TCC arqurbuvv | Parque Linear Canal de Guaranhuns: Projeto de reaproximação da cidade com o canal.

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ARQUITETURA E URBANISMO

GABRIELA SIQUEIRA SILVA

PARQUE LINEAR CANAL DE GUARANHUNS: PROJETO PARA REAPROXIMAÇÃO DA CIDADE COM O CANAL

VILA VELHA 2016


GABRIELA SIQUEIRA SILVA

PARQUE LINEAR CANAL DE GUARANHUNS: PROJETO PARA REAPROXIMAÇÃO DA CIDADE COM O CANAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Vila Velha – UVV como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientador (a): Michelly Ramos de Angelo

VILA VELHA 2016



Dedicado Ă minha familia.


AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Helida e Roberto, e a minha irmã Carolina que sempre estiveram comigo me apoiando em todas as minhas escolhas. Agradeço aos meus avós Lúcia, Mário, Dilma e Carlos Hibernon, e também aos meus demais familiares que sempre torceram por mim e me apoiaram. Às minhas amigas de longa data, aos meus amigos que consegui com a arquitetura e ao meu namorado Vitor. Sem vocês eu não seria quem sou hoje e espero te-los para vida toda. Agragradeço a todos os meus professores que sempre me incentivaram e estiveram disponíveis para me auxiliar. Agradeço aos todos que me ajudaram diretamente ou indiretamente na realização deste trabalho.


RESUMO

O objetivo deste trabalho consiste em apresentar um projeto de Parque Linear no Canal de Guaranhuns, Vila Velha, a fim de promover sua recuperação, preservação e reaproximação com a cidade. Através da pesquisa bibliográfica foi possível compreender que a busca pela recuperação e preservação dos rios é amplamente discutida e almejada em todo o mundo, e uma das estratégias para promover estas questões e também a reaproximação do rio com a cidade é através da criação do Parque Linear. Por meio da pesquisa bibliográfica, análises da região e seus pontos positivos e negativos, foi possível elaboradar as diretrizes norteadoras para a relização do projeto de intervenção do entorno e a criação Parque Linear no Canal de Guaranhuns. Palavras-chave: Rio, Parque Linear, Recuperação, Reaproximação, Cidade, Canal.


ABSTRACT

The objective of this work is to present a Linear Park project in the Guaranhuns Channel, Vila Velha, in order to promote its recovery, preservation and rapprochement with the city. Through bibliographic research it was possible to understand that the search for the recovery and preservation of the rivers is something widely discussed and sought throughout the world, and one of the strategies to promote these issues and also the rapprochement of the river with the city is through the creation of the Park Linear. From the bibliographic research, analyzes of the region and its positives and negatives, it was possible to elaborate the guiding guidelines for the re-enactment of the environmental intervention project and the creation of Linear Park in the Guaranhuns Channel. Keywords: River, Linear Park, Recovery, Reapproximation, City. Canal.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mapa de Paris em 1530, nota-se a expansão da cidade margeando o Rio Sena........................................................................................................... 19 Figura 2: Mapa de Londres Medieval, cidade vizinha às margens do Rio Tamisa. ......................................................................................................................... 19 Figura 3: Canal da Costa, Vila Velha - ES: Canal retificado e canalizado com concreto, margeado por vias principais. ........................................................... 21 Figura 4: Canal Guaranhuns, Vila Velha - ES: Canal retificado sem leito revestido, com ocupação e despejo de esgoto irregulares................................................ 22 Figura 5: Fotografia recente do Rio Sena, Paris, após projeto de revitalização. ......................................................................................................................... 23 Figura 6: Desenho do rio Spree canalizado e próximo as margens o parque Tiergarten - Plano para a cidade de Berlim, por Lenné entre 1845 a 1850. ..... 31 Figura 7: Esquemas de intervenção nos canais - Plano para a cidade de Berlim, por Lenné entre 1845 e 1850. .......................................................................... 31 Figura 8: Parque Emerald Necklace, projetado entre 1887 e 1895. ................. 32 Figura 9: O parque linear na função da qualidade de vida com espaços arborizados e usado como elemento circulação para pedestres e ciclistas. .... 35 Figura 10: Bacia de estocagem de água pluvial. .............................................. 37 Figura 11 e 12: Área de lazer e espaços de caminhadas arborizadas na Orla do Rio - Projeto Beira-rio. ...................................................................................... 41 Figura 13 e 14 : Escadaria de acesso ao nível próximo ao rio e eixo de circulação ao nível próximo ao rio. .................................................................................... 42 Figura 15 e 16: Vias que margeiam o parque remodeladas, com calçadas amplas e sombreadas para promover uma circulação agradável para os pedestres ... 42 Figura 17 e 18: Rua do Porto transformada em via de pedestres. Largo dos Percadores transformado em espaço público com via no nível da calçada e implantação de balizadores .............................................................................. 43 Figura 19: Espaço público com via no nível da calçada e implantação de balizadores, Trecho Largo dos Pescadores - Projeto Beira-rio. ....................... 43 Figura 20: Recomposição da mata ciliar, Requalificação da Rua Porto – Projeto Beira-Rio. ......................................................................................................... 44 Figura 21: Inundação em Vila Velha na década de 1960. ................................ 48


Figura 22: Imagem de satélite do dique de Santa e Inês demarcado de amarelo. ......................................................................................................................... 48 Figura 23: O Canal de Guaranhuns (marcado em vermelho) em relação ao seus bairros do entorno ............................................................................................ 50 Figura 24: Foto aérea de Vila Velha nos anos 1970, pode-se observar que a ocupação existente é predominante na região da Praia da Costa e Centro de Vila Velha. ............................................................................................................... 51 Figura 25 e 26: Imagem de satélite da área do Canal de Guaranhuns e seus entorno no ano de 1970 e 1978, respectivamente. .......................................... 52 Figura 27 e 28: Imagem de satélite da área do Canal de Guaranhuns e seu entorno no ano de 1998 e 2015, respectivamente. .......................................... 53 Figura 29: Encanamentos voltados para o Canal de Guaranhuns paa desperjo de efluente doméstico e água pluvial. Fonte: Acervo pessoal. ......................... 57 Figura 30: Bairros que integram a Bacia Hidrográfica do Canal Guaranhuns. . 59 Figura 31: Sistema de comporta no Canal de Guaranhuns. ............................ 60 Figuras 32 e 33: Mostram respectivamente as áreas de influência do nível máximo do Rio Jucu e da maré caso não existisse as comportas – Canal de Guaranhuns marcado em azul escuro. ............................................................ 60 Figura 34 e 35: Imagens de satélite do ano de 2013 com regiões alagadas e do ano de 2016. .................................................................................................... 61 Figura 36: Estação de bombeamento .............................................................. 62 Figura 37 e 38: Espaços arborizados com diversas árvores na área verde do Canal. Ponto de plantação de mudar de árvores. ............................................ 63 Figura 39: Presença de aves no Canal de Guaranhuns. .................................. 63 Figura 40: Imagem de satélite - Setor 1 ........................................................... 65 Figura 41: Trecho no qual a largura do Canal de Guaranhuns é maior em relação ao restante de sua extenção. ........................................................................... 66 Figura 42: Rua Cleodon Bezerra. As fachadas das edificações voltadas para o Canal. ............................................................................................................... 67 Figura 43: Imagem de satélite - Setor 2. .......................................................... 67 Figura 44 e 45:Avenida da Costa e Avenida Piauí. .......................................... 68 Figura 46: Imagem de satélite - Setor 3 ........................................................... 69 Figura 47 e 48: Rua. Cel. José Gabriel Marquês Filho. Nota-se a ausência de calçadas nos dois lados da via. ........................................................................ 70


Figura 49: Imagem de satélite - Setor 4 ........................................................... 70 Figura 50: Via de boa insfraestrutura com edificações com suas fachadas voltadas para o canal ....................................................................................... 71 Figura 51: Imagem ao observar o lado onde os fundos das edificações estão voltados para o canal. ...................................................................................... 71 Figura 52: Imagem de satélite - Setor 5 ........................................................... 72 Figura 53: Área verde no entorno do Canal. .................................................... 73 Figura 54: Imagem de satélite - Setor 6 ........................................................... 73 Figura 55: Canal de Guaranhuns com sua menor largura. .............................. 74 Figura 56: Corte das dimensões mínimas das vias coletoras. ......................... 82 Figura 57: Corte das dimensões mínimas das vias Locais............................... 82 Figura 58: Corte 01 da Rua Cleodon Bezerra, dimensão total: aproximadamente 10,6m. .............................................................................................................. 82 Figura 59: Corte 02 das Avenidas Canal da Costa e Piauí, dimensão total respectivamente: aproximadamente 6,2m e 6,2m. ........................................... 83 Figura 60: Corte 03 da Rua Celso José Gabriel Marques Filho, dimensão total: aproximadamente 12m. .................................................................................... 83 Figura 61: Corte 04 da Avenida Canal e da Rua Celso José Gabriel Marques Filho, dimensão total respectivamente: aproximadamente 11,7m e 10,6m. ..... 84 Figura 62: Corte 05 da avenida do Canal e da rua Tv. Rui Braga Ribeiro, dimensão total respectivamente: aproximadamente 6,8m e 6,8m. .................. 84 Figura 63 e 64: Visual 01 - vista da ponte que possui grande fluxo de pessoas e veículos. Visual 02 – vista da ponte que possui grande fluxo de pessoas e veículos. ........................................................................................................... 89 Figura 65 e 66: Visual 03 – vista da ponte de pedeste. Visual 04 – vista da ponte de pedestre. ..................................................................................................... 89 Figura 67 e 68: Visual 05 – vista da ponte exclusiva para pedestres. Visual 06 – Vista da ponte exclusiva para pedestres. ......................................................... 89 Figura 69: Visual 07 – Vista da ponte de acesso à escola Fundação Bradesco. ......................................................................................................................... 90 Figura 70: Apropriação do espaço positiva 01 - com atividade de comércio de balas próxima à escola Fundação Bradesco na área verde do canal. ............. 92 Figura 71: Apropriação do espaço positiva 02 – com o aproveitamento do espaço como extensão da casa para secar as roupas. ................................................ 92


Figura 72: Apropriação do espaço positiva 07 – com a plantação de novas árvores feitas pelos moradores. ....................................................................... 92 Figura 73: Apropriação do espaço positiva 10 – Criação de uma ponte, devido a necessidade de uma nova conexão. ................................................................ 93 Figura 74: Apropriação do espaço positiva 11 – como espaço para trabalho como pastagem de animais e estacionamento de carroça. ....................................... 93 Figura 75: Apropriação do espaço positiva 12 – como área pertencente da população como forma de comércio informal. .................................................. 93 Figura 76: Apropriação do espaço negativa 03 – com o despejo de lixo na área do canal. ........................................................................................................... 94 Figura 77: Apropriação do espaço negativa 04 – com o despejo de entulho de obra na área do canal. ..................................................................................... 94 Figura 78: Apropriação do espaço negativa 05 – com estacionamento de caminhão na área verde do canal. ................................................................... 94 Figura 79: Apropriação do espaço negativa 06 – com estacionamento de caminhão na área verde do canal. ................................................................... 95 Figura 80: Apropriação do espaço negativa 09 – com o despejo de lixo e estacionamento de veículos na área verde do canal. ...................................... 95

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Linha do tempo em relação aos eventos mundiais relacionados com a legislação brasileira e a preservação dos recursos hídricos. ........................ 26 Quadro 2: Multifuncionalidade dos parques lineares. ....................................... 34 Quadro 3: Perfil Socioeconômico dos Bairros do entorno do canal de Guaranhuns...................................................................................................... 56 Quadro 4: Exemplos de canais existentes em Vila Velha. ............................... 58 Quadro 5: Síntese do diagnóstico analisado. ................................................... 96 Quadro 6: Quadro de Árvores do Parque ....................................................... 116


LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Plano de Ação Estruturador - Projeto Beira Rio ................................. 40 Mapa 2: Mapa de localização da área de estudo. ............................................ 46 Mapa 3: Rios da cidade de Vila Velha. ............................................................. 47 Mapa 4: Mapa de evolução do Rio da Costa. .................................................. 49 Mapa 5: Mapa das Regiões Administrativas do Município de Vila Velha e a marcação do Canal de Guaranhuns. ................................................................ 55 Mapa 6: Mapa de setorização Fonte: Autora, 2016. ........................................ 65 Mapa 7: Mapa de Uso do Solo. ........................................................................ 75 Mapa 8: Mapa de Gabarito por predominância ............................................... 78 Mapa 9: Caracterização das Vias. ................................................................... 80 Mapa 10: Mapa de transporte público .............................................................. 85 Mapa 11:Mapa da Relação do Entorno com o Canal ....................................... 87 Mapa 12: Mapa de apropriação do espaço. ..................................................... 91 Mapa 13: Área onde ocorrerá a Intervenção no entorno do Canal................. 100 Mapa 14: Interventação Urbana do entorno imediato do Canal ..................... 101 Mapa 15: Remebramento dos lotes e intervenção nas vias do entorno imediato do canal .......................................................................................................... 103 Mapa 16: Setorização dos usos do Parque Linear. ....................................... 105 Mapa 17: Setorização de Usos do Entorno do Parque Linear. ...................... 107 Mapa 18: Área que deverá ser implantado edificações de 5 pavimentos. ..... 109 Mapa 19: Mobilidade e Conexões urbanas .................................................... 111 Mapa 20: Mapa do recorte do estudo preliminar. ........................................... 113


SUMÁRIO

1

INTRODUÇÃO .......................................................................................... 15

2

RELAÇÃO DA ÁGUA COM O PROCESSO DE EVOLUÇÃO URBANA . 18 2.1

3

REAPROXIMAÇÃO DO RIO COM A CIDADE .................................... 23

PARQUE LINEAR COMO ELEMENTO DE REAPROXIMAÇÃO ENTRE O

RIO E A CIDADE ............................................................................................. 30 3.1

O PARQUE LINEAR ATUALMENTE .................................................. 33

3.2

APRESENTAÇÃO DO PROJETO BEIRA-RIO, PIRACICABA, SÃO

PAULO – BRASIL ......................................................................................... 38 4

CONTEXTUALIZAÇÃO

DA

ÁREA

DE

ESTUDO

CANAL

DE

GUARANHUNS, VILA VELHA ........................................................................ 45 4.1

LOCALIZAÇÃO ................................................................................... 46

4.1

CONTEXTO HISTÓRICO DO CANAL DE GUARANHUNS E SEU

ENTORNO .................................................................................................... 47

5

4.2

CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA ......................................... 54

4.3

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-AMBIENTAL ......................................... 57

DIAGNÓSTICO ......................................................................................... 64 5.1

Setorização ......................................................................................... 64

5.2

Uso do solo ......................................................................................... 76

5.3

Gabarito .............................................................................................. 78

5.4

Mobilidade Urbana .............................................................................. 81 Meios de transporte ...................................................................... 85

5.5

Relação do entorno com o Canal ........................................................ 88 Apropriação do espaço ................................................................. 90

5.6 6

Síntese ................................................................................................ 95

PROPOSTA – PARQUE LINEAR E INTERVENÇÃO NO SEU ENTORNO

IMEDIATO ........................................................................................................ 98


6.1

FORMA DE VIABILIZAÇÃO ................................................................ 98

6.2

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ....................................................... 99 Renovação Urbana ..................................................................... 101 Remembramento dos lotes ......................................................... 104 Usos ........................................................................................... 105 Mobilidade e Conexões urbanas ................................................ 112 Estudo Preliminar - Recorte do Parque Linear ........................... 113

7

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 122

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 123


1

INTRODUÇÃO

O rio sempre esteve presente na paisagem urbana da cidade, exercendo um papel importante no crescimento da mesma, sendo utilizado como fonte de água potável, forma de melhoria da salubridade, meio de comunicação e comércio entre cidades através da navegação, irrigação nas atividades agrícolas, fonte de água para industrias, espaço para lazer entre outros fatores. A relação do rio com a cidade passou por diversas mudanças no decorrer do tempo, em virtude das modificações das necessidades que a cidade possuía para com o rio. Desde os primeiros povoados até o período da Idade Média, a relação da cidade com o rio era harmoniosa, exstia uma proximidade maior das pessoas com o rio e as atividades exercidas não causavam grande impacto ao rio como as atividades de lazer, agrícola, higiene, trabalho e navegação. A partir da Revolução Industrial até os dias atuais, a relação do rio com a cidade passou a ser de degradação, devido ao crescimento populacional, urbanizações desordenadas e evolução das industrias que ocasionaram em diversas alterações nos cursos dos rios, poluindo-os e transformando-os em canais poluídos à céu aberto, fazendo com que a relação de proximidade das pessoas com o rio fosse perdida pelo fato de ter se tornando um elemento desagradável na cidade. A partir da década de 1970, a preocupação pela recuperação e preservação dos rios vem sendo discutida, a fim de promover estratégias que minimizem os impactos sofridos pela urbanização, que evitem novos problemas ambientais e socioeconômicos, e também que busquem a reaproximação da relação dos rios com cidade. Uma das possíveis estratégias existentes para a reaproximação dos rios com a cidade e sua preservação é por meio da criação de Parques Lineares na extensão dos rios e canais. O Parque Linear pode resgatar a conexão entre cidade, o ser humano e o rio, promovendo: a criação de espaços públicos, em toda sua extensão, com áreas para atividades diversas como lazer, esporte, descanso entre outros; a valorização econômica da região do entorno do rio; a 15


melhoria na qualidade de vida da população; e a melhoria da mobilidade dos pedestres e ciclistas através de eixos lineares de circulação. O município de Vila Velha, Espírito Santo, também sofreu mudanças que influenciaram na sua relação existente entre a cidade e o rio. A cidade é repleta de rios que, devido a evolução urbana, foram transformados em canais poluídos (cobertos ou à céu aberto). Um exemplo existente no Município é o Canal de Guaranhuns, que antes das modificações sofridas era conhecido como rio da Costa, que será o objeto de estudo deste trabalho. O objetivo geral deste trabalho consiste em promover a valorização dos rios existentes na cidade de Vila Velha e sua reaproximação com o seu entorno através da criação do Parque Linear, com foco no canal de Guaranhuns. Buscase a implantação de áreas verdes no entorno do rio, sua recuperação e a criação de espaços públicos para atender os bairros do seu entorno e atrair pessoas de outras regiões. A fim de promover a vitalidade e segurança, através do planejamento urbano e a criação do eixo de circulação, assim proporciona-se uma forma alternativa de conexão entre os diversos bairros do qual o canal abrange. Este trabalho também busca mostrar como é possível utilizar os recursos hídricos como elementos estruturadores do desenho urbano. Para melhor compreensão, este trabalho foi estruturado da seguinte forma: os Capítulos dois e três apresentam fundamentação teórica que abordam a evolução da relação da água com a cidade, e sobre como os Parques Lineares possibilitam a reaproximação da cidade com os rios; o Capítulo quatro é a contextualização da área de estudo, canal de Guaranhuns, apresentando sua localização, histórico, caracterização socioeconômica e ambiental; o Capítulo cinco é formado pelo diagnóstico do Canal e seu entorno imediato, bem como pelas diretrizes norteadoras do projeto, elaborados com base nas caracteristicas referentes à gabarito predominante na região, uso do solo, apropriações do espaço positivas e negativas, a relação do entorno com o canal e mobilidade urbana; por fim o Capítulo seis aborta o projeto do Parque Linear no canal de Guaranhuns seguindo as diretrizes norteadoras elaboradas no capítulo anterior, sendo dividido em apresentação do projeto do Parque Linear em toda a extensão 16


do canal representando as ideias em mapeamento, e a apresentação do estudo preliminar de um trecho do projeto do Parque Linear.

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2

RELAÇÃO DA ÁGUA COM O PROCESSO DE EVOLUÇÃO URBANA

Os recursos hídricos sempre estiveram presentes na história da humanidade. O homem vivia de forma nômade, permanecendo em um local próximo à água até que se esgotassem os alimentos da região, quando então partiam com o propósito apenas da sobrevivência, para suprir suas necessidades fisiológicas. De acordo com Munford (1982, p.84) a água está diretamente ligada ao surgimento e evolução das cidades: […] o primeiro crescimento das cidades teve lugar em vales de rios; e o aparecimento da cidade

é

contemporâneo

dos

aperfeiçoamentos da navegação, desde o feixe flutuante de juncos ou de troncos até o barco impelido por remos ou velas. O povoamento próximo a rios se deu a partir das civilizações antigas tais como os egípcios no Rio Nilo, os mesopotâmicos entre os rios Tigre e Eufrates e os greco-romanos no rio Tibre. Continuando esta relação de proximidade com a água com o decorrer do tempo como nas cidades medievais tais como Paris, no rio Sena (ver Figura 1), Praga ao longo do Vlatva e Londres com o rio Tâmisa – ver figura 2 (GORSKI, 2010). Estas ocupações se deram por razões de consumo da água, para o desenvolvimento de atividades agrícolas com maior facilidade, por razões culturais com a criação dos artesanatos, higiene geral e também para manter comunicação e comércio com povoados vizinhos (BAPTISTA e CARDOSO, 2013).

18


Figura 1: Mapa de Paris em 1530, nota-se a expansão da cidade margeando o Rio Sena.

Fonte: < http://harvardpress.typepad.com/hup_publicity/2009/04/paris-1530.html>. Acessado em: 24 de maio de 2016 Figura 2: Mapa de Londres Medieval, cidade vizinha às margens do Rio Tamisa.

Fonte: < http://www.medart.pitt.edu/image/England/London/General/mainlondon.html>. Acessado em: 24 de maio de 2016.

Segundo Coy (2013, p.2) “O rio torna-se parte integrante da paisagem urbana, assim como a cidade pertence imprescindivelmente à paisagem fluvial”. Esta paisagem passa a sofrer alterações com impactos negativos devido a urbanização da cidade e sua consequente salubridade baixa, principalmente a partir da Idade Média (aproximadamente do século V ao XV), comportando o despejo de resíduos sanitários, de atividades comerciais e manufatureiras, 19


poluição urbana difusa e com habitações nas margens se intensificando no período Industrial (século XVIII ao XIX) (BAPTISTA e CARDOSO, 2013). No período da Revolução Industrial na Europa (século XVIII ao XIX), a disponibilidade de água era um elemento determinante para a definição da localização das industrias, surgindo assim a sua concentração próxima aos rios. Para atender a esta nova economia os rios passaram por obras de correção e regularização com consequente poluição devido aos despejos industriais (COY, 2013).

O período do final do século XIX até o início do século XX foi marcado pelo Higienismo ou Sanitarismo originário na Europa e também difundido no Brasil, nas cidades que passaram por um processo de grande crescimento populacional acelerado sem provimento de infraestrutura anterior (GORSKI, 2010). Foi conhecido pela preocupação com a propagação de doenças e com locais de condições sanitárias precarias. Tinha como princípios melhorar a salubridade da cidade através: do saneamento com a construção de sistemas de esgotamento sanitário, drenagem pluvial e água potável com tubulações separadas, controle de enchentes e de doenças de veiculação hídrica por meio da rápida evacuação das águas pluviais e esgoto; sistema de rede de tubulação subterrânea; e a canalização1, retificação2 dos rios e córregos (BAPTISTA e CARDOSO, 2013) (MURILHA, 2011). Estes princípios higienistas, presentes até os dias atuais, com certas mudanças devido aos avanços científicos e tecnológicos, auxiliaram na melhori da salubridade urbana, consequentemente reduzindo as taxas de mortalidade nas cidades, permitindo o intenso crescimento da população mundial a partir do século XX. Com este crescimento populacional e o desenvolvimento das cidades, a degradação da água se tornou mais evidente devido o considerável

Canalização de rios – De acordo com o Projeto Manuelzão (disponível no portal http://www.manuelzao.ufmg.br/) a canalização é a transformação dos rios em grandes canais revestidos por materiais resistentes como pedra e concreto, podendo ser coberto ou à céu aberto. 2 Retificação de rios – Segundo a Fundação Estadual do Meio Ambiente (2006, p. 25) é o “processo pelo qual os rios são conduzidos para canais artificiais, podendo ser revestidos ou não, de forma predominantemente retilínea”. 1

20


despejo de esgotos, resíduos, poluição difusa3, canalização e retificação dos rios/ canais e também devido a ocupação desordenada de leitos naturais (BAPTISTA e CARDOSO, 2013). De acordo com Tucci (2008), o Brasil, de forma geral, ainda está no período da fase higienista por ainda não possuir tratamento de esgoto, transferência de inundação na drenagem e por não apresentar o controle dos resíduos sólidos. Atualmente verifica-se no Brasil ao menos dois tipos de situações urbanas mais evidentes: uma se configura em áreas formais, ocupadas através de planejamento, com boa infraestrutura, ruas e avenidas ao longo dos canais canalizados/retificados com interceptores de esgoto, como mostra a Figura 3; e o outro são as áreas informais, que em uma visão geral, são áreas ocupadas de forma desordenada, com população em situação precária, com baixa infraestrutura, assentadas em leitos não revestidos, que recebem de forma irregular esgoto, formando um problema tanto social como ambiental – ver figura 4. Figura 3: Canal da Costa, Vila Velha - ES: Canal retificado e canalizado com concreto, margeado por vias principais.

Fonte: Gazeta Online, Acessado em 2016

Poluição difusa – “se dá pela ação das águas da chuva ao lavarem e transportarem a poluição nas suas diversas formas espalhadas sobre a superfície do terreno (urbano ou rural) para os corpos receptores. A poluição difusa alcança os rios, lagoas, baías, etc., distribuída ao longo das margens, não se concentrando em um único local[…]” (PRODANOFF, 2005) 3

21


Figura 4: Canal Guaranhuns, Vila Velha - ES: Canal retificado sem leito revestido, com ocupação e despejo de esgoto irregulares

Fonte: Acervo da Autora, 2015.

Segundo Sampaio (2015) “o que antes era um convívio necessário e útil, da cidade com seu rio, passou a ser o retrato do desequilíbrio ambiental[…]”, ou seja, o desenvolvimento urbano das cidades auxiliou com a perda gradual da relação do rio como elemento da paisagem urbana, também distanciando a sua relação harmoniosa com as pessoas, se tornando apenas um espaço poluído com a função de drenagem e saneamento da cidade. Para ocorrer a reaproximação entre a relação do rio com a paisagem urbana e as pessoas, deve-se surgir a preocupação com o fim da degradação ambiental e da deterioração dos rios. Internacionalmente já existe essa preocupação como pode ser visto nos projetos de reaproximação com os rios, a exemplos do rio Sena em Paris – ver figura 5 – e o Tibre em Roma (SAMPAIO, 2015).

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Figura 5: Fotografia recente do Rio Sena, Paris, após projeto de revitalização.

Fonte: Egali.com.br. Acessado em 2016.

Diante disto, os projetos futuros de planejamento urbano devem pensar nesta reaproximação dos rios, visando criar uma nova realidade para a cidade. Evitando-se repetir a degradação ocorrida no passado, envolvendo o rio como parte do desenho urbano e removendo sua imagem negativa de algo poluído e degradado. Retomand seu potencial como elemento da paisagem e de múltiplos usos como possuía em seus períodos anteriores às intervenções sanitaristas.

2.1

REAPROXIMAÇÃO DO RIO COM A CIDADE

A preocupação pela reaproximação dos rios com a cidade começa a partir da década de 1970, em âmbito internacional, quando começam a surgir preocupações com as melhorias nas condições ambientais. Segundo Tucci (2008), este momento pode ser dividido em: fase denominada “Corretiva”, do período de 1970 a 1990, e a fase do “Desenvolvimento Sustentável” iniciada a partir da década de 1990. 23


A fase Corretiva (1970 a 1990) é o momento de transição entre o período do higienismo ao do desenvolvimento sustentável e é voltado para o controle dos impactos ocorridos na fase higienista. Sobre esta fase Tucci (2008) destaca que para controlar o impacto da fase higienista foram criadas diversas legislações regulatórias. A aprovação da lei “Clean Water act” (Lei de água limpa) nos Estados Unidos tornou-se um marco importante para época pois previa que todos os fluentes deveriam ser tratados com as melhores tecnologias existentes para a recuperação e conservação dos rios. Esta fase permitiu uma melhora nas condições ambientais, evitando a proliferação de doenças e a deterioração dos cursos d’águas devido aos grandes investimentos que possibilitaram o tratamento dos esgotos domésticos e industriais e consequentemente a recuperação parcial da qualidade água dos rios e lagos. Notou-se também que se tornou insustentável a retificação e canalização dos rios naturais como forma de controle de enchentes com o escoamento rápido das águas pluviais, procurando revisar os procedimentos e utilizar sistemas que possam amortecer os impactos desta atividade (TUCCI, 2008). Esta forma de controle de enchentes se mostra de pouca eficiência em relação ao impacto causado e apresenta certa fragilidade socioambiental com a mudança drástica dos rios, remoção da área verde das margens substituídas por concreto e também comprometendo a relação do homem e natureza pelo fato de se tornar impraticável atividades que ocorriam antes da canalização como nadar e pescar (COSTA, 2006). Já a fase do Desenvolvimento Sustentável, no período da década de 1990 até os dias atuais, é marcada por grandes investimentos voltados para o desenvolvimento sustentável urbano com o tratamento e escoamento das águas pluviais e dos efluentes, preservando o sistema natural e, como consequência, possibilitando a conservação ambiental e qualidade dos cursos d’águas (TUCCI, 2008). Segundo Friedrich (2007) esta fase é marcada mais pela ideia da prevenção que da cura, com a elaboração de diversas legislações e instrumentos importantes

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para a gestão dos recursos hídricos tanto no Brasil como nos países da Europa e nos Estados Unidos. Paralelamente a estas fases do desenvolvimento da água ocorreram grandes eventos mundiais que objetivavam as discussões sobre os principais problemas ambientais. Observa-se no quadro síntese a seguir, elaborado por Gorski (2008), a linha do tempo que mostra a relação entre os eventos mundiais e suas recomendações para a preservação dos recursos hídricos e a evolução dos instrumentos e legislações brasileiras, que incorporam a bacia hidrográfica como unidade de preservação, planejamento e gestão.

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Quadro 1: Linha do tempo em relação aos eventos mundiais relacionados com a legislação brasileira e a preservação dos recursos hídricos.

Fonte: GORSKI (2008, p.79).

Estes eventos mundiais focados nas questões ambientais tiveram início na fase corretiva em 1972 com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo (Suécia) que, segundo Gorski (2008), consolidou as bases da moderna política ambiental, criando o Manifesto Ambiental que tinha como objetivo guiar a população mundial para a preservação e a melhoria do 26


meio ambiente. Este documento influenciou o Brasil na criação, em 1973, da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), vinculada ao Ministério do Interior – que em 1989 se tornou o Ministério do Meio Ambiente. Ainda no final da fase corretiva, em 1977, ocorreu a Conferência de Mar del Plata, na Argentina. Foi a primeira voltada para discussões relacionadas aos problemas de qualidade e disponibilidade da água pensando na proteção e recuperação dos mananciais; controle da poluição hídrica; aplicação práticas ambientais mais adequadas e também no papel da água no crescimento econômico. No Brasil, em 1984, foi criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) - órgão responsável pela deliberação e consulta do sistema nacional do meio ambiental. Iniciando assim a evolução dos comitês das bacias hidrográficas e em 1986 estabelecendo uma classificação das águas de acordo com seus usos predominantes. Em 1988, quando promulgada a Constituição Federal, tornou-se responsabilidade dos estados e da União a criação de seus próprios sistemas de gestão dos recursos hídricos existentes (GORSKI, 2008). Com o início da fase de desenvolvimento sustentável ocorre a Conferência de Dublin, Irlanda, em 1992, na qual foi reconhecida a água como recurso finito. No qual deve-se avaliar formas de seu aproveitamento e gestão em um processo de participação do governo com a sociedade civil e as comunidades envolvidas. Foram criadas recomendações e um programa de ação “A Água e o Desenvolvimento Sustentável” explicando a necessidade da conservação e reaproveitamento da água; proteção dos sistemas aquáticos; a existência de conflitos geopolíticos derivados da posse das bacias hidrográficas; a relação entre a água e a diminuição da pobreza e das doenças; do desenvolvimento sustentável entre outros (GORSKI, 2008). Neste mesmo ano ocorreu a Cúpula da Terra no Brasil reunindo certa de 178 nações que pensaram na relação entre o meio ambiente e o desenvolvimento com a necessidade do desenvolvimento sustentável. O resultado foi um dos documentos mais importantes a respeito: a Agenda 21, um plano de ação de 40 anos para afastar o mundo do atual modelo insustentável de crescimento econômico direcionando para o modelo de desenvolvimento sustentável com atividades que protejam e renovem os 27


recursos ambientais. Tendo este documento um capítulo inteiro elencando diretrizes para o manejo dos recursos hídricos “Proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos: aplicação de critérios integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos recursos hídricos” (ONUBR). Ainda no Brasil, em 1997, foi criado a Lei das águas (lei federal nº9.433/97) que segundo Portal Brasil (2014) busca assegurar que a água é um bem público e a disponibilidade da água, de qualidade adequada e promover a utilização racional e integrada dos recursos hídricos. Internacionalmente, na França, em 1998, ocorreu a Conferência Internacional sobre a Água e Desenvolvimento Sustentável que estabeleceu a gestão integrada por bacia conciliada com a proteção dos ecossistemas e a satisfação das necessidades hídricas; o movimento contra o desperdício de água; a necessidade da participação da sociedade civil nas questões de proteção dos recursos hídricos; o princípio de que a água não tem preço mas possui um custo e a noção da cobrança dos recursos hídricos por meio da ideia do poluidor deverá ser o pagador (GORSKI, 2008). Em 2000 aconteceu o II Fórum Mundial da água em Hala (Holanda) que buscava proporcionar segurança hídrica para certificar o desenvolvimento da humanidade e definia que as problemáticas com recursos hídricos como ameaça de poluição e uso inadequado deveriam ser administradas com os fatores de valorização econômica, social, cultural e ambiental em conjunto com a partes interessadas e eficazes para o desenvolvimento de políticas urbanas (GORSKI, 2008). Neste mesmo ano no Brasil foi criado a Agência Nacional de Água (ANA) que atua com implementação, operacionalização, controle e a avaliação dos instrumentos de gestão elaborados pela Política Nacional de Recursos Hídricos. Trabalha também na regulação e no monitoramento de rios e reservatórios, no planejamento dos recursos hídricos, desenvolvimento de programas e projetos e fornece informações que visam estimar a gestão adequada e o uso racional e sustentável dos recursos hídricos (ANA).

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O decorrer da evolução das legislações da fases corretiva desenvolvimento sustentável contribuíram para o surgimento de projetos e planos que buscam a preservação e reaproximação dos rios com a cidade.

Estas novas ideias

almejam a integração dos cursos d’águas com a paisagem urbana pensando também nas questões sociais, econômicas e ecológicas (GORSKI, 2008). No contexto internacional, nos países desenvolvidos, esses projetos de integração com a água tiveram início a partir da década de 1990. Já no Brasil, a reaproximação com os cursos d’águas ainda está começando, apesar da existência de diversas legislações focadas na sua preservação. Esta reaproximação pode ocorrer com projetos de gestão e recuperação dos rios e suas margens e/ou com a criação de grandes parques urbanos ou parque lineares.

29


3

PARQUE LINEAR COMO ELEMENTO DE REAPROXIMAÇÃO ENTRE O RIO E A CIDADE

O parque linear corresponde à uma tipologia de parque urbano que, de acordo com Kliass (1993) e Ferreira (2007) são como espaços públicos, mas de dimensões relevantes com predominância e valorização dos elementos naturais, destinados à espaços de convivência e lazer entre as pessoas e a natureza amenizando os problemas das cidades e contribuindo para a sustentabilidade urbana. O conceito de parque linear é consideravelmente novo, todavia, no século XIX surgiram projetos em países da Europa que poderiam se enquadrar neste conceito, como o plano de Birkenhead Park, na Inglaterra, elaborado por Joseph Paxton, em 1843, que propunha a ideia de parque contemplando os aspectos ambientais dentro do sistema viário. Além deste, o plano para a cidade de Berlim, Alemanha, elaborado por Lenné entre 1840 e 1850 buscava transformar seu sistema de canais em um elemento urbano e natural na cidade, criando um sistema de comunicações dos canais com o rio Spree conectando a um conjunto de parques como o parque Tiergarten, buscando integrar através da valorização das margens de forma estética e funcional, soluções de navegabilidade e drenagem, como pode ser visto na figura 6 o desenho do canal do rio Spree cortando a cidade de Berlim próximo ao parque Tiergarten, e na figura 7 mostra esquemas, elaborados por Lenné, de como deveria ocorrer a intervenção nos canais existentes (FRIEDRICH, 2007).

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Figura 6: Desenho do rio Spree canalizado e próximo as margens o parque Tiergarten - Plano para a cidade de Berlim, por Lenné entre 1845 a 1850.

Fonte: SARAIVA (1999) apud FRIEDRICH (2007); Figura 7: Esquemas de intervenção nos canais - Plano para a cidade de Berlim, por Lenné entre 1845 e 1850.

0020= Fonte: SARAIVA (1999) apud FRIEDRICH (2007);

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Segundo Little4 (1990) e Smith e Hellmund5 (1993) apud Giordano (2004), o arquiteto paisagista Frederick Law Olmsted introduziu, em 1865, o conceito parkways – criação de caminhos que se conectavam entre parques, espaços abertos e suas vizinhanças. Olmsted buscava com o desenho do parque urbano na criação dos espaços abertos a solução para o combate às habitações insalubres e problemas de saúde das cidades introduzindo: a insolação, ventilação e áreas abertas na organização do tecido urbano desmembrando-o. Também usava a ideia de continuidade para diminuir os problemas da distância entre o trabalho e a moradia propondo extensões de serviços urbanos da cidade até o subúrbio. (FRIEDRICH, 2007) Entre os anos de 1887 a 1895, Olmsted e o arquiteto inglês Calvert Vaux projetaram o Emerald Necklace em Boston, considerado como a maior realização de parques lineares, compondo um arco de 7,2km de extensão ao redor da cidade. Este arco constitui em um conjunto de parques na zona urbana integrado a um sistema de espaços verdes conectados às margens do rio Charles – ver figura 8(FRIEDRICH, 2007). Figura 8: Parque Emerald Necklace, projetado entre 1887 e 1895.

Fonte: Porte places <http://www.portplaces.com/emerald-necklace >. Acessado em: maio 2016.

4

LITTLE, Charles E. Greenways of America. The John Hopkins University Press, Baltimore, 1990. 5 SMITH, D. S. & HELLMUND, P. L. Ecology of Greenways. Minneapolis, MN: University of Minnesota Press. 222p., 1993.

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A partir do século XX os projetos de parques agregaram elementos de uso coletivo criando espaços verdes para promover o contato físico e ativo com a natureza, sofrendo mudanças no decorrer do tempo. Já na década de 1950 passou-se a valorizar características cênicas com ambientes agradáveis e variados, despertando o interesse dos usuários. Nos anos 1970 desenvolvemse parques mais dinâmicos com diversas atividades. A partir da década de 1980, com o início do movimento sustentável, busca-se a melhoria da qualidade físico e ambiental do meio urbano com a requalificação e recuperação das áreas naturais degradadas das cidades, criando um sistema de áreas verdes com percursos para pedestres e ciclistas O parque linear apresenta-se assim como um elemento auxiliardor para o planejamento e gestão das áreas verdes e das marginais aos cursos d’águas, tendo como princípios manter a permeabilidade do solo das margens dos rios, permitindo a infiltração e vazão da água, sendo uma alternativa para combater a canalização e retificação dos cursos d’água, buscando a harmonia entre os aspectos ambientais, urbanos com as exigências da legislação e com as necessidades existentes das áreas intervindas (FRIEDRICH, 2007).

3.1

O PARQUE LINEAR ATUALMENTE

Segundo Ahern (1995), os parques lineares da atualidade são áreas planejadas de configuração linear desenvolvidas para diversos fins como o ecológico, cultural, estético entre outros que conciliam com o uso sustentável do solo. Atualmente os parques lineares possuem características importantes que, de acordo com Ahern (1995) e Mora (2013), são: essencialmente de forma linear; pode ser integrador tendo a função de conexão, circulação e deslocamento com meios de transporte não motorizados como a pé e bicicletas com áreas não lineares; fazem parte da paisagem urbana e são capazes de criar conexões entre diferentes elementos da paisagem; são áreas multifuncionais devido a possibilidade de possuir uma diversidade de usos espaciais e funcionais ligados 33


às necessidades do meio que está inserido; buscam promover a sustentabilidade pensando na relação harmoniosa da proteção ambiental em conjunto com o desenvolvimento econômico e urbano das cidades; e por final é considerado como um elemento do planejamento urbano e da paisagem, ou seja em sua elaboração deve ser pensado em uma forma de integração e articulação compatível com o seu entorno urbano para que possa exercer plenamente todos os elementos citados anteriormente. As multifuncionalidades que os parques lineares possibilitam a existência, ditas anteriormente, podem ser divididas em quatro funções gerais: ambiental, qualidade de vida, crescimento econômico e político social como pode ser visto no quadro 02 a seguir (MORA, 2013; SCALISE, 2002). Para que exista estas funções na implantação do parque linear deve-se elaborar um planejamento da cidade que envolva não somente o espaço do parque, mas toda a região do entorno que poderá ser impactada pela intervenção. Levantando questões urbanas como mobilidade, drenagem, infraestrutura e sociais, pois esta intervenção pode afetar a sua população do entorno de formas positivas e negativas. Quadro 2: Multifuncionalidade dos parques lineares.

Fonte: Mora (2013) adaptado pela autora.

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A função ambiental (1) possui potencial de preservação das áreas de fundos de vales nas cidades, contribuindo para o saneamento, limpeza das superfícies, fortalecendo a estrutura dos canais e reduzindo os impactos das inundações; preservação das áreas verdes urbanas que em sua maioria são dispersas e ignoradas pela cidade; e das áreas já protegidas com seus ecossistemas podendo criar corredores ecológicos (MORA, 2013). Com a proteção das áreas verdes pode ocorrer melhoria na qualidade do ar da região e, consequentemente, melhorar a função da qualidade de vida (2) da população. Na questão da função da qualidade de vida os parques auxiliam na realização de atividades voltadas para a saúde física e mental da população com espaços esportivos, recreação, cultural (MORA, 2013). E também auxiliam na possibilidade de circulação sendo uma nova forma, mais agradável, de chegar a diferentes lugares criando ligações com o trabalho, espaços de lazer, escola, áreas culturais utilizando modais não motorizados (SCALISE, 2002). Figura 9: O parque linear na função da qualidade de vida com espaços arborizados e usado como elemento circulação para pedestres e ciclistas.

Fonte: Parque linear, disponível em < http://www.parquelinear.com.br/>.

Em relação à função de crescimento econômico (3), os parques lineares podem proporcionar um dinamismo na cidade, pois beneficiam a qualidade urbana de várias áreas da cidade, através da criação de diversos usos que consequentemente podem geram uma revalorização do solo e o surgimento de novas atividades econômicas no seu entorno, sendo possibilidade de

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crescimento econômico compensadora de investimentos (MORA, 2013; SCALISE, 2002). Por fim, a função político e social (4) que relaciona o parque como uma área que permite a uma possível inclusão de todas as classes sociais através da conexão entre diversos bairros de diferentes características (MORA, 2013). Apesar de possibilitar o acontecinemnto de cestas problemática sociais como: a segregação social no decorrer do parque que pode se dividir em setores espacialmente de acordo com a classe social que o bairro está inserido; e com a possível gentrificação que pode ser entendida, segundo Bidou-Zachariasen, como a revalorização de áreas incentivando seu crescimento econômico, acarretando no aumento do valor dos imóveis do entorno e de seu custo de vida atraindo a população de renda mais alta e consequentemente impossibilitando que certa parcela da população continue morando na região devido a sua renda inferior, criando-se assim uma forma de não pertencimento por parte desta população, que se vê obrigada a mudar para outras áreas da cidade, deixando de aproveitar a melhoria urbana. Para que não ocorram estas problemáticas deve-se pensar, durante o planejamento do parque linear e de seu entorno, medidas que evitem o surgimento da segregação e que minimizem os efeitos que podem surgir com a gentrificação, pois não existe uma forma de impedir definitivamente podendo ocorrer a qualquer momento com o decorrer do tempo. De acordo com Mora (2013), o desenvolvimento de projetos de parques lineares no Brasil está diretamente associado à função ambiental com a preservação dos cursos d’águas, que atravessam as cidades, buscando a solução de problemas com a drenagem urbana e revertendo impactos sobre as águas. Nesta questão do manejo das águas pluviais e drenagem, o parque linear possui um papel importante por garantir a permeabilidade das margens dos cursos d’águas, promovendo a infiltração e a vazão lenta da água durante as inundações, apresentando como uma forma alternativa mais barata e eficaz que a canalização dos córregos (BARBOSA, 2010; FRIEDRICH, 2007).

36


Tucci e Genz6 (1995) apud Barbosa (2010) apontam que para o controle de enchentes, diversos países utilizam de áreas temporárias para retardar a vazão das águas, controlando as cheias. Esta medida pode ser contemplada nos parques lineares com a utilização das bacias de estocagem. As bacias de estocagem são um alargamento dos canais ou tubulações de drenagens, tendo a função de depositar a água durante os períodos de chuva, impedindo o transbordamento de córregos e inundações das áreas vizinhas. Durante o período de estiagem, estas bacias podem possuir outros usos como campos esportivos, parques ou áreas de lazer para a comunidade do entorno, sendo, assim, interessante combiná-la com espaços verdes (MASCARÓ, 1997). Entretando os canais que possuem bacias com outros usos, não devem ser poluídos, pois quando ocorrer a estiagem há riscos de acúmulo de resíduos. Figura 10: Bacia de estocagem de água pluvial.

Fonte: Mascaró, 1997 p.199

TUCCI, C. E. M.; GENZ, F. Controle do impacto da urbanização. In: Tucci, C. E. M.; Porto, R. L.; Barros, M. T. (orgs.) Drenagem urbana. Porto Alegre: ABRH/Editora da Universidade/UFRGS, 1995. 6

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Logo, os parques lineares possuem grande potencial de implantação nas cidades, pois buscam valorizar e resgatar os elementos naturais da paisagem da cidade, conservando suas áreas verdes e cursos d’águas degradados, trazendo vitalidade para o local com atividades de lazer, esporte, que valorizam o passeio não motorizado com os pedestre e ciclistas, permitindo, assim, a integração da população do entorno e uma melhoria na sua qualidade de vida. Ainda, também auxilia na qualidade urbana contribuindo de forma positiva para a mobilidade não motorizada e para a drenagem urbana no manejo das águas pluviais. Segundo Friedrich (2007) para que a sua implantação proporcione todos os aspectos ditos anteriormente, a proposta deve estar inserida em uma política pública a nível governamental articulada com a iniciativa privada. Sendo de grande importância para seu melhor desempenho sociocultural a participação de todas parcelas da sociedade na sua concepção (SCALISE, 2002). Ao considerar a criação de um Parque Linear no canal de Guaranhuns, deve-se pensar na promoção das quatro multifuncionalidades citadas por Mora (2013) para que ocorra plenamente a reaproximação do Canal com seu entorno.

3.2

APRESENTAÇÃO DO PROJETO BEIRA-RIO, PIRACICABA, SÃO PAULO – BRASIL

Para o presente trabalho destaca-se um projeto existente no Brasil que possui diretrizes focadas na recuperação, integração e preservação do curso d´água no meio urbano, visto a importância destes para a evolução da humanidade. Este projeto é o Beira Rio, localizando em Piracicaba, São Paulo – Brasil O Projeto Beira-Rio pode ser considerado um dos projetos pioneiros na recuperação de rios urbanos no Brasil (GORSKI, 2008). Para a elaboração desta análise foi usado o portal online do Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba7 (IPPLAP).

Projeto Beira – Rio. Disponível: <http://ipplap.com.br/site/projetos-2/projeto-beira-rio/>. Acessado em: junho 2016. 7

38


O projeto foi desenvolvido pela cidade de Piracicaba, São Paulo, para às margens do seu rio de mesmo nome. A relação do rio Piracicaba com a cidade é de grande valor cultural e de identidade, por existir diversas manifestações que exaltam o corpo d’água expressas em construções históricas, paisagens, na economia, na sociedade, nas artes e no folclore. Devido a isto, foi constatado que a necessidade peral reaproximação da relação harmoniosa do rio com a cidade, sendo também fundamental para a construção de uma cidade sustentável, a preservação de seus recursos e inserção social. Seu projeto foi iniciado em 2001, pela Prefeitura do Município de Piracicaba, a partir da elaboração de um diagnóstico antropológico participativo chamado “A cara de Piracicaba”, que buscava uma interpretação conjunta dos aspectos ambiental, social e econômica. Nesta primeira fase de projeto foi notado a necessidade do reestabelecimento da margem do rio como espaço público, e da prevalência do percurso a pé no espaço da cidade. A segunda fase do projeto foi a elaboração do Plano de Ação Estruturador (PAE), criado com base no “A cara de Piracicaba” tem como princípio a sustentabilidade por meio da aplicação de conceitos do Planejamento e desenho ambiental, tendo o rio como eixo de desenvolvimento sustentável. Além do desenvolvimento territorial tendo como foco a relação do rio com a cidade. O projeto possui seis princípios norteadores para o projeto: Preservação da água doce priorizando o saneamento das águas do rio, regulando os lençóis freáticos conjuntamente com o plano de despoluição; Cinturão meândrico8 como faixa de proteção, que busca preservar, recuperar e conservar a faixa territorial que envolve o cordão meândrico do Rio Piracicaba; Ordenação urbana a partir dos rios, estruturando os projetos urbanísticos usando o rio como ponto de partida; O rio como caminho, buscando transformar o rio em via de comunicação com a implementação da navegação fluvial, valorizando o

CINTURÃO MEÂNDRICO – “faixa que abarca o desenho natural de um rio em seu vale, absorvendo todos os leitos do mesmo em relação ao regime de chuvas de uma dada região. ” (PROJETO BEIRA RIO, 2001) 8

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turismo e lazer na região; Conservação da Paisagem, preservando a paisagem construída usando diretrizes de gabarito e densidade ao longo da faixa de proteção através do novo Plano Diretor; Corredor eco social, criação de um corredor com a função de reaproximação do homem com a natureza, através de caminhos percorridos a pé. Para a realização do projeto dividiu-se a orla urbana do Rio Piracicaba em oito trechos de acordo com seus aspectos característicos como morfológicos, histórico e social. Como pode ser visto no mapa abaixo a divisão dos oito trechos existentes. Mapa 1: Plano de Ação Estruturador - Projeto Beira Rio

Fonte: Projeto Beira-rio - IPPLAP.

Através da divisão foi possível a elaboração de diretrizes específicas para cada trecho.

Este projeto teve como foco o parque linear, mas também realizou intervenções no seu entorno imediato. 40


A implantação do projeto promove a reaproximação do rio com as pessoas através da implantação de áreas de lazer, convivência social e de eixos de passeio em sua Orla (Figura 11 e 12). O projeto utiliza pavimentação apropriada para a relização de atividades diversas. Seu paisagismo busca tornar os espaços agradáveis

para

a

caminhada

e

também

permanência,

através

do

sombreamento das árvores e da arborização, promovendo uma integração da pessoa com o meio ambiente. Figura 11 e 12: Área de lazer e espaços de caminhadas arborizadas na Orla do Rio - Projeto Beira-rio.

Fonte: Projeto Beira-rio - IPPLAP.

Para gerar uma maior aproximação da pessoa com o rio, os eixos de circulação de pedestres foram criandos com níveis diferentes, que são acessados através de escadarias e rampas (Figura 13). Esta solução cria a possibilidade de a pessoa escolher a caminhada próxima às margens do rio, no nível abaixo da rua, ou distante do mesmo ao nível da rua. Nesta circulação mais próxima do rio, os visuais são mais valorizados pois os canteiros e árvores direcionam o olhar do pedestre para a paisagem do rio como pode ser visto na figura 12 acima e na figura 14.

41


Figura 13 e 14 : Escadaria de acesso ao nível próximo ao rio e eixo de circulação ao nível próximo ao rio.

Fonte: Projeto Beira-rio – IPPLAP.

Além dos eixos de circulação e lazer na Orla o rio, a proposta conta com a remodelação das calçadas e ruas que margeiam o parque para incentivar o uso do rio como caminho (Figura 15 e 16). Nota-se que as calçadas são amplas e sombreadas atraindo a circulação de pedestres para o local. Figura 15 e 16: Vias que margeiam o parque remodeladas, com calçadas amplas e sombreadas para promover uma circulação agradável para os pedestres

Fonte: Projeto Beira-rio – IPPLAP.

Há trechos do Parque Lienar no qual há uma integração do parque com o seu entorno como na Rua do Porto, transformando-a em uma via de pedestres, e no Largo dos Pescadores remodelando-o em espaço público ampliado com a via no nível da calçada (Figura 17 e 18). Esta integração permite a conexão maior com o parque, pois se tornam atrativos turísticos para a área devido a variedade de comércios, bares e restaure intensificando a circulação de pessoas na região do das margens do rio.

42


Figura 17 e 18: Rua do Porto transformada em via de pedestres. Largo dos Percadores transformado em espaço público com via no nível da calçada e implantação de balizadores

Fonte: Projeto Beira-rio – IPPLAP.

Para melhor circulação entre os dois lados de suas margens, o projeto possui ponte margens do rio “Ponte Pênsil” (figura 19), nota-se que possui uma largura consideravel a circulação de mais de uma pessoa ao mesmo tempo, e sua inclinação permite a acessibilidade. Seu acesso é através de um passeio agradável para o pedestre, bastante arborizando propociando sombreamento. Figura 19: Espaço público com via no nível da calçada e implantação de balizadores, Trecho Largo dos Pescadores - Projeto Beira-rio.

Fonte: Projeto Beira-rio – IPPLAP.

Na questão de preservação e recuperação do Rio, foi realizada a recomposição da mata ciliar em toda a extensão do rio. Ao osbservar a figura 20, nota-se a implantação da mata ciliar a partir do eixo de circulação mais próximo às margens do rio.

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Figura 20: Recomposição da mata ciliar, Requalificação da Rua Porto – Projeto Beira-Rio.

Fonte: Projeto Beira-rio – IPPLAP

Este projeto é um caso brasileiro que busca a recuperação do rio e sua integração com as pessoas de sucesso. Apesar de não estar finalizado, com trechos faltantes, nota-se que já ocorreu uma reaproximação da população com o rio. Para sua viabilização foram recebidos patrocínios de empresas privadas, pois tais projetos de grande porte necessitam de verbas altas, como Friedrich (2007) aponta, para a implantação de um projeto desta escala deve-se estar inserida em uma política pública em conjunto da iniciativa privada. Nota-se que este projeto apresenta as multifuncionalidades (Quadro 2) apontados por Mora (2007) a ambiental com a recuperação e preservação do rio; a melhoria da qualidade de vida da população do entorno; a questão politico social com o fortalecimento da identidade e da história do rio e o crescimento econômico gerando novas atividades e revitalando a imagem da cidade. Seu desenho com a mudança de níveis de circulação promoveu alternativas de se caminhar no parque e a maior aproximação das pessoas com o rio. O projeto é bem definido devido as diretrizes principais que norteiam a realização do projeto. A divisão do projeto em trechos possibilitou na criação de identidades diferentes para cada trecho e na construção do Parque em etapas. Também, auxilia na compreensão do projeto, devido a isto, este médoto foi adotado para a elaboração do Diagnóstico canal Guaranhuns, e também na criação do parque. 44


4

CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO – CANAL DE GUARANHUNS, VILA VELHA

Esse capítulo tem como objetivo apresentar o Canal de Guaranhuns e seu entorno imediato, no qual será realizado a proposta de recuperação e integração de suas margens através da criação do parque linear. Através desse capítulo será possível conhecer sobre a situação atual do canal como localização, perfil socioeconômico dos bairros do entorno, aspectos físico-ambientais e também um breve histórico de como foi a formação do canal até os dias atuais.

45


4.1

LOCALIZAÇÃO

O Canal de Guaranhuns (ver Mapa 2) é um canal poluído a céu aberto de aproximadamente 2,8km de extensão que transpassa os bairros Araçás, Jardim Guaranhuns, Guaranhuns, Jockey de Itaparica, Praia das Gaivotas, Nova Itaparica, Ilha dos Bentos, Santa Mônica e Vila Nova, no município de Vila Velha, no estado do Espírito Santo. Mapa 2: Mapa de localização da área de estudo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

46


4.1

CONTEXTO HISTÓRICO DO CANAL DE GUARANHUNS E SEU ENTORNO

Segundo Beltrame (2015) o Canal de Guaranhuns, surgiu através de duas intervenções marcantes sucetidas no Rio da Costa (atualmente conhecida como canal da costa) que buscavam evitar as cheias do Rio Jucu que inundavam o centro de Vila Velha. O Rio da Costa é uma ramificação do Rio Jucu que atravessa a cidade de Vila Velha ate chegar ao mar. Além do Rio da Costa existiam também o Rio Marinho e o Rio Aribiri como pode ser visto no mapa 3. Mapa 3: Rios da cidade de Vila Velha.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

O rio da Costa teve sua primeira intervenção para evitar as inundações na cidade de Vila Velha em 1958, com a construção do Dique9 Guaranhuns, mas devido a uma grande enchente, em 1960, atingiu seu nível máximo de água, rompendose, tendo como consequência uma grande inundação em Vila Velha, como pode ser visto na Figura 21 (BELTRAME, 2015).

9

Barragens feitas de materiais diversos (terra, areia, concreto, entre outros) com a função de conter ou desviar a invasão da água do rio ou mar em determinado local.

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Figura 21: Inundação em Vila Velha na década de 1960.

Fonte: Morro do Moreno - http://www.morrodomoreno.com.br/materias/diluvio-em-vila-velha.html.

A segunda intervenção foi a criação do dique de Santa Inês em 1962, que marcou o desmembramento do Rio da Costa com a formação do Canal da Costa e o Canal de Guaranhuns. Este dique foi construído com o objetivo de criar uma maior proteção, além da reconstrução do dique de Guaranhuns, para a área urbana do Centro de Vila Velha. Está localizado na Avenida João Mendes, próximo aos bairros Coqueiral de Itaparica, Praia das Gaivotas e Santa Mônica, visto nas Figura 22 (BELTRAME, 2015). Figura 22: Imagem de satélite do dique de Santa e Inês demarcado de amarelo.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016

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Junto com a construção do dique de Santa Inês ocorreu também a canalização e retificação dos canais de Guaranhuns e da Costa, conectando-os através da canalização coberta. Ao oberservar o mapa 4, nota-se a situação do Rio da Costa após as intervenções ocorridas a partiar da década de 1960: com os diques de Guaranhuns e Santa Inês; a formação dos canais de Guaranhuns e da Costa, à céu aberto; e os trechos que conectam os canais canalizados cobertos (BELTRAME, 2015). Mapa 4: Mapa de evolução do Rio da Costa.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

O Canal Guaranhuns foi um elemento marcante na evolução urbana de Vila Velha, como limitador na formação dos bairros da região do seu entorno, separando bairros de um lado e do outro do canal, como pode ser observado na Figura 23. Ao menos uma das fronteiras dos bairros foi demarcada segundo o canal.

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Figura 23: O Canal de Guaranhuns (marcado em vermelho) em relação ao seus bairros do entorno

Fonte: Elaborado pela autora, 2016

O crescimento urbano e populacional de Vila Velha iniciou-se a partir da década de 1960-70, juntamente com o a industrialização no município e os surgimentos dos conjuntos habitacionais. O processo de industrialização e a construção e pavimentação das vias estruturantes como a Rodovia Carlos Lindenberg, em 1951, a Avenida Luciano das Neves, em 1970, a Rodovia do Sol e a Terceira Ponte, em 1980, impulsionaram a expansão urbana da cidade permitindo uma ocupação ao sul e a oeste do município com pouco ou sem qualquer planejamento (VILA VELHA, 2011, 2013; CHALHUB, 2010).

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Figura 24: Foto aérea de Vila Velha nos anos 1970, pode-se observar que a ocupação existente é predominante na região da Praia da Costa e Centro de Vila Velha.

Fonte: Morro do Moreno. Disponível em: < http://www.morrodomoreno.com.br/galerias/fotos-antigas.html>

Entretanto, o crescimento urbano na região do canal de Guaranhuns se iniciou entre as décadas de 1970-80. Na imagem de satélite da década de 1970 (Figura 25) nota-se a existência do dique Santa Inês (marcado em amarelo) e o canal já retificado (marcado em azul), com diversos córregos em seu entorno e sem ocupação em suas margens. Neste período, existia somente ocupação na região próxima à praia podendo ser vista através da demarcação de loteamento (marcado em vermelho).

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Figura 25 e 26: Imagem de satélite da área do Canal de Guaranhuns e seus entorno no ano de 1970 e 1978, respectivamente.

Fonte: Ver a cidade. Disponível em: < http://www.veracidade.com.br/>

Já na imagem de 1978 (Figura 26) observa-se, de acordo com o desenho de demarcação de lotes (marcado em verde) e movimentação de terra (marcado em laranja), que já existem áreas ocupadas e que serão ocupadas na região. Nesta imagem pode-se visualizar a ocupação na região noroeste com os bairros Novo México, Jardim Asteca, Vila Nova e na região próxima ao mar com o bairro Praia de Itaparica.Também verifica-se uma demarcação de área na região dos loteamento dos bairros Araçás e Guaranhuns. Nas décadas de 1980-90 ocorreu a ocupação dos bairros Jardim Guaranhuns, Nova Itaparica e Praia das Gaivotas, e nas décadas de 1990-2000 iniciou-se a ocupação do bairro mais novo da região,o Jockey de Itaparica (CHALHUB, 2010).

52


Como pode ser visto nas imagens de satélite (Figura 27 e 28) dos anos de 1990 a 2015 os bairros à oeste do canal tiveram sua ocupação totalmente consolidada, diferentemente do lado leste que ainda possui áreas a se ocupar na região do bairro Jockey de Itaparica, que atualmente continua em processo de ocupação/expansão. Figura 27 e 28: Imagem de satélite da área do Canal de Guaranhuns e seu entorno no ano de 1998 e 2015, respectivamente.

Fonte: Ver a cidade. Disponível em: < http://www.veracidade.com.br/>

A intesa ocupação urbana e desordenada de Vila Velha, que se expandiu também para área irregulares como regiões alagáveis e ribeiras, ocasionou, a partir da década de 1970-80, problemas relacionados à infraestrutura devido a falta de sistemas de distribuição de água, de rede de esgoto e de drenagem das águas pluviais (VILA VELHA, 2011, 2013; CHALHUB, 2010). Em consequência desta falta de planejamento urbano e fiscalização, os rios e canais de Vila Velha passaram a captar irregularmente as águas pluviais e

53


esgoto domiciliar/ industrial dos bairros vizinhos tornando-os poluídos, encontrando-se nesta situação até os dias atuais. O canal de Guaranhuns sofreu com estes problemas de infraestrutura se transformando em um canal poluído, perdendo a sua conexão direta com o rio Jucu que, atualmente, é realizada através de comportas, deixando de receber água doce. Ao conversar com moradores antigos da região, fica claro a partir das informações, que no início da ocupação do entorno do canal a relação com o mesmo era harmoniosa; as pessoas utilizavam o canal para nadar, pescar e praticar atividades, mas devido às consequências da expansão sem planejamento essa relação se perdeu. Acredita-se que ainda é possível estabelecer uma relação harmoniosa entre a cidade e o canal, buscando promover os ideais apresentados nas fases Corretiva ede Desenvolvimento Sustentável, conforme visto no Capítulo 2, a partir da criação de espaços públicos de qualidade, reintegrando o canal com a população.

4.2

CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA

O Canal está inserido entre as Regiões Administrativas 1 e 2 pertencentes ao Município de Vila Velha, como pode ser visto no Mapa 5, obedecendo a Lei Municipal 4.707 de 10 de setembro de 2008. Existe um total de cinco regiões administrativas que englobam os bairros de características semelhantes da zona urbana do município de Vila Velha, para um melhor gerenciamento do município.

54


Mapa 5: Mapa das Regiões Administrativas do Município de Vila Velha e a marcação do Canal de Guaranhuns.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Com

base

nas

informações

obtidas

no

documento

intitulado

Perfil

Socioeconômico dos Bairros de Vila Velha10, pode-se observar a população existente em cada bairro e sua renda média nominal, no Quadro 3. Nota-se que os bairros do entorno imediato do Canal possuem, de modo geral, renda média semelhantes, as quais fazem parte da classe C e D, de acordo com o IBGE (classe C, de 03 a 05 salários mínimos; classe D, de 01 a 03 salários mínimos). No entorno do Canal possui um total de 35.102 habitantes, com baixa possibilidade de aumento da população pelo fato de todos os bairros estarem praticamente consolidados.

10

Documento elaborado pela Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão (SEMPLA), com base nos dados do IBGE de 2010, da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) e da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS).

55


Quadro 3: Perfil Socioeconômico dos Bairros do entorno do canal de Guaranhuns.

PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS BAIRROS DO ENTORNO DO CANAL DE GUARANHUNS (2013) REGIÃO 1 BAIRRO

POPULAÇÃO POR HAB.

RENDA MÉDIA MENSAL

Praia das Gaivotas

6282

R$ 2.630,68

Jockey de Itaparica

2393

R$ 1.487,02

REGIÃO 2 Araçás

5351

R$ 1.694,75

Vila Nova

3772

R$ 1.635,78

Ilha dos Bentos

3428

R$ 1.567,68

Guaranhuns

2633

R$ 1.382,33

Santa Mônica Popular

5020

R$ 1.333,15

Nova Itaparica

3950

R$ 1.303,34

Jardim Guaranhuns

2269

R$ 1.021,32

Fonte: Elaborado pela autora com base no documento intitulado Perfil Socioeconômico dos Bairros de Vila Velha (2013), 2016.

Pode-se considerar que a existência do Canal é capaz de exercer influência na população do entorno mas, atualmente, sua presença é vista de forma negativa devido à sua infraestrutura de baixa qualidade, poluição, riscos de inundação e proliferação de doenças prejudicando na qualidade de vida da população. Outra influência marcante que o canal exerce é em relação a segregação social entre um lado do canal com o outro. A população de um lado do canal costuma criar preconceitos sobre o outro lado do canal sem conhecê-lo, pelo fato de não haver uma conexão projetada entre eles. O canal, conforme está, pode ser considerado um obstáculo, e cria ruptura entre os dois lados, que são bairros distintos. Entretanto, a presença do Canal pode se tornar um elemento positivo, caso a região seja recuperada, proporcionando uma melhoria na qualidade de vida do 56


entorno através da criação de espaços públicos; se tornando um elemento de conexão agradável entre os bairros e evitando os riscos de inundação e doenças.

4.3

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-AMBIENTAL

Atualmente, o Canal encontra-se retificado, apresentando uma calha natural com vegetação e uma pequena parte com calha de grade de ferro com pedras. Sua água se encontra poluída, pois é utilizado como receptor de água pluvial e de efluentes domésticos provindos dos bairros vizinhos, (ver Figura 29). Figura 29: Encanamentos voltados para o Canal de Guaranhuns paa desperjo de efluente doméstico e água pluvial.

Fonte: Acervo pessoal.

No Município de Vila Velha existem diversos canais com situações semelhantes ao Canal de Guaranhuns, também sendo receptores de efluentes domésticos, industriais, fluviais e possíveis geradores de riscos de inundação e proliferação de doenças (AQUACONSULT, 2009). De forma geral, podem ser divididos em dois tipos de canais, alguns retificados e canalizados com calha de concreto e, outros, com calha natural, mantendo uma vegetação, como pode ser visto no quadro a seguir.

57


Quadro 4: Exemplos de canais existentes em Vila Velha.

EXEMPLOS DE CANAIS EXISTENTES NO MUNICÍPIO DE VILA VELHA CANAL COM CALHA DE CONCRETO OU

CANAL COM CALHA NATURAL

GRADE COM PEDRA Canal de Guaranhuns trecho inicial– entre as

Canal de Guaranhuns trecho final - rodovia

ruas 28 e 23

Darly Santos

Trecho do Canal da Costa

Canal do Rio Aribiri

Trecho do Canal da Costa

Trecho do Canal de Santa Rita próximo ao rio Aribiri

Fonte: Fotos retiradas do Plano Diretor de Drenagem Urbana Sustentável de Vila Velha (2011), Quadro elaborado pela autora, 2016.

58


O Canal de Guaranhuns está localizado na Bacia Hidrográfica Guaranhuns que engloba dezessete bairros de forma total ou parcialmente: Brisamar, Jardim Colorado, Vila Nova, Novo México, Santa Mônica Popular, Ilha dos Bentos, Praia de Itaparica, Praia das Gaivotas, Nova Itaparica, Guaranhuns, Jardim Guaranhuns, Vila Guaranhuns, Araçás, Jockey de Itaparica, Vale Encantado, Darly Santos e Pontal das Garças, como pode ser visto na Figura 30 (na figura, a delimitação em vermelho refere-se a Bacia Hidrográfica em Vila Velha). Figura 30: Bairros que integram a Bacia Hidrográfica do Canal Guaranhuns.

Fonte: Aquaconsult – Consultoria e Projetos de Engenharia LTDA (2009).

A bacia possui topografia plana, com cotas à nível do mar. Em razão disso está sujeita às inundações nas épocas de enchentes e maré cheia do rio Jucu. Devido a estes fatores, foi construído um sistema de comportas (Figura 31) no canal de Guaranhuns, que tem como função bloquear a entrada de água nestes períodos,

59


de enchentes e maré cheia, para que não comprometam a zona urbana de Vila Velha (AQUACONSULT, 2009). Figura 31: Sistema de comporta no Canal de Guaranhuns.

Fonte: Plano Diretor de Drenagem Urbana Sustentável de Vila Velha (2011).

Para mostrar a importância da existência das comportas, foi realizada um estudo que analisa como seria o comprometimento da zona urbana caso não existisse o sistema de comporta. Como pode ser visto nas Figuras 32 e 33, o canal sofreria uma drástica inundação, afetando os bairros do entorno (AQUACONSULT, 2009). Figuras 32 e 33: Mostram respectivamente as áreas de influência do nível máximo do Rio Jucu e da maré caso não existisse as comportas – Canal de Guaranhuns marcado em azul escuro.

Fonte: AQUACONSULT, 2009

60


Mesmo com o sistema de comportas, existem riscos de alagamento e inundação do Canal devido às fortes chuvas, como a que ocorreu no período de dezembro de 2013 a janeiro de 2014. Como pode ser visto nas Figuras 34 e 35, comparando as imagens de satélite de 2013 e 2014 as áreas escuras na imagem de satélite são os pontos onde sofreram com o alagamento e a inundação do canal de Guaranhuns. Figura 34 e 35: Imagens de satélite do ano de 2013 com regiões alagadas e do ano de 2016.

Fonte: Google Earth

Para evitar estas inundações e alagamentos, o município de Vila Velha implantou a Estação de Bombeamento de Águas Pluviais da Bacia do canal de Guaranhuns Elmo Dall’Orto (Figura 36). Localizada próxima à Rodovia do Sol, possui 7 bombas com capacidade de lançar até 21,5 milhões de litros de água por hora equivalente a (3.200 carros-pipas por hora), que bombearão a água do canal de Guaranhuns para o rio Jucu.

61


Figura 36: Estação de bombeamento

Fonte: http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2015/03/estacao-de-bombeamento-sera-inaugurada-emvila-velha-es.html.

Além de evitar os alagamentos e inundações, deve-se pensar também em estratégias que buscam recuperar os canais, retirando a imagem de um canal poluído, tais como: evitar o despejo irregular de efluentes domésticos e industriais, promovendo a coleta e tratamento de 100% do esgoto; manter somente o sistema de drenagem de águas pluviais conectado com os canais; e, promover a despoluição do canal quando não houver mais despejo de esgoto nele. A arborização é presente em grande parte da área verde da extensão do Canal, existindo uma grande diversidade de espécies (figura 37). Há também trechos com pontes de plantação de mudas de árvores (Ver figura 38)

62


Figura 37 e 38: Espaços arborizados com diversas árvores na área verde do Canal. Ponto de plantação de mudar de árvores.

Fonte: Autora, 2016.

Há também no canal de Guaranhuns a prenseça de aves (que se assemelham à garças) que permacem nas margens do Canal se alimentando de resíduos orgânicos (Figura 39). Figura 39: Presença de aves no Canal de Guaranhuns.

Fonte: Autora, 2016

63


5

DIAGNÓSTICO

Para melhor compreensão do canal de Guaranhuns e seu entorno, foi realizado um diagnóstico do Canal e seu entorno imediato (quadras imediatas ao canal). Neste diagnóstico dividiu-se o canal em setores de acordo com suas principais características buscando analisar: o uso do solo e os gabaritos predominantes; a relação da cidade com o canal, especialmente no que diz respeito a ocupação do seu entorno e como o canal passa despercebido na paisagem urbana; o funcionamento da mobilidade urbana na área, observando a circulação dos pedestres, ciclistas e veículos motorizado. Através desta análise foi elaborada a sítese na qual foram definidas as diretrizes norteadoras para a criação de um projeto de parque linear.

5.1

Setorização

Através da Semiótica Urbana que representa uma análise da linguagem da arquitetura e de toda a composição do espaço urbano, elementos materiais e imateriais é possível identificar a essência do que é o canal e seu entorno. Para esta análise buscou-se compreender as relações entre a arquitetura, a paisagem e o desenho urbano, identificando as características que marcam a identidade do lugar. A partir das análises e estudos sobre o projeto Beira-Rio, percebeu-se que a divisão do rio Piracicaba em trechos auxilia na compreensão do projeto, sendo assim este método foi adotado no canal Guaranhuns, dividindo-o em em seis setores ou ambiências distintas, com características que auxiliam na percepção do espaço como pode ser visto no Mapa 6. Estes trechos do Canal foram divididos de acordo com: a vivência do local, a relação das vias para com o canal, a relação das edificações para com o canal e os limites dos bairros.

64


Mapa 6: Mapa de setorização

Fonte: Autora, 2016.

Setor 1 Figura 40: Imagem de satélite - Setor 1

Fonte: GoogleEarth

65


O setor 1 compreende o limite dos bairros Araçás e Jóckey de Itaparica, sendo parte do trecho inicial do canal, a partir da Rodovia Darly Santos. A ocupação ocorre, predominantemente, no bairro Araçás, possuindo em todos lotes edificações consolidadas. Já o bairro Jóckey de Itaparica é composto por lotes vazios, possuindo apenas a escola Fundação Bradesco como edificação consolidada. Este setor é marcante pelo fato do canal nesta região possuir maior largura em relação ao restante (Figura41). Figura 41: Trecho no qual a largura do Canal de Guaranhuns é maior em relação ao restante de sua extenção.

Fonte: Autora, 2016

As edificações já consolidadas possuem gabarito baixo, de um a três pavimentos. Todas as fachadas do entorno são voltadas para o canal. Possui apenas uma via de mão dupla, asfaltada com calçada apenas de um lado (rua Cleodon Bezerra) que margeia o canal, localizada no lado do bairro Araçás. (Figura 42)

66


Figura 42: Rua Cleodon Bezerra. As fachadas das edificações voltadas para o Canal.

É uma área com média circulação de pessoas e veículos, aumentando nos horários de 6-7h, 12-13h e 17-18h que compreende a entrada e saída dos estudantes da escola Fundação Bradesco. Ao caminhar por este setor pode-se notar que o mesmo transmite uma sensação de tranquilidade, por não existir grande fluxo de veículos e pessoas, sendo possível ouvir os sons das árvores ao vento. Há maior sensação de segurança possivelmente por ser uma área que possui uma visão ampla unida à sensação de tranquilidade. Setor 2 Figura 43: Imagem de satélite - Setor 2.

Fonte: GoogleEarth

67


O setor 2 compreende a área que faz limite com os bairros Jardim Guaranhuns e Jockey de Itaparica, representando um lado do canal. O lado de Jardim Guaranhuns é composto por edificações de gabarito baixo, de um a dois pavimentos, com suas fachadas frontais e laterais voltadas para o canal. Já o lado do Jockey de Itaparica é composto por edificações de gabarito médio, de um a quatro pavimentos, com suas fachadas voltadas para o canal, possuindo diversos lotes vazios. O uso predominantemente neste setor é residencial. Neste setor existem vias nos dois lados do canal. A via do lado de Jardim Guaranhuns (Av. Canal da Costa) é estreita, de mão única, comportando apenas um veículo por vez e com calçadas de difícil circulação; a via do lado do Jockey (Av. Piauí) é de mão dupla, com calçadas também de difícil circulação, sendo que alguns trechos não possuem

calçadas. As vias são utilizadas

predominantemente por moradores, com pouca circulação de pessoas/ciclistas e veículos, que utilizam como rota alternativa (Figura 44 e 45). Figura 44 e 45:Avenida da Costa e Avenida Piauí.

Fonte: Autora

Ao caminhar por esta área observa-se que a via é usada predominantemente pelos moradores, como se a rua pertencesse a população daquela região somente. A sensação transmitida é de desacolhimento, como se estivesse sendo observado pelo fato de não pertencimento à região. Também transmite a sensação de desconforto e insegurança pela existência de diversos terrenos vazios, falta de calçadas adequadas;

68


Setor 3 Figura 46: Imagem de satélite - Setor 3

Fonte: GoogleEarth

Este setor se difere em relação aos setores do canal pelo fato de que um lado possui um grande terreno vazio (Parque das Gaivotas) e o outro possui edificações com seus fundos voltados para o canal (Guaranhuns e Nova Itaparica). Existe apenas uma via (rua. Cel. José Gabriel Marquês Filho), semelhante ao setor 1, asfaltada e de mão dupla. Possui circulação média de veículos/ ciclistas aumentando nos horários de 6/7h, 12/13h e 17/18h, quando ocorre a saída e chegada de moradores, estudantes e de pessoas que passam por ele para chegar em outros bairros. A circulação de pedestres acontece de forma insegura devido a ausência de calçadas como pode ser visto nas figuras 47 e 48. .

69


Figura 47 e 48: Rua. Cel. José Gabriel Marquês Filho. Nota-se a ausência de calçadas nos dois lados da via.

Fonte: Autora, 2016;

Ao caminhar por este setor pode-se notar uma sensação de insegurança por ser uma área ampla vazia, tornando a área “deserta” (sem pessoas circulando), sensação que se agrava no período da noite devido à iluminação precária. Setor 4 Figura 49: Imagem de satélite - Setor 4

Fonte: GoogleEarth

O Setor 4 compreende a extensão do canal que faz limite com os bairros Parque das Gaivotas e Nova Itaparica. Nesta área existe uma variedade de gabarito das edificações, de 1 a 18 pavimentos (Parque das Gaivotas) de baixo gabarito, com 1 a 3 pavimentos (Nova Itaparica). Semelhante ao Setor 3, as edificações do lado do bairro Nova Itaparica possuem seus fundos voltados para as margens canal, mas do lado do Parque das 70


Gaivotas as edificações possuem suas fachadas frontais e laterais para o canal. Possui uma via asfaltada (Av. do Canal e Rua Celso José Gabriel Marquês Filho) no lado do bairro Parque das Gaivotas, de mão dupla com movimento constante de pedestres, ciclistas, veículos privados e transportes públicos. Figura 50: Via de boa insfraestrutura com edificações com suas fachadas voltadas para o canal

Fonte: Autora, 2016

A percepção do lado do setor voltado para o canal é desagradável esteticamente pelo fato de algumas edificações estarem inacabadas e por existirem encanamentos expostos, despejando dejetos domésticos no canal. A caminhar pela rua há uma sensação maior de segurança por ser uma área movimentada por pessoas e veículos constantes. Figura 51: Imagem ao observar o lado onde os fundos das edificações estão voltados para o canal.

Fonte: Autora

71


Setor 5 Figura 52: Imagem de satélite - Setor 5

Fonte: GoogleEarth

Este trecho compreende os bairros Ilha dos Bentos e Parque das Gaivotas. Possui uma área verde maior no entorno do canal e é servido por duas vias bem estruturadas

margeando

o

canal.

A

edificações

existentes

são

predominantemente de gabarito baixo (de 1 a 4 pavimentos) e variam entre suas fachadas frontais e laterais voltadas para o canal. É uma região que possui maior constante fluxo de circulação de veículos, pedestres e ciclistas pelo fato de possuir duas vias de boa infraestrutura (av. do Canal, que é em dois sentidos, e rua Celso José Gabriel Marquês Filho, de um sentido), importantes para a conexão entre os bairros.

72


Figura 53: Área verde no entorno do Canal.

Fonte: Autora, 2016;

Ao caminhar por esse setor a sensação é de segurança por haver circulação constante de pessoas, veículos e ciclistas, e pelo fato de permitir uma visão ampla das duas vias. Setor 6 Figura 54: Imagem de satélite - Setor 6

Fonte: GoogleEarth

A extensão dos dois lados do canal neste setor faz limite com os bairros Ilha dos Bentos e Santa Mônica Popular. Este setor é o final do canal à céu aberto, possuindo sua menor largura e uma parte canalizada com concreto. Suas edificações são em maioria de gabarito baixo (de 1 a 4 pavimentos), com suas 73


fachadas voltadas para o canal. Também possui via dos dois lados do canal sendo uma com circulação constante (Av. do Canal) e outra (travessa Rui Braga Ribeiro) de baixa circulação, que é feita em sua maioria, por moradores. Figura 55: Canal de Guaranhuns com sua menor largura.

Fonte: Autora

A sensação que este setor transmite ao se caminhar é de segurança pelo fato de existir circulação constante de pessoas e veículos, mas também de desconforto, pelo fato das vias não possuírem estrutura para atender os pedestres. Considerações gerais relacionadas aos setores As cores predominantes em todo a extensão do Canal são o verde da vegetação e o azul do céu, que acontecem devido a linearidade que formam um eixo livre destacando ao olhar para a área, formando uma característica marcante para o canal, algo que não deve ser alterada com o decorrer do tempo. A sensações de desconforto devido ao odor e visual também é constante em todo o canal, devido a sua poluição pelo despejo de esgoto e lixo, devendo ser algo a ser tratado buscando valorizar o canal e a qualidade de estar em seu entorno. Ausência de infraestrutura para ciclistas torna região perigosa para a sua circulação 74


USO DO SOLO

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Entorno (5.360)

Vazio Urbano (113)

Praça (8)

Residencial (1.472)

Religioso (14)

Estação Elevatória de Esgoto (1)

Não residencial (42)

Educacional (3)

Proteção Ambiental (2)

Misto (83)

Terminal / Rodoviária (1)

Campo de Futebol (1)

Feira de Araçás Feira de Gaivotas Feira de Guaranhuns Feira de Vila Nova

Universidade de Vila Velha . Arquitetura e Urbanismo - Gabriela Siqueira Silva

k

Feira Orgânica Área de risco Pontes Canal de Guaranhuns Área gramada


5.2

Uso do solo

Segundo o Art. 119 do Capítulo do I do Plano Diretor Municipal (PDM) do município de Vila Velha que normatiza o Uso do Solo Urbano, são listadas as seguintes categorias primordiais de uso: I – uso residencial: compreende as edificações destinadas à moradia unifamiliar ou multifamiliar; II – uso nãoresidencial: compreende as atividades industrial, comercial, prestação de serviços e institucional; III – misto: compreende edificações que possuem usos residencial e não-residenciais. Através desta normatização de categorias do uso do solo foi possível elaborar a análise e criar o mapa 7 de Uso do Solo, detalhando os usos existentes no entorno imediato do canal. A área de estudo está inserida na Zona de Ocupação Prioritária 5 (ZOP5) no zoneamento urbano elaborado pelo (PDM) do município. Os usos nãoresidencial são divididos de acordo com o grau de impacto urbano e ambiental. A zona (ZOP5) na qual a área de estudo está inserida permite o uso nãoresidencial de impacto Grau I, que são usos de impacto compatíveis com o uso residencial; Grau II, que são usos que seu impacto permita a sua instalação nas proximidades do uso residencial; e Grau III, que são usos que seu impacto impede sua instalação em áreas de predominância residencial ou que dependa da sua implantação mediante à aprovação do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) (VILA VELHA, 2007). Ao observar o mapa de Uso do Solo, pode-se notar que o uso predominante em toda a extensão do entorno do canal é residencial unifamiliar e multifamiliar. O uso não residencial, ligado a serviços e comercial, é disperso em toda a extensão, e em pouca quantidade havendo uma concentração no Setor 1, com destaque para o Shopping Boulevard, a Escola (Fundação Bradesco), a rodoviária e o terminal rodoviário de transporte público. O uso misto que é a união do uso residencial com o não residencial tem predominância no Setor 2.

76


Na área de estudo existe uma quantidade relevante de lotes vazios, com predominância no Setor 2 (Bairro Jockey de Itaparica), o que pode ser pelo fato de ele ainda estar em fase de expansão e no Setor 3 (bairro Parque das Gaivotas), que se destaca pela vasta dimensão de um lote vazio. Estes vazios indicam que a área do entorno do canal Guaranhuns possui grande potencial de crescimento, possibilitando a criação de novos usos para a região. A compra de alimentos em feiras livres é algo muito comum para a população moradora dos bairros da região do entorno do Canal, sendo habitual para os moradores se deslocarem para as feiras dos outros bairros aproveitando todos os dias existentes de cheia. As feiras existentes na região são: Feira Orgânica, que ocorre todos os domingos dentro do Shopping Boulevard, das 10h até as 16h; Feira do Bairro de Araçás, localizada na rua Bogotá, nas terças de manhã; Feira de Guaranhuns, na rua Carlos Larica, toda quinta de manhã; feira do bairro de Vila Nova, na Rua Tv. Rui Braga Ribeiro, todas as quartas pela manhã; feira de Parque das Gaivotas, na Avenida Celso Pedro Maia de Carvalho, nas terças, das 16h até às 20h. Em média, existe uma praça para atender a população de cada bairro, que são usadas frequentemente. Na área estudada também existe um grande número de edificações de uso religioso, em média duas instituições por bairro.

77


5.3

Gabarito Mapa 8: Mapa de Gabarito por predominância

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

O gabarito predominante em toda a área do entorno do canal Guaranhuns é de um pavimento, sendo, em geral, edificações residenciais. Os bairros consolidados, que são Jardim Guaranhuns, Guaranhuns e Nova Itaparica, possuem gabarito predominante de 1 a 2 pavimentos; Araçás e Ilha dos Bentos tem gabarito predominante variável entre 1 a 3 pavimentos; Santa Monica Popular com o gabarito de 1 a 4 pavimentos. Estes bairros são loteamentos mais antigos voltados para habitações unifamiliares e, portanto, o gabarito predominante é baixo (1 a 4 pavimentos) como pode ser visto no mapa de Gabarito (Mapa 8). Já os bairros Jóckey de Itaparica e Parque das Gaivotas são bairros mais novos e ainda em crescimento, existindo edifícios de gabarito baixo, médio e alto. O bairro Parque das Gaivotas possui diferentes regiões e gabaritos intercalados de 12 a 18 pavimentos em edifícios de uso residencial multifamiliar; de 1 a 2 78


pavimentos de uso residencial unifamiliar; e de 4 pavimentos com edificações de uso multifamiliar. O bairro Jóckey de Itaparica possui duas áreas distintas uma com predominância de 1 a 4 pavimentos, e outra com diversos lotes vazios, que possibilitam a verticalização no futuro. Todos os bairros da região que compõem a área de projeto estão na Zona de Ocupação Prioritária 5 de acordo com o Plano Diretor Municipal de Vila Velha. De acordo com este zoneamento, a área não possui limite de gabarito, ou seja, possui grande potencial de verticalização. Apesar disto, a área se encontra em sua grande parte, com edificações consolidadas o que traz como consequência um potencial subaproveitado.

79


CARACTERIZAÇÃO DAS VIAS

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Pontes existentes no canal:

Corte 1

Ruas de acesso direto ao canal

Ponte para Pedestres

Corte 2

Ruas adjacentes ao canal

Ponte para veículos e pedestres

Corte 3 Corte 4 Corte 5

Universidade Vila Velha . Arquitetura e Urbanismo - Gabriela Siqueira Silva

SANTA MONICA POPULAR

i R. tv. Ru Braga Ribeiro


5.4

Mobilidade Urbana

Em toda a extensão do canal existem vias adjacentes (rua Códon Bezerra, avenida Piauí, avenida Canal da Costa, avenida do Canal, rua Celso José Gabriel Marques Filho, e a rua Tv. Rui Braga Ribeiro) possibilitando o trânsito nos dois lados do canal, como pode ser visto no mapa de Caracterização das Vias. Estas vias são de grande importância, pois através delas é possível a conexão entre diversos bairros, devido ao fato de todas as vias margearem toda a extensão do Canal e com isso seus bairros do entorno, visto no mapa de Caracterização das Vias. O fluxo de veículos e pessoas nestas vias são, de modo geral, baixo, sendo intensificado apenas nos horários de início e fim de expediente comercial, com exceção das vias Celso José Gabriela Marques Filho e a José Celso Cláudio, que possuem grande fluxo de veículos privados, de transporte público coletivo e, com isso, grande fluxo de pessoas. O PDM de Vila Velha, classifica as vias rua Cleodon Bezerra, avenida Canal da Costa, avenida do Canal, rua Itapetinga, rua Dr. Moacir Gonçalves, avenida Sérgio Cardoso, avenida Jorge Risk e a avenida Leila Diniz como coletoras. As demais são locais de bairro. Segundo o PDM (2007, p.77) a via coletora tem a função de permitir a circulação de veículos entre as vias arteriais e as vias locais”, enquanto a via local “é de baixo volume de tráfego, com função de possibilitar o acesso direto às edificações”. Apesar destas vias possuírem a mesma definição, suas características mostram que são diferentes em relação a suas dimensões e fluxos. Observando as definições das vias coletores e locais e suas dimensões mínimas ideais apresentadas pelo PDM, nota-se que as vias citadas anteriormente podem ser consideradas coletoras por possibilitar a circulação e conexão entre as vias locais, mas sua estrutura é semelhante às dimensões de uma via local. (Figuras 56 e 57)

81


Figura 56: Corte das dimensões mínimas das vias coletoras.

Fonte: Vila Velha, 2007. Figura 57: Corte das dimensões mínimas das vias Locais.

Fonte: Vila Velha, 2007.

Nota-se, ao comparar as dimensões ideais das vias coletoras e locais do PDM de Vila Velha com os cortes esquemáticos das vias que margeiam o Canal (Figura 58 a 60), marcadas no mapa de Caracterização das vias, que suas dimensões se assemelham às das vias locais e, por isso, talvez não consigam suportar os fluxos de veículos e pessoas que a vias coletoras deveriam suportar. Figura 58: Corte 01 da Rua Cleodon Bezerra, dimensão total: aproximadamente 10,6m.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

82


Figura 59: Corte 02 das Avenidas Canal da Costa e Piauí, dimensão total respectivamente: aproximadamente 6,2m e 6,2m.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016. Figura 60: Corte 03 da Rua Celso José Gabriel Marques Filho, dimensão total: aproximadamente 12m.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

83


Figura 61: Corte 04 da Avenida Canal e da Rua Celso José Gabriel Marques Filho, dimensão total respectivamente: aproximadamente 11,7m e 10,6m.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016. Figura 62: Corte 05 da avenida do Canal e da rua Tv. Rui Braga Ribeiro, dimensão total respectivamente: aproximadamente 6,8m e 6,8m.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

As pontes também são de grande importância para a região, pois através delas ocorre o acesso e conexão entre os bairros que são limitados/separados pelo canal. No total existem dez pontes, sendo que duas permitem a circulação de veículos motorizados, pedestres e ciclistas e as demais são usadas apenas para pedestres e ciclistas. Todas as pontes são bem estruturadas e com frequência usadas.

84


Meios de transporte

Nesta região, as formas existentes de se locomover são por bicicleta, a pé, por veículo motorizado particular e coletivo. Apesar da ausência de um local adequado, o uso de bicicleta é intenso, sendo usado pela população para deslocamentos ao trabalho, a escola, a serviços, lazer ou para outros usos. A circulação a pé também é bastante intensa, apesar de não haver tanta proximidade entre as residências e os serviços. É comum para os moradores possuem certo incentivo pelo falo de possuir uma grande quantidade de pontes voltadas apenas para pedestres e ciclistas. Como já dito anteriormente a circulação de veículos particulares é baixa/média nas maiorias das vias, aumentando em horários de entrada/saída do trabalho/escola. Mapa 10: Mapa de transporte público

Fonte: Vila Velha, 2007.

85


Apesar do canal estar localizado próximo ao Terminal Metropolitano de Itaparica, de um Ponto Final do sistema Municipal e do Sistema Seletivo, o transporte coletivo passa somente em dois trechos do canal, sendo eles um trecho no bairro Araçás e outro no bairro Parque das Gaivotas, uma vez que estas vias possuem estrutura para suportar a grande circulação de veículos. Os três sistemas de transporte coletivo existentes que circulam nesses trechos são: o Transcol, transporte coletivo metropolitano; o Sanremo, transporte coletivo municipal; e o Seletivo, transporte coletivo metropolitano de valor diferenciado e horários limitados. No trecho do bairro Araçás circula o sistema Sanremo e Transcol, e no trecho do bairro Parque das Gaivotas circula o Seletivo com as linhas 1608, 1609, 1610 e o Transcol com a linha 605. Com isso, podese notar que o acesso ao canal através do transporte coletivo é de fato difícil, pois para acessar o canal por outros bairros deve-se percorrer longos caminhos a pé, como pode ser observado no Mapa 10 de Transporte Público.

86


FORMAS DE OCUPAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM O CANAL

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6

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1

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2

Referêncial: SIRGAS 2000_UTM_Zone_24S Fonte: GEOBASES, Instituto Jones dos Santos Neves, Prefeitura de Vila Velha

0,4

Km

Edificações com:

Ruas em relação ao canal:

Pontes:

Fachada Frontal para o canal

Ruas de acesso ao canal

Ponte para Pedestres

Fundos para o canal

Ruas que beiram o canal

Ponte para veículos e pedestres

Visuais em relação ao canal:

4#,

Visuais Numerados

Fachada Lateral para o canal Áreas vazias próxima ao canal

Universidade Vila Velha . Arquitetura e Urbanismo - Trabalho de Conclusão de Curso - Gabriela Siqueira Silva


5.5

Relação do entorno com o Canal

No período da década de 1970, a relação da população com o canal era harmoniosa. Mesmo com a retificação do canal, ele era utilizado como área para pesca e lazer. Atualmente, com o canal poluído, perdeu-se esta relação, e o canal passou a ser ignorado, sendo lembrando somente quando há riscos de inundação. Como pode ser observado no mapa “Formas de ocupação e sua relação com o Canal”, o Canal pode ser acessado de forma fácil por possuir vias que percorrem toda sua extensão. As pontes existem em toda a extensão do Canal, sendo elementos importantes para a conexão entre os bairros e um potencial de criar uma relação com a paisagem do canal. Ao observar o mapa, nota-se que na área dos bairros Nova Itaparica e Guaranhuns as edificações estão com os seus fundos voltados para o canal. Nos outros bairros as edificações possuem, em sua maioria, a fachada frontal voltada para o canal e, apesar de não ser valorizado esta relação, existe um grande potencial em transformar o canal em uma extensão da casa. Um ponto interessante encontrado ao fazer a visita no canal foram os visuais encontradas demarcadas no mapa de “Formas de Ocupação” e sua relação com o canal. Estes visuais encontrados compreendem em imagens do Canal que dão a sensação de infinito. Pode-se observar toda a sua extensão, mas não se consegue ver seu final, como pode ser visto nas figuras a seguir. Atualmente, estas vistas são desvalorizadas e pouco percebidas, mas possuem grande potencial para se transformarem em visuais de contemplação criando, assim, uma relação da cidade com o canal. Os visuais podem ser vistos na Figura 63 a 69

88


Figura 63 e 64: Visual 01 - vista da ponte que possui grande fluxo de pessoas e veículos. Visual 02 – vista da ponte que possui grande fluxo de pessoas e veículos.

Fonte: Autora, 2016 Figura 65 e 66: Visual 03 – vista da ponte de pedeste. Visual 04 – vista da ponte de pedestre.

Fonte: Autora, 2016 Figura 67 e 68: Visual 05 – vista da ponte exclusiva para pedestres. Visual 06 – Vista da ponte exclusiva para pedestres.

Fonte: Autora, 2016.

89


Figura 69: Visual 07 – Vista da ponte de acesso à escola Fundação Bradesco.

Fonte: Autora, 2016.

Apropriação do espaço

A definição de apropriação pode ser entendida como “ato ou efeito de apropriar; acomodação, adaptação”. Para esta análise, o termo adequado é “apropriar”, ou seja, “Apoderar-se, apossar-se de alguma coisa como própria”. Logo, a apropriação do espaço urbano é a forma como a população se apossa de uma área realizando diversas atividades, sendo elas planejadas ou não para a mesma. Ocorrem diversas formas de apropriação na área verde do entorno do canal em toda a sua extensão. Estas apropriações podem ser consideradas: positivas, quando são atividades que interagem com as outras pessoas e que não afetam de alguma forma a área verde e o canal e, também, que beneficiem uma ou mais pessoas; a apropriações negativas, quando são uma forma de benefício para uma pessoa, ou mais, de forma egoísta, ou seja, que não possui uma relação harmoniosa com o canal, auxiliando na depredação da área verde e prejudicando as necessidades do coletivo.

90


Mapa 12: Mapa de apropriação do espaço.

Fonte: Elaborado pela autora, 2016.

Como pode ser visto acima no Mapa 12 de Apropriação do Espaço, foram demarcados diversos exemplos de apropriações encontradas ao longo de toda a extensão do canal, tanto positivas como negativas. A apropriações positivas 01/ 02 / 07 / 08 / 10 / 11 /12 são as que remetem ao uso do entorno do Canal, sem causar danos ao mesmo. Os usos positivos encontrados foram: atividades de comércio; extensão da casa; plantação de árvores; construção de pontes; uso para trabalho como pastagem de animal e estacionamento de carroça, que podem ser vistos nas figuras 70 a 75.

91


Figura 70: Apropriação do espaço positiva 01 - com atividade de comércio de balas próxima à escola Fundação Bradesco na área verde do canal.

Fonte: Autora, 2016. Figura 71: Apropriação do espaço positiva 02 – com o aproveitamento do espaço como extensão da casa para secar as roupas.

Fonte: Autora, 2016. Figura 72: Apropriação do espaço positiva 07 – com a plantação de novas árvores feitas pelos moradores.

Fonte: Autora, 2016

92


Figura 73: Apropriação do espaço positiva 10 – Criação de uma ponte, devido a necessidade de uma nova conexão.

Fonte: Autora, 2016 Figura 74: Apropriação do espaço positiva 11 – como espaço para trabalho como pastagem de animais e estacionamento de carroça.

Fonte: Autora, 2016 Figura 75: Apropriação do espaço positiva 12 – como área pertencente da população como forma de comércio informal.

Fonte: Autora, 2016

A apropriações negativas 03/ 04 / 05 / 06 / 09 são as que remetem ao uso do entorno do Canal, causam danos ao Canal e a sua área verde. Os usos 93


negativos encontrados na visita de campo foram: despejo de lixo e esgoto em diversos pontos do Canal, ponto de estacionamento na área gramada do canal como podem ser vistos nas figuras 76 a 80. Além destes pontos negatigos registrados foi observado pontos de queimada de lixo. Figura 76: Apropriação do espaço negativa 03 – com o despejo de lixo na área do canal.

Fonte: Autora, 2016. Figura 77: Apropriação do espaço negativa 04 – com o despejo de entulho de obra na área do canal.

Fonte: Autora, 2016. Figura 78: Apropriação do espaço negativa 05 – com estacionamento de caminhão na área verde do canal.

Fonte: Autora, 2016.

94


Figura 79: Apropriação do espaço negativa 06 – com estacionamento de caminhão na área verde do canal.

Fonte: Autora, 2016. Figura 80: Apropriação do espaço negativa 09 – com o despejo de lixo e estacionamento de veículos na área verde do canal.

Fonte: Autora, 2016

5.6

Síntese

De acordo com as informações levantadas no diagnóstico foi possível criar uma síntese com os elementos considerados negativos e positivos analisados no canal e seu entorno. Através do cruzamento entre os pontos positivos e negativos foi elaborado as diretrizes norteadoras do projeto do Parque Linear no Canal de Guaranhuns e intervenção no seu entorno. Este cruzamento de informações foi feito através de uma tabela, dividida de acordo com os tópicos analisados no diagnóstico, que pode ser vista a seguir:

95


Quadro 5: Síntese do diagnóstico analisado. Síntese – Diretrizes Pontos Positivos

Pontos Negativos

Diretrizes

Uso do Solo

 Região com diversas feiras livres;  As existências de terrenos vazios apontantam que a Região tem um potencial de crescimento populacional;  Segundo o PDM a Região pode implantar diversos usos mistos com o residencial;

 Predominância do uso residencial unifamiliar na região, deixando a área com baixa circulação, sem atrativos para pessoas que não moram na região;  Número considerável de terrenos vazios, criando áreas inseguras;  Estação Elevatória de Esgoto ao lado das margens do canal que proporciona uma imagem desegradável;  Ocupações informais e em áreas de risco de erosão e desmoronamento.

1. Promover a Vitalidade Urbana 2. Incentivo à usos mistos e ocupação dos terrenos vazios nos bairros do entorno do canal. Ex: comercial + residencial; 3. Incentivar à integração das feiras livres com o canal; 4. Incentivar de novos atrativos para pessoas dos bairros do entorno do canal e de outras regiões; 5. Promover a realozação da estação de tratamento; 6. Incentivar a realocações da população de ocupações informais e de risco para ZEIS (Zonade Especial de Interesse Social) próxima à moradia antiga; 7. Incentivar as residências multifamiliares;

Gabarito

 Os bairros da região do canal possuem grande potencial de crescimento vertical, pois, de acordo com o PDM-VV a região está na ZOP5 (Zona de Ocupação Prioritária) que possui índices flexíveis: sem altura e gabarito máximo; coeficiente de aproveitamento médio de 3 e máximo 4;  Existencia de diversas ruas que dão acesso ao canal;  Uso frequente das pontes existentes;  Grande número de edificações com a fachada voltada para o canal;  Existência de visuais interessantes a serem valorizadas;  Existência de apropriações positivas do canal apesar de serem poucas – comércio, extensão da casa, plantio de arvores, lazer mostram que há potencial de reaproximação do canal com a cidade

 Baixo adensamento populacional nos bairros devido ao gabarito predominantemente baixo (1 a 3 pavimentos) da região;  Apesar dos índices flexíveis não existe uma grande procura por ocupação vertical nos bairros;

8. Incentivar o adensamento populacional da região; 9. Verticalizar a região criando limites de gabarito definido de acordo com o projeto;

 O canal de forma geral não é valorizado pela população do seu entorno;  Descaso com o canal: despejo de lixo no canal e em seu entorno gramado e esgoto no canal;  Edificações construídas na beira do canal, possuindo risco de erosão e desmoronamento;  Os visuais não são percebidos;  Existência, em grande escala, de apropriações ruins/ negativas – lixo, estacionamento de veículos, queima de lixo;  O canal atualmente é visto como elemento divisor dos bairros;  Existência de uma praça pouco usada ao lado do canal;

10.Valorizar as apropriações positivas existentes no entorno do canal; 11. Valorizar os acessos ao canal; 12. Valorizar a paisagem urbana da região através de seus visuais – e assim valorizar o canal; 13. Inibir atividades de degradação do canal; 14. Valorizar a área gramada do canal; 15. Promover a conexão entre os bairros dos dois lados do canal;

Relação

do

entorno com o canal

96


Mobilidade e Conexões

Ambiental

 Uso frequente das pontes existentes;  Grande circulação de pedestres e ciclistas (locomoção, lazer e esporte) na região do entorno do canal e nos bairros;  O canal tem potencial para se tornar um grande eixo de circulação criando conexão entre diversos bairros e para Darly Santos, Rodovia do Sol e Avenida Sérgio Cardoso;  Grande números de vias de bairro chegam ao encontro do canal;  Terminal de transporte público próximo ao canal – Terminal de Itaparica.

 Baixo número de pontes em relação a frequência de uso;  Não há estrutura de qualidade para os ciclistas e pedestres;  O transporte público passa próximo ao canal em apenas dois curtos trechos, passando somente nas vias arteriais, deixando a região do entorno do canal e bairros com pouca acessibilidade;  Suas vias não possuem infraestrutura de qualidade para comportar circulação de veículos frequente;  Apesar da proximidade do Terminal, há poucos ônibus circulando nesta região.

16. Valorizar e priorizar a circulação de pedestres e ciclistas promovendo eixos de circulação em toda a extensão do canal; 17. Promover eixo de circulação para veículos motorizados; 18. Incentivar a implantação de novos transportes públicos; 19. Promover reestruturação das vias existentes; 20. Incentivar eixo de conexão entre a avenida Sérgio Cardoso até a Rodovia do Sol;

 Poluição do canal através de esgoto e lixo;  Canal e sua área verde não é demarcado como área ambiental segundo o PDM-VV;  Pontos com ausência de arborização;  O canal é muito estreito e com isso seu nível sobe com grande facilidade;

21. Promover a despoluição do canal, através de Ilhas Artificiais; 22. Valorizar o canal e sua vegetação; 23.Promover o projeto Águas Limpas da CESAN; 24.Promover alargarmento da calha do Canal;

Existência de arborização no entorno do canal;  Existência de pontos com plantio de árvores no canal;  Presença de garças no canal e pequenos peixes, apresentando potencial de recuperação;

Fonte: Autora, 2016

Além destas diretrizes apresentadas, o Parque Linear deve seguir as quatro multifuncionalidades criadas por Mora (2013), citados no Capítulo 3 (quadro 02): Ambiental, Qualidade de Vida, Político Social e Crescimento Econômico.

97


6

PROPOSTA – PARQUE LINEAR E INTERVENÇÃO NO SEU ENTORNO IMEDIATO

6.1

FORMA DE VIABILIZAÇÃO

A forma de viabilização da construção do Parque Linear, a recuperação do Canal de Guaranhuns e as intervenções do seu entorno, se darão com a aplicação do instrumento do Estatuto da Cidade11 chamado Operação Urbana Consorcidada (OUC). Segundo o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/ 2001), a Operação Urbana Consorcidada (OUC) é um conjunto de intervenções, em uma determinada região da cidade, gerenciado pelo Poder Público Municipal com a participação de moradores, proprietários, investidores e usuários, buscando promover transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais, de infra-estrutura, ampliação dos espaços públicos e a valorização ambiental. Ou seja, há uma flexibilização dos índices urbanísticos, parcelamento do solo, uso e ocupação do solo vigentes no Plano Diretor Municipal. Na OUC ocorre a Outorga Onerosa do Direito de Construir, na qual são flexibilizadas o Coeficiente de Aproveitamento (C.A.) que pode ser exercido acima do C.A. básico, chegando ao C.A. máximo. Para poder utilizar o C.A. maior que o básico, aumentando o potencial de construção12, os proprietários e investidores devem comprar os Certificados de Potencial Adicional de Construção (CEPACS). O capital obtido com a venda dos CEPCAs é investido na infraestrutura urbana da regição objeto da OUC. No caso da região do Canal de Guaranhuns, a OUC terá como perímetro de abrangência todos os bairros que estão no entorno do canal: Ilha dos Bentos, Santa Mônica Popular, Praia das Gaivotas, Nova Itaparica, Guaranhuns, Jardim Guaranhuns, Áraças e Jockey de Itaparica.

11

Estatuto da Cidade - Lei no 10.257, de 10 de julho de 2011.

98


Para ocorrer a Outorga Onerosa na OUC do Canal de Guaranhuns, deverá ocorrer a mudança, no PDM - VV, do C.A. básico para um (atualmente três) e manter o máximo de quatro. Assim, os investidores interessados na região que pretendem construir com C.A. acima de 1 deverão comprar as CEPACs. O capital obtido pelas CEPACs da OUC do Canal de Guaranhuns será investido na infraestrutura da região, na criação do Parque Linear e na recuperação do canal.

6.2

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Nesta intervenção, a proposta da OUC do Canal de Guaranhuns ocorrerá apenas nas quadas do entorno imediato do Canal e da área do Parque Linear como pode ser visto no Mapa 13. A intervenção busca atender à todas as diretrizes elaboradas na síntese (Quadro 5) e as multifuncionalidades (Quadro 2) contando com: proposta de Renovação Urbana, mapeando os lotes que serão mantidos, renovados e requalificados; proposta de remembramento do solo, apresentando o projeto de remembramendo dos lotes e de infraestrutura nas vias; proposta de setorização dos usos do entorno e do parque; e, por fim, as propostas de mobilidade e conexões urbanas.

99


Mapa 13: Área onde ocorrerá a Intervenção no entorno do Canal

Fonte: Autora, 2016

A área de intervenção conta com 625 lotes que compõem o entorno imediato do Canal.

100


Renovação Urbana Mapa 14: Interventação Urbana do entorno imediato do Canal

Fonte: Autora, 2016

Ao observar o mapa “Intervenção Urbana do entorno imediato do canal”, notase que a proposta de renovação urbana é de aproximadamente 90% dos lotes do entorno do canal, que serão renovados pelo fato de serem totalmente contrários às diretrizes norteadoras. Estes lotes estão localizados em áreas de risco (desmoronamento e inundação), áreas sem infraestrutura de qualidade, possuem gabarito baixo, seu uso predominante é apenas o residencial unifamiliar, possuem baixo e de baixo adensamento populacional. Para a realização da Renovação, os lotes demarcados como “renovar” no mapa 14 serão desapropriados a fim de promover novos usos coerentes com as diretrizes enumeradas na síntese (Quadro 5). A população de baixa renda e moradoras dos lotes localizados em áreas de risco e de baixa infra-estrutura, serão realocados para conjuntos habitacionais das Zonas Especial de Interesse 101


Social localizadas nos bairros dentro da área de intervenção. Buscando-se valorizar os moradores antigos da região, haverá prioridade dos mesmo na hora da compra e também haverá facilidades como novos financiamentos e descontos. A edificações a serem mantidas são as edificações que condizem parcialmente com as diretrizes norteadoras: em primeiro lugar, são edificações “seguras”, que não estão em área de risco e estão em boas condições estruturais; com gabarito alto (acima de 5 pavimentos) e uso multifamiliar. São também pontos atrativos de pessoas como a Escola Fundação Bradesco, Terminal Rodoviário de Vila Velha, Terminal de transporte púlbico Transcol e o Shopping Boulevard. Os lotes requalificados são os lotes vazios que possibilitarão novos usos para a região. Para utilização dos lotes vazios existentes nos bairros do entorno, ocorrerá o Direito de Preempção, instrumento do Estatudo da Cidade no qual o Poder Público Municipal tem preferência na aquisição dos imóveis.

102


Remebramento dos lotes do entorno imediato do canal

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Referêncial: SIRGAS 2000_UTM_Zone_24S Fonte: GEOBASES, Instituto Jones dos Santos Neves, Prefeitura de Vila Velha

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Intervenções

Intervenção das vias

Nova proposta de lotes

Edifícios Mantidos

Criação de Via principal de Bairro

Reestruturação de Vias

Lote remembrado

Canal modificado

Criação de uma rua de pedestres

Remoção de Vias de baixa infraestrutura

Espaço do parque

Universidade Vila Velha . Arquitetura e Urbanismo - Gabriela Siqueira Silva


Remembramento dos lotes

Com a definição dos lotes que serão renovados, mantidos e requalificados, foi possível elaborar como será a intervenção nos lotes dessa região. Através do Mapa 15 “Remebramento dos lotes e intervenção nas vias do entorno imediato do canal”, pode-se observar a intervenção na região em relação à remembramento dos lotes, criação do espaço do Parque Linerar, reestruturação de vias, criação de vias de pedestre e remoção vias. Todos os lotes demarcados que passaram por renovação serão remembrados, como pode ser visto no mapa 15, as linhas tracejadas em vermelho são as demarcações de lotes que foram removidas. Estes remembramentos foram elaborados para: 

Criar lotes maiores que possam receber uma ampla possibilidade de empreendimentos diferentes;

Integrar os lotes localizados às margens do Canal ou em vias de pouca infraestrutura, ao Parque Linear;

Criação de vias para atender a mobilidade urbana.

Nesta proposta conta também com intervenções nas vias, visando proporcionar uma infraestrutura de qualidade para a mobilidade urbana da região. Propondo: 

Remoção das vias de baixa infraestrutura dos lotes que foram integrados ao parque;

Reestruturação das vias que margeiam o Parque Linear, formando um eixo de Vias Principais de Bairro.

Reestruturação das vias perpendiculares ao Parque Linear, que proporcionam o seu acesso, através da pavimentação e redesenho das calçadas;

Criação de rua de pedestre que atenda as necessidades de circulação de pessoas na área na qual foi proposta.

104


A partir destas intervenções foi possível a análise e definição dos usos do entorno e no Parque Linear, e também da sua mobilidade urbana. Usos Buscando seguir as diretrizes de usos propostas na síntese (Quadro 5), o entorno do canal e o Parque Linear devem promover a vitalidade urbana, através da criação usos e atividades que atraiam as pessoas para a região. Para uma melhor distribuição dos usos em toda a regição, foi elaborado setores de usos predominantes para o entorno imediato e também para o Parque Linear. 6.2.3.1 Parque Linear Mapa 16: Setorização dos usos do Parque Linear.

Fonte: Autora, 2016.

No Parque Linear os espaços para atividades de lazer devem existir em todos os setores, que são eles: espaços de apropriação para a realização de qualquer tipo de atividade como reuniões, picniks, atividades com crianças entre outros. 105


Junto do lazer deve-se existir outro uso predominante que foram divididos em três setores (Mapa 16): Contemplação: Neste setor a ideia de contemplação da paisagem natural do canal de Guaranhuns será mais valorizada através da grande predominância de vegetação, implantando a pavimentação apenas em eixos de circulação acessível. Este setor será um espaço mais tranquilo, promovendo caminhadas, espaços para apreciação da paisagem e descanso. Entretenimento: Neste setor busca-se promover mais atividades dinâmicas para a região como: espaços para eventos sazonais (feira livre, shows ao ar livre, festas, parque de diversões), espaços para crianças com playgrounds, espaços para cachorros com o dog park, espaços com quiosques fixos com bares e restaurantes. O setor trerá uma sensação maior de animação em relação aos outros setores. Nesta área o parque terá mais espaços pavimentados e gramados livres para a realização de diversas atividades, e um contato mair com o Canal. Esportivo: Este setor busca atender à maior variedade esportes possíveis como quatras poliesportivas, pistas e bowl para skate e patins, espaço para patinação, espaços para pratica de slackline, academia popular, cross fit, cooper entre outras atividades. Neste setor também contará com espaços pavimentados livres para que haja a possibilidade de atividades como capoeira e outras lutas ao ar livres. A sensação que este setor transimitirá é a de movimento devido a grande quantidade de pessoas realizando diversos esportes ao mesmo tempo. Estes usos podem estar presentes em outros setores, como por exemplo usos esportivos no setor de entretenimento, mas não devem sobrepor ao uso predominante. Através das diferenças de usos, o Parque Linear pode possuir implantações (desenho de pavimentação, paisagismo) diferentes, seguindo o conceito dos seus usos predominantes.

106


6.2.3.2 Entorno do Parque Linear Mapa 17: Setorização de Usos do Entorno do Parque Linear.

Fonte: Autora, 2016.

No entorno do canal, o foco é promover a diversidade urbana através da implantação de usos diversos nas edificações que serão implantadas no entorno. Foram criados os três setores de usos predominantes para que seja possível uma distribuição de usos balanceada em toda a região (Mapa 17 “Setorização de Usos do Entorno do Parque Linear”). Para que haja presença de pessoas em todo o entorno do Parque, o uso residencial multifamiliar deve ser presente em todos os setores mesmo que não seja o uso predominante. Os novos edifícios devem possuir os dois usos predominantes de cada setor. Os setores predominantes são: Comercial + Entretenimento: Neste setor os usos das edificações devem possuir, além do uso residencial multifamiliar, atividades comercias como loja, prestações 107


de serviços e atividades empresariais. Também deverá existir o uso de entretenimento com bares, restaurantes, cinemas, museus, boates entre outras atidades. Residencial + Comecial: Neste setor o uso residencial multifamiliar é predominante junto com o uso comercial e suas atividades ditas anteriormente. Residencial + Entretenimento: Neste setor o uso residencial multifamiliar também é predominante junto com as atividades de entretenimento como bares, restaurantes, cinemas, museus, boates entre outras atidades. As Zonas Especiais de Interesse Social foram distrubuidas nos lotes vazios existentes no bairro Jockey de Itaparica. Distribuindo em um lote extenso para um grande conjunto habitacional e outros lotes menores para conjuntos menores, pois assim possibilita uma melhor distribuição das pessoas na região. Este projeto busca seguir o conceito de Escala Humana dita por Jan Gehl em seu livro Cidade para as pessoas (2010), que é a ideia de que a cidade deve ser planejada ao nível dos olhos dos pedestres e ciclistas, valoridando-os, no qual a cidade e seus os espaços públicos convidem os pedestres a andar pela cidade. Aponta também a questão da cidade compacta em relação ao uma densidade populacional razoável e distâncias razoáveis para serem percorridas a pé ou de bicicleta e espaço urbano de qualidade. Pensando nesta questão, as edificações implantadas no entorno imediato do canal dentro de uma distância de até 80m, a partir das margens do canal, devem possuir o gabarito máximo de 5 pavimentos. Depois desta distância de 80m as edificações podem possuir gabarito máximo de 12 pavimentos. Como pode ser visto no mapa abaixo no qual a área do entorno do canal dentro do limite de 80m marcado de laranja deve ter edificações de 5 pavimentos e fora deste limite o gabarito máximo é de 12 pavimentos.

108


Mapa 18: Área que deverá ser implantado edificações de 5 pavimentos.

Fonta: Autora, 2016.

Segundo Gehl (2010) edificações de gabarito até 5 pavimentos se enquadram na ideia da escala humana pois possuem comunicação com a cidade, participando da vida na cidade. Até o 5º pavimento é possível acompanhar a vida da cidade e se comunicar com as pessoas nas ruas, a partir do 6º pavimento essa relação com a cidade se perde deixando de fazer parte da cidade. Estas novas distrubuição de usos que se integram com os usos planejados do parque pomovem a diversidade urbana, ou seja, existe uma diversidade de usos e pessoas na região do entorno e no Parque. Com o aumento de pessoas circulando em diversos horários devido a diversidade urbana, promove uma cidade viva, ou seja, a vitalidade urbana que é uma grande concentração e movimentação de pessoas realizando diversas atividades. Com vitalidade urbana, a cidade promove uma maior sensação de segurança para a população devido à movimentação frenquente de pessoas.

109


Para que ocorra a vitalidade urbana as edificações do entorno do parque devem possuir seu térreo com usos voltados para os pedestres atraindo-os a circular nas calçadas promovendo as Calçadas Ativas. Segundo Jacobs (1961) e Gehl (2010) as calçadas com edificações que possuem usos e atividades no térreo, ao longo de sua extensão, que interajam com os pedestres (exemplo: lojas, restaurantes, cafés, serviços) tornam as calçadas vivas, ou seja, os usos atraem pessoas de diversas regiões. Com os atrativos no térreo, a circulação de pedestres será constante com pessoas passeando, olhando vitrines, comprando, permanecendo nos bares e restaurante e consequentemente, atraindo-as a visitar o Parque Linear.

110


Mobilidade e Conexões urbanas

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Referêncial: SIRGAS 2000_UTM_Zone_24S Fonte: GEOBASES, Instituto Jones dos Santos Neves, Prefeitura de Vila Velha

0 0,05 0,1

0,2

0,3

0,4

Km

Entorno

Avenida João

Mobilidade Urbana

Eixo Cicloviário e pedestre no parque Conexão de modais

Mendes

Tipo de ponte

Área de intervenção

Nova Via principal

Eixo de pedestre no parque

! [

Ponto de parada do VLT

Pedestre e ciclistas

Canal modificado

Percurso do VLT

Via principal já existente

!

Terminal Itaparica - Transcol

Veículos e pedestres

Espaço do parque

Rua de pedestres

Eixo de conexão entre vias principais

! 5

Terminal VLT

^

Bolsão de estacionamento

Universidade Vila Velha . Arquitetura e Urbanismo - Gabriela Siqueira Silva


Mobilidade e Conexões urbanas

Para este projeto foi pensado em propostas de melhoria da mobilidade urbana da região seguindo como norte as diretrizes definidas na síntese (Quadro 5). A propostas elaboradas podem ser vistas no mapa 19 “Mobilidade e Conexões Urbanas”. Através da reestruturação das vias foi possível a criação das vias principais de bairro e o eixo de conexão entre as vias principais Rodovia do Sol e Avenida Sérgio Cardoso. Para melhorar e valorizar a mobilidade dos pedestres e ciclistas foi criado um eixo de circulação separadamente para os mesmos no Parque Linear. Também foi criado em um treço do Paque Linear, uma rua de pedestres para facilitar circulação dos mesmos na área. Além disso, foi implantado mais pontes de pedestres em toda a extensão do Parque Linear, ao todo são 26 pontes de pedestres espaçadas a cada 100m. As duas pontes de veículos e pedestres foram reestruturadas. Para melhorar a mobilidade dos transportes públicos da região, foi implantando um o VLT como novo modal de transporte público no entorno do Canal. O Terminal do VLT estará localizado próximo ao Terminal de Itaparica, existindo uma conexão entre os modais através do bilhete único. O VLT passará em toda a extensão do Parque Linear, possuindo um ponto final o limite do Parque. Haverá ao todo, cinco pontos de paradas em toda a extemsão do Parque além do ponto final e o Terminal. Esta proposta de VLT pode se extender para as extensões dos canais existentes em Vila Velha, se conectando ao Terminal de Itaparica. Foram implatandos bolsões de estacionamento em toda a extensão do Parque para promover a acessibilidade à todas as pessoas.

112


Estudo Preliminar - Recorte do Parque Linear

Para a elaboração do estudo Preliminar do Parque Linear, foi definido um recorte do mesmo. Este recorte é a região do parque na qual está dividida entre duas pontes de veículos e seu setor de usos predominante é o de Lazer + Entretenimento como pode ser visto na figura abaixo. O objetivo desde estudo preliminar é apresentar as propostas elaboradas de forma mais detalhada. Este recorte possui uma extensão de aproximadamente de 936m. Mapa 20: Mapa do recorte do estudo preliminar.

Fonte: Autora, 2016

113


Implatação do Parque Linear

1

2

3

7

1

Implantação ESCALA

4

5

6

_

1 - Espaço Livre para atividades sazonais - Feria livre, Shows, Feira de Food Truck entre outras atividades; 2 - Playground com caixa de areia; 3 - DogPark; 4 - Fonte seca;

1 : 2500

LEGENDA Mobiliário

Lotes Remembrados

5

Edificações novas

Ponto VLT

Lotes existentes - não modificados

Bicicletário

Piso placa Concreto cinza

Mesa com guarda sol

Piso placa Concreto grafite Piso placa de concreto vermelha

Pergolado Mesa de Picnik

Piso amortecedor colorido - Playground

Mesa redonda

Caixa de Areia - Playground

Banco de madeira

Piso de madeira - Ponte

Quiosque

5 - Espaço com Quiosque e mesas; 6 - Estação Elevatória de Esgoto realocada; 7 - Estacionamento do Parque.

Divisão dos trechos do Parque

Trecho 1

Trecho 2

Trecho 3

Vegetação Nome Popular Nome Científico Caesalpinia Pau-ferro leiostachya Tiboychina Quaresmeira granulosa Tabebuia Ipê branco roseo-alba Tabebuia Ipê amarelo roseo-alba Bauhinia Pata de vaca variegata Araroeira

Schinus molle

Jacarandá mimoso

Jacaranda mimosaefolia Lagerstroe mia indica

Resedá

Altura Acima de 12m Acima de 12m Acima de 12m Acima de 12m 9a 12m 8a 10m Acima de 12m

Nome Popular Nome Científico Malpighia Aceroleira emarginata AmoreiraMorus nigra negra Psidium Goiabeira guajava Myrciaria Jabuticabeira cauliflora Eugenia Pitangueira uniflora GramaAxonopus são-carlos compressus Ophiopogon Grama-preta japonicus

Altura 2,4 a 6m 6 a 9m 6 a 12m 6 a 9m 6 a 9m 0,9 a 1,2m menor de 15 cm

6 a 9m

Universidade Vila Velha . Arquitetura e Urbanismo - Gabriela Siqueira Silva

1/4


Para a elaboração do projeto do Parque Linear e promover a valorização do canal e sua reaproximação com a cidade, usou-se como partido para o desenho do Parque o a linearidade do Canal de Guaranhuns. O Canal teve sua largura da calha natural mantida em oito metros. Através da linearidade do Canal, o desenho da pavimentação foi criado como uma trama com faixas paralelas e perpendiculares ao Canal. Para evitar a monotonia, as faixas possuem tamanhos diferentes prorcionando movimento ao desenho do Parque. Este desenho de piso foi elaborado com as placas de concreto cinza e grafite. A partir do desenho da trama foi possível a elaboração de toda a implantação do Parque. Para maior aproximação com o parque foi criado níveis diferentes escalonados no piso da margem do canal, assim a pessoa pode se aproximar mais da água. Isto também auxilia nos períodos de cheia, pois terá um espaço maior para preencher. A faixa de piso grafite compõem o desenho da trama, e o piso cinza compõem os espaços existentes entre as faixas da trama. A partir dessa trama, criou-se eixos de circulação nas faixas grafite e espaços livres nas áreas de piso cinza. O Parque é difidido em dois lados do Canal. Um de seus lados é estreito possuindo o eixo de circulação de pedestres definida pela faixa de piso grafite, o outro lado possui uma largura maior e por isso é onde está localizado todas as atividades definidas para este recorte do Parque. Este recorte possui oito pontes, que possuem larguras diferentes que seguem de acordo com o tamanho da trama. Além de larguras diferentes, as pontes também possuem desenhos diferentes umas das outras, evitando a monotonia existente que poderia existir caso fossem semelhantes. A arborização do parque é composta por árvores de médio e grande porte. Foram selecionadas árvores frutíferas (Aceroleira, Amoreira-negra, Goiabeira, Jabuticabeira e Pitangueira) para promover uma interação das pessoas com a arborização, usufruindo de seus frutos. Também foram selecionadas árvores ornamentais com flores de cores diversas (Araroeira, Ipê branco, Ipê amarelo, 115


Jacarandá mimoso, Pau-ferro, Quaresmeira e Resedá) para a composição da paisagem do Parque, proporcionando uma visão imagem colorida e atrativa ao parque. Quadro 6: Quadro de Árvores do Parque

Árvores presentes no Paque

Jabuticabeira Aceroleira

Pitangueira

Jacarandá Mimoso

Amoreira-negra

Goiabeira

Araroreira

Ipê Branco

Ipê Amarelo

Pau-ferro

Quaresmeira

Resedá

Fonte: Autora, 2016.

116


As árvores frutíferas estão distribuídas no interior do parque distribuídas nas áreas gramadas e na beira do canal. As árvores ornamentais marcam as passagens das pontes, existindo uma árvore específica para cada passagem criando-se uma singularidade para cada ponte. Estas árvores também estão distribuídas nas áreas gramadas do entorno do Parque, sombreando a passagem de pedestres e ciclistas e também são distribuídas ao longo do parque de forma que exista espaços coloridos pela vegetação em toda a extensão do parque. A vegetação de forração (grama preta e grama-são-carlos) seguiu o desenho da trama, no qual as áreas gramas estão implantadas nas áreas delimitadas pela faixa de piso grafite. As cores em tons de cinza do parque foram escolhidas, escolhidas para tornar a pavimentação neutra permitindo que as cores da vegetação e do canal tenham destaque no Parque. O parque é composto por: eixo de ciclovia no lado amplo do parque, próximo a calçada; pontos de parada do VLT; um grande espaço para eventos sazonais como feiras livres, festas, shows, feira de foodtruck entre outros eventos ao a livre; playground com caixa de areia para as crianças; dogpark para as pessoas que queriam levar seus cachorros para passear; espaços livres pavimentados e gramados para atender às atividades diversas dos usuários; espaços com mesas de picnik, pergolados, mesas com guarda; bancos distribuídos ao longo do parque; fonte seca para o lazer das pessoas, para refrescar em dias quentes criando uma relação mais próxima com a água; e por fim espaços com quiosques. Este recorte do parque linear é de uso predominante de lazer e entretenimento, mas também possui a uso da contemplação, no lado estreito do canal, no qual a pessoa pode caminhar e contemplar a paisagem do canal sem a agitação do uso de entretenimento.

117


Para melhor entendimento do desenho do parque o projeto foi dividido em trĂŞs trechos na escala 1/1000, como pode ser visto nas pranchas a seguir.

118


Trecho 1

3

2

1

5 4

6

Escala: 1/1000 1 - Espaço livre para eventos sazonais

4 - Passeio da Ponte

2 - Playground

5 - Passeio da Ponte

3 - Vista para o bicicletário e ciclovia, ao fundo espaço com pergolados

6 - Vista do canal ai passar pela ponte, nota-se a mudança de nível do piso.

Universidade Vila Velha . Arquitetura e Urbanismo - Gabriela Siqueira Silva

2/4


Trecho 2

3

5

6

1 2

4

Escala: 1/1000 1 - Passeio da Ponte inclinada

4 - Passeio da Ponte

2 - Calรงada do lado estreito do canal, ao fundo uma parada do VLT

5 - Fonte seca

3 - Vista ao fundo do Dogpark, prรณximo ao espaรงo com mesas

6 - Passeio da Ponte

Universidade Vila Velha . Arquitetura e Urbanismo - Gabriela Siqueira Silva

3/4


Trecho 3

2

7

1

3

4

6

5

Escala: 1/1000 1 - Passeio da Ponte

5 - Passeio da Ponte

2 - Vista da Ciclovia e Quiosques

3 - Passei do lado estreito do parque, ao fundo o Quiosque

6 -Vista do canal ai passar pela ponte, notase a mudança de nível do piso

4 - Passeio da Ponte

7 - Passeio próximo a ciclovia, nota-se o bicicletario ao fundo

Universidade Vila Velha . Arquitetura e Urbanismo - Gabriela Siqueira Silva

4/4


7

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação próxima do rio com a cidade passou por diversas transformações se perdendo com o tempo. Entretando, nota-se que, a partir da década de 1970, há uma intensificação da preocupação e importância da busca pela preservação dos rios e reaproximação da relação harmoniosa do mesmo com a cidade. O Parque Linear apresentou-se como uma alternativa que possibilita a recuperação e preservação dos rios, proporcionando também a reaproximação da relação com os rios através de seus espaços públicos. Já usada internacionalmente e com alguns casos no Brasil, como o projeto Beira-Rio no rio Piracicaba, o parque linear pode exercer grande influência na preservação dos rios e também no funcionamento do seu entorno. Podendo-se exercer quatro funções principais relacionadas a questões ambientais, qualidade de vida, crescimento econômico e político sociais. A cidade de Vila Velha possui um grande potencial de recuperar seus canais, promovendo uma relação harmoniosa com a cidade através do parque linear. Dentre estes canais, o de Guaranhuns, que com base no resultado obtido através do diagnóstico, apresenta potencial para acomodar a implantação de um parque linear que promova as quatro funções principais, intervendo também em seu entorno para sua valorização. Este trabalho busca mostrar a importância da preservação e valorização dos rios e canais urbano, apresentando uma nova solução através da implantação do Paque Linear que possibilite também a reaproximação da relação harmoniosa da cidade com os rios/canais. Também apresenta a possibilidade de valorizar os rios/canais utilizando-os como elementos estruturadores para a definição do desenho de um Parque e também do desenho da cidade.

122


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