CARTAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO A essência dessa ação mediativa é buscar interações entre múltiplas espécies, possibilitando percepções com a natureza pelo exercício da escrita reflexiva e poética. Por meio da escrita de cartas destinadas a entes não humanos, buscamos criar um espaço de sensibilização, em que os participantes puderam compartilhar suas memórias e entendimentos sobre o que é “natureza”. A proposta se fundamenta nas discussões abordadas por Ailton Krenak, convidado para inaugurar o 1°Ciclo Formativa. O pensador e escritor, ao compartilhar as experiências dos povos Krenak e sua relação de intimidade com as árvores, as pedras, os rios e os lagos, convida-nos a pensar em como o modo de viver impulsionado pelo “antropoceno” nos afasta da perspectiva de “natureza” como companheira, levando-a não só à sua destruição como também à de nós mesmos. Em sua fala no webinário de abertura do 1° Ciclo Formativa, Ailton Krenak nos inspirou a criar uma ação mediativa que convoque adultos a se imaginarem como adubos, isto é, como entes férteis e regenerativos. Ao discorrer sobre a sociedade e sua relação com a natureza, Ailton considera a experiência social alienante e produtora de corpos adultos dissociados do mundo natural, cegos de sua própria construção. Krenak nos convida a virarmos adubo para uma sociedade que viva com a natureza e não contra ou dissociada dela. Ele explica que, para além das ideias que foram socialmente construídas ao longo do século XX, hoje as instituições culturais são chamadas a cumprir uma nova função no campo da cultura, da arte e da produção de novos conhecimentos sobre a sociedade e sobre nós mesmos. Assim, Krenak nos convoca, como entes do Programa Educativa do Museu Nacional, a imaginar uma ação que convide corpos adultos a serem adubo para as gerações futuras, pensando um maior envolvimento da comunidade na aprendizagem.
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