Revista Neurônio - 2018

1ª Edição 2018

Internet das Coisas Que coisa, não? O mundo está mais conectado que você pensa.

A internet não serve apenas para navegar na web.

Por meio da tecnologia temos controle de coisas que antes nem imaginávamos.

O poder das mulheres negras na ciência A mulher negra vem conquistando seu espaço em diversos meios, que é seu por direito, inclusive na ciência

Aperta o play Cresce o número de jovens interessados em se tornarem youtubers

Libera ou não libera?

Eis a questão!

A criminalização ou não da prática do aborto é uma discussão constante na sociedade

Expediente ORIENTAÇÃO: Luana Teixeira de Souza Cruz COMISSÃO DE EDIÇÃO: André Gomes, Cristina Azevedo, Lorena Fernandes, Melissa Reis, Valéria Figueiredo COMISSÃO DE DIAGRAMAÇÃO: Ana Karolina Cipriano, Brenderick Alves, Gabriel Florentino, Gabriela Santana, Josiele Jaques, Letícia Marques, Jaene Souto, Victor Angelo, Paula Melo COMISSÃO DE PAPER E ACABAMENTO: Carol Castle, Fernanda Quéren, Isabela Lara, Matheus Mayer, Rafaela Pinheiro

PRESIDENTE DO GRUPO SPLICE: Antônio Roberto Beldi REITOR: João Paulo Beldi DIRETOR ACADÊMICO: Celso de Oliveira Braga DIRETOR ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO: Cláudio Geraldo Amorim de Sousa SECRETÁRIA GERAL: Denise de Lourdes Oliveira COORDENADORA DOS CURSOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: Ana Cláudia Rezende

Ao leitor Esta é uma revista de ciência e de afetos...

Você verá o trabalho de um semestre que envolveu todos os estudantes da disciplina de “Jornalismo para Revista”, do Centro Universitário Newton, engajados em uma produção experimental. Mais do que reportagens que divulgam a ciência mineira, a edição narra o aprendizado em criar – de ponta a ponta – um produto editorial. Os alunos são repórteres, entrevistadores, editores, diagramadores e, enfim, REALIZADORES! O mundo está mais conectado do que você pensa.

Os objetos agora se ligam ao ambiente digital de um jeito bem “Black Mirror”, nos fazendo mergulhar em um filme de ficção científica. O tema “Internet das Coisas” é aprofundado na reportagem de capa representando nossa pitada de tecnologia e inovação. Nessa mesma linha, abordamos em outra matéria, as características das Cidades Inteligentes, uma solução para problemas de mobilidade urbana.

Na seção Entrevista, veja um problema conhecido entre jovens universitários: a insônia.

Como aponta o cientista Rogério Beato, os estudantes fazem parte do “grupo de risco para dormir mal”. Também mais comum do que se imagina, é a febre emocional, um dos assuntos abordados sob a perspectiva dos sintomas e tratamentos.

Você também lerá nesta edição, um tira-dúvidas sobre métodos contraceptivos e a realidade de vidas afogadas pelo alcoolismo que começa na juventude. Para quem pretende emagrecer, um texto super esclarecedor mostrando a ciência por trás dos inibidores de apetite e cirurgias bariátricas.

O tema feminicídio aparece com a sensibilidade que merece. As marcas deixadas pelos crimes contra mulheres são, delicadamente, descritas por uma testemunha e especialistas no assunto.

Ainda no universo feminino, a polêmica descriminalização do aborto é reportada sob as perspectivas jurídica, sociológica e psicológica.

O Perfil é da pesquisadora Silvana Souza do Nascimento, uma cientista que ocupa os espaços femininos na área da Astronomia. Tão poderosas quanto ela, são as mulheres negras na ciência, retratadas na reportagem feita por uma, também, poderosa mulher.

Não ficaram de fora as atualidades. Pensar de maneira sustentável os processos de produção industriais e laboratoriais é parte do conceito de Economia Circular, contemplado na reportagem “Planeta verde dos negócios e das universidades”. E o Youtube como ferramenta de comunicação? Já parou pensar no poder desta plataforma? Então, aperta o play na página 15!

Esta revista não se esquivou do compromisso em reforçar a importância da ciência e tecnologia para nosso país. Com carinho, relembrou a tragédia no Museu Nacional do Rio de Janeiro, mostrando a relação de museólogos, pesquisadores e visitantes com as peças que se perderam. A edição também passeou nos assuntos internos da área de comunicação, como o importante debate sobre fake news e comportamento no período eleitoral.

Poderíamos deixar explodir nessas páginas a hesitação em produzir uma revista inteira, os medos de escrever textos mais aprofundados, a insegurança em entrevistar grandes cientistas, as dificuldades ferramentais na criação visual, a correria para cumprir prazos e deadlines. No entanto, deixamos falar mais alto a ciência e o afeto.

Boa leitura!

LUANA CRUZ Professora

Índice 06 ENTREVISTA Insônia nos jovens 08 CONTEMPORANEIDADE As poderosas mulheres negras na ciência 11 SAÚDE Febre emocional 14 MEIO AMBIENTE/QUÍMICA Economia circular 17 SAÚDE Anticoncepcionais 19 MOBILIDADE Smart Cities 23 CRIMINOLOGIA Marcas do feminicídio

NA REDE 25 Youtube como ferramenta de comunicação SAÚDE 29 Emagrecimento TECNOLOGIA 32 Internet das coisas MEDICINA 36 Alcoolismo entre os jovens PERFIL 38 Perfil da astrônoma Silvana Souza POLÍTICA 40 Fake news e comportamento eleitoral SOCIOLOGIA 43 Legalização do aborto: as perspectivas da ciência HISTÓRIA 46 Impacto do incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro

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ENTREVISTA

Insônia! Um problema que afeta milhares de pessoas, inclusive os jovens estudantes.

A insônia é um distúrbio que gera dificuldades para iniciar ou manter o sono. Pode ocorrer no final ou começo da noite e esses problemas independem das boas condições para manter uma noite de sono regular e tranquila. Sobre esse assunto, entrevistamos Rogério Gomes Beato, neurologista, médico do sono e Professor do Departamento da Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A insônia tem relação com depressão ou ansiedade?

Sim, tem relação com depressão e ansiedade. Então, é necessário tratar o problema primeiramente, não apenas se automedicar e, logo depois, cuidar do sono. As pessoas permanecem com maus hábitos, por isso não adianta apenas tratar a insônia, é preciso entender como o sono funciona e o que pode piorá-lo. Só assim, iniciar o tratamento.

Qual a diferença entre insônia e apneia do sono?

A insônia é a dificuldade para dormir. Já apneia do sono, consiste em episódios no quais a pessoa não consegue respirar. É a redução do ar que passa nas vias aéreas, então, a pessoa não respira parcialmente ou 6

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totalmente. A pessoa fragmenta o sono acordado mais vezes, fazendo com que o oxigênio no sangue seja reduzido. Nem sempre é possível se lembrar de ter acordado durante a noite. São fenômenos diferentes, mas as pessoas - inclusive as mulheres podem desenvolver a insônia a partir de apneia.

Quais os Sintomas da insônia?

Pode afetar, diretamente, o trabalho e os estudos?

Fadiga, cansaço, falta de concentração, dificuldade de memória.

Não causa, necessariamente, sono ao longo do dia. A pessoa com insônia apresenta piora no rendimento do trabalho, podendo causar acidentes, assim como a piora no rendimento escolar/acadêmico.

Pode causar também doenças cardiovasculares.

O problema pode ser genético?

Ou tem algum fator para a causa?

Pode haver fator o genético. A insônia é mais frequente em mulheres do que nos homens. A causa, em geral, é o que ocorre na vida da pessoa. Algumas passam por problemas, mesmo assim, conseguem dormir bem. Já e outras não conseguem. Por exemplo, se a família apresentar

casos de insônia, a pessoa se torna mais suscetível. Assim, quando sofre alguma dificuldade de ordem emocional, como questões familiares, separação, luto ou perda de emprego, faz com que o sono seja afetado.

Quando o problema é solucionado algumas pessoas podem dormir bem, mas se desenvolver a insônia crônica ou i nsônia que dura mais de três vezes, precisa recorrer ao tratamento.

Rogério Gomes Beato, arquivo pessoal

“Para o organismo é importante deitar para descansar e não para ver TV, ler, ou usar o celular. O uso do telefone deve ser feito pelo menos 60 minutos antes de dormir.”

As pessoas criam maus hábitos, como tempo excessivo na cama e ficar mexendo na internet antes de dormir. Se ela não consegue dormir, não deve ficar na cama lendo ou estudando até o sono chegar. Isso influi negativamente para insônia, assim como os costumes alimentares, uso de estimulantes e medicamentos.

No entanto, isso não é insônia, é privação ou débito de sono.

Nesse caso, o tratamento é dormir mais. A pessoa que tem insônia apresenta dificuldade de dormir em qualquer horário.

Quem sofre da privação de sono consegue descansar para recuperar, parcialmente, o sono perdido.

O celular tem relação com a maioria dos casos de insônia?

O celular com luz azul causa a inibição da liberação da melatonina o que inibe o sono.

Nesse caso, é importante usar um filtro no celular ou óculos. Se alguém não conseguir dormir, deve se levantar e buscar uma atividade para relaxar. Ficar deitado sem adormecer pode piorar, pois a pessoa se condiciona. Para o organismo é importante deitar para descansar e não para ver TV, ler, ou usar o celular. O uso do telefone deve ser feito pelo menos 60 minutos antes de dormir.

A pessoa com insônia têm que fazer um tratamento?

Se a pessoa estiver dormindo mal é necessário conversar com um especialista para buscar melhores hábitos de vida, pois o tratamento consiste em orientação. Nem todos precisam de medicamentos, a maioria pode usar técnicas de relaxamentos, meditação, yoga, hipnose, exercícios físicos, e até serem submetidos à terapia cognitiva comportamental para insônia.

Os tratamentos dependem da intensidade, alguns são necessários o uso de remédios, outros não. A pessoa precisa também criar hábitos bons ao sono e não apenas realizar o tratamento.

É mais propício os universitários terem insônia?

Eles fazem parte de um grupo de risco para dormir mal. Não necessariamente terão insônia, mas sim a privação de sono. Se a pessoa escolhe não dormir muito, ela não tem dificuldade para dormir, mas ela opta por pouco descanso devido ao ritmo de vida. Um estudante que acorda às 6 horas e dorme meia-noite, escolhe dormir pouco e tem o sono prejudicado.

A insônia tem cura?

Quando solucionada a causa, é possível ter cura. Mas, muitas pessoas se tornam dependentes dos medicamentos para dormir e permanecem com os maus hábitos, como o uso do aparelho celular antes de dormir. As pessoas precisam modificar os estilos de vida, algumas se curam, outras não totalmente.

Josiele Jaques 7

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CONTEMPORANEIDADE

O poder das mulheres negras na ciência Mãe, esposa, doutora, cientista. A mulher negra vem conquistando seu espaço em diversos meios, que é seu por direito, inclusive na ciência

LLetícia Beatriz

“Acredite sempre no seu potencial.

Nunca duvide do que você é capaz, lute pelo que você acredita e nunca deixe de ser justa com você e com os que estão a sua volta! ” Esta é afirmação de Zélia Maria da Costa Ludwig, cientista formada em Física pela (PUC) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1989) e em Licenciatura Plena em Física pela Universidade de São Paulo (USP). Ela tem mestrado em Tecnologia Nuclear, doutorado em Ciência Física e pós-doutorado também pela USP na área de materiais vítreos. Atualmente, é professora em regime de dedicação exclusiva, pesquisadora e orientadora do Departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG. Com o extenso currículo, ainda sobra tempo para ser mãe e esposa.

Zélia Ludwig, nascida no interior de Minas Gerais, sem dúvidas representa a força e resistência da mulher negra. Ela consegue representar uma minoria de mulheres negras que, conseguiram mudar um destino que já é predestinado para essas mulheres no país, que é não concluir os estudos ou conseguir apenas trabalhos de cargos considerados inferiores, como: serviços gerais, autônomo, dona de casa, etc. Pesquisas recentes feitas pelo IBGE mostram que apenas 10% das mulheres negras conseguem concluir o ensino superior, mas Zélia prova que é possível vencer as barreiras do preconceito com muita luta e dedicação.

Com os incentivos do pai que é torneiro mecânico, Zélia enxergou na ciência a possibilidade do novo, de fazer descobertas. Ela está por trás do projeto de criação da estrutura de vidro ultrarresistente coordenado pela agência espacial, NASA. E pensando nas dificuldades encontradas pelas mulheres ao longo da carreira científica, Zélia decidiu criar a página no Facebook: Mulher, Ciência e Sociedade, que reúne pesquisadoras e alunas para discutir seu papel na comunidade acadêmica, os obstáculos enfrentados e as formas de superá-los. Mulheres como Ludwig, conseguem transformar um mercado que até tempos atrás era considerado apenas para homens brancos. Assim como Zélia, que conseguiu seu lugar de destaque, Roberta Froes, química, cientista e negra, é professora na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Ela trabalha na área de química analítica, com ênfase em métodos óticos de análise, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento de métodos analíticos para a determinação de traços em amostras alimentícias e ambientais, análise exploratória e especiação. É graduada em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem mestrado e doutorado em Química, e Pós-doutorado em Química Analítica Ambiental também pela UFMG.

“...lute pelo que você acredita e nunca deixe de ser justa com você e com os que estão a sua volta”.

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“Nosso tom de pele não diz o que podemos ou devemos fazer” possuiu o sonho de ser cientista quando criança, considera que as mulheres negras devem ganhar seu espaço e já estão ganhando e finaliza dizendo: “Nosso tom de pele não diz o que podemos ou devemos fazer”. Já Roberta Froes, finaliza: “A única pessoa que pode frustrar seus sonhos é você mesma”.

Zélia Ludwig. Foto Twin Alvarenga Roberta Froes defende o espaço da mulher negra na ciência e faz parte dessa pequena minoria que teve a oportunidade de co ncluir uma graduação. Cientistas como Zélia e Roberta são como um espelho para meninas negras que desejam seguir carreira na academia. Ambas participam do Projeto Investiga menina, criado na Universidade Federal de Goiás (UFG), pela diretora, Anna M. Canavarro Benite. O objetivo é promover ações coletivas para o benefício da comunidade escolar, proporcionar experiências e informações sobre a contribuição das mulheres para a criação de recursos científicos e tecnológicos em todo o país.

“Projetos como Investiga Menina, incentivam a formação de futuras meninas negras na ciência. Um dos fatores que influenciam o número reduzido de profissionais na ciência é a falta de investimentos reais e concretos por parte do governo”, afirma Froes. Ludwig acrescenta: “não só por parte do governo, mas a população de um modo geral, como as mídias e a televisão poderiam valorizar mais e incentivar as pessoas”.

Mesmo tendo um impacto na ciência brasileira, essas mulheres ainda não possuem visibilidade o suficiente para motivar outras negras. Mas para a estudante de Direito, Luíza Porto, 21, que já

“A única pessoa que pode frustrar

Enedina Alves Foi a primeira mulher negra a se formar em engenharia no Brasil. Nascida em 1913, de família pobre, ela cursou engenharia e se formou aos 30 anos no Instituto de Engenharia do Paraná (IEP). Em agosto de 1981 faleceu vítima de um infarto.

Roberta Froes, arquivo pessoal

seus sonhos é você mesma”.ia

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A baiana Viviane dos Santos Barbosa: cursou bacharelado em engenharia química e bioquímica pela Delft University of Technology, na Holanda, e se formou em mestre em nanotecnologia na mesma instituição. Ela cursou química industrial por dois anos na Universidade Federal da Bahia, mas, nos anos 90, decidiu ir para Holanda. Lá desenvolveu uma pesquisa com catalisadores (que aceleram reações) através da mistura de Paladium e Platina. O projeto foi premiado em 2010, durante a conferência científica internacional, na cidade de Helsinki, na Finlândia, onde competiu com outros 800 trabalhos.

Maria Beatriz do Nascimento Nasceu em Aracaju (SE) em 1942, e migrou com seus dez irmãos e seus pais para o Rio de Janeiro, na década de 50. Cursou história na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aos 28 anos de idade. Fez pós-graduação na Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1981.

Beatriz dedicou sua vida para que a temática étnico-racial ganhasse visibilidade no Brasil. Foi responsável por formar um grupo de ativistas negras e negros chamado: Grupo de Trabalho 10

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André Rebouças (GTAR), na Universidade Federal Fluminense, em meados dos anos 1983, almejando o envolvimento do corpo docente nos estudos sobre a África. Seus artigos foram publicados na Revista de Cultura Vozes, Estudos Afro-asiáticos e Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, além de diversas entrevistas e depoimentos à grande mídia.

Anita Canavarro É professora de química na Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Ciências pela Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ). Fundou, em 2009, o grupo de Estudos sobre a Descolonização do Currículo de Ciências (CIATA) do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (CIATA-LPEQI/UFG) com a proposta de “descolonizar” o estudo de ciências. Além disso é presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), que busca promover a superação do racismo por meio da educação, defendendo e zelando pela manutenção de pesquisas com financiamento público.

Sônia Guimarães Prestou física no Mapofei, um vestibular criado em 1969 para a área de exatas nas universidades, Instituto Mauá de Tecnologia, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), e se apaixonou. Hoje, Sônia é a primeira negra brasileira doutora em física pela University of Manchester Institute of Science and Technology e compõe, há 24 anos, o corpo docente do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Atua na área de física aplicada, com ênfase em Propriedades Eletróticas de Ligas Semicondutoras Crescidas Epitaxialmente, e já conduziu pesquisas sobre sensores de radiação infravermelha.

Simone Maia Evaristo é bióloga e citotecnologista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é presidente da Associação Nacional de Citotecnologia (Anacito). É a única brasileira no quadro de membros ativos, como membro diretor da Academia Internacional de Citologia (IAC).

Atualmente é supervisora na área de ensino técnico do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e sua missão tem sido divulgar o papel do controle do câncer.

SAÚDE

Ardendo em emoções A febre emocional é problema comum e impulsionada pelo estresse. É mais difícil de ser diagnosticada em adultos do que nas crianças.

Josiele Jaques A febre emocional é mais comum do que se imagina. É chamada de febre psicogênica e afeta pessoas que estão em altos níveis de estresse e ansiedade. Ela ocorre devido a problemas em um grupo de neurônios e vias do sistema nervoso central que controlam a temperatura corporal.

O aumento da temperatura vem acompanhada de transpiração e dores de cabeça. Assim aconteceu com Edna Salah, de família Árabe, foi separada dos pais quando criança. Aos 13 anos teve uma forte crise de febre emocional.

“

Eu fui levada para longe dos meus pais, e nesse momento me vi sozinha, com isso entrei em desespero e a partir daí comecei a perceber que eu tinha febre todas as vezes em que eu estava nessa situação. Eu tinha muita febre, tomava vários remédios e nada adiantava. Então, eu pude perceber que a minha febre era emocional, já que todas as vezes que eu estava em situações de estresse ficava febril.

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a escola de Medicina de Harvard desenvolveram uma pesquisa para esclarecer princípios da febre psicogênica.

De acordo com Natália Machado, mestre em Ciências Biológicas por Harvard, a febre emocional, é causada por problemas no sistema nervoso sintático. “É um fenômeno bastante demonstrado em crianças, pois o diagnóstico em adultos, na maioria dos casos é mais difícil.

Os exames realizados em criança são feitos com mais profundidade, por isso são as mais diagnosticadas.”

Já em adultos, a febre emocional ocorre pelo estresse do dia a dia.

Natália Machado relata que existem casos de febre emocional causada pela pressão no trabalho.

Ela cita o exemplo de uma trabalhadora que sentia a temperatura corporal elevada todas as vezes que chegava ao escritório. “Muitas pessoas não sabem, mas definitivamente, a febre emocional tem relação direta com estresse e ansiedade, devido à rotina estressante, como o trânsito e o trabalho”, afirma.

A febre emocional é problema comum e impulsionada pelo estresse. É mais difícil de ser diagnosticada em adultos do que nas crianças.

Marco Fontes, professor Associado do Departamento de Fisiologia e Biofísica, explica que a ansiedade é a antecipação de algum evento supostamente estressante que vem a acontecer.

Uma criança que tem a febre emocional, quando descoberta, vem desencadeada por algum fator que na maioria dos casos podem ocorrer em ambientes “comuns”, como o bullying na escola ou em casa, em caso de separação dos pais.

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A febre psicogênica é comum em adultos e jovens. Como na maioria dos casos, os adultos estão sobrecarregados no trabalho e com as rotinas diárias.

DIAGNÓSTICO

Como por exemplo, cita alguns problemas que nem aconteceram e, ainda assim, a pessoa tem o nível de ansiedade elevado, consequentemente a temperatura corporal também sobe. Nesse caso, além de causar a febre, eleva a pressão arterial e provoca taquicardia.

Segundo Marco Fontes, a alteração da temperatura em situações de estresse é comum para todos os humanos, algumas pessoas em condições de cansaço passam a responder com o aumento de temperatura constante. Sendo assim, tem a febre emocional com mais frequência.

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O cérebro processa de forma clara a informação de uma febre de ordem inflamatória ou de resposta infecciosa, pois existe a liberação de enzimas, portanto todas as respostas a um corpo estranho é que vão desencadear a febre. Já no caso da febre emocional, não é assim. O mecanismo central que diferencia a febre emocional da febre “comum”, é a resposta da má adaptação do organismo.

Assim ocorre a elevação da temperatura.

Natália Machado explica: “O mecanismo capaz de causar a febre emocional é comparado a um estímulo chamado de luta ou fuga. Ou seja, se você está em uma selva com diversos animais selvagens, você pode lutar contra, ou fugir deles Da mesma forma que podemos ou não fugir da rotina estressante do dia a dia, e assim cérebro responde emocionalmente, podendo atingir 41Cº, causando a elevação da temperatura corporal.”

Natalia Machado conta que, o mais importante é fazer o diagnóstico, o que para ela é o mais difícil, já que a febre emocional não é considerada uma doença, além dos sintomas serem praticamente iguais aos de uma febre comum.

Isso pode influenciar no diagnóstico e torná-lo ainda mais difícil, com isso a pessoa usa alguns medicamentos e não consegue a melhora.

Outro caso citado por ela é a Síndrome do Jaleco Branco, que é quando a pessoa chega em ambientes como consultórios médicos por exemplo, o emocional é atingido e pode agravar e prolongar a febre, nesse caso a febre não passa, enquanto o paciente estiver no ambiente.

“

Eliminar as possibilidades de gripe, virose, causa respiratória, e febre que não são controlados por anti-inflamatórios e antibióticos, são importantes para diagnosticar e investigar a causa de ordem emocional.

Observar se a pessoa está passando por algum problema emotivo, estressante ou que pode lhe causar ansiedade, também ajuda no diagnóstico.” diz Marco Fontes.

TRATAMENTO Ainda não há medicamentos 100% efetivos para o tratamento.

Os remédios usados para tratar a febre comum como antialérgicos e antitérmicos, não são eficazes para a melhora da febre psicogênica. A pesquisadora ressalta a importância do uso de medicamentos adequados. “Os ansiolíticos são os únicos capazes de controlar a temperatura elevada do corpo, não adianta usar os medicamentos comuns. Por isso, é importante o diagnóstico antes de se medicar”.

O pesquisador Marco Fontes, ressalta a importância dos tratamentos com remédios que diminuem o nível de estresse e os que reduzem a ansiedade.

Também ressalta a importância de fazer o tratamento com a psicoterapia.

Sendo assim, controlar a ansiedade e o cérebro, evita o desenvolvimento da febre emocional.

ARDENDO EM FEBRE Elevação da temperatura corporal, febre persistente, recorrente e que não é eliminada com a ajuda de remédios comuns no tratamento de febre de origem inflamatória. Isso ocorre de forma emocional, momento em que a pessoa passou ou passa por problemas estressantes.

Amanda Oliveira, estudante de farmácia, teve febre emocional aos 20 anos de idade ao elevar seu nível de estresse quando se desentendeu com sua gerente.

“

Eu estressei com minha chefe, nesse momento senti meu corpo queimar, fui embora para casa e logo em seguida precisei ir ao médico. Chegando lá, fui medicada e a febre não abaixava.

Logo foi diagnosticado que era de origem emocional. Então eu fiquei três dias afastada do trabalho com febre. E hoje, aos 30 anos sempre que passo por situações de estresse eu sinto que minha temperatura aumenta”.

“A febre psicogênica é comum em adultos e jovens. Como na maioria dos casos, os adultos estão sobrecarregados no trabalho e com as rotinas diárias” diz Marco Fontes.

Ele ainda acrescenta dizendo que a febre pode ser mais suscetível em crianças, pois elas passam por situações estressantes e não conseguem contar e entender o que está acontecendo.

Elas podem responder com questões fisiológicas como o aumento da temperatura.

Segundo a pesquisadora Natalia Machado, os jovens podem sim serem os principais “alvos” da febre emocional, pois o estilo de vida de um jovem é bem estressante. Mas ela não elimina a possibilidade de crianças serem as mais diagnosticadas e que de alguma maneira desenvolvem o problema com facilidade já que elas não conseguem relatar e nem explicar situações estressantes na qual elas enfrentam.

PREVENÇÃO Segundo Natália Machado, não há uma maneira correta para a prevenção da febre psicogênica.

O ideal é evitar situações estressantes sempre que possível, além de praticar atividades físicas que diminuem o nível de ansiedade, como por exemplo, a meditação.

Marco Fontes usa o exemplo da aluna de doutorado, que realiza matérias sobre treinamento físico e reatividade ao estresse. Nesse caso, os animais que são treinados fisicamente respondem com menor intensidade a frequência cardíaca, em situações de estresse. Ou seja, eles não tendem a desenvolver facilmente a febre.

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MEIO AMBIENTE/QUÍMICA

PLANETA VERDE dos negócios e das universidades Economia Circular é uma aposta importante de sustentabilidade entre empresas brasileiras Brenderick Alves Imagine o globo terrestre, o planeta Terra. O formato esférico proposto por Aristóteles, na Grécia Antiga, serve como referência quando o assunto é ciclo da vida. A grande descoberta do cientista pautou e ainda pauta centenas de pesquisas. Essa ideia de círculo, por exemplo, é hoje adaptada a um conceito importante em processos industriais, comerciais e científicos: a Economia Circular (EC). Ela representa uma ressignificação de sustentabilidade, ligada a uso de recursos e gestão de resídos.

EC começou a ser pensada, principalmente, no ambiente das universidades, muito relacionada a inovação científica. Agora, para chegar a uma escala industrial, novas linhas de pesquisa e abordagens têm sido feitas. A EC incentiva o design de produtos e processos regenerativos por intenção. Significa planejar a fabricação de produtos e pensar como seus componentes serão reaproveitados. professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

O modelo econômico cíclico contrapõe diretamente o modelo mais comum, o linear. Quando você compra um celular, por exemplo, usa, gasta e descarta.

Um fluxo direto, com um desuso bem rápido.

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Segundo Arthur Silva, químico tecnológico, doutorando em inovação tecnológica e pesquisador da Economia Circular, no Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), existem desafios da aplicação do modelo circular na sociedade atual. Ele usa como exemplo os equipamentos eletrônicos.

“A ideia mais circular é não precisar mais de determinado produto, somente do serviço”

“É logisticamente e economicamente impossível, no cenário atual, recolher esses aparelhos diversos e submetê-los a processos químicos para remover os metais e reaproveitá-los. Os pontos de descartes são espalhados, e mais do que isso, os computadores e celulares não foram feitos pensando no reaproveitamento desses metais”, explica.

Apesar de serem conceitos ligados, há diferenças entre sustentabilidade e Economia Circular. O principal ponto é que na EC se abandonou totalmente o conceito de resíduo (material, produto ou substância que perde seu valor econômico, logo se torna inútil). A ideia é retirar a palavra resíduo do dicionário das indústrias, ao transformá-lo em coproduto útil para outras empresas.

Assim, a substância entraria em uma cadeia de interesses muito

Arthur Silva. Foto por Brenderick Alves

mais extensa e proveitosa.

O problema ainda reside na falta de inclusão desses coprodutos na mentalidade e logística da linha de produção. De acordo com Arthur Silva, é mais do que pensar no produto final, é valorizar todo o processo. “A maior parte das empresas e das pessoas veem a mitigação como um custo. Então ser ambientalmente responsável e sustentável hoje é um custo alto”, explica.

O pesquisador ainda aponta que devido a essa barreira financeira, muitas empresas preferem pagar multas com descarte incorreto, do que investir e instalar uma tecnologia inovadora para tratamento dos resíduos. “Não é questão de só tratar rejeitos, é como estimular a empresa e mostrar um valor intangível para a mesma ser viável”, afirma.

Uma onda que tem crescido em Minas Gerais e no Brasil é a

cultura de startup. Como agentes naturais de inovação, as startups podem contribuir diretamente para a promoção de tecnologias circulares. “Acredito nessa cultura como uma faísca potencial. É muito difícil para uma ‘gigante’ industrial assimilar integralmente essas tecnologias, porque isso mudaria totalmente seu molde de produção atual", comenta Arthur Silva. “Eu vejo o movimento de startups como insurgência de possibilidade de modelos e negócios de tecnologias circulares”, completa.

Levado em conta por alguns estudiosos da Economia Circular, os serviços de compartilhamento também figuram em meio às novas tecnologias circulares. O ato de pedir uma viagem de carro por app no smartphone, é um exemplo cotidiano de serviços de compartilhamento, guardadas as devidas proporções.

“Com o mesmo carro, é fornecido serviço para várias pessoas.

Existem pessoas hoje que deixam de comprar um automóvel, pois usar esses serviços fica mais barato. E ainda diminui a poluição, com menos carros rodando”, aponta Arthur Silva. O pesquisador comenta sobre as possibilidades de futuro nessas ações. “A ideia mais circular é não precisar mais de determinado produto, somente do serviço. Já existem lojas ao redor do mundo que só trabalham com refil, o que diminui muito o número de embalagens. Acredito que daqui a 20 ou 30 anos, teremos muito mais serviços compartilhados do que posses. Não porque é legal ser sustentável, mas sim por ser mais viável economicamente para os consumidores e empresas.

Aqueles que não se adaptarem, estarão fadados ao fracasso, pois a Terra está no seu limite também”, conclui Arthur.

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Química Verde Integrante e de importância histórica, da relação homem-natureza, a Química pode ser uma grande aliada na batalha em prol do planeta azul e da Economia Circular. Antes mesmo de surgir a definição de EC, pesquisadores já pensavam processos mais sustentáveis em laboratórios das universidades.

Concebido em meados da década de 90, o conceito de Química Verde (QV) representou uma guinada de ação na preservação do ambiente. De acordo com a União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), se trata da concepção de produtos e processos que minimizam o uso e a geração de substâncias perigosas para a saúde humana/meio ambiente.

Lúcia Ribeiro, professora de química do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) e mestre em Tecnologia e Engenharia de Materiais iniciou, em 1999, juntamente com uma colega da coordenação de Química, professora Jeannette Lopes, um projeto de intervenção nos laboratórios campus I. O gatilho: preocupação com os efeitos tóxicos dos reagentes e resíduos químicos, manipulados nos laboratórios da instituição. A solução: gerenciamento dos resíduos de forma inteligente, minimizando os danos na natureza.

“Para a abordagem prática dos resíduos foi adotada a seguinte hierarquia: prevenir a geração de resíduos; minimizar a geração do que for inevitável; encaminhar 16

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para uso no estado original; encaminhar para reciclagem com foco no componente material ou energético; armazenar de modo a facilitar o tratamento; tratar e dispor o rejeito de maneira segura”, afirma Lúcia Ribeiro.

O projeto, denominado “Melhoria da Qualidade Ambiental em Laboratórios de Ensino do Cefet-MG”, se consolidou e hoje tem um “pézinho” em cada atividade desenvolvida na instituição. Nos relatórios dos alunos e educadores, é regra informar o devido destino que será dado aos possíveis resíduos.

Algumas das mudanças decorrentes da implantação do programa são: drástica redução na escala dos procedimentos em todas as disciplinas práticas, o que implica redução da geração de resíduos químicos, redução do consumo de reagentes, e redução de estoques; eliminação do lançamento de resíduos perigosos na rede coletora da Copasa; e conscientização quanto aos riscos ambientais representados pelos resíduos químicos com maior atenção à normatização em todos os estágios do processo.

O gerenciamento de resíduos químicos tem como finalidade a preservação da saúde pública e da qualidade do meio ambiente. O ponto crucial é o tratamento, seja como parte da reciclagem (que consiste em dar nova vida útil ao material), seja para reintegrar materiais ao meio ambiente, seja para preparar os rejeitos para a disposição final.

“Segundo a IUPAC, cerca de 40%

dos resíduos químicos laboratoriais gerados no mundo correspondem a reagentes químicos não utilizados durante seu período de validade, ainda em seus frascos originais. Esses reagentes são encaminhados a empresas especializadas em tratamento de resíduos químicos, onde são incorporadas ao cimento ou a outro aglomerante, no processo de imobilização de resíduos para disposição final em aterros industriais, denominado encapsulamento”, completa a Lúcia Ribeiro.

Por fim, a pesquisadora demonstra temor com esse tipo de destino. “Embora possa ser considerado provisoriamente adequado ao estágio de desenvolvimento da sociedade atual, esse procedimento, baseado em imobilizar e sepultar átomos não é uma prática sustentável”.

SAÚDE

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Lado A Lado B A relação de amor e ódio entre as mulheres e os hormônios.

Isabela Lara Meireles Leal Quando o assunto é anticoncepcional, surgem várias dúvidas na mente: qual remédio usar?

Quando usar? E porquê usar?

A pílula anticoncepcional chegou ao mercado em 1960, revolucionou o meio da saúde e comportamento da mulher. Com uma forma mais eficiente de evitar gravidez, os contraceptivos trouxeram autonomia e liberdade de decisão para as mulheres.

“Sempre pensei, se as mulheres, realmente, pudessem escolher se querem ser mães, e quando terão filhos, seria libertador. Vejo a contracepção como mecanismo de segurança e libertação para mulheres.” afirma Ana Luiza, médica e Coordenadora do Ambulatório de Planejamento Familiar do Hospital das Clínicas.

Apesar dessa “onda de liberdade” na vida sexual das mulheres, em 1970 começaram a surgir questionamentos sobre os efeitos dos remédios e o quão negativo eles podem ser.

Mas, antes de entrar nesse questionamento, precisamos entender melhor o que são os métodos contraceptivos e como eles funcionam.

Contraceptivo é um método utilizado para evitar a fertilização do óvulo ou a implantação do óvulo na parede do útero.

Existem duas definições básicas, os métodos combinados de hormônios e os métodos que utilizam um hormônio específico, o progestagênio.

Sempre pensei, se as mulheres, realmente, pudessem escolher se querem ser mães, e quando terão filhos, seria libertador. Vejo a contracepção como mecanismo de segurança e libertação para mulheres.

Marina Ferreira, Professora de Enfermagem da Universidade Estadual de Minas Gerais (UFMG) explica a diferença entre os dois: “As pílulas que utilizam apenas progestagênio não oferecem um bom controle do ciclo menstrual, já as pílulas combinadas associam o estrogênio, que é o hormônio que controla o ciclo menstrual, e o progestagênio”.

Segundo a enfermeira, as pílulas que utilizam apenas progestagênio são indicadas para mulheres que tem contraindicação ao uso de estrogênio. Além da diferença na formulação dos métodos contraceptivos, existem diversas vias de administração como oral, injetável, vaginal, subdérmico (sob a pele), entre outras. A escolha é uma decisão conjunta: médico e paciente. “Dentre os métodos que a paciente pode usar devemos apresentar os riscos e benefícios deles e informar sobre a segurança e eficácia de cada um”, esclarece Marina Ferreira.

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SAÚDE DA MULHER

Marina Ferreira fala sobre a interrupção da ovulação, uma dúvida frequente de muitas mulheres.

“Interromper a ovulação pode causar em várias mulheres a diminuição do libido.

Mas, tem o grupo de mulheres que são beneficiadas com esse bloqueio. Como as que sofrem com endometriose, cólicas, sangramento uterino anormal, desconforto físico durante a ovulação e menstruação, TPM. Esses problemas podem ser melhorados com a restrição de ovulação.” Ela ainda reforça, “pode-se utilizar os métodos hormonais para suspensão da menstruação sem nenhum problema físico, mesmo por longo período de tempo. ”

Como os métodos contraceptivos funcionam no corpo da mulher?

Conforme explica, Ana Luiza, é nesse momento que a da saúde da mulher entra em debate, “De maneira geral, os contraceptivos hormonais combinados geram efeitos nos corpos das mulheres como, diminuição da oleosidade na pele e cabelos, e redução das acnes. Além da diminuição das cólicas menstruais e o controle do sangramento. Os contraceptivos combinados não estão relacionados com aumento de peso. O principal receio em relação a esse método é a trombose. Os usos dos métodos combinados podem aumentar, em até quatro vezes, as chances de gerar esse problema grave de circulação. Mas, independente, se a mulher faz parte de um grupo USO DOS MÉTODOS de risco, os médicos sempre CONTRACEPTIVOS devem conversar com suas pacientes, explicar os riscos e Outra dúvida muito frequente benefícios de todos os sobre uso de anticoncepcionais é: o que faço se esquecer de contraceptivos.” tomar a pílula? Caso isso Os métodos com, apenas, aconteça, a mulher tem o prazo progestagênio não aumentam o máximo de 12 horas para tomar o risco de trombose. Eles estão remédio e pode seguir a cartela relacionados com alteração no normalmente, passado esse padrão de sangramento: ciclos tempo de 12 horas, já quando o infrequentes, sangramento em esquecimento dura mais de 12 pequeno volume, ausência de horas pode seguir a cartela fluxo menstrual, escapes normalmente, mas o ciclo não é sanguíneos. São ótimos para considerado seguro. controle das cólicas durante a menstruação e sangramento uterino anormal. As pacientes que estão amamentando também podem utilizar estes métodos tranquilamente.

São muito seguros e eficazes.

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A médica, Ana Luiza, ressalta que “o esquecimento dos sete primeiros comprimidos é o que mais afeta a eficácia das pílulas.

Deve-se combinar sempre o uso de pílula e camisinha. Se a menina estiver esquecendo frequentemente a pílula, deve-se sugerir a troca por métodos de longa duração, injetáveis ou anel vaginal. ” Outro método contraceptivo que causa muitas dúvidas é a pílula do dia seguinte. Ela funciona inibindo ou adiando a ovulação e dificultando a entrada do espermatozoide no útero. “A pílula do dia seguinte não deve ser considerada um método contraceptivo, ela é um método de emergência e deve ser usada nos casos de relação sexual desprotegida. O ideal é que a paciente não a utilize com frequência e sim procure um ginecologista para utilizar um método contraceptivo seguro.”, informa, Ana Luiza.

A médica finaliza: “Os métodos hormonais, pílulas, estão entre os mais seguros com eficácia beirando 100%. O grande problema é que a eficácia depende do uso correto do método: horário de tomar o comprimido, não ficar esquecendo as pílulas, entre outros cuidados. Por isso, digo, mais uma vez, os métodos de longa duração, injetáveis ou anel vaginal, estão sendo cada vez mais indicados, eles não dependem do uso correto, tem duração prolongada e tem o efeito mais eficazes. ”

Nenhum método contraceptivo protege contra doenças sexualmente transmissíveis (DST). O uso deve ser sempre combinado com a camisinha, o, único, método de prevenção eficaz contra as doenças transmitidas pelo sexo.

MOBILIDADE

Smart Cities: soluções para mobilidade

Cidades do Brasil e do mundo tentam encarar o desafio dos engarrafamentos e problemas de trânsito

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“As cidades percorreram até hoje um caminho errado em relação aos objetivos e a infraestrutura de oferta de meios de transportes urbanos”

Matheus de Moraes O mundo está conectado! Essa expressão parece estar ligada somente a fatores relacionados a internet, mas não é bem assim. Em 2011, foi aprovada a criação da Década de Ação pela Segurança no Trânsito (2011-2020), em que todos os países se uniram para mudar o panorama desse setor. Pensar em soluções de mobilidade urbana é um desafio para cientistas, engenheiros, arquitetos e gestores.

Uma das linhas de pesquisa e desenvolvimento em que mais se investe na atualidade é a criação de Smart Cities ou Cidades Inteligentes, que têm como propósito modificar o cenário de crescimento das cidades, agregando tecnologias de informação e comunicação na gestão urbana. O Instituto das Cidades Inteligentes e o iCities (Smart Cities Solutions) são principais responsáveis pela aplicação da ideia no Brasil.

O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Especialista em Planejamento e Organização do Sistema de Transporte, Dimas Palhares, acredita que a mobilidade urbana foi constituída, ao longo do tempo, de maneira equivocada. “As cidades percorreram até hoje um caminho errado em relação aos objetivos e a infraestrutura de oferta de meios de transportes urbanos”.

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Segundo Palhares, há de se ter ideias pontuais que possam trazer, de maneira significativa, as devidas transformações nas grandes cidades. “A melhoria real das condições de transportes das metrópoles passa necessariamente pela busca da construção de soluções inteligentes, criativas, eficazes e sustentáveis e que tenham como principal objetivo atacar as verdadeiras causas dos problemas de transportes”. O professor ainda afirma que existem outros projetos que são estudados por especialistas da área. “Nesta direção, todo o esforço deve ser no sentido de reduzir as necessidades de deslocamento das pessoas dentro da cidade e não de promover estruturas que permitam o seu deslocamento para todas as regiões. A prioridade e o foco devem ser na construção de estruturas de transportes que favoreçam a acessibilidade e cada vez menos as de mobilidade. Para melhorar de verdade e promover a qualidade de vida de transporte das pessoas na cidade essa compreensão é fundamental”.

Dimas Palhares finaliza dizendo que na capital mineira o problema de mobilidade urbana está longe acabar. “O modelo de infraestrutura e de sistema de transporte vigente que está sendo construído para BH, com concepção de sistema troncal vai no sentido contrário desta proposta e pode ser um agravante do problema se não for corrigido e melhor sistematizado a tempo”.

e Centro-Sul, como Floresta, Lourdes e Savassi. Ao longo dela, encontram-se espaços tombados pelo Executivo Municipal como bens-culturais. Entre eles, são reconhecidos o Hospital Militar, o Instituto Raul Soares, os Colégios Marconi e Pio XXII e a Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais.

Cenário em Belo Horizonte Na capital mineira, o processo de transformação inteligente está longe de ser o ideal. A cidade é o município mais populoso do estado, com 2.501.576 pessoas, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2018. O alto índice populacional fez com BH crescesse e se estabelecesse como uma das principais metrópoles nacionais para se viver. Sendo assim, a mobilidade urbana é um assunto muito discutido em âmbito municipal.

Entra ano, sai ano, e o trânsito de Belo Horizonte fica cada vez mais intenso. Dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), do ano passado, afirmam que a taxa de motorização - que é a relação entre frota e população - identificada na cidade é maior entre as 17 capitais ou regiões com um valor elevado de densidade demográfica no país. O indicador que aponta fatores do tipo, explica que quanto mais próximo do número 1, que é o valor máximo, maior é a quantidade de carros no ambiente, sendo que BH alcança o índice de 0,65.

Essa taxa pode ser explicada pelo número de vias existentes no município. Com mais de 11 mil ruas e 300 avenidas, a Prefeitura de BH identificou, em 2017, os maiores e menores corredores da cidade. Entre as avenidas, são destaques nessa pesquisa, Otacílio Negrão de Lima, localizada na região da Pampulha (18,63 km), Tereza Cristina, na região Oeste (12,22 km) e Contorno, nas regiões Central e Centro-Sul (11,86 km). Essa última, é um dos exemplos de objeto de estudo da reportagem.

Projetada pelo engenheiro Aarão Reis, originalmente, a Avenida do Contorno era conhecida como Avenida 17 de Dezembro e dentro de sua extensão, era delimitado o território belo-horizontino.

Atualmente, a Avenida segue sendo uma das principais vias de acesso e corta diversos bairros importantes entre as regiões Central

Para a jornalista e representante da Associação de Moradores do Bairro Floresta, Beth Sily, com a evolução da cidade, problemas foram aparecendo e a maioria deles não foram solucionados pelas gestões públicas. “Há 21 anos quando vim morar aqui no bairro Floresta, o trânsito era mais tranquilo. Com o passar do tempo, aqui foi se tornando um bairro de passagem e o trânsito aumentou muito. A BHTrans não trabalhou esta mudança e não organizou bem o tempo dos semáforos para carros e os sinais para pedestres. Moro em frente a um supermercado e muita gente vai fazer compras lá, e como o bairro tem muitas pessoas idosas, elas precisam atravessar no meio da avenida para chegar a ele. Em 2006, no espaço de tempo de nove dias, morreram no local duas idosas atropeladas”.

Sily afirma que com a tentativa de promover melhorias no bairro, foi instituída a Associação de Moradores do Floresta. “Ficamos revoltados, juntamos um grupo de pessoas e fomos à BHtrans pedir providências. Eles disseram que a gente não tinha um grupo e que não éramos organizados o suficiente para reivindicar alterações positivas. Então, criamos a Associação e esta foi a primeira exigência. Batalhamos para aumentar o tempo do sinal da Itajubá com Contorno e colocaram um sinal de pedestre.

Melhorou bastante!”.

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As complicações causadas pelo desenvolvimento de Belo Horizonte são decorrentes de uma má política de gestão urbana, segundo o jornalista e Consultor em Assuntos Urbanos e Trânsito, José Aparecido Ribeiro.

“BH parou no tempo. São 40 anos que nós não vemos uma obra sequer de melhoria no trânsito da capital. Há uma preocupação muito grande com o transporte público, que convenhamos, é sucateado, mas na verdade, o trabalhador, que precisa transitar pela cidade com seu veículo, acaba convivendo com diversas situações contrárias à sua preferência, como estresse e atrasos recorrentes em compromissos profissionais e pessoais”.

De acordo com o Arquiteto e Urbanista, Alexandre Nagazawa, é necessário um trabalho de restauração urgente desse setor na cidade. “É importante, primeiramente, acabar com a máfia do transporte.

Estatizar todo o transporte público para diminuir a total influência desse poder paralelo que limita a evolução dele. A estatização do sistema público ou sistemático subsídio do estado, teria o objetivo de baratear o transporte e deixá-lo acessível para toda população”.

Ainda para o profissional, é extremamente relevante que as intervenções em outros sistemas de transporte sejam realizadas. “Belo Horizonte tem a urgência da implementação de mais linhas de metrô, incluindo, o subterrâneo que de fato, consiga atender novos eixos, além da limitada linha ferroviária atual da cidade.

Além disso, é importante privilegiar a oferta de bicicletas compartilhadas e seu suporte fora da Avenida do Contorno”.

Por fim, Nagazawa frisa que o apoio de ferramentas tecnológicas e o efetivo trabalho de promoção do transporte público para a população fazem parte do projeto de melhorias da mobilidade urbana de Belo Horizonte. “O compartilhamento da intermodalidade através de tecnologia para melhor integração entre os sistemas de transporte disponíveis, além da criação de políticas públicas para promoção e subsídio do transporte público ao invés de promover uma cultura rodoviarista, já que nossa infraestrutura urbana não suporta mais carros”.

Belo Horizonte, região Noroeste.

Foto por Gabriel Florentino 212 NEURÔNIO - 2018

CRIMINOLOGIA

Feminicídio: a ponta de um iceberg A complexidade de um assunto delicado e pouco tratado Lorena Fernandes “Numa tarde de sexta-feira, em dezembro de 98, o ex-marido da minha mãe pulou o muro da minha casa e se escondeu. Quando minha mãe chegou do serviço, ele a surpreendeu e descarregou um revólver inteiro nela. Ouvi os tiros e corri para ajudar. Eu tinha 6 anos, ela morreu na minha frente”. Essa é a ferida aberta da Jaqueline*, mas é também de tantos outros filhos e familiares que perderam alguém vítima do feminicídio.

O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres por ano. Só em 2017, foram registradas 1.133 mortes por feminicídio. O cenário de violência é real, atinge inúmeras mulheres e desestrutura muitas famílias.

Muitas pessoas desconhecem o termo feminicídio.

A advogada Criminalista, Professora e Pesquisadora, Carla Silene, esclarece algumas dúvidas sobre o assunto. “Feminicídio é uma modalidade qualificada do crime de homicídio, com pena de 12 a 30 anos de reclusão. A causa da morte tem que ser relacionada à sua condição de mulher ou no contexto da violência doméstica”.

Marlise Matos, psicóloga, professora, pesquisadora e coordenadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa da Mulher da UFMG (Nepem), acrescenta: “É um crime contra a vida de mulheres por razão de gênero, por razão de domínio, de controle patriarcal e submissão dos corpos das mulheres. É um tipo de morte das mulheres, causado pelo ódio dos homens”.

Há quem diga que feminicídio é algo inventado pelas feministas. Porém, o que leva alguém a matar uma mulher pelo simples fato dela ser uma mulher?

Essa é, talvez, a pergunta crucial e que não só as feministas, mas a maioria da sociedade não

consegue responder. “Infelizmente, vivemos numa sociedade onde essas formas de interação de relacionamento de gêneros são mediadas pelo patriarcado, pelas formas hierárquicas. Essas maneiras dos homens controlarem e dominarem as mulheres, é a cultura em que a gente vive. A naturalização dessa cultura, que hoje inclusive tem sido nomeada como cultura do estupro, se pauta no domínio dos homens sob as mulheres”, afirme Marlise Matos.

A compreensão dessa imposição de superioridade masculina diante das mulheres gera consequências irreparáveis na construção da figura feminina perante a todos. “No início ele era o namorado perfeito, um amor, mas depois que eles casaram o relacionamento mudou totalmente. Ele começou a ser um cara abusivo, tentava controlar tudo dela, proibir que ela mandasse dinheiro para minha vó.

Lembro que minha mãe começou a fazer as coisas escondidas. Em outubro de 98, ela decidiu separar dele, já que o relacionamento não estava saudável e não foi nada amigável, porque ele começou a ficar agressivo”, descreve Jaqueline*.

O feminicídio é só a ponta de um iceberg da violência gerada pela cultura do patriarcado. “É importante dizer que a violência contra mulheres é acíclica e crescente, nunca começa com a facada ou tiro. Normalmente começa com coisas muito simples - olha você não pode sair com essa roupa, você não vai usar esse batom, você não vai sair com essa pessoa - é como muito que essas situações se agravem e acabem na morte da mulher”, afirma Marlise Matos. Ela ainda acrescenta que “na última pesquisa identificou formas de crueldade.

Geralmente, as vítimas não são mortas só por uma faca, são muitas facas, não é um único tiro, são 23

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vários. Quando percebemos que o crime está relacionado ao ódio contra as mulheres, esse crime vem acompanhado por requintes de crueldade, as vezes tem até tortura.”

Enquanto a sociedade discute igualdade de gênero, o Estado tem responsabilidade de amparar as vítimas de violência. “No Estado de Minas Gerais tem vários casos de mulheres com medidas protetivas decretadas pela justiça e que foram mortas.

O Estado não protege, no entanto esse é um tipo de morte que pode ser evitada, já que muitas vezes o Estado tem o conhecimento da violência”, diz Marlise.

Para Carla Sirlene, as medidas para se combater crimes dessa natureza exigem rapidez e eficácia, padrão diferente do cenário das punições, atualmente.

“A maior tristeza é que o Estado está preocupado com a repressão do crime e esquecendo que o ideal, em termos sociais, é ter um investimento na prevenção. No combate ao feminicídio, o que pedimos é uma ampliação dos serviços assistenciais. A punição por si só, além de chegar depois que tudo já aconteceu, não garante que as pessoas parem de praticar esses crimes bárbaros.”.

Ela ainda classifica uma das poucas leis de amparo as vítimas do feminicídio como altamente falha. “A medida protetiva, infelizmente, é um instrumento simbólico. Quando ela surgiu causou um grande impacto, mas, particularmente, não acredito na medida protetiva como um instrumento eficiente. Não basta ter um pedaço de papel assinado por um Juiz dizendo que uma pessoa não pode se aproximar, se não tem como impedir que isso de fato aconteça. ”

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Dor de quem fica A engrenagem da violência ainda está a todo vapor. O Estado dá as costas para quem lhe pede socorro. Mais um feminicídio acontece, mais uma mulher para a estatística. E agora, o que fazer com quem ficou? E a família? E os filhos?

Emocionada, Jaqueline, relata: “A minha família não sabe lidar com essa falta, é um assunto que a gente não conversa e nós não falamos um para o outro o que sentimentos. Eu e meus irmãos sofremos calados por alguns anos e isso gerou várias consequências em longo prazo. Nós passamos por problemas psicológicos, cada um no seu tempo e da sua forma, em decorrência desse trauma”. É comum que esses crimes de feminicídio ocorram na frente de familiares. É uma situação muito traumática para a famílias e, ainda mais, para os filhos. Só que não existe uma receita de bolo para superar essa perda, cada pessoa reage de uma forma essas marcas causadas pelo sofrimento e podem ser aliviadas com uma devida assistência psicológica.

Jaqueline e seus irmãos fazem acompanhamento terapêutico e ela explica como isso tem ajudado “A terapia faz com que você olhe para dentro de si e perceba o que você sente em relação ao acontecido, como lidar com esse problema. A terapia te ajuda a entender a se posicionar diante de tudo. É triste,

aconteceu, mas não falar sobre isso não é a melhor saída”.

Segundo Marlise Matos, amparo psicológico é fundamental.

“Evidentemente que essas famílias precisam de acolhimento e cuidado, tanto emocionalmente, quanto psicologicamente. Isso deveria ser um protocolo de atendimento humanizados para as famílias sobreviventes de feminicídio, especialmente para essas crianças e adolescentes. Por ser uma morte evitável, existe um sentimento de impotência nas pessoas que sobrevivem, principalmente filhos. Em alguns casos, as crianças se sentem culpadas já que também vivem em um ambiente de violência.

Esse sentimento precisa ser trabalhado. Não tem uma solução mágica para isso, essas pessoas precisam ser atendidas de forma certa, pois é uma experiência profundamente traumática.”

Existe uma luz no fim do túnel?

Estão surgindo estudiosos dispostos a pesquisar as causas da violência contra as mulheres, e, assim, propor formas de extinguir esse problema. “O papel da academia, da ciência tem sido de nomear, dar visibilidade ao fenômeno, de estudar e compreender suas causas, suas determinantes, compreender seus processos e suas dinâmicas e com isso, auxiliar nas políticas de enfrentamento a violência contra mulheres”, finaliza, Carla Sirlene.

NA REDE

Aperta o play Cresce o número de jovens interessados em se tornarem youtubers. Mas será que eles conhecem bem a plataforma?

Rafaela Pinheiro Aguiar 25

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A necessidade das pessoas por conteúdo em formato de vídeo tem aumentado cada vez mais.

De acordo com a pesquisa Video Viewrs, realizada pelo Google, em parceria com o Instituto Provokers e com a Box, o tempo em que os brasileiros dedicam a assistir vídeos não para de crescer. Os números indicam que o consumo de produtos audiovisuais online aumenta em uma velocidade bem maior do que o da televisão. Ainda segundo a pesquisa, o YouTube é a plataforma mais usada para assistir vídeos, o site é o líder no ranking da preferência dos espectadores do produto.

Mas afinal, o que é o YouTube? É uma plataforma de compartilhamento de vídeos, que permite a qualquer um produzir o próprio conteúdo. É de fato uma 26

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ferramenta de comunicação inovadora, que dá voz a cidadãos comuns, possibilitando criarem seus próprios canais, para falar do assunto que desejar e da forma que julgar mais adequada, não deixando de respeitar os termos de uso do site. Além disso, a plataforma permite uma interação bastante inovadora. E claro, que todos esses fatores provocam diversos impactos na sociedade e reconfiguram o contexto midiático.

Tiago Salgado é cientista da área de comunicação e, segundo ele, efetivamente o que mais impacta é que o YouTube possibilita qualquer um publicar conteúdo.

“Ele não serve apenas para comunicar e a comunicação é muito mais do que apenas divulgar um vídeo, falar sobre algo a outras pessoas ou mesmo

curtir um vídeo ou comentá-lo. O que muda é que cada pessoa pode ter seu próprio canal ali, falar sobre o que quer, e constituir suas próprias audiências.”.

A dissertação de mestrado de Tiago foi a respeito da performance do Felipe Neto no YouTube. O intuito do estudo era compreender como essas pessoas se apresentam por meios dos vídeos e alcançam amplas audiências. O que o pesquisador pôde concluir com o estudo é que Felipe fala sobre temas que chamam a atenção, como celebridades, famosos, política, religião, filmes e entretenimento, com uma linguagem própria e boa edição dos vídeos, típico dos produtores de conteúdo dessa ferramenta.

Para

o

pesquisador,

é

fundamental tratar o YouTube como um site comercial, pois apesar de “gratuito”, ele lucra com o conteúdo que é circulado lá. Tiago destaca o quanto é relevante considerar as métricas da plataforma, como os likes, dislikes, inscrições, visualizações e comentários. Além dos algoritmos e a recomendação, que são elementos muito importantes para o sucesso no site, pois são eles que direcionam as audiências que vão receber os vídeos. Ou seja, o conteúdo que os consumidores vão assistir, depende do que já foi visto anteriormente.

O Youtube dá outra amplitude para o mundo da comunicação. Há sim uma relação com a TV, como o próprio slogan do YouTube diz “broadcast yourself” que significa “transmita-se a si mesmo” e até mesmo a ideia de canais. Ou seja, são semelhanças inegáveis. Mas apesar disso, as diferenças também são evidentes. Existem inúmeros nichos no YouTube, pois funciona basicamente como a teoria da cauda longa, não importa o assunto que você aborda em seu canal, sempre vai ter um público para assistir.

Algumas particularidades do site, como a forma que ele opera e a representatividade de tecnologia e inovação que ele carrega, são razões que tem o levado ao sucesso.

O YouTube é apontado como o preferido para assistir vídeo e já faz parte da vida de muitos brasileiros.

Joana Ziller, pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), fala da relevância da plataforma. “É o principal repositório de vídeo em escala mundial, quando surge então, surge como ferramenta de compartilhamento, o que o diferenciava de outros da sua época. Ainda que houvesse muitos

outros, o YouTube acabou, por uma série de questões se firmando o mais importante.”.

Novos tempos. Novas formas.

Novos ídolos Os produtores de conteúdo do site são conhecidos como Youtubers. O termo é de certa forma para profissionalizar e criar uma identidade para os influenciadores que atuam na ferramenta. Afinal, o YouTube é rentável, os vídeos são monetizados de acordo com as visualizações e anúncios inseridos neles. E por isso sim, pode se dizer que realmente o conceito de Youtuber é considerado uma profissão. Pessoas criam suas carreiras nessa plataforma e vivem do que ela as proporciona. E isso não está relacionado somente com a própria renda no YouTube, mas também de frutos conquistados com a visibilidade adquirida ali, que acaba abrindo novas portas. “Se a pessoa ganha dinheiro com o YouTube, sim, pra mim é uma profissão, como Felipe Neto, por exemplo, quem eu pesquisei. Ele passou a ter uma produtora, escreveu livro, fez filmes, dá palestras etc. A profissão youtuber ultrapassa o site. Pode começar nele, como Felipe Neto, ou começar em outros locais, como na TV e depois ir pro YouTube.”, destaca Tiago Salgado.

Um exemplo de que a pessoas podem começar na televisão e ir para o YouTube, é o caso da jornalista e publicitária, Maíra Lemos. Ela trabalhou por 12 anos como repórter e apresentadora nos grandes veículos de comunicação, onde construiu uma carreira profissional e conquistou muitos admiradores do seu trabalho.

Hoje Maíra atua no YouTube e também dá palestras. Segundo ela, desde o surgimento da internet e dessa plataforma de vídeo, ela sempre teve vontade de ter seu canal, mas o fato de ter vínculo com a grande mídia a impedia de seguir esse sonho. Então,

Teoria da cauda longa A teoria afirma que para todo tipo de conteúdo sempre vai ter um consumidor interessado, mesmo para produções de nicho.

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por um bom tempo ela se preparou para operar no site e viver o que tanto desejou. “A realização desse objetivo só se concretizou agora, depois de mais de 10 anos de carreira, com experiência suficiente para empreender. Só então parti para o plano da minha saída. Eu fiz uma pós-graduação, pesquisei e li muito na internet, conversei com amigos e empresários.

Foram muitas informações, conselhos e estudos que me deram uma mínima bagagem para tomar a iniciativa.”

Sob o olhar da jornalista, o YouTube e a internet são a cara dos novos tempos. Eles possibilitam que todos possam se expressar da maneira que quiser, sem precisar de um interlocutor. Diferente da TV que é limitadora a plataforma é um espaço que proporciona liberdade de criação e divulgação “É a pluralidade, é vencer fronteiras, é dar voz a todos, encontrar-se com os iguais, ouvir os diferentes. É democrático.”, conta a youtuber.

Mas e você, já pensou em ter seu próprio canal no YouTube?

Provavelmente em algum momento isso já deve ter passado pela sua cabeça, como também passa pela mente de vários outros jovens. O YouTube é um universo do qual muitos almejam fazer parte e por meio dele alcançar objetivos e sonhos de vida. A pesquisadora Joana Ziller, partilha esse sentimento que é despertado nas pessoas, do desejo de serem produtores de conteúdo da plataforma. “ Hoje a ideia de ser um youtuber é plano de vida de muitos jovens, assim na infância, como antes se dizia, quero ser jogador de futebol, hoje se diz quero ser youtuber.”

Ainda de acordo com a pesquisadora, discutir sobre a plataforma ajuda a entender suas camadas como negócio, relação dos usuários, regras, conteúdo dos vídeos, tecnologia, dentre várias outras possibilidades. E então, com isso perceber que elas se influenciam mutuamente, quando se pensa em 28

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uma, se pensa em todas.

Com certeza essas informações comprovam o quanto é importante compreender o YouTube, não é mesmo?. Afinal, o site é uma ferramenta de comunicação revolucionária e que está presente em nosso dia a dia, mais precisamente na palma das nossas mãos.

Maíra Lemos. Arquivo pessoal

SAÚDE

“

A vida de quem está acima do peso não é nada fácil, ainda mais para quem é obeso desde a infância e teve que lidar com olhares maldosos. Desde os 10 anos, Lorena Ferraz praticava atividades físicas, nunca teve uma vida sedentária, mas nada disso contribuía para diminuir os números na balança, “Independente do que eu fazia, nada mudava”.

Sem contar o incômodo psicológico causado pelo sobrepeso, as pessoas não medem os comentários maldosos, era muito difícil achar roupas porque há sete anos não havia muitas opções no mercado Plus Size.

Para achar algo, Lorena conta que precisou procurar muito.

Cerca de 30% das pessoas que fazem a cirurgia retornam ao peso igual ou próximo ao de antes, isso acontece devido a hábitos alimentares inadequados e a ausência de atividade física.

O mais difícil era comprar calça jeans, porque eu tinha que comprar o que havia na loja.

Geralmente, tinha que escolher entre roupas que não eram do meu gosto, e o preço era mais alto que o convencional. E tem outros, problemas como o assento em cinemas, teatros ou ônibus que acabavam ficando muito apertados, o que era muito constrangedor. Eu ia e voltava da faculdade em pé para não ficar apertada e nem apertar ninguém, eram cerca de duas horas em pé, para evitar essa situação”, diz.

De acordo com a pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), a obesidade atinge mais de 18% dos brasileiros e cerca de 54% da população está acima do peso. O índice de obesidade entre os jovens é ainda maior, entre os anos de 2007 e 2017, cresceu 110%. E esse percentual pode aumentar com o passar dos anos devido o sedentarismo e os maus hábitos alimentares.

Para sair dessa realidade e ter uma qualidade de vida melhor, as pessoas vão atrás de métodos rápidos para perda de peso, mas não é uma boa opção, e nessa ansiedade de emagrecer algumas se submetem a dietas malucas e o uso de Inibidores de apetite.

“Aos 18 anos fui ao endocrinologista, e comecei a fazer o uso de remédios inibidores de apetite, mas não surtiu efeito”, acrescenta Lorena.

INIBIDORES DE APETITE Os inibidores de apetite interferem na comunicação entre o estômago e o cérebro, ou seja, eles enganam o cérebro em relação à saciedade do estômago.

Esse é o mecanismo que faz com que o paciente fique satisfeito por um longo período, ficando sem se alimentar no horário adequado. A desvantagem é quando se suspende o uso do medicamento, pois o corpo vai reconhecer e sentir falta droga. É chamado de efeito rebote.

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CALCULE SEU ÍNDICE DE MASSA CORPORAL

IMC = peso(kg) / altura2(metros)

“

O uso de inibidores de apetite não é indicado para paciente que querem emagrecer muito e, depois, manter o peso” Explica Bruno Sander, gastroenterologista especialista em tratamentos contra a obesidade formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Porém, o uso desses medicamentos é válido no caso de pacientes que buscam o resultado de perda de peso menos significativo. “Por exemplo, o paciente que busca perder de 5 a 8 quilos num curto espaço de tempo, mas a pessoa tem que estar ciente que o resultado será a curto prazo”, explica o médico.

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De acordo com Bruno Sander, outro problema causado pelos inibidores é a dependência psicológica de quem usa. Uma vez que o paciente alcança o resultado desejado, fica ciente que pode voltar a engordar, por isso a pessoa acaba dependente do remédio. Vale ressaltar que o corpo acostuma com o medicamento e com o tempo não irá surtir resultados. Para continuar tendo resultado, o paciente terá que aumentar as doses, e por consequência, crescem os efeitos colaterais.

O ideal é não usar esses inibidores por um período maior que 90 dias.

Bruno Sander informa a importância da reeducação alimentar. “Todos os tratamentos para perda de peso precisam vir acompanhados de reeducação alimentar e atividade física, nenhum tratamento sem esses dois fatores irá funcionar”.

CIRURGIA De acordo com o Ministério da Saúde e o Conselho Federal de Medicina, podem fazer a cirurgia bariátrica pessoas maiores de 18 anos com Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 40kg/m2 sem comorbidades, IMC maior ou igual a 35kg/m2 com comorbidades (diabetes, hipertensão, apneia do sono, etc.).

A cirurgia não é um procedimento milagroso, é preciso dedicação do paciente para manter o peso, conforme explica Sonia Lopes, nutricionista e doutoranda em Ciência da Nutrição pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Cerca de 30% das pessoas que fazem a cirurgia retornam ao peso igual ou próximo ao de antes, isso acontece devido a hábitos alimentares inadequados e a ausência de atividade física.

De acordo com Sonia Lopes, se paciente realizar acompanhamento nutricional a longo prazo, vai conseguir sucesso na cirurgia, e conseguirá manter o peso, com pouca ou nenhuma deficiência nutricional.

Normalmente, essa deficiência nutricional só acontece se o paciente não faz a reposição correta, com o uso de suplementos nutricionais.

Como a cirurgia bariátrica traz severas mudanças, é importante ter apoio psicológico durante o tratamento. Inclusive, algumas pessoas após a cirurgia desenvolvem outras compulsões como o alcoolismo, excesso de atividades físicas, etc. Isso acontece porque a pessoa antes era obesa e comia demais, agora transfere esta compulsão por outras coisas.

Sonia Lopes conclui dizendo a importância da cirurgia para pacientes obesos que estão conscientes dos riscos e cuidados que devem ser tomados após o procedimento. “O tratamento cirúrgico e excelente. Traz resultados a longo prazo para o paciente e considerável melhoria na qualidade de vida”.

RUMO AO EMAGRECIMENTO

Então, para garantir uma melhor qualidade de vida e após tentativas de emagrecer com uso de medicamentos, dietas e atividade físicas sem sucesso, Lorena optou pela cirurgia bariátrica. Ela teve que esperar 2 anos para realizar a procedimento.

Em maio de 2016, conseguiu fazer a cirurgia, depois de apresentar exames, laudos médicos de vários especialistas e fazer acompanhamentos précirúrgicos, inclusive psicológico.

“

Antes da cirurgia eu pesava 122 quilos e hoje eu estou com 67, praticamente metade do meu peso. Depois do pós-cirúrgico, fui percebendo como as coisas ficaram mais fáceis, seja para andar ou fazer exercício físico.

Após a cirurgia, as coisas vão acontecendo de maneira bem natural e esses são detalhes que as pessoas não sabem que existe.

Eu fiquei tão feliz no dia em que eu consegui sentar em uma cadeira de um ônibus.”

ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO Segundo a psicóloga Josie Fraga, especialista em Transtornos Alimentares e Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a cirurgia bariátrica só pode ser indicada em último caso, após a pessoa tentar emagrecer por outros meios e não ter resultado. O paciente que deseja fazer a cirurgia deve fazer acompanhamento psicológico antes, durante e depois do procedimento.

“O paciente precisa saber os impactos que a cirurgia vai causar. Nos 20 primeiros dias, a pessoa passa por uma restrição alimentar muito grande. O consumo alimentar é quase que mínimo isso vai gerar um impacto no indivíduo com relação a memória e a disposição devido à queda do consumo de nutrientes. Vai gerar algum tipo de desconforto e, durante essa dieta restritiva, a pessoa tem que lidar com o não e, muitas vezes o paciente tem muita dificuldade em falar essa palavra. Ele acaba se sentindo um peixe fora d’água, o que resulta em transformações e conflitos”, conclui Josie Fraga .

Gabriela Santana

Devido ao sobrepeso, Lorena sentia várias dores no joelho e, após análise médica, descobriu que tinha rompido o menisco. “O médico me disse que se eu continuasse acima do peso iria ficar sem andar.’’

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TECNOLOGIA

Internet das coisas O mundo está mais conectado que você pensa. A internet não serve apenas para navegar na web.

Por meio da tecnologia temos controle de coisas que antes nem imaginávamos.

Ana Karolina Cipriano 32 NEURÔNIO - 2018

Como todos os avanços tecnológicos, a Internet das Coisas surgiu para facilitar ainda mais a vida das pessoas, o trabalho na indústria, questões ambientais e até mesmo na área da saúde. Mas afinal do que se trata essa tecnologia?

O termo Internet das Coisas, vem do inglês Internet of Things, também conhecido como IOT, essa tecnologia possibilita formar um tipo de rede com várias coisas que se conectam e trocam dados na internet.

O professor e pesquisador do departamento de Eletrônica e Biomédica, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet- MG), conta que antes do surgimento da IOT, as pessoas se comunicavam através de um computador em um canal de comunicação.

Na década de 70, durante um evento nos Estados Unidos, um engenheiro ligou uma torradeira utilizando um computador, porém foi questionado sobre a efetividade de o equipamento ligar sozinho se alguém ainda teria que colocar o pão na torradeira. No ano seguinte, além da torradeira ligar por meio de um comando no computador, ele apresentou um dispositivo robótico que pegava o pão e colocava na torradeira. Foi desse fato que surgiu essa nova percepção de de utilização da internet, explica o professor Joel.

De acordo com Epaminondas Lage, Engenheiro Eletricista, e professor do Curso de Eletrotécnica do Cefet MG, até então as pessoas acessam a internet em busca de informações. Segundo ele, de alguns anos para cá, surgiu a

necessidade de a internet, além de conectar pessoas, conectar também objetos. Ele ressalta que em termos de conhecimento público, a IOT conquistou um espaço maior nos últimos anos, mesmo tendo surgido há mais tempo.

Em relação às formas que a Internet das Coisas pode ser adotada, o pesquisador Joel Santos afirma que a aplicação da IOT é infinita, e que atualmente praticamente todas as áreas de atividade humana têm utilização do avanço tecnológico.

Há alguns anos a BHTrans implementou em Belo Horizonte painéis de led nos pontos que informam quantos minutos faltam para o ônibus passar no local em que a pessoa está. De acordo com Joel Santos, todos os coletivos da capital mineira possuem um GPS, que informa ao sistema instalado no painel onde o ônibus está, e calcula quanto tempo falta para o veículo chegar, realizando um cálculo entre a distância e a velocidade média..

O

professor

Epaminondas

apresenta outros exemplos de situações em que a Internet das Coisas, é utilizada para facilitar o cotidiano das pessoas. Segundo ele é possível que através de um aplicativo e sensores colocados em equipamentos, as pessoas consigam ligar o ar condicionado, para que o ambiente fique mais fresco quando chegar em casa.

Além disso, é usado em algumas residências dispositivos que são capazes de abrir cortinas de um quarto, quando a pessoa está na sala por exemplo. Outra situação bastante interessante, é conseguir ligar sistemas de irrigação no quintal de casa, quando estiver viajando.

A utilização da Internet das Coisas é uma alternativa interessante e inteligente, para diversos setores, como por exemplo o da agricultura.

Fazendas que ficam localizadas em Patos de Minas, na região do Alto Paranaíba, estão utilizando dessa ferramenta para realizar diversas tarefas. O professor Joel conta que essas fazendas possuem drones que supervisionam todas as plantações, e os proprietários das terras conseguem fazer o 33

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monitoramento das imagens através de softwares instalados em computadores.

Por meio desses sistemas utilizados nas fazendas, os agricultores conseguem receber a informação de áreas da plantação que está com alguma praga. Também saber pela coloração e o comprimento de ondas que as cores das plantas estão emitindo, em que época a colheita deve ser feita. Outro ponto bastante interessante para os proprietários das fazendas, é que a colheita pode ser feita de forma automatizada. O sistema detecta o momento ideal, liga as colheitadeiras em modo piloto automático, que são capazes de realizar toda colheita.

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Alunos criam projeto utilizando internet das coisas Em outubro deste ano, o Cefet MG, promoveu o evento: IoT Day, que abordou temas com o objetivo de expandir e disseminar a Internet das Coisas. Durante o evento alunos do 3º ano do ensino médio, e técnico em Eletrotécnica apresentaram projetos de formas de utilização da Internet das Coisas, para solucionar algumas questões.

Um dos projetos apresentados foi a Caixa de Remédio Inteligente, desenvolvido pelos alunos do 3º ano Ensino Médio, e técnico em Eletrotécnica Verônica Resende, Pedro Augusto dos Anjos, Daniel Guimarães e Karine Vitória Reis, que foram orientados pelo professor Epaminondas Lage.

A aluna Verônica Resende contou que a ideia teve início quando ela estava no 1º ano do ensino médio.e quando foi proposto a realização de um projeto para o evento IoT Day, nesse ano a aluna considerou que seria interessante retomar a ideia.

O projeto que está sendo desenvolvido é uma caixa com vários compartimentos, e quando a pessoa for utilizar pela primeira vez será feita uma programação no equipamento.

De acordo com Verônica, o paciente informará de quanto em quanto tempo o medicamento deve ser tomado.

A caixa também terá um display que será responsável por informar quanto tempo falta para tomar determinado remédio e em qual compartimento ele está. O usuário do equipamento receberá um alerta sonoro e o led do display também acende. Além disso, a aluna que está desenvolvendo o projeto contou que a caixa inteligente será capaz de avisar a pessoa quando

ele abrir um compartimento na hora errada.

Outro fator que levou a Verônica a desenvolver esse projeto foi que a avó dela havia tido um problema de saúde por não ter tomado um medicamento, ela percebeu que essa questão de esquecer-se de tomar remédio é um algo que acontece com muitos idosos, e pode causar sérios problemas.

Para finalizar, Verônica conta que ela e os colegas que estão desenvolvendo o projeto perceberam que a medida que o tempo passa, a memória recebe muitas informações e isso pode acabar fazendo com que as pessoas, principalmente idosos se esqueçam das coisas, porém quando se trata de esquecer de tomar determinado medicamento a situação pode ser tornar algo sério, e a caixa de remédio inteligente pode contribuir para solucionar esse problema.

O avanço no Brasil Para o professor Epaminondas Lage, a área de estudo que mais tem sido explorada é a dos sensores, que estão cada vez melhores, acessíveis e confiáveis. Esses sensores serão capazes de fazer a medição dos dados de maneira correta e com mais precisão.

Além disso, Lage destaca o crescimento da técnica de machine learning, que significa o aprendizado de máquinas. A técnica está relacionada a inteligência artificial, é uma vertente que treina máquinas para aprender com dados. Esses equipamentos se tornam então capazes de imitar as habilidades do homem.

“São aplicações que vão mudar o mundo, e a maneira que a gente convive com as coisas” De acordo com o pesquisador Joel Santos, a Internet das Coisas têm se desenvolvido de forma considerável no Brasil. Ele afirma que não caminha da mesma forma como em países de outros continentes como, por exemplo, na Índia e Israel,.

O Brasil está se movimentando e realizando pesquisas para estabelecer qual será a política da Internet das Coisas, e com isso está aberto o plano nacional de IoT. Será normatizado para que a tecnologia seja aplicada em diferentes fabricantes, que as empresas criem plataformas compatíveis e sejam cada vez mais funcionais.

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MEDICINA

Afogando com as mágoas Consumo de bebidas alcoólicas começa muito cedo e pode levar a dependência ou até a morte

Um pouco de cerveja aqui, uma cachaça ali, uma dose de conhaque acolá e quando se deu conta, L.S. já estava mergulhado na dependência do álcool: “Comecei a beber com os primos e colegas de escola, por volta dos 10 anos. Aos 19, já tinha a minha profissão, o alcoolismo estava bem avançado, mas mesmo assim eu não pensava em parar. Entrava em disputas para ver quem bebia mais e para mim era sempre mais fácil, pois o corpo estava acostumando”.

Aos poucos L.S. foi perdendo o controle e o vício passou a tomar conta de sua vida, causando estragos, algum deles, irreversíveis. “Comecei a ver meu casamento e o carinho dos meus filhos indo por água abaixo, pensei em parar, mas não sabia como”. Ele tentou diminuir o uso de bebida aos poucos, mas devido a todos os problemas dentro de casa, não teve sucesso e os problemas continuaram. “Os problemas foram aumentando e não conseguia parar, até que chegou o divórcio.”

Mesmo em meio a todas as dificuldades e frustrações, L.S. encontrou uma forma de reconstruir e mudar o rumo de sua vida. “Um dia minha vizinha me parou na rua, na hora certa. Estava desesperado sem saber o que fazer, então ela me convidou para ir a uma reunião do Alcoólicos Anônimos (AA) eu fui sem compromisso, mas já na primeira reunião quis fazer parte e desde de então não bebo. Estou há 15 anos sem fazer o uso do álcool”. Hoje com 60 anos, ele pode comemorar a nova chance de poder viver ao lado de seus quatro filhos. “Uma das coisas que mais 36

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valeram a pena ter recuperado foi o carinho dos meus filhos, isso não tem preço”.

Casos como o de L.S. são muitos, mas nem todos têm final feliz. Segundo uma pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,9% da população mundial morre devido o alto nível do consumo de álcool. De acordo com a consultora do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), Ana Lúcia Brunialti Godard, esse número poderia ser ainda maior se a pesquisa fosse realizada com as mortes causadas pelo alcoolismo de forma indireta. “Essa taxa se refere somente a quem consome. O percentual de mortalidade envolvendo álcool, no geral, como causas de acidentes e outros problemas de saúde (como doenças cardíacas e doenças hepáticas) é bem maior”, afirma a especialista, que é doutora em genética humana e faz pesquisas sobre alcoolismo.

O uso exagerado de bebidas alcoólicas muitas vezes começa já na adolescência. De acordo com a OMS, cerca de 40% dos adolescentes entre 12 e 13 anos já consumiram álcool em algum momento da vida. Segundo Ana Lúcia, os fatores sociais e genéticos influenciam extremamente na dependência ao alcoólica.

“No geral o jovem consome álcool mais cedo, por que ele tem a família e as pessoas próximas que fazem uso abusivo de bebidas, que para eles é uma prática comum.” A consultora também fala que o vício vai piorando enquanto aquele jovem vai se tornando adulto. “A medida que ele vai crescendo e aquilo se torna

um hábito, a genética se torna um fator extremamente importante em relação a dependência desenvolvida”.

nisso, por isso temos tantas propagandas de cerveja”.

Consumo precoce

Pesquisas recentes

Segundo a pesquisa divulgada pela OMS, nos últimos 10 anos cresceu cerca de 50% o número de jovens que realizam uso da bebida alcoólica regularmente.

Jamila Gonçalves, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas e que atua em pesquisa referente ao álcool e drogas, acredita que a tendência é piorar. “Infelizmente, é uma tendência cada vez maior, não só entre jovens, mas na população geral. Há uma similaridade cada vez maior de consumo entre homens e mulheres, o que já é um diferencial. O risco se encontra no consumo por muitas vezes nocivo e no uso de práticas como binge drinking, que é o consumo excessivo de álcool em um curto espaço de tempo, entre os jovens”.

Um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, coordenado por Ana Lucia, identificou novos pontos no cérebro no quais o uso abusivo de álcool causa danos, pois prejudica a produção de dopamina. “Descobrimos uma via neurofisiológica, que ainda não tinha sido identificada, como envolvida na adicção que é a dependência química. É uma via chamada LRRK2 que até então estava associada ao Mal de Parkinson

Os riscos referentes ao consumo de álcool na juventude são muitos, conforme diz Jamila Gonçalves. “Além do risco da dependência, existem outras consequências como a possibilidade da procura por substâncias mais potentes como crack”. Jamila também fala que o consumo exagerado de bebidas pode gerar problemas psicológicos. “O consumo exacerbado do álcool também está relacionado ao surgimento de problemas psicológicos como a ansiedade, irritabilidade e depressão, além de estar associado ao prejuízo na vida escolar. A longo prazo pode levar ao surgimento de doenças graves como a cirrose.”

Saídas para redução As propagandas de grandes marcas de cerveja em canais de TV são variadas e constantes. Ana Lúcia acredita que a saída para redução do consumo seria diminuir de forma drástica todos os meios de propagandas de bebidas no país. A pesquisadora relata situações em outros países como Escócia e França que diminuíram claramente o consumo de álcool. “O que eles fizeram foi abolir completamente as propagandas. Não existe mais propaganda de bebida em televisão, cinema e rádio. Não existe a associação da bebida ao prazer, a gente tem as propagandas no verão, por exemplo, nesses países foi completamente abolido. No Brasil, existe uma ausência do governo em relação a esse tipo de regulamentação. Temos uma lei no país que proíbe propagandas de bebidas alcoólicas acima de uma certa porcentagem de álcool, a cerveja não entra

Segundo a consultora, essa via faz parte do sistema nervoso central nos neurônios e está envolvida na receptação de dopamina. “A gente sabe que um dos grandes problemas do alcoólatra é a falta de regulação da dopamina, que é o neurotransmissor do prazer. Essa via é descontrolada nesses indivíduos alcoolistas. Estamos tentando identificar o que ela está fazendo como descontrole”. Durante a pesquisa e as descobertas, o grupo busca por novas soluções mais eficazes de tratamento da doença.

O alcoolismo é uma doença que ainda não tem cura, existe o tratamento e ele deve ser mantido por toda a vida. Quem sofre com este problema deve se manter sempre atento e evitar contato com lugares e pessoas que facilitem o acesso ao álcool.

O risco de recaídas é alto, como diz Jamila Gonçalves. “É importante frisar que a abstinência, nesses casos, é necessária para um tratamento bem-sucedido. No entanto, mesmo que o paciente esteja sóbrio durante muitos anos, há sempre o risco da recaída”. Em relação ao risco de recaídas, Jamila ainda acrescenta: “Recair não significa fracasso ou impossibilidade de recuperação do alcoolismo. Caso ocorra, é importante estimular o paciente a focar novamente no tratamento e encontrar apoio para não voltar a beber”.

Valéria Figueiredo

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PERFIL

Mente astronomicamente pensante Um olhar sobre a trajetória profissional de quem dedica a vida para descobrir a origem do universo.

Quando se faz a pergunta “de onde

viemos?”, é quase instantâneo olhar para o céu. A curiosidade parece estar no DNA humano, foi o que disse um dos mais importantes físicos teóricos da história Stephen Hawking. “Olhe para as estrelas e não para os seus pés. Tente entender o que você vê e imagine o que faz o universo existir”.

Há mais de 400 anos, a curiosidade de um físico o fez descobrir, observar e explorar cantos do universo jamais analisados.

Galileu Galilei revelou Saturno e seus majestosos anéis, viu que Vênus tinha fases, o que refutou a ideia de que o Sol girava em torno da Terra, e observou e nomeou algumas luas de Júpiter. De fato, vieram muitas mentes brilhantes depois de Galileu. Por meio de séculos de dedicação ao estudo da astronomia, hoje ela é uma das ciências mais fascinantes e, a todo o momento, surpreende com muitas descobertas.

A professora Silvania Souza Nascimento é um exemplo dessas mentes que buscam o conhecimento a partir da astronomia e das ciências humanas. Ela é graduada em Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Ensino de Ciências nas Modalidades de Física e Química, pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em Didática das Disciplinas de Ciências e Tecnologias pela Université Paris VI. Em 2009, na comemoração aos 400 anos do uso astronômico das lunetas por Galileu Galilei, coordenou um projeto intitulado de ‘Pop Astronomia’, no qual o foco era a popularização da Astronomia como extensão da pesquisa sobre o tema para jovens e

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professores na região metropolitana de Belo Horizonte.

Qual sua área de investigação?

A área de investigação é a Didática das Ciências e suas Tecnologias. Trabalho em uma abordagem antropológica e sociolinguística das Ciências Experimentais.

Logo, minha pesquisa é em Ciências Humanas. Minha dissertação de Mestrado, defendida em dezembro de 1990 na USP, foi a primeira dissertação de uma mulher e a terceira sobre o Ensino de Astronomia defendida no Brasil.

Qual o conhecimento você já produziu em relação ao ensino da astronomia?

Contribuo nas questões metodológicas para o desenvolvimento de novas formas de compreensão de como a linguagem interfere na formação dos conceitos astronômicos como verticalidade, temporalidade (sucessão dos dias e noite, o tempo local e o sideral), simultaneidade (observação de diferentes fenômenos astronômicos em diferentes latitudes na Terra), alinhamento e ocultações de corpos celestes entre outros. Tudo isso analisando as crianças, jovens e educadores.

Quais são as áreas que você pesquisa?

Investigo o papel da argumentação no Ensino das Ciências e na Comunicação Pública das Ciências em relação aos conceitos astronômicos. E analiso, em uma abordagem sócio -histórica, a atividade como propulsor da apropriação e transformação de saberes em conhecimentos e a ciência como patrimônio intangível dos povos.

Na sua opinião, essa ciência deveria ser mais difundida para a população?

Todas as ciências são produções humanas que auxiliam a termos novas formas de ler o mundo que nos cerca. A Astronomia chama muita atenção por tratar de fenômenos em uma escala de tempo e espaço muito grande. A dimensão do infinitamente grande provoca questões como: onde estamos, para onde vamos e nos mostra como somos infinitamente pequenos diante do universo que nos cerca. Quando as formas científicas de analisar essas dimensões não são tratadas de forma adequada, viabilizamos respostas locais e com baixo poder explicativo que, muitas vezes, se utilizam de um vocabulário científico para validar conhecimentos que não são científicos. A divulgação das ciências é fundamental para dialogar com as diversas formas de conhecer o mundo e mostrar que colaboram de forma singular e dinâmica em torno das evidências e hipóteses.

Qual a frase que te inspira?

“Precisamos pensar/repensar o saber, não com base numa pequena quantidade de conhecimentos, como nos séculos 17-18, mas no estado atual de proliferação, dispersão, parcelamento dos conhecimentos”.

Frase de Edgar Morin, no livro Ciência com consciência.

Gabriel Florentino

Qual é o aspecto dessa área que mais te fascina? É a amplitude da diversidade que já conhecemos em nosso planeta e nos limites do sistema solar. É fascinante pensar que nossas sondas espaciais começam a ultrapassar esses limites e o desconhecimento sobre o universo amplia a cada dia. A ciência traz novas perguntas e novas hipóteses sobre a vida e a origem do universo.

Que físico você tem como referência?

Meu físico de referência é Stephen Hawking por sua força no enfrentamento da vida e por sua contribuição na cosmologia.

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POLÍTICA

Quando as ciências se unem a favor da informação Os assuntos que mais tem movimentado as mídias sociais nos últimos meses foram as constantes discussões e debates sobre as eleições. Facebook, Twitter e Instagram, foram palco dessas interações que se tornaram, também, objeto de estudo de diversas pesquisas científicas.

Para Érica Anita, cientista política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a internet ampliou e facilitou a forma de como usamos os canais de comunicação, rompendo assim, com o modelo tradicional, no qual um único meio ou canal transmite a informação e os demais recebem. Ela ainda pontua que outro fator determinante ocorreu devido a facilidade de acessar dispositivos móveis em qualquer local. “Você não precisa sair de casa, é o famoso ativista de sofá. Então, a Érica Anita. Arquivo pessoal

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internet vem mais como uma facilitadora, é um meio de comunicação menos custoso para as pessoas”, ressalta a cientista.

Um dos aspectos que ajudam a entender essa interação foi a adesão de agentes políticos nas redes sociais, para construção de sua imagem em um espaço ilimitado e, por muitas vezes, sem custo de campanha - mesmo fora do período de eleitoral. O espaço é atrativo também para quem está começando e tem pouco ou nenhum tempo de TV no período eleitoral. “Os agentes políticos, aqueles que têm menos visibilidade, utilizam esses espaços para construção da sua imagem pública política e outros para manutenção dessa imagem”, afirma Érica Anita.

Para a pesquisadora em Comunicação da UFMG, Luciana Andrade, mais do que entender esse comportamento de eleitores e candidatos, é preciso compreender que as redes sociais estimulam não apenas o consumo de conteúdo, mas para que as pessoas utilizem as ferramentas disponíveis para produzir o seu material.

Com isso, tem crescido a.credibilidade em postagens de pessoas dentro do círculo de amizade virtual, em detrimento das mídiastradicionais.“Quando eu vou para a internet, por exemplo, em busca de informações ou para debater determinado assunto político,

Luciana Andrade. Arquivo pessoal

social, tendo a absorver melhor os conteúdos que estão de acordo com a minha visão de mundo.

Isso é natural, é inerente ao ser humano buscar essas semelhanças”, pontua Luciana Andrade.

Um dos efeitos dessa conduta é a polarização das redes sociais e os chamados filtros bolhas.

Por causa da ação e algoritmos, cada usuário recebe apenas nformações que fortalecem seus argumentos e convicções.

Segundo Érica Anita, esse comportamento reflete na zona de conforto que buscamos até mesmo no cotidiano para termos reafirmação das nossas opiniões, pois preferimos estar com pessoas que pensam como nós e evitamos posicionamentos divergentes. Ela ainda ressalta que o principal efeito dessas bolhas é não enxergar a realidade e também tentar compreender o que se passa ao nosso redor.

De acordo com Luciana Andrade, essa polarização é extremamente prejudicial à democracia, pois está ligada ao campo das emoções e com isso dificulta as possibilidades de diálogo.

Para ela, após as eleições, os conflitos entre os grupos continuarão e serão necessárias novas temáticas de debates e conversas para encontrar soluções. “Quando a gente tem espaço para debate o efeito é sempre positivo, o problema é que essa abertura foi negada durante as eleições pela necessidade de cada grupo fortalecer o seu ponto de vista.

Então, o que se viu fora uma disseminação de conteúdo contestando a crença adversária e em casos mais extremos, discursos de ódio” afirma a cientista.

acredita que o espaço oferecido no meio digital é importante para a democracia, mas que não pode ser apenas para discussões e debates. ”Temos que ficar de olho nos candidatos que votamos e foram eleitos e também naqueles que não votamos para que possamos cobrar que eles nos representem de fato”, diz ela.

Iara Nassif é jornalista e usa muito as redes sociais. Ela

Cristina Azevedo e Fernanda Quéren

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Fake News Todo o contexto de uso e comunicação durante o período eleitoral fez crescer da circulação de notícias falsas, as conhecidas fake news. Não é preciso passar muito tempo nas mídias digitais para encontrá-las. Afinal, como lidar com elas? Como filtrar as informações que chegam até nós?

Como não se perder nesse mar de boatos? Vamos por partes.

Segundo Luciana Andrade, a disseminação dessas notícias em cenários de polarização é previsível e pode ser chamada de “desordem da comunicação”, pois está ligado ao reforço de crenças. É uma desinformação e de acordo com a cientista, favorece a criação de grupos que competem pela verdade e não aceitam posicionamentos diferentes. Isso acaba gerando uma guerra de narrativas em que todos perdem devido a inviabilidade de um debate.

Os números que envolvem o serviço de desinformação são alarmantes, ultrapassam os 8,8 milhões de pessoas, segundo levantamento da Psafe, startup brasileira que desenvolve aplicativos da categoria ferramentas para telefones celulares. Ou seja, as notícias falsas tomaram conta da internet.

Navegar em ambiente virtual para se informar, tem sido um verdadeiro dilema nos quatro cantos do mundo.

A discussão em torno da propagação das notícias falsas já mobiliza diversas camadas da sociedade. Luciana Andrade, faz um diagnóstico da atualidade e uma projeção do futuro, caso sejam tomadas as medidas para 42

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combater esse tipo de serviço de alienação da realidade no meio digital. “É muito importante essa discussão de como se propaga, o que são essas notícias falsas, qual é o motor de propagação, porque a gente precisa informar a sociedade e ter consciência que elas precisam ser educadas a utilizar de forma benéfica as plataformas. Precisamos de unir forças entre a imprensa, a instância jurídica e o governo. A gente tem várias instâncias que estão se unindo para popularizar informações de como as pessoas podem se informar melhor sobre esses temas. É importante que a gente coloque em prática para que não tenha erros irreparáveis lá para frente”.

De acordo Érica Anita, mesmo com o maior acesso à informação, muitos têm se informado pelas fontes erradas. E com o compartilhamento em massa desses materiais, cresce ainda mais as discussões nas mídias sociais e com isso o avanço da democracia fica comprometido. “Os candidatos ao invés de divulgarem sobre sua campanha, sobre quem são ou o que pretendem fazer. Eles gastam esse tempo divulgando fake news. O eleitor por outro lado, gasta tempo vendo isso ao invés de ver uma informação qualificada.

Em vez de compartilhar as propostas de campanha do candidato, ele compartilha fake news”, finaliza ela.

Com o intuito de trazer soluções para os desdobramentos que se intensificaram no período eleitoral, cientistas têm buscado

compreender o processo e os elementos que influenciam essas ações. De acordo com Luciana Andrade, a ciência tem feitos diversos estudos para entender as competências midiáticas, como as pessoas utilizam essas plataformas para tomar decisões, quais fatores influenciam para que elas participem do cenário político e quais ferramentas têm sido utilizadas para se comunicarem.

“Essa desordem da informação é um dos pontos que hoje mais preocupam as instituições, principalmente porque eles são conteúdo que acabam servindo de base para tomada de decisão. E isso não é preocupante apenas na política, mas em todos os segmentos sociais, finaliza.

SOCIOLOGIA

LIBERA OU NÃO LIBERA? EIS A QUESTÃO! A criminalização ou não da prática do aborto é uma discussão constante na sociedade

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“O direito ao aborto é uma questão de direito fundamental do sujeito a dispor de seu próprio corpo, e mais ninguém. Nenhuma instituição deveria opinar com relação à decisão das mulheres de abortar”. Na fala da professora Yumi Garcia fica claro que a escolha ao aborto deveria ser unicamente da pessoa afetada pelo ato, a mulher, porém essa decisão não é tão única assim.

“Somente a própria mulher pode dizer, de forma livre e responsável, sobre seu corpo, sua vida e suas escolhas atuais e futuras”.

Atualmente, a prática do aborto está restrita aos casos nos quais a mulher foi vítima de um abuso sexual, se a gravidez representar risco para a saúde da mãe ou em ocorrências de bebês anencéfalos. Caso uma mulher seja flagrada praticando o ato de forma clandestina e fora dessas situações, pode pegar de um a três anos de prisão. Com alguns agravantes, o crime incide em até 10 anos de reclusão.

A descriminalização do aborto é uma questão que tem gerado muitas discussões nos últimos anos.

De acordo com a cientista jurídica Carla Sirene, para legalizar o aborto é necessária uma lei que altere a que está em vigor. O projeto que está sendo discutido no Supremo Tribunal Federal (STF) seria a legalização do aborto até a décima terceira semana de gestação, quando comprovado que a mulher não tem condição de criar o filho.

Mesmo sendo um projeto que ainda está em fase inicial, muitas pessoas já se manifestam contra e a favor. A psicóloga e coordenadora do Núcleo de Psicologia de Referência da Mulher, Gabriella Cirilo, afirma que atualmente vivemos em uma cultura patriarcal extremamente ligada a crenças religiosas. Essas crenças, vinculada as opiniões machistas, são fatores que influenciam muito no momento da opinião negativa de grande parte da sociedade no assunto. Ela ainda afirma que muitas vezes as pessoas não entendem e, muito

menos, respeitam as escolhas das mulheres por não 44

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estarem vivendo essa situação na pele. São essas pessoas que opinam de forma tão forte contra a prática do aborto.

Rejeição A mulher que se vê em uma situação de gravidez indesejada pode passar por experiências de rejeição. É o que cientistas chamam de morte social. Ela acontece quando uma pessoa passa por um determinado fato e acaba sendo excluída da sociedade em que vive, não frequentando lugares em que, normalmente, iria ou cortando laços por rejeição das pessoas ou dela mesma. Há mulheres que interrompem a frequência em escolas ou no ambiente de trabalho.

A psicóloga Gabriella Cirino explica os fatores e as escolhas que poderiam evitar casos como de morte social. “A legalização do aborto é uma discussão que vai bem mais além de uma morte social. De acordo com as normativas de Direitos Humanos, as pessoas, em geral, têm o direito ao acesso às informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não filhos e o direito de exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação, imposição e violência.

Considerando principalmente a questão da adoção, se o Brasil não fosse um país tão burocrático e retrógrado em relação à adoção, principalmente em relação a adoção homo-parental, não teríamos tantos casos de morte social.”

O que pensam os cientistas?

De acordo com a psicóloga Gabriella Cirilo, somente a própria mulher pode decidir de forma livre sobre seu corpo. Ela também afirma que a mulher tem o direito de decidir se quer ou não, qual o momento e

quantos filhos quer ter. “Sendo mulher, profissional da saúde e psicóloga, tenho minha opinião pessoal baseada nos princípios que regem minha profissão, vinculadas às normativas de Direitos Humanos, em específico, aquelas sobre os direitos sexuais e direitos reprodutivos da mulher. Estes direitos definem que as pessoas podem decidir de forma livre e responsável se querem ou não ter filhos, quantos filhos e em que momento da vida”.

Gabriella ainda comenta do risco que a prática do aborto de forma clandestina apresenta para a mulher. “Não sendo legalizado o aborto, a mulher procura outros meios para a realização do ato, o

que pode implicar em graves problemas de saúde,

inclusive a morte”.

Já a cientista jurídica Carla Silene é contra a prática do aborto, porém a favor da descriminalização. “Pessoalmente sou contrária, mas como cientista do Direito, vejo que os abortos já acontecem, e com risco para a mãe e o bebê. Logo, penso que o aborto não deveria ser legalizado, no sentido de ser liberado totalmente, mas descriminalizado”.

André Gomes

“Mulheres ricas saem do país, abortam e abortam quando querem Não tem essa, mulher que quer abortar, abortará.

Mulheres pobres enfiam agulha de crochê, tomam chá, E quando por sorte não morremos Sofremos com a falta de apoio, e não porque queremos”.

Rayane Noronha

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HISTÓRIA

HISTÓRIA ardendo em chamas

Confira a reportagem especial sobre a tragédia no Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Gabriel Florentino Toda nação tem sua história. A cultura de um país é eternizada por aquilo que é preservado e relembrado, para assim, ser passada de geração em geração. Quem não se lembra, nos tempos de escola nos livros de história aqueles majestosos sarcófagos egípcios? Ou os mais lindos trajes de rituais indígenas? E os enormes dinossauros que já viveram em terras brasileiras? Essa você com certeza vai se lembrar: o mais velho fóssil humano já encontrado na América, a Luzia. Todos eram parte do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro que, ironicamente, no ano que completaria 200 anos, sofreu um catastrófico incêndio e foi, praticamente todo destruído.

“A perda é inestimável”, afirma o geólogo mineiro, Luiz Carlos Borges Ribeiro. Ele, trabalha com geologia sedimentar, paleontologia de vertebrados e patrimônio geológico, é graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desenvolve pesquisas em Estratigrafia e Paleontologia e, atualmente, é professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).

A ruína de um palácio imperial foi o que restou depois da tragédia que queimou a estrutura de mais de 13 mil metros quadrados, que fica bem ao centro do Campo de Sant'Ana, localizado no estado do Rio de Janeiro. O prédio, criado em 6 de junho de 1818, por Dom João VI, foi lar da Família Real portuguesa e a Imperial brasileira, antes de se tornar um museu em 1892.

O acervo do museu começou a ser montado na época imperial, por Dom. Pedro I. Era o lar de mais de 20 milhões de peças. O prédio foi referência em diversas áreas de pesquisas científicas, englobando uma grande parte da história brasileira como a antropologia, paleontologia botânica e geologia. Não se sabe ainda quantas peças específicas foram perdidas, mas é evidente que a perda foi quase de 100%.

Ribeiro lamenta toda história que virou cinzas. “Coisas insubstituíveis foram destruídas. Vejo que foi a falta de cuidado que levou ao incêndio. Há, cerca, de 30 anos, falaram que o museu iria ser reformado e não foi. O brasileiro não dá valor à sua história”.

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Em meio às ruínas Um dos destaques na sala de fósseis de dinossauros era o, Maxakalisaurus topai, um herbívoro que viveu há mais 80 milhões de anos,. “Em nível local, a ossada do Maxakalisaurus topai foi nossa grande perda. Esse material vem da tribo indígena Maxacalis que viveu no Triângulo Mineiro, região onde o fóssil foi encontrado”, diz Luiz Carlos.

O grandão de 13 metros estava exposto há 12 anos no museu.

Partes desse fóssil foram localizadas durante as buscas, incessantes, desde o controle do incêndio, mas ainda não sabe se haverá recuperação total.

Outro temor dos cientistas era a perda do fóssil da Luzia, material simbólico que representa um dos fósseis mais antigos encontrados nas Américas. No entanto, quase dois meses depois do incêndio, partes do crânio e fêmur foram achados dentro de uma caixa, no meio dos destroços do museu. O que pode ser uma salvação aos anos de valor e histórias guardados no fóssil.

Luzia é o fóssil de homo sapiens que viveu há cerca de 13 mil anos. Foi encontrada em um sítio

arqueológico na área de Pedro Leopoldo, região metropolitana de Belo Horizonte. Esse nome foi inspirado em Lucy, um fóssil de Australopithecus afarensis que viveu há, aproximadamente,3,5 milhões de anos.

O fato é que a ciência não conseguirá se recuperar dessa tragédia. “O que se perdeu, perdeu. Penso que é lamentável ter perdido todo esse material, mas não dá para voltar atrás”, lamenta o professor Luiz.

Fóssil Maxakalisaurus topai

Vinte milhões de peças. São inúmeras as pesquisas administradas com esses objetos.

A variedade de artefatos, fósseis e documentos era enorme. É lamentável considerar que inúmeras pesquisas, algumas ainda em andamento, foram perdidas. “É visível que alguma negligência ocorreu”, lamenta Ribeiro, que ainda aponta o baixo investimento na ciência brasileira como um fator alarmante:“Em um país em que mais 60% das cidades não têm água tratada, é difícil ter investimento na ciência. Vejo que o país tem feito o que pode, mas perdemos o rumo e a valorização da história.

Isso é falta de priorizar e investir nas coisas certas”.

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Perdas além da história É indiscutível que o museu detinha grande carga histórica.

Mas, além disso, a afeição e admiração pelo local tem que ser reconhecidos. O museu sempre oferecia mais que história, o que as pessoas, principalmente os visitantes, sentiam em relação ao museu?

Eduardo Brasil, 19 anos, estudante de Relações Internacionais, tem a resposta. O jovem carioca que visitava, desde criança, o museu, felizmente, resolveu fazer mais uma visita com seu primo, antes da tragédia acontecer. “Eu decidi ir com meu primo de 10 anos. Ele estava numa época em que só falava de dinossauros. Como estávamos de férias, surgiu a ideia que fôssemos visitar o museu em um passeio em família”, conta.

Ele lamenta a perda, e aponta que o maior prejuízo terão as pessoas que nunca visitaram o lugar. “O acervo era riquíssimo. Acho que essa perda significa, de uma perspectiva mais emocional, que outras crianças não poderão se encantar com dinossauros e múmias da mesma forma que eu me encantei quando era pequeno.

Ou como o meu primo se encantou nessa, que foi sua primeira e última visita ao Museu Nacional”.

A jornalista, Flora Pinheiro, também visitou o museu.

Apaixonada por história, ela afirma que os museus são locais que não podem sair do roteiro de visitas.

Ela acrescenta a importância de conhecer os museus da cidade onde mora “Sempre que viajo, gosto de conhecer o maior número possível de museus e galerias.

Tirei dois dias para visitar locais 48

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“Lembro que a palavra "abandono" ecoou em minha cabeça por dias depois da visita.

Saí de lá com um sentimento de tristeza.” que fazem parte da nossa história.

Não sou conhecedora profunda da história da Família Real, mas tenho muita curiosidade no que diz respeito. E como o Museu Nacional ficava na Quinta da Boa Vista, incluí no meu roteiro”. O acervo egípcio era o maior da América Latina, graças ao Dom Pedro II, um amante nato de história e ciências humanas.

Eram, mais ou menos, 700 itens entre sarcófagos, múmias, artefatos e joias. Essa coleção foi a que chamou mais a atenção de Eduardo. “O que mais despertou meu interesse foi uma múmia na área dedicada ao Egito. A placa dizia que ela era mantida de pé no escritório pessoal de Dom Pedro II, até um dia que uma ventania a derrubou e a danificou. Me chamou a atenção pela beleza da decoração do sarcófago e pela história, inusitada, que a placa contava”.

Assim como Eduardo, Flora se encantou com a coleção de múmias. “Percebi um cuidado especial na conservação delas.

Ficavam isoladas numa espécie de urna transparente, cada uma com um termômetro. Creio que por serem, extremamente, sensíveis e correrem o risco de mofar, ou algo do tipo”.

Flora conta que, mesmo com toda a beleza da estrutura, percebeu a tragédia anunciada. “Lembro que a palavra "abandono" ecoou em minha cabeça por dias depois da visita. Saí de lá com um sentimento de tristeza. Ao ver a notícia da tragédia, é como se eu soubesse que isso já havia sido

anunciado implicitamente. Eu só não poderia imaginar que seria nessa proporção e em tamanha desgraça”.

A definição da palavra história no dicionário é: ‘Reunião e análise das informações ou dos conhecimentos sobre o passado e sobre o desenvolvimento da humanidade, de um povo, de uma ciência ou arte; de uma cultura, região ou de um indivíduo determinado’, O povo brasileiro perdeu uma parte de si nessa tragédia, perdeu parte de sua identidade. Agora, o que era documentado e armazenado está guardado na mente e no coração daqueles que, um dia, tiveram a oportunidade de conhecer um fragmento chamado Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Um dos sárcófagos egípcios expostos no museu.

Foto de Flora Pinheiro

Entrevista com especialista em museus Castor Cartelle tem 80 anos, nasceu na Espanha e chegou ao Brasil com 19 anos. Possui graduação em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira e em Ciências Biológicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, é mestre em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tem doutorado em Morfologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Paleontólogo, responsável por importantes ções distintas. Segundo essa teoria, a população mais antiga, o povo de Luzia, teria atravessado o Estreito de Bering, há 14 mil anos. E, pelo Alasca, foi descendo até chegar ao Brasil. Há 11 mil anos, veio outra leva, a dos ancestrais dos índios atuais.

A cada vez que pesquisadores encontram um fóssil, restos de fogueiras, uma ferramenta, é como se abrissem uma janela para o passado que nos permite ver e reconstruir a vida do povo de Luzia. Eles tinham uma vida dura, e poucos passavam dos 35 anos. Eram nômades e não viviam nestas cavernas, eles caçavam e colhiam frutas. Nas cavernas eles passavam alguns dias, se abrigavam e seguiam em frente. Tinham as mesmas habilidades, a mesma inteligência que nós. Éramos nós, antes do desenvolvimento, das cidades, da agricultura.

Sobre as características de Luzia, o que se sabe sobre ela?

Qual a história de Luzia?

Em 1999, ela foi levada para a Universidade de Manchester, no Reino Unido, para análises e reconstrução de seu rosto. Foi constatado que ela estava na faixa

dos 20 anos quando morreu, tinha 1,5m de altura e possuía traços negroides, com nariz largo e olhos arredondados. Isso tudo, há aproximadamente, 11 mil anos.

Qual a importância científica de Luzia para a história brasileira?

Foi a descoberta de Luzia que deu início para os estudos da Pré-história no Brasil. Essa exploração levou a investigar que o continente americano foi ocupado por quatro fluxos migratórios, desse modo, os três últimos eram compostos por populações de origem mongol com características genéticas comuns às tribos indígenas da atualidade. O mais misterioso não era a idade do crânio, e sim sua origem. O trabalho de reconstrução do crânio de Luzia constatou uma enorme semelhança com os traços negroides.

O que é a paleontologia?

Muitas pessoas confundem arqueologia com paleontologia.

A arqueologia é todo o passado que está relacionado com o homem, como por exemplo, a forma de viver, comer, construir instrumentos, pintar, quer dizer.

Já a paleontologia, é a vida do passado animal, contudo, é um grande leque, que pega desde micropaleontologia passando pelas plantas, animais, dinossauros, mamíferos, peixes até insetos. Cada ramo da vida tem sua razão de ser da paleontologia, eu fui para a área dos mamíferos de 30 mil anos para cá.

Como descobriu esse dom pela paleontologia, que você já disse publicamente, várias vezes, é

sua grande paixão?

O mistério e o passado sempre me instigaram muito, então comecei a me interessar por essa área. Descobrimos que aqui, no centro da paleontologia brasileiro, na cidade de Lagoa Santa, duas grutas e nelas conheci o mundo dos fósseis, do passado, de entender melhor o presente e comecei a fazer trabalhos mínimos por aqui.

Quando entrei na PUC, com meus alunos conseguimos fazer uma excepcional coleção para o Museu. Com a necessidade de passar isso para frente, comecei a escrever, pesquisar e estudar.

Hoje me considero um privilegiado, recebo para fazer aquilo que amo. Ter uma visão, panorâmica, da vida desde aquela época é incrível. Quando vamos descobrindo coisas em que você é o primeiro a ver, a descobrir, a nomear, a descrever a dar o conhecimento na comunidade científica é fantástico.

Na infância, você imaginava ter outra profissão? Quem foi sua inspiração?

Eu queria ser biólogo marinho, mas, de repente, foi aparecendo a Paleontologia. Padre Teilhard de Chardin, é um exemplo de grande paleontólogo, além de ser filósofo e arqueólogo. Foi por meio dele que descobri a paleontologia, ele foi uma grande inspiração na época.

Por que, dentre tantas opções de estados brasileiros, você escolheu viver aqui em Minas Gerais?

Por circunstâncias, passei por algumas cidades como Rio e São Paulo, morei na Europa para estudar, mas sempre volto para Belo Horizonte. Sou apaixonado 49

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pela minha terra adotiva, agora sou cidadão honorário e pretendo morrer aqui.

Você já realizou mais de 40 expedições pelo Brasil, visitando grutas e outros sítios paleontólogos. Nesse período fez várias descobertas, nos conte sobre o mistério do poço azul, na Bahia, onde acharam os fósseis da preguiça gigante, Ela foi, de alguma maneira, especial para você?

Foi mágico trabalhar no poço azul. Foram mergulhadores da Petrobrás, porque águas de grutas são de grande profundidade, difícil mergulhar. Naquele dia aconteceu algo que me emocionou. Depois que tiramos os fósseis da água, convidamos um grupo de crianças que viviam em um assentamento de sem-terra há, aproximadamente, 4 quilômetros da gruta. Elas nos ajudando a montar o esqueleto da preguiça gigante. Foi uma festa sensacional, única.

Na perspectiva da sua formação social, o nosso patrimônio histórico sofre ameaças?

Não só o patrimônio histórico, também o patrimônio cultural e ambiental.

Loteamentos irregulares, como a construção do aeroporto de Confins, mineração e construções de estradas são as principais ameaças para a ciência da paleontologia. Minas é um percurso fantástico, e o poder público deveria valorizar ciência, cultura e tradição.

Mas, infelizmente, é pouco aproveitado.

Letícia Horsth

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