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DAS OBRIGAÇÕES

e que os mercados de trabalho continuam ajustados”.

O especialista considera que os mercados estão a descontar uma recessão em muitas economias na primeira metade de 2023, o fim das subidas das taxas de juro por parte dos bancos centrais e uma inflação muito mais baixa. “A receita para um aumento está aí, mas, como de costume, pode passar do ponto”, avisa.

Cunningham partilha da cautela e alerta para dois riscos importantes.

“Um, que a inflação possa estar mais estruturalmente enraizada devido às alterações nos mercados de trabalho, o que obrigaria a Fed a aumentar mais as taxas de juro. O segundo é que aumentar as taxas num contexto de maior inflação pode afetar a estabilidade financeira”. Um risco que considera muito mais acentuado na Europa, onde o BCE está mais próximo do fim do seu ciclo de subidas.

Feitos os avisos pertinentes, é hora de pensar que classes de ativos de rendimento fixo podem ser interessantes. Para Sagayam, “historicamente, esta etapa do ciclo em que as taxas de juro continuam a subir, mas a inflação se estabiliza, favorece a dívida soberana dos países desenvolvidos, embora a sua atratividade varie em função das yields reais, da divisa e do grau de vulnerabilidade face às saídas de capitais”.

Mondher Bettaieb-Loriot, responsável de Obrigações Corporativas na Vontobel AM, mostra-se otimista com os fundamentais de crédito com investment grade. “Acreditamos que os spreads podem ter atingido os seus máximos para este ciclo, uma vez que as métricas do crédito são muito mais fortes do que eram durante a pandemia. Por exemplo, o endividamento é, atualmente, muito menor, cerca de duas vezes face a 3,2 vezes durante a COVID-19 e os spreads não estão muito longe dos níveis máximos dessa época”. Na sua opinião, o nível de spreads não está justificado tendo em conta a menor alavancagem.

Além dos fundamentais, Felix Freund, responsável de Crédito Europeu da abrdn, destaca a atratividade de retornos desta classe de ativos. “As yields de mais de 4% são muito atrativas no contexto histórico e os retornos são mais elevados se se investir em crédito durante uma recessão e se se capturar a seguinte recuperação”. Freund espera que os spreads diminuam em 100 pontos base dos níveis atuais para as médias a longo prazo durante a fase de recuperação em 2023. “Estas mais-valias de 4%5% juntam-se à yield atual de mais de 4%, assumindo que os retornos das obrigações do Estado se mantêm sem alterações”, afirma.

No entanto, o facto de os mesmos bancos centrais que utilizaram o efeito riqueza para sustentar a procura após a grande crise financeira mundial de 2008 poderem utilizar o efeito negativo para suprimir a procura e a inflação preocupa Patrick Vogel, responsável de Crédito da Schroders. Para o gestor, a possível queda da procura “representa um desafio para o panorama económico e significa que as empresas cíclicas serão menos capazes de dar resposta às suas dívidas. O posicionamento deve refletir este facto com mais crédito não cíclico e menos crédito cíclico”.

Emergentes

Convém não esquecer a dívida emergente que, para Cunningham (Capital Group), pode beneficiar do facto de “a memória da inflação nestes mercados ser mais fresca do que nos países desenvolvidos. Assim que a pressão inflacionista começou a materializar-se, começaram a aumentar as taxas de juro, muitos meses antes da Fed no primeiro trimestre de 2021. Os mercados emergentes estão muito avançados no que diz respeito ao ciclo de endurecimento e está a funcionar”. Tudo isto leva-o a esperar um panorama mais positivo para este segmento da dívida.

Em suma, parece que, tendo em conta os atuais níveis, a entrada nas obrigações pode-se ir construindo com uma certa diversificação através de diferentes classes de obrigações, com retornos atrativos que darão uma melhor proteção e com uma das melhores valorizações relativas no que diz respeito às ações dos últimos anos. Talvez o pior tenha ficado para trás, mas haverá solavancos no caminho.