Revista Etc.

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spotify playlist etc. #01

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leitor,

instagram @revista.etc

Essa é a etc., uma revista sobre artistas, para artistas. Nossa intenção é divulgar brasileiros talentosos que criam coisas. Enquanto lê a revista, aproveita para escutar nossa playlist 100% brasileira. Se gostou da ideia, dá uma passadinha no nosso Instagram pra saber mais sobre nossos criadores e acompanhar as próximas edições. Os dois links estão nos QR codes ao lado. A gente cria coisas, e etc.

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FACULDADE

PUCPR

MATÉRIA

PROJETO DO DESIGN EDITORIAL

PERÍODO

5º PERÍODO

ANO

2018

PROFESSORES

RAFAEL DE OLIVEIRA ANDRADE CARLOS ROBERTO ROMANIELLO

ALUNOS

FELIPE LUI CUSTODIO GABRIELA VENTURI SPISLA VICTÓRIA TIOQUETA

PAPEL

CAPA: COTTON PURE WHITE 250G PÁGINAS: PÓLEN 90G

GRÁFICA

PRINT IT

CAPA

RAFAEL SICA

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ilustração

design

culinária

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confeitaria

inovação

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a força das mulheres e a delicadeza das flores NAS ILUSTRAÇÕES DE PRISCILA BARBOSA H T T P : // P R I S C I L A B A R B O S A . I L U R I A . C O M /

A ilustradora e diretora de arte Priscila Barbosa ama flores, plantas, tatuagens e é grande observadora do universo feminino. Formada em Artes Visuais, ela deixou a educação cultural para se dedicar ao Design. Retratando questões profundas em suas ilustrações, Priscila mostra projetos fantásticos e uma variedade de temas, através de diferentes técnicas, mas baseando-se principalmente na pintura manual.

inúmeras formas das mulheres que desenha. As mulheres retratadas por Priscila sempre estão bem à vontade para mostra-se como realmente são, com seus corpos singelos, naturais e livres. Essa naturalidade é ainda mais ressaltada pela perfeita harmonia dessas mulheres com plantas suaves. É como se a ilustradora criasse poesia visual sem utilizar nenhuma palavra. A força feminina conectada à natureza em perfeita fluidez é agradável aos olhos. Priscila também mistura animais, plantas e texturas em uma criação única e marcante.

Outro ponto marcante do trabalho da artista é a forte relação com os tons suaves, principalmente o rosa, que combina facilmente com outras cores análogas, e as

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Imagens sobre fantasias e pensamentos subjetivos deixam o espectador livre para viajar, sentir e ter sua interpretação. Que tal imaginar uma mulher cavalgando em um coelho?

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mais por conhecer outras ilustradoras contemporâneas, dentre as que descobri recentemente e já admiro estão Gabriella Barouch e Maria Aparicio Puentes. Em casa, a trilha sonora oficial é Creedence Clearwater, mas rola também Belle e Sebastian na hora da criação. A leitura atual é ‘Pensar é transgredir’, da Lya Luft.

Objetos singelos que todo mundo conhece também aparecem em suas criações, com o seu toque, suas cores e a sua incrível capacidade de valorizar os detalhes e mesclar elementos.

Muitas mulheres que apreciam os trabalhos se reconhecem nas cenas de maneira subjetiva, cada uma com a sua visão particular.

Em uma entrevista recente, Priscila revelou detalhes sobre sua fonte de inspiração. “Tenho me interessado cada vez

Admirar cada criação é como sentir o aroma do contato

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com as plantas e o frescor de se estar totalmente à vontade, sem ninguém observando.

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expressar. Segundo a ilustradora, uma frase que sustenta seu trabalho é “Duas irmãs se reconhecem pelo amor, pela coragem, pela luta”, de Giovanna Lima.

Falar sobre fertilidade e a capacidade de uma mulher criar vida de uma maneira poética, fazendo alusão à fertilidade das plantas é um incrível dom de Priscila. Coisas normais para a maioria das mulheres ganham uma roupagem delicada. O empoderamento feminino ganha uma nova aliada com um talento incrível para sentir e

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resgate do folclore japonês POR HEITOR KIMURA H T T P S : // W W W . B E H A N C E . N E T / H E I T O R K I M

Heitor Kimura não se rotula como “artista visual”, “designer” ou “ilustrador ”. O projeto Yōkai nasceu da união de duas paixões de Heitor: ilustração e cultura japonesa, e aborda o rico universo do folclore japonês, com suas criaturas e lendas.

lourLovers) e o próprio Photoshop conseguir criar e manipular a cor com mais facilidade do que em processos manuais. O círculo, símbolo da estética oriental (presente inclusive na bandeira no Japão), foi a base das ilustrações. Além disso, a própria aceitação do vazio e limpeza visual são características da estética japonesa.

Apesar do projeto englobar temática oriental, Heitor evitou a estética usual das gravuras japonesas, estampas ou do mangá, apesar de sua maior inspiração para o projeto vir do gravurista japonês do século XVII Toriyana Sekien. A proposta trás uma abordagem contemporânea, de ilustrações digitais com cara de ilustrações digitais.

O termo Yōkai significa literalmente “aparição misteriosa” e é designado a todo tipo de criatura do folclore japonês, como monstros, demônios, animais mágicos etc. O projeto representa por meio da ilustração uma pequena parcela dos muitos seres folclóricos nipônicos, revitalizando esse universo pertencente à cultura japonesa.

O meio digital também é favorável para Heitor pelo fato dele ser daltônico e com o auxílio de sites e aplicativos de montagem de paletas (como o Adobe Kuler e o Co-

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galeri a

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coletivo chá H T T P S : // C O L E T I V O C H A . W O R D P R E S S . C O M

O Coletivo Chá é a união de projetos artísticos independentes, que utiliza o meio urbano como superfície de exposição. Cpm ilustrações e mensagens, as integrantes colorem as ruas desde 2010 através de lambe-lambes e stickers. Cinco meninas que respiram a liberdade da madrugada e dão vida ao concreto da cidade. Uma mistura de aromas coloridos, ideias doces e gostos que despertam os melhores sentidos, esse é o Coletivo Chá.

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A ilustração política de Camila Rosa ganha o Brasil CAMILA ROSA TEM SE DESTACADO NACIONAL E ATÉ INTERNACIONALMENTE POR TRABALHOS COM FORTE TEOR POLÍTICO H T T P : // C A M I L A R O S A . N E T /

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Camila Rosa é uma das ilustradoras que mais vem se destacando, com um traço cheio de identidade e pautado em temas como feminismo e veganismo. Nascida em Joinville, a artista de 29 anos está de volta à cidade (pelo menos temporariamente) após passar um ano e meio em Nova Iorque. E ela já “chegou chegando” – por aqui, foi a única mulher entre os quatro artistas responsáveis por criar a arte de uma lata colecionável e limitada da nova camisa da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo, além de ter assinado uma campanha para o novo batom da linha Intense de O Boticário, em parceria com a cantora Anitta. Vale a pena ficar de olho!

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E COMO VIROU SEU TRABALHO D E F AT O ? V O C Ê V I V E H O J E E X C L U S I VA M E N T E D I S S O ? Eu acredito que foram vários fatores, mas foi essencial para mim ter um tempo para me dedicar exclusivamente à ilustração para poder consolidar meu estilo. Isso acabou acontecendo em 2016. Antes disso, eu sempre tive que conciliar trabalho integral com ilustração nas horas vagas, e sentia que eu acabava não evoluindo muito. Hoje eu vivo exclusivamente da ilustração, mas ainda é um meio inseguro e todo mês é um desafio. Tenho um longo caminho antes de me sentir totalmente segura em relação a isso, mas é questão de tempo e experiência.

COMO O DESENHO E A ILUSTRAÇÃO ENTRARAM NA SUA VIDA?

VOCÊ MOROU UM TEMPO NOS EUA. A C O M PA N H E I P E L A S R E D E S S O C I A I S Q U E V O C Ê PA R T I C I P O U D E VÁ R I O S PROJETOS LEGAIS POR LÁ, NÉ?

De forma mais intensa, foi por meio do Coletivo Chá – um coletivo de street art que eu faço parte com mais quatro amigas e que nasceu em Joinville, em 2010. Passei a desenhar com frequência porque nós fazíamos lambe-lambe para colar pelas ruas, e depois de um tempo acabamos fazendo alguns trabalhos comissionados e eu tive que me dedicar mais à ilustração. E foi a partir dessa necessidade que eu descobri que eu gostava muito disso e que gostaria que fosse a minha profissão.

Sim. Ilustrei a minha primeira revista, a BUST Magazine, que é uma revista feminista na qual eu tinha muita vontade de estar. Foi incrível e me abriu caminhos por lá e no Brasil. Outro trabalho que eu gosto muito foram três ilustrações que fiz para a Refinery29 (um portal de lifestyle focado em jovens mulheres). Elas me chamaram para

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ilustrar sobre o Mês da Diversidade e sobre amor ao próprio corpo. Foi uma grande oportunidade e era um dos meus objetivos quando cheguei por lá. E por último, ter sido uma das 50 artistas escolhidas para fazer parte da exposição itinerante produzida pela Amplifier.org, site dedicado a apoiar artistas que tenham um trabalho político. A exposição Hear Our Voice foi o resultado de um concurso produzido por eles e pela organização da Women’s March. Dentre cinco mil inscritos, eles escolheram 50 para fazer parte da exposição que rodou por alguns lugares dos EUA, e o meu cartaz foi um deles! N O S E U T R A B A L H O , H Á B A S TA N T E S MENSAGENS SOBRE O FEMINISMO, VEGANISMO… SÃO TEMAS QUE SEMPRE ESTIVERAM NA SUA VIDA? Sim, meu envolvimento com feminismo e veganismo começou na adolescência. Com 13, 14 anos eu comecei a frequentar shows de hardcore e punk, e foi onde eu ouvi pela primeira vez sobre diversos temas como feminismo, veganismo, homofobia, racismo. Aconteciam debates entre shows que falavam sobre isso, existiam outros que também abordavam esses e outros temas.

A G O R A D E V O LTA A O B R A S I L , V O C Ê J Á F E Z T R A B A L H O S D E D E S TA Q U E PA R A M A R C A S C O M O O B O T I C Á R I O E PA R A A N I K E . C O M O Q U E R O L A R A M ESSES CONVITES? Para O Boticário, foi um trabalho para o lançamento do novo batom da linha Intense, chamado 330 loucuras. A Anitta é a atual porta voz da linha, então eles mesclaram o lançamento do clipe novo dela (de Indecente) com o lançamento do batom, e eu criei o conceito visual da campanha digital. Curti muito, apesar de toda a loucura que foi, porque fizemos acontecer tudo de um dia para o outro e isso foi um desafio, tecnicamente e emocionalmente. Já para a Nike, o tema era Brasileiragem, um conceito que resume a união entre o futebol e o amor dos brasileiros pelo esporte. Foi uma lata para a nova camisa da Seleção, com edição limitada de 1,5 mil unidades para cada um dos quatro artistas convidados, que ficou à venda durante 72h. Foi muito legal porque é mais uma consolidação do meu trabalho, a gente sempre espera poder fazer parte de projetos incríveis. E também pude experimentar novas linhas visuais, sair da minha zona de conforto.

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vírus tropical NASCIDA NO EQUADOR E CRIADA NA COLÔMBIA, A CARTUNISTA LATINOAMERICANA POWER PAOLA FAZ SUCESSO PELO MUNDO COM SEUS QUADRINHOS DE TRAÇOS DELICADOS MAS PROFUNDOS H T T P : // P O W E R P A O L A . B L O G S P O T . C O M . B R /

Power Paola é uma das cartunistas latinoamericanas do momento. Tanto pelo seu traço preciso e delicado, quanto pela visibilidade que vem ganhando pelo mundo. Em seu primeiro livro, “Vírus Tropical”, de 2011, ela contou sua própria história em capítulos com temas como família, dinheiro, religião, trabalho e amor. A graphic novel foi publicada na Colômbia, na Argentina, na Espanha, no Chile, na França, no Perú, Portugal, Equador, Estados Unidos e Brasil Paola Andrea Gaviria nasceu em 1977 no Equador e foi criada na Colômbia. Quando sua mãe engravidou pela terceira vez do marido, um ex-sacerdote, eles achavam que o que crescia em seu ventre era um vírus tropical, pois havia ligado as trompas anos antes. A história do livro começa aí, com Paola ainda na barriga da mãe, e termina quando a caçula de três irmãs decide sair de casa e cuidar da própria vida, depois de uma adolescência cheia de conflitos familiares. O “power” em seu nome pode até ser uma brincadeira

com a dificuldade que os franceses tinham de pronunciar Paola em Paris, onde morou. Mas seu poder é verdadeiro. Ela é representante feminina de dois países onde as mulheres ainda lutam por algum destaque no mundo do quadrinhos, e acredita que essas cartunistas talvez ainda estejam produzindo em um contexto muito underground. “Infelizmente, não conheço nenhuma do Equador. Mas, minhas colombianas favoritas são Mariana Gil, Tateé e Sofía Alvarez. Cada uma tem uma forma particular de narrar e de aproximar-se das histórias”, diz. Entre as cartunistas estrangeiras que inspiram seu trabalho estão Julie Doucet, do Canadá, Aline Kominsky-Crumb e Debbie Drechsler, dos EUA, Ulli Lust, da Áustria, Chiquinha, do Brasil, e Marjane Satrapi, do Irã. Autora do famoso “Persepolis”, HQ premiada que virou longa-metragem, Satrapi influenciou Paola a também animar “Vírus Tropical”.

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que este livro pudesse alcançar tanta gente em tantos lugares.

VA I FA Z E R U M A N O Q U E S E U PRIMEIRO LIVRO, VÍRUS TROPICAL, FOI TRADUZIDO E LANÇADO NO BRASIL. VOCÊ TEM UMA DIMENSÃO DA REPERCUSSÃO DELE POR AQUI, A P E S A R D O AT R A S O , V I S T O Q U E E L E É DE 2011?

E S TA M O S E M U M A N O D E M U I TA S D I S C U S S Õ E S S O B R E R E P R E S E N TAT I V I D A D E F E M I N I N A E M VÁ R I O S N I C H O S , I N C L U S I V E N A L I U T E R AT U R A . C O M O V O C Ê P E R C E B E ESSA INSERÇÃO FEMININA NO MUNDO DAS HQS?

Não tenho ideia, ainda nem conheço a edição em português. O livro está em fase de produção para o cinema, estamos fazendo uma animação, lançamos um teaser que ganhou um prêmio, mas ainda falta toda a parte de pós produção e preciso finalizar/desenhar algumas partes. Já faz 4 anos que estou fazendo, pensava que seria apenas escrever a novela e publicar, mas não, é um trabalho de muitos anos.

Me parece que cada vez tem mais, porém continua sendo um mundo muito masculino. Faz pouco tempo que teve aqui no Brasil um encontro de mulheres que fazem HQs, em Belo Horizonte, e isso foi muito importante para mim porque só comecei a ler histórias em quadrinhos graças às mulheres, antes os quadrinhos eram de super heróis, pornográficos e outras coisas muito escatológicas, as quais eu não conseguia me identificar. Quando comecei a ler mulheres me dei conta que havia uma possibilidade enorme quanto ao desenho. E percebo também que desde que as mulheres entraram no universo comics, os homens começaram a fazer outros tipos de histórias.

QUAL A PERCEPÇÃO QUE VOCÊ TEM DE SEUS LEITORES BRASILEIROS? Tomo conhecimento pela internet, as coisas que escrevem e alguns comentários, mesmo antes de ter a edição em português havia muitos leitores que me escreviam. Isso é impressionante porque nunca imaginei

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D E Q U E F O R M A V O C Ê A C R E D I TA Q U E P O D E R Í A M O S I N C E N T I VA R M A I S M U L H E R E S A S E G U I R E M E S TA C A R R E I RA? Eu acredito que é publicando mais, eu li que as que mais leem são as mulheres, todos os tipos de coisas, as editoras já se atentaram que isso é muito interessante comercialmente. Acredito que quanto mais mulheres forem publicadas, mais mulheres terão interesse. Mesmo esse mercado sendo predominantemente masculino, não só aqui mas em todo o mundo. Tem um festival na Europa que já está em sua 44° edição, neste festival existe um prêmio, quando estive nele não havia nenhuma mulher indicada e soube que em todo o tempo somente uma vez uma mulher ganhou. FA L A N D O N I S S O , C O M O F O I O I N Í C I O DA SUA CARREIRA? QUE TIPO DE INCENTIVOS OU DIFICULDADES TE FIZERAM SEGUIR COM SEU TRABALHO? A dificuldade maior que tenho é conseguir sentar e desenhar, porque é um trabalho que não é pago e você acaba fazendo porque é uma necessidade física, é mais uma vontade de fazer. Eu tive muita sorte porque justamente quando comecei a fazer comics começou a internet, foi exatamente neste momento, isso ajudou que muita gente pudesse ver meu trabalho. Agora isso é infinito, todos os dias eu percebo que saem novos desenhistas, mulheres experimentando as HQs de uma forma incrível. A maior dificuldade que tive e continuo tendo é sentar e fazer, porque preciso fazer outros trabalhos para sobreviver, como ilustrar para outras pessoas e isso às vezes acaba tomando todo o ano e fico com muito pouco tempo para fazer as minhas histórias. Q U E C O N S E L H O D A R I A PA R A A S M E N I N A S Q U E E S TÃ O C O M E Ç A N D O A G O RA SUAS CARREIRAS COMO ARTISTA S ? Desenhar muito, ler muito e viver muito. E nunca, nunca desanimar.

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laura lannes W W W.L AU RA LA N N ES . CO M

Laura é uma ilustradora e quadrinista brasileira, vivendo atualmente em Nova York. Cria desenhos profundos, ora realistas, ora abstratos, que conseguem variar do humor para o drama, sempre em uma linha tênue. Seus quadrinhos diários mostram sua rotina como imigrante em um país não tão receptivo e lida com sua experiência como mulher na sociedade. Seus temas sempre em algum nível tratam de ansiedade, depressão, questões de gênero e se sentir desconfortável em ambientes diferentes.

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outros traços UM DOS MAIS IMPORTANTES QUADRINISTAS E AGITADORES DA CENA ATUAL NO PAÍS, RAFAEL COUTINHO NOS RECEBEU EM SEU ATELIÊ EM SÃO PAULO E DISCORREU SOBRE A PENOSA VIDA DO “ARTISTA-EMPREENDEDOR”, SEUS INÚMEROS PROJETOS, O CONTEXTO ATUAL DOS QUADRINHOS, O PÚBLICO, AS MUDANÇAS QUE ENXERGOU NAS PRODUÇÕES AO LONGO DOS ANOS, SUAS INFLUÊNCIAS, SEU PROCESSO CRIATIVO E A RELAÇÃO COM SEU PAI, LAERTE, CONSIDERADA POR MUITOS A MAIOR QUADRINISTA BRASILEIRA H T T P : // C A R G O C O L L E C T I V E . C O M / R A F A E L C O U T I N H O A R T B R

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QUAL FOI SUA FORMAÇÃO ARTÍSTICA E COMO UM TODO? Fiz artes plásticas na UNESP, alguns cursos fora de pintura, escultura. Trabalhei muito tempo com animação também, aprendi muito com animadores mais experientes. Estudei francês e inglês, roteiro em cursos e com um grupo de amigos por dois anos. Aprendi muito na Base-V, coletivo de design e arte que montei com amigos da faculdade, três caras impressionantes. Mas foi mais trabalhando mesmo, fazendo projetos longos em parceria com gente do cinema, de galeria, artistas de rua, escritores. Dentro da minha casa sempre existiu arte, da parte da minha mãe também.

uma força da natureza (pro mal e pro bem, a mulher é intensa). Meu pai era do tom mais natural, também muito culto, mas passava essa onda mais do saber curioso. Cada um do seu jeito, ambos celebravam em casa essa coisa de “interessar-se pelas coisas com afinco”. Tenho um filhote agora, então tenho pensado nisso, se herdei esse “prazer pelo conhecimento”. Tomara. Meus pais são brilhantes no que fazem, então acho que tinha essa pressãozinha em casa, não dita. Meu irmão tinha isso também, sentia essa necessidade de fazer muito bem feito o que quer que fosse, estudar, essa obsessividade. Então também teve isso, sempre convivi com gente de todas as classes, e com pais de esquerda, militantes, engajados. Sei que alguma coisa saiu daí também, o apreço e valor do trabalho, de dar valor pro que eu tinha.

Me peguei pensando nisso esses dias, no perfil dos meus pais e o quanto fazer bem foi, de uma forma não imposta ou claramente dita, algo que ambos tinham (meu pai e mãe). Minha mãe é obsessiva, estuda compulsivamente por prazer, é médica. Ama medicina e política, sempre leu muito, é um furacão no mundo,

E claro, tinha muita revista de quadrinhos em casa.

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VOCÊ TEM ALGUM TEMA QUE TE O C U PA ? Não sei se tenho um tema, mas consigo ver alguns que se repetem, como a solidão, a masculinidade, a violência física, a carência física, o estar sozinho e querer algo obsessivamente. Durante um período a água apareceu muito, não sei bem porquê. Relação homem/mulher, questões de desacordo, alcolismo. Hahaha, colocado assim, parece muito deprê, mas acho que procuro pelas questões morais também, certo e errado, se permitir, a busca por algum tipo de inocência, redenção, leveza, a alegria que é resposta a uma tristeza anterior. Mas não acho que dure muito tempo, tento muito buscar pelo que não sei, encontrar os personagens que sejam algo familiar e oposto a mim. QUAIS SÃO SEUS TRABALHOS PUBLICADOS? Fiz a revista, “DRINK”, da coleção MIL. Fiz “Cachalote”, um livro com o Daniel Galera, e participei de algumas coletâneas, como a “Contos dos Irmãos Grimm”, da Desiderata, e “Bang Bang”, da Devir. Participei recentemente da SAMBA 3, coletânea de amigos de Brasília, e acabei de entregar minha parte em um projeto coletivo pra Lyon - França, chamado WEB TRIP. Publiquei histórias curtas na Folha de São Paulo, Piauí, e outras revistas, além da época de estudante, quando publicava bastante numa revista indie paulista chamada “Sociedade Radioativa”. E projetos que ainda estou tocando, como Beijo Adolescente e meu novo quadrinho maior, Mensur, que é minha primeira históra solo grande. O Beijo é algo mais periódico. VOCÊ SE VÊ MAIS COMO PINTOR O U Q U A D R I N I S TA N E S S E P O N T O D A CARREIRA? Do ponto de vista de linguagem, não tenho mais dúvidas que sejam universos com um potencial de expressão muito distintos, e consigo sentir o limite entre os meios quando estou envolvido em cada um. Acho que é por isso que busco pelos dois com propósitos específicos, para que as limitações do meio não me limitem também. Sou ainda um aprendiz em ambos, acho, tenho muito pra estudar e assimilar. A coisa toda vem com seu aprendizado mesmo, cada momento que volto pra pintura entendo um pouco mais, chego um pouco mais longe. Depois de projetos tão compridos de quadrinhos, voltei pra pintura com um desejo narrativo muito latente. Passei a encarar a pintura como uma história a ser contada, e percebi que agora olho pra ela completa, e não mais para cada pintura individualmente.

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FA L E U M P O U C O S O B R E O B E I J O ADOLESCENTE, QUE FOI PUBLICADO AT R AV É S D E F I N A N C I A M E N T O COLETIVO.

“NÃO ACHO QUE ARTISTA SEJA MAIS UM PROFISSIONAL COMO OUTRO QUALQUER, NÃO. É UMA PROFSISSÃO MEIO CONVULSIVA, PRINCIPALMENTE NO BRASIL.”

Usar o Catarse para ‘O Beijo Adolescente’ foi mais uma saída, a mais sensata até agora na minha vida de artista. Comercializar e vender um serviço é algo complexo que tratamos com uma naturalidade cruel, essa que envolve cobrar e fazer. Não acho que artista seja mais um profissional como outro qualquer não, é uma profissão meio convulsiva, principalmente no Brasil. Se você é autônomo, freela e seu conteúdo é esse mais artístico, menos voltado para massa, é algo que exige uma disciplina e trabalho desumano. Tenho que manter uma vigília diária em cima de tudo que faço, senão cai. A estrutura em torno de um artista adulto é muito complexa, e é preciso construir um sistema de regras e controle muito precisos para que a coisa ande. Existem milhares de formas disso acontecer, mas é sempre muito. O Catarse veio desse desejo de cortar com as amarras que vinham decidindo pra mim o que eu faria com o meu trabalho e a forma como ele funcionava.

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E A E X P E R I M E N TA Ç Ã O É A L G O Q U E VOCÊ SEMPRE BUSCA NOS SEUS PROJETOS? Acho que sim... não é um plano de carreira, sabe? Não começo o dia dizendo: “hoje vou fazer algo completamente diferente”, tem mais a ver com o projeto, com o convite, com a ideia. Fazer histórias em quadrinhos ou qualquer projeto que seja tão longo quanto (pintar um série de telas em torno de uma ideia, por exemplo) me exaure, essa é a verdade. Saio daquilo esgotado, como se tivesse secado um fosso de ideias sobre aquilo. Meu instinto é de fazer algo diferente, senão enlouqueço. E não tenho esse preciosismo que alguns artistas têm com o próprio estilo, ou a busca por uma solução completa, homogênea. Esse tipo de reflexão é muito comum no nosso meio. Quando se é jovem, o cara quer a qualquer custo desenvolver uma linguagem própria, seja por reconhecimento ou amadurecimento. É como um selo de autenticidade, uma marca particular. Já na fase madura ou “profissionalizada”, o sujeito precisa manter a tal marca, fortalece-la, garantir o fluxo de trabalho em torno daquilo que ele acredita ser SEU, e aos poucos isso pode ou não virar uma prisão.

fosse bom, queria amadurecer, e queria completar os projetos do mesmo jeito que comecei, acho que essa era a minha maior meta. Comecei fazendo projetos cumpridos, minha primeira animação foi com 22 e me tomou seis meses de trabalho. No final não aguentava mais, mas foi muito bom ver completo, ver que eu conseguia fazer, e o volume de trabalho me obrigava a praticar à exaustão aspectos do meu traço que me deixavam inseguro antes de começar. Acho que vou mais por aí hoje em dia: vou fazer isso aqui até o fim e vou focar em elementos que me deixem inseguro, tipo “matar o monstro”. Lembro muito da minha primeira história longa, a “BINGO”, publicada na Sociedade Radioativa, revista indie aqui de Sampa. É difícil pra quem não desenha ou trabalha com arte entender o volume de responsabilidade e coragem que gira em torno de “fazer algo”. Tenho medo até hoje, medo de assumir uma visão a respeito de um tema, de correr esse risco, de não ter como apagar o que foi feito depois. Hoje em dia entendo um pouco melhor que o resultado mais significativo nisso tudo eu só vou entender depois de alguns livros e algumas exposições, não sou capaz de controlar isso. O que consigo entender é que preciso fazer, sinto essa necessidade, e sofro muito quando não realizo essas obsessões.

Talvez porque eu tenha visto isso dentro de casa, pelo meu pai, mas acho que criei uma ideia bem fluida sobre isso. Não nutri o desejo incondicional de me tornar quadrinista ou pintor ou animador. Queria que

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sonhos materializados AS ILUSTRAÇÕES DE TALITA HOFFMANN SÃO PAISAGENS DE SONHOS DO SEU BRASIL NATIVO, UMA ESTRANHA MISTURA DE REALIDADE E FANTASIA QUE CRIA UMA COMPLEXA NARRATIVA QUE É TANTO ESTRANHO QUANTO É FAMILIAR. H T T P : // W W W . T A L I T A H O F F M A N N . C O M /

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Nascida em Porto Alegre (1988) e formada em Design Gráfico, Talita Hoffmann tem se destacado na cena de arte contemporânea, participando de diversas mostras coletivas no Brasil e em países como Estados Unidos, Austrália, Finlândia, Espanha e Inglaterra. Foi vencedora do concurso A Novíssima Geração, realizado pelo Museu do Trabalho, em Porto Alegre, que tinha por objetivo revelar novos talentos das Artes Plásticas. Graças ao prêmio, teve a oportunidade de realizar sua primeira individual, intitulada Campos e Antenas, em 2009. Desde então já realizou outras duas individuais, e atualmente se prepara para a sua quarta mostra na Galeria Lume, em São Paulo, em março de 2016. Seus trabalhos passeiam por estéticas folk e naïf, em pinturas que partem da observação do entorno cotidiano, espaços urbanos e desenhos arquitetônicos. São trabalhos que lidam com ações ocorridas em espaços desabitados, sendo fortemente influenciados por trabalhos de fotógrafos como Walker Evans. Sugestões de ações humanas, construções e desconstruções de cidades – são em sua maioria, vestígios de acidentes.

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de devaneio, sem limites predeterminados - causando algum desconforto para o observador e ao mesmo tempo prendendo sua atenção, assim como num sonho ou pesadelo.

As pinturas de Talita são compostas de representações detalhadas do subconsciente, cada elementos flutuando dentro e fora da existência, simbolicamente presentes na história que viaja pela mente, que conta sobre o infortúnio, morte, conflito, nonsense e banalidade. O que é mais marcante sobre essa cenários é que Hoffmann é capaz de tornar realidade seus mundos, de contar histórias fantásticas sem nos alienar, nos confundindo. Ela dá espaço para os olhos viajarem através de suas obras, um mundo de duas dimensões que é plano e mudo, uma paisagem que apenas realça a estranheza de cada pintura. Animais, plantas, ferramentas, arquitetura rural, instrumentos musicais, objetos de uso diário, situações de conflito, morte… Ela trabalha de um jeito que essas imagens fluem, quase que inconscientemente, trazendo com elas fortes sensações

Para Talita, tanto o design quanto o trabalho de arte têm um mesmo princípio de desenvolvimento de linguagem visual e assim, os dois crescem juntos. A diferença está no fato do design gráfico sempre partir de um problema a ser resolvido e, com o briefing do cliente, basicamente existem instruções de como o trabalho deve ser feito. Já uma obra de arte tem a finalidade de fazer proposições e não necessariamente resolver problemas. “Acho que alternar entre o pensamento do design e das artes visuais acaba me ajudando a sempre exercitar esses dois lados criativos.

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as texturas de bárbara malagoli OS DESENHOS QUE FAZIA NOS INTERVALOS DA FACULDADE CHAMARAM A ATENÇÃO PELO FLICKR E RENDERAM UMA VIDA DUPLA DE DESIGNER GRÁFICA E ARTISTA H T T P : // B A R B A R A M A L A G O L I . C O M /

Bárbara Malagoli sempre desenhou muito e desde pequena sabia que faria algo relacionado a artes. Mesmo não entendendo direito sobre a profissão, via documentários dos desenhistas da Disney e achava o máximo. Na época, acabou cursando Artes Gráficas. Depois disso veio a faculdade de Design Gráfico, período em que já desenhava para algumas revistas. Bárbara então passou pelo meio editorial criando ilustrações em lugares como Revista Gloss, Capricho e MTV. Descobriu que dava para ser ilustradora profissional quando trabalhou no Estúdio Colletivo, em SP. Em 2015, conforme a vida em agências de publicidade foi ficando corrida, ela focou em trabalhar por conta própria.

Hoje, ilustradora freelancer, desenvolve projetos incríveis para diversos clientes de renome como Google, Computer Arts, Vogue, ESPN, Editora Abril, Editora Globo, entre outros. Seus desenhos são veiculados em livros, revistas, viram pôsteres, produtos, dão vida à anúncios e jornais. O que mais nos chama atenção em seu fantástico estilo peculiar é a forte relação com as cores e as inúmeras formas de suas mulheres com personalidades fortes, representadas por vários tipos de corpos naturais e fluídos. Entre um traço e outro, Bárbara cria poesia feminina sem o usar palavras. Suas linhas flutuam pelas páginas, com cores vibrantes.

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a arte gráfica de rafael sica DESILUSÃO, MEDO, MELANCOLIA, SOLIDÃO E UM QUÊ DE HUMOR APLICADOS AOS QUESTIONAMENTOS DA ROTINA E AOS SENTIDOS DAS AÇÕES HUMANAS EM GERAL H T T P : // R A F A E L S I C A . Z I P . N E T /

Mais conhecido por seu trabalho com ilustrações e histórias em quadrinhos, Rafael Sica desponta como uma das novas revelações do underground brasileiro. Iniciou sua carreira em 2001 e vê a internet como uma grande ferramenta de divulgação de trabalhos artísticos. Já conta com uma notável gama de leitores que acessam sua página periodicamente em busca de suas obras mais recentes. Utilizar o termo “leitor”, aliás, pode parecer curioso, visto que uma de suas características é utilizar pouco ou nenhum conteúdo textual. A temática mais recorrente é o questionamento do modo de vida contemporâneo do ser urbano. Em seus quadrinhos encontramos o horror lado a lado com questões puramente existenciais inseridos na rotina e nos sonhos (ou na falta deles) de seus personagens. Há também críticas ao pragmatismo exacerbado do mundo pós-moderno e à eterna massificação das pessoas, que são a deixa perfeita para o surgimento de um surrealismo poético. Excentricidade pura! O conteúdo muitas vezes subentendido e a perceptível riqueza de detalhes fazem com que dependamos mais tempo que o habitual para a (nem sempre) assimilação da mensagem de seus cartuns. Seus personagens

contêm um grande teor de frustração, medo, melancolia e solidão, demonstrados sobre o que há de mais banal e corriqueiro no dia-a-dia. Apesar disso, há também quem encontre um humor bastante peculiar, e muitos chegam a classificar os desenhos num gênero de tragicomédia. Características e alusões às obras de Kafka, Bukovski, Crumb e Dostoiévksi são facilmente identificadas. Quando perguntado sobre a veracidade dessa afirmação, Sica não só admitiu quanto listou outras influências “(...) Leminski, Manoel de Barros, Raul Seixas, Cortázar, Orson Welles, Tom Zé e o sujeito que passou a pouco ali pela calçada”. O universo de temas abordados nos cartoons é tão vasto que, em ao menos um deles, o leitor se verá refletido. E é do impacto causado por essa identificação que vem a repercussão mais direta. Percebe-se em sua página, que cada tira promove uma incessante discussão entre os visitantes: há tanto os que aclamam seu trabalho entusiasticamente quanto os que o veem como simples especulação a fim de atarracar a mente do leitor. E isso, convenhamos, não é de todo mal. Talvez até seja o objetivo do cartunista.

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Ly g i a Pires CONHEÇA UM POUCO DO TRABALHO DA DESIGNER H T T P : // L Y G I A P I R E S . C O M /

Lygia Pires é Designer Gráfico e trabalha com Lettering, Caligrafia e Ilustração e desenvolve trabalhos tanto comerciais, quanto autorais. É formada em Desenho de Moda pela Faculdade Santa Marcelina, Design Gráfico e Motion Graphics pela Escola Panamericana de Arte e Design e na Quanta Academia de Artes em Desenho e Ilustração. Já fez e faz inúmeros cursos de caligrafia com professores renomados brasileiros e estrangeiros, entre eles: Andrea Branco, Cláudio Gil, Cristina Pagnoncelli, Jackson Alves, Marina Chaccur, Yomar Augusto, Caetano Calomino, Luca Barcellona e Sílvia Cordero Vega. Tem 10 anos de experiência no setor da Moda e trabalhou, inicialmente, como estilista e posteriormente focou

sua carreira como Designer, principalmente de estampas, produzindo desenhos comerciais e para desfiles da SPFW de grandes marcas brasileiras. Atualmente, abraçou seu paixão pela Arte e Design, e atua como freelancer em seu estúdio, produzindo trabalhos de caligrafia, lettering, design e ilustração, atendendo desde o cliente final e novos empreendedores, até grandes revistas e empresas nacionais e internacionais como Louis Vuitton, Mont Blanc, Budweiser, Vivo, Samsung, Natura, Playboy, VO2bike, Puma, Sadia, Cavalera, Colcci e Lost. Teve obras de caligrafia e lettering expostas na mostra “Poesia Agora” do Museu da Língua Portuguesa (2015) e na “MALC” (Mostra Aberta de Letrismo Contemporâneo) da Galeria Sinlogo (2015).

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tipografia e ilustração DESIGNER, ILUSTRADORA, TIPÓGRAFA E SONHADORA, A BRASILEIRA CYLA COSTA É TALENTO PURO. ELA TEM SEU PRÓPRIO ESTÚDIO EM CURITIBA, FAZ PARTE DO GRUPO DE ARTE SUPER BACANA CHAMADO CRIATIPOS E TRABALHA COM O QUE MAIS GOSTA: BRANDING, ILUSTRAÇÃO E LETTERING. WWW. CYLA COSTA . CO M

Cyla estudou design e possui especialização em ilustração editorial e em tipografia. Suas maiores inspirações vem de músicas novas, dos Beatles, Bowie, Woody Allen, de todos os tipos de chás, vinho branco, prateleiras cheias de livros, viagens, caminhadas pela cidade, cafés no meio da tarde com seu amor, amigos queridos e artísticos. Movida pela paixão e prazer do trabalho feito à mão, a artista resgata processos handmade em seus mais variados projetos, colorindo diversos tipos de superfícies, desde muros na rua até papéis de parede incríveis. Ultimamente, ela tem se dedicado ao The Weekly Woody Lettering, projeto que semanalmente mistura filmes de Woody Allen com pôsteres tipográficos.

Q U A I S F E R R A M E N TA S V O C Ê U T I L I Z A PA R A S E E X P R E S S A R ? As ferramentas não me importam muito, desde que a expressão possa ser feita de forma bem pessoal. Gosto de varias técnicas e ferramentas, pra não ficar muito limitada. Em geral, meu instumento de trabalho favorito é o lápis. Lápis e papel, bem simples. Tudo pode surgir dessa base. Gosto muito também de trabalhar com tinta, guache, aquarela, acrílica, nanquim, giz, caneta Posca. Adoro explorar formas e contrastes com ferramentas

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caligráficas como diferentes penas, parallel pens e brush pens. Às vezes gosto de desenhar em tecido, normalmente de jeito mais solto, sem muita preocupação com a estética ou perfeccionismo. Ultimamente tenho me divertido com letterings no Ipad Pro usando o Procreate. Essa semana comecei a bordar, usando essa técnica como forma de desenho e expressão. Quanto maior o escopo, melhor!

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COMO É O SEU PROCESSO C R I AT I V O ? É meio caótico, rs. Na verdade não tenho muito método pra nada quando falo de criação. Depende muito do processo e das inspirações do momento. Mas uma coisa é comum em todos os caminhos: tudo começa à mão, com lápis e papel. Minha mão com um lápis é a extensão mais direta que consigo ter do meu pensamento / sentimento. Às vezes a tinta direto na superfície também é legal, porque abre mais espaço pra surpresas. Quando estou fazendo um projeto pessoal, esses caminhos são ainda mais abertos. Nos profissonais, o processo varia conforme as necessidades do projeto e, principalmente, de tempo.

Q U A L S U A M A I O R M O T I VA Ç Ã O PA R A CRIAR? O QUE TE INSPIRA? Olha, depende muito do meu rolê do momento, mas acho que a inspiração de tudo (por mais boba que possa parecer esse resposta haha) vem do amor. Seja das formas mais óbvias como pessoas que se ama e pessoas que inspiram, como também amor por filmes, livros, pela cidade, montanha, cachoeira. Meditar também é puro ouro. Acho que a motivação pra tudo na vida vem daí, inclusive pra trabalho. Falando de forma mais específica, uma motivação profissional grande é sempre explorar coisas novas e me desenvolver cada vez mais como artista visual. O ritmo varia de ano pra ano, mas me motiva e inspira muito sentir que estou sempre em movimento.

O Q U E V O C Ê FA Z N O S E U D I A A D I A PA R A S E M A N T E R C R I AT I V A ? Vario de atividades, acho isso bem importante. Eu amo estar no meu estúdio e fazer o que faço, mas se eu ficar o dia todo desenhando letras não consigo ter perspectiva sobre meu próprio trabalho. Por isso, leio e vou muito ao cinema, saio com meus amigos e procuro ter uma vida mais hedonista, que permita espaço pra coisas novas acontecerem.

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Agora, falando de desenho, pra me manter criativa faço projetos pessoais, como o Weekly Woody e os murais com o Criatipos. Acho fundamental sair do comercial pra se encontrar.

bandeirinhas na minha trajetória profissional, cada uma com sua cor e importância. QUAIS SÃO SUAS INFLUÊNCIAS, INSP I R A Ç Õ E S O U A R T I S TA S P R E F E R I DOS? COMO ISSO SE REFLETE NO SEU TRABALHO?

VOCÊ TEVE ALGUM MARCO IMPORTA N T E N A S U A C A R R E I R A O U U M MOMENTO DECISIVO? COMO ISSO INFLUENCIOU SUA TRAJETÓRIA?

Minhas influências artísticas são super variadas, pois não gosto de ficar só no meu nicho pra buscar inspiração. Mas claro que tem pessoas que admiro muito dentro do mundo do type e lettering, assim como o Herb Lubalin, Ken Barber, Jessica Hische, Gemma O’Brien, Nim Ben Reuven, Louise Fili e tantos outros. Como amo cinema, além do Woody, muitos diretores como Kubrick, Fellini, os Coen, Scorsese, os Copollas pai e filha, Polanski, Miranda July, Paul Thomas Anderson, Kurosawa, entre muitos outros. Na música, Bowie e Beatles sempre presentes, além de muitas bandas e músicos contemporâneos que descubro a cada dia. Na literatura, Salinger, Paul Auster, Philip Roth, Cortázar, são só alguns nomes entre muitos que me influenciam. Acho que todas essas pessoas e muitas outras que descubro diariamente me influenciam numa camada meio profunda da criação, não de forma óbvia.

Ulalá, acho que não consigo pensar em um marco só, mas em alguns. Quando fui pra Espanha estudar foi um marco, sobre buscar o caminho próprio. Quando voltei, não quis mais trabalhar pros outros e comecei uma vida profissional autônoma, foi outro marco em relação à liberdade. Quando comecei a adentrar com mais afinco no mundo do lettering e me achar nessa linguagem foi outro marco. Quando me juntei com queridos amigos e formamos o Criatipos, que já veio cheio de desafios e coisas novas, foi também um grande marco. Quando passei o ano em NYC, em 2014, abandonando por ora projetos comerciais e focando em estudo e projetos pessoais, foi um marco enorme. Consigo ver várias

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de surpresas e aventuras, sejam elas físicas ou emocionais. Pra mim, o tédio é a morte. O novo é felicidade, mesmo que ele se encontre nas mesmas coisas de sempre, e isso acho super possível. Viajar é felicidade. Se relacionar e trocar coisas incríveis com outras pessoas é felicidade. Ler, conversar, ver filmes, tomar chá e vinho verde é felicidade. Auto conhecimento também, embora seja um caminho difícil, me traz grande felicidade.

Mas definitivamente, tá tudo ali no meu repertório, e ele fala alto na hora que vou criar. AINDA EXISTE ALGUM PRECONCEITO EM RELAÇÃO A MULHER SE EXPRESSAR LIVREMENTE? VOCÊ SENTE ISSO NO SEU TRABALHO? Com certeza existe. Mas acho que também existem precoceitos pros homens, embora de forma diferente. Como a mulher foi historicamente colocada num papel de passividade, com a imagem da pureza e delicadeza, sempre choca um pouco quando ela sai disso de forma mais veemente. Lembro quando publiquei o poster do Weekly Woody “Everything you always wanted to know about sex but was afraid to ask” e algumas pessoas ficaram tipo “uou, isso é mesmo um arabesco feito de pepecas e pintos gozando!?” Então, é. Tento me divertir e abrir a discussão sempre que possível.

Q U A I S D I C A S V O C Ê D A R I A PA R A O U TRAS MULHERES POTENCIALIZAREM SUAS CRIAÇÕES? Acho que os processos de criação são super pessoais, por tanto minha dica seria mesmo perceber onde tá o teu amor e teu desejo e seguir esse caminho. Pela minha experiência, vejo que tem uns momentos na vida em que a gente está só caminhando de forma randômica, e tudo bem, isso acontece e também pode ser produtivo. Mas também tem alguns momentos de clareza, e acho legal aproveitar esses momentos pra definir uns objetivos, o que ajuda bastante a manter o foco. Conhecer a si mesma, se dedicar ao seu crescimento pessoal, se empoderar e criar!

E O Q U E T E FA Z F E L I Z ? Sentir que a vida está em constante movimento e cheia

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VOCÊ TEM ALGUM NOVO PROJETO EM ANDAMENTO? Eu e minha grande amiga e parceira de trabalho Cristina Pagnoncelli estamos com um projeto em vista super legal: uma série de 6 murais feministas em Curitiba, onde moramos. A ideia é pintar esses murais a cada bimestre, com frases de escritoras feministas que despertem coisas importantes e maravilhosas para mulheres e homens que passem por ali. Nosso plano é fazer esses murais nas canaletas de ônibus, por ser um local super visto por milhares de pessoas por dia. Já começamos a articular isso com a prefeitura e vamos pintar o primeiro em fevereiro. Esse projeto me anima muito, é sobre combater o bom combate.

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letras clássicas DEPOIS DE 12 ANOS TRABALHANDO NA INDÚSTRIA TÊXTIL – E SE SENTINDO UMA MÁQUINA –, SAMUEL LENZI LARGOU TUDO PARA VIVER A PAIXÃO DE CRIAR E PINTAR LETREIROS HANDMADE H T T P : // W W W . S A M U E L L E N Z I . C O M /

à mão. Fiz um curso em São Paulo que me serviu para “abrir” a cabeça. Assim, resgatei a história do meu pai, que pintava manualmente. Me inspirei na história dele e larguei tudo. Saí do estúdio onde trabalhava em Santa Catarina e estou há cerca de cinco anos trabalhando profissionalmente na criação de hand letterings [letreiros pintados à mão]. Tudo que precise de uma letra, com desenhos personalizados e tal, eu trabalho em cima. Já

Q U E M É V O C Ê E O Q U E V O C Ê FA Z ? Meu nome é Samuel Lenzi, tenho 37 anos, e meu pai era pintor. Ele pintava caminhões e também criava letras. Já eu me formei designer gráfico e trabalhei 12 anos na indústria têxtil. Nesse ramo fiz ilustrações, desenhos digitais e gráficos. Há cerca de quatro anos me cansei do computador e fui estudar exclusivamente tipografia feita

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desenhei motos, carros, capacetes, fachadas, restaurantes e comércios. Hoje vivo exclusivamente do pincel.

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QUE ISSO ACONTECEU? Quando você se senta 12 horas na frente do computador, acaba mergulhando em uma loucura. Eu já não estava fazendo pintura manual, e sentia que estava perdendo a minha essência. Antes de entrar nesse ritmo, eu pintava um aquarelado, fazia uma letra à mão, fazia o scan, passava para o computador e me dedicava o dia inteiro a apenas um desenho. Quando a demanda aumentou e tive que fazer três desenhos por dia, virei uma máquina. Passei dez anos desta vida e vi que queria voltar às origens. Não estava mais feliz, e acho que esse é o valor que mais importa.

O QUE É FEITO À MÃO CANALIZA UMA ENERGIA DIFERENTE? A arte foi muito digitalizada. Se massificou demais. Qualquer um pode fazer o download de uma fonte, já personificada para barbearias ou cafés, imprimir e colar. Mas quando um proprietário atravessa a rua, ele vê que outro cara tem um igual na parede. Se tornou uma coisa supérflua. Quando faço pintura à mão, crio uma letra, um logotipo, lixo a superfície e até elaboro uma textura diferenciada. Isso não se consegue numa gráfica, no mundo digital. Imprimir uma letra encontrada no Google cansou, sabe? Os meus clientes veem essa diferença.

ESSE RITMO ENGOLE AS NOSSAS HABILIDADES INDIVIDUAIS?

VOCÊ SENTIU UM CANSAÇO COM O RITMO INDUSTRIAL DA COISA? POR

Sim, é um pouco o que tento mostrar a quem contrata meu serviço. Mostro a ele que não sou uma máquina.

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Preciso de alguns dias e eles perceberam que não é trabalho para amanhã de manhã. O que é massificado acaba perdendo a alma – não existe aquela falha, aquela irregularidade, que às vezes é mais importante do que uma coisa 100% perfeita, como um adesivo. P I N TA R À M Ã O TA M B É M S E R V I U COMO FORMA DE DESACELERAR?

As pessoas me disseram que largar tudo e ir para São Paulo, se misturar à loucura do cotidiano, era arriscado para alguém que morou em Balneário Camboriú, ou em Florianópolis, onde meus amigos diziam ser um baita paraíso. Mas, pô, passei mais de 30 anos morando lá, quando você chega aqui e se vê pintando aqui e ali, você fica contente. Posso dizer que tomei a decisão certa, e que até demorei para tomá-la [risos].

Eu mudei. Pintar à mão fez eu me redescobrir. Consigo sentar, estudar, olhar. Eu repenso a ideia, pinto novamente, imagino novas cores, aplico novas tintas, redesenho. Gosto de pintar e receber o máximo da experiência que isso pode me dar. Quanto mais eu trabalho, mais eu me inteiro da obra. A minha empresa é o que eu sou. V O C Ê D I Z Q U E F O I AT R Á S D E F E L I C I DADE. ENCONTROU?

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feira na rosenbaum FE IRA NA ROS E N BAU M . CO M . BR

A Feira na Rosenbaum é um encontro que reúne artistas e designers independentes para levar ao público criações autorais e com identidade brasileira, com curadoria de Cris Rosenbaum. A Feira recebe desde comunidades criativas tradicionais do Brasil a artistas e designers contemporâneos. Tudo isso em uma atmosfera de casa aberta, com música, sons, cheiros e cenários.

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criatipos NO SKOL STAGE H T T P S : // W W W . B E H A N C E . N E T / C R I A T I P O S

O Criatipos é um grupo de amigos que, movidos pelo prazer do trabalho feito à mão, surgiu como uma vida paralela dos designers Cris, Cyla, Doo e Jack, para fugir um pouco da rotina detrás de computadores e resgatar processos handmade, unindo trabalho e diversão. Eles foram convidados para trabalhar no festival Lollapalooza 2014 em São Paulo. Fizeram a marca da cerveja especial que a Skol desenvolveu para o festival – Skol Stage, dois painéis de lettering em giz (um deles ao vivo)

e a baita ação de caligrafia “Music on Paper” com Cláudio Gil, Diogo Delog, Guilherme Menga, Lygia Pires e Thiago Bellotti como convidados. Confira aqui o vídeo e as fotos com todo o processo e o resultado. É o tipo de trabalho que você fica babando e pensando “queria taaaanto ter participado!”. hahaha Sem mais! Encha os olhos e se debata de criatividade com tanta inspiração:

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coletivo jupiter H T T P : // C O L E T I V O J U P I T E R . C O M /

Um grupo de designers que viram no trabalho coletivo uma maneira de explorar suas potencialidades com mais liberdade e autonomia. Apaixonados pela profissão, buscavam também a paixão pelo trabalho, de forma a conciliar tudo isso com seus projetos e vidas pessoais. Hoje formam um grupo singular e eclético, com diferentes especilidades e talentos, atendendo de maneira pessoal e eficaz, buscando desenvolver os melhores projetos da galáxia e propiciar a mesma realização para seus clientes.

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modernismo funkeiro MODERNISMO FUNKEIRO É UM PROJETO TIPOGRÁFICO DA DESIGNER CARIOCA PAULA CRUZ, CONFIRA ALGUNS DOS CARTAZES! WW W.PAU LA C RU Z . CO M . BR

Paula Cruz é designer + ilustradora formada pela EBA/ UFRJ. Atravessou o Atlântico para viver em ares holandeses e descobrir os mestres da tipografia, impressão e design neerlandeses: estudou na Willem de Kooning Academie em Rotterdam, nomeada em homenagem ao ex-aluno pintor.Criadora e autora do Modernismo Funkeiro, um projeto em constante atualização que une a irreverência e ousadia do funk com a sobriedade do de-

sign modernista numa série de cartazes tipográficos. Foi colunista por mais de um ano na Revista Clichê, onde uniu seu amor pela escrita e pesquisa em artigos sobre design, arte, filosofia e história da arte. Paralelamente ao trabalho e estudos, constrói projetos autorais que unem design, texto e pesquisa, tais como livretos, cartazes e contos ilustrados.

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Arquiteturas anônimas de São Paulo em "tamanho_M" DE ALBERTO SIMON INSTA G RA M .CO M /AL BE RTO. S I M O N . 0 1

Longe dos bairros nobres que frequentemente possuem arquiteturas assinadas por grandes arquitetos, São Paulo possui casas em escalas mais modestas que permeiam a memória afetiva de seus cidadãos devido suas características e detalhes marcantes. Alberto Simon, artista baseado na capital paulista, fotografou alguns exemplares desta arquitetura sem autoria e os agrupou em seu trabalho intitulado “tamanho_M”. Tamanho_M é o encontro frontal com a ideia do médio, do “entre”, do meio termo, do ponto de equilíbrio, visível na escala e na arquitetura de fachadas de residências em

bairros tradicionais de classe média de São Paulo, como Mooca, Cambuci, Ipiranga, Santana, Jardim São Paulo, Saúde e outros; é significativo que esses bairros não se qualificam com o adjetivo “nobre”, e que a arquitetura aqui representada não seja resultado de um projeto arquitetônico de autoria, mas sim representativa de um vernáculo e sotaque especificamente paulista, e reconhecível como tal. É um contraponto horizontal à maneira na qual São Paulo é mais comumente retratada, como aglomerado incomensurável que cresce em todas as direções, sendo

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“É UM CONTRAPONTO HORIZONTAL À MANEIRA NA QUAL SÃO PAULO É MAIS COMUMENTE RETRATADA” o aspecto da sua verticalização quase sempre tratado de forma enfática. Localizada no que se chama de “interior”, São Paulo, a despeito de seu tamanho, revela também em todas as direções as caraterísticas de cidade interiorana, manifestas nos distintos bairros que têm seus próprios centros, tradições, e auto-suficiências.

Tamanho _M foi realizado nos anos 2005/06: algumas das casas aqui retratadas já deixaram de existir, e inúmeras outras, que teriam sido de interesse nessa documentação, não puderam ser fotografadas, devido à adição de muros e portões que impossibilitam uma visão desimpedida do projeto original.”

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confeitaria escalafobética UM PROJETO DE RAIZA E VINICIUS COSTA W W W.D U L C E D EL I G H T. CO M . BR

Estrela da internet com o “Dulce Delight Brasil”, canal do Youtube que ultrapassa 560 mil assinantes e mais de 40 milhões de visualizações, a chef paulistana Raiza Costa começa a navegar agora em um outro universo: o dos livros.

“Masterchef” americano em 2012 exatamente com uma sobremesa linda e criativa, garante que não tem nada contra o brigadeiro: “Tem até uma receita de brigadeiro no meu livro. Uma apenas. E acho que há três receitas com leite condensado. Sou contra a monotonia. Vejo que a confeitaria no Brasil está morrendo. Ninguém mais resgata um doce bem feito, que leve mais tempo fazer. São só esses vídeos de Facebook. E todo mundo quer fazer assim: misturar o leite condensado ao leite Ninho e acabou.”

A “Rainha da cocada” do canal GNT lança “Confeitaria escalafobética”, em que reúne 100 receitas que desvendam os mistérios por trás de sobremesas incríveis como charlotte de morango, bolo mousse de chocolate ou rocambole de baba de moça. “Fiz o livro para as pessoas entenderem que é possível fazer uma confeitaria justa, bonita e balanceada. Ele é um manifesto contra o leite condensado, a Nutella e o leite Ninho. Fico apavorada em ver que 99% das receitas de confeitaria no Brasil se baseiam em produtos industrializados, muitas vezes processados, de baixa qualidade. E tudo tem o mesmo gosto. Você vai comer um bolo, e todos têm brigadeiro. E existe uma imensidão de ingredientes no Brasil, que é conhecido como o país que tem os ingredientes frescos mais deliciosos do mundo.”

A videomaker enfatiza que “confeitaria é gastronomia”. E não se furta a apresentar o melhor desse mundo a quem se aventurar a seguir o passo a passo: “As pessoas tendem, quando estão na TV e na internet, a buscar o simplificado: pão em 15 minutos, bolo em 10 minutos. Mas eu não evito as receitas difíceis. Faço como deve ser. O croissant leva praticamente dois dias por conta do descanso da massa. Não vou ensinar uma versão encurtada. Primeiro porque valorizo a técnica francesa, que é a mais antiga da confeitaria. Sobremesa não tem que ser feita em minutos porque não é para ser feita diariamente. Uma receita mais complicada é especial, celebratória. Você compatilha, presenteia e curte de uma maneira que não curte a alimentação do

Apesar da crítica à mesmice, Raiza, que frequentou o The French Culinary Institute, em Nova York, e conquistou elogio do exigente chef Gordon Ramsay no

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dia a dia. Tem que haver uma pitada de sobremesa na nossa vida.” Para a confeiteira radicada em Nova York, o segredo de uma sobremesa incrível está na técnica e no uso de ingredientes de qualidade. A técnica é a maneira correta de fazer os pratos: “Não gosto de tratar o telespectador nem o leitor como fantoche. Técnica é você entender os porquês. Uma pergunta que sempre recebo é por que meu bolo de cenoura às vezes embatuma e às vezes fica perfeito? Embatumar é uma palavra que vovó usava para falar de um bolo que fica cru, meio pesado. Aí pergunto quantas cenouras foram usadas. A pessoa me responde que usa três. E Deus fez iguais todas as cenouras do mundo? Se uso uma de tamanho gigantesco e uma miniatura, o bolo vai ficar igual? A medida tem que ser a xícara com a cenoura picada. Nunca mais seu bolo vai embatumar.” Com relação aos ingredientes, Raiza alerta que não se acham no supermercado artigos maravilhosos: “Para um produto ficar meses ou anos nas prateleiras, tem que passar por um processo que altera totalmente seu sabor. Ele sofre com isso.

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Esse clássico leite de coco do Brasil, de garrafinha, é um verdadeiro lixo. Não tem gosto de coco nem aqui nem na China. Para fazer leite de coco, precisa-se de coco e água morna. E acabou. Se você se dedicar a fazer os ingredientes, vai valorizar o produto final. E não só isso, vai estar em contato com a natureza de novo, com a comida de verdade. E quando olhar uma garrafinha que diz no rótulo que possui mais de cinco componentes, verá que não faz sentido algum.” E para garantir que tudo fique realmente caprichado, logo nas primeiras páginas, Raiza ensina a fazer ingredientes que servirão de matéria-prima para as sobremesas. São 20 itens para o cozinheiro praticamente não precisar ir ao mercado. Entram aí doce de leite, chocolate granulado e corante caseiro. Do começo ao fim, pode-se ver a presença muito forte da direção de arte que ela costuma imprimir em seu trabalho. “Sou uma storyteller. Pretendia fugir de toda a estética de clássicas imagens de gastronomia, que trazem o produto final super em foco, com o fundo extremamente desfocado. Bonito, mas queria que cada foto contasse uma história. Fiz então cenários, onde os doces foram inseridos. Tudo está em foco. No caso da receita de crème brûlée, a foto tem um martelo. Parece que ele quebrou o topo durinho do doce e jogou caramelos pela tela inteira. Na verdade, o principal prazer de comer essa sobremesa é quebrar aquele topo durinho. Quando você olha, imediatamente remete a essa sensação.” Foram dois anos na produção do livro, que contou ainda com o talento do marido, o diretor de animação Vinícius Costa, responsável pelo design da obra: “A gente trabalha junto em alguns projetos, à exceção da TV. Nessa parceria, a gente fez um pré-livro. Deu vontade de dar um tiro na cabeça de tanto trabalho. O livro tem cem receitas. Fizemos um PDF com cem páginas contendo cada elemento queríamos em cada foto. Com imagem de referência, com imagem da receita, o tecido que queria usar na foto, junto do objeto que eu queria e da cor exata que eu queria no fundo fotografar. Quando você passa as páginas, você vê o capricho na foto, na diagramação, é lindo.” Em 2018, Raiza revela que apresentará a quarta temporada da “Rainha da cocada” na telinha do GNT. Mas além dele, terá uma nova atração no canal: “Nesse outro programa, o produtor, aquele que tem sua fazendinha, que não é subsidiado e que tem um produto incrível, vai ser coadjuvante. Ele vai ter muita importância, assim como os ingredientes que produz. Será uma volta às raízes. Quero conectar as pessoas com o ingrediente de novo e com o pequeno produtor. Tem gente que não sabe como é uma cerejeira. A gente precisa cortar um pouco essa máfia da indústria alimentícia.”

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i could kill for dessert O PROJETO DE DANIELLE NOCE E PAULO CUENCA W W W.DA NINO CE . CO M . BR

Formou-se em moda na Faap, decidiu abrir uma loja de Havaianas (na época ainda não existia o conceito de franquia da marca), junto com o seu marido Paulo Cuenca – produtor e diretor. Após 8 anos de operação, decidiram vender suas franquias e abrir uma confeitaria em Amsterdam, mas não foi isso que aconteceu.

o ICKFD para o VH1. Três anos depois foram para o Food Network, um canal culinário e de lifestyle dos EUA, onde fizeram duas temporadas exclusivas do ICKFD para o canal, a primeira em São Paulo e a segunda em Paris. Para o Food Network também criaram e produziram o programa Cozinha na Laje.

Danielle, após muitos testes de doces, desastres na cozinha e críticas negativas de seu marido, percebeu que aquela confeiteira desastrada e seu marido que só reclamava poderia virar um ótimo formato de programa para a TV. Foi quando decidiram gravar alguns pilotos para a TV e utilizaram a plataforma do Youtube para hospedar os vídeos.

O atual trabalho que antes era apenas uma paixão foi se tornando realidade e junto com seu canal no Youtube, Dani abriu o site I COULD KILL FOR DESSERT, cujo nome veio de um trecho da música The Story Of My Life da banda Millencolin. Desde então Danielle não largou mais o laptop e o celular. E após fazer muitos cursos de confeitaria no Brasil, percebeu que não era o suficiente e decidiu ir para Paris estudar confeitaria em uma das escolas mais conceituadas na área, a École Lenôtre.

Dani e Paulo tomaram gosto pelo Youtube e com menos de 1 ano de canal estrearam seu primeiro programa na TV,

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Dani e Paulo moraram na França por dois anos. E ao voltar para São Paulo, se dedicaram ao canal no Youtube Danielle Noce, que hoje conta com uma base de mais de um milhão de inscritos e mais de oitocentos vídeos, postados 3 vezes na semana, com receitas, programas de viagem e vlogs.

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vida mais doce”, que ficou em terceiro lugar dos mais vendidos em não-ficção do Brasil em dezembro de 2014. Em 2015 a autora do livro “Por uma vida mais doce” foi chamada para representar a culinária brasileira no programa americano Today Show e em dezembro lançou o seu segundo livro “A receita da felicidade”, um livro totalmente interativo ao contrário do seu primeiro que continha apenas receitas.

Por um longo tempo, Dani foi apresentadora convidada do Dia Dia na Band e apresentou seu próprio programa, no maior canal de culinária e lifestyle do mundo, o Food Network.

Em junho de 2016 lançou o seu terceiro livro, “A Doce cozinha de Dani Noce”, exclusivo da Avon.

Dani também apresentou quadros no canal da Tastemade Brasil, como o “Vamos pra cozinha” e o “Chocosnap”, que também foi gravado em uma versão exclusiva para celular no aplicativo Snapchat.

Atualmente, Danielle é produtora e diretora na Enfim Filmes, redatora chefe e blogueira no site Dani Noce, e também, youtuber no seu canal Danielle Noce, além de prestar consultoria estratégica para diversas marcas.

Em 2014 lançou o seu primeiro livro intitulado “Por uma

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frufruta A COMIDA DE VERDADE DE PATI BIANCO. W W W.FRU FRU TA. CO M . BR

“Diferente da maioria dos apaixonados por gastronomia, eu não cresci vendo meus pais cozinharem, mesmo assim meu flerte com ela nasceu quando ainda era pequena. Lembro de ficar na porta da cozinha, observando movimentação de longe: a mágica do calor transformando os alimentos, a cuca de banana que saía cheirosa do forno.

Após muitos anos de uma alimentação pobre em nutrientes, o desequilíbrio chegou ao seu ápice e fez meu corpo pedir socorro. Passei mal por muito tempo, achei que estava doente, tomei remédios, fiz mil exames. Quando pensei que teria que me habituar àquela vida, que ninguém era capaz de descobrir o que eu tinha, resolvi olhar pra mim mesma.

A preparação me hipnotizava. Quando jovem, a gastronomia não me passava pela cabeça como opção profissional. Me graduei em design gráfico. Comilona, amante de comida, boa de garfo.

Compreendi que o problema não era meu organismo mas sim o que eu ingeria, o combustível que o fornecia, meu estilo de vida.

Os programas de gastronomia sempre ligados e se repetindo na televisão, muita teoria e pouca prática. Passei grande parte da vida amando comida, mas me alimentando mal: pulava a salada, fazia cara feia pros legumes, adorava salgadinhos, biscoito recheado e todo tipo de comida industrializada.

Comecei a ler, estudar o assunto. Me obriguei a mudar. Descobri novos sabores, novas texturas e ingredientes. Conheci uma nova sensação de bem-estar, um organismo que funcionava melhor. Me apaixonei pela gastronomia saudável.

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O antigo amor pela cozinha se encontrou com minha profissão: o design me ensinou a compor formas e cores, a culinária me muniu de sabores, a gastronomia saudável me ensinou que é possível criar comida deliciosa e rica em nutrientes que tratam e curam.

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tação das saladas já existentes e adaptar receitas do menu fit, tornando-o ainda mais inclusivo. Duas novas saladas foram incluídas com meu nome, além de os detalhes da parceria estarem descritos no menu. O blog também me levou até a ONG Gastromotiva, da qual orgulhosamente sou voluntária desde a primeira turma em Curitiba. Em 2016 tive o prazer de ser convidada pela instituição para trabalhar no Refettorio Gastromotiva, iniciativa de Massimo Bottura com David Hertz. O Reffetorio abriu as portas durante as olimpíadas do Rio para servir comida e dignidade para pessoas em situação de rua. Na oportunidade, pude conhecer grandes nomes como Alain Ducasse, Felipe Bronze, Claude Troisgros, entre outros. Em junho lancei meu primeiro livro de receitas pela Editora Alaúde!

A mudança foi tamanha que resolvi compartilhar isso com o mundo, mostrar que alimentar-se bem e de forma consciente está ao alcance de todos. Decidi criar um blog cheio de coisas bonitas e saudáveis. O batizei de “Fru-fruta” para que só o nome já fosse capaz de arrancar sorrisos. Me especializei em gastronomia saudável, fiz curso de fotografia gastronômica. Sou à favor de comida de verdade, preparada com respeito aos ingredientes, sem aditivos químicos e sou contra radicalismos. Comida nutre o corpo mas também é memória afetiva.

Minha causa é disseminar a alimentação saudável e a inclusão de pessoas com restrições alimentares, provando que comer bem é fácil, acessível e gostoso. Espero que as receitas que nasceram na minha cozinha cheguem até a sua e provoquem mais sorrisos!”

No primeiro trimestre de 2017, fui convidada pelo chef Junior Durski, proprietário da rede Madero (a maior de casual dining do país) a desenvolver e assinar o novo cardápio de saladas para todo o Brasil, além de retrabalhar a apresen-

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novo louvre UM LEGADO DE FAMÍLIA QUE VIROU O EMPREENDIMENTO DE MARIAH SALOMÃO W W W.NOVO LO U VRE . CO M . BR

O NovoLouvre é uma marca de Curitiba com modelagem contemporânea e estamparia digital única. Com referências artísticas de sua cidade natal a marca traz uma visão nova e moderna do que a moda deve ser.

Um projeto do NovoLouvre é o NL Colab. O NL Colab é uma iniciativa fundada em 2016 para incubação de designers na cidade de Curitiba. Espelhando o espírito da marca homônima, NovoLouvre, faz a conexão local-global, para marcas emergentes. ​ As marcas residentes se relacionam diretamente com o NovoLouvre e têm à disposição diversas plataformas para desenvolver seu negócio, contando com lojas, e-commerce e showrooms. ​ Além das marcas incubadas ainda fazem parte do Colab a Assessoria de Imprensa Dani Brito Bureau de Comunicação e a Fotógrafa Isabela Glock. O Novo Escritório de Arquitetura e a Güral Arquitetura também dividem o espaço criativo, interagindo com os artistas do local.

Se auto intitulando um escritório de design de moda ao invés de uma confecção o NovoLouvre inova em processos que substituem etapas e cria novas tecnologias que contribuem para a sustentabilidade econômica e social da cadeia da moda. Em 1935 foi inaugurada a loja de tecidos Louvre em Curitiba. Em 2007 a terceira geração da família lança o NovoLouvre, em um prédio construído por Miguel Calluf, fundador do Louvre. O NovoLouvre já está presente no Brasil, Ásia e Europa. Levamos a Moda curitibana para o mundo.

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Arquiteta de formação, Mariah é quem assina o projeto arquitetônico da loja. A ambientação mistura o orgânico ao industrial, seguindo a linguagem do showroom original com plantas, materiais naturais, tubulações à mostra e concreto. Segundo a diretora-artística, a ideia é manter a conexão com artistas e designers, uma tradição da marca, que promove periodicamente a Tra.ja.nar, coletivo de artistas para troca de experiência e vendas de produtos. Mais do que oferecer moda, a proposta é apresentar o “modo” de vida NovoLouvre ao consumidor. “Nossa concept store irá trazer além da nossas coleções tudo o que envolve o universo NovoLouvre. Os artistas que nos inspiram, a arquitetura e paisagismo que nos rodeia e os estudantes de design que aprendem conosco e nos ensinam…”, explica Mariah. Atualmente, as roupas NovoLouvre são apresentadas em multimarcas do país e do exterior. Agora sem intermediários, Mariah acredita que na loja será mais fácil passar o conceito da marca, seus ideais e valores.

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”Quero estreitar essa relação para conseguir passar tudo que há por traz de uma peça de roupa.” O NovoLouvre está baseado em um ateliê/showroom na rua Trajano Reis, centro histórico de Curitiba. O prédio é da família da diretora criativa da marca, Mariah Salomão, e iniciou as atividades nos remotos 1935, como Loja de Tecidos Louvre. A referência familiar chancela um escritório de design de moda atual, onde tudo é resolvido digitalmente. Diferente do método tradicional, os moldes são digitalizados e riscados diretamente sobre o tecido, queimando etapas do processo e evitando desperdícios. A marca curitibana tem se aprimorado em uma roupa feminina contemporânea, atemporal e baseada em um conceito de produção ético e sustentável. “Para nós, a economia criativa não é um discurso. Empregamos costureiras que podem trabalhar em suas casas, próximas aos seus filhos. Usamos matérias-primas com o mínimo de impacto ambiental e técnicas que reduzem o desperdício”, explica Mariah.

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A marca foi resultado do TCC do curso de design de moda de Diego que escolheu o tema criatividade na moda. “O tema foi um desafio, trabalhei muito em cima de metodologia de criação visual, mood board, que gera mais criação e não cópia. Desenvolvi um processo de experimentação, com metodologia própria de pesquisa e busca constante por identidade para minhas peças.”

UM PROJETO DE TCC QUE VIROU A MARCA DE DIEGO MALICHESKI

A Rocio Canvas cria peças atemporais, em pequenas coleções, brincando muito bem com princípios de alfaiataria em tecidos diversos. Tendo uma produção artesanal e local, as primeiras modelagens são feitas por Diego, que cuida de todo processo de criação da marca.

W W W.RO C IO CAN VAS . CO M . BR

Fundada em 2016, a Rocio Canvas é uma neo-brand feminina iniciada de forma experimental que apresenta uma proposta minimalista que investiga a modelagem.

Assim, temos a intenção de retratar em cada coleção tudo aquilo que poderia ser “pintado” a partir de uma roupa em branco. ​ Em 2017 Diego foi selecionado para fazer parte do Projeto Lab da Casa de Criadores, evento que lança jovens talentos da moda nacional e ocorre duas vezes ao ano.

O branding e o estilo têm a assinatura de Diego Malicheski, que inspirou-se em sua mãe para a criação do nome da marca: Rocio é seu segundo nome e Canvas, do inglês, significa “tela”.

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sassy O PROJETO DE RAFAELA CAMILO, FERNANDA POMPERMEYER E JONAS SANSON W W W.H E L LOSAS SY. CO M . BR

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Os amigos Rafaela Camilo, 24, Fernanda Pompermeyer, 24, e Jonas Sanson, 23, não conseguiam encontrar nas lojas roupas que satisfizessem seus estilos. Decidiram, então, criar as próprias peças. Nasceu a Sassy. “Essa é a primeira coleção completa da marca. As peças anteriores eram como nossos experimentos”, conta Rafaela.

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“Propomos novos valores que exploram o diálogo, a integridade, o consumo consciente e o empoderamento. Toda a nossa produção é feita por mulheres. Queremos mudar o panorama atual com as nossas próprias mãos.” Tudo a ver com a gente. Aliás, já deu uma olhada nos pés das modelos da galeria? “Procuramos ser autênticas e amamos fazer experimentações, peças criadas para quem procura autenticidade e significado no ato de existir. Acho que esse é um ponto em comum entre a nossa marca e a Melissa.”

Inspirada nas grifes Versace, Jean-Paul Gaultier e Vetements, a Sassy é uma marca que gosta de provocar, como o nome bem diz (em inglês, a palavra representa audácia, ousadia). Em seu desfile de estreia, pantacourts, corpetes e meias calças apareceram em tons vibrantes de amarelo, rosa e azul, referências clássicas dos anos 90 e também da estética de Memphis (precursor do design pós-moderno). É partindo dessa ideia que a SASSY, um projeto de moda que nasceu no centro da efervescência cultural de Curitiba, se manifesta através do design.

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Criar é um ato político. É partindo dessa noção que a Sassy, um projeto de moda baseado em Curitiba feito a quatro mãos, se manifesta através do design e criações singulares que refletem o universo das autoras. Rafa é comunicadora e diretora criativa, Fer é fotógrafa e designer gráfica, ambas são artistas multidisciplinares que se expressam por diversos meios e criam na mesma frequência em que existem.


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Vivemos em uma nova era, onde além de questionarmos a estrutura da economia capitalista\masculina, queremos mudar o panorama atual com as nossas próprias mãos. Propomos, por meio da economia feminina, novos valores que exploram o diálogo, a integridade, o consumo consciente e o empoderamento. Criamos peças para serem usadas por pessoas reais e que se mantém acordadas e críticas.

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As designers propõem, por meio da economia feminina, novos valores que exploram o diálogo, a integridade, o consumo consciente e o empoderamento. A dupla diz que resgatou o passado e transformou em novo. “Derrubaram-se certezas, mancharam-se instituições. Correlações ilusórias, fluxo e refluxo da cidade grande”, afirmam. O segundo experimento da marca lida com modelagens assimétricas e faixas refletivas, tecidos fluídos e estampas inspiradas na estética de Memphis.

No backstage da Sassy conversamos com as estilistas Rafaela Camilo e Fernanda Pompermayer. A marca é super nova e foi criada ano passado. É focada em um público que procura autenticidade e significado para o ato de vestir, ou seja, pessoas reais que se mantêm antenadas e com senso crítico em relação ao seu tempo. Para as estilistas, o ato de criar, no caso moda, é politico e, dessa forma a Sassy se manifesta através do design e criações singulares que refletem seu universo.

Foram criados pantacourts e corselets que respiram metrópole, e buscamos na alfaiataria sua atemporalidade mesclada com a característica única da Sassy que transformam os looks em ultra modernos. Biquínis com modelagem vintage se tornam únicos quando estampados, além das parcas e macacões feitas em crepe, que eclipsam sua agressividade e criam um caos semântico e nebuloso, resgatando no passado a contemporaneidade da Sassy.

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arbol A NATUREZA COMO TÔNICA NA MODA DE LÍVIA MORO W W W.FA C E B O O K . CO M /ARBO L .O F F I CI AL

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Moda minimalista, com personalidade e acessível marca o que há de novo em Curitiba no mercado slow fashion em 2018. Os novos designers que despontam na cidade chegam alinhados com uma proposta de moda inovadora e prometem trazer para o guarda-roupa dos consumidores um produto de qualidade e cheio de propósito. Lívia Moro criou a Arbol há pouco mais de três meses após uma crise com a moda. Durante um intercâmbio na época da faculdade, a estilista de 25 anos descobriu, enquanto percorria o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, que não é preciso muito para ser feliz. “Eu tinha duas camisetas, dois shorts e pensava: sou designer de moda, como vou vender roupa da maneira certa?”, conta.

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A reconciliação veio através da produção enxuta, com tecidos duráveis (linho, principalmente) e a partir de peças atemporais que combinam entre si.

propondo um vestir que colabore para despertar a consciência para práticas positivas de vida e consumo. A marca utiliza o conceito de “seasonless” para o desenvolvimento de suas coleções, privilegiando tecidos duráveis e modelagem descomplicada para refletir uma moda urbana, funcional e extremamente contemporânea.

Em tons neutros como marrom, rosa quartz, azul claro e off white, Lívia produziu looks com modelagens em alfaiataria clássica sem abrir mão do conforto. A coleção, que teve como uma de suas inspirações o Bosco Verticale (a primeira floresta vertical do mundo, em Milão), buscou mostrar que a integração entre a natureza e a cidade é possível.

Arbol traduzido do Espanhol significa árvore, mas isso não é uma coincidência. Com design paranaense, as roupas são produzidas em Araucária, e tem como objetivo utilizar a moda para promover o consumo consciente.

Dentre os novos talentos apresentados nesta edição do ID Fashion, a Arbol chega com um conceito de marca e estilo comprometidos com valores socioambientais,

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Luanda Gazoni é formada em Rádio e Tv pela FAAP e sempre trabalhou com vídeos, da edição a direção, passando por agências de publicidade e produtoras, e também pela MTV Brasil, onde dirigiu o Top 10 e o Top 20 MTV. Nas horas vagas seu lugar preferido sempre foi a cozinha de sua casa. Da junção desses dois amores surge o “Torrada Torrada”. Ela que cuida da produção, direção e edição dos vídeos.

O PROJETO DE LUANDA GAZONI W W W.TO R RA DATO R RADA. CO M . BR

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ülevus MODA SEM GÊNERO É O NEGÓCIO DA ÜLEVUS, MARCA BRASILEIRA FRUTO DA CRIATIVIDADE DE PAOLA PENNA E LARISSA RODRIGUES WWW. FA CEB OO K. CO M / U L EVUS

O linho é uma fibra muito importante nas coleções da Ülevus, presente em calças, camisas, macacões, kimonos e outras peças bem atemporais. Democrática sim, mas de olho no público jovem. A Ülevus surge para esses consumidores como uma alternativa consciente ao fast fashion, que é normalmente a escolha mais recorrente dessa faixa. A produção responsável, em quantidades pequenas e bem pensadas, possibilita que os consumidores sejam criativosao invés de apenas se adequarem ao que já vem pronto das lojas. Com um estilo que mistura referências urbanas, minimalistas, contemporâneas e artsy, a gama de possibilidades sem limitações oferecida pela Ülevus é muito mais ampla.

A ideia de criar uma marca surgiu de uma necessidade e de uma certa indignação do casal. Cansadas de ver tantas marcas que impõem divisões de gênero, decidiram disponibilizar peças atemporais e democráticas para pessoas que, assim como elas, buscam por individualidade e liberdade. Partindo dessa ideia de quebrar paradigmas, a Ülevus é guiada por outros valores importantes, como a produção justa e responsável. Todas as roupas são pensadas e feitas no Brasil, produzidas em ateliês de confiança com estrutura adequada para absorver a demanda da marca. Os tecidos são fornecidos prontos por tecelagens que trabalham com atacado, aproveitando a oferta do que já existe, ao invés de desenvolver materiais do zero. E por falar em materiais, a preferência da marca é pelas malhas e pelos tecidos leves. As peças são soltas e confortáveis, feitas para que se adaptem facilmente a qualquer biotipo independente de gênero.

“SE ALGO FICA BOM EM VOCÊ, POR QUE NÃO USAR? Somos uma marca de vestuário sem gênero feita para jovens que evitam os estereótipos e querem se sentir bem em tudo o que estão vestindo.”

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modelaria H T T P : // W W W . M O D E L A R I A . C O M . B R

Fundada em 2014, a Modelaria SP foi concebida pela fusão de duas personalidades distintas! Lá atrás, quando as duas sócias ainda eram unidade, cada uma tinha experiências e aspirações que, mesmo sendo diferentes, tinham o mesmo propósito. Uma buscava a funcionalidade, e a outra uma opção estética, que encantasse no primeiro contato. Em comum, as duas produziam moldes, o que facilitou a criação de diversos desenhos, pra vestir, usar e até presentear! Deste encontro de duas mães, veio a ideia de criar uma fábrica de moldes funcionais, democráticos, localmente produzidos com qualidade e sem matéria prima animal. Nasceu a Modelaria SP!

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noiga A PRIMEIRA MARCA BRASILEIRA A PRODUZIR ACESSÓRIOS EM IMPRESSÃO 3D, LIDERADA POR RENATA TREVISAN W W W.NO IG A .CO M . BR

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Em um momento em que a moda queria se enfeitar com pedrarias e acessórios dourados, surgia em Curitiba a Noiga, uma marca pronta para caminhar na contramão do óbvio. Não faz tempo; o ano era 2014, mas nem se cogitava criar brincos, anéis e colares a partir de uma impressora 3D que usa partículas de nylon em pó como matéria-prima. A ousadia funcionou e a marca comemora, neste mês, seu terceiro ano de vida. Pouco depois de completar o primeiro aniversário, a marca – liderada inicialmente pelas designers Evelyne Pretti e Renata Trevisan e, atualmente, apenas por Renata – garantiu um lugar no LabModa (evento anual que promove a indústria fashion de Curitiba). Mas os acessórios da Noiga chegaram não só nas penteadeiras das fashionistas curitibanas. Compuseram também os figurinos de atrizes como Giovanna Antonelli e Bruna Linzmeyer, na novela A Regra do Jogo, da Rede Globo, e da apresentadora Danielle Ferraz, do Mais Você. Neste ano, a marca foi selecionada para participar do ID Fashion, o maior evento de moda do Paraná, que será realizado nos dias 28 e 29 de setembro e reunirá os estilistas mais criativos do estado.

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A MENTE POR TRÁS DA NOIGA Uma série de “acasos” levaram a jovem Renata Trevisan, de 28 anos, a ser a designer da primeira marca de acessórios em 3D do Brasil. O primeiro: ela sempre quis cursar arquitetura, mas antes do vestibular esbarrou no design em uma feira de profissões. “Achei legal porque possibilitava desenhar objetos diversos, desde um móvel a uma joia”, conta. Foi fisgada. O segundo (e definitivo) veio quase no fim do curso. Embora tenha feito algumas aulas de joalheria profissional, não pensava em trabalhar com isso. “É um campo muito fechado, onde só se entra por indicação”, explica. Por isso, depois de ter trabalhado com ferragens para móveis e em escritórios de design de produto, foi uma surpresa quando a amiga e colega Evelyne a convidou para levar o trabalho de conclusão de curso da universidade para o mercado.

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Hoje, ela comanda a Noiga sozinha e é responsável por cada etapa da produção, desde o brainstorming para idealizar cada peça até o acabamento. “A ideia é mostrar que a tecnologia é real e não algo impossível ao consumidor”, garante. Desde sempre, suas coleções são inspiradas em movimentos artísticos, principalmente na arquitetura – tema muito caro a Renata – e no cotidiano. Em alguns casos, a ideia surge a partir de sentimentos: uma coleção, por exemplo, foi inspirada no amor, com peças que representavam os batimentos cardíacos acelerados da paixão. A Noiga segue o conceito do “seasonless”, cada vez mais agregado no mundo fashion, cujo objetivo é não estabelecer temporadas para cada coleção. Ao criar produtos atemporais, as marcas evitam o desperdício e descolam-se da ideia de “ficar fora de moda.” Na Noiga, cada coleção – lançada a cada três ou quatro meses – tem cinco a 10 peças, no máximo. A marca curitibana foi a primeira do Brasil a produzir acessórios 3D. Todas as peças saem brancas da impressora e são tingidas por um processo de imersão. A Noiga aposta em cores sólidas vibrantes, como azul royal, vermelho e verde. O preto também é característica marcante

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da marca. DA HOLANDA PARA O BRASIL Como mal se falava em impressão 3D no Brasil há três anos, todos os acessórios da Noiga eram inicialmente produzidos na Holanda. “Lá, existem gráficas como as que conhecemos aqui, mas eles oferecem o serviço de impressão 3D. É só enviar o projeto por e-mail e eles imprimem os objetos”, explica Renata. Era o caminho mais viável para concretizar seus sonhos e tornar a marca real. “Mesmo pagando um frete altíssimo e imposto de importação era possível vender as peças a um preço competitivo”, lembra. O projeto firmou raízes no Brasil no ano seguinte, em 2015, quando a Noiga foi destaque na mostra Design Tecnológico na Bienal Brasileira de Design. Lá, fecharam duas parcerias que seguem até hoje; todas as peças são produzidas em Santa Catarina e depois trazidas para Curitiba.

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