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Fiat

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Pelo Mundo

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históriA A Fiat também faz 45 anos

inaugurada em 1976, com o Fiat 147, a fábrica de Betim é a maior do mundo

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À esquerda, a linha de montagem do Fiat 147, que começou a ser produzido há 45 anos. A fábrica foi inaugurada no dia 9 de julho de 1976, tornando-se a quinta grande marca de automóveis no país. O Fiat 147 foi o primeiro modelo a ser produzido, baseado no Fiat 127 italiano, mas com motor maior, de 1.048 cm3

Ainda em obras, em 1975, este é o maior complexo industrial do grupo Fiat, depois FCA e agora stellantis

Até os primeiros anos da década de 1970, os brasileiros conviviam apenas com quatro marcas de automóveis nacionais, Ford, Chevrolet, Volkswagen e Dodge, além daquelas que já não existiam mas seus produtos ainda rodavam aos montes pelas estradas brasileiras, como DKW, Renault, Simca, Willys e FNM. Parecia, até, que jamais surgiria uma quinta marca, além das três grandes norte-americanas e a gigante alemã. Foi quando a italiana Fiat deu as caras por aqui, quebrando paradigmas e alterando definitivamente o leque de opções automotivas.

Em 1976, o motorista brasileiro já estava acostumado com modelos simples e robustos, que exigiam pouca manutenção, com exceção do VW Passat, que havia chegado três anos anos com seu motor pequeno e eficiente, tração dianteira e com visual bastante moderno. Mas eis que surge uma marca italiana querendo conquistar esse público. Foi difícil, mas a Fiat conseguiu seu intento.

O pequeno Fiat 147 era diferente do que se conhecia. Os novos motoristas, que não haviam dirigido carros com motores de baixa cilindrada, como Gordini ou DKW, reclamavam do pouco torque daquele motorzinho de apenas 1.048 cm3, além de negligenciarem cuidados na operação e na manutenção do novo carro. E as quebras eram atribuídas à baixa qualidade do produto. Com o tempo, os Fiat melhoraram, enquanto os motoristas iam aprendendo como dirigí-los.

Cenas da apresentação do Fiat 147 para a imprensa especializada, em Ouro Preto, MG, e da inauguração da fábrica de Betim, ainda bem diferente do que é atualmente. Expedito Marazzi e outros jornalistas especializados participaram do evento e experimentaram o novo carro

Apenas a versão 147 L estava disponível em 1976, já como modelo 1977. No ano seguinte, surgiram uma versão mais simples, com parachoques pretos, chamada apenas de Fiat 147, e uma mais luxuosa, o Fiat 147 GL, que, entre outros itens de diferenciação, vinha com aplique de borracha nos para-choques cromados (chamados, na época, de borrachão). O Fiat 147 L manteve o para-choque cromado.

Aos poucos, a gama foi crescendo, com ideias bem diferentes do que os brasileiros estavam acostumados. Trocando as janelas laterais e o vigia por chapa, que faziam parte da carroceria, surgia o Fiat 147 Furgão, que já vinha sem o banco traseiro.

A mais inusitada versão do carrinho chegou ainda em 1978, o Fiat 147 Pick-Up. Era a mesma carroceria curta do hatch, porém cortada na coluna B, o que resultava em uma caçamba minúscula, apesar de muito elegante. A porta traseira abria de lado e esse era o charme da picapinha. Não durou muito, por não ser eficiente na questão espaço de carga, sendo substituída pela picape Fiat 147 City, de caçamba mais longa, em 1981. Hoje, essa picape se tornou “cult” e as poucas que sobraram são muito disputadas por colecionadores.

Outra versão em alta atualmente é o Fiat 147 Rallye, de 1979. Tinha motor de 1.300 cm3 de 72 cv e vinha com faixas pretas, spoiler dianteiro

O Fiat 147 PickUp de 1978 foi pioneiro entre as pequenas picapes O Fiat 147 Furgão vinha sem banco traseiro e sem vidros

O furgão Fiorino era mais longo que o primeiro furgão da linha O Fiat 147 foi o pioneiro entre os carros movidos a etanol

preto, faróis “de milha”, um defletor preto no capô, bancos reclináveis com encosto de cabeça e cintos de segurança de três pontos. Podia até ser cahamado de esportivo, já que o novo motor era bastante esperto para o peso do carro.

Nesse mesmo ano, a Fiat deu um passo certeiro, à frente das marcas rivais ainda um tanto inertes contra as investidas da novata: o Fiat 147 a álcool.

O fabricante testava motores a álcool desde sua instalação, três anos antes, e foi o pioneiro nessa empreitada. Chegou até a expor um protótipo a álcool no Salão do Automóvel de 1976, ao mesmo tempo em que mostrava o novo carro ao público.

Em 1980 uma nova frente, chamada de Europa, passou a ser padrão para os modelos de passeio, enquanto que os de trabalho mantiveram a frente antiga. E a família 147 começou a crescer, com a perua Panorama, a picape City, que utilizava a plataforma longa da perua, o furgão Fiorino e o sedã Oggi, em 1983. Foi nesse ano que ocorreu a segunda reestilização da frente, com o 147 mais refinado, agora chamado de Spazio. A chegada do Fiat Uno em 1984 acabou fazendo com que a saga 147 terminasse dois anos depois, com o orgulho de ter quebrado paradigmas e introduzido muitas das tecnologias que utilizamos até os dias de hoje, 45 anos depois. l

A chave do Fiat 147

O Fiat 147 tinha a fama de poder ser aberto com qualquer chave. Minha experiência nessa área foi até cômica, mas eu ri sozinho, pois jamais contei para alguém, pelo menos não nos 30 anos seguintes.

Eu estava em uma Mil Milhas de Interlagos, não lembro o ano, e precisei de alguma peça para o carro que estava correndo, não lembro qual. Era noite, não lembro a hora. Mas algumas lojas de auto-peças da região de Interlagos, inteligentemente, ficavam abertas na madrugada, quando havia de corridas noturnas. Assim, saí dos boxes para comprar a peça.

Meu carro estava longe dos boxes e alguém, não lembro quem, me ofereceu uma chave e disse: “Meu Fiat 147 está logo ali, ao lado do portão”.

Fui até o carro, abri, sentei, liguei e saí do autódromo para comprar a peça. Quando voltei, deixei o carro no mesmo lugar.

No dia seguinte, quando acabou a prova e estávamos indo embora, o mesmo cara me ofereceu carona até meu carro. Chegando perto, eu caminhei até o Fiat 147 que usei de madrugada, mas ele me disse: “Não é esse, é aquele ali!”.

Disfarcei, entrei no carro dele e fomos embora.

Fim. Os logotipos da Fiat, desde 1899

Fabbrica italiana Di Avtomobili torino - Fiat. Assim era o primeiro logotipo que identificava os carros da nova marca, em 1899. E assim ficou por dois anos. Em 1901, fica apenas as iniciais, que fariam o nome de uma marca hoje tradicionalíssima. Ficou oval, depois redonda, passando por trapezoidal e finalmente um paralelogramo em 1968, da forma como conhecemos em 1976 e acompanhou nosso Fiat 147. Ficou até o fim do século XX, voltando a ser redondo outra vez e atingindo a perfeição com a forma mostrada no início desta reportagem. No ano passado a Fiat apresentou sua nova identidade visual, com novo logotipo apenas com letras.

MiNhA históriACOMOFiAt 147

Minha história com o Fiat 147 começou no mesmo ano de 1976. Eu estava em casa quando meu pai chegou buzinando freneticamente no portão, com um Fiat 147 vermelho. Mesmo antes que ele me contasse que havia “roubado” o carro no lançamento, em Minas Gerais, eu já estava apaixonado pelo carrinho. Ele me contou que ficou tão zangado quando soube que a Fiat já havia cedido o carro para a revista rival que trouxe aquele para são Paulo, para fazer as devidas avaliações a tempo de não sofrer um “furo” de reportagem da concorrente. A parte engraçada foi quando ele perguntou para o seu acompanhante no test-drive, um técnico da Fiat, se ele queria ir para são Paulo. “Não? Então desce!” No dia seguinte, levamos o carrinho ao Autódromo de interlagos, para as avaliações e as fotografias. A reportagem foi publicada na edição de novembro de 1976 da revista Auto Esporte. A tempo. Fiquei com aquele carro na cabeça. Cerca de um ano depois, pedi à Fiat para comprar um dos Fiat 147 destinados a competições e recebi um 147 branco 1978, com os parachoques pretos. Como acabei não preparando o carro para corridas, fiquei com ele para uso “normal” por dez anos, até trocá-lo por um belíssimo Chevrolet Comodoro 4.100 1979 automático. O meu querido Fiat 147 cumpriu sua missão, rodando quase 200 mil km, infelizmente chegando ao fim de sua vida bastante corroído pela ferrugem. Não corri na pista, mas como ele era especialmente montado para competições, “andava” mais do que se poderia esperar de um “motorzinho”.

Expedito ao volante do Fiat 147 vermelho número 17, “roubado” do lançamento. Na foto ao lado, o mesmo carro, no dia seguinte, agora enfrentando o barro e a lama no terreno atrás do Autódromo de interlagos. Com o cronômetro pendurado no meu pescoço, que anda existe

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