Revista GP 0309

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Entrevista

Paulo Nogueira Neto abre seu di谩rio

No front

10 anos na Amaz么nia

jul - ago - set | 2009

greenpeace.org.br

Revista

Olho nos Oceanos



Caros colaboradores,

O paru vive em recifes de corais, como os de Abrolhos. © Greenpeace/Alcides Falangue

sumário

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10 anos de Amazônia

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Floresta de fogo

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Conservação de papel

10 Green na web 11 Entrevista: Paulo Nogueira Neto

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Armadilha do desenvolvimento

14 Informação dos sonhos

O Brasil deu passos importantes para sair do passado, mas em certos aspectos ainda tropeça quando é hora de entrar no futuro. Marfrig e Bertin, dois grandes frigoríficos brasileiros, assumiram publicamente que não processarão mais gado criado em áreas desmatadas na Amazônia.

© Greenpeace/Rodrigo Baleia

diário de bordo

capa

Já a política brasileira se movimenta de maneira errática. Lula, chefe de Estado do 4º maior emissor de gases do efeito estufa na atmosfera não deixa claro se, na questão do clima, vai tirar o olho do retrovisor. Para platéias estrangeiras, nosso presidente fala em queda do desmatamento na Amazônia e desenvolvimento sustentável. Aqui, prega a redenção pelo petróleo do pré-sal, apóia rasgar a Amazônia com estradas e propõem ancorar portos em regiões onde, neste momento, talvez fosse de bom alvitre criar áreas marinhas protegidas. As questões ambientais também estão ausentes dos discursos dos pré-candidatos à Presidência. Mas, talvez, não por muito tempo. A súbita entrada de Marina Silva na campanha já obriga os candidatos a exibir, e debater, as suas visões sobre o futuro do nosso ambiente. E aí, quem sabe, dessa discussão emerja um lider como José Bonifácio de Andrada e Silva, personagem de um curto texto dessa edição da Revista do Greenpeace que, à época de nossa independência, defendia temas impopulares, como o fim do desmatamento e do desperdício de nossos recursos naturais. A reportagem de capa é sobre a dificuldade de se criar áreas de conservação marinhas, fundamentais para a reposição de estoques pesqueiros e o combate ao aquecimento global. A revista também celebra dez anos de atuação do Greenpeace na Amazônia, que tem papel relevante para frear o desmatamento na região. E, na entrevista, outro histórico ambientalista brasileiro, Paulo Nogueira Neto, recomenda muito cuidado na revisão do Código Florestal. Boa leitura.

Marcelo Furtado Diretor Executivo Greenpeace Brasil

15 Lei renovada 15 Em ação 16 Calor no Norte 17 Encruzilhada climática 18 Perfil: José Bonifácio

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Foto-oportunidade

O Greenpeace é uma organização global e independente que promove campanhas para defender o meio ambiente e a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Nós investigamos, expomos e confrontamos os responsáveis por danos ambientais. Também defendemos soluções ambientalmente seguras e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações e inspiramos pessoas a se tornarem responsáveis pelo planeta. Por não aceitar doações de governos, empresas ou partidos políticos, o Greenpeace existe graças à contribuição de milhões de colaboradores em todo o mundo, que garantem nossa independência e o nosso compromisso exclusivo com os indivíduos e com a sociedade civil.

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amazônia

10 anos

na Amazônia Caroline Donatti

Em julho, o diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace, Paulo Adario, recebeu um telefonema ilustre. A embaixada britânica pedia que a organização guiasse o ministro de Energia e Mudanças Climáticas do Reino Unido, Ed Miliband, na Amazônia. Para os britânicos, como os brasileiros já sabem há muito tempo, o Greenpeace é uma referência de informações precisas sobre a região. Essa credibilidade foi conquistada com muito suor, lágrimas e sorrisos durante os dez anos que a organização atua na Amazônia. Desde 1999, o Greenpeace investiga e denuncia as ameaças à floresta e confronta os principais responsáveis pela destruição de 17% da Amazônia. Com o fim das árvores com valor comercial no Sudeste Asiático e na África Central, a floresta amazônica tornou-se a principal fonte de madeira do mundo. “Pela característica internacional da organi-

2000 4

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zação, tínhamos um grande poder de fogo no mercado global, que importava essas madeiras”, conta Adario. A estratégia serviu para demarcar a terra indígena Deni, depois da descoberta que a madeireira malásia WTK grilou uma parte do território dos índios. Ao mesmo tempo em que auxiliava os índios, o Greenpeace pressionava os consumidores. As ações resultaram no fechamento do mercado inglês e em uma declaração formal da empresa de que não entraria na terra Deni. O mercado internacional é a principal ferramenta de pressão para que a indústria mude seu comportamento. Com esse foco, o Greenpeace se voltou ao desmatamento provocado pela soja, setor que movimentou mais de US$ 9,5 bilhões em 2005 convertendo mata nativa em plantação. Quem não se lembra dos ativistas fantasiados de frangos invadindo o McDonald’s? Com a pressão, as comercializadoras de soja se

2003

comprometeram em não comprar grão produzido em áreas desmatadas após 2006. A moratória freou o aumento da derrubada impulsionada pela soja no norte do Mato Grosso e na região de Santarém (PA) e é visto pelo governo brasileiro como um modelo para resolver problemas parecidos em outros setores produtivos. Desde o início da atuação do Greenpeace na Amazônia e graças à exposição sobre a fragilidade da floresta, cerca de 14 milhões de hectares de áreas protegidas foram criados, formando uma barreira verde para amortecer a pressão sobre a floresta no Mato Grosso e no Pará. “Também trabalhamos para o desenvolvimento sustentável das comunidades”, diz Adario, referindo-se aos 22 milhões de pessoas que moram na região. “É preciso ganhar tempo com essas áreas protegidas para que a sociedade brasileira decida o que fazer no futuro.” O Greenpeace também contribui decisivamente na formulação de políticas públicas para a Amazônia. A idéia de desmatamento zero, hoje debatida pelos principais líderes mundiais, saiu da organização. O Fundo Amazônia, que ambiciona mais de US$ 1 bilhão para proteger a floresta, estava no plano para zerar

2005 Fotos: © Greenpeace/Isabelle Rouvillois, Flávio Cannalonga e Alberto César Araújo


A hora e a vez da JBS Os frigoríficos Bertin e Marfrig anunciaram que não vão mais comprar bois de fazendas com desmatamentos ocorridos a partir de 22 de junho de 2009. Já o maior frigorífico do mundo, o JBSFriboi, detentor das marcas Montana e Swift, está expandindo seus negócios ainda sem apresentar uma política ambiental, que garanta o fornecimento de produtos livres de desmatamento aos seus clientes. Com o anúncio, Bertin e Marfrig, frigoríficos concorrentes do gigante JBS, agora correm contra o tempo para cadastrar fazendas, mapear fornecedores e excluir aqueles envolvidos com trabalho escravo, violência agrária, grilagem de terras e invasão de áreas protegidas. A mudança de postura aconteceu depois que as empresas de calçados

o desmatamento até 2015. “As propostas de solução para zerar o desmatamento posicionaram a organização em outro estágio de influência no cenário político. O trabalho respeitado e os resultados positivos fizeram com que credibilidade da mídia também crescesse”, afirma Adario. O escritório com sede em Manaus (AM) abriga 25 pessoas. Uma equipe de mapeamento por

2006

Nike, Geox e Timberland, consumidoras do couro do Brasil, anunciaram que não comprariam a matéria-prima proveniente da Amazônia até que os frigoríficos rastreassem os animais e não usassem mais animais provenientes de áreas desmatadas. “A pecuária é o maior vetor de destruição da Amazônia e esse compromisso representa um passo importante para contribuir com o fim do desmatamento até 2015. Vamos acompanhar de perto a execução do acordo”, diz André Muggiati, do Greenpeace. SOJA Enquanto o setor de pecuária começa a se mover, a indústria da soja renovou a moratória por mais um ano. O acordo foi estendido até 2010, após

satélite monitora e identifica o local das agressões, e investigações de campo e sobrevôos são frequentes para validar os dados. O Greenpeace na Amazônia se tornou referência também dentro da organização e hoje serve de modelo para os outros escritórios em fronteiras de pressão, como o da Indonésia e o da África. Saiba mais em www.greenpeace. org.br/10anosamazonia

2006 Fotos: © Greenpeace/Daniel Beltrá, Jiri Rezac e Rodrigo Baleia

dois anos de experiência bem-sucedida, em que ele foi cumprido sem prejuízos para o setor. Segundo a moratória, a indústria da soja, representada pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), não compra grão produzido em áreas desmatadas após julho de 2006. A busca pela legalidade teve um impacto social importante: o número de casos de conflito na região de Santarém (PA), área de produção de soja, reduziu desde o início da moratória. O compromisso é um modelo de sucesso que pode ser replicado no setor pecuário. Ao mesmo tempo, há a expectativa de que os frigoríficos ajudem o setor da soja a cumprir um requisito do acordo ainda em aberto, por falta de governança: só comprar de quem tiver licenciamento ambiental e cadastro rural, impulsionando a regularização fundiária e ambiental das propriedades. C.D.

Da esquerda para a direita, protesto contra o corte ilegal de madeira no Xingu em 2000; demarcação da terra Deni em 2003; entrega da motosserra de ouro para Blairo Maggi em 2005; denúncia do corte ilegal de 1,6 mil hectares no Pará em 2006; invasão do McDonald’s por ativistas em Londres para expor a soja como vetor de destruição da floresta em 2006; ação em fazenda ilegal em 2009.

2009 |

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© Greenpeace/Daniel Beltrá

Floresta

de fogo

Prática de queimada é comum em estados amazônicos como o Pará e se intensifica nessa época do ano.

Caroline Donatti

A temporada de fogo na Amazônia, que começou em julho e vai até novembro, pode ser mais intensa do que a do ano anterior. Isso porque, em anos de El Niño, como 2009, quando as águas do Pacífico aquecem de forma anormal, a estiagem pode ser mais intensa no Centro-Oeste do Brasil e no sul da Amazônia. Apesar de a cheia na Amazônia esse ano ter sido a maior da história, as projeções mostram que mais de 60% da Amazônia Legal apresenta risco crítico ou alto de pegar fogo neste ano. A floresta, densa e úmida, dificilmente queima sozinha, mas, se alguém iniciar o fogo em áreas críticas, a possibilidade de propagação para áreas vizinhas é muito grande. “Pela experiência de anos anteriores parecidos, existe uma configuração preocupante em termos da ocorrência antrópica do fogo 6

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e de sua propagação descontrolada”, diz o pesquisador Alberto Setzer, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora os focos de incêndios por meio de imagens de satélites. “Mais preocupante que o risco de fogo alto na Amazônia são as centenas de focos de queima que detectamos diariamente, inclusive em áreas de preservação”, afirma Setzer. Entre agosto de 2008 e agosto de 2009, mais de 36 mil focos de calor foram detectados em áreas protegidas. “Uma vez que já tenham sofrido a ação do fogo, as florestas tornam-se mais vulneráveis à ocorrência de novos incêndios”, afirma a ecóloga Raquel Carvalho, do Greenpeace. A prática do fogo está associada ao atual modelo de desenvolvimento na Amazônia, baseado na expansão da agropecuária. Os incêndios servem para limpar o pasto e a área recém-desmatada a

um custo baixo. No Brasil, a queimada é proibida nesta época, sob multa de R$ 1.500 por hectare. Desde 15 de agosto as queimadas estão proibidas no Mato Grosso, um dos Estados amazônicos que mais ardem nessa época. “A prioridade é trabalhar em parceria com os municípios, limitando o dano e evitando que os incêndios atinjam a mata nativa que restou”, explica o tenente-coronel Alessandro Borges Ferreira, coordenador de gestão do fogo do Mato Grosso. Em artigo publicado na revista “Science” no ano passado, o pesquisador Gordon Bonan afirma que há um ciclo vicioso entre o aumento da temperatura e uma maior quantidade de incêndios nas florestas. Quanto mais a floresta queima, mais gases-estufa são liberados, agravando o aquecimento global que, por sua vez, provoca ainda mais incêndios.


Vânia Alves

© Greenpeace/Alcides Falangue

Governo federal segura criação de áreas marinhas protegidas em locais de interesse econômico

Nas gavetas dos órgãos governamentais, pelo menos 16 processos de criação de áreas marinhas protegidas aguardam para serem efetivados. Se depender da velocidade com que tramitam, o Brasil dificilmente cumprirá o tratado da CBD (Convenção de Diversidade Biológica, na sigla em inglês), segundo o qual seus signatários transformarão 20% de seus mares em áreas protegidas. Até o final deste ano, deveriam ser criadas no mínimo nove unidades, de acordo com informação dada pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, em audiência com organizações não-governamentais ambientais em outubro de 2008. No ritmo atual, a palavra não será posta em prática. Para que as unidades de conservação saiam do papel falta, basicamente, vontade política. “Se houver uma mobilização política forte ainda dá tempo para cumprir o previsto para este ano, mas isso não é uma garantia porque não dá para saber de antemão o tempo das negociações necessárias”, disse Fábio França, diretor de áreas protegidas do Ministério do Meio Ambiente. O que está em jogo é a restrição de ativida-

des econômicas e até de moradia nas áreas em questão. A criação do Refúgio de Vida Silvestre Peixe-boi Marinho, que teve início em 2005, é um dos processos que deveriam ser finalizados ainda este ano, mas há etapas pendentes. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – órgão ambiental do governo que administra unidades de conservação – ainda precisa fazer consultas públicas e estudos complementares. A região é de alto interesse para o setor imobiliário e o de turismo de luxo. Localizada na divisa do Ceará com o Piauí, a área onde será criado o refúgio abriga o segundo maior manguezal do Nordeste, com mais de 10 mil hectares, e é o mais importante santuário de peixe-boi marinho do Hemisfério Sul. “O peixe-boi é o símbolo dos problemas ambientais da zona costeira do Nordeste, mas não é a única espécie que será beneficiada”, diz Alberto Alves Campos, presidente da ONG Aquasis, que atua na região. Tartarugas marinhas também ameaçadas de extinção vivem ali. O local é parte da rota de aves migratórias.

oceanos

Conservação de papel


Áreas marinhas protegidas em processo de criação ou ampliação paradas No Ceará

Boi »» Refúgio de Vida Silvestre PeixeMarinho ral »» Área Marinha Protegida do Lito Leste do Ceará NA »» Refúgio de Vida Silvestre ou PAR Soldadinho de Guararipe

Na Bahia

»» Refúgio de Vida Silvestre Praia do Forte mbepe »» Refúgio de Vida Silvestre de Are a Zon – »» Parque Nacional de Abrolhos de Amortecimento

No Espírito Santo

»» Área de Proteção Ambiental Costa das Algas ta Cruz »» Refúgio de Vida Silvestre San a Ilha »» Unidade de Conservação Marinh ba ixa do Francês e Ilhas do Sul Cap dade – »» Unidade de Conservação Trin Martin Vaz »» Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Foz do Rio Doce

No Rio de Janeiro

»» Monumento Natural das Ilhas

Em São Paulo

»» Unidade de Proteção Integral Restinga de Bertioga

Em Santa Catarina Mapa das Áreas Marinhas Protegidas por grau de prioridade e importância biológica

ALTA Fonte: Ministério do Meio Ambiente

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EXTREMAMENTE ALTA

»» Reserva de Fauna na Baía da Babitonga »» Reserva Extrativista Farol de Santa Marta

No Rio Grande do Sul

»» Consolidação dos limites da EE do Taim

Cagarras

na


rt/PR © Ricardo Stucke

Lula faz festa com petróleo do pré-sal, mas se cala sobre proteção ambiental.

A recategorização das Ilhas das Cagarras, no Rio, também consta na lista dos processos com previsão de término para este ano. O arquipélago de sete ilhas, próximo à praia de Ipanema, está submerso em uma polêmica quanto à categoria na qual será enquadrado, que se arrasta desde 2003. Há grupos que defendem uma unidade de conservação integral, o que significa impedir qualquer atividade no local. Outros lutam para que as ilhas sejam consideradas unidades de uso sustentável com limitação, mas permitindo a pesca, passeios de barco e outras interferências humanas. Esse nó só pode ser desatado pelo ICMBio, por meio de consultas públicas. A classificação das Ilhas Cagarras como uma unidade de conservação é importante do ponto de vista político e ambiental, já que o local seria um símbolo de conservação urbana. QUEDA-DE-BRAÇO “Muitas vezes, as discussões sobre a criação de áreas protegidas se reduzem a uma queda-de-braço entre os interesses econômicos e a conservação da biodiversidade, mas o problema é muito mais abrangente”, avalia a coordenadora da campanha de oceanos do Greenpeace, Leandra Gonçalves. “É um desafio que envolve toda a população, sendo a pessoa moradora da zona costeira ou de

cidades distantes do mar, empresários do setor de pesca e turismo ou não.” A criação da Zona de Amortecimento envolvendo o Parque Nacional de Abrolhos, no sul da Bahia, está ainda mais enroscada: não há nem prazo previsto. A região é uma importante área de acasalamento e reprodução de baleias-jubarte, espécie em recuperação que continua na lista de animais ameaçados de extinção. Além das baleias, Abrolhos abriga várias outras espécies sob risco de extinção como tartarugas, peixes e aves marinhas. O processo começou em 2006 e esbarra nos interesses da indústria petrolífera. Mais de 240 blocos de exploração de gás e óleo já foram identificados e selecionados pela Agência Nacional de Petróleo na região. A criação dessas áreas e de outras – 30% do território costeiro-marinho do Brasil até 2020 – é fundamental para a proteção dos mares, que têm papel fundamental no combate às mudanças do clima, explica Leandra. Os oceanos são importantes reguladores do clima porque absorvem boa parte do calor gerado no planeta. Cerca de 90% de todas as emissões de gás carbônico, o principal gás do efeito estufa, são absorvidas pelos mares. Essa capacidade faz dos oceanos o maior sumidouro de carbono da Terra.

Pré-sal é nosso

e a poluição também Enquanto o ritmo de criação das unidades de conservação marinha anda em passos lentos, o governo federal corre para colocar a exploração do petróleo pré-sal em pé. A reserva está espalhada por 800 quilômetros da costa e seu uso trará impactos diretos para o clima e para a saúde dos oceanos. A Petrobras promete fazer a captura e a armazenagem do carbono – tecnologia chamada CCS, na sigla em inglês, ainda não viável técnica e comercialmente. Se o CCS não funcionar, e o Brasil usar todas as reservas estimadas do pré-sal, emitiremos ao longo dos próximos 40 anos em torno de 1,3 bilhão de toneladas de CO2 por ano. O presidente Lula sequer pensou em destinar recursos do pré-sal para a criação e manutenção de reservas marinhas. Isso pode ter consequências graves. Se a concentração de emissões não for reduzida, os oceanos podem passar de mocinhos a bandidos na luta contra o aquecimento global. “Mares mais quentes têm menos capacidade de absorção de CO2”, explica Leandra Gonçalves, do Greenpeace. Além disso, concentrações excessivas de CO2 provocam acidificação nos oceanos, comprometendo a saúde dos corais, berços importantes da biodiversidade marinha.

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green n@ web

Um espaço para chamar de seu Os colaboradores do Greenpeace ganharam uma área exclusiva dentro do site da organização. A partir de agora, eles encontram informações sobre as campanhas, inserem opiniões e comentários (como os exemplos ao lado), assistem a vídeos e baixam wallpapers em um único lugar. A ferramenta também fornece acesso rápido aos relatórios e documentos publicados e a todas as edições da revista e dos boletins. Uma das novidades é a interatividade dos doadores com o Greenpeace por meio de um fórum de discussão, que permite a postagem de textos e comentários. “A próxima etapa é ampliar a rede social entre os colaboradores, que poderão trocar idéias e informações entre si”, diz Luciano Marques, responsável pelo relacionamento com os colaboradores. Cada internauta cria uma senha de acesso e pode montar seu próprio perfil, acompanhar o histórico de suas contribuições e atualizar seus dados online.

tropical. “Em João Pessoa, o clima é bem Mas o verão daqui está bem mais de quente. Embora seja ainda uma cida as tir sen s muito arborizada, já podemo mudanças climáticas.” AYLLA MILANEZ PEREIRA

Para participar, basta entrar no site

www.greenpeace.org.br/areacolaboradores

© Nasa

De olho no blog

GreenTV O Greenpeace Brasil tem agora o seu próprio canal de vídeos no portal UOL. Não é necessário ser assinante para entrar e o internauta poderá conferir as últimas novidades em vídeo produzidas pela organização. Para aquecer os motores, confira as incríveis imagens captadas no Ártico: “Geleira Petermann Time Lapse” mostra o acelerado derretimento das calotas de uma forma diferente. Essa visualização é possível com uma técnica chamada time lapse, que consiste na união de fotos tiradas durante intervalos regulares de tempo, formando um único vídeo. Para conferir acesse: www.mais.uol.com.br/ greenpeacebrasil

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Em www.greenblog.org.br é possível saber quais são as principais ações do Greenpeace pelo mundo, notícias relevantes sobre meio ambiente, comentários de especialistas e fofocas dos bastidores das negociações políticas. As informações, atuais e de qualidade, são voltadas para quem quer acompanhar de perto tudo o que a organização faz e pensa.

“Aqui, em Itu, é bem qu ente, mas é evidente o calor excess ivo que está fazendo, e quando não está calor há chuvas intensas, que alguns anos atrás não havia.” GIOVANA MAURI LUPO

“Sempre que vou à praia levo sacos plásticos para recolher o lixo e divulgo a importância de proteger os oceanos.” MARIANA MARTINS

COP o quê? A COP 15, ou Conferência do Clima 15, é uma das mais importantes de todas as reuniões sobre o clima já realizadas e acontecerá em dezembro em Copenhague, na Dinamarca. Desde o início do ano, o Greenpeace trabalha em todo o mundo – inclusive no Brasil – para pressionar os governantes a agirem no combate ao aquecimento global. Mas o que vem a ser essa reunião? Por que ela é tão importante? O que está em jogo? Em www.greenpeace.org.br, você pode tirar todas essas dúvidas e ficar por dentro das atividades que o Greenpeace planeja para mobilizar o presidente Lula a fazer mais pelo futuro.


Livro aberto entrevista

O ambientalismo brasileiro, tal qual temos hoje, não existiria sem Paulo Nogueira Neto. Primeiro secretário especial de Meio Ambiente, cargo que exerceu por 12 anos, seu nome consta nos alicerces sobre os quais o debate ambiental se equilibra. Dele surgiram a compensação ambiental, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), unidades de conservação em todo o país. Ele foi o único brasileiro a compor a Comissão Brundtland, grupo que cunhou o termo desenvolvimento sustentável. Mais do que tudo, ele foi uma voz pública – e muitas vezes dissonante – na defesa da natureza. Agora, com 87 anos, ele vai contar a sua versão da história. Em novembro, Nogueira Neto lança um resumo de 35 anos de diários, com detalhes, nomes e bastidores. Revista do Greenpeace Por que o sr. resolveu publicar seus diários? Paulo Nogueira Neto Eles fazem parte da história – pelo meu ponto de vista, claro. Escrevo desde o primeiro dia em que assumi como secretário (especial do Meio Ambiente, antes da criação do ministério), em 1974, e escrevo até hoje. Quando comecei, todos os ambientalistas do Brasil cabiam em um microônibus. Eu sobrevoava a Amazônia em avião teco-teco de garimpeiro, que no vôo fazia “tectectec”. Estamos falando de quantos diários? São mais de 70 cadernos. Originalmente são 1.200 páginas. Mas não entrou tudo, senão não tem quem aguente ler. Por exemplo, são poucos os detalhes sobre as áreas que protegi. O sr. destaca a criação de alguma área protegida em particular? A história da Estação Ecológica de Uruçuí-Una. Em uma reportagem, li que o governo entregaria aos Estados todas as terras que tinham sido confiscadas dos jesuítas no século 18. Uma delas era no Piauí. Imediatamente tomei um avião e convenci o governador a proteger aquela área, sem nem a ter visto. Depois fui conhecê-la e, de fato, havia uma vegetação importante a ser mantida.

Em relação à legislação ambiental, o que o sr. citaria? Há casos bastante curiosos no diário. Por exemplo, a norma da reserva legal para a mata atlântica: em vez de escrever que é preciso preservar 20% da propriedade como vegetação nativa, escrevemos que é permitido derrubar 80%. O que o sr. acha da disputa atual entre ambientalistas e ruralistas? A coisa está ficando difícil porque entram fatores pessoais na discussão, como quando o (ministro do Meio Ambiente, Carlos) Minc chamou os ruralistas de vigaristas. Não pode, né? Todo mundo tem o direito de ser bem tratado, senão o diálogo é interrompido. O Código Florestal sofre atualmente um intenso ataque pela bancada ruralista. Como o sr. vê esse movimento? Algumas coisas do Código Florestal talvez precisem ser revistas, mas com muito cuidado. Em São Paulo, por exemplo, ninguém o respeita. O resultado é que as pessoas concordam com a manutenção das áreas de proteção permanente (APP), mas poucas reservas legais foram efetivadas. O que deveria ser revisto? A forma de compensação do passivo, por exemplo. O Código Florestal

© Elza Fiúza/ABr

© Greenpeace/Rodrigo Baleia

Cristina Amorim

permite compensar a falta de reserva legal em outras áreas da mesma bacia hidrográfica. Mas, em São Paulo, mais de 90% do passivo está na bacia do Rio Paraná e o que sobrou de mata atlântica está concentrada na bacia do Atlântico, na Serra do Mar. Fica difícil seguir essa diretriz no Estado. Qual é a solução? A solução seria que parte da APP pudesse integrar a reserva legal. Isso pode ser discutido e é possível chegar a uma redação possível. Em São Paulo, as florestas nativas estão crescendo, devido a uma lei econômica não-escrita, da mecanização na agricultura feita em larga e média escalas. Claro que sem a mesma biodiversidade, então é preciso reintroduzir espécies. E fora de São Paulo? A mecanização não traz mais floresta para o cerrado, por exemplo. No cerrado, o solo é diferente, é muito especial. Tem alumínio e um baixo teor de fosfato e, depois que se converte (que retira-se a vegetação nativa para introduzir uma monocultura), não tem mais volta. Se você tenta reintroduzir a espécie nativa, ela não cresce. Um dos maiores desafios hoje é preservar o cerrado e seu solo. Na Amazônia, a taxa de destruição é muito alta.

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nuclear

Armadilha do desenvolvimento Vânia Alves

© Greenpeace/Lunaé Parracho

Cidade no Ceará comemora exploração de urânio sem levar em conta os problemas ambientais e à saúde

Embalada por promessas de desenvolvimento econômico, a pequena Santa Quitéria (CE), cidade de 44 mil habitantes do sertão do Ceará, comemorou em junho a parceria entre a estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a indústria de fertilizantes Galvani. As duas empresas querem explorar urânio e fosfato da jazida de Itataia, localizada no município. Uma rápida análise dessa empreitada, no entanto, é suficiente para se perceber que não há motivos para comemorações. O projeto Santa Quitéria promete gerar 3.000 empregos diretos e indiretos, de acordo com a Galvani. A empresa não especifica quanto é mão-de-obra 12

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local. “Quando estivemos em Caetité (BA), percebemos que os funcionários de alto escalão eram de fora. Para a comunidade local restaram os postos mais perigosos, principalmente aqueles que exigem contato com o material radioativo”, afirmou André Amaral, coordenador da campanha de nuclear do Greenpeace. O mesmo é esperado para a pequena cidade cearense. Itataia é um antigo sonho da INB. Em 2004, a estatal tentou driblar a legislação que determina ser o Ibama o órgão responsável pelo licenciamento de qualquer empreendimento nuclear e conseguiu uma autorização da Superintendência

Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace) para operar em Santa Quitéria. A estratégia foi barrada por uma ação do Ministério Público Federal, que suspendeu o documento estadual no ano seguinte. “O meio ambiente e a legislação não podem ser postergados em defesa do desenvolvimento econômico”, diz o procurador Ricardo Magalhães, que acompanha a ação. Aquela não foi a primeira vez que a INB tentou encontrar brechas na legislação para não cumprir suas obrigações. Após nove anos de exploração, a mina de Caetité ainda não tem uma autorização definitiva de operação


Angra 3: superfaturada e aprovada

Mina de extração de urânio em Caetité é exemplo dos problemas que Santa Quitéria soferá.

O Tribunal de Contas da União (TCU) liberou em 23 de julho a continuidade das obras da usina nuclear Angra 3. Apesar do superfaturamento de R$ 469,3 milhões em seu orçamento, o tribunal fez apenas uma exigência à Eletronuclear – que fosse apresentado um novo contrato de construção com um corte de R$ 120 milhões sobre o valor inicial, em um prazo de 30 dias.

porque não apresentou pesquisas sobre a saúde dos trabalhadores e da população local. Nisso, a INB conta com a cumplicidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). O órgão que autoriza e fiscaliza atividades nucleares renova regularmente a autorização de operação inicial, que deveria ser utilizada apenas para testes. A população de Santa Quitéria será colocada em risco provavelmente para abastecer o mercado internacional. A produção atual da mina de Caetité é suficiente para abastecer as usinas Angra 1 e 2 e com a duplicação anunciada para o próximo ano poderá suprir também Angra 3.

Dinheiro público Além das questões ambientais e de saúde, a associação da INB com a Galvani coloca foco em outro problema. A maior parte do empreendimento, orçado em R$ 800 milhões, deverá ser financiada com dinheiro público. Um pedido de empréstimo de 80% desse valor está sendo estudado pelo Banco do Nordeste. A previsão de faturamento do projeto Santa Quitéria não foi revelada pela Galvani. A reportagem tentou entrevistar a Cnen, a IBN e o Banco do Nordeste por duas semanas, sem resposta. Em www.greenpeace. org.br/santaquiteria, é possível ler a íntegra das respostas enviadas pela Galvani.

Em novembro de 2007, o Greenpeace e o Partido Verde entraram com uma representação ao TCU que levou à revisão dos contratos apresentados pela Eletronuclear. Os valores irregulares continham superestimativas de até 810%, como nos serviços de pintura. Além disso, os atrasos constantes provocam um aumento adicional no valor da obra. A projeção é que Angra 3 leve 31 anos para ser construída. Danielle Bambace

© Eric Peleias

Santa Quitéria

Se os valores apresentados pela construtora Andrade Gutierrez durante a sessão plenária não fossem satisfatórios, uma nova licitação seria aberta. Mas não foi o que aconteceu. Mais uma vez o governo brasileiro se mostrou insensível aos abusos no bolso do contribuinte e permitiu que uma obra comprovadamente superfaturada continuasse.

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transgênicos

Informação dos sonhos

Danielle Bambace

Saber o que se come é o primeiro passo para uma alimentação mais saudável e responsável. Porém, a informação na embalagem não ajuda: os rótulos, que deveriam funcionar como aliados, estão longe do ideal. Faltam informações sobre sustentabilidade. Se a referência para a rotulagem fosse a pegada ecológica, ou seja, a quantidade de recursos naturais utilizados para viabilizar seu consumo, muitas adaptações seriam necessárias. A origem do produto que consta na embalagem se limita à zona industrial em que ele foi produzido. Nem sempre o local onde a indústria está instalada é de onde vem a matéria-prima. Além disuso ou não de agrotóxicos so, alguns produtos são uma miscelânea de ingredientes, com origens variadas e um histórico de danos ao meio ambiente. E o consumidor não consegue ter acesso à informação. Nas embalagens de carnes, é impossível saber em qual fazenda o gado foi criado e, se o nome é dado, é virtualmente impossível saber se ela é livre de volume de gases-estufa desmatamento. emitidos O mesmo vale para os cereais matinais: não é possível saber a procedência do milho e da soja, se o seu cultivo envolveu 14

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Rótulo ideal traria informações sobre o impacto ambiental envolvido em sua produção. Saiba quais itens fariam parte dele.

Informações nutricionais Quantidade por porção

%VD*

Valor calórico

110kcal

4

Carboidratos

12g

3

Proteínas

0g

0

Gorduras totais

7g

9

Gorduras saturadas

2,5g

10

Colesterol

0mg

0

0g

0

**

0

Ferro

**

0

Sódio

110mg

5

Fibra alimentar Cálcio

* Valores Diários de Referência com base em uma dieta de 2.500 calorias.

** Quantidade não significativa.

Ingredientes Batata Fazenda Santa Clara (Montes Claros, MG), cultivo orgânico com certificação, livre de agrotóxicos Óleo vegetal extraído de milho não-transgênico – plantio orgânico livre de agrotóxicos e processamento na Fazenda Milho Verde (Ribeirão Preto, SP) Sal iodado produzido por Salsaude (Cabo Frio, RJ) Não contém glúten. Alimento livre de transgênicos. Produto final obtido em BatataBoa LTDA. Rodovia dos Bandeirantes, km 15 São Paulo-SP Distribuído por Verde Frota. Esse produto emitiu 10g de CO2 eq.

Embalagem reciclável

o uso de agrotóxicos, que distância os grãos percorreram para chegar até a prateleira e qual foi a emissão de gases do efeito estufa. A União Européia saiu na frente e criou o “EcoLabel”, em 1992, um selo que informa quanto gás carbônico (CO2) é emitido por produto. A moda pegou e redes inteiras de supermercados convidam o consumidor a se preocupar com o aquecimento global na hora de escolher a próxima refeição. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige informações como ingredientes, peso, validade, informações nutricionais, se contém ou não glúten, se é destinado a fins especiais (diet e light, por exemplo) e se traz mais de 1% de matéria-prima transgênica – vitória do Greenpeace em 2007. Além da ausência de dados ambientais, esse rótulo é indecifrável para o consumidor. Os problemas começam nos termos técnicos utilizados na composição e na informação nutricional. Dizer que biscoitos contêm niacina não explica muito. O importante é saber que esse composto nada mais é do que a vitamina B3, que funciona como coorigem de cada ingrediente rante alimentício e é encontrado em carne, leite, ovos e legumes. “As empresas poderiam fornecer uma versão mais didática do rótulo, garantindo o direito à informação que é dado ao consumidor”, afirma Rafael Cruz, coordenador da campanha de transgênicos do Greenpeace Brasil. “Nossos hábitos alimentares têm consequências não só para nós, mas também para todo o planeta. Cabe ao consumidor cobrar e fazer escolhas de forma consciente.”


Vânia Alves

Primeira versão da lei brasileira de renováveis traz boas novas para o setor

O Brasil está mais perto de ter uma legislação de energias renováveis. O relator da Comissão de Energias Renováveis da Câmara Federal, o deputado Fernando Ferro (PT-PE), entregou em julho a primeira versão do texto que será transformado em projeto de lei. “O ideal é que a lei esteja pronta para ser levada à reunião de Copenhague. Essa seria uma grande contribuição e uma demonstração da responsabilidade do Brasil com o clima do planeta”, afirma Ferro. Na cidade, em dezembro, uma nova política climática precisa ser definida. A principal proposta apresentada por Ferro é a adoção de um mecanismo que oferece aos investidores garantias de acesso à rede de distribuição de energia com preços justos e contratos de longo prazo. O sistema, conhecido como feed-in, é utilizado na Alemanha e na Espanha, países com tradição em renováveis, e reduz os riscos para os empreendedores, atraindo capital para o setor. Essa proposta foi retirada do projeto de lei do deputado Edson Duarte (PV-BA), escrito com a colaboração do Greenpeace. O chuveiro elétrico também entrou na mira. Para incentivar o abandono de um dos maiores

vilões do consumo residencial de eletricidade, Ferro propõe redução de 20% na tarifa de quem usa coletores solares para aquecer a água. Outras melhorias aparecem no texto, como renúncia fiscal para a importação de equipamentos e criação de programas para a geração de energia renovável, de pequeno e médio porte, tanto em sistemas conectados à rede quanto em sistemas isolados. Isso facilita a geração local de energia, o que beneficia pequenas comunidades. Para incentivar novas tecnologias, o relator quer parte dos lucros que serão obtidos do pré-sal e das termelétricas em um fundo voltado para a pesquisa. “O texto é um avanço em relação à atual legislação sobre energias renováveis”, avalia Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de energias renováveis. Depois de receber emendas, o texto será encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça, para então ser votado no Senado. Para o deputado, a pressão da sociedade pode acelerar esse trâmite. “Se não houver uma grande mobilização, (o projeto de lei) pode levar muito tempo para ser votado”, diz.

A seleção de voluntários realizada em São Paulo, em julho, reuniu 226 interessados. O escritório foi pequeno para tanta gente e as atividades foram transferidas para a Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz. Foi uma verdadeira força-tarefa: voluntários mais antigos e funcionários da organização passaram o dia conversando com os candidatos e realizando entrevistas. No final, 48 novos voluntários foram selecionados. Eles se juntam aos outros 22 que já fazem parte do grupo da capital paulista. Os processos de seleção de novos voluntários são abertos periodicamente. Todos os colaboradores são convidados a participar.

© Greenpeace/Lunaé Parracho

renováveis

Lei renovada

Seleção recorde

Verde nos pampas Quem visitou o Shopping Iguatemi Caxias, em Caxias do Sul (RS), em julho, conferiu a exposição fotográfica “Salvar o Planeta. É Agora ou Agora”, uma seleção de imagens de algumas ações do Greenpeace e da expedição do navio Arctic Sunrise no Brasil. Nossa equipe de Diálogo Direto esteve todos os dias no evento, falando do nosso trabalho de defesa do meio ambiente, explicando a necessidade de se tomar medidas urgentes contra o aquecimento global e convidando os visitantes a se tornarem colaboradores do Greenpeace.

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green no mundo © Greenpeace/Nick Cobbing

Equipe do Arctic Sunrise passa entre Groenlândia e Canadá, em junho, durante sua viagem à geleira Petermann; a expedição, que termina em setembro, registrou os impactos negativos do aquecimento global no Ártico.

Calor no norte Danielle Bambace e Vânia Alves

Arctic Sunrise encontra cenário desolador no Ártico. Nível de derretimento da geleira Petermann, o ponto mais ao norte do planeta, é muito mais alto do que o esperado. Uma das expedições mais desafiadoras do Greenpeace está em curso neste momento. Até setembro, o Ártico é o local de trabalho de um grupo de ativistas e pesquisadores. A viagem, que começou em junho, tem o objetivo de reunir dados que ajudem a medir os impactos das mudanças climáticas nos pólos – e as conclusões iniciais são assustadoras. As áreas derretidas por conta do aumento médio das temperaturas e correntes marítimas mais quentes do que o comum na região é muito maior do que o previsto inicialmente. 16

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O maior impacto registrado foi o derretimento de parte da geleira Petermann. Um grande rio formado por água de degelo corre em cima da geleira – são 50 metros cúbicos por segundo. Para se ter uma idéia do que isso significa, esse volume de água é suficiente para encher uma piscina olímpica em menos de um minuto. O Ártico é uma das regiões mais sensíveis do planeta ao aquecimento global. O gelo que cobre a região reduz a cada ano: em março desse ano, por exemplo, fim do inverno no Hemisfério Norte, foram registrados 15,2

milhões de quilômetros quadrados de gelo, 590 mil km2 a menos do que a média registrada entre 1979 e 2000. À medida que a cobertura branca diminui, o oceano absorve mais radiação solar – o que aumenta a temperatura da água e, por consequência, promove ainda mais derretimento. A documentação fotográfica da expedição é histórica. Nossos fotógrafos registraram ursos polares, narvais e focas – uma rica fauna que, assim como toda a biodiversidade local, está fatalmente ameaçada pelos impactos do aquecimento global.


© Greenpeace/Pierre Gleizes

Encruzilhada climática Cristina Amorim

Começou a contagem regressiva para a Conferência do Clima, que acontece em dezembro, em Copenhague. Nosso futuro será decidido nessa reunião. Os 192 países que participam da Convenção do Clima das Nações Unidas precisam definir como será o regime político que vai reger o mundo a partir desse século, com muito menos gases do efeito estufa no ar. Desde o começo do ano, o Greenpeace se mobiliza para que o governo brasileiro faça sua parte: atinja o desmatamento zero

até 2015, garanta que pelo menos 25% da eletricidade no país seja gerada a partir de fontes renováveis até 2020 e transforme pelo menos 30% da costa marinha em áreas protegidas. No segundo semestre, a pressão ficará mais intensa. Contadores foram distribuídos em quatro capitais – São Paulo, Rio, Salvador e Porto Alegre. O de São Paulo começou a funcionar no dia 29 de agosto, quando faltavam 100 dias para o início da conferência. O mesmo contador está em nosso site, à disposição

clima

Iceberg inflável que tomou o rio Sena, em Paris, marcou em julho o pedido do Greenpeace para que o governo francês faça mais pelo clima.

para os internautas replicarem à vontade. Nossos voluntários irão às escolas, para levar informações sobre o aquecimento global a quem mais será afetado pelas mudanças climáticas: os jovens. Outras grandes ações estão em curso. O site do Greenpeace trará informações atuais sobre nossas atividades, além de explicações sobre o problema ambiental, como funcionam as negociações e dicas sobre como cada um pode ajudar a controlar o aquecimento global. “Estamos num momento crucial das negociações de clima e só o trabalho político não será suficiente para viabilizar as mudanças que precisam ser feitas pra salvar nosso futuro”, diz Gabriela Vuolo, coordenadora de mobilização da campanha de clima do Greenpeace. “A pressão pública é fundamental, mas também precisamos ir para as ruas.” O trabalho está apenas no começo. Fique de olho e participe!

> DEPOIMENTO

“Convencemos o policial” O coordenador da campanha de clima do Greenpeace, João Talocchi, foi detido em julho durante uma ação na sede da Unesco, em Paris, durante a entrega de um prêmio para o presidente Lula. Talocchi e dois ativistas franceses cobraram uma atuação mais ativa do governo brasileiro para salvar a floresta amazônica. Ele conta como foi: “A ação devia acontecer quando o Lula começasse a falar, mas a cerimônia não seguiu como a gente pensava. Por isso, quando o Lula foi receber o

prêmio, os dois ativistas franceses pularam no palco e abriram as faixas onde se lia ‘Salve a Amazônia, salve o clima’. Eu saí correndo, tentando encher um globo inflável o mais rápido possível. No palco, um dos seguranças tentou me barrar, mas me soltou e partiu para cima dos dois ativistas. Aproveitei para entregar o globo para o Lula. Os franceses foram detidos. Saí da sala e acompanhei o restante da cerimônia pela televisão. De repente, o Lula saiu de uma porta do meu lado,

cercado de jornalistas, e caminhou na direção de um carro. Como tinha uma faixa pequena no bolso, me posicionei no caminho e a abri, de maneira que os jornalistas vissem. Bom, aí fui detido e, depois, nós três fomos levados para uma delegacia. No interrogatório, o policial quis entender a ação, porque achava que o Lula defendia a floresta. Explicamos que no exterior o Lula diz uma coisa, mas internamente ele age diferente. No final, convencemos o policial.”

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fórum Tópico O que você achou da nova área de colaboradores?

José Bonifácio de Andrada e Silva

perfil

O patriarca do ambientalismo

“Está muito bacana! Super fácil de acessar, informativo – ainda mais com a colaboração dos usuários – muito bom! Fora que a interatividade e esses debates dão mais ânimo na luta a favor do ambiente! Parabéns pelo trabalho!” Taís Sonetti González,

Kiko Brito

O país que diz que o verde na sua bandeira homenageia suas florestas mal se lembra da natureza no dia de sua independência. E não é por falta de motivo. No grupo que comandou a separação do Brasil de Portugal, estava um homem que desde jovem se preocupou com a maneira como os brasileiros cuidavam do meio ambiente. Mas José Bonifácio de Andrada e Silva, o patriarca da independência, olhava com justificada amargura para o país que ele via nascer. Tentou, em vão, extirpar seus piores hábitos. Como a prática de caçar baleias arpoando filhotes para atrair as mães. Matar duas gerações para consumir uma, alertava, faria as baleias sumirem da nossa costa. Bonifácio também combatia a escravidão. E não só por questões morais. Via na mãode-obra barata a origem de um ciclo vicioso, onde a degradação do solo para a agricultura era resolvida com a abertura, a machado e fogo, de novas áreas agrícolas em cima de solo ocupado por florestas. “A Natureza fez tudo a nosso favor, nós porém pouco ou nada temos feito a favor da Natureza... Se os senhores de engenho não tivessem uma multidão demasiada de escravos, eles mesmos aproveitariam terras já abertas e livres de mato, que hoje jazem abandonadas”, escreveu ele na sua Representação à Assembléia Constituinte do jovem império tropical, em 1823. Nascido em Santos em 1763, José Bonifácio deixou o Brasil aos 20 anos para estudar mineralogia em Portugal. Em Coimbra, ligou-se ao grupo do naturalista italiano Domenico Vandelli, defensor dos recursos naturais como fonte de riqueza a ser preservada. Para cá, voltou em 1819. Imaginava reencontrar em São Paulo a mesma natureza que guardara na sua memória de juventude. Teve um choque ao ver o “miserável estado em que se acham os rios Tietê e Tamanduateí, sem margens nem leitos fixos, sangrados por toda a parte por sarjetas”. Previu que se vingariam, produzindo inundações. Bonifácio morreu em 1838 sem nunca ter renunciado a seus pontos de vista. O Brasil não quis lhe dar ouvidos. Se tivesse, o país teria gerido melhor seus recursos naturais e hoje, além de mais rico, seria também mais bonito. s 18

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n Ju bi Ga

no fórum da nova área de colaboradores do site do Greenpeace

Você também pode mandar seu comentário, dúvida ou sugestão. Participe! Para nos contatar: REVISTA DO Greenpeace Rua Alvarenga, 2331 Cep: 05509 006 São Paulo SP

ASSOCIAÇÃO CIVIL GREENPEACE Conselho diretor

Presidente Conselheiros

Diretor executivo Diretor de campanhas Diretor de campanha da Amazônia Diretor de comunicação Diretora de marketing e captação de recursos

Marcelo Sodré Eduardo M. Ehlers Marcelo Takaoka Pedro Leitão Raquel Biderman Furriela Marcelo Furtado Sérgio Leitão Paulo Adario Manoel F. Brito Clélia Maury

REVISTA DO GREENPEACE É uma publicação trimestral do Greenpeace

Editora de fotografia Redatores

Designer gráfico Impressão

Editora

Cristina Amorim (MTb 29391) Danielle Bambace Caroline Donatti Vânia Alves Danielle Bambace Gabi Juns D’lippi

Este periódico foi impresso em papel reciclado em processo livre de cloro. Tiragem: 26 mil exemplares. www.greenpeace.org.br

O selo FSC garante que este produto foi impresso em papel FSC.

ATENDIMENTO telefone 11 3035 1151 e-mail

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A poluição é nossa

© Greenpeace/Felipe Barra

No dia 31 de agosto, ativistas do Greenpeace penetraram na comemoração armada pelo governo, em Brasília, para celebrar o pré-sal e lembraram que o Brasil precisa levar em consideração as emissões de carbono e a poluição que serão geradas pela exploração de suas novas reservas petrolíferas. Assim que o presidente iniciou seu discurso, três ativistas subiram ao palco e abriram uma faixa com a frase: “Pré-sal e poluição: não dá para falar de um sem falar no outro”. Depois, três deles ficaram perto do palco segurando banners com os mesmos dizeres enquanto Lula terminava sua fala. A repercussão na imprensa foi enorme.

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© Greenpeace/Nick Cobbing

ARCTIC SUNRISE

O Arctic Sunrise continua sua viagem pelo Ártico. Os cientistas coletaram dados na geleira Petermann, que está prestes a se romper por causa do calor atípico na região. A equipe verificou índices de salinidade e temperatura da água e fincou um GPS na geleira para monitorar seu trajeto em caso de rompimento. Até agora, os dados coletados indicam que a corrente marítima do Atlântico, que fica a 60 metros da superfície, é uma das responsáveis pelo aquecimento da água. O dia-a-dia da expedição pode ser acompanhado no Twitter: http://twitter.com/GPArctic

RAINBOW WARRIOR

ESPERANZA

Os navios são plataformas fundamentais para o trabalho do Greenpeace. Essa frota viaja pelos quatro cantos do mundo e funciona como um verdadeiro escritório móvel – para expor e confrontar os responsáveis pelos crimes ambientais ou documentar as agressões em áreas remotas do planeta.

O Esperanza finalizou o monitoramento dos impactos das mudanças climáticas nas pequenas ilhas do Pacífico. Durante visitas a Samoa, Vanuatu e Ilhas Cook, ficou claro que essas comunidades não precisam da ciência para reconhecer que o clima está maluco. Tuakan Neiao (foto), moradora de Nassau, que foi destruída com a passagem de um ciclone em 2005, conta que os ventos estão mais fortes e as ondas mais perigosas. Mãe de dez filhos e líder comunitária, ela teme outro ciclone, mas afirma que não sai da ilha. A população do Leste Asiático é a menos preparada e a mais vulnerável aos impactos das mudanças climáticas.

Para acompanhar o paradeiro dos navios em imagens ao vivo entre em: http://www.greenpeace.org/international/photosvideos/ship-webcams

Durante as atividades pela proteção dos oceanos no Mar Mediterrâneo, ativistas do Greenpeace foram agredidos ao inspecionar o navio de pesca espanhol, Cabo Tinoso Dos, em Malta. Os ativistas abriram um banner com a frase ‘Massacre do atum’, dentro do navio pesqueiro que compõe parte da frota industrial de caça. O Greenpeace exige uma vistoria oficial do governo à embarcação. O Rainbow Warrior está no Mediterrâneo para monitorar o final da temporada de pesca.

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© Giulio Di Sturco/Greenpeace ©Greenpeace/Alcock


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