm maior probabilidade de contrair doenças agudas (doenças infeciosas) ou crónicas (diabetes, obesidade, etc.).

Felizmente que o leite artificial existe e está disponível, mas o seu uso deve restringir-se às situações em que o aleitamento materno exclusivo não é possível ou amamentar não é uma opção para a mãe.

4. Será que a chucha interfere com a amamentação? A sucção é um instinto básico com o qual os bebés nascem. Eles sugam para se alimentar e por conforto. A chucha foi inventada com o objetivo de substituir esta função de sucção não nutritiva, conforto e autorregulação, que é originalmente da mama. Hoje em dia, na nossa sociedade, há uma forte relação emocional dos pais com a chucha. Ter um bebé pode ser avassalador em alguns momentos, sobretudo quando vivemos numa sociedade com expectativas desajustadas e sem rede de apoio. A maior parte das mães vive a maternidade sozinha, cuidando do seu bebé 24 horas por dia, enquanto o pai trabalha e a família alargada está distante. Há famílias para quem usar chucha nunca foi uma opção e outras para quem ela foi uma salvação, num momento de cansaço e desespero.

O uso de chucha parece estar associado à diminuição do risco da síndrome da morte súbita do lactente (SMSL). Mas não se sabe qual o mecanismo de proteção. As hipóteses

qual a evidência?

qualidade metodológica mais robusta, que comparou o método tradicional de diversificação alimentar a um método BLW modificado – Baby-led Introduction to SolidS (BLISS) –, adaptado para responder às preocupações previamente levantadas.

A diferença do método BLISS comparativamente ao método BLW está relacionada com o nível de especificidade do aconselhamento dado aos cuidadores, incluindo consultas e disponibilização de informação sobre como oferecer os alimentos adequados ao desenvolvimento da criança para diminuir o risco de engasgamento, assim como da importância de oferecer uma variedade de alimentos, incluindo sempre a cada refeição um alimento com elevada densidade energética e um alimento rico em ferro.

Verificou-se que o BLISS, comparativamente ao método tradicional, não apresentou diferenças significativas em termos de IMC, deficiência de ferro, ingestão alimentar e nutricional ou risco de engasgamento aos 24 meses.

Como profissional da área, acredito que o método BLW possa ser incluído numa abordagem mista e adaptada às necessidades culturais das famílias portuguesas, onde o consumo de sopa é muito importante, aliado ao benefício da exposição a vários alimentos numa fase em que o lactente está a explorar um mundo novo de texturas, aromas e

Acredito que o método BLW possa ser incluído numa abordagem mista e adaptada às necessidades culturais das famílias portuguesas.

sabores, que leva a uma maior probabilidade de aceitação de alimentos mais tarde.

Podemos assim concluir que, de momento, não há evidência suficiente para recomendar o método BLW como sendo superior ao método tradicional para a diversificação alimentar e são necessários mais estudos clínicos e de seguimento robustos que tenham em conta fatores de confundimento importantes, como a amamentação, para avaliar qual a melhor abordagem para aquisição de hábitos alimentares saudáveis e prevenção de obesidade infantil.

são que o uso da chucha melhore o controlo autonómico durante o sono, mantendo a via aérea aberta, ou que o seu efeito protetor seja por facilitar os despertares. Ao mesmo tempo que aconselha o seu uso, a Associação Americana de Pediatria recomenda que não se volte a colocar assim que o bebé adormece e deixa cair a chucha, o que nos leva a questionar se o efeito protetor se mantém quando a chucha cai. A amamentação também tem esse efeito protetor do SMSL e esse sim é comprovadamente um efeito de causalidade. O uso da chucha está associado a maior risco de infeções, nomeadamente otites, a alterações da musculatura orofacial e da arcada dentária, podendo influenciar a mastigação, a respiração e a fala.

Em relação ao efeito da chucha na amamentação, há uma revisão da Cochrane que não mostrou diferença entre a duração da amamentação aos 4 meses entre os bebés que usavam chucha e os que não usavam. Mas não existem estudos que avaliem este resultado para além desta idade. Os estudos referidos apenas avaliaram a duração da amamentação, mas não outros resultados relacionados com o efeito negativo da chucha na amamentação ou no bebé. Sabemos, de outras publicações, que o uso

de chucha aumenta o risco de alteração da pega do bebé na mama. A técnica de sugar na chucha e sugar na mama é distinta. Quando a pega na mama está alterada, isso pode levar à diminuição da quantidade de leite ingerido pelo bebé ou a fissuras mamilares, entre outras, que têm como consequência dor e elevado desconforto materno ou uma fraca ingestão de leite pelo bebé.

Não nos cabe a nós decidir se os pais devem ou não usar chucha nos seus bebés, mas cabe-nos informá-los adequadamente dos benefícios e dos riscos associados ao seu uso. A melhor atitude dos profissionais, como em qualquer tema da puericultura, será acabar com os julgamentos e aceitar a decisão de cada família. Se no final a decisão for a de usar chucha, devemos tentar que o façam protegendo ao máximo a amamentação e minimizando as consequências do seu uso nos restantes aspetos da saúde do bebé.

5. Por fim, será normal ter dor a amamentar? O conceito de normalidade é muitas vezes usado como idêntico ao de frequente. Não é normal ter dor a amamentar e se tal acontecer significa que algo pode e deve ser melhorado. Geralmente, a dor estará relacionada com uma

pega incorreta, ainda que possam existir outras causas de dor mamária ou mamilar. E quando a pega não é correta e a mãe se queixa de dor, o bebé pode não conseguir ingerir leite suficiente para as suas necessidades, não havendo progressão de peso adequada. É importante desmistificar esta questão, muitas vezes perpetuada por muitos profissionais de saúde, que apenas valorizam o aspeto visual da pega, não sabendo avaliar a transferência de leite.

O papel dos profissionais que apoiam o aleitamento materno é apenas o de facilitar o caminho às mães e famílias que querem amamentar, ajudando-as a concretizar o seu projeto de amamentação com a menor interferência possível. Também as mulheres que decidem não amamentar ou não conseguem fazê-lo devem ser apoiadas nos seus percursos e anseios. Para nós, profissionais que trabalhamos na área da amamentação, é penoso e triste receber diariamente mulheres que não estão a conseguir concretizar o seu projeto de amamentar porque os profissionais de saúde com quem se cruzaram não souberam dar o apoio necessário ou, como infelizmente acontece em tantos casos, prejudicaram, por vezes de forma irreversível, a amamentação.

Hábitos de sono saudáveis no bebé: qual o segredo?

Quando penso em qual o segredo para hábitos de sono saudáveis no bebé e como transmiti-los aos meus pacientes, parece-me ser necessário: conhecer o sono no geral, conhecer o sono do bebé em particular, saber o que são hábitos de sono saudáveis e como os implementar.

Em primeiro lugar, é urgente que a sociedade reconheça o sono como um processo fisiológico indispensável à sobrevivência humana, tal como comer ou respirar. O sono é fundamental para a regulação do metabolismo, do crescimento e da regeneração celulares, do sistema imunitário, do humor e do funcionamen-

to cognitivo e aprendizagem. O sono tem diferentes fases, segue um ritmo próprio, é influenciado por fatores externos e modifica-se ao longo do ciclo de vida de um indivíduo, quer em termos de características como de necessidades.

Em segundo lugar, é então importante conhecer as especificidades ímpares do sono do bebé, como: o ritmo circadiano não está presente logo no nascimento, daí os ciclos de sono-vigília serem tão irregulares no recém-nascido, e vai-se estabelecendo nos primeiros 4-6 meses de vida. O próprio ritmo circadiano da mãe grávida é transmitido ao feto e as perturbações de sono da grávida podem ter importantes consequências quer para a própria mulher como para o desfecho da gravidez e para os processos neurometabólicos do bebé.

Nos primeiros 24 meses, o bebé passa por momentos extraordinários de desenvolvimento motor, cognitivo e social, e todas estas fases interferem diretamente com o sono, sendo também necessário um bom sono para que decorram harmoniosamente. O sono desenvolve-se tal como qualquer outra capacidade ou característica do bebé e é necessária a consciencialização dos pais/cuidadores para este tema, de forma a garantir o melhor ambiente possível para que esse desenvolvimento seja saudável.

Hábitos de sono saudáveis não são mais do que uma boa higiene de sono, onde se estimulam comportamentos e ambientes adequados que contribuem para um sono de qualidade.

São vários os desafios que os pais/ /cuidadores encontram nos primeiros 1000 dias de vida do bebé, desde garantir um sono seguro, definir onde o bebé deve dormir – se partilha a cama com os pais ou não –, lidar com todos os mitos sobre amamentação e sono, aprender a “vencer” a resistência do bebé ao sono, preparar o bebé para a entrada na creche ou a mudança de quarto. Todos estes desafios trazem angústias, dúvidas e receios.

Estar munido de informação credível, ferramentas adequadas, algum suporte social e bom senso será fundamental para estabelecer rituais de sono que equilibram as necessidades do bebé e da família, assim como boas associações com o sono, que serão a fundação para um sono de qualidade pela vida fora.

Os profissionais de saúde têm a missão de conhecer o sono, perguntar sobre as principais dificuldades/hábitos/necessidades de sono dos seus pacientes, ensinar acerca do sono, antecipar dificuldades e desmistificar crenças. Assim, estarão a promover uma boa literacia em saúde, e, sobre o sono em particular, promovendo um bom sono e uma boa qualidade de vida.

Jornal Médico | 25 Abril 2024
Marta Barroca Médica de família na UCSP de Salvaterra de Magos, Ul S da lezíria. Pós-graduada em literacia em Saúde e Psicologia do Sono
Especial

Fortalecer a literacia alimentar

Ana Margarida Pinto

Prof.ª auxiliar no laboratório de Nutrição, FMUl

Mariana Liñan Pinto

Investigadora e assist. convidada no lab. de Nutrição, FMUl

Marta Filipa Lopes

licenciada em Ciências da Nutrição, FMUl

Telma Nogueira

Investigadora e assist. convidada no lab. de Nutrição, FMUl

No âmbito do curso “Estilo de Vida Saudável nos Primeiros 1000 Dias de Vida, Formação em 1000 minutos”, o workshop “Hands-on Alimentação e Nutrição” desempenhou um papel fundamental ao contribuir para a capacitação de profissionais de saúde com competências essenciais relacionadas com a alimentação durante os primeiros 1000 dias de vida.

As atividades tiveram início no Laboratório Técnico Alimentar da FMUL, onde os participantes foram acolhidos. Neste cenário propício, incentivou-se o entrosamento e comunicação entre os 28 participantes e as 4 formadoras, com um momento descontraído de apresentações

NOME DO MEDICAMENTO: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película. Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película e Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película. Cada comprimido contém 40 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio) e 12.5 mg ou 25 mg de clorotalidona. FORMA FARMACÊUTICA: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho pálido, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/12.5 gravado numa das faces. Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho claro, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/25 gravado numa das faces. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Tratamento da hipertensão em adultos. Edarclor é uma associação de dose fixa indicada em adultos cuja pressão arterial não é adequadamente controlada por monoterapia com azilsartan medoxomilo. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia: Adultos: A dose inicial recomendada é de 40 mg + 12.5 mg uma vez por dia em doentes cuja pressão arterial não é adequadamente controlada com monoterapia anti-hipertensiva corrente como Edarbi 40 mg ou Edarbi 80 mg. Se necessário a dose pode ser aumentada para um máximo de 40 mg + 25 mg uma vez por dia. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se normalmente evidente ao fim de 1-2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Populações especiais: Idosos (idade igual ou superior a 65 anos): Não é necessário um ajuste inicial da dose nos doentes idosos; nos doentes muito idosos (≥75 anos), o tratamento deve ser efetuado com precaução e recomenda-se uma monitorização médica apertada. Compromisso renal e Afeção hepática: A clorotalidona, um dos componentes ativos do Edarclor, não deve ser usada em doentes com compromisso renal grave , anúria e afeção hepática grave . Não há experiência da administração de Edarclor em doentes com transplante renal recente. Não é necessário um ajuste da dose nos doentes com compromisso renal ligeiro ou moderado. É limitada a experiência de utilização em doentes com afeção hepática ligeira a moderada; no entanto não é necessário um ajuste inicial da dose de Edarclor em doentes com afeção hepática ligeira a moderada.

Alterações menores do equilíbrio hidro eletrolítico devidas a diuréticos tiazídicos podem precipitar um coma hepático. Recomenda-se monitorização estreita. Depleção do volume intravascular: Edarclor deve ser iniciado sob supervisão médica estreita, apenas após ter sido alcançado um volume correto. Uma resposta hipotensiva temporária devida a depleção de volume não impede que os doentes continuem o tratamento, o qual pode normalmente ser continuado sem dificuldade uma vez estabilizados a pressão arterial e o estado do volume.

Insuficiência cardíaca: Recomenda-se precaução em doentes hipertensos com insuficiência cardíaca congestiva dado que não existe experiência de utilização nestes doentes. População de raça negra: Não é necessário um ajuste da dose na população de raça negra. População pediátrica: A segurança e eficácia em crianças e adolescentes dos 0 aos <18 anos de idade não foram ainda estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Via oral e pode ser tomado com ou sem alimentos. CONTRAINDICAÇÕES: - Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. - Gravidez. - Afeção hepática grave.Compromisso renal grave (TFG <30 mL/min/1.73m ). - Anúria.Hiponatremia refratária. - Hipercalcemia. - Hiperuricemia sintomática. O uso concomitante de Edarclor com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Lista tabelada de reações adversas: As reações adversas baseadas nos dados agregados de todos ensaios clínicos de fase 3 são apresentadas em baixo, de acordo com as classes de sistemas de órgãos e termos preferenciais. Estão classificadas por frequência, utilizando a seguinte convenção: muito frequentes (≥ 1/10); frequentes (≥ 1/100, < 1/10); pouco frequentes (≥ 1/1,000, < 1/100); raras (≥ 1/10,000, < 1/1,000); muito raras (< 1/10,000), incluindo notificações isoladas. Dentro de cada classe de frequência, as reações adversas são apresentadas por ordem decrescente de gravidade. Doenças do metabolismo e da nutrição – Reações adversas frequentes: Aumento do ácido úrico no sangue, hiperuricémia. Doenças do sistema nervoso – Reações adversas frequentes: Tonturas, tonturas posturais. Vasculopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão. Doenças gastrointestinais - Reações adversas frequentes: Diarreia, náuseas. Afeções musculosqueléticas e dos tecidos conjuntivos- Reações adversas frequentes:Espasmos musculares. Perturbações gerais e alterações no local de administração - Reações adversas frequentes: Fadiga. Exames complementares de diagnóstico - Reações adversas:muito frequentes: Aumento da creatinina no sangue; Reações adversas frequentes: Aumento da ureia no sangue. Informação adicional sobre os componentes individuais: As reações adversas que se sabe ocorrerem com cada componente administrado isoladamente mas que não foram observadas nos estudos clínicos podem ocorrer durante o tratamento com Edarclor. Clorotalidona: Adicionalmente às reações adversas listadas para o Edarclor, foram notificadas as seguintes reações adversas para a clorotalidona: Doenças do metabolismo e da nutrição Reações adversas:muito frequentes: Aumento dos lípidos no sangue; Reações adversas frequentes: Hipomagnesemia. Cardiopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão postural. Doenças gastrointestinais –Reações adversas frequentes: Perda de apetite, desconforto gastrointestinal menor. Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos –Reações adversas frequentes: Urticaria. Doenças dos órgãos genitais e da mama - Reações adversas frequentes: Impotência. Exames complementares de diagnóstico. Creatinina sérica: O tratamento com Edarclor resultou numa maior incidência de aumentos da creatinina sérica, comparativamente com o azilsartan medoxomilo e a clorotalidona. Estes aumentos foram temporários ou não progressivos e reversíveis, e associados com acentuadas reduções da pressão arterial. Ácido úrico: O Edarclor esteve associado a aumentos do ácido úrico sérico. Os aumentos de ácido úrico são dependentes da dose, aumentando com a dose de clorotalidona, embora tenham sido pouco frequentes as notificações de gota nos grupos de tratamento, mesmo nos estudos de longo prazo. Hemoglobina e hematócrito: O Edarclor esteve associado com reduções ligeiras nos níveis de hemoglobina, hematócrito, e na contagem de células vermelhas, consistentes com os efeitos farmacológicos conhecidos dos inibidores do sistema reninaangiotensina-aldosterona. Experiência pós-comercialização: Foi notificada uma rara incidência de angioedema associado ao uso de Edarclor. Não foram identificadas outras reações adversas nas notificações espontâneas pós-comercialização. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 | 1749-004 Lisboa Tel: +351 21 798 73 73 Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@ infarmed.pt DATA DA REVISÃO DO TEXTO setembro 2021. Para mais informações deverá contactar o representante do titular da autorização de introdução no mercado. MSRM. Medicamento comparticipado no escalão B.

NOME DO MEDICAMENTO: Edarbi 20 mg comprimidos. Edarbi 40 mg comprimidos. Edarbi 80 mg comprimidos. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA

E QUANTITATIVA: Cada comprimido contém 20 mg, 40mg ou 80 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio). FORMA FARMACÊUTICA: Comprimido branco a esbranquiçado redondo, com 6,0 mm, 7,6 mm ou 9,6 mm de diâmetro; com “ASL” gravado numa das faces e “20”, “40” ou “80” gravado na outra face, para os comprimidos de 20 mg, 40 mg ou 80 mg respetivamente. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Edarbi é indicado para o tratamento da hipertensão essencial em adultos. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia A dose inicial recomendada em adultos é de 40 mg uma vez ao dia. A dose pode ser aumentada até um máximo de 80 mg uma vez ao dia nos doentes cuja pressão arterial não é adequadamente controlada com a dose mais baixa. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se visível ao fim de 2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Se a pressão arterial não for adequadamente controlada com o Edarbi isoladamente, pode obter-se uma redução adicional da pressão arterial quando o Edarbi é administrado concomitantemente com outros medicamentos anti-hipertensores, incluindo diuréticos e bloqueadores dos canais do cálcio. CONTRAINDICAÇÕES: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. No segundo e terceiro trimestres da gravidez. O uso concomitante de Edarbi com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal (TFG < 60 ml/min/1,73 m2). Edarbi não é indicado para utilização em crianças ou adolescentes com menos de 18 anos de idade. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Resumo do perfil de seguranca Edarbi nas doses de 20, 40 ou 80 mg foi avaliado em termos de segurança em estudos clinicos com doentes adultos tratados durante até 56 semanas. Nestes estudos clinicos, as reações adversas associadas ao tratamento com o Edarbi foram, na sua maioria, ligeiras ou moderadas, com uma incidência global semelhante ao placebo. As tonturas constituiram a reação adversa mais frequente. A incidência das reações adversas com o Edarbi não foi afetada pelo sexo, idade ou raça. Lista tabelada de reações adversas: As reações adversas baseadas nos dados agregados (doses de 40 e 80 mg) estão classificadas abaixo por frequência. Frequentes (≥ 1/100 a < 1/10): tonturas, diarreia e aumento da creatina fosfoquinase plasmática. Pouco frequentes (> 1/1000, < 1/100): hipotensão, náuseas, erupção cutânea e prurido, espasmos musculares, fadiga e edema periférico, aumento da creatina plasmática e aumento do ácido úrico plasmático. Raras (> 1/10.000, < 1/1000): angioedemas. As reações adversas foram notificadas para a dose de Edarbi 20 mg com uma frequencia semelhante às doses

e partilha de curiosidades relativamente às preferências alimentares de cada um, respondendo a um conjunto de questões

previamente selecionadas. Quebrado o gelo, sistematizou-se a agenda para a manhã e, sem demoras, o grupo subdividiu-se em função das tarefas a concretizar, permitindo uma dinâmica eficaz de rotação.

Enquanto quatro grupos iniciaram a jornada na confeção de receitas práticas e interativas, incluindo desafios, no Laboratório Técnico Alimentar, os outros quatro dirigiram-se à segunda sala de atividades, onde se discutiu o conceito de literacia alimentar e a importância que a rotulagem alimentar assume para concretizarmos escolhas alimentares adequadas, e realizaram exercícios de análise e seleção de produtos alimentares destinados à alimentação nos primeiros 1000 dias de vida. Concretamente, procederam à avaliação de produtos alimentares direcionados ao público infantil, como iogurtes, sna-

Mindfulnessna gravidez

Mariana Vaz Marques

Técnica superior de Psicologia Clínica na Ul S de Coimbra. Facilitadora certificada de vários programas de mindfulness

Mindfulness diz respeito à consciência que emerge por prestar-se atenção de uma forma particular, com intencionalidade, sem julgamento, ao momento presente (Kabat-Zinn, 2005). Foi Jon Kabat-Zinn que desenvolveu o programa baseado em mindfulness mais reconhecido, em todo o mundo e que já recolheu francas evidências dos benefícios que lhe estão associados, o programa Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR).

Assim, o MBSR demonstrou contribuir para a promoção da saúde mental e física e para o bem-estar geral na população em geral (Khoury e colaborado-

res, 2013), assim como em populações clínicas. Revelou associar-se, igualmente, à redução de stresse, ansiedade e depressão (Kuyken et al., 2016). Depois do MBSR, vários programas baseados em mindfulness foram desenvolvidos, como o Mindfulness Based Cognitive Therapy (MBCT, Segal, Williams & Teasdale, 2002) e o Mindfulness Based Childbirth and Parenting (MBCP; Bardacke, 2012). A aplicação de programas como o MBCP no período perinatal tem revelado resultados encorajadores, no que toca à

A aplicação de programas como o MBCP no período perinatal tem revelado resultados encorajadores, no que toca à promoção do bem-estar e à redução de distresse psicológico das participantes.
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reações
suspeitas
autorização
medicamento é
uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P. Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/ submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 1749-004 Lisboa Tel: +351 21 798 73 73 Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@ infarmed.pt Data da revisão do texto: Abril 2022. MSRM. Medicamento comparticipado escalão B Para mais informações contactar o titular da autorização de introdução no mercado. Está disponível informação pormenorizada sobre este medicamento no sítio da internet da Agência Europeia de Medicamentos: http://www.ema.europa.eu. TEDARC222A2CA /Mai/2022, revalidado anualmente Zona Industrial da Abrunheira; Rua da Tapada Grande n.º 2 — Abrunheira • 2710-089 Sintra NIF: 500 626 413 20mg • 40mg • 80mg comprimidos azilsartan medoxomilo 40/12,5mg • 40/25mg comprimidos azilsartan medoxomilo/clorotalidona AN EDARBI_EDARCLOR 235x328mm_abril2022.indd 2 05/05/2022 17:03
de 40 e 80 mg num estudo controlado por placebo. Notificação de suspeitas de
adversas A notificação de
de reações adversas após a
do
importante,
Especial ❶ ➊ ❷ ❷ ❸ ❸ ➍ ➍

cks, papas lácteas e papas não lácteas, com recurso à análise da rotulagem alimentar. A discussão foi rica, refletindo sobre a adequação nutricional, as perceções de escolha e consumo desses alimentos por parte dos consumidores, sustentabilidade alimentar, estratégias de marketing alimentar inerentes, bem como considerações acerca do preço. Terminados os momentos de confeção no Laboratório Técnico Alimentar, todos os participantes se juntaram para assistir à apresentação e degustação das receitas produzidas e realizar um debate que, dependendo da receita, poderia incidir sobre a adequação nutricional da mesma, a adaptação da receita em termos de consistência, porções e progressão de texturas, tendo em conta os diferentes métodos de diversificação alimentar (tradicional vs. Baby-Led Weaning), assim como a

participação nas refeições familiares.

A rotação dos pequenos grupos de trabalho pelas diferentes atividades, a par dos momentos de discussão com todos, proporcionou uma experiência completa e enriquecedora. Também os métodos de aprendizagem ativos adotados foram determinantes para o sucesso da ação.

Os participantes deram feedback, destacando que aprenderam muito durante o evento. Com entusiasmo, incentivaram a organização de mais iniciativas desta natureza, integrando a aprendizagem teórica com a prática, e sublinharam a importância de uma adequada estratégia de divulgação na tentativa de alcançar as várias comunidades profissionais. Por uma melhor saúde alimentar das futuras gerações, Hands-on Alimentação e Nutrição!

Atividade física

Vanda Guerra

Doc. Escola Sup. Educação João de Deus e da FMhUl . Formad. Motricidade Infantil, Pilates (método completo) e Pilates para Crianças. Prof.ª ed. Física (0-10 anos) e de Pilates

ultrapassar os 60 minutos diários. O que isto significa? Que alteração é esta nos nossos hábitos, que é necessário indicar que um bebé não deve estar parado, não deve passar o dia sentado na espreguiçadeira, nem fechado em grades, nem com tecnologias como hipnotizadoras da sua atividade.

promoção do bem-estar e à redução de distresse psicológico das participantes. O MBCP foi desenvolvido por Nancy Bardacke (2012), com base no MBSR, e visa promover a saúde familiar e o bem-estar, através da prática de mindfulness durante a gravidez, parto e parentalidade, com duração de nove semanas e um dia de retiro em silêncio.

Em 2010, Duncan e Bardacke aplicaram o programa a 27 mulheres grávidas durante o terceiro trimestre de gestação, verificando: diminuição da ansiedade, depressão e afeto negativo; aumento do mindfulness e modesto aumento na frequência e intensidade do afeto positivo. Os autores constataram, ainda, que as mulheres grávidas que participaram no programa recorriam ao mindfulness mais frequentemente para lidar com aspetos stressantes da gravidez e da vida familiar após programa.

Estes resultados, como os de outros estudos realizados na sequência da aplicação de programas baseados em mindfulness, no período perinatal, revelam que ensinar mindfulness durante esse período pode aumentar o repertório de estratégias adaptativas para lidar com o stresse (nesta fase da vida das pessoas e ao longo de toda a vida).

Em Portugal, uma equipa de investigadores do Serviço de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universida-

de de Coimbra desenvolveram o programa A Mãe que há em Mim, recentemente publicado em formato de livro (Marques et al., 2023). Neste livro, mulheres grávidas e puérperas, como casais/famílias e mesmo profissionais de saúde, têm acesso a um programa detalhado, de nove semanas (e incluindo um dia de prática intensiva), inspirado em vários programas baseados em mindfulness e autocompaixão (incluindo vários elementos da terapia cognitivo-comportamental de segunda geração e conteúdos psicoeducativos), que recolheram amplas evidências dos benefícios que lhes estão associados em termos da promoção do bem-estar e da prevenção do distresse psicológico. Num estudo controlado aleatorizado piloto (com trinta e duas mulheres fazendo parte do grupo experimental) do programa A Mãe que há em Mim, as mulheres que integraram o grupo experimental e que realizaram, com mais frequência, as práticas propostas vivenciaram uma redução dos sintomas depressivos, do afeto negativo e da ansiedade, para além de um aumento da autocompaixão (por oposição com os grupos de controlo). Os resultados qualitativos também fundamentaram os benefícios do mindfulness e da autocompaixão neste período da vida das mulheres/casais (Marques et al., 2022).

Ao longo dos últimos anos, temos assistido a um flagelo de inatividade física que afeta todo o espetro da população. Os hábitos sedentários começam logo nos bebés e vão-se intensificando ao longo do tempo, repercutindo-se numa diminuição da qualidade de vida. Isto é tão mais preocupante que a própria OMS (2020) sentiu a necessidade de deixar por escrito recomendações que abrangem os bebés, as grávidas e todos aqueles que, até então, não eram referidos diretamente.

Algumas das mensagens mais importantes referem que a) “a atividade física é boa para o coração, o corpo e a mente” e até sabemos que o exercício funciona como antidepressivo; b) “qualquer quantidade de atividade física é melhor do que nenhuma e quanto mais melhor; e que toda a atividade física conta”, por isso, troquemos os elevadores pelas escadas, façamos as escadas rolantes a andar; c) “todos podem beneficiar com o aumento da atividade física e a redução do comportamento sedentário” − para além dos benefícios na saúde, há menos gastos com a mesma, a sociedade fica mais produtiva e mais criativa, há uma valorização da economia, maior qualidade de vida, mais anos de vida, ou seja, seremos todos mais felizes.

Mas o que nos deve levar a refletir particularmente é passar a estar escrito num documento que bebés até 1 ano devem fazer, no mínimo, 30 minutos de atividade física diária e até aos 2 esse valor deve subir para os 180 minutos. Que até 1 ano o consumo de “ecrã” deve ser de zero minutos e dos 1-2 anos não deve

Os bebés devem poder mexer-se, porque por cada movimento que fazem uma sinapse dispara no cérebro, uma memória é criada, um reportório é aumentado. É a mexer que as crianças conhecem o mundo, e muito com os pés, com a boca, com as mãos. É preciso deixá-las explorar o meio envolvente, tocarem, verem, ouvirem, cheirarem, saborearem. Já não se podem sujar, mas é exatamente esse excesso de limpeza que lhes está a tirar a imunidade, que lhes está a trazer mais alergias e problemas respiratórios. Por isso é que, quando os pais me perguntam em que atividades devem colocar os filhos, eu respondo “Brinque com o seu filho e vá para a natureza.” Porque não há atividade nenhuma, não há simu-

É a mexer que as crianças conhecem o mundo, e muito com os pés, com a boca, com as mãos.

lador nenhum, no que toca à oferta de estímulos, que atinja a perfeição que a natureza nos proporciona. A natureza é repleta de estimulação sensorial, na dose certa e exata para as nossas crianças, sem excessos, de forma natural e equilibrada. Levar a criança para a natureza vai também obrigar o seu progenitor a encontrar forma de ter tempo para “não pensar no tempo”, e usufruir, também ele, dos benefícios de estar na natureza. Conectar-se e relaxar da azáfama que é a vida. Todos beneficiam, pais e filhos.

Outro dado curioso revela que uma mãe ativa duplica a probabilidade de o seu filho vir a ser fisicamente ativo. E essa influência pode ter início logo na gravidez, quando o bebé segue o ritmo da mãe. Por isso, mesmo que não seja ativa, a grávida pode e deve iniciar atividade física. A OMS recomenda que a grávida se exercite, no mínimo, com 150

minutos de atividade física moderada por semana (tanto exercício aeróbico como de fortalecimento muscular). Significa que, independentemente da escolha, deve garantir um equilíbrio entre atividades aeróbias (sem impacto) e atividades que fortaleçam e alonguem o corpo, privilegiando a compensação postural. E, acima de tudo, tem de se sentir bem, confortável e o exercício ser um momento prazeroso e não uma fonte de stress

Após o nascimento do bebé, a mãe deve ser incentivada a prosseguir com a sua prática de exercício, fazendo sempre uma avaliação da sua diástase, cicatriz (em caso de cesariana) e saúde do soalho pélvico. Todos estes fatores são fundamentais, e muitas vezes descurados, para uma boa recuperação pós-parto, e podem influenciar de forma determinante a vida da recente mãe, não só ao nível físico como emocional e familiar.

A todos aqueles que lidam com esta população, estejam atentos aos sinais e alertem para a necessidade de as escolhas serem feitas junto de profissionais devidamente formados e especializados nesta temática, e quanto mais personalizado o exercício melhor. Profissionais com formações em treino personalizado, exercício na gravidez e pós-parto, saúde pélvica, Pilates e abdominais hipopressivos são relevantes e de privilegiar.

No fim, todos queremos o mesmo, ser felizes e saudáveis, e isso começa bem lá atrás, ainda dentro do útero da mãe.

Uma mãe ativa duplica a probabilidade de o seu filho vir a ser fisicamente ativo. E essa influência pode ter início logo na gravidez, quando o bebé segue o ritmo da mãe.

Jornal Médico | 27 Abril 2024
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Imagem gentilmente cedida pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão.
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