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Carro do Brasil

o início da valorização do clássico nacional

Costumo dizer, brincando, que comecei a gostar dos carros antigos quando eles ainda eram novos. Meia verdade. Naqueles anos 60, eu conhecia muito bem os carros nacionais – Simca, Gordini e DKW, entre outros –, mas muito pouco dos importados que rodavam por aqui antes da nossa indústria. E eles nem eram, ainda, considerados antigos. Antigos, mesmo, eram as baratinhas e os clássicos dos anos 30.

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Foi nos anos 70 que comecei a acumular “tranqueiras” dos anos 50. Refiro-me assim aos carros dessa época porque, como um jovem sem grana própria, os carros antigos da nossa turma eram aqueles que os “adultos” não queriam mais.

Os nossos primeiros nacionais ainda eram carros de uso, acredito que não passava pela cabeça de nenhum de nós começar a guardálos. Com exceção de alguns visionários, que já viam em nossos modelos especiais um monte de história para contar. Caso do nosso amigo, jornalista e colecionador Roberto Nasser, que, em 2004, criou o Museu do Automóvel, em Brasília.

o FNM onça foi um exemplar único, projetado por rino Malzoni, baseado no sedã FNM JK

Seu museu abrigava carros de várias nacionalidades, além dos nacionais, mas estamos aqui para mostrar não o museu, mas sim uma série de eventos que ele organizou, com o intuito de valorizar nossos já clássicos automóveis brasileiros.

Estive em Brasília, a convite do Nasser, em três ocasiões, para cobrir três das várias edições do evento Carro do Brasil. Em 2004, o local era o estacionamento do Banco do Brasil, principal patrocinador do encontro. Nos outros anos, 2005 e 2008 – e mais alguns outros em que não participei –, o palco para a bela exposição de automóveis nacionais eram as margens do lago Sul.

Além dos modelos já conhecidos, que transportaram famílias nos anos 60 por todo o país, a exposição Carro do Brasil se esmerou em mostrar veículos que nunca foram produzidos em série, alguns deles em fase de protótipos. O pequeno jipe Tupi foi um deles, protótipo construido em Rio Bonito, no Rio de Janeiro, utilizando um motor elétrico. Ou o Joagar, picape feita pelo inventor Joaquim Garcia, em Jaboticabal, São Paulo.

Alguns modelos de produção muito limitada também estavam expostos, como os Uirapuru, e exemplares únicos, como o Onça, feito a partir de um FNM JK, e o único Willys Interlagos baseado no Alpine 110 desenvolvido aqui, com o motor 1.300 do Ford Corcel.

Este Willys interlagos, o interlagão, não chegou a ser produzido no brasil. Ao lado, o simca Profissional

Entre os 93 automóveis expostos no Carro do Brasil de 2004, alguns acabaram se tornando raros pela pequena demanda, na época. É o caso do Simca Profissional, versão bastante simplificada do Simca Chambord idealizada para uso profissional, como táxis. O exemplar exposto foi tido como o último produzido. Era a segunda vez que a Simca seguia por essa via, anos antes já havia lançado o Simca Alvorada.

Nessa linha de carros populares, baratos e pelados, a Willys depenou o Gordini e o chamou de Teimoso, a DKW faz a perua Caiçara, em 1962, e a perua Pracinha, em 1965, e a volkswagem lançou o famoso, porém misterioso, Sedan Pé-De-Boi.

Fissore, sedã luxuoso e estiloso com mecânica dKW

Compartilhando a mecânica DKW com motor dois tempos de três cilindros e tração dianteira, o sedã Fissore e o jipe Candango eram também figuras pouco conhecida dos leigos. O jipe ainda tinha a opção de tração nas quatro rodas.

Boas lembranças da época que os nacionais começavam a florescer. l

o jipe Candango utilizava a mecânica do dKW, com motor dois tempos de três cilindros e tração dianteira

o último Ford Corcel da primeira geração, de 1977. Talvez o mais bonito