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Rui Costa
Vítor C. Veríssimo
O tabaco é a principal causa de DPOC, mas está longe de ser a única
Vacinação: principal forma de prevenção da doença invasiva pneumocócica
jornal médico
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dos cuidados de saúde primários
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Diretor: José Alberto Soares Mensal • Dezembro 2023 Ano XI • Número 119 • 3 euros
Especial XVIII Congresso sobre Envelhecimento
dos cuidados de saúde primários
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USF vale do sorraia, aces lezíria
Sofia Lemos, presidente do 14.º Encontro Nacional das USF:
“Estamos comprometidos com a ideia de que os CSP são o alicerce de um Sistema de Saúde resiliente e eficaz” André Biscaia, presidente da USF-AN, apresenta o Estudo
Ministro da Saúde
surpreendido em manifestação _ P. 4
Coruche tem “mini-hospital” que oferece recursos diferenciados
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Inserida num meio rural e industrial, esta Unidade de características invulgares evita muitas deslocações dos seus utentes ao hospital mais próximo, que fica a várias dezenas de quilómetros de distância. Importa registar que os médicos internos da USF Vale do Sorraia a recomendam por proporcionar oportunidades únicas de aprendizagem e até pelo seu “ambiente familiar”.
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Dezembro 2023
DIAGNÓSTICO
Entrevista DE
ENFERMAGEM
Programas políticos amorosos, precisam-se!
Pedro Melo Doutor em Enfermagem. Professor adjunto na Escola Superior de Enfermagem do Porto Falar de Amor e Política num mesmo texto parece bizarro. Mas, na verdade, o objetivo do “Diagnóstico de Enfermagem” deste mês é precisamente desmistificar que um sentimento nobre e a política podem e devem complementar-se.
Desde logo, entendendo que quando se aborda o conceito de política não se está a falar de partidos nem de listas para qualquer estrutura social. Política é a base filosófica enformadora da mobilização dessas listas organizadas em torno de ideais. Quando Pessoas Humanas se mobilizam para formar um grupo com ideais só estão em política se se nortearem pelo seu significado e ancorarem os seus processos nele. A palavra em si, política, tem origem no termo grego “politikos” e queria referir-se aos cidadãos que viviam na Polis e tinham participação ativa na organização social. Mas eu diria que o verdadeiro significado vem de muito antes disso. A organização das sociedades em estruturas planeadas, como as cidades, advém de uma competência social única atribuída às Pessoas Humanas e que lhes permite tomar decisões para o bem comum. Por isso a política é, na verdade, ancorada no ideal de um bem comum, co-construído em torno de grupos de Pessoas Humanas que discutem, participam e decidem sobre o presente e o futuro da sociedade, aprendendo com as experiencias do passado.
Mas, então, onde entra aqui o Amor? Pois bem, o Amor é um sentimento e, como tal, pela linha conceptual com que mais me identifico, é um processo exclusivo das Pessoas Humanas. Não estou propositadamente a referir-me a Seres Humanos, porque quero precisamente acoplar o sentimento à inteligibilidade defendida por Hannah Arendt, que desde logo nos permite dignificar a existência numa construção assente em valores, crenças e atitudes de interação social amorosas tão distintas de uma relação irracional e espontânea. A participação ativa dos cidadãos da Pólis, defendida por Aristóteles para se referir aos “politikos”, já tinha de estar assente nesta inteligibilidade. O que distingue os sentimentos das emoções é precisamente isso. As emoções, como o medo, a raiva, a alegria ou a paixão, são reações espontâneas a situações vivenciadas e que todos os Seres Vivos têm, de forma tendencialmente irracional. Mas sentimentos como o ódio, a felicidade ou o Amor (já repararam decerto que o coloco sempre com a primeira letra capital) são exclusivos das Pessoas Humanas, que, mais do que se-
res humanos, ultrapassam a barreira da biologia e usam os atributos únicos de inteligibilidade para construir, através de emoções, crenças e valores, sentimentos que se perpetuam e solidificam em si e nos outros. Porque intitulei então este “Diagnóstico de Enfermagem” com: Programas políticos amorosos, precisam-se? Porque em variados contextos observamos as mobilizações de Pessoas Humanas que muitas vezes se despem dessa condição e ficam apenas organizações de seres humanos, que reagem às emoções de forma irracional, constroem programas assentes em egoísmo e corporativismo e, infelizmente, mais vezes do que deveria acontecer, invadem vidas, destroem vidas, ceifam sociedades, mas nunca em prol de um bem comum. Com as lentes da Enfermagem, eu diria que, ao longo do ciclo vital dos seres humanos, é preciso intencionalmente diagnosticar e prescrever ações de construção de Pessoas Humanas. Desde que nascemos até que morremos. Há diagnósticos de Enfermagem, nos quais tenho particularmente tido mais
atenção enquanto investigador, que claramente se associam a esta mobilização dos conhecimentos, crenças, valores, atitudes, numa inteligibilidade ativa e dignificadora. Nas pessoas individualmente, o diagnóstico no foco “Processo de tomada de decisão” é de uma importância por maior e devia estar plasmado nos diferentes programas de saúde para otimizar a construção de Pessoas Humanas com processos intencionais amorosos. Do ponto de vista coletivo, o diagnóstico no foco “Gestão Comunitária” permite enquadrar a co-construção de uma participação e de uma liderança comunitárias assentes nos mesmos princípios, mas de uma forma coletiva. Ciência e Política não só se podem associar ao Amor como devem ancorar-se nele, para garantir que não se extinguem as Pessoas Humanas. É preciso nortear as políticas públicas, seja na dimensão económica, social ou da saúde, num processo de desenvolvimento de uma hierarquia dos valores certos, assente em crenças construtivas e dignificadores e promotora de emoções positivas nas pessoas. A tudo isso se chama Amor.
Manifestação à porta do Ministério da Saúde 4
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Lisboa 1992
O presidente da USF-AN André Biscaia, o ministro da Saúde Manuel Pizarro e os ex-presidentes da Associação João Rodrigues e Bernardo Vilas Boas (por esta ordem, na foto de 2023) participaram naquela que poderá ter sido a 1.ª grande manifestação de médicos de sempre, mobilizando centenas de internos do Internato Geral, que protestavam contra o mapa de vagas (muito poucas!) para formação no Internato Complementar. André Biscaia confirma que “o sucesso foi total, com a abertura de muito mais vagas”. No último Encontro Nacional das USF, no final de setembro, o grupo foi fotografado pela Just News, podendo concluir-se que os quatro continuam tão elegantes e jovens como há 31 anos!
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Aveiro 2023
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JORNAL MÉDICO
Diretor: José Alberto Soares Redação: Miguel Anes Soares, Raquel Braz Oliveira Fotografia: Nuno Branco, Nuno Cruz Publicidade: Ana Mota, Diogo Varela Diretor de Produção Gráfica: José Manuel Soares Diretor de Multimédia: Luís Soares Morada: Alameda dos Oceanos, Nº 25, E 3, 1990-196 Lisboa Jornal Médico é uma publicação híbrida da Just News, de periodicidade mensal, dirigida a profissionais de saúde, isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99, de 9/06, Artigo 12º nº 1A Tiragem: 12.000 exemplares Preço: 3 euros Depósito Legal: 355.701/13 Notas: 1. A reprodução total ou parcial de textos ou fotografias é possível, desde que devidamente autorizada e com referência à Just News. 2. Qualquer texto de origem comercial eventualmente publicado neste jornal estará identificado como “Informação”.
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Presidente do Júri | José Melo Cristino
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Dezembro 2023
Entrevista
Rui Costa, médico de família, co-coordenador do Allergy & Respiratory Summit:
“Cerca de metade dos casos de DPOC nada tem a ver com o consumo de tabaco” O médico de família Rui Costa alerta para a circunstância de o tabaco não se apresentar como a única causa de DPOC, apesar de ser a principal. O facto de metade dos casos ter outra origem vem reforçar a importância de se recorrer à espirometria para os identificar. Esta doença estará em destaque na 1.ª edição do Allergy & Respiratory Summit, a decorrer em Lisboa, nos primeiros dias de fevereiro.
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As últimas guidelines da Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Desease (GOLD), divulgadas nas últimas semanas, apresentaram como grande novidade a recomendação de que todos os doentes com DPOC com mais de 60 anos deverão ser vacinados para o vírus sincícial respiratório, adicionalmente à prevenção vacinal já anteriormente aconselhada para a gripe, a doença pneumocócica, o herpes zoster e a tosse convulsa. “Em termos de diagnóstico, mantém-se tudo na mesma, sendo a DPOC caracterizada pela presença de sintomas respiratórios crónicos como a tosse, a dispneia ou a expetoração, com alterações em termos das vias aéreas ou a nível pulmonar, nomeadamente o enfisema, que levam à obstrução do fluxo aéreo”, afirma Rui Costa, co-coordenador do Allergy & Respiratory Summit, frisando: “O diagnóstico é sempre feito com uma espirometria após broncodilatação, em que se mantém o critério de diagnóstico de DPOC quando a relação FEV1/FVC for inferior a 70%.” Mas o especialista de MGF sublinha haver uma crescente chamada de atenção para o facto de “cerca de metade dos casos de DPOC não ter na sua origem o consumo de tabaco, embora este continue a ser a principal causa de doença pulmonar obstrutiva crónica”. “Esta doença resulta de uma interação entre a nossa genética e o ambiente, interação essa que vai ocorrendo ao longo do tempo”, explica, referindo o défice de alfa-1 antitripsina como exemplo de uma das al-
terações genéticas “que poderão predispor realmente ao desenvolvimento de DPOC”. Mas Rui Costa logo acrescenta, como possível fator de risco, o desenvolvimento pulmonar anormal, ainda durante a fase intrauterina, ou nos primeiros anos de vida, fazendo com que, na infância, “a criança não consiga ter uma maturidade perfeita e plena do pulmão, podendo mais tarde vir a ficar suscetível a sofrer de DPOC”.
Rui Costa: “Os médicos de família têm que ter presente que a DPOC não está relacionada apenas com o tabaco, porque senão vão deixar de fazer muitos diagnósticos.” As infeções respiratórias de repetição, a tuberculose e as situações de asma de longa duração, quando esta não é corretamente controlada ao longo do tempo, podem também vir a despoletar uma DPOC. No que diz respeito ao ambiente, “temos basicamente o fumo do tabaco, direto ou indireto, ou seja, de quem fuma ou de quem está exposto ao fumo passivo, mesmo com a utilização do e-cigarro ou com o consumo de canábis”. Rui Costa
“Para identificarmos um caso de DPOC é obrigatório termos realizado uma espirometria com prova de broncodilatação”, afirma Rui Costa
acrescenta, como fatores de risco para a DPOC, “a exposição aos produtos da combustão de combustíveis fósseis e aos poluentes ambientais e de biomassa, nomeadamente no interior das habitações, com o aquecimento ou o cozinhar a lenha”. A própria poluição atmosférica tem igualmente a sua influência, “já que a inalação de gases, fumos e poeiras, uma vez absorvidos a nível pulmonar, pode desencadear ou agravar uma doença respiratória”. A conclusão de Rui Costa acaba por ser um alerta: “Os médicos de família têm que ter presente que a DPOC não está relacionada apenas com o tabaco, porque senão vão deixar de fazer muitos diagnósticos.” A importância de rastrear a DPOC é indiscutível, embora “não de uma forma indiscriminada a toda a população, mas a grupos-alvo, nomeadamente a quem apresenta sintomas ou fatores de risco, ou quando, no decurso de uma avaliação clínica a um doente, encontramos alterações pulmonares anormais”.
“Mesmo quando fazemos o diagnóstico, por exemplo, do cancro do pulmão também devemos proceder ao rastreio da DPOC, porque esta é igualmente um fator de risco acrescido para o desenvolvimento de cancro”, esclarece o médico. Rui Costa faz questão de sublinhar que “a DPOC só se consegue diagnosticar se fizermos uma espirometria com prova broncodilatadora, sendo a sua realização, portanto, obrigatória”. Deixa mesmo claro que, “se nós não tivermos esse dado que documente um quadro obstrutivo das vias aéreas após broncodilatação, não poderemos dizer que determinada pessoa tem DPOC, apesar de ter sintomas ou fatores de risco”. A esse respeito, o nosso interlocutor admite que, “por vezes, não é fácil para o médico de família ter acesso à espirometria, por haver alguma iniquidade na acessibilidade à mesma. Ora, isso faz com que, a nível nacional, haja locais em que ainda é um grande desafio ter acesso a este método de diagnóstico, que é fundamental para confirmar uma DPOC”.
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Evento abrange doenças alérgicas e respiratórias O especialista de MGF Rui Costa e o imunoalergologista Mário Morais de Almeida são os promotores e coordenadores do Allergy & Respiratory Summit, evento formativo especialmente dirigido a médicos de família. O modelo híbrido da reunião permitirá que um maior número de interessados possa ter acesso às sessões, facilitando também a internacionalização do projeto. Para mais informações: geral@allerg yrespiratory.pt
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Notícia
Sofia Lemos, presidente da Comissão organizadora do 14.º Encontro Nacional das USF
“Estamos comprometidos com a ideia de que os CSP sã Durante dois dias, a 13 e 14 de outubro, o Centro de Congressos de Aveiro foi o palco da edição de 2023 do Encontro Nacional da USF-AN. Na sessão de abertura, a enfermeira Sofia Lemos, na sua qualidade de presidente do evento, sublinhou: “Nós precisamos de acreditar!”. O secretário clínico Nelson Magalhães, vice-presidente da Associação, insistiu: “Não há reforma do SNS sem a participação dos profissionais.” Manuel Pizarro, ministro da Saúde, concordou com a ideia de que “com mais USF há mais saúde”. E André Biscaia, presidente da USF-AN, apresentou os resultados da 13.ª edição do estudo “O Momento Atual da Reforma dos CSP em Portugal”. Começando por fazer questão de lembrar que os profissionais de saúde presentes no auditório “são o suporte dos CSP” e que “sem o vosso compromisso, sem a vossa paixão, não estaríamos onde estamos hoje”, a presidente da Comissão Organizadora do 14.º Encontro Nacional das USF deixou o desabafo: “Nós precisamos de sonhar! De acreditar! De ter esperança que as nossas dúvidas e receios não passem disso mesmo e que os nossos sonhos, afinal, se realizem.” O apelo deixou-o logo a seguir: “Vamos todos juntos acreditar que, num futuro próximo, os nossos representantes nos deem condições de trabalho que nos permitam conciliar a vida profissional com a pessoal; que as nossas carreiras profissionais sejam mais atrativas e compensadoras; que o tempo que passamos no local de trabalho seja mais centrado no utente e menos na burocracia; que vamos ter condições de trabalho adequadas e ajustadas às necessidades dos profissionais e dos utentes.” Afirmando que médicos, enfermeiros e secretários clínicos estão “dedicados a uma causa comum”, não deixou de manifestar o seu “profundo orgulho” em
mental e a prevenção de doenças crónicas são apenas algumas das áreas em que podemos e devemos melhorar.” Concluindo: “Estamos hoje aqui como agentes de mudança, profissionais comprometidos com a ideia de que os CSP são o alicerce de um Sistema de Saúde resiliente e eficaz, responsáveis em tornar a saúde acessível a todos.”
Sofia Lemos
As ULS e o risco de uma maior centralização dos serviços de saúde
representar, como presidente da CO do Encontro, a classe dos enfermeiros: “A nossa missão é nobre e fundamental! Tal como os médicos e os secretários clínicos, também os enfermeiros fazem parte de um enorme puzzle que se chama USF.” Sofia Lemos lembrou que “o que torna um puzzle único e desafiante é o facto de todas as peças terem o seu próprio e único lugar para poderem encaixar na perfeição e obter o melhor resultado”. E
À data de 13 de outubro, já havia sido anunciada a abolição das quotas admi nistrativas para a constituição de USF A e B. Nelson Magalhães, falando em nome da Direção da USF-NA, não podia deixar de se congratular com a decisão de se tomar uma medida considerada “essencial” pela Associação. “Consideramos que estas quotas têm sido a principal razão para a crise de atração e fixação de profissionais que os CSP atra-
acrescentou: “Assim são as equipas multidisciplinares, a colaboração entre os diferentes profissionais traz uma riqueza de conhecimentos e experiências que permitem uma abordagem holística e personalizada dos cuidados ao utente e família, gerando melhores resultados em saúde e uma experiência mais positiva para o cidadão. Importa, por isso, construir equipas
multidisciplinares, cooperantes, comunicantes e competentes.” Frisando que, “ao longo dos anos, as USF têm demonstrado a sua eficiência e capacidade de adaptação, enfrentando desafios e superando obstáculos”, afirmou haver consciência de haver ainda muito a fazer. Exemplificando: “O acesso equitativo à saúde, a promoção da saúde
Estudo “O Momento Atual da Reforma dos CSP em Portugal 2022/2023 – Questionário aos Coordenadores de USF”
Os resultados e as conclusões para o futuro
André Biscaia Médico de família. Presidente da USF-AN. Coautor do Estudo
As USF e os CSP estão numa fase crucial da sua existência. A USF-AN lutou muitos anos pelo resultado que se conseguiu no passado dia 7 de novembro de 2023, pelas primeiras horas da manhã, com a generalização, sem quotas, do modelo B das USF. No entanto, esta medida veio amarrada a outras menos úteis para a evolução dos CSP e o Governo caiu nesse mesmo dia pela hora do almoço, deixando o decreto-lei dependente da publicação de várias regulamentações, e assim estamos na altura em que escrevo este artigo.
No 14.º Encontro Nacional das USF foi apresentada a 13.ª edição do Estudo “O Momento Atual da Reforma dos Cuidados de Saúde Primários em Portugal 2022/2023 – Questionário aos Coordenadores de USF”. Este Estudo mantém o objetivo, desde 2009, de caracterizar o estado da Reforma dos CSP de 2005 através da avaliação que os coordenadores das Unidades de Saúde Familiar (USF) fazem do momento atual desta Reforma. Como ponto da situação, existiam a 9/10/2023 616 USF (348 B e 268 A)
e 138 candidaturas ativas a USF. Este Estudo é um censo, tendo sido inquiridos, de julho a setembro de 2023, todos os coordenadores de USF em atividade nesse período. Existiam, na altura, 615 USF. O Estudo obteve 484 respostas, o que corresponde a uma taxa de resposta de 78,7% em relação ao universo dos coordenadores de USF em atividade, a maior taxa de resposta de sempre e um número recorde de respondentes. Em 7 das 13 edições, registaram-se taxas de resposta
acima dos 70%, 6 das quais nos últimos 6 anos. Os primeiros resultados revelam que a grande maioria (97,7%, um aumento relativamente aos 94,08% do ano passado) das USF modelo A pretende passar a modelo B e cerca de 50,3% (apenas 35,26% no ano passado) já se candidataram a modelo B. Não restam dúvidas, portanto, que é este o modelo em que as equipas querem continuar. 80,6% (+ 2,5% em relação ao ano passado) dos coordenadores consideram-
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ão o alicerce de um Sistema de Saúde resiliente e eficaz”
USF-AN: “Um trabalho metódico, persistente, criativo, crítico e construtivo”
vessam e acreditamos que a sua abolição é das medidas que mais problemas vai resolver”, afirmou, salientando que a mesma “vai trazer racionalização na utilização dos recursos nos CSP, libertando meios para outros investimentos igualmente necessários”.
Carlos Cortes, bastonário da OM, com André Biscaia
Nelson Magalhães
Por via das dúvidas, o vice-presidente da USF-AN recordou ainda haver “muito trabalho a ser feito”, como “investir em infraestruturas, em recursos humanos e em mecanismos que possibilitem a maior integração entre as diferentes unidades e setores”. Comentando a temática das Unidades Locais de Saúde, deixou uma chamada de atenção: “Embora seja evidente haver uma intenção no sentido da descentralização no SNS, percebemos que, na prática, as ULS podem potenciar o risco de uma maior centralização dos serviços de saúde. Isto gera preocupação, pois, tende a afastar os serviços de saúde das comunidades locais, dificultando o acesso e a proximidade tão necessários para uma prestação de cuidados eficaz.” Nelson Magalhães também disse ser “preciso reconhecer que não há como
promover ‘a maior reforma do SNS’ sem a participação dos profissionais da área”, pois, “são eles que possuem o conhecimento técnico e a experiência prática para identificar as necessidades reais e implementar as mudanças necessárias”. E afirmou ser “importante considerar a criação de Sistemas Locais de Saúde (SLS) em paralelo com as ULS, como fóruns informais para a integração de cuidados entre todos os atores – públicos, sociais e privados – da saúde de uma dada comunidade”. É fácil perceber porquê: “Estes podem apoiar na promoção de serviços de saúde mais próximos e adaptados às necessidades de cada comunidade.” Já a terminar a sua intervenção, Nelson Magalhães frisou a importância de envolver profissionais de outras áreas na resposta às necessidades da população.
-se insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o momento atual da Reforma dos CSP e 91,7% (+2%) com a atuação do Ministério da Saúde em relação a esta. A apreciação que os coordenadores têm feito do momento atual da Reforma e do Ministério da Saúde deteriorou-se de um modo muito marcado e tem-se agravado muito no último quinquénio. No entanto, é o resultado de políticas que começaram em 2011, ano do início da Troika, e que os resultados deste estudo bem evidenciam. Nesse período, com
um Governo PSD, começaram as quotas para a constituição de USF e o período de desgaste lento das USF. As USF modelo B – único serviço público elogiado no memorando da Troika – entraram num período de asfixia. Nos anos seguintes, os sucessivos governos mantiveram as quotas e os problemas foram-se avolumando, sendo a razão principal para a falta de equipas de saúde familiar para todos os residentes em Portugal. Está agora anunciada a generalização do modelo B
para o início de 2024, mas falta ultimar a operacionalização da medida. Pensamos que é a medida que mais problemas vai resolver. Os níveis de satisfação mais altos, considerando apenas os satisfeitos e muito satisfeitos de todas as estruturas avaliadas, regista-se, então, em relação à atividade da própria USF (68,4%), à USF-AN (61,7%), aos Conselhos Clínicos (58,8%), às Direções Executivas dos ACES (58,4%), seguindo-se as ERA (36,4%) e o Poder Local (29,6%).
Na sua relativamente curta intervenção, que antecedeu um longo período de tempo que Manuel Pizarro disponibilizou para responder a perguntas ou comentar as intervenções da assistência, o ministro da Saúde começou por elogiar a Direção da USF-AN pelo “trabalho metódico, persistente, criativo, crítico e construtivo realizado ao longo dos anos de mobilização dos CSP em torno desta ideia de reforma tão generosa, útil e necessária ao SNS e ao país”. Manifestando-se de acordo com a ideia de que “com mais USF há mais saúde”, o governante afirmou que, “portanto, temos que acarinhar este modelo e conseguir que a reforma recupere a energia, e que é a mesma energia de que precisamos hoje para vencer as dificuldades com que o SNS está manifestamente confrontado”. A propósito dos resultados do estudo entretanto apresentados por André Biscaia, que tiveram como base as respostas ao questionário dadas por praticamente 80% dos coordenadores de USF, Manuel Pizarro afirmou: “Esse estudo identificou problemas difíceis, problemas que precisam de um diálogo, de um percurso para serem ultrapassados, mas também tem outros mais simples, que quase surpreende como é que continuam hoje a constituir uma dificuldade no quotidiano das nossas equipas.” O que não vai ser nada fácil, admite, “com a carência de recursos humanos que
A vida pessoal e familiar colocada no topo das prioridades Quando perguntamos quais os problemas mais importantes que é necessário resolver, a conciliação entre atividades na USF e a vida pessoal e familiar foi colocada no topo das prioridades pelos coordenadores das USF, com uma média de 4,55 (máximo 5). O segundo problema principal é a política de priorização dos CSP, com 4,44, e a dimensão da lista de utentes é o terceiro problema principal referido,
temos, sobretudo nalgumas áreas do país, e temos que o fazer em conjunto, é encontrar um modelo que permita valorizar o trabalho nas USF e aumentar as possibilidades de conciliação da vida pessoal com a profissional” dos seus elementos. Quanto à possibilidade de transição das USF para modelo B, “temos à nossa frente um desafio de grande intensidade, porque não pode ser apenas uma operação legislativa ou administrativa”, disse o ministro, avançando que, de acordo com o modelo que está pensado, cerca de 250 unidades estarão em condições de concretizar essa transição, ou seja, “a grande maioria” das que são hoje modelo A. Manuel Pizarro sublinhou ainda haver, para além das USF, “um conjunto de outras unidades de CSP a que nós também temos que atender e cujas condições de trabalho são essenciais para a harmonização da capacidade de atendimento das populações”.
Manuel Pizarro
Tal como, sendo certo que “os médicos são essenciais no sistema de saúde”, este não é constituído exclusivamente por médicos, “há outros elementos, que também têm as suas aspirações relativamente às carreiras e ao seu desenvolvimento profissional”.
com 4,43. Em quarto lugar de prioridade decrescente encontra-se a interoperabilidade entre programas informáticos em uso na USF, com 4,38. Finalmente, como quinto problema principal temos os incentivos institucionais, com 4,34. Esta hierarquização de problemas varia conforme as ARS. Analisando os principais problemas que carecem de resolução a nível regional, realça-se a ausência de abertura de (Continua na pág. 10)
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Notícia
Espaço
(Continuação da pág. 9) concursos para recrutamento de profissionais na região de LVT, em particular para secretários clínicos. Independentemente das USF estarem ou não integradas em ULS, o problema mais destacado é comum a ambas e diz respeito à conciliação entre a atividade da USF e a vida pessoal e familiar. As USF integradas em ULS priorizam também como problemática a conciliação entre as consultas presenciais e as atividades não assistenciais e o processo da contratualização (não se registando estes problemas nas USF não integradas em ULS). Em contrapartida, as USF não integradas em ULS assumem maior importância na priorização de políticas centradas nos CSP, na interoperabilidade entre programas informáticos em uso na USF e no que toca aos incentivos institucionais. Este ano, as falhas informáticas ocorreram ainda com mais frequência do que no ano anterior: todas tiveram pelo menos uma falha nos 12 meses anteriores. Elas aconteceram mais de onze vezes em 71% das USF. Englobadas nestas últimas, em 26,3% das USF as falhas foram “mais de cinquenta” no último ano, quando em 2022 já tinham sido 23,5% e em 2020/21 16%. Quanto à resolução da indisponibilidade, na maioria das vezes, esta ocorre no mesmo dia, mas com atrasos importantes (77,4%). Em 8,5% dos casos a resolução só ocorreu no dia seguinte e em 4,2% apenas 48 horas depois. Quando questionamos os coordenadores se “Não ter tido acesso às aplicações informáticas perturbou a qualidade dos cuidados que a USF prestou?“, 96,5% confirmaram esse impacto negativo. Em todas as edições este valor é superior a 90%, parecendo não haver solução por parte da administração. Passando para o funcionamento do ACES, cerca de metade dos coordenadores considera que a sua USF não tem instalações adequadas. Os valores relativos a faltas de material básico para a atividade da USF voltaram a subir e no presente ano para o valor mais alto de sempre, com 95,6% das unidades a terem falta de material considerado básico para a atividade normal de uma USF durante o ano, sendo que 50,2% das USF registaram que estas faltas aconteceram mais de 10 vezes, em 32,9% 3 a 10 vezes e em 12,5% uma a duas vezes. Quanto à rapidez de reposição dessas falhas, só em 1,1% das USF é que
ocorreu, para a maioria dos casos, no mesmo dia e sem atrasos importantes, sendo este o pior resultado de sempre e demonstrando claramente a falência das estruturas de apoio às necessidades dos utentes e dos profissionais por parte das estruturas da administração – ARS, ULS e ACES.
Nutrição
2 estudos, prefere mais consultas presenciais do que à distância (2020/21 - 79,1%, 2021/22 - 77% e 2022/23 - 79,8%), enquanto cerca de 5,6% preferem um sistema que privilegia as consultas à distância, um pouco superior aos 5,4% obtidos no Estudo do ano passado. Salienta-se ainda que cerca de 14,6% demonstram preferência por um modelo híbrido equilibrado.
Falta de profissionais Quanto à força de trabalho, em média, continua a faltar 1 elemento de cada grupo profissional nas USF em relação ao que estava acordado. As faltas têm maior expressão no grupo dos médicos, depois no dos secretários clínicos e, finalmente, no grupo dos enfermeiros. Em 85,7% das USF respondentes, nos últimos 12 meses, houve pelo menos um profissional ausente mais de 30 dias, sendo que, na maioria (65,9%), a intersubstituição foi assegurada em exclusivo pelos profissionais da equipa. Quanto à segurança e bem-estar dos profissionais, 77,3% das USF tiveram pelo menos um episódio de qualquer tipo de violência nos últimos 12 meses. No que respeita à evolução das políticas implementadas ou propostas, quanto à decisão de extinção das ARS, 26,8% dos coordenadores está em desacordo ou muito desacordo, enquanto 25% está de acordo. Já quando se analisam as diferenças entre USF integradas ou não em ULS, é nas não integradas que existem mais coordenadores que concordam com a extinção das ARS. Quanto à criação das ULS, mais de 52% dos coordenadores de USF estão em desacordo ou muito em desacordo, enquanto 12,7% estão de acordo ou muito de acordo, estando as USF Modelo B em maior desacordo. De realçar que os coordenadores de USF não integradas em ULS estão em maior desacordo com esta criação (53,9%) do que as USF integradas (36,2%). Em relação à generalização das ULS a todo o território nacional, mais de 54% estão em desacordo ou muito em desacordo e 10,4% estão de acordo ou muito de acordo, estando as USF Modelo B em maior desacordo novamente. De novo, os coordenadores de USF não integrados em ULS estão em maior desacordo com esta generalização (56,1%) do que as USF integradas (40,4%). Quanto ao atendimento da USF do Futuro, a maioria dos coordenadores, e numa percentagem superior aos últimos
É necessária uma renovada estratégia para a Saúde em Portugal! O setor da Saúde nacional, em particular a sua força de trabalho, e os contextos nacional, europeu e mundial sofreram, nos últimos dois anos, mudanças profundas. Esta transformação obriga a uma modificação da estratégia das políticas de Saúde adotadas quando o atual Governo tomou posse. As políticas não estão a acompanhar esta mudança e, por isso, não estão a resultar nas respostas necessárias. Reconhecemos, no entanto, progressos no Governo quanto ao reconhecimento e aplicação das medidas sugeridas pela USF-AN, de que são exemplo a generalização das USF modelo B, a abertura de todas as vagas disponíveis para médicos de família nos concursos de recrutamento ou a autodeclaração de doença. No último capítulo do relatório do Estudo apresentamos um mapa de melhorias extenso, detalhado, pronto a usar. Num primeiro momento, uma visão de helicóptero do Sistema de Saúde, em particular do SNS, organizada em 15 domínios, com identificação da situação/ /problema e apresentação de estratégias e soluções. Seguem-se dois planos estratégicos mais detalhados para cada uma das duas reformas anunciadas: • Generalização do modelo B das USF e • Generalização das ULS. Este é mais um contributo da USF-AN para a melhoria do SNS. (É possível consultar o estudo aqui: Relatório Estudo Momento Atual 2022-2023 - USFAN.pdf | Fornecido pelo Box.) Neste momento em que está em jogo o futuro das USF e dos CSP, que tão bons resultados têm trazido para a sociedade portuguesa, os dados deste Estudo têm que ser aproveitados! Nota: Foram também coautores do Estudo António Pereira, Ana Maria Alves, Rui Cardeira, Leonor Rocha e Gonçalo Melo.
Filipa Almeida Azevedo Nutricionista Auchan. Membro da Ordem dos Nutricionistas n.º 1914N filipalaborinho.azevedo@auchan.pt
Prevenir as alergias alimentares A prevalência de doenças alérgicas tem vindo a aumentar. De acordo com a OMS, sem medidas preventivas, em 2050, 50% da população será afetada por alguma alergia. As alergias alimentares (AA), em conjunto com a dermatite atópica (DA), são as primeiras manifestações de doença alérgica, seguindo-se as alergias respiratórias, como a asma e a rinite. Dados de vigilância de reações alérgicas graves em França, na Bélgica e no Luxemburgo sugerem que os principais alergénios são semelhantes aos de outros países europeus e anglo-saxónicos. Entre 2002 e 2020, os alergénios em crianças abaixo dos 16 anos foram, por ordem de frequência: amendoim, caju, leite de vaca e leite de cabra e ovelha, avelã e ovos de galinha. São várias as razões que levam ao aumento das doenças alérgicas. Uma delas, bem conhecida, tem que ver com a “teoria da higiene” – uma diminuição da exposição microbiana; outra prende-se com a globalização e a exposição a novos alergénios; e outras novas teorias têm surgido, como a presença de novel foods (alimentos como insetos introduzi-
dos recentemente na alimentação na Europa) e teorias relacionadas com fatores genéticos. Por outro lado, são vários os fatores de risco de desenvolvimento de AA, como tendência atópica na família e presença de DA; e ainda outros, como parto por cesariana, terapia com antibióticos no período neonatal, dieta pobre em fibra, dieta rica em alimentos processados e deficit de vitamina D. Para crianças com risco de doença atópica (pais ou irmãos com historial) os cuidados preventivos são imperativos. Nestes casos, e quando já há uma pré-alergia existente, deve-se ter atenção a excluir os alergénios também existentes no ambiente, ou seja, o contacto da pele do bebé com alergénios, por exemplo, através dos pais, por consumirem o alimento, ou através de emolientes, como óleo de amêndoas ou outros, deve ser vigiado. São várias as hipóteses e estudos no sentido de prevenir o desenvolvimento de alergias alimentares. Atualmente, estas hipóteses vão mais no sentido da exposição ao alergénio em vez da sua evicção. A hipótese de exposição dupla de alergénios demonstra que existe sensibilização alimentar através da exposição ao alergénio através da exposição cutânea, quando existe uma disfunção da barreira da pele. Por outro lado, no caso da introdução do alergénio através da dieta pelo trato gastrointestinal, vários estudos referem que este é tolerogénico, prevenindo o desenvolvimento de alergias alimentares. Estudos demonstraram que a presença de amendoim no ambiente está associada com o desenvolvimento de AA ao amendoim. Por outro lado, uma exposição a altas doses de amendoim via trato gastrointestinal demonstrou ser tolerogénico. A via alimentar e introdução alimentar nos primeiros meses de vida é, por isso, crucial na prevenção de AA. Embora as recomendações alimentares para a diversificação alimentar tenham sofrido variações, parece haver uma janela de oportunidade entre os 4 e 6 meses para induzir a tolerância aos alimentos, especialmente a alimentos com elevado potencial alérgico e em bebés com elevado risco atópico. Vários estudos demonstram que atrasar a diversificação alimentar não tem efeitos na prevenção de AA e pode até ser responsável por eczema, asma, rinite alérgica e AA.
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Notícia
O estudo Enquiring About Tolerance (EAT) demonstrou que a introdução de seis alimentos altamente alergénicos (leite de vaca, ovo de galinha, sésamo, peixe branco, amendoim e trigo) antes dos seis meses (em vez do aleitamento exclusivo) demonstrou uma menor prevalência de AA. Estes resultados foram mais visíveis para uma redução da alergia ao amendoim e ao ovo. Os autores também demonstraram que o consumo de 2 g de proteína de amendoim e de clara de ovo por semana é necessário para prevenir alergia. Esta diversificação alimentar mais precoce entre os 4 e os 6 meses não influencia a continuidade da amamentação.
Embora as recomendações alimentares para a diversificação alimentar tenham sofrido variações, parece haver uma janela de oportunidade entre os 4 e 6 meses para induzir a tolerância aos alimentos. A introdução do iogurte no primeiro ano de vida também foi relacionada com um menor risco de vir a sofrer de AA e de desenvolver asma aos seis anos. O estudo The Learning Early About Peanut Allergy (LEAP) foi o primeiro estudo a demonstrar efetividade na introdução precoce do amendoim (entre os 4 e 11 meses) na prevenção de alergia alimentar ao mesmo. As sociedades de Alergologia recomendam a introdução de alimentos sólidos a partir dos 4 a 6 meses em todos os bebés. Esta é uma fase crucial para prevenir alergias e também para garantir uma dieta saudável para o resto da vida, com a diversificação de sabores e texturas.
Telemonitorização: Hope Care obtém certificação Apenas duas empresas no mundo possuem a certificação EU MDR Classe IIb (SaMD) para múltiplas doenças crónicas, atribuída pela Tüv Rheinland, e a Hope Care é uma delas. Para o seu fundador e CEO, José Paulo Carvalho, esta certificação recentemente
atribuída à plataforma HC Alert “reconhece-a como equipamento médico (Software as a Medical Device, ou SaMD) e valida que as informações geradas estão em conformidade com os mais rigorosos padrões exigidos para este tipo de equipamentos”.
18º
Congresso Português de
Hipertensão e
Risco Cardiovascular Global International Meeting on Hypertension and Global Cardiovascular Risk
8 | 11
FEV 2024 Grande Real Santa Eulália
A L G A R V E
Referência bibliográfica:
Programa Preliminar Conferência Inaugural Conferência Missão 70/26 Sessão conjunta SPH/ESH Simpósio Luso-Brasileiro Simpósio Luso-Húngaro Conferência de Encerramento Conferência da Presidente Mesas Redondas Novas Guidelines ESH Doente com RCV elevado - Casos clínicos Fenótipos de HTA, como abordar? - Casos clínicos Team-based care HTA no idoso e abordagem geriátrica global Follow-up (estratégias, novas tecnologias/telehealth) Novas orientações em DM2 e obesidade Dislipidemia - beyond the basics Keypoints no tratamento não farmacológico da HTA Hot Topics Inteligência artificial na gestão da HTA Poluição e HTA Novas terapêuticas anti-hipertensoras em investigação Tratamento da HTA na insuficiência cardíaca HTA no adolescente e jovem adulto HTA renovascular aterosclerótica Sessões do Núcleo de Internos da SPH Métodos de medição da pressão arterial HTA e obesidade Crises hipertensivas
- D. Sabouraud-Leclerc, E. Bradatan, T. Moraly, F. Payot, C. Larue, A. Broué Chabbert, A. Nemni, R. Pontcharraud, A. Juchet, A. DivaretChauveau, M. Morisset, Primary prevention of food allergy in 2021: Update and proposals of French-speaking pediatric allergists, Archives de Pédiatrie, Volume 29, Issue 2, 2022, Pages 81-89, ISSN 0929-693X, https://doi. org/10.1016/j.arcped.2021.11.009.
Cursos de HTA e Risco Cardiovascular Global HTA na presença de lesão de órgão HTA na mulher em idade fértil/grávida Algoritmo de terapêutica na HTA HTA secundária – Red flags
Apoio:
www.sphta.org.pt auchaneeu.auchan.pt/vidasaudavel/
Relativamente ao período de tempo que foi necessário para obter a certificação, o responsável adianta que “o processo levou 36 meses, o que atesta bem o nível de exigência necessário a soluções deste tipo”.
SECRETARIADO EXECUTIVO: Veranatura – Conference Organizers +351 217 120 778 | cidaliampacheco@veranatura.pt
SOCIEDADE PORTUGUESA DE HIPERTENSÃO
Portuguese Society of Hypertension
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Opinião
A vacinação é a principal forma de prevenção da doença invasiva pneumocócica
Vítor Cabral Veríssimo Médico de Saúde Pública. Coautor da Recomendação sobre Vacinação Antipneumocócica da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP) As infeções pela bactéria Streptococcus pneumoniae (S. pneumoniae) são uma importante causa de morbimortalidade a nível mundial. As formas mais graves desta infeção ocorrem quando o S. pneumoniae, que habitualmente coloniza a nasofaringe, atinge fluidos corporais considerados estéreis, tais como o
diversos, tais como bacteriemia, septicemia, meningite e osteomielite(1). Dados europeus revelam uma tendência de aumento de casos de DIP nos últimos anos. Em Portugal, observa-se uma tendência semelhante, tendo os casos confirmados de DIP aumentado de 1,4 por 100.000 habitantes, em 2015, para 3,9 por 100.000 habitantes, em 2018(2). São vários os fatores de risco identificados para o desenvolvimento de DIP, sendo a idade aquele mais frequentemente identificado. Assim, crianças até aos dois anos e indivíduos com idade superior a 65 anos apresentam um maior risco para o desenvolvimento desta doença. Além da idade como fator de risco para DIP nos adultos, destacam-se também comorbilidades como: a doença cardiovascular, pulmonar, renal, hepática e diabetes mellitus; as fístulas de LCR; a presença de implantes cocleares; a asplenia anatómica ou funcional; situações de transplante de órgão (pré e pós-transplante); tumores malignos; alterações imunitárias (primá-
serotipos (Pn23) são os constantes na Figura 1(7). Em 2022, foram introduzidas no mercado duas novas vacinas pneumocócicas conjugadas: uma com cobertura para 15 serotipos (Pn15) e outra para
A ANMSP considera que a vacinação antipneumocócica com recurso à Pn20 é, atualmente, a mais simples e a mais adequada para a população portuguesa(8).
Figura 1: Norma n.º 011/2015 de 23/11/2015 atualizada a 01/11/2021
Pn15 aumentaria essa cobertura para 44,4% e a Pn20 para 72,1%. Desta forma, a utilização da Pn15 aumentaria em 7,9 pontos percentuais (p.p.) a cobertura para serotipos causadores de DIP em adultos, enquanto a Pn20 a aumentaria em 35,6 p.p., atingindo uma cobertura próxima daquela identificada para a Pn23 (80%)(6). Tendo em conta os resultados obtidos, verifica-se que a Pn15 oferece um aumento de cobertura de dois serotipos para a população portuguesa, sendo necessária a conjugação com a Pn23, mantendo o definido pela Norma da DGS, apenas substituindo a Pn13 pela Pn15. No entanto, os diferentes esquemas vacinais poderão ser mais confusos para o cidadão e promover uma menor adesão a este esquema vacinal, motivando, inclusivamente, dúvidas entre os profissionais de saúde. A Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP) considera que a vacinação antipneumocócica com recurso à Pn20 é, atualmente, a mais simples
antipneumocócica com a Pn20, de acordo com o esquema da Figura 2(8). A vacinação é atualmente a principal forma de prevenção da DIP, sendo fundamental a vacinação de toda a população em situação de maior vulnerabilidade. Referências: 1. ECDC. Factsheet about pneumococcal disease [Online]. 2. ECDC. (2020). Invasive pneumococcal disease. In ECDC. Annual epidemiological report for 2018. Stockholm [Online]. 3. Costa, R. P., Gonçalves, C., & Sousa, J. C. de. (2015). Recomendações GRESP vacinação antipneumocócica. A doença pneumocócica e recomendações GRESP para a vacinação antipneumocócica na população adulta (≥ 18 anos) [Online]. 4. González-Romo, F., José Picazo, J., García Rojas, A., Labrador Horrillo, M., Barrios, V., et al. (2017). Consensus document on pneumococcal vaccination in adults at risk by age and underlying clinical conditions. 2017 Update. Revista Española de Quimioterapia, 30(2), 142-168. 5. Melo, P., Abreu, S., Barros, L., Do Vale, S., Freitas, P., et al. (2020). Recomendações da SPEDM
Figura 2: Recomendações da ANMSP para vacinação com a Pn20
a. Doença cardíaca, hepática ou respiratória crónicas, dados de medula óssea (antes da doação), diabetes, insuficiência respiratória crónica. b. Fístulas de LCR, implantes cocleares (candidatos ou portadores), asplenia e défice do complemento, imunodeficiências primárias, infeção por VIH, candidatos a transplantes e transplantados, doença neoplásica ativa, síndrome nefrótica, imunossupressão iatrogénica, doença renal crónica, síndrome de Down. Nota: Se previamente vacinados com Pn23, devem aguardar 12 meses até efetuar uma dose de Pn13. Nota: A cinzento, esquema já efetuado.
sangue ou os líquidos cefalorraquidiano (LCR), pleural e peritoneal, dando origem à doença invasiva pneumocócica (DIP), a qual engloba quadros clínicos
Dados europeus revelam uma tendência de aumento de casos de DIP nos últimos anos. Em Portugal, observa-se uma tendência semelhante.
rias ou secundárias); efetuar terapêuticas com imunossupressores; alcoolismo e tabagismo(3,4,5). Apesar de serem conhecidos cerca de 100 serotipos de S. pneumoniae, apenas um número reduzido destes é responsável pela maioria das infeções pneumocócicas. A frequência dos diferentes serotipos na população tem vindo a alterar-se, acompanhando a vacinação da população portuguesa e as coberturas vacinais alcançadas(6). A Norma n.º 011/2015, de 23 de junho, atualizada a 1 de novembro de 2021, da Direção-Geral da Saúde (DGS), define que os esquemas vacinais para adultos pertencentes a grupos com risco acrescido para DIP com recurso às vacinas pneumocócica conjugada para 13 serotipos do S. pneumoniae (Pn13) e à pneumocócica polissacárida para 23
20 serotipos do S. pneumoniae (Pn20). A Pn15 acrescenta os serotipos 22F e 33F aos existentes na Pn13, enquanto a Pn20 acrescenta os 8, 10A, 11A, 12F, 15B, 22F e 33F. Estudos comparativos entre a Pn15 e a Pn13 demonstraram não-inferioridade nos serotipos partilhados e superioridade para os serotipos adicionados e para o serotipo 3. Os estudos comparativos entre a Pn20 e a Pn13 e entre a Pn20 e a Pn23 demonstraram não-inferioridade para os serotipos partilhados entre cada par de vacinas. Uma análise efetuada pelo Grupo Português para o Estudo das Infeções por Streptococcus à proporção de infeções causadas pelos serotipos incluídos nas diferentes vacinas disponíveis no mercado verificou que, à data do estudo, a Pn13 cobria 36,5% dos serotipos envolvidos em DIP nos adultos, sendo que a
e a mais adequada para a população portuguesa(8). Por um lado, oferece uma cobertura vacinal para mais de 70% dos serotipos identificados, incluindo o 8 (mais frequente) e o 11A (um dos principalmente associados a resistências aos antimicrobianos)(6), mas também, e como observado para as outras vacinas antipneumocócicas conjugadas, produz uma imunidade mais duradoura do que a Pn23 e diminui não só os casos de doença grave mas também o número de adultos portadores(9). Neste seguimento, a ANMSP emitiu uma recomendação, em 2022, que contempla, além do esquema vacinal proposto na Norma da DGS, a inclusão da vacinação antipneumocócica com recurso à Pn15 (de acordo com o esquema recomendado na respetiva Norma, substituindo a Pn13 pela Pn15) e a vacinação
- Vacinação contra infeções por Streptococcus pneumoniae em adultos com diabetes mellitus. Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, 15, 55-58. 6. Silva-Costa, C., Gomes-Silva, J., Teodoro, I., Ramirez, M., & Melo-Cristino, J. (2021). Invasive pneumococcal disease in adults in Portugal: The importance of serotypes 8 and 3 (2015-2018). Microorganisms, 9(5), 1016. https://doi.org/10.3390/microorganisms9051016. 7. DGS (2021). Norma n.º 011/2015, de 23/06/2015, atualizada a 01/11/2021. Vacinação contra infeções por Streptococcus pneumoniae de grupos com risco acrescido para doença invasiva pneumocócica (DIP). Adultos (≥18 anos de idade) [Online]. 8. Borges, G. T., Rocha, A. G., Ferrão, R., Veríssimo, V. (2022). Recomendações sobre vacinação anti-pneumocócica [Online]. 9. Whitney, C. G., Farley, M. M., Hadler, J., Harrison, L. H., Bennett, N. M., et al. (2003). Decline in invasive pneumococcal disease after the introduction of protein-polysaccharide conjugate vaccine. The New England Journal of Medicine, 348(18), 1737-1746.
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Notícias
Luís Filipe Barreira eleito bastonário da OE DGS quer reforço de medidas para reduzir a resistência a antibióticos Luís Filipe Barreira vai ser o próximo bastonário da Ordem dos Enfermeiros (mandato 2024/2027). Vencedor das eleições dia 15 de novembro, encabeçava a lista A, que apresentou candidatos aos Órgãos Nacionais e
No Dia Europeu do Antibiótico, que se assinalou a 18 de novembro, refletiu-se sobre o facto de as infeções serem uma das três grandes ameaças à saúde identificadas no contexto europeu. Estima-se que mais de 35 mil pessoas morram por ano na Europa na sequência de resistências a antibióticos. E este número, devido às alterações climáticas, tenderá a aumentar. Neste âmbito, a Direção-Geral da Saúde considera ser importante reforçar as medidas que previnam as infeções e reduzam as resistências das bactérias aos antibióticos. Um relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) refere: “Em 2020, houve 256 anos de vida perdidos, ajustados por incapacidade, por 100 mil habitantes e 10 mortes por 100 mil habitantes atribuíveis a infeções causadas por bactérias resistentes a antibióticos.” Quatro tipos de infeção hospitalar – pneumonias, infeções respiratórias baixas, infeções urinárias e infeções associadas a cirurgias – são responsáveis por cerca de três quartos do total das IACS (infeção associada aos cuidados de saúde). A Klebsiella pneumoniae, pela sua taxa de resistência elevada aos carbapenemos, continua a ser uma das resistências mais preocupantes. A DGS, o Infarmed e o INSA lançaram, no âmbito da Semana Mundial e do Dia Europeu do Antibiótico, uma campanha de sensibilização em conjunto com o ECDC, para alertar para estas medidas de combate à infeção e às resistências a antimicrobianos. Os seis grandes pilares da estratégia do PPCIRA (Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistências a Antimicrobianos da Direção-Geral da Saúde) são: a literacia e envolvimento do cidadão, a redução da infeção pela prevenção, a melhor prescrição de antibióticos, com programas de apoio, a criação de indicadores e acesso a informação clínica, a perceção de que as políticas têm de ser One Health e, finalmente, a área legislativa. Poderá ler mais sobre este assunto no site da DGS.
Regionais, tendo sido todos eleitos, tal como sucedeu relativamente a todos os Colégios de Especialidade. A lista B concorreu apenas aos Órgãos Regionais da Madeira. Luís Filipe Barreira promete pro-
porcionar aos enfermeiros “novas responsabilidades, à semelhança do que sucede noutros países, com a devida compensação, de forma a que a enfermagem possa passar para outro patamar”.
A maior concordância de serotipos disponível para adultos numa vacina pneumocócica conjugada
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OS 20 SEROTIPOS DE STREPTOCOCCUS PNEUMONIAE INCLUÍDOS NA VACINA APEXXNAR® APRESENTAM UMA CONCORDÂNCIA DE COM OS SEROTIPOS QUE CAUSAM DIP4*
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Este medicamento está sujeito a monitorização adicional. Isto irá permitir a rápida identificação de nova informação de segurança. APEXXNAR vacina pneumocócica polissacárida conjugada (20 valente, adsorvida). Suspensão injetável branca homogénea em seringa pré-cheia COMPOSIÇÃO Uma dose (0,5 ml) contém: Polissacárido do serótipo 1 do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 3 do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 4 do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 5 do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 6A do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 6B do pneumococos1,2 4,4 µg Polissacárido do serótipo 7F do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 8 do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 9V do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 10A do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 11A do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 12F do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 14 do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 15B do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 18C do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 19A do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 19F do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 22F do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 23F do pneumococos1,2 2,2 µg Polissacárido do serótipo 33F do pneumococos1,2 2,2 µg 1Conjugado com a proteína transportadora CRM197 (aproximadamente 51 µg por dose) 2 Adsorvido em fosfato de alumínio (0,125 mg de alumínio por dose) INDICAÇÕES Imunização ativa para a prevenção de doença invasiva e de pneumonia causadas por Streptococcus pneumoniae em indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos. Deve ser utilizado de acordo com as recomendações oficiais. POSOLOGIA Administrado em dose única. A necessidade de revacinação com uma dose adicional de Apexxnar não foi estabelecida. Não estão disponíveis dados sobre a vacinação sequencial com outras vacinas pneumocócicas ou uma dose de reforço para Apexxnar. Baseado na experiência clínica com Prevenar 13 (vacina pneumocócica conjugada constituída por 13 polissacáridos conjugados que também fazem parte de Apexxnar), se a administração de uma vacina pneumocócica polissacárida 23 valente [Pneumovax 23 (PPSV23)] for considerada apropriada, Apexxnar deve ser administrado em primeiro lugar. População pediátrica A segurança e eficácia de Apexxnar em crianças e adolescentes com idade inferior a 18 anos não foram estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Ver RCM completo para mais informação MODO DE ADMINISTRAÇÃO Para utilização por via intramuscular apenas, de preferência, no músculo deltoide, tendo o cuidado de evitar a injeção em ou próximo de nervos e vasos sanguíneos. CONTRAINDICAÇÕES Hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer um dos excipientes ou ao toxoide diftérico. EFEITOS INDESEJÁVEIS Como Apexxnar contém os mesmos 13 polissacáridos capsulares conjugados e os mesmos excipientes de vacina que a Prevenar 13, as reações adversas já identificadas para Prevenar 13 foram adotadas para Apexxnar. Em ensaios clínicos, o perfil de segurança de Apexxnar foi semelhante ao de Prevenar 13. Não foram identificadas quaisquer reações adversas novas comparativamente a Prevenar 13. Muito frequentes (≥ 1/10): Cefaleia, Artralgia, Mialgia, Dor/sensibilidade no local de administração, Fadiga Frequentes (≥ 1/100, < 1/10), Induração/tumefação no local de administraçãoa Eritema no local de administração Pirexia Pouco frequentes (≥ 1/1 000, < 1/100) Reação de hipersensibilidade, incluindo edema da face, dispneia, broncospasmo, Diarreiaa, Náuseas, Vómitosa, Erupção cutâneaa, Angioedema, Prurido no local de administração, Linfadenopatia, Urticária no local de administração, Calafriosa Frequência Desconhecido (não pode ser calculado a partir dos dados disponíveis) Diminuição do apetitea, Limitação do movimento do braçoa [a Acontecimento notificado nos ensaios clínicos com Prevenar 13 com a frequência “muito frequente” (≥ 1/10). Não foi notificada diminuição do apetite e limitação do movimento do braço nos ensaios de Fase 3 de Apexxnar em adultos; por conseguinte, a frequência é desconhecida.] Segurança na administração concomitante de vacinas em adultos Quando Apexxnar foi administrado em adultos com idade ≥ 65 anos em simultâneo com a terceira dose (reforço) de uma vacina de mRNA contra a COVID-19 (com nucleósido modificado), o perfil de tolerância foi semelhante, em termos gerais, ao da vacina de mRNA contra a COVID-19 (com nucleósido modificado) administrada isoladamente. Observaram-se algumas diferenças no perfil de segurança comparativamente à administração de Apexxnar isoladamente. No ensaio de fase 3 B7471026 (Estudo 1026), pirexia (13,0%) e calafrios (26,5%) foram notificados como “muito frequentes” com a coadministração das duas vacinas. Foi também notificado um caso de tonturas (0,5%) no grupo de administração concomitante. Reações adversas da experiência pós-comercialização com Prevenar 13 é relevante para Apexxnar, pois Apexxnar contém todos os componentes (polissacáridos conjugados e excipientes) de Prevenar 13. Estes acontecimentos foram notificados voluntariamente a partir de uma população de tamanho indeterminado. Por conseguinte, não é possível estimar a sua frequência de forma consistente ou estabelecer, para todos os acontecimentos, uma relação causal com a exposição à vacina. Frequência Desconhecido Reação anafilática/anafilactoide, incluindo choque; Eritema multiforme; Dermatite no local de administração. Ver RCM completo para mais informação. Notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas ao INFARMED, I.P. DATA DA REVISÃO 12/2022. Medicamento sujeito a receita médica. Para mais informações deverá contactar o representante local do Titular da Autorização de Introdução no Mercado. *Em adultos (≥18 anos) em Portugal (2018). 1. RCM de APEXXNAR®. Disponível em https://labeling.pfizer.com/ShowLabeling.aspx?id=16821. Acedido a 7 de setembro de 2023. 2. RCM de Prevenar 13 ®. Disponível em https://labeling.pfizer.com/ShowLabeling.aspx?id=4921. Acedido a 7 de setembro de 2023. 3. RCM de Vaxneuvance®. Disponível em https://www.ema.europa.eu/en/documents/product-information/vaxneuvance-epar-product-information_pt.pdf. Acedido a 7 de setembro de 2023. 4. Silva-Costa C, Gomes-Silva J, Teodoro I, Ramirez M, Melo-Cristino J, on behalf of the Portuguese Group for the Study of Streptococcal Infections. Invasive Pneumococcal Disease in Adults in Portugal: The Importance of Serotypes 8 and 3 (2015–2018). Microorganisms. 2021; 9:1016. Laboratórios Pfizer, Lda. Lagoas Park, Edifício 10, 2740-271 Porto Salvo, Portugal Sociedade Unipessoal Lda. - NIPC 500 162 166 PP-PNR-PRT-0101 | Data de aprovação: 09/2023
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Reportagem USF Vale do Sorraia USF VALE DO SORRAIA, ACES LEZÍRIA
Responder a uma comunidade muito disper que evitem a sua deslocação a cuidados sec Inserido num meio marcadamente rural e industrial, o município de Coruche é dos maiores de Portugal em termos de área, mas a sua população é reduzida e encontra-se bastante dispersa. Como forma de evitar que percorram 40 km para chegar ao Hospital Distrital de Santarém, esta USF, que dá resposta a todos os habitantes de Coruche, tem procurado oferecer recursos diferenciados, atendendo às características dos seus utentes. O projeto de controlo da obesidade infantil na Lezíria e o próprio Serviço de Atendimento Complementar são alguns exemplos. A apenas 80 km do centro de Lisboa, após atravessadas as sete pontes do Rio Sorraia e avistados vários campos de arroz, chega-se à pacata vila de Coruche, conhecida como a Capital Mundial da Cortiça. A poucos quilómetros da entrada na vila encontra-se a USF Vale do Sorraia. Mileta Gomes, sua coordenadora desde janeiro de 2022, conhece bem a história da Unidade, pois testemunhou a sua fundação, em maio de 2008, quatro meses após ter iniciado o internato de MGF no Centro de Saúde de Coruche. Na altura, era já um dos CS em Regime Remuneratório Experimental, com um mecanismo de intersubstituição, por isso, a USF foi criada já como modelo B. O seu orientador de internato foi Carlos Ceia, que viria a ser o primeiro coordenador da USF, o que lhe trouxe alguma experiência a esse nível. “Trabalhávamos muito de perto, então, desde o início da minha formação que ouvia falar de planos de ação, indicadores e IDG”, conta. Antes de assumir a coordenação, a médica integrou o Conselho Técnico, uma responsabilidade que diz apreciar bastante por “permitir ajudar a melhorar os cuidados e trabalhar os projetos”. Liderando uma equipa de 10 médicos, 11 enfermeiros, nove secretárias clínicas e oito internos, Mileta Gomes adianta que esta dimensão não se tem alterado muito ao longo do tempo, distinguindo que a dinâmica entre todos é “muito boa”. E acrescenta: “Sempre tivemos algum brio em estar em posições de topo e temos
alcançado resultados que nos permitem posicionar-nos nos primeiros lugares da ARSLVT. Também fazemos por cumprir o desafio que nos é lançado e somos uma Unidade reacreditada com qualidade de Bom.” Tal como sucede consigo, que se desloca diariamente de Almeirim até Coruche, a coordenadora destaca que percorrer alguma distância para chegar ao trabalho é uma particularidade comum à maioria da equipa médica. “Neste momento, só dois elementos é que residem em Coruche. Os restantes fazem pelo menos 35 km, o que por vezes se revela uma condicionante”, refere. Essa é uma dificuldade acrescida principalmente para as duas médicas que asseguram a meio tempo a atividade clínica na Extensão de Saúde do Couço,
localizada a 23 km da sede. A funcionar nos dias úteis, esse polo conta com duas médicas e duas enfermeiras de forma ro-
tativa e ainda uma secretária clínica em permanência, o que leva a que as consultas dos utentes dos seus ficheiros sejam agendadas de acordo com a sua presença nos respetivos locais. Como forma de evitar algumas destas deslocações ao Couço, que representam uma hora acrescida, e até de possibilitar que os utentes que residem mais longe ou se encontram no estrangeiro vejam o acesso às consultas facilitado, a equipa está a tentar implementar o modelo de teleconsulta. Mileta Gomes orgulha-se bastante do facto de os cerca de 19 mil habitantes, distribuídos pelas freguesias de Biscainho, Branca, Couço, São José da Lamarosa, Santana do Mato e pela União de Freguesias de Coruche, Fajarda e Erra, terem médico de família e de todos os que decidem ir para aí residir
verem o seu pedido de inscrição logo aceite. Já o mesmo pode não suceder com aqueles que saem de Coruche para outra terra: “Por não lhes ser atribuído médico de família, preferem manter esta equipa de saúde familiar, além da razão inerente à afinidade que vai sendo criada.” Apesar de reunir cerca de 19 mil pessoas, o concelho de Coruche é o mais extenso de Santarém e o 10.º maior a nível nacional, com uma área de 1120 km2. Por esse motivo, “a população acaba por estar muito dispersa por vários aglomerados de casas e há pessoas mesmo a viver isoladas”, lembra a médica, destacando que o facto de a população ser marcadamente idosa traz algumas dificuldades, nomeadamente a nível da deslocações, que “muitas (Continua na pág. 16)
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Reportagem USF Vale do Sorraia
rsa com projetos e serviços cundários distantes Nome: Vale do Sorraia deriva do facto de a USF se inserir nessa paisagem. Nascendo no Couço, o Rio Sorraia resulta da confluência do rio Sor e da ribeira de Raia, passa nos aglomerados de Coruche, Benavente e Porto Alto e desagua no Tejo, já em território da Reserva Natural do Estuário do Tejo.
Logótipo: Como forma de representar a família, surge um casal com um bebé de colo. O sobreiro, árvore mãe da cortiça, visa retratar o município de Coruche, conhecido como a Capital Mundial da Cortiça.
A médica que poderia ter sido a primeira comandante mulher de um navio da Marinha de Guerra Mileta Gomes nasceu no Dia Internacional da Mulher, a 8 de março de 1978, na Lourinhã. Cedo foi viver para Lisboa, cidade onde veio a formar-se em Medicina. Contudo, antes disso, experimentou outro trajeto. Com quatro irmãos rapazes, sempre foi muito ligada ao desporto, especificamente à esgrima, ao basquetebol e ao voleibol, por isso, decidiu concorrer à Escola Naval, tendo sido aceite. Em simultâneo, tinha sido admitida na licenciatura em Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, área de que tanto gostava. Optou por ir para a Escola Naval, mas dois anos depois sentiu que aquele não era o caminho certo, abandonando a oportunidade de vir a ser a primeira mulher comandante de um navio de guerra. “Havia qualquer coisa que me dizia que eu poderia marcar a diferença na vida das pessoas e na Marinha eu não o sentia”, refere. Voltou para o 12.º ano para fazer melhoria de notas e conseguiu ingressar na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Durante o curso, percebeu que gostava de especialidades mais generalistas e identificou-se muito com a MGF, pela possibilidade de “seguir verdadeiramente o utente e não o ver só num momento e manter a oportunidade de fazer urgência, se o entendesse”. Sempre teve o ideal de vir a ser médica longe dos grandes centros, por
entender que, nesses lugares, “a população tem um maior leque de lugares de saúde onde recorrer, acabando por preferir o hospital pela mais ínfima situação”. Com alguma ligação ao Ribatejo, pensou que essa seria uma boa opção e, após fazer o internato de Formação Geral em Torres Vedras, decidiu realizar o internato de MGF no Centro de Saúde de Coruche, mesmo com a implicação de percorrer cerca de 200 km por dia. Iniciou o seu percurso em Coruche, em 2008, e por várias ocasiões da vida interrompeu o internato nalguns momen-
tos. Uma delas prendeu-se com a sua ida para São Tomé em Príncipe em missão, durante quatro meses, o que considera ter sido “uma experiência muito marcante e gratificante”, pois “era a única médica num mini centro de saúde com internamento no distrito do sul, onde os recursos eram praticamente inexistentes”. A segunda interrupção prendeu-se com o nascimento do seu primeiro filho e, nessa altura, viveu algum tempo no Canadá, para acompanhar o seu então marido, militar. “Foi interessante perceber que há respostas de saúde tão
diferentes e poder trazer alguns conhecimentos e ideias para aplicar em Portugal”, comenta. Em 2013, quando se tornou especialista, ficou colocada na UCSP Almeirim e confrontou-se com “uma realidade completamente distinta, pois estava habituada a um regime orgânico de vigilância e melhoria das condições de saúde dos utentes”. Ali, deparou-se com “muitos doentes sem médico, nomeadamente diabéticos e oncológicos, que precisavam de muitos cuidados e estavam habituados a ir à meia-noite para a porta da UCSP para garantir consulta”. Neste âmbito, lamenta como “a resposta de cuidados é tão diferente consoante a orgânica da unidade”. Em março de 2017, integrou novamente a USF Vale do Sorraia, que tinha sido constituída ainda durante o seu internato, e em janeiro de 2022 assumiu a coordenação da Unidade. Apesar de viver longe da família, é nos almoços de fim de semana, na Lourinhã, a que vai com os dois filhos e que juntam pelo menos 12 pessoas, que carrega baterias, onde têm lugar sempre as histórias contadas pelo seu pai. Além de fazer aulas de equitação, Mileta Gomes adora fazer passeios com os amigos nos seus tempos de lazer. “Gosto muito do ar livre e de contemplar as paisagens”, conta, adiantando que, por essa razão, por vezes, opta por fazer o trajeto para a USF de mota.
Consulte RCM no verso
1. Gradman AH. Rationale for triple-combination therapy for management of high blood pressure. J Clin Hypertens (Greenwich). 2010; 12(11):869-78. 2. Fixed-Dose Combination of Perindopril/Amlodipine (Amlessa) and Fixed-Dose Combination of Perindopril/Indapamide/Amlodipine (Co-Amlessa) - Contribution to Management in newly diagnosed and uncontrolled hypertensive patients (PRECIOUS study). In:. EU Clinical Trial Register [database on internet]. Amsterdam: European Medicines Agency; c2020 [cited 2020 Nov 18]. Available from: https://www.clinicaltrialsregister.eu/ctr-search/trial/2017-001596-23/results. p. 1-8.
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Mileta Gomes orgulha-se bastante do facto de os cerca de 19 mil habitantes de Coruche terem médico de família.
Mileta Gomes, coordenadora da USF
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Reportagem USF Vale do Sorraia
(Continuação da pág. 14) vezes ficam dependentes dos filhos ou de taxistas”. Adicionalmente, o autocarro que para na USF reduz a sua frequência no período das férias escolares. Consciente dessas condicionantes, a coordenadora da Unidade realça que há uma tentativa de
“programar as consultas desses utentes de acordo com a disponibilidade horária dos familiares e dos autocarros”. Panóplia de recursos disponibilizados fazem da USF um “mini hospital” Por concentrar duas fábricas de arroz e uma corticeira e ter grande atividade
agrícola, Mileta Gomes afirma que o concelho emprega muita gente, inclusive população estrangeira, nomeadamente indianos, nepaleses e brasileiros. Por essa razão, acabam por recorrer ao Centro de Saúde muitos utentes que sofreram acidentes de trabalho. “Já recebemos aqui casos de cortes da mão e de dedos com arrancamento
Carina Oliveira Dias, interna do 4.º ano de FE em MGF:
“A Medicina é um curso para a vida. Não podemos parar de estudar”
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Natural de Castelo Branco, Carina Oliveira Dias, de 34 anos, começou por licenciar-se em Enfermagem pela Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias do Instituto Politécnico de Castelo Branco. Gostou muito da experiência, contudo, o seu sonho era mesmo ser médica e acabou por conseguir ingressar nesse curso. Fez os primeiros três anos na Roménia e conseguiu concluir a formação na FMUL. Seguiu-se o Ano Comum no CH do Barreiro Montijo e o internato de MGF nesta USF. Contudo, a ida para Coruche não foi uma decisão estudada, mas um “golpe de sorte”. E outros se seguiriam! A residir no Seixal, “as duas opções mais viáveis, considerando a proximidade a casa, seriam Medicina Interna no HDS ou MGF na USF Vale do Sorraia”, conta. Acabou por escolher a segunda, principalmente devido “ao maior range de idades e patologias cobertas pela MGF, em comparação com a MI”. Quatro anos depois, diz não estar arrependida: “Aqui, tenho oportunidade de ver as crianças e os velhotes, de que tanto gosto. É uma especialidade muito completa.” Na sua opinião, ter feito o internato de MGF sob orientação de Mileta Gomes, que concluiu agora no final de outubro, foi o seu segundo golpe de sorte, por lhe ter permitido abraçar vários projetos. Nesse âmbito, Carina Oliveira Dias foi uma das primeiras internas a integrar o projeto CoOL, numa altura em que “o contacto direto com os utentes era muito reduzido e as crianças estavam há dois anos em casa restringidas aos hábitos de vida dos pais e privadas dos das escolas, que englobavam comer sopa e fruta e fazer atividade física, por exemplo”. Esse cenário levou a equipa a considerar que, “provavelmente, iria verificar-se um agravamento da incidência da obesidade nos mais novos”. A intervenção era, assim, urgente e necessária,
numa altura em que “a obesidade é a epidemia do século XXI e é preciso começar especialmente pelas crianças”. O balanço é positivo e a interna adianta que planeiam vir a apresentar o projeto a outras unidades, para que estas possam desenvolver outras iniciativas similares. Paralelamente, foi mesmo a primeira interna a ter oportunidade de fazer Consulta de Gota, implementada fruto “da elevada incidência de alcoolismo no concelho e da necessidade de dar o acompanhamento devido aos doentes
já diagnosticados”. A futura médica de família lembra que “apesar de os doentes só se lembrarem que têm esta patologia quando estão com uma crise, trata-se de uma doença crónica que precisa de acompanhamento constante”. A parceria tida com dois internos de Reumatologia do CHU Lisboa Norte é uma vantagem na medida em que proporciona “um acesso direto para esclarecer dúvidas e uma agilização no processo de referenciação”. Tendo um gosto especial por fazer urgências, Carina Oliveira Dias encarou o
SAP e o agora atual SAC como “uma benesse”. E recorda: “No primeiro dia, quando percebi que havia salas de urgências, pequena cirurgia, observação e que tínhamos possibilidade de fazer raio-X, ECG, mapa e espirometria, achei maravilhoso!” Estas valências “dão aos utentes um acesso que provavelmente não teriam noutras zonas onde existisse um hospital mais perto e oferecem aos internos um traquejo e uma necessidade de aprendizagem de várias áreas que noutras unidades não são tão praticadas”. Na sua opinião, essa experiência foi “essencial” para a sua formação. A futura especialista em MGF considera mesmo que “a Medicina é um curso para a vida”. E acrescenta: “Não podemos parar de estudar. Embora durante o curso e o Ano Comum tenhamos contacto com muitas situações, só mesmo no internato da especialidade é que nos preparam para lidar com os utentes e para conseguirmos desenvolver a nossa profissão da melhor forma.” A única desvantagem que identifica na existência destes serviços prende-se com o seu “sobreuso por algumas pessoas e em situações indevidas, como perante uma amputação completa da mão”. Agora que concluiu o internato, a perspetiva de Carina Oliveira Dias é de continuar nesta USF enquanto especialista. “Tenho de fazer 160 km por dia, mas gosto mesmo das pessoas, da zona e do tipo de trabalho que aqui se faz”, destaca. Também por isso, aconselha os mais jovens a escolher esta Unidade: “É uma zona recôndita que, por vezes, os internos desvalorizam devido à distância, mas que proporciona oportunidades de aprendizagem, inclusivamente de patologias que não se veem com frequência noutros lugares. Além disso, a equipa é uma família e está sempre pronta a ajudar. E os internos são muito unidos!”
de tendão, bem como cortes das pernas motivados por motosserras ou javalis”, exemplifica. Esses casos são acolhidos no Serviço de Atendimento Complementar do Centro de Saúde de Coruche, cuja reposta é assegurada diariamente pela equipa da USF, entre as 8h e as 20h, exceto aos domingos e feriados, em que médico e enfermeiro de outras unidades ou empresas garantem o seu funcionamento. No SAC são atendidos utentes quer da USF, quer esporádicos.
“Já recebemos aqui casos de cortes da mão e de dedos com arrancamento de tendão, bem como cortes das pernas motivados por motosserras ou javalis”, exemplifica a coordenadora. Constituído por uma sala de observação e outra de diretos, um espaço de pequena cirurgia e gessos, e uma sala de inaloterapia, este Serviço permite, muitas vezes, que os utentes vejam as suas condições resolvidas no meio onde vivem, sem necessidade de recorrerem ao hospital, que dista 40 km do centro de Coruche e 70 km de algumas habitações. “Conseguimos fazer espirometria e MAPA 24 horas, exames que não estão disponíveis em todas as unidades”, refere. O equipamento de raio-X e o aparelho de eletrocardiograma, que se encontram sob a dependência da URAP, são um complemento importante dos recursos do SAC, ao auxiliar do diagnóstico diferencial de determinados problemas. “Perante suspeita de fratura, pedimos à técnica a realização de raio-X no imediato e, se concluirmos que não há, evitamos que os utentes tenham de percorrer 40 km até ao Hospital Distrital de Santarém para fazer esse exame e regressarem com um analgésico. Existindo uma fratura que esteja alinhada, conseguimos colocar gesso ou uma tala de zimmer”, afirma, acrescentando que, “caso haja suspeita de pneumonia, é pedido um raio-X ao tórax,
e também, perante sintomas de enfarte, solicitado um eletrocardiograma”. Na sua opinião, a existência destes recursos é “uma mais-valia, principalmente atendendo ao elevado número de acidentes de trabalho e até mesmo domésticos que acontecem, principalmente referentes a quedas de idosos”. Mileta Gomes adianta que para esta “habituação da população em recorrer ao SAC” também contribuiu o facto de, anteriormente, ter funcionado ali um
Nome do medicamento: Co-Amlessa 2mg+0,625mg+5mg, 4mg+1,25mg+5mg, 4mg+1,25mg+10mg, 8mg+2,5mg+5mg, 8mg+2,5mg+10mg, comprimidos. Cada comprimido contém respetivamente 2mg, 4mg, 4mg, 8mg e 8mg de tert-butilamina de perindopril, 0,625mg, 1,25mg, 1,25mg, 2,5mg e 2,5mg de indapamida e 5mg, 5mg, 10mg, 5mg e 10mg de amlodipina (sob a forma de besilato). Co-Amlessa está indicado como terapêutica de substituição no tratamento da hipertensão essencial, em doentes já controlados com perindopril, indapamida e amlodipina administrados simultaneamente e nas mesmas doses. Posologia: A associação fixa não é recomendada para terapêutica inicial. Se for necessário alterar a posologia, esta alteração deve ser efetuada através da titulação individual com os componentes isolados. A dose máx. diária recomendada é de 8mg+10mg+2,5mg. A eliminação do perindoprilato está diminuída nos doentes com compromisso renal. Assim, o seguimento médico usual inclui monitorização frequente da creatinina e potássio. Co-Amlessa pode ser administrado a doentes com Clcr≥60ml/min. mas recomenda-se uma titulação individual da dose com os componentes isolados. Alterações nas concentrações plasmáticas de amlodipina não estão relacionadas com o grau de compromisso renal. A amlodipina não é dialisável. A eliminação do perindoprilato está diminuída nos idosos pelo que, estes podem ser tratados com Co-Amlessa de acordo com a função renal. A segurança e eficácia de Co-Amlessa em crianças e adolescentes não foram ainda estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: 1 comprimido/dia, numa toma única, de preferência de manhã e antes duma refeição, via oral. Os comprimidos podem ser divididos em doses iguais (exceto a dosagem de 2mg+0,625mg+5mg), colocando o comprimido numa superfície plana, com a ranhura para cima e pressionando com os dedos nas extremidades do mesmo. Contraindicações: hipersensibilidade ao perindopril ou a qualquer outro I ECA, à indapamida ou a qualquer outra sulfonamida, à amlodipina ou a qualquer outros derivados da di-hidropiridina ou a qualquer um dos excipientes deste medicamento; antecedentes de angioedema associado a uma terapêutica prévia com IECAs; angioedema hereditário ou idiopático; hipotensão grave; choque (incluindo choque cardiogénico); obstrução da câmara de saída do VE; insuficiência cardíaca hemodinamicamente instável após enfarte agudo do miocárdio; compromisso renal grave (Clcr<30ml/min); As dosagens de 8mg+2,5mg+5mg e 8mg+2,5mg+10mg estão contraindicadas nos doentes com compromisso renal moderado ou grave (Clcr<60ml/min); encefalopatia hepática; insuficiência hepática grave; hipocaliémia; Co-Amlessa é geralmente desaconselhado em associação com os medicamentos não antiarrítmicos causando “Torsades de pointes”; 2º e 3º trimestre da gravidez; aleitamento; utilização concomitante de aliscireno em doentes com diabetes mellitus ou com compromisso renal. No uso concomitante com sacubitril / valsartan, Co-Amlessa não deve ser iniciado antes de 36 horas após a última dose de sacubitril / valsartan. Tratamentos extracorporais que levam ao contacto do sangue com superfícies carregadas negativamente. Estenose bilateral da artéria renal ou estenose da artéria renal num único rim funcional (ver secção 4.4). Devido à insuficiente experiência terapêutica, Co-Amlessa, não deve ser utilizado em doentes dialisados e com insuficiência cardíaca descompensada, não tratada. Efeitos indesejáveis: a administração de perindopril inibe o sistema renina-angiotensina-aldosterona e tende a reduzir a perda de potássio provocada pela indapamida. 2% dos doentes tratados com 2mg de perindopril e 0,625mg de indapamida, 4% dos doentes tratados com 4mg de perindopril e 1,25mg de indapamida e 6% dos doentes tratados com 8mg de perindopril e 2,5mg de indapamida desenvolveram hipocaliémia (níveis de potássio<3,4mmol/l). Os efeitos indesejáveis notificados mais frequentemente observados são: com perindopril: tonturas, cefaleias, parestesias, disgeusia, alterações visuais, vertigens, acufenos, hipotensão, tosse, dispneia, dor abdominal, obstipação, dispepsia, diarreia, náusea, vómitos, prurido, erupção cutânea, cãibra muscular e astenia. com indapamida: hipocaliemia, reações de hipersensibilidade, principalmente dermatológicas nos indivíduos com predisposição para reações alérgicas e asmáticas e erupções cutâneas maculopapulares. com amlodipina: sonolência, tonturas, cefaleias, palpitações, rubor, dor abdominal, náuseas, tumefação dos tornozelos, edema e fadiga. Efeitos indesejáveis observados durante o tratamento com os componentes individuais – Perindopril: Pouco frequentes: eosinofilia, hipoglicemia, hipercaliemia reversível com descontinuação, hiponatremia, alterações de humor, perturbações do sono, sonolência, síncope, .palpitações, taquicardia, vasculite, broncospasmo, xerostomia, angioedema, urticária, hiperidrose, reações de hipersensibilidade, penfigóide, artralgia, mialgia, insuficiência renal, disfunção erétil, dores no peito, mal-estar, edema periférico, pirexia, aumento da ureia no sangue, aumento da creatinina no sangue, quedas. Raros: agravamento da psoríase, aumento da bilirrubina no sangue, aumento das enzimas hepáticas. Muito raros: rinite, agranulocitose, pancitopenia, leucopenia, neutropenia, anemia hemolítica, trombocitopenia, confusão, AVC possivelmente secundário a hipotensão excessiva em doentes de alto risco, angina pectoris, arritmia (incluindo bradicardia, taquicardia ventricular e fibrilhação atrial), enfarte do miocárdio, possivelmente secundário a hipotensão excessiva em doentes de alto risco, pneumonia eosinofílica, pancreatite, hepatite, eritema multiforme, insuficiência renal aguda, diminuição da hemoglobina e hematócrito. Desconhecido: síndrome de secreção inapropriada de hormona antidiurética (SIADH), fenómeno de Raynaud. Indapamida: Pouco frequentes: . hiponatremia, vómitos, púrpura, disfunção erétil. Raros: hipocloremia, hipomagnesemia, cefaleia, parestesia, vertigem, obstipação, náuseas, xerostomia, fadiga. Muito raros: agranulocitose, anemia aplástica, leucopenia, anemia hemolítica, trombocitopenia, hipercalcemia, arritmia (incluindo bradicardia, taquicardia ventricular e fibrilhação atrial), hipotensão, pancreatite, função hepática diminuída, angioedema, urticária, necrólise epidérmica tóxica, síndrome de Stevens-Jonhson, insuficiência renal. Desconhecido: síncope, em caso de insuficiência hepática , existe a possibilidade do aparecimento de encefalopatia hepática, miopia, visão turva, torsades de pointes (potencialmente fatal), hepatite, reações de fotossensibilidade, aumento das enzimas hepáticas, aumento da glucose no sangue, aumento do ácido úrico, eletrocardiograma com QT prolongado. Amlodipina: Pouco frequentes: rinite, insónia, alterações de humor, depressão, tremores, hipoestasia, parestesia, disgeusia, síncope, acufenos, arritmia (incluindo bradicardia, taquicardia ventricular e fibrilhação atrial), hipotensão, dispneia, obstipação, diarreia, dispépsia, vómitos, xerostomia, prurido, erupção cutânea, urticária, exantema, alopécia, púrpura, descoloração da pele, hiperidrose, artralgia, mialgia, dores nas costas, perturbações da micção, noctúria, aumento da frequência urinária, disfunção erétil, ginecomastia, dores no peito, dor, mal-estar. Raros: confusão. Muito raros: leucopenia, trombocitopenia, reações de hipersensibilidade, principalmente dermatológicas nos indivíduos com predisposição para reações alérgicas e asmáticas, hipertonia, neuropatia periférica, enfarte do miocárdio, possivelmente secundário a hipotensão excessiva em doentes de alto risco, vasculite, tosse, pancreatite, gastrite, hiperplasia gengival, hepatite, icterícia, edema de Quincke, angioedema, reações de fotossensibilidade, eritema multiforme, dermatite esfoliativa, síndrome de Stevens-Jonhson, aumento das enzimas hepáticas, aumento da glucose no sangue. Desconhecido: afeção extrapiramidal, necrólise epidérmica tóxica. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao: INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos, Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53, 1749-004 Lisboa, Tel.: +351 21 798 73 73, Linha do Medicamento 800222444 (gratuita), E-mail: farmacovigilancia@infarmed.pt. Para mais informações consultar o Titular da AIM: Krka, d.d., Novo mesto ou Distribuidor: Krka Farmacêutica, Lda. Medicamento sujeito a receita médica. Regime de comparticipação: escalão B (69%). Data de revisão do texto: 18.02.2022. PI_Text018083_2; PI_Text018090_2; PI_Text018102_2.
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Reportagem USF Vale do Sorraia
“Perante suspeita de fratura, pedimos a realização de raio-X no imediato e, se concluirmos que não há, evitamos que os utentes tenham de percorrer 40 km até ao Hospital de Santarém para regressarem com um analgésico”, realça a médica.
Serviço de Apoio Permanente (SAP), 24 horas por dia, e, antes ainda da criação do edifício, ter existido o Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Coruche. Com o início da pandemia, o SAP acabou por encerrar, na sequência da indisponibilidade dos colegas que asseguravam a atividade durante o período noturno, domingos e feriados. Anteriormente, foi pensada a hipótese de ser criado um Serviço de Urgência Básica (SUB), contudo, os requisitos não foram reunidos devido à falta de recursos humanos e materiais. A coordenadora da Unidade esclarece que a intersubstituição, em situações de ausência de elementos das equipas de saúde, também é assegurada no SAC. Nesse sentido, habitualmente, cada microequipa de médico e enfermeiro realiza ali um período de pelo menos seis horas, durante a semana, e 12 horas, ao sábado, de forma rotativa. Na sua ótica, outra das mais-valias resultantes desta resposta oferecida é “a aprendizagem que os internos conse-
guem receber ao depararem-se com várias situações e procedimentos, como a colocação de gessos, a realização de suturas ou a interpretação de exames de raio-X”. Criar projetos atendendo às necessidades da comunidade Como forma de “atender às necessidades da população e demonstrar aos internos que é possível dinamizar novos projetos nas USF”, a equipa tem vindo a implementar alguns, nos últimos anos, e pretende lançar outros mais. Apercebendo-se de que, na altura da pandemia de covid-19, “as crianças estavam cada vez mais sedentárias e ligadas às tecnologias, o que se refletia no aumento de peso”, Mileta Gomes e a sua interna, Carina Oliveira Dias, em conjunto com mais quatro elementos, criaram o projeto CoOL – Controlo da Obesidade infantil na Lezíria. “O objetivo foi oferecer às crianças entre os cinco e os nove anos uma consulta específica onde se pudesse identificar a
existência de fatores secundários que pudessem levar à obesidade e encaminhá-las para a Consulta de Obesidade Infantil do HDS. As restantes seriam convidadas a fazer o seguimento trimestral ou semestral e multidisciplinar”, elucida. Neste momento, além de ser integrado por uma equipa de cinco médicas internas, a coordenadora e duas enfermeiras, este projeto conta ainda com a participação de uma nutricionista, que também faz o seguimento da criança e dos pais em consulta. Soma-se ainda uma psicóloga, que realiza sessões com grupos de até seis crianças, procurando promover a discussão de vários assuntos, como a perceção da imagem corporal. De forma a “cativá-las a fazer mais algum exercício físico além do que praticam na escola”, conseguiram ainda envolver a comunidade e juntar ao projeto os clubes desportivos locais, fazendo com que as crianças tenham alguma benesse na sua inscrição. Depois de algumas dificuldades iniciais, após a sua apresentação em janeiro de 2021, Mileta Gomes prevê que o proje-
Ana Paula Vicente, enfermeira:
“Adoro trabalhar aqui e não trocaria este lugar por nada” Ana Paula Vicente é enfermeira no Centro de Saúde de Coruche desde 1996, por isso, é com grande naturalidade que diz já ter feito o rastreio de diagnóstico precoce a bebés cujos pais já tinham sido rastreados também por si. “Há uma continuidade que se estabelece, conhecemos a família e todos nos conhecem também, por isso é tão gratificante e cativante trabalhar nos CSP”, distingue, acrescentando que “não se consegue ter uma relação de proximidade destas num hospital”. A enfermeira conseguiu percecionar melhor a estima que a população tem por si quando soube que estava doente e se ausentou durante algum tempo da Unidade. “Gerou-se uma forte corrente de energia. Vinham aqui e perguntavam às minhas colegas se eu estava melhor e quando regressaria, o que num hospital ou mesmo noutros centros de saúde seria muito difícil de acontecer. Aqui, temos esse privilégio”, expõe. Também por isso afirma: “Adoro trabalhar aqui e não trocaria este lugar por nada.” Foi no final de maio que, 15 anos após ter tido um carcinoma da mama, Ana Paula Vicente descobriu que o cancro estava metastizado. Esteve, por isso, algum tempo afastada da Unidade, até ter refletido que “ainda podia receber e dar algo à Unidade” e que preferia estar a trabalhar a resignar-se. Retomou, então, o trabalho, mas não nos mesmos moldes. Desde então, tem realizado consultas de enfermagem por telefone aos utentes de todas as equipas, desenvolvido auditorias com o Conselho Técnico, colaborado nas convocatórias e nos registos das vacinações e participado nos projetos da diabetes e da obesidade infantil. A sua recetividade a projetos novos já tem vários anos. Na verdade, “há mui-
tas dinâmicas que se podem fazer em CSP e eu estou sempre aberta a novas oportunidades, por isso, ao longo destes anos, foram vários os projetos que já abracei”.
to “possa agora solidificar-se e entrar ‘em velocidade de cruzeiro’”. Na mesma altura, fruto da sua participação num curso ligado à dor e ao aparelho musculoesquelético, onde realizou um projeto integrado com três internos de Reumatologia do CHULN sobre gota, implementou também o projeto GAP (Gout Arthritis Pathway), através de uma consulta dirigida a esse grupo de doentes. Nesse âmbito, Mileta Gomes, as suas duas internas e a sua enfermeira dão resposta aos utentes da USF que se encontrem perante crises de gota de difícil controlo. A médica de família adianta que esta patologia é “muito frequente nos homens desde a idade jovem, estando muito associada ao consumo de álcool que, em Coruche, tem uma prevalência elevada”. Por sua vez, “se for criado um plano, feito um ajuste terapêutico – dado haver muitos medicamentos que elevam o ácido
úrico – e mantido o seguimento, é possível controlar a sintomatologia, marcada por dores articulares, e evitar as crises”. Perante casos mais difíceis ou que exijam a necessidade de tratamento hospitalar, é estabelecida articulação com os colegas de Reumatologia do CHULN que, ”geralmente, convocam os doentes em menos de um mês”. De forma a encurtar a distância que têm de percorrer, a equipa está a trabalhar a articulação com o Serviço de Reumatologia do Hospital de Santarém. Com o objetivo de reduzir o consumo de tabaco, a equipa disponibiliza ainda uma Consulta de Cessação Tabágica, realizada por três médicos e dois enfermeiros. Futuramente, têm a ambição de vir a criar carteiras adicionais de Pequena Cirurgia e de Dermatologia, sendo que a primeira seria “a de mais fácil implemen-
Tendo um especial gosto por iniciativas dinamizadas na comunidade, recorda com saudade uma deles, que se centrava na promoção da educação sexual nas escolas. Entretanto, participou na implementação do projeto de rádio “1 Minuto de Saúde”. Nascida em Coruche, há 49 anos, Ana Paula Vicente fez a sua formação superior na Escola Superior de Enfermagem de Santarém, tendo concluído o seu curso em 1995. Tratava-se de uma escolha por vocação, pois, seguindo “o exemplo tão positivo das enfermeiras do Centro de Saúde de Coruche”, sempre pensou que “queria vir a ser enfermeira como elas”. Sempre gostou da ideia de prestar cuidados de proximidade, daí a sua preferência por centros de saúde para realizar os diversos estágios. Trabalhou apenas um ano no Serviço de Urgência do HDS, até ser colocada no CS de Coruche.
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(Continuação da pág. 17) tação, por já estar organizada noutras unidades, que serviriam de exemplo”. A nossa interlocutora reconhece que a possibilidade de “programar pequenas
cirurgias, para drenagem de abcesso ou colheita de lesão cutânea para análise, por exemplo, e referenciar já com uma histologia feita seria uma forma de reduzir a afluência dos utentes ao meio hospitalar”. A ideia da carteira de Dermatologia
surgiu pelo facto de a resposta hospitalar e associativa nesta área ter sido francamente reduzida: “Neste momento, não há sequer dois dermatologistas a tempo inteiro no HDS e a atividade que decorria numa IPSS em Benavente encerrou.” Por
Lívia Galão, interlocutora do secretariado clínico:
“Fomos pioneiros e demos um salto para a melhoria contínua” Lívia Galão começou a trabalhar no CS de Coruche em 2006, no âmbito da abertura de um concurso para assistentes técnicos do Ministério da Saúde, por isso, tem testemunhado todas as mudanças relativas à USF. Quinze anos após a sua inauguração, recorda os receios, mas também a confiança: “Era um projeto novo e não tínhamos o exemplo de outras unidades para nos basearmos. A decisão foi acreditar. Fomos pioneiros e demos um salto para a melhoria contínua.” As oito secretárias clínicas distribuem-se pelos três balcões de atendimento, além de estarem também nos gabinetes administrativos, onde procedem, entre outras tarefas, ao retorno das chamadas telefónicas com recurso à plataforma Aurora. Também Lívia Galvão, enquanto interlocutora do secretariado clínico, não prescinde de fazer balcão, por considerar que “é importante não perder o contacto com o atendimento e para perceber as dificuldades das colegas”. Esta forma de trabalho em que todas tentam “saber um bocadinho de todos os serviços, embora haja pessoas mais dedicadas a determinados assuntos” é a que consideram ser a mais funcional, pois, “perante alguma ausência não planeada, todos sabem como agir”.
O balcão principal visa principalmente a marcação de exames e o pedido da consulta aberta, pois as admissões são facilitadas pela existência do quiosque eletrónico. Existe outro balcão destinado a atos burocráticos, como pedido de receituário crónico, reembolso de fraldas, transferência de processos ou informações clínicas. O SAC tem ainda o seu balcão próprio, onde está alocada uma secretária clínica aos sábados, domingos e feriados, entre as 8h e as 20h, e duas para assegurar os dois turnos, de seis horas cada, durante a semana.
Uma nona secretária clínica está alocada permanentemente à Extensão do Couço. Lívia Galão esclarece que essa foi a única extensão que se manteve, devido à distância a que está de Coruche e à grande idade da população. Por sua vez, “com o início da USF, estabeleceu-se um acordo com os presidentes das juntas de Freguesia de Biscainho e de São José de Lamarosa, no sentido de os utentes daquelas extensões transitarem para a sede, onde a resposta é assegurada diariamente, algo que até então não estava garantido. As juntas de freguesia ajudam na mediação da comunicação entre os utentes e a USF e auxiliam no transporte da população”. No seu caso, tem dividido o gabinete com os coordenadores da Unidade, o que considera ser muito facilitador: “Consigo partilhar as dúvidas que surgem e resolver mais rapidamente o assunto, e podemos trabalhar em conjunto várias tarefas, como o processamento de horas extraordinárias, o que acelera uma série de procedimentos.” A profissional adianta que uma das ambições da equipa é criar uma página online onde pudesse ser divulgada informação, “pois um pequeno boato toma logo grandes proporções na comunidade e a equipa não consegue repor a verdade”.
outro lado, tratando-se de “uma população que historicamente se expõe muito ao sol, é frequente terem muitas lesões pré-malignas da face, das mãos e dos braços, principalmente queratoses actínicas, que requerem tratamento regular”. Mileta Gomes fala, assim, na “grande necessidade de fazer o diagnóstico diferencial das doenças graves e de evitar que as le-
A nossa interlocutora reconhece que “programar pequenas cirurgias seria uma forma de reduzir a afluência dos utentes ao meio hospitalar”. sões pré-malignas evoluam nesse sentido”. Como realça, “nós, médicos de família, trabalhamos na prevenção, no sentido de dar saúde aos utentes e não os deixar adoecer”. Nesse âmbito, mostra-se feliz pela “tentativa de libertação de algum trabalho burocrático dos médicos que tem existido, através do prolongamento do tempo em que as receitas são válidas, por exemplo, sobrando mais tempo para tratar as pessoas e dar-lhes saúde”. Contudo, alerta que, “além da vontade de criar respostas, é preciso ter alguma disponibilidade, que, por vezes, é quase mental, na procura de vencer barreiras e lutar contra a maré”. Dar e receber conhecimentos A formação é uma área muito valorizada pela equipa, por isso, durante o ano, realiza-se uma dezena de momentos
formativos, internos ou externos. No dia em que foi realizada esta reportagem, no início de novembro, as equipas médica e de enfermagem tiveram uma formação sobre osteoporose, com um profissional externo. Enquanto formadora da ARSLVT, pelo INEM, em Suporte Básico de Vida e DAE, a coordenadora da USF realiza, anualmente, treino de microequipas neste domínio. “O objetivo é capacitá-los para que se sintam mais seguros e tranquilos perante uma situação de stress, como uma paragem cardiorrespiratória, e saibam qual é o protocolo”, afirma.
Mais numa ótica de consultadoria, cerca de uma vez por mês, a Equipa Comunitária de Saúde Mental na área da Psiquiatria da Infância e Adolescência do HDS dirige-se à USF para discutir e articular certos casos clínicos. A título futuro, Mileta Gomes fala na
Ricardo Rocha, enfermeiro do Conselho Técnico:
“Aplicar procedimentos mais específicos em consulta, em alguns momentos, é u Ricardo Rocha nasceu em Lisboa, há 44 anos. Concluiu o seu curso pela Escola Superior de Enfermagem de Santarém em 2002 e logo começou a trabalhar a nível hospitalar, no Serviço de Medicina do HDS. Entretanto, tinha-se fixado em Coruche e, em 2003, conseguiu transitar para o respetivo Centro de Saúde. Trabalhou especificamente na antiga extensão de saúde do Biscainho, que agregava cerca de 1000 utentes. Com a fundação da USF Vale do Sorraia e o encerramento daquela extensão, o enfermeiro passou a estar fixado na sede e, cerca de um ano depois, integrou o Conselho Técnico. Nesse âmbito, refere procurar “garantir que as atividades estão de acordo com a evidência mais recente e que os objetivos estão a ser cumpridos, de forma a ir ao encontro da contratualização anual”. Enquanto a componente técnica está sob a sua responsabilidade, a vertente organizacional, que abrange a distribuição
dos horários, por exemplo, está a cargo de outra colega. “Apesar de a figura do interlocutor de enfermagem não estar definida nos diplomas em vigor, entendemos que esta divisão era funcional”, explicita. Além dos dois projetos em vigor que envolvem a enfermagem, Ricardo Rocha avança que tentam ainda organizar atividades ou documentos relacionados com acontecimentos mais específicos, como acontece no Dia Mundial da Diabetes e no Dia Mundial sem Tabaco. Entre os 11 enfermeiros, além de si, que é especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica desde 2012, somam-se ainda dois colegas especialistas em Enfermagem de Saúde Comunitária e uma em Enfermagem de Reabilitação. Contudo, estando as USF “muito vocacionadas para a saúde familiar”, Ricardo Rocha admite que “pode não ser tão simples desenvolver procedimentos mais específicos no dia-a-dia. Mas aplicá-los em consulta, em alguns
momentos, é realmente uma mais-valia”. No seu caso, tenta fazer um atendimento mais diferenciado aos utentes com doença mental grave que fazem medicação injetável periodicamente, por exemplo. “Procuro perceber se estão a cumprir a
vigilância a nível hospitalar e o esquema terapêutico relativo à vinda à USF”, expõe. O facto de a UCC integrar uma enfermeira especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica é, na sua perspetiva, “facilitador, por possibilitar o encaminhamento de situações mais graves para a colega, que, por sua vez, mantém um articulação muito próxima com a Equipa Comunitária de Saúde Mental da População Adulta”. Relativamente à Extensão de Saúde do Couço, tal como sucede com a equipa médica, há também dois enfermeiros escalados para responder aos cerca de 3000 utentes. Tratando-se de um meio mais pequeno, Ricardo Rocha acredita que os utentes estabelecem uma relação de maior proximidade com a equipa de enfermagem”. Por outro lado, “essa maior acessibilidade pode levá-los a utilizar os serviços de saúde de forma mais frequente, comparativamente com a sede”. Por sua vez, “naquela comunidade, os enfer-
meiros conhecem todos os recursos da comunidade e trabalham com eles, facilitando a identificação da melhor resposta a dar aos utentes”. A articulação com o apoio domiciliário dos centros de dia Ricardo Rocha realça que uma das particularidades desta USF é a dispersão geográfica da sua área de influência, o que tem reflexo nas visitas domiciliárias. “Há dias em que fazemos 100 km para percorrer os domicílios de parte do concelho”, refere, salientando que tal dispersão impede a realização de um maior número de domicílios. Ressalva, contudo, a facilidade de encaminhamento dos utentes mais complexos para a UCC. A existência de uma boa rede de cuidados domiciliários proporcionados pelos centros de dia do concelho é uma das vantagens identificadas pelo nosso interlo-
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possibilidade de vir a existir uma articulação com a Cardiologia do HDS, com vista à consultadoria de casos de insuficiência cardíaca, e também com a Nefrologia do CH do Médio Tejo, “no sentido de, nalguns casos, mediar a teleconsulta hospitalar, para que os utentes não tenham de percorrer 60 km até lá”. Apesar de, na vertente assistencial, os indicadores relativos aos domicílios de enfermagem e à consulta de doença aguda poderem ser melhorados, a coordenadora da USF tem bem consciência da dificuldade que é conseguir esse objetivo, “no primeiro caso, devido ao elevado nú-
mero de idosos e à amplitude do concelho e, no segundo, fruto da existência do SAC e do sistema de intersubstituição”. Procurando partilhar os saberes dos profissionais, adianta que, anualmente, o Conselho Técnico procura “discutir com as microequipas que atingem muito bons
uma mais-valia” cutor, que tem clara noção da evolução que existiu ao longo do tempo. “Quando comecei a trabalhar, encontrava frequentemente, na primeira visita domiciliária, pessoas idosas com grande necessidade de cuidados de enfermagem, quer porque a família não tinha conhecimentos, quer porque não procurava os serviços de saúde atempadamente”, conta. Atualmente, “os utentes têm solicitado muito o apoio domiciliário dos centros de dia, pelo que, progressivamente, aqueles profissionais foram tendo formações com os profissionais da USF e com outras entidades, conseguido responder a situações mais simples e levando a que a equipa já não encontre os utentes num estado geral de degradação tão evidente”. Paralelamente, “perante a identificação de uma situação que necessite de cuidados de enfermagem, a articulação é mais rápida, o que se traduz numa mais-valia”.
valores as razões inerentes e com as que têm resultados menos bons encontrar maneira de os melhorar, de forma a haver uma partilha de ensinamentos”. Numa altura em que vários concelhos estão com falta de médicos, alguns dos profissionais da equipa têm ido fazer consulta a outras unidades, nomeadamente
de Almeirim, Salvaterra de Magos e Chamusca. Carlos Ceia: o orgulho pelo caminho percorrido Carlos Ceia recorda-se bem do dia em que começou a trabalhar em Coru-
che, no então Hospital da Santa Casa da Misericórdia: 11 de setembro de 1979, já lá vão mais de 40 anos. Natural de Lisboa, foi na capital que estudou Medicina, na FMUL, e, no âmbito de um estágio inserido no serviço médico à periferia, chegou até Coruche. “Nem sabia bem onde é que era Coruche, mas ficava per-
to de Lisboa e já tinha aí uns amigos”, recorda. Na altura de escolher a especialidade, optou pela MGF nesse lugar e recorda-se que a realidade era bem diferente no antigo Centro de Saúde, que funcionava no edifício (Continua na pág. 20)
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(Continuação da pág. 19) do hospital: “Coruche tinha 24 horas de Serviço de Urgência e um internamento de 36 camas. Quando cheguei aqui com os meus colegas, só havia um médico mais graduado que nós, que se reformou. Então ficámos a tomar conta do Serviço e lidávamos com acidentes e mortes diariamente.” Para quem tinha acabado de sair da faculdade, “foi complicado, mas também uma fonte de aprendizagem e entreajuda”.
de espera. Com uma média de cerca de 1800 utentes por médico, temos tido dos melhores desempenhos da ARSLVT. O caminho foi feito com muito trabalho e fomos conseguindo ultrapassar as adversidades. Trabalhamos todos para o mesmo e é isso que interessa numa casa destas”, distingue. Com 68 anos, Carlos Ceia é o último médico que resta do grupo de fundadores da USF e já podia estar reformado, mas o gosto pela profissão leva-o a continuar. Foi o primeiro coordenador da USF e assumiu a função durante mais de 10 anos, entre 2018 e 2021, quando passou a pasta a Mileta Gomes, que tinha sido um dos 16 internos que já orientou. Apesar de reconhecer que lhe terá transmitido algum know-how, sublinha que o mérito maior é da colega: “Nós somos orientadores e vamos ajudando no que pudermos, mas eles têm de estudar por eles e têm o seu valor por isso. A Dr.ª Mileta tem o perfil certo para ser uma boa coordenadora e levar a Unidade a bom porto.” Ana Fernandes: o interesse pela área cardiorrespiratória e a tentativa de aumentar a literacia em saúde dos utentes
Carlos Ceia
Assim que surgiu o conceito de USF, Carlos Ceia, juntamente com um grupo de colegas, constituíram a USF Vale do Sorraia e orgulha-se muito de sempre terem conseguido dar garantia a toda a população. “Nunca tivemos um único utente em lista
Muito em breve, fará sete anos que Ana Fernandes integrou a USF Vale do Sorraia, para aí iniciar o internato de MGF. O seu gosto pela área respiratória levou-a, ainda enquanto interna, a frequentar o Curso de Prevenção e Controlo do Tabagismo para Profissionais da ARSLVT, o que lhe permite ser um dos
Ana Fernandes alerta que “são muito raros os utentes que não cometem algum erro, mesmo que utilizem os inaladores há 20 anos”.
três médicos habilitados a realizar Consulta de Cessação Tabágica. Contudo, não deixa o investimento nessa área esmorecer: “Sempre que há palestras relacionadas com o tabagismo, em congressos da área respiratória, tento assistir, para me manter informada e conseguir ajudar melhor os utentes”, refere. A médica de família diz ter por hábito rever a técnica inalatória dos utentes sempre que estes vêm à consulta, pois “são muito raros os que não cometem algum erro, mesmo que utilizem os inaladores há 20 anos e já tenham sido seguidos em MGF, Pneumologia e Medicina Interna”. Na sua ótica, tal acontece simplesmente porque “ninguém lhes diz que há um erro, o que leva à sua perpetuação”. Dada a sua maior especialização neste ramo, os colegas acabam por pedir a sua ajuda “para interpretar as espirometrias,
Rita Bispo, nutricionista:
“A maioria das patologias está associada à síndrome metabólica” Rita Bispo começou a colaborar com a USF Vale do Sorraia em agosto de 2022, no âmbito da sua integração na URAP Lezíria – Polo Coruche, através de um concurso nacional aberto quatro anos antes. Dentro do seu horário semanal, tem 15 horas de consulta dedicadas à USF Vale do Sorraia, onde recebe utentes referenciados pela equipa médica. “A maioria das patologias está associada à síndrome metabólica, portanto, à obesidade, à diabetes, à hipertensão e à dislipidemia, principalmente”, refere. E acrescentando que também acaba por atender grávidas, pessoas com alterações gastrointestinais − seja por doenças inflamatórias do intestino ou síndrome do colo irritável − e casos de patologias hepática e renal. Além do atendimento individualizado que dá neste tipo de consulta, a nutricionista está ainda envolvida noutros projetos da USF relacionados com a diabetes e a obesidade infantil. Este último, designado de CoOL, é para si muito desafiante, na medida em que, “nalguns casos, os próprios pais também têm obesidade e demonstram interesse em ser acompanhados igualmente em consulta, de forma a haver uma mudança mais profunda a nível familiar”.
Nesses casos, Rita Bispo acaba por fazer consultas em família, isto é, “os ficheiros vão sendo abertos individualmente, mas estão todos presentes na consulta, para identificarmos os hábitos a modificarem em família”. Estando este projeto direcionado às crianças entre os cinco e os nove anos, a nutricionista fala numa “grande dependência do que os pais compram, preparam e confecionam”. Olhando para trás, identifica uma clara mudança ao nível da oferta alimentar existente nas escolas. “Atualmente, têm alternativas mais
saudáveis. Pode ainda não ser o cenário ideal – existe grande oferta de leite achocolatado, por exemplo –, mas já se deu uma grande melhoria”. Futuramente, espera conseguir introduzir algumas dinâmicas de educação alimentar a este nível da obesidade infantil. Relativamente ao projeto da diabetes, é uma das profissionais que participam nas sessões explicativas de grupo, sendo que pode receber casos que necessitem de um acompanhamento mais individualizado. Considerando a variedade de projetos e a extensão do ACES, a nutricionista considera que a sua intervenção, dirigida à área de Coruche, e a da sua colega, em Santarém, são manifestamente insuficientes. Rita Bispo, de 34 anos, é natural de Castelo Branco. Após estudar na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e realizar o estágio académico no CHU Cova da Beira, regressou a Castelo Branco, onde surgiu a oportunidade de trabalhar numa IPSS centrada na área da deficiência mental – a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental. Aí se manteve durante uma década, a exercer funções de nutrição clínica e dinamizar atividades de promoção da educação alimentar.
selecionar o inalador mais adequado ou esclarecer alguma dúvida”. Como refere: “Gosto muito das áreas respiratória e cardiovascular e a maioria dos utentes sofre de problemas cardiorrespiratórios, por isso, consigo ajudar muitas pessoas e sinto-me feliz ao fazê-lo.” Nesse sentido, gostaria de, futuramente, implementar uma Consulta de Doença Respiratória, “onde os utentes com asma e DPOC de difícil controlo pudessem recorrer, para uma revisão global”. Atualmente, a especialista em MGF está escalada para o SAC às sextas-feiras à tarde e adianta que ter lidado desde o internato com uma panóplia tão grande de casos urgentes lhe trouxe “um enorme know-how”. Mas também a ajudou a identificar a falta de literacia em saúde da população: “Quando comecei a fazer os bancos com a minha orientadora de internato, em 2017, apercebi-me de que as pessoas recorriam ao então denominado SAP injustificadamente.” Daí nasceu o projeto “1 Minuto de Saúde”, que arrancou logo em fevereiro, com transmissão diária na Rádio Voz do Sorraia. Em conjunto com a enfermeira Ana Paula Vicente, dirigiu o programa de rádio, que vigorou durante todo o seu internato, e resultou em mais de 700 segmentos. “Há muitas pessoas idosas que ouvem a rádio nas suas casas e esta era uma forma de lhes
levar informação. Todos os dias, falávamos de um tema diferente ou atualizámos certos tópicos com mais informação”, expõe, notando que principalmente os internos e os alunos de Medicina em estágio eram aqueles que mais participavam no projeto. Ana Fernandes tem 32 anos e sempre viveu no Cartaxo. Ingressou na FMUL com a expectativa de que viria a ser cirurgiã, até ter percebido, durante os estágios hospitalares de Cirurgia, que afinal não era uma
Ana Fernandes
área onde se visse a trabalhar todos os dias. Paralelamente, percecionou que “as temáticas de muitas especialidades eram abordadas pela MGF”. No fundo, “não tratamos as especificidades das doenças, mas o global e a maioria das patologias”.
Ficha técnica Caracterização da população inscrita (novembro de 2023) Utentes: 19.331 (27.475 UP) Idosos: 6021 (Índice de dependência: 54,13%) Crianças e jovens com idade ≤ 14 anos: 2187 (Índice de dependência: 19,66%) Mulheres em idade fértil (dos 15 aos 54 anos) 3501 Atividade (2022) Consultas médicas Contactos diretos: Contactos indiretos: Domicílios médicos: Enfermagem Contactos diretos: Contactos indiretos: Domicílios de enfermagem: Profissionais (novembro de 2023) Médicos: Enfermeiros: Secretários clínicos: Internos em Formação Específica em MGF:
50.766 25.231 591 32.609 238 1706
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ESPECIAL
Neste Especial reproduzem-se textos originalmente publicados no Jornal do XVIII Congresso sobre Envelhecimento – Geriatria Prática, distribuído aos participantes no evento que decorreu nos dias 28 e 29 de setembro de 2023. Os artigos selecionados, transcritos na íntegra, podem incluir ligeiras adaptações.
› Rafaela Veríssimo Unidades de Ortogeriatria
› Cidália Rodrigues
DPOC, uma doença comum, prevenível e tratável
› Paulo Sousa Almeida
A Oncogeriatria permite diagnosticar, avaliar e planear estratégias de compensação, pré-habilitação e prevenção
› Patrícia Alves Anorexia e malnutrição
› Patrícia Afonso Mendes
Causas e consequências da anorexia em idade geriátrica
› Helena Loureiro Abordagem nutricional da anorexia no idoso
› José Pereira de Moura A abordagem à dislipidemia
› Cátia Duarte O tratamento farmacológico da osteoporose
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Notícias Notícia XVIII Congresso sobre Envelhecimento – Geriatria Prática
Unidades de Ortogeriatria
Rafaela Veríssimo Coord. Unidade de Ortogeriatria e da Consulta de Geriatria do CHVNG/E. Assist. hospitalar de MI com competência em Geriatria pela OM O papel do geriatra na abordagem dos doentes idosos com fratura do fémur foi descrito em 1963, no Reino Unido, por Michael Devas, um cirurgião ortopédico, e Bobby Irvine, geriatra, estabelecendo-se colaboração entre um Serviço de Ortopedia de um hospital exclusivamente com atividade cirúrgica e uma Unidade de Geriatria num hospital próximo, recebendo doentes subagudos após um tratamento inicial em enfermarias de cirurgia ortopédica. Nos anos iniciais do século XXI surgiram as primeiras unidades conjuntas com responsabilidade partilhada entre as duas especialidades, em que ortopedistas e geriatras lideravam em conjunto, incluindo também na equipa fisiatras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, enfermeiras e auxiliares de enfermaria. A fratura do colo do fémur – assim como as quedas – é mais frequente em
idosos, apresentando elevado risco de mortalidade e morbilidade, sobretudo em indivíduos idosos mais frágeis. Contribui também para duração de internamentos mais longa, aumento dos custos sociais e em saúde e também da institucionalização, com o risco de as pessoas perderem a sua total autonomia e de desenvolverem incapacidade que pode ser irreversível. Estes doentes têm características diferentes, com múltiplas doenças crónicas, por vezes descompensadas e com um elevado risco de complicações perioperatórias, destacando-se ainda a polifarmácia, deterioração cognitiva, transtornos psicoafetivos, défices sensoriais e fragilidade social. O sucesso do tratamento destes doentes não depende apenas da cirurgia per si mas também da recuperação da autonomia e da capacidade da marcha, com regresso ao domicílio em condições de segurança que evitem uma nova queda. Vários estudos publicados indicam que as unidades de Ortogeriatria apresentam efeitos superiores em termos de melhoria dos resultados clínicos, redução da duração de internamento, da mortalidade, intercorrências, custos e melhoria da qualidade de vida. Um dos pontos-chave na abordagem do doente ortogeriátrico é a realização da avaliação geriátrica global e a identificação das síndromes geriátricas, permitindo conhecer não apenas as comorbilidades do doente, mas também o seu estado funcional, cognitivo, nutricional e social, elaborando um tratamento individualizado, bem como estabelecer
comunicação com o cuidador ou familiar principal, caso exista, que poderá informar sobre a mobilidade prévia, o recurso a ajudas técnicas (como bengala) e os episódios prévios de quedas. Nas unidades de Ortogeriatria as recomendações dos cuidados devem estar protocolizadas, sendo o plano de tratamento elaborado em conjunto pela equipa multidisciplinar, tendo em conta a situação funcional prévia antes da fratura e com o objetivo de devolver o nível de funcionalidade prévio à admissão. O geriatra acompanha diariamente os doentes, identifica as intercorrências, reduz o risco de síndromas geriátricas e articula com a família ou cuidadores o processo de orientação à alta clínica, gerindo expectativas, como a necessidade de cuidados domiciliários, a reabilitação e a reconciliação terapêutica. Também fica responsável pela articulação entre os vários profissionais de saúde envolvidos, promovendo reuniões multidisciplinares. Infelizmente, em Portugal, ainda existe pouca diferenciação na área da Geriatria, havendo um reduzido número de unidades de Ortogeriatria, ao contrário do que acontece nos restantes países da Europa, sendo que, tradicionalmente, as enfermarias de Ortopedia têm apoio (à chamada ou fixo) da Medicina Interna e de outras especialidades médicas para a resolução de intercorrências, que resultam muitas vezes em intervenções especializadas, mas mais tardias, e sem uma visão integral e holística do doente geriátrico, reduzindo a possibilidade de melhorar o prognóstico e a sua autonomia.
DPOC, uma doença com
Cidália Rodrigues Assist. graduada de Pneumologia, CHUC A DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica) é definida pela iniciativa GOLD (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease) como uma doença comum, prevenível e tratável, caracterizada por sintomas respiratórios persistentes associados a limitação ao fluxo de ar, resultante de alterações alveolares e/ou das vias aéreas. Atualmente, é considerada um problema global e em crescimento, com elevada morbimortalidade. Segundo o Relatório Nacional das Doenças Respiratórias de 2020, a DPOC é a 5.ª causa de morte, com aumento de 7,9% vs 2017. Estes dados fortalecem a necessidade de melhorar o diagnóstico e a abordagem dos doentes, reduzindo o impacto global da doença. O diagnóstico deve ser considerado na presença de sintomas respiratórios como dispneia, tosse crónica, expetoração, infeções do trato respiratório inferior recorrentes e história de exposição a fatores de risco para a
doença. Perante este quadro, é mandatário a realização da espirometria, para confirmar a limitação persistente ao fluxo aéreo (FEV1/FVC < 70% pósbroncodilatação). A prevalência da doença aumenta com a idade, mas a inespecificidade dos sintomas, muitas vezes atribuídos ao processo de envelhecimento e à existência de outras comorbilidades, contribui para o subdiagnóstico da DPOC no idoso. O GOLD preconiza a utilização do ratio fixo FEV1/FVC < 70% para o diagnóstico da doença, mas não é consensual a sua utilização nesta faixa etária, uma vez que o declínio da razão faz parte do processo natural de envelhecimento do pulmão.
A abordagem e tratamento da DPOC deve ser precoce, individualizada e otimizada. A DPOC resulta da interação entre a genética e o ambiente. Esta interação ocorre ao longo do tempo de vida do indivíduo, danificando os pulmões e/ou alterando o seu processo de envelhecimento. O tratamento da DPOC tem como objetivo reduzir sintomas e o próprio risco, prevenir a progressão da doença, prevenir e tratar exacerbações e reduzir a mortalidade. A abordagem e tratamento
A Oncogeriatria permite diagnosticar, avaliar e planear estratégias de compensação, pré-habilitação e prevenção
Paulo Sousa Almeida Assist. hospitalar de MI com competência em Geriatria, CHUSJ. Assist. convidado, FMUP. Membro do Secret. do Núcleo de Estudos de Geriatria da SPMI Considerando a idade como o principal fator de risco para a maioria das neoplasias, facilmente se depreende a elevada
incidência de cancro nos idosos. De facto, segundo o Registo Oncológico Nacional de 2019, a maioria dos novos casos de cancro ocorreu na população com mais de 60 anos (71.8%), sendo que o grupo etário entre os 80 e os 84 anos apresentou a taxa de incidência mais elevada (1.687,2/100.000 pessoas-ano). Ainda assim, a população idosa é sub-representada nos ensaios clínicos, o que se associa a menor informação disponível sobre riscos e benefícios do tratamento do cancro nos idosos e a escassas recomendações específicas para estes doentes. Para além disso, os idosos têm múltiplas particularidades clínicas que interferem no diagnóstico, estadiamento, tratamento e prognóstico das neoplasias e que deverão ser exaustivamente consideradas. As alterações fisiológicas da senescência, como a alteração da composição corporal
e a imunossenescência, podem interferir na farmacocinética dos fármacos antineoplásicos e na imunoterapia, respetivamente. As síndromes geriátricas, como polimedicação, desnutrição, sarcopenia,
A Oncogeriatria envolve equipas multidisciplinares especializadas cuja abordagem se fundamenta na Avaliação Geriátrica Global (AGG).
depressão, demência e deterioração funcional, associam-se à fragilidade e, consequentemente, a pior prognóstico vital e funcional, risco de institucionalização e diminuição da sobrevida. Portanto, considerando não só a variabilidade clínica como também a heterogeneidade interindividual do envelhecimento, impõe-se como necessidade basilar a distinção entre a idade cronológica e a idade biológica de cada indivíduo, a fim de estimar, de forma mais precisa, o possível benefício de cada intervenção diagnóstica ou terapêutica. Na verdade, o idadismo tem-se associado, em múltiplos estudos, a subtratamento dos idosos com cancro, o que implica uma menor probabilidade de receberem o tratamento mais apropriado para a sua neoplasia. A Oncogeriatria, através de equipas multidisciplinares especializadas cuja
abordagem se fundamenta na Avaliação Geriátrica Global (AGG), permite diagnosticar de forma precisa e completa todos os problemas do idoso, avaliá-lo de forma interdisciplinar nos planos em que poderá ser deficitário (designadamente o estado funcional, cognitivo, nutricional e social) e planear estratégias de compensação, pré-habilitação e prevenção, visando a autonomia e a qualidade de vida. Esta metodologia poderá, ainda, permitir uma maior precisão na estimativa do prognóstico e esperança de vida e na individualização do tratamento, esclarecendo se o idoso será suficientemente fit para receber determinado tratamento ou se, pelo contrário, poderá aumentar a toxicidade e a morbimortalidade. De facto, o benefício da Oncogeriatria, e particularmente da AGG, já foi comprovado por
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mum, prevenível e tratável deve ser precoce, individualizada e otimizada. A terapêutica inalada, nomeadamente os broncodilatadores, são a base do tratamento da DPOC; os anticolinérgicos (LAMA) associados aos B2 agonistas de longa duração de ação (LABA) melhoram os sintomas e FEV1 e reduzem exacerbações comparativamente à monoterapia. Os corticoides inalados (ICS) utilizam-se associados aos broncodilatores, nunca em monoterapia, em doentes sintomáticos com história de exacerbações frequentes e/ ou graves. A contagem de eosinófilos no sangue periférico é atualmente considerada um biomarcador preditivo de resposta ao tratamento com ICS na prevenção de futuras exacerbações. Contagens < 100 cel/ul considera-se baixa probabilidade de benefício na utilização dos ICS. Existem intervenções bem estabelecidas para reduzir a mortalidade na DPOC: identificação precoce dos doentes, cessação tabágica, reabilitação respiratória, em determinados doentes com maior grau de gravidade da doença, a oxigenoterapia a longo prazo ou a cirurgia de redução de volume pulmonar e dados recentes mostraram que a terapêutica tripla de dose fixa reduz a mortalidade por todas as causas comparativamente à terapêutica dupla, em doentes sintomáticos e com história de exacerbações. O inalador e a técnica inalatória são fundamentais em todo este processo. A escolha do inalador deve ser individualizada e dependerá do acesso, do custo, do prescritor, mas, mais importante ainda, da preferência do doente e da capa-
cidade de fazer o inalador. É importante o ensino e a revisão regular da técnica inalatória por parte da equipa de profissionais.
A terapêutica num só inalador pode ser mais conveniente e efetiva do que em múltiplos inaladores. Intervenções não farmacológicas
são preconizadas: cessação tabágica, atividade física regular e prevenção de infeções com a vacinação (influenza, pneumocócica, pertússis, covid-19 e
herpes-zoster). Os doentes mais graves devem ser referenciados e incluídos em programas de reabilitação respiratória.
Na ASMA 1+1+1 > 3 Respirar a vida ao máximo*,2,3 INDACATEROL LABA
LABA: agonista beta2 de longa duração LAMA: antagonista muscarínico de longa duração ICS: corticosteroide inalado
C
M
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CM
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CY
CMY
K
MOMETASONA ICS
* Entende-se por “respirar a vida ao máximo” que o doente ao tomar Enerzair® Breezhaler® poderá obter melhorias de função pulmonar, controlo de sintomas, qualidade de vida e redução de exacerbações vs terapêuticas padrão. 1. RCM de ENERZAIR® BREEZHALER®, data da última actualização 06/2022. 2. Kerstjens HAM et al. Once-daily, single-inhaler mometasone–indacaterol–glycopyrronium versus mometasone–indacaterol or twice-daily fluticasone–salmeterol in patients with inadequately controlled asthma (IRIDIUM): a randomised, double-blind, controlled phase 3 study. Lancet Respir Med. 2020;8(10):1000–12, doi:10.1016/S2213-2600(20)30190-9. 3. Gessner C et al. Fixed-dose combination of indacaterol/glycopyrronium/mometasone furoate once-daily versus salmeterol/fluticasone twice-daily plus tiotropium once-daily in patients with uncontrolled asthma: A randomised, Phase IIIb, non-inferiority study (ARGON). Respir Med. 2020;170(March):106021, doi:10.1016/j.rmed.2020.106021. IECRCM - ENERZAIR® BREEZHALER® 114 MICROGRAMAS/46 MICROGRAMAS/136 MICROGRAMAS PÓ PARA INALAÇÃO, CÁPSULAS NOTA: Antes de prescrever consulte o RCM do medicamento. APRESENTAÇÃO: Pó para inalação, cápsula (pó para inalação). Cada cápsula contém 150 microgramas de indacaterol, 50 microgramas de glicopirrónio e 160 microgramas de furoato de mometasona. Cada dose libertada (a dose libertada através do aplicador bocal do inalador) contém 114 microgramas de indacaterol (na forma de acetato), 58 microgramas de brometo de glicopirrónio equivalente a 46 microgramas de glicopirrónio e 136 microgramas de furoato de mometasona. Excipiente(s) com efeito conhecido: Cada cápsula contém 25 mg de lactose mono-hidratada. INDICAÇÕES: Enerzair Breezhaler está indicado como terapêutica de manutenção da asma em doentes adultos não controlados adequadamente com uma associação de um agonista beta2 de ação prolongada e uma dose alta de corticosteroide inalado em regime de manutenção que experimentaram uma ou mais exacerbações da asma no ano anterior. POSOLOGIA: Adultos: A dose recomendada é uma cápsula inalada uma vez por dia. A dose máxima recomendada é de 114 µg/46 µg/136 µg uma vez por dia. Doentes pediátricos (< 18 anos): Não recomendado em doentes com menos de 18 anos de idade. Populações especiais: População idosa: Não é necessário ajuste de dose em doentes idosos (65 anos de idade ou mais). Compromisso renal: Não é necessário ajuste de dose em doentes com compromisso renal ligeiro a moderado. Deve ter-se precaução em doentes com compromisso renal grave ou doença renal terminal que necessitem de diálise. Compromisso hepático: Não é necessário ajuste de dose em doentes com compromisso hepático ligeiro a moderado. Não existem dados disponíveis sobre a utilização deste medicamento em doentes com compromisso hepático grave, como tal deve ser utilizado nestes doentes apenas se o benefício esperado superar o risco potencial. Modo de administração: Apenas para utilização por via inalatória. As cápsulas não podem ser engolidas. Os doentes que não sintam melhorias na sua respiração devem ser questionados se estão a engolir o medicamento em vez de o inalar. As cápsulas têm de ser administradas usando apenas o inalador Enerzair Breezhaler. O tratamento deve ser administrado à mesma hora do dia todos os dias. Pode ser administrado independentemente da hora do dia. Após a inalação, os doentes devem lavar a boca com água sem engolir. Se for omitida uma dose, esta deve ser tomada assim que possível. Os doentes devem ser instruídos a não tomarem mais do que uma dose por dia. As cápsulas de Enerzair Breezhaler devem ser sempre conservadas no blister para proteger da luz e humidade, esó podem ser removidas do blister imediatamente antes da utilização. A embalagem pode conter um sensor eletrónico para ser ligado à base do inalador. O sensor e a App não são necessários para a administração do medicamento ao doente e o médico prescritor poderá avaliar com o doente se a utilização do sensor e da App é apropriada. CONTRAINDICAÇÕES: Hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer um dos excipientes. ADVERTÊNCIAS/PRECAUÇÕES: ◊ Asma Aguda: não deve ser utilizado para tratar sintomas agudos de asma, incluindo episódios agudos de broncospasmo, para os quais é necessário um broncodilatador de curta ação. ◊ Hipersensibilidade: Se ocorrer uma reação de hipersensibilidade, Enerzair Breezhaler deve ser descontinuado imediatamente e deverá ser instituída terapêutica alternativa. ◊ Broncospasmo paradoxal: Tal como com outra terapêutica inalatória, a administração deste medicamento pode resultar em broncospasmo paradoxal, o qual pode colocar a vida em risco. Se tal ocorrer, o tratamento deve ser interrompido imediatamente e deverá ser instituída terapêutica alternativa. ◊ Efeitos cardiovasculares: Tal como outros medicamentos contendo agonistas adrenérgicos beta2, este medicamento pode produzir um efeito cardiovascular clinicamente significativo em alguns doentes conforme avaliado através de aumentos na frequência cardíaca, pressão arterial e/ou sintomas, alterações do electrocardiograma (ECG). Este medicamento deve ser usado com precaução em doentes com patologias cardiovasculares (doença arterial coronária, enfarte agudo do miocárdio, arritmias cardíacas, hipertensão, prolongamento do intervalo QT), distúrbios convulsivos ou tirotoxicose e em doentes com resposta aumentada aos agonistas adrenérgicos beta2. ◊ Hipocaliemia: Os agonistas adrenérgicos beta2 podem causar uma hipocaliemia significativa em alguns doentes, o que potencialmente pode levar a reações adversas cardiovasculares. Em doentes com asma grave, a hipocaliemia pode ser potenciada pela hipoxia e pela terapêutica concomitante, o que pode aumentar a suscetibilidade a arritmias cardíacas. ◊ Hiperglicemia: A inalação de doses elevadas de agonistas adrenérgicos beta2 e corticosteroides pode produzir um aumento da glucose plasmática. Nos doentes diabéticos, ao iniciar o tratamento, a glucose plasmática deve ser monitorizada mais cuidadosamente. ◊ Efeitos anticolinérgicos: Tal como com outros medicamentos anticolinérgicos, este medicamento deve ser utilizado com precaução em doentes com glaucoma de ângulo fechado ou retenção urinária. ◊ Doentes com compromisso renal grave: Deve ter-se precaução nos doentes com compromisso renal grave (taxa de filtração glomerular estimada inferior a 30 ml/min/1,73 m2), incluindo aqueles com doença renal terminal que necessitam de diálise, deve ter-se precaução. ◊ Prevenção de infeções orofaríngeas: De modo a se reduzir o risco de infeção orofaríngea por cândida, os doentes devem ser aconselhados a lavar a boca ou a gargarejar com água, sem a engolir, ou a lavar os dentes após inalarem a dose prescrita. ◊ Efeitos sistémicos dos corticosteroides: Podem ocorrer efeitos sistémicos dos corticosteroides inalados, principalmente no caso de doses elevadas prescritas por períodos prolongados. Os efeitos sistémicos possíveis podem incluir: síndrome de Cushing, manifestações Cushingóides, supressão adrenal, atraso do crescimento em crianças e adolescentes, diminuição da densidade mineral óssea, cataratas, glaucoma e, mais raramente, uma série de efeitos psicológicos ou comportamentais incluindo hiperatividade psicomotora, distúrbios do sono, ansiedade, depressão ou agressão (especialmente em crianças). Como tal, é importante que a dose de corticosteroide inalado seja titulada para a dose mais baixa na qual o controlo efetivo da asma é mantido. Podem ser notificados distúrbios visuais com o uso de corticosteroides sistémicos ou tópicos (incluindo intranasais, inalados ou intraoculares). Doentes que apresentem sintomas como visão turva ou outros distúrbios visuais, devem ser considerados para encaminhamento a um oftalmologista para avaliação de possíveis causas dessas perturbações visuais, as quais podem incluir cataratas, glaucoma ou doenças raras como a corioretinopatia central serosa (CRCS), que foram notificadas após o uso de corticosteroides sistémicos ou tópicos. Este medicamento deve ser administrado com precaução em doentes com tuberculose pulmonar ou em doentes com infeções crónicas ou não tratadas. ◊ Gravidez: Este medicamento deve ser utilizado durante a gravidez apenas se o benefício esperado para os doentes justificar o potencial risco para o feto. ◊ Amamentação: Tem que ser tomada uma decisão sobre a descontinuação da amamentação ou a descontinuação/abstenção da terapêutica, tendo em conta o benefício da amamentação para a criança e o benefício da terapêutica para a mulher. ◊ Trabalho de parto: Como outros medicamentos contendo agonistas adrenérgicos beta2, o indacaterol pode inibir o trabalho de parto devido a um efeito relaxante no músculo liso uterino. INTERAÇÕES: ◊ Bloqueadores adrenérgicos beta: este medicamento não deve ser administrado com bloqueadores adrenérgicos beta (incluindo gotas para os olhos) a menos que existam razões importantes para a sua utilização ◊ Medicamentos conhecidos por prolongarem o intervalo QTc: devem ser administrados com precaução a doentes que estejam a ser tratados com inibidores da monoamina oxidase, antidepressivos tricíclicos ou medicamentos conhecidos por prolongar o intervalo QT. ◊ Tratamento hipocaliemico: O tratamento hipocaliémico concomitante com derivados da metilxantina, esteroides ou diuréticos não poupadores de potássio pode potenciar o possível efeito hipocaliémico dos agonistas adrenérgicos beta2. ◊ Interação com inibidores do CYP3A4 e da glicoproteína P: A inibição do CYP3A4 e da glicoproteína P (gp-P) não tem impacto na segurança de doses terapêuticas de Enerzair Breezhaler. ◊ Outros antimuscarínicos de ação prolongada e agonistas adrenérgicos beta2 de ação prolongada: A coadministração deste medicamento com outros medicamentos contendo antagonistas muscarínicos de ação prolongada ou agonistas adrenérgicos beta2 de ação prolongada não foi estudada e não é recomendada. ◊ Cimetidina ou outros inibidores do transporte de catiões orgânicos: Não é esperada qualquer interação medicamentosa clinicamente relevante. EFEITOS INDESEJÁVEIS: ◊ Frequentes (≥1% to <10%) e potencialmente graves: hipersensibilidade. ◊ Muito frequentes: asma (exacerbação), nasofaringite. ◊ Frequentes (≥1% to <10%): infeção do trato respiratório superior, candidíase, infeção do trato urinário, cefaleia, taquicardia, dor orofaríngea, tosse, disfonia, gastroenterite, dor musculosquelética. espasmos musculares, pirexia. ◊ Pouco frequentes (≥0.1% to <1%): hiperglicemia, cataratas, boca seca, erupção cutânea, prurido, disúria. Para mais informações, consultar o titular de autorização de introdução no mercado ou o representante local do titular de autorização de introdução no mercado. Medicamento sujeito a receita médica. Escalão de comparticipação: B Titular da AIM: Novartis Europharm Limited. Representante local: JABA RECORDATI S.A. Avenida Jacques Delors, Edifício Inovação 1.2, Piso 0, Tagus Park Parque de Ciência e Tecnologia, 2740-122 Porto Salvo www.jaba-recordati.pt Informações Essenciais Compatíveis com o Resumo das Características do Medicamento (ENZ_RCM20220621_IEC_v4).
Sob licença Novartis JABA RECORDATI S.A.
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Ref.: 207.2022 MP09/2022
vários estudos, destacando-se o GAP-70+ e o GAIN, que mostraram uma redução da toxicidade da quimioterapia no grupo em que realizou a AGG. Atualmente, a realização de AGG a todos os doentes com cancro com 65 ou mais anos, particularmente naqueles com rastreio de fragilidade positivo, é uma recomendação consensual a todas as sociedades científicas internacionais. Pese embora esta recomendação, em Portugal não é prática clínica habitual a realização de AGG em doentes idosos com cancro, desvalorizando-se as particularidades clínicas destes doentes, o que pode implicar o aumento da toxicidade e da morbilidade associadas aos tratamentos ou, por outro lado, o subtratamento, devido ao preconceito da idade, reduzindo assim a sobrevida e a qualidade de vida.
GLICOPIRRÓNIO LAMA
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Notícias Entrevista Notícia XVIII Congresso sobre Envelhecimento – Geriatria Prática
Anorexia e malnutrição
Patrícia Alves Assist. graduada de Medicina Interna, CHUC A alimentação é um dos principais determinantes da saúde. A malnutrição, ou malnutrição associada à doença, define-se como “um estado resultante da falta de ingestão ou absorção de nutrientes que leva à alteração da composição corporal (diminuição da massa muscular) e massa celular corporal, levando à diminuição da função motora e cognitiva e ao comprometimento da evolução da condição clínica”, de acordo
com a definição mais recente da European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN). Estima-se que afete um em cada três idosos no seu domicílio ou lares de idosos e mais de 30% dos doentes internados em unidades hospitalares estão em risco nutricional, condição fortemente associada ao aumento da mortalidade e morbilidade, declínio funcional, permanência hospitalar prolongada e aumento dos custos de saúde. A malnutrição é multifatorial, afetando todas as faixas etárias, com maior prevalência nos idosos, e é um fator independente do índice de massa corporal (IMC), podendo estar presente em doentes com IMC de magreza, eutrofia, excesso ponderal ou obesidade. Traduz-se na perda de peso involuntária. Os sinais físicos da malnutrição revelam-se pela perda de massa muscular, que levam a fragilidade e comprometimento funcional, redução da força muscular e sarcopenia, fadiga, comprometimento da cicatrização de
feridas crónicas e maior incidência de infeções. As causas mais frequentes da malnutrição incluem anorexia, alterações do paladar, xerostomia, falta de dentição, disfagia ou dificuldades na mastigação, presença de doenças crónicas que aumentem as necessidades proteicas e energéticas, alterações da função gastrointestinal (náuseas, vómitos, má absorção, diarreia, obstipação), isolamento social, incapacidade de realizar as atividades de vida diária, como cozinhar, entre outras. É uma situação clínica reversível, desde que identificada precocemente e instituída uma intervenção nutricional individualizada, tendo em conta a condição clínica, as necessidades nutricionais e preferências do indivíduo. A malnutrição associada à doença continua a ser assumida como um problema de saúde secundário, pelo que a implementação do rastreio do risco nutricional como um parâmetro de rotina, quer nos hospitais, quer nos cuidados de
Abordagem saúde primários, é o primeiro passo na melhoria do acesso aos cuidados nutricionais. O Nutritional Risk Screening 2002 (NRS-2002) é recomendado pela ESPEN como ferramenta de avaliação e identificação de risco em ambiente hospitalar. É uma ferramenta simples, que pode ser operacionalizada por uma equipa multidisciplinar capacitada, sensível, específica, segura e de baixo custo. O MUST (Malnutrition Universal Screening Tool) é a ferramenta de rastreio nutricional recomendada pela ESPEN e pelo National Institute for Health and Care Excellence (NICE), para identificação do risco de malnutrição, sendo fácil e de rápida aplicação. A malnutrição constitui um grave problema de saúde pública. Requer uma abordagem multimodal individualizada e adaptada, nomeadamente no que diz respeito à terapêutica nutricional e plano de exercícios, bem como no aspeto farmacológico e psicossocial do doente.
Causas e consequências da anorexia em idade geriátrica
Patrícia Afonso Mendes Assist. hosp. de Medicina Interna. Assist. convidada de Geriatria e Nutrição Clínica da FMUC A anorexia no idoso é definida como perda de apetite e/ou diminuição da ingesta de comida na idade geriátrica. É uma situação bastante comum, afetando aproximadamente 25-30% dos idosos ou atingindo mesmo uma prevalência de
65% nos idosos em lares ou hospitalizados. Está, no entanto, claramente subdiagnosticada por ser frequentemente aceite como inevitável e parte do envelhecimento “normal”. Existem vários motivos pelos quais esta situação é tão frequente na idade geriátrica. Destaca-se a importância das alterações do cheiro e sabor na sua fisiopatologia. Também não mais insignificantes são as alterações hormonais, tais como uma eventual redução na produção ou da sensibilidade à grelina, a “hormona da fome”, em oposição a níveis aumentados de leptina, hormona que diminui a necessidade de alimentação e aumenta o gasto energético. Outros mecanismos fisiopatológicos na anorexia são as alterações gastrointestinais, com diminuição da sensação de fome mesmo após longos períodos de jejum, ou o atraso
no esvaziamento gástrico. Por fim, a inflamação, imagem de marca do envelhecimento, também desempenha um papel de destaque na fisiopatologia da anorexia do idoso. Como fatores de risco para o desenvolvimento de anorexia neste escalão etário temos fatores físicos, como a redução da mobilidade, má dentição ou incorreto uso de próteses dentárias e défices sensoriais. Acima de tudo, não nos podemos esquecer que há várias patologias que podem condicionar anorexia e múltiplos fármacos que contribuem para a redução da ingesta alimentar por diversos motivos, tendo o médico que estar alerta para estas situações. É importante destacar ainda fatores sociais, tais como a pobreza, o isolamento social, a falta de transporte ou dificuldades de acesso, ou a incapacidade de se prestar atenção às preferências alimenta-
res pessoais, como potenciais contribuidores para o aparecimento de anorexia no idoso. No que toca às consequências, estas são múltiplas e impactantes. A mais óbvia é a má nutrição e eventual perda de peso, com todas as implicações inerentes. Pelas alterações da orofaringe e gustativas acima referidas, os idosos tendem a ingerir comida líquida ou pastosa, preterindo alimentos de elevada qualidade proteico-nutricional, como o consumo de carne, peixe e ovos. Isto, associado à redução da mobilidade, gera risco de sarcopenia, fragilidade e quedas, para além das outras consequências médicas tão conhecidas. A anorexia e a consequente perda de peso, que vão gerar um idoso frágil, têm como consequência final um aumento do risco de mortalidade, independentemente da idade, sexo e outros potenciais fatores de confusão.
Helena Loureiro Nutricionista. Professora adjunta da licenciatura de Dietética e Nutrição, ESTeSC, IPC A perda de apetite (PA) é comum entre idosos e pode ocorrer como sintoma de doença subjacente e ou como efeito colateral do uso de medicamentos. A PA também pode ocorrer na ausência de qualquer causa médica evidente e ser atribuída ao processo de envelhecimento. Esta condição foi denominada anorexia do envelhecimento (AE). O deficiente reconhecimento clínico e social da PA em idosos acontece por vários motivos: não existe uma abordagem nem uma terminologia padronizada para a avaliação do apetite, o que leva a confusão com outros termos como perda de peso, AE e desnutrição. Há também uma suposição comum de que a PA é “normal” no envelhecimento. Esses fatores contribuem para a variação na prevalência de PA, que é incerta, pois, a PA pode passar despercebida, particularmente se for mínima ou ausente. As causas da AE são multifatoriais: – Ingestão diminuída: qualidades hedónicas e impulso alimentar diminuídos e atividade aumentada de fatores de saciedade; – Envelhecimento das moléculas sinalizadoras do apetite periférico: aumento da saciedade e hormonas anoréticas, com redução da quantidade e da sensibilidade às hormonas da fome; – Envelhecimento e intestino: redução da motilidade, que leva à obstipação; – Envelhecimento e perceção sensorial: diminuição do gosto e do cheiro e secreções salivares; – Fatores sociais e ambientais – dificuldade em cozinhar, pobreza e solidão.
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Reportagem Notícia 28 e 29 setembro 2023
m nutricional da anorexia no idoso Idosos com AE mostram alterações na quantidade/qualidade da ingestão energética que causam desequilíbrio entre a ingestão e o gasto energético, o que concorre para a desnutrição e défices metabólicos, tornando os idosos mais vulneráveis a fatores de stress e mais suscetíveis a resultados de saúde adversos: sarcopenia, incapacidade, perda de independência e mortalidade. É necessário melhorar tanto o reconhecimento como a gestão da PA entre os idosos.
Idosos com anorexia do envelhecimento mostram alterações na quantidade/qualidade da ingestão energética. Estratégias de tratamento para AE: a) Intervenção nutricional individualizada – Triagem, diagnóstico e avaliação nutricional, literacia nutricional. Plano nutricional inicialmente hipocalórico, equilibrado, variado, refeições assistidas e apelativas: aromáticas coloridas, saborosas, frequentes, pequenas doses, facilmente digeríveis, possibilidade de escolha, respeitar hábitos, gostos, crenças, cultura, consistência adequada, ambiente agradável. Recomendações: proteínas 1 a 1,25 g/k/dia, lípidos 25 a 30% do VCT, HC 50 a 60% VCT < 10% absorção rápida(1). Importante a ingestão de antioxidantes: vitamina E, vitamina C e selénio. b) Atividade física – Programas de exercícios comunitários, sessões de grupo com foco na força muscular, coordenação, flexibilidade e resistência, ou atividades criativas, como por ex. a dança. c) Suplementação – Inclui suplementos nutricionais orais (ONS) para fins medicinais que podem ser modulares, poliméricos e oligoméricos, isocalóricos, hipercalóricos, hiperproteicos e especiais. Os ONS são muito usados por idosos para atingirem as suas necessidades nutricionais, manter o peso corporal e a nutrição adequada, e especificamente para prevenir ou tratar perda de função muscular, sarcopenia, fragilidade e desnutrição. Conclusão: o apetite impulsiona a ingestão nutricional oral essencial. A sua
regulação é complexa, influenciada pela A identificação precoce da falta de apetite fisiologia, pelo hedonismo e pela apren- pode permitir intervenção antes que ocordizagem a partir de sinais externos dentro ra a perda de peso. Há evidências positi03/11/2023 10:30 das refeições da sociedadeAF_Anúncio_210x267_Brintellix.pdf e da cultura de uma pessoa. vas na1 adaptação e confeção
e na suplementação nutricional oral. No futuro, importa desenvolver abordagens multicomponentes para o tratamento eficaz da AE.
Referência:
1. Bauer J, Biolo G, Cederholm T, et al. (2013) Evidence-based recommendations for optimal dietary protein intake in older people: a position paper from the PROT-AGE Study Group. J Am Med Dir Assoc. 14:542-559.
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Notícias Notícia XVIII Congresso sobre Envelhecimento – Geriatria Prática
A abordagem à dislipidemia
José Pereira de Moura Coordenador da Consulta de ATS/HTA. Serviço de Medicina Interna CHUC De acordo com o Copenhagen General Population Study, os indivíduos com hipercolesterolemia e com idade compreendida entre os 70 e os 100 anos apresentam o maior risco absoluto de doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA) e o
menor número necessário tratar para prevenir um evento. No entanto, o idoso apresenta habitualmente um conjunto significativo de comorbilidades que contribuem para o chamado risco competitivo. Por este motivo, a ESC, nas suas guidelines de prevenção da DCVA de 2021, propõe um score específico de cálculo de risco para os indivíduos com mais de 70 anos, o SCORE2 OP, e a classificação de risco distingue as diversas faixas etárias. Para ser considerado de muito elevado risco, acima dos 70 anos tem de ter um SCORE2 OP ≥ 15%, sendo este valor de 7,5% nos indivíduos com menos de 50 anos. Ainda em prevenção primária, os alvos terapêuticos para o indivíduo sénior com muito elevado risco têm de ser analisados caso a caso, entrando em linha de conta com as comorbilidades e o risk treatment benefit! Em prevenção secundária, e tendo sem-
azilsartan medoxomilo/clorotalidona
20mg • 40mg • 80mg comprimidos frequência, utilizando a seguinte convenção: muito frequentes (≥ 1/10); frequentes (≥ 1/100, < 1/10); pouco frequentes (≥ 1/1,000, < 1/100); raras (≥ 1/10,000, < 1/1,000); muito raras (< 1/10,000), incluindo notificações isoladas. Dentro de cada classe de frequência, as reações adversas são apresentadas por ordem decrescente de gravidade. Doenças do metabolismo e da nutrição – Reações adversas frequentes: Aumento do ácido úrico no sangue, hiperuricémia. Doenças do sistema nervoso – Reações adversas frequentes: Tonturas, tonturas posturais. Vasculopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão. Doenças gastrointestinais - Reações adversas frequentes: Diarreia, náuseas. Afeções musculosqueléticas e dos tecidos conjuntivos- Reações adversas frequentes:Espasmos musculares. Perturbações gerais e alterações no local de administração - Reações adversas frequentes: Fadiga. Exames complementares de diagnóstico - Reações adversas:muito frequentes: Aumento da creatinina no sangue; Reações adversas frequentes: Aumento da ureia no sangue. Informação adicional sobre os componentes individuais: As reações adversas que se sabe ocorrerem com cada componente administrado isoladamente mas que não foram observadas nos estudos clínicos podem ocorrer durante o tratamento com Edarclor. Clorotalidona: Adicionalmente às reações adversas listadas para o Edarclor, foram notificadas as seguintes reações adversas para a clorotalidona: Doenças do metabolismo e da nutrição Reações adversas:muito frequentes: Aumento dos lípidos no sangue; Reações adversas frequentes: Hipomagnesemia. Cardiopatias – Reações adversas frequentes: Hipotensão postural. Doenças gastrointestinais – Reações adversas frequentes: Perda de apetite, desconforto gastrointestinal menor. Afeções dos tecidos cutâneos e subcutâneos – Reações adversas frequentes: Urticaria. Doenças dos órgãos genitais e da mama - Reações adversas frequentes: Impotência. Exames complementares de diagnóstico. Creatinina sérica: O tratamento com Edarclor resultou numa maior incidência de aumentos da creatinina sérica, comparativamente com o azilsartan medoxomilo e a clorotalidona. Estes aumentos foram temporários ou não progressivos e reversíveis, e associados com acentuadas reduções da pressão arterial. Ácido úrico: O Edarclor esteve associado a aumentos do ácido úrico sérico. Os aumentos de ácido úrico são dependentes da dose, aumentando com a dose de clorotalidona, embora tenham sido pouco frequentes as notificações de gota nos grupos de tratamento, mesmo nos estudos de longo prazo. Hemoglobina e hematócrito: O Edarclor esteve associado com reduções ligeiras nos níveis de hemoglobina, hematócrito, e na contagem de células vermelhas, consistentes com os efeitos farmacológicos conhecidos dos inibidores do sistema reninaangiotensina-aldosterona. Experiência pós-comercialização: Foi notificada uma rara incidência de angioedema associado ao uso de Edarclor. Não foram identificadas outras reações adversas nas notificações espontâneas pós-comercialização. Notificação de suspeitas de reações adversas: A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P.: Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos | Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 | 1749-004 Lisboa | Tel: +351 21 798 73 73 | Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) | E-mail: farmacovigilancia@ infarmed.pt | DATA DA REVISÃO DO TEXTO setembro 2021. Para mais informações deverá contactar o representante do titular da autorização de introdução no mercado. MSRM. Medicamento comparticipado no escalão B.
Zona Industrial da Abrunheira; Rua da Tapada Grande n.º 2 — Abrunheira • 2710-089 Sintra NIF: 500 626 413
AN EDARBI_EDARCLOR 235x328mm_abril2022.indd 2
pre em atenção, primordialmente, a idade biológica do indivíduo e não a cronológica, a abordagem terapêutica e os respetivos alvos são transversais às diversas faixas etárias. Para além do colesterol total, e particularmente do colesterol LDL (CLDL), também o colesterol não-HDL (CñHDL), que inclui o colesterol das lipoproteínas VLDL e das suas remanescentes e o colesterol da Lp(a), deve ser alvo de determinação e controlo. Aliás, o colesterol CñHDL é o parâmetro lipídico das grelhas de risco do SCORE2 e do SCORE2 OP. Relativamente à terapêutica e aos ensaios clínicos, nos indivíduos com > 70 anos apenas existe evidência a partir de análises de subgrupos e post-hoc. No Cholesterol Treatment Trialists, por cada 1 mmol/L de redução do CLDL, os indivíduos com menos de 55 A viram reduzido o seu risco de eventos vasculares major
azilsartan medoxomilo
40/12,5mg • 40/25mg comprimidos
NOME DO MEDICAMENTO: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película. Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película e Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película. Cada comprimido contém 40 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio) e 12.5 mg ou 25 mg de clorotalidona. FORMA FARMACÊUTICA: Edarclor 40 mg + 12.5 mg comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho pálido, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/12.5 gravado numa das faces. Edarclor 40 mg + 25 mg comprimidos revestidos por película: Comprimido revestido por película de cor vermelho claro, redondo (aproximadamente 9.7 mm de diâmetro), biconvexo, com A/C 40/25 gravado numa das faces. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Tratamento da hipertensão em adultos. Edarclor é uma associação de dose fixa indicada em adultos cuja pressão arterial não é adequadamente controlada por monoterapia com azilsartan medoxomilo. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia: Adultos: A dose inicial recomendada é de 40 mg + 12.5 mg uma vez por dia em doentes cuja pressão arterial não é adequadamente controlada com monoterapia anti-hipertensiva corrente como Edarbi 40 mg ou Edarbi 80 mg. Se necessário a dose pode ser aumentada para um máximo de 40 mg + 25 mg uma vez por dia. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se normalmente evidente ao fim de 1-2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Populações especiais: Idosos (idade igual ou superior a 65 anos): Não é necessário um ajuste inicial da dose nos doentes idosos; nos doentes muito idosos (≥75 anos), o tratamento deve ser efetuado com precaução e recomenda-se uma monitorização médica apertada. Compromisso renal e Afeção hepática: A clorotalidona, um dos componentes ativos do Edarclor, não deve ser usada em doentes com compromisso renal grave , anúria e afeção hepática grave . Não há experiência da administração de Edarclor em doentes com transplante renal recente. Não é necessário um ajuste da dose nos doentes com compromisso renal ligeiro ou moderado. É limitada a experiência de utilização em doentes com afeção hepática ligeira a moderada; no entanto não é necessário um ajuste inicial da dose de Edarclor em doentes com afeção hepática ligeira a moderada. Alterações menores do equilíbrio hidro eletrolítico devidas a diuréticos tiazídicos podem precipitar um coma hepático. Recomenda-se monitorização estreita. Depleção do volume intravascular: Edarclor deve ser iniciado sob supervisão médica estreita, apenas após ter sido alcançado um volume correto. Uma resposta hipotensiva temporária devida a depleção de volume não impede que os doentes continuem o tratamento, o qual pode normalmente ser continuado sem dificuldade uma vez estabilizados a pressão arterial e o estado do volume. Insuficiência cardíaca: Recomenda-se precaução em doentes hipertensos com insuficiência cardíaca congestiva dado que não existe experiência de utilização nestes doentes. População de raça negra: Não é necessário um ajuste da dose na população de raça negra. População pediátrica: A segurança e eficácia em crianças e adolescentes dos 0 aos <18 anos de idade não foram ainda estabelecidas. Não existem dados disponíveis. Modo de administração: Via oral e pode ser tomado com ou sem alimentos. CONTRAINDICAÇÕES: - Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. - Gravidez. - Afeção hepática grave. Compromisso renal grave (TFG <30 mL/min/1.73m2). - Anúria. Hiponatremia refratária. - Hipercalcemia. - Hiperuricemia sintomática. - O uso concomitante de Edarclor com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Lista tabelada de reações adversas: As reações adversas baseadas nos dados agregados de todos ensaios clínicos de fase 3 são apresentadas em baixo, de acordo com as classes de sistemas de órgãos e termos preferenciais. Estão classificadas por
O tratamen
NOME DO MEDICAMENTO: Edarbi 20 mg comprimidos. Edarbi 40 mg comprimidos. Edarbi 80 mg comprimidos. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA: Cada comprimido contém 20 mg, 40mg ou 80 mg de azilsartan medoxomilo (sob a forma de potássio). FORMA FARMACÊUTICA: Comprimido branco a esbranquiçado redondo, com 6,0 mm, 7,6 mm ou 9,6 mm de diâmetro; com “ASL” gravado numa das faces e “20”, “40” ou “80” gravado na outra face, para os comprimidos de 20 mg, 40 mg ou 80 mg respetivamente. INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS: Edarbi é indicado para o tratamento da hipertensão essencial em adultos. POSOLOGIA E MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Posologia: A dose inicial recomendada em adultos é de 40 mg uma vez ao dia. A dose pode ser aumentada até um máximo de 80 mg uma vez ao dia nos doentes cuja pressão arterial não é adequadamente controlada com a dose mais baixa. O efeito anti-hipertensor perto do máximo torna-se visível ao fim de 2 semanas, com os efeitos máximos atingidos às 4 semanas. Se a pressão arterial não for adequadamente controlada com o Edarbi isoladamente, pode obter-se uma redução adicional da pressão arterial quando o Edarbi é administrado concomitantemente com outros medicamentos anti-hipertensores, incluindo diuréticos e bloqueadores dos canais do cálcio. CONTRAINDICAÇÕES: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. No segundo e terceiro trimestres da gravidez. O uso concomitante de Edarbi com medicamentos contendo aliscireno é contraindicado em doentes com diabetes mellitus ou compromisso renal (TFG < 60 ml/min/1,73 m2). Edarbi não é indicado para utilização em crianças ou adolescentes com menos de 18 anos de idade. EFEITOS INDESEJÁVEIS: Resumo do perfil de seguranca Edarbi nas doses de 20, 40 ou 80 mg foi avaliado em termos de segurança em estudos clinicos com doentes adultos tratados durante até 56 semanas. Nestes estudos clinicos, as reações adversas associadas ao tratamento com o Edarbi foram, na sua maioria, ligeiras ou moderadas, com uma incidência global semelhante ao placebo. As tonturas constituiram a reação adversa mais frequente. A incidência das reações adversas com o Edarbi não foi afetada pelo sexo, idade ou raça. Lista tabelada de reações adversas: As reações adversas baseadas nos dados agregados (doses de 40 e 80 mg) estão classificadas abaixo por frequência. Frequentes (≥ 1/100 a < 1/10): tonturas, diarreia e aumento da creatina fosfoquinase plasmática. Pouco frequentes (> 1/1000, < 1/100): hipotensão, náuseas, erupção cutânea e prurido, espasmos musculares, fadiga e edema periférico, aumento da creatina plasmática e aumento do ácido úrico plasmático. Raras (> 1/10.000, < 1/1000): angioedemas. As reações adversas foram notificadas para a dose de Edarbi 20 mg com uma frequencia semelhante às doses de 40 e 80 mg num estudo controlado por placebo. Notificação de suspeitas de reações adversas : A notificação de suspeitas de reações adversas após a autorização do medicamento é importante, uma vez que permite uma monitorização contínua da relação benefício-risco do medicamento. Pede-se aos profissionais de saúde que notifiquem quaisquer suspeitas de reações adversas diretamente ao INFARMED, I.P. Sítio da internet: http://www.infarmed.pt/web/infarmed/ submissaoram (preferencialmente) ou através dos seguintes contactos: Direção de Gestão do Risco de Medicamentos Parque da Saúde de Lisboa, Av. Brasil 53 1749-004 Lisboa Tel: +351 21 798 73 73 Linha do Medicamento: 800222444 (gratuita) E-mail: farmacovigilancia@ infarmed.pt Data da revisão do texto: Abril 2022. MSRM. Medicamento comparticipado escalão B. Para mais informações contactar o titular da autorização de introdução no mercado. Está disponível informação pormenorizada sobre este medicamento no sítio da internet da Agência Europeia de Medicamentos: http://www.ema.europa.eu.
TEDARC222A2CA /Mai/2022, revalidado anualmente
05/05/2022 17:03
(EVM) em 25%, enquanto que acima dos 75 anos essa redução foi apenas de 13%. Noutros estudos, como o JUPITER e o HOPE 3, análises post-hoc não encontraram diferenças significativas na redução do risco de EVM entre os indivíduos com menos de 65 A (HR 0,75; 0,61 – 0,91) e os que tinham 70 ou mais anos (HR 0,74; 0,61 – 0,91). Espera-se que os resultados do Statins for extension of disability-free survival and primary prevention of cardiovascular events among older people: protocol for a randomised controlled trial in primary care (STAREE trial) venham permitir dar resposta às diversas questões relativas à segurança e eficácia da utilização das estatinas em prevenção primária nos indivíduos com mais de 70 anos.
Nos indivíduos com mais de 70 anos a terapêutica com estatinas pode ser considerada quando existe alto ou muito alto risco de DCVA. Em indivíduos com DCVA e/ou fatores de risco para DCVA, outros fármacos, tal como as estatinas, mostraram reduções de eventos entre os participantes com mais de 65 A e os mais jovens; foi o caso do evolocumab no FOURIER e do alirocumab no ODYSSEY. Por último, o ácido bempedoico no Bempedoic Acid and Cardiovascular Outcomes in Statin-intolerant Patients foi capaz de reduzir a percentagem de major adverse cardiovascular events (MACE), não havendo diferença significativa entre os participantes com menos de 65 A e os que tinham idade compreendida entre os 65 e os 75 anos. Apenas naqueles com mais de 75 anos se verificou uma redução menos robusta na incidência de MACE. Em conclusão, nos indivíduos com mais de 70 anos a terapêutica com estatinas pode ser considerada quando existe alto ou muito alto risco de DCVA, tendo sempre presente a idade biológica e não a cronológica, o life time benefit e as comorbilidades. Em prevenção secundária, as orientações terapêuticas são semelhantes nos indivíduos com 70 ou mais anos e nos mais jovens.
Cátia Duarte Reumatologista, Clínica Universitária de Reumatologia, FMUC, CHUC A osteoporose é uma doença osteometabólica sistémica que se caracteriza por uma perda de massa óssea e alteração da microarquitetura do osso, conduzindo a uma maior fragilidade óssea e, consequentemente, a um aumento do risco de fratura. Trata-se de uma doença “silenciosa” que frequentemente se revela com uma fratura de fragilidade, associando-se a elevada morbilidade e mortalidade, com um custo socioeconómico elevado. A prevalência da osteoporose aumenta com a idade, estimando-se que 30% das mulheres europeias na pós-menopausa desenvolverão osteoporose e que, destas, 40% terão fratura osteoporótica ao longo da vida. A incidência de fraturas osteoporóticas aumenta com a idade, sendo a incidência cumulativa de fraturas da anca em mulheres com 80 anos de 30%. As fraturas vertebrais são ainda mais comuns, com uma prevalência de ≈ 20% em mulheres com idade ≥ 75 anos e de 40% em mulheres com idade ≥ 80 anos. De acordo com as recomendações vigentes, o tratamento farmacológico da osteoporose está indicado em doentes com mais de 50 anos que sofreram uma fratura de fragilidade da anca ou pelo menos uma fratura vertebral sintomática. Doentes com evidência de 2 ou mais fraturas de baixo impacto, ainda que assintomáticas, são também candidatos a tratamento. Doentes que apresentem elevado risco de fratura, definido por valores de FRAX sem densitometria superiores a 11% para fraturas major ou a 3% para fratura da anca, devem também receber tratamento antiosteoporótico. Dispomos, atualmente, de diferentes fármacos para o tratamento da osteoporose. Os seus mecanismos de atuação são variados, podendo apresentar um perfil anabolizante ou de inibição de re-
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Jornal Médico | 27
28 e 29 setembroNotícia 2023
nto farmacológico da osteoporose absorção óssea. Todos eles apresentam um resultado positivo a nível vertebral, sendo as diferenças relativas ao efeito a nível da fratura não vertebral e da anca. A seleção do fármaco a utilizar depende da sua eficácia, via de administração e perfil de segurança, devendo sempre ser um processo centrado e partilhado com o doente. Os bifosfonatos, inibidores da reabsorção óssea, são o grupo mais utilizado no tratamento da osteoporose. Pertencem a este grupo o alendronato, o risedronato, o ibandronato e o ácido zoledrónico. Todos apresentam eficácia na prevenção de fraturas vertebrais, não vertebrais e da anca, à exceção do ibandronato, com eficácia demonstrada apenas nas fraturas vertebrais. O ácido zoledrónico é administrado por via endovenosa, a cada 12 meses, sendo os restantes por via oral (1 vez por semana ou uma vez por mês). São, por norma, fármacos seguros e bem tolerados, sendo a ocorrência de fraturas atípicas do fémur, em doentes sob tratamento prolongado, um dos eventos adversos, ainda que raro, mais preocupante. Mais recentemente dispomos do denosumab, um anticorpo monoclonal que também inibe a reabsorção óssea, sendo eficaz na redução de fraturas vertebrais, não vertebrais e da anca. Administrado por via subcutânea de 6 em 6 meses, é bem tolerado, podendo ser utilizado em doentes com insuficiência renal.
Sendo a osteoporose uma doença crónica, a duração do tratamento e os esquemas de tratamento sequencial constituem importantes questões. Entre os fármacos osteoanabólicos, isto é, formadores de osso, dispomos atualmente da teriparatida, um análogo da paratormona. Administrado diariamente, por via subcutânea, está indicado no tratamento de osteoporose grave. A sua utilização não deve exceder os 24 meses. Sendo uma doença crónica, a duração do tratamento e os esquemas de tratamento sequencial constituem importantes questões. A duração será dependente do risco do doente, o qual deverá ser ava-
liado periodicamente, da ocorrência de novas fraturas, das comorbilidades e das características do fármaco utilizado. Embora diversos esquemas sequenciais tenham sido
utilizados, a utilização de um fármaco osteoanabólico seguido de um fármaco antirreabsortivo parece ser a mais promissora. É importante ainda garantir suplementa-
ção adequada de cálcio e vitamina D, assim como a implementação de medidas não farmacológicas, como a adoção de estilos de vida saudável, cessação tabágica, prática de
exercício, nutrição e prevenção de quedas. A educação contínua e a promoção da adesão às medidas farmacológicas e não farmacológicas é um pilar na abordagem destes doentes.
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azilsartan medoxomilo/clorotalidona
40/12,5mg • 40/25mg comprimidos
azilsartan medoxomilo
20mg • 40mg • 80mg comprimidos
PARA GRANDES MALES, GRANDES REMÉDIOS
Imagem gentilmente cedida pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão.
Zona Industrial da Abrunheira; Rua da Tapada Grande n.º 2 — Abrunheira • 2710-089 Sintra NIF: 500 626 413
TEDARC222A2CA /Mai/2022, revalidado anualmente