você gostaria de participar de uma experiência artística? + NBP (vol1)

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imaterial”130 , é importante aproximar-se da produção de arte contemporânea – e seu circuito – com a devida atenção, apostando neste lugar como portador ainda de possibilidades para o desdobrar de um pensamento produtivo e a construção de subjetividades transformadoras: localizar-se em torno da capacidade da arte contemporânea de “deflagrar verdadeiras potências cognitivas, afetivas, sociais, aptas a desordenar e re-agenciar os espertos encadeamentos construídos pela razão produtiva contemporânea”, “inventar dispositivos que permitam fugir à constituição do público como modelo majoritário” e “exceder os clichês e hábitos perceptivos do ‘espetáculo’”.131 Há aqui um problema delineado: as transformações que se instalaram no circuito de arte brasileiro e mundial a partir do fim do século XX – sendo que os jovens artistas que

iniciaram

sua

atuação

no

espaço-tempo

brasileiro

no

período

da

redemocratização vivenciaram a instalação abrupta dos primeiros movimentos de um insidioso novo regime socioeconômico, caracterizado hoje como capitalismo cognitivo (capitalismo cultural, regime pós-fordista, etc.). Do ponto de vista dos artistas, era preciso, é claro, a partir das demandas e exigências das formas de atuação escolhidas, desdobradas e desenvolvidas (sempre, aquelas que se oferecem como possíveis a cada momento), desbravar modos de atuação e agenciamentos (individuais, coletivos, institucionais) frente ao ambiente de trabalho configurado. É neste quadro, de um circuito de arte ainda hoje com muitas dificuldades em mediar de modo mais amplo o embate dos artistas com a nova máquina econômica e seu modo particular de instalação no Brasil (como se percebe a partir da incapacidade – que ainda persiste, duas décadas depois – do aparelho crítico e historiográfico em articular de modo mínimo que seja a complexidade daquele momento132 ), que procuro situar o início de minha prática como artista: ou seja, impõe-se uma discussão da construção e processamento de linguagens plásticas; o debate com um campo conceitual crítico-histórico; a exploração de 130

Y.Moulier-Boutang, op.cit.. Éric Alliez, Brian Holmes, Maurizio Lazzarato, “Construction vitale: quand l’art excède ses gestionnaires”, in Multitudes, Paris, Éditions Amsterdam, nº 15, inverno 2004. Disponível em http://multitudes.samizdat.net/Construction-vitale.html. 132 De fato, as exposições “2080”, museu de arte moderna, São Paulo, 2003, e a já mencionada “Onde está você, Geração 80?”, Centro Cultural Banco do Brasil, 2004, não foram capazes de tocar no nervo das contradições e complexidades do período e de seu processo de institucionalização. 131


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