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EM ANO CONTURBADO

Rever o impacto de 2022 pode ser um exercício desconfortável, mas poderá ser importante para detetar as estratégias que teriam resguardado os investidores da turbulência dos mercados.

Os CTA sobressaem desta análise.

De acordo com o dicionário, diversificar é o ato de tornar diverso ou variado. Se recorrermos a uma fonte mais versada no mundo dos investimentos - a Investopedia, por exemplo -, a palavra é definida como uma estratégia de gestão de risco, na qual os investimentos dentro de uma carteira são variados, numa tentativa de limitar a exposição a um único ativo ou risco. De acordo com um gestor tradicional 60/40, esta definição está no passado. Já se abordarmos um analista de fundos alternativos líquidos, diversificar passa por estratégias sistemáticas de seguimento de tendências, como os Commodity Trading Advisor (CTA). E, se olharmos para o último ano, tenderíamos a concordar.

“De um modo geral, 2022 foi um bom ano para a maioria das categorias de retorno absoluto, tendo marcado diferenças significativas face aos mercados tradicionais. Um ano caracterizado por volatilidade elevada em praticamente todas as classes de ativos, sendo que a estratégia mais notável foi a de CTA, especialmente as de pura gestão Systematic Trend”. Assim dizem Ángel Lara e Cipriano Sancho, analistas sénior de Mercados Alternativos e Privados na Santander Asset Management.

No final de 2022, este tipo de estratégias ganharam relevo, especialmente pelo facto do ano ter ficado tão marcado pelo sofrimento causado aos investidores expostos aos mercados tradicionais. Olhando para os fundos registados para venda em Portugal com dados disponíveis na Morningstar, a categoria de Systematic Trend alcançou um retorno médio a 12 meses em euros na ordem dos 12,15%.

Um dos fundos em destaque nesta categoria é o Schroder GAIA BlueTrend ao atingir um retorno de 28,93% em 2022 com um desvio padrão de 11,28%. Tal como explica James Freeman, diretor de investimentos da Schroder GAIA, esta é uma estratégia diversificada entre ações, obrigações, divisas e commodities, em mais de 175 mercados. O tamanho da posição é determinado pela força do sinal de tendência, bem como pela volatilidade, sendo que a posição é inferior quando é detetada uma maior volatilidade. O nível de

Produtos Alternativos

Os Fundos De Gest O Alternativa Mais Rent Veis A 12 Meses

risco é também repartido uniformemente entre as classes de ativos. “Ao longo do ano, os retornos têm vindo de diferentes classes de ativos em momentos diferentes. No primeiro trimestre, os principais retornos vieram das posições em commodities, no segundo e terceiro trimestres de obrigações e de investimentos em divisas”, explica Freeman.

Seguindo o primeiro lugar de perto está o MontLake DUNN WMA

Institutional UCITS que com a sua classe de retalho alcançou um retorno de 25,28% e com um desvio padrão na casa dos 9%. E, apesar de abaixo da casa dos 20%, o DNB - TMT Long/

Short Equities retail A (EUR) alcançou o terceiro lugar com um desvio padrão substancialmente menor do que os dois primeiros classificados, con- figurando o único fundo presente no pódio fora da categoria de estratégias de seguimento de tendências.

CURTOS/LONGOS

A explicar alguns dos ganhos nestas categorias estão as posições curtas em ativos de rendimento fixo, tanto em taxas de curto prazo como em obrigações, que permitiram aos gestores arrecadar ganhos devido ao aumento histórico das taxas de juro. Além disso, algumas das estratégias em análise beneficiaram também de ganhos em posições longas no dólar e posições curtas em libras, euros e ienes, com as ações a não terem grande impacto no agregado das carteiras.

Outra categoria nas estratégias de valor relativo com pouca direcionalidade que se destacou em 2022 foi a de Equity Market Neutral. “Pode ter sido a cate- goria que providenciou melhores resultados em termos absolutos”, de acordo com Ángel Lara e Cipriano Sancho. Os peritos da Santander AM explicam que tanto os Event Driven, como os fundos de arbitragem de convertíveis, resistiram às fortes quedas nos mercados de ações. E também as estratégias alternativas alocadas a rendimento fixo, embora com resultados na sua generalidade negativos, mostraram um desempenho superior aos das estratégias tradicionais.

Apesar de muitos acreditarem que as categorias de retorno absoluto são alheias à direção do mercado, tal nem sempre se verifica. Uma estratégia não estar correlacionada com o mercado significa apenas que os seus movimentos vão diferir do mercado, e não que determinadas estratégias ou alguns gestores serão capazes de gerar ganhos indepen-

Rentabilidades A 1 Ano

Obriga Es Corporativas Euro S O Promissoras No M Dio Prazo

Rentabilidades A 3 Anos

Por quanto tempo os bancos centrais vão continuar a aumentar as taxas de juro? Esta é a pergunta que a maioria dos participantes do mercado está a fazer hoje.

dentemente do contexto de mercado. E é por este motivo que os resultados obtidos em 2022 pelas categorias de alternativos trazem tanto prestígio a este tipo de estratégias.

Já das estratégias mais direcionais, esperavam-se resultados menos animadores, dada a queda do mercado. No entanto, os analistas da Santander AM destacam os resultados das estratégias long-short em ações com um viés para valor, ou estratégias multigestor dentro dos Global Macro. “Os futuros de commodities beneficiaram do bom desempenho das matérias-primas, apesar da forte correção a meio do ano”, concluíram.

A dispersão do desempenho entre estratégias alternativas ao longo de 2022, bem como entre fundos dentro da mesma categoria, destacam a necessidade de ter uma carteira diversificada nesta classe de ativos. Olhando para as estratégias Systematic Trend EUR, por exemplo, apesar de pertenceram à categoria com a melhor rentabilidade média e a maior rentabilidade máxima em 2022, estão também entre as estratégias com uma das rentabilidades mínimas mais baixas. Por outro lado, na visão a três anos, vemos a categoria Options Trading, por exemplo, a apresentar uma das melhores rentabilidades máximas mais elevadas, mas também uma das rentabilidades mínimas com pior desempenho.

Estes resultados reforçam a ideia de que nem todas as estratégias funcionarão em qualquer ambiente, nem os gestores estarão sempre certos. O ponto-chave é garantir posições diversificadas que se complementem para canalizar retornos para o investidor.

Na DWS, acreditamos que ainda é cedo para apostar numa mudança de rumo por parte dos bancos centrais. No entanto, com vários aumentos substanciais de taxas em várias áreas já assumidos nos próximos trimestres, isso não deve ser outra surpresa negativa nos mercados de obrigações. Em geral, a incerteza permanece muito alta no mercado de obrigações. Apesar disso, a nossa perspectiva para os títulos corporativos europeus melhorou após a venda de títulos de obrigações no primeiro semestre de 2022: num horizonte de 12 meses, vemos oportunidades no campo do investment grade (IG) e do high yield (HY). Nesse tipo de ativo, o patamar de rentabilidade alcançado não era tão atrativo há muito tempo. Se evitarmos os piores cenários possíveis (falhas de energia na Europa, inflação prolongada e riscos geopolíticos crescentes), podemos esperar um ano promissor para o IG europeu.