Lendas árabes

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— Não lhe darei paz enquanto não me tiver dito seu segredo, mesmo que deva morrer! Então cessaram de falar com ela. E o mercador se levantou de junto deles e se dirigiu para o lado do estábulo, no jardim, a fim de fazer suas abluções e voltar para contar o segredo e morrer. Ocorre que ele tinha um galo valente, capaz de satisfazer cinqüenta galinhas. Tinha também um cão muito valente. Ele ouviu, naquele momento, o cão que chamava o galo, insultava-o, dizendo: — Não tens vergonha de te mostrares alegre quando nosso senhor vai morrer? E o galo disse ao cão: — Como é isso? O cão contou toda a história e o galo disse: — Por Alá! Nosso senhor é bem pobre de inteligência. Eu, que tenho cinqüenta esposas, sei me desembaraçar delas, agradando uma e ralhando com outra! Ele tem uma só e não sabe nem o bom meio nem a maneira de tratar com ela! Ora, é bem simples! Não tem senão que cortar, em intenção dela, algumas boas varas de amoreira, entrar bruscamente em seu reservado e bater-lhe até que ela morra ou se arrependa: e nunca mais ela tornará a importuná-lo com qualquer pergunta que seja! Ao ouvir aquelas palavras, o comerciante sentiu a luz voltar a sua razão e ele resolveu espancar a esposa. Assim, ele entrou no quarto reservado de sua esposa, depois de ter cortado em sua intenção as varas de amoreira e de as ter escondido. Disse-lhe, chamando-a: — Vem até o quarto reservado para que eu te diga o segredo e ninguém me possa ver morrer depois! Ela entrou com o marido e ele fechou a porta do quarto reservado sobre ambos e caiu-lhe em cima a golpes dobrados, até vê-la desmaiar. 36


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