Folha de Oração Dezembro de 2016

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S E M E N T E S DE ESPERANÇA DEZEMBRO 2016

| Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre


Intenções de Oração do Santo Padre Intenção Geral O fim dos meninos-soldados

Para que seja eliminada em todo o mundo a praga dos meninos-soldados. Intenção Missionária Redescobrir o Evangelho na Europa

Para que os povos europeus redescubram a beleza, a bondade e a verdade do Evangelho, que dá alegria e esperança à vida. A Estrela de Belém Quando olharem para o céu, à noite, nas semanas que antecedem o Natal, pensem na estrela que, por ordem de Deus, apareceu no firmamento, no momento oportuno, a fim de indicar aos três Reis Magos o caminho para o Menino Jesus, e pensem no anjo que se apressou para Belém, a fim de anunciar aos pastores o nascimento do Salvador. Deus foi generoso em milagres, quando se tratou de cumprir o Seu plano de salvação. Por isso, não depende de Deus não haver paz na Terra e nos nossos corações. Depende de todos os que não têm boa vontade. Depende de mim e de vós, sempre que, cegos para ver a estrela e surdos para ouvir o cântico dos anjos, nos desviarmos, de modo egoísta, do caminho da manjedoura. Pe. Werenfried van Straaten

A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor, ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.

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Sementes de Esperança | Dezembro 2016


Reflectir INTENÇÃO NACIONAL Que este Natal seja diferente, na atenção e no cuidado fraterno pelo semelhante, que representa a proximidade de Jesus que se fez em tudo semelhante a nós.

A CULTURA DA INDIFERENÇA Nos Evangelhos encontramos vários géne-

quem não tem uma casa, não tem uma

ros literários: temos recordações de ges-

terra que possa chamar sua e que lhe dê a

tos e de palavras de Jesus; temos também

garantia de se sentir em segurança e em

belas histórias que Ele mesmo inventou

liberdade. Porque, na verdade, sentir-se

para ilustrar um pensamento, um ensina-

na sua terra, sentir-se em casa é condi-

mento. É nesta categoria que se enquadra

ção de segurança e, por conseguinte, de

a parábola do bom samaritano (Lc 10,30-

liberdade.

37), certamente uma das mais belas histórias não só da Sagrada Escritura, mas de

Jesus conta a parábola do homem que,

toda a literatura mundial!

descendo de Jerusalém para Jericó, foi assaltado, despojado dos seus bens, e

Tratava-se de saber afinal quem é o próxi-

abandonado meio morto à beira da estra-

mo que devemos amar como a nós mes-

da. Passa um sacerdote, passa um levita,

mos, segundo o mandamento divino (Lc

e seguem por diante; vem um samari-

10, 25-29). Na tradição judaica, o próximo

tano, enche-se de compaixão e cuida

era, em primeiro lugar, o concidadão e,

dele, levando-o para uma estalagem e

depois, também o estrangeiro, segundo

confiando-o aos cuidados do estalajadeiro

aquela regra que recordava que, porque

e tomando a seu cargo todas as despesas.

também tu foste estrangeiro no Egipto, lembra-te daqueles que, por razões

Segundo a lógica interna da parábola, o

semelhantes, se encontram fora da sua

bom samaritano é Jesus mesmo, pois é

terra, que sofrem daquela insegurança de

Ele que se enche de compaixão, trata do

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Reflectir homem despojado dos seus bens pelos

Há tempos, na Av. Lusíada, estava um

salteadores, cura as suas feridas e entre-

automóvel avariado e a proprietária ten-

ga-o à Igreja, na figura da estalagem e dos

tando contactar com alguém pelo telemó-

seus ministros, o estalajadeiro. Hoje mui-

vel. Pelo espelho retrovisor apercebi-me

tos têm dificuldade em reconhecer esta

que vinha um cavalheiro a pé na sua

interpretação. Mas, na realidade, o único

direcção, o qual, passando por ela, seguiu

inimigo de Deus e malfeitor do homem é

em frente absolutamente indiferente!...

o demónio, o espírito do mal, que esprei-

Lembro-me dos anos setenta quando vim

ta o homem que se aventura a andar

para Lisboa. Quantas vezes espontanea-

sozinho pelos caminhos tão perigosos

mente as pessoas acudiam a quem tinha

da vida. Aquela ideia que se encontra na

alguma avaria em plena 2ª Circular! É pre-

Escritura de que não é bom que o homem

ciso que façamos como o Bom Samaritano,

esteja só (Gn 2,18) não se refere apenas

- vai e faz o mesmo -, porque a causa da

ao casamento, mas também à condição

indiferença não está nos outros nem na

humana enquanto tal. O homem é o ser

cultura da indiferença em abstracto, mas

da relação e, por isso, só na comunidade

na falta de atenção que cada um tem a

é que ele pode encontrar refúgio e pro-

respeito do irmão que está a seu lado.

tecção. O bom samaritano leva o homem

Andam todos ligados pelos telemóveis

para a estalagem e confia-o aos cuidados

a amigos virtuais e esquecem os irmãos

do estalajadeiro. A estalagem é a Igreja e

reais que estão junto de si. Estas são as

o estalajadeiro são os ministros da Igreja,

nossas periferias existenciais.

os sacerdotes, em primeiro lugar, que têm a missão de curar as feridas e restituir ao homem despojado a sua dignidade perdida, através dos sacramentos, sobretudo

Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS

os sacramentos da cura, a penitência e a unção dos doentes.

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Sementes de Esperança | Dezembro 2016


Turquia Superfície 780.576 Km2 População 79,6 milhões

• Ucrânia

Hungria• Moldávia•

Sérvia•

Religiões Cristãos: 0,27% Muçulmanos: 98,3%

• Rússia

Roménia•

Bulgária•

Mar Negro

• Geórgia

Macedónia• Albânia•

• Arménia

• Turquia

Grécia•

Sunitas: 70,62%

• Irão

Xiitas: 2,94% Alauitas: 24,52%

• Síria

Outros: 0,22%

• Líbano

Outros: 1,43% Israel •

Línguas oficiais Turco • Líbia

• Egipto

• Iraque

• Jordânia • Arábia Saudita

TURQUIA

CADA VEZ MAIS ISOLADA Fracasso na Síria, ruptura com Israel e o Egipto, provocação contra a Rússia, afastamento da Europa, tensões internas com os curdos e os alauitas, quem é que ainda confia em Erdogan? “O sultão sofre um revés”, era o título do segundo mais importante diário turco, Hürriyet, a 8 de Julho de 2015. O AKP, partido de Recep Tayyyip Erdogan, desde há treze anos o homem forte do país, perdia a maioria nas eleições legislativas. Com menos de 10% dos seus eleitores – a AKP passava de 49,8% em 2011 para 40,7% em 2015 – o líder turco sofria uma derrota importante, tanto mais que tinha apontado para uma maioria de dois terços com o objectivo de instaurar um regime Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

presidencial. O autoritarismo, a arrogância e a instrumentalização da religião, gastos sumptuosos – um palácio presidencial com mais de 1.000 salas enquanto um terço da população turca vive com o rendimento médio de 320 dólares - insultos à oposição classificada como bandos “de meliantes” ou ainda “agentes ao serviço das forças externas”, pressões exercidas sobre os media, montagem de um cenário pouco credível da prática religiosa, as razões deste fracasso terão sido numerosas. 5


Turquia O regresso aos discursos políticos nacionalistas semeia a desordem.

O ESCAPE CURDO Com 13,1% dos votos, o HDP (Partido Democrático do Povo), pequeno partido pró-curdo, conseguiu roubar o protagonismo ao homem forte do país. Sem se importar com isso, Erdogan vai relançar a guerra contra os curdos recorrendo a uma estratégia de tensão e, nomeadamente, a um retorno brutal a um discurso nacionalista. O “sultão” contestado quer a sua vingança e escolheu a aposta de risco de uma confrontação em que usa todos os meios para reforçar a sua legitimidade. Num país já polarizado entre conservadores e liberais, turcos e curdos, sunitas e alauitas, esta escolha pode revelar-se explosiva. “O presidente Erdogan quer pôr o país a ferro e fogo para assegurar a vitória nas eleições legislativas antecipadas”, denunciava Selahattin Demirtas, chefe do HDP. E, com efeito, os atentados e a “guerra suja” contra o PKK (Partido dos trabalhadores do Curdistão) vão recomeçar com mais violência. Manipulando o medo do caos para se constituir em garante da segurança Erdogan, é bem sucedido na sua aposta ao 6

ganhar as eleições legislativas do dia 1 de Novembro de 2015, mas a que preço? “A mais pequena crítica é, neste momento, considerada uma ameaça. É um sinal de ditadura! Já não espero a democracia.” confessa Ismail Evren repórter da revista Notka. OS ALAUITAS Se apenas houvesse o problema dos curdos, mas também há o dos alauitas… O alauismo é a segunda religião da Turquia a seguir ao sunismo. As estimativas divergem no seu número e as autoridades turcas têm tendência a minimizar a sua dimensão. Segundo os demógrafos, os alauitas representarão 18-25% da população. O alauismo associa-se ao xiismo duodécimo, mas situa-se também nas tradições sufi tendo conservado elementos animistas do tengriismo, uma divindade do céu que existe, igualmente, nos Mongóis. Venera as árvores, o cume das montanhas, os leitos secos dos rios e acredita numa trindade composta por Alá, Maomé e Ali. Em Dezembro de 2014, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou Sementes de Esperança | Dezembro 2016


Turquia Em 2014, a Turquia foi condenada por discriminação religiosa pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

a Turquia por “descriminação com base na religião” relativa ao culto alauita, por violar a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, artigo 9º relativo ao direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião, e artigo 14º relativo à proibição da descriminação. Até hoje, o alauismo continua a ser oficialmente ignorado pelas autoridades turcas e os seus locais de culto não têm nenhum reconhecimento jurídico. A 8 de Fevereiro de 2015, milhares de alauitas manifestaram-se em Istambul para exigir o fim do ensino obrigatório do Islão, nas escolas turcas. “Sempre dissemos que os cursos de religião obrigatórios eram uma tentativa de assimilação dos alauitas. Não queremos privilégios, mas não nos deixaremos discriminar”, declarou Fevzi Gümüs, um responsável desta comunidade. VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES Em poucos dias, o seu nome tinha sido twittado 4,6 milhões de vezes. Violada, assassinada, amputada e queimada a 11 de Fevereiro de 2015, a estudante Ozgecan Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

A violência em relação às mulheres não pára de aumentar. No entanto, o Governo não reage.

Aslan não tinha ainda 20 anos. Este crime particularmente violento levantou uma onda de cólera inédita na Turquia. Uma petição pedindo sanções penais mais severas recolheu, numa semana, o número record de 900 mil assinaturas. É preciso dizer que o fenómeno de violência contra as mulheres assume, de há uns anos para cá, proporções alarmantes. À falta de números oficiais precisos, uma jornalista do site de informações Bianet faz todos os meses o recenseamento dos assassinatos, violações e actos de violência conjugal contra as mulheres turcas, resultante da sua pesquisa na imprensa local e nacional. Dados forçosamente incompletos, mas que indicam uma tendência inquietante com um aumento de 70%, em dois anos, do número de assassínios. O domínio do AKP, partido islamita no poder desde 2002, terá algo a ver com isto? Em Novembro de 2014, o presidente Erdogan declarava que as mulheres não podiam, “por natureza”, ser iguais aos homens. Após a morte de Aslan, o popular animador de televisão Nihat Dogan 7


Turquia Refugiados cristãos do Iraque na Turquia.

declarava: “As mulheres que usam mini-saia e passeiam meio despidas não têm nenhum direito de se queixar se forem assediadas.” Seja como for, as autoridades políticas são, claramente, acusadas de inércia face a este problema. O DELÍRIO NEO-OTOMANO No plano exterior, as tensões são utilizadas em prol de um sonho expansionista neo-imperial. Criticada durante muito tempo pela sua neutralidade, quase benevolência, face ao Estado Islâmico (EI), a Turquia rompeu oficialmente com esta aproximação empenhando-se mais firmemente na luta contra a organização jihadista. Oficialmente, porque na realidade a tomada de atitude não convence lá muito. Muitos acreditam num simples estratagema para intensificar os ataques contra os curdos sob o pretexto de atingirem o EI que durante muito tempo beneficiou do apoio turco: os mercenários estrangeiros (cerca de trinta mil) bem como as armas do EI transitaram pela Turquia, tal como no lado contrário o petróleo exportado pelo EI, sendo ao que parece uma parte do tráfico controlada “in fine” pelo clã familiar do presidente. 8

Com forças armadas envolvidas no Iraque sem o consentimento do Estado iraquiano e a evidente aspiração a controlar uma parte do território sírio, esta fuga para a frente da política estrangeira turca não deixa de suscitar alguma inquietação. Ao abater um avião de combate russo, a 24 de Novembro de 2015, na fronteira sírio-turca, a Turquia procura envenenar a situação para se opor à intervenção russa, convocando a NATO em seu auxílio. Também aqui, ao jogar com a estratégia de tensão, a aposta é arriscada. “A perda de hoje é uma punhalada nas costas dada pelos cúmplices dos terroristas” declarou o presidente russo. Naturalmente, Putin não esquecerá! A CRISE DOS MIGRANTES Do lado europeu, Bruxelas condena o autoritarismo do Presidente turco, mas conta com ele para travar o fluxo dos migrantes. Erdogan compreendeu todo o interesse da situação e aproveita-se dela. Os dois milhões de migrantes que estão no território turco tornaram-se um trunfo na relação com a Europa e a vaga migratória deste Verão é tudo menos obra do acaso. A Alemanha tem necessidade de migrantes Sementes de Esperança | Dezembro 2016


Turquia para compensar o seu suicídio demográfico, mas a Turquia jogou habilmente o jogo. Em troca das suas promessas de gestão da crise migratória, Erdogan já arrecadou da União Europeia três milhões de euros e quer agora uma dispensa de vistos para os cidadãos turcos, bem como a aceleração do processo de integração na Europa. É isso que é difícil de compreender: quer-se deixar entrar a Turquia na Europa para resolver a crise dos migrantes, mas quando isso acontecer haverá ao mesmo tempo na Europa os turcos e os migrantes! RELAÇÕES COM A IGREJA “O Papa Francisco é o papagaio das mentiras arménias” era o título do jornal Takwim, próximo do poder, depois das declarações do Santo Padre a respeito do genocídio da Arménia, a 12 de Abril de 2015. O grupo dos responsáveis turcos reagiu violentamente aos comentários do Papa e o assunto é tabu na Turquia. Todavia, a viagem do Papa Francisco, em Novembro de 2014, decorreu bem. Um mês depois, aparecia a notícia da autorização do Governo turco para a construção de uma nova igreja em Istambul, a primeira desde a proclamação da República Turca em 1923. Esta igreja deveria servir as comunidades síria, ortodoxa e católica. A reabertura do seminário greco-ortodoxo de Chalki, indispensável para a renovação do clero ortodoxo grego na Turquia e encerrado há quarenta e quatro anos, está condicionada à reabertura da mesquita Fetiyeh em Atenas. É pouco provável que a situação melhore rapidamente. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

Oração Para que a Turquia se deixe tocar pelo desejo da paz e da concórdia, e possa contribuir para a estabilidade mundial, nós Te pedimos Senhor! Os Cristãos já não representam mais do que 0,1% da população.

Cristianismo reduzido a pó Mesmo que não haja estatísticas verdadeiramente fiáveis, estima-se que haja na Turquia 120 mil cristãos, repartidos entre arménios apostólicos (55 mil), sírios ortodoxos (15 mil) e católicos (30 mil) divididos por quatro ritos: latino, arménio, siríaco e caldeu. A estes acrescem entre dois a três mil greco-ortodoxos e alguns milhares de anglicanos e protestantes. Desde a queda do império otomano que a Igreja Católica não tem estatuto jurídico.

Um novo vigário apostólico Assassinado com várias punhaladas pelo seu motorista turco, em Junho de 2010, o Mons. Padovese, capuchinho italiano, era o antecessor do Pe. Paolo Bizzeti, jesuíta italiano, nomeado pelo Papa Francisco, a 15 de Agosto, novo Vigário Apostólico da Anatólia. O lugar ficou vazio durante cinco anos. Com 68 anos, o Pe. Bizzeti conhece bem a região por ter acompanhado peregrinações ao local, organizado cursos de formação e fundado a associação “Os amigos do Médio Oriente”.

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Oração Oração para a Véspera de Natal Concede-nos, Senhor, o olhar que nos permite ver o Teu amor no mundo apesar do fracasso humano. Concede-nos a fé para confiar na Tua bondade apesar da nossa ignorância e fraqueza. Concede-nos o conhecimento para que continuemos a rezar com um coração compreensivo. E revela-nos o que cada um de nós pode fazer para que chegue o dia da paz universal. Ámen.

Oração para antes de abrir os presentes Senhor, Tu que concedes tudo o que é bom, os Rei Magos percorreram quilómetros para oferecer ao Menino Jesus os primeiros presentes de Natal. Possamos nós também recordar, de coração agradecido, o amor que recebemos em cada presente que abrimos. Também Te agradecemos pelos muitos presentes que nos dás, principalmente pelo dom da própria vida. Ámen. 10

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Meditação

Para que os velhos votos de Natal sejam novos todos os dias Questionamentos, com tons de aridez e desânimo, podem brotar no coração humano em plenas festas natalícias. É tempo do Natal, de novo, e onde está a novidade? Ao avaliar os últimos anos, ou mesmo a década que passou, o que mudou para melhor? Talvez as análises sejam marcadas pelo pessimismo, concluídas com uma afirmação melancólica: de novo, é tempo do Natal. Os votos natalícios, que ocupam a pauta dos meios de comunicação, os cumprimentos entre pessoas e os cartões enviados podem parecer mera repetição. Isto porque, dias depois, tudo parece voltar a uma rotina que tem o seu peso próprio. Os votos de Natal podem tornar-se apenas «palavras pronunciadas ao vento», sem nenhuma força de transformação e mudança. Em vez disso, cada pessoa deve aproveitar o tempo do Natal como oportunidade para capacitar-se para o novo. A novidade que se experimenta não se esgota nas indispensáveis inventividades do comércio ou na criatividade de estrategas para alcançar ganhos, sair de crises, conseguir novas respostas económicas, inclusive para superar os cenários de exclusão que envergonham a sociedade. O novo do tempo do Natal está na fonte plantada bem no centro da história, perto de cada homem e mulher, no mistério insondável e inesgotável da encarnação do Verbo, Jesus Cristo, o Filho de Deus. A fonte do novo que não envelhece está entre nós e é o cântico do tempo do Natal. Está aí a novidade procurada pelo coração humano, como necessidade amorosa que alimenta o sentido da vida. A liturgia na Igreja Católica constrói este caminho experiencial com singularidade e riqueza preciosas, além de uma incontestável força pedagógica. Essa força é transformadora, com incidência na vida de quem percorre o caminho rumo ao mistério do Natal do Senhor. Indispensável é livrar-se das exterioridades que ancoram os corações na superficialidade. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Meditação São pesados fardos que não permitem avanços na experiência do encantamento que o mistério do Natal opera na história da humanidade e na vida de cada pessoa. Santo Agostinho, tocado no mais íntimo do seu ser por este mistério, expressa, de maneira admirável, a sua profundidade e o seu alcance quando diz: «Celebremos este dia de festa, em que o grande e eterno Dia, gerado pelo Dia grande e eterno, veio a este nosso dia temporal e tão breve». Esta reflexão permite compreender melhor a novidade, sempre atual, que deve acompanhar os votos de feliz Natal. Ao alcançar esse entendimento, de modo profundo, supera-se a rotina que promove esterilidade, são superados desencantos que deprimem e fazem tantos caírem, não se deixa exaurir a força dos que combatem em muitas frentes, especialmente as que buscam a paz, a solidariedade e a justiça. Santa Terezinha do Menino Jesus, sempre muito tocada pelas festas do Natal, em diálogo com Maria, a Mãe do Salvador, pergunta, em meditação profunda: «Terei inveja dos anjos que cantam o nascimento do Salvador? Não, porque o Senhor deles é meu irmão!» Esta verdade é a fonte da esperança que garante a novidade tão almejada pelo coração humano. Não há outra realidade comparável ao encontro do novo que está sempre guardado no coração de Deus. Tudo o que está fora desta fonte é repetição, não raramente enfadonha, sem força de modular os corações no amor que alimenta lógicas transformadoras, corrige os descompassos das arbitrariedades, elimina as amarguras que comprometem a fraternidade, supera as indiferenças que retardam o remédio urgente da solidariedade entre pessoas, culturas, povos e nações. A vivência do Natal pode e deve ser a inteligente oportunidade para escrever um capítulo novo na história da sociedade, da vida pessoal e familiar. Esta tarefa é urgente, pois existe uma lista de intermináveis desafios a serem superados - da corrupção endémica (...), passando pelas disputas e manipulações que encobrem malfeitos e arrogâncias de todo o tipo, até a perda lamentável do encantamento e da ternura, que sustentam o respeito pelo outro, em todas as circunstâncias. Os votos de Natal produzem efeitos, particularmente, quando o coração humano os traduz em propósitos a serem verdadeiramente assumidos, especialmente aqueles que corrigem os descompassos que fragilizam instituições, conturbam a família, desfiguram a vivência da fé na Igreja e perpetuam os tons de selvajaria nas relações interpessoais. Na especialidade deste tempo, de tamanha densidade, que os votos de Natal criem a oportunidade para a reconciliação entre pessoas, classes e povos; inspirem a lista dos propósitos pessoais para qualificar a vivência do Ano Novo, fecundem o encantamento por Deus e o respeito pelo semelhante, principalmente pelo mais pobre. Estes são os votos de Natal. D. Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte, Brasil, In Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Publicado em 31.12.2014

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Actualidade 12 de Dezembro

Virgem de Guadalupe: rosto moreno, cultura indígena e imagem que a ciência não sabe explicar Uma mãe para todos os povos, que sabe falar a cada cultura: é assim que ainda hoje se apresenta a Virgem de Guadalupe, verdadeiro eixo espiritual da América Central e do Sul. O seu santuário, no México, é anualmente visitado por mais de 20 milhões de peregrinos, sendo o mais frequentado daquelas regiões. A padroeira da América Latina apareceu num local perto da cidade do México, entre 9 e 12 de dezembro de 1531, a um índio mexicano, Juan Diego Cuauhtlatoatzin, santo desde 2002. No tempo das aparições, o México era terra de conquista, mas também de afronta à dignidade humana, porque muitas vezes os colonizadores espanhóis não tiveram piedade dos índios. Também por este motivo a aparição de Maria é um sinal relativamente aos oprimidos e sofredores de todo o mundo. Ao vidente, a Virgem Morena confiou a tarefa de fazer construir uma basílica a ela dedicada, mas não foi fácil convencer o bispo, que pediu um sinal da aparição. Juan Diego, instruído por Maria, recolheu flores encontradas numa colina semi-desértica, em pleno inverno, que deveria levar ao bispo. No dia 12 de dezembro, o vidente acondicionou as flores no seu manto (“tilma”) e levou-as ao prelado, que com ele tinha reunido um conjunto de testemunhas. Ao abrir a capa, viram, em vez de flores, a imagem estampada de Nossa Senhora. A imagem continua intacta até hoje, não obstante a fragilidade do tecido do manto, e a ciência não consegue explicar o fenómeno. Mas este não é o único facto que suscita interrogações por responder. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Actualidade No final da década de setenta, especialistas que fotografaram o tecido com raios infravermelhos concluíram que a imagem não tinha traços de pincel, pelo que teria sido plasmada na totalidade. Além disso, não foram detetados elementos animais ou minerais. E um oftalmologista peruano analisou os olhos da imagem com um aparelho capaz de os aumentar 2.500 vezes e identificou até 13 pessoas, sugerindo o reflexo do bispo e da sua comitiva quando o vidente lhe mostrou o manto. A indestrutibilidade da imagem também é um dos motivos que a tornam famosa. Em 1921, um ativista anticlerical escondeu dinamite junto à imagem, no interior da basílica de Guadalupe. A bomba destruiu o pavimento, fez voar uma peça em mármore e o seu impacto estilhaçou janelas a 150 m de distância, mas a imagem e o vidro que a protegia permaneceram intactos. A basílica onde atualmente se conserva a imagem foi dedicada em 1976, tendo no exterior da fachada as palavras que a Virgem dirigiu a Juan Diego: “Não estou eu aqui, que sou tua Mãe?” Três anos depois foi visitada pelo Papa S. João Paulo II, que em 1990 proclamou beato Juan Diego. Na mensagem à América por ocasião da festa de Nossa Senhora de Guadalupe, proferida a 11 de dezembro de 2013, o Papa Francisco recordou que quando a Virgem apareceu a S. Juan Diego, “o seu rosto era mestiço e as suas vestes, cheias de símbolos da cultura indígena”. “Seguindo o exemplo de Jesus, Maria está ao lado dos seus filhos, acompanha o seu caminho como mãe atenciosa, partilha as alegrias e esperanças, os sofrimentos e as angústias do Povo de Deus, do qual todos os povos da terra são chamados a fazer parte”, acrescentou. E a 12 de dezembro de 2014, o Papa sublinhou que a Virgem “quis permanecer” com o povo das Américas: “Deixou impressa misteriosamente a sua imagem sagrada na ‘tilma’ do seu mensageiro, a fim de que a tivéssemos bem presente, tornando-se deste modo símbolo da aliança de Maria com tais populações, às quais confere alma e ternura”. “Imploremos à Santíssima Virgem Maria, na sua vocação guadalupana — Mãe de Deus, Rainha e minha Senhora, ‘minha jovenzinha, minha pequenina’, como lhe chamava S. Juan Diego, como com todos os títulos amorosos com os quais os fiéis se dirigem a ela na piedade popular — suplicando-lhe que continue a acompanhar e proteger os nossos povos”, pediu o Papa Francisco. Rui Jorge Martins, In http://www.snpcultura.org, 12.12.2015

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Agenda

MUSICAL D. BOSCO

O Musicentro dos Salesianos de Lisboa vai apresentar o Musical “D. Bosco”, um espectáculo sobre a vida de S. João Bosco, com encenação e direcção artística de Ana de Morais e direcção musical de Luis Pereira. “Tudo começou com um sonho quando João Bosco tinha 9 anos. Jesus indica-lhe a sua Mestra, Nossa Senhora, que lhe mostra a sua missão: educar os jovens pobres com um estilo muito próprio, amigável, familiar e carinhoso, baseado em três elementos: a Razão, a Religião e a Amorevolezza ou amabilidade. A este estilo Dom Bosco chama Sistema Preventivo, acreditando que os maus comportamentos podem ser prevenidos ensinando os seus alunos a serem bons cristãos e honrados cidadãos. Aos 11 anos, João Bosco sai de casa para trabalhar. O jovem João segue o seu sonho de ser padre com muita determinação, e é já como jovem sacerdote que contacta com as crianças e jovens das ruas e prisões de Turim, muitos deles órfãos. Essa experiência impressiona-o muito. Quer fazer algo por aqueles jovens e percebe que aquilo de que eles precisam é de um ambiente familiar, onde se sintam amados. Com muitas dificuldades Dom Bosco consegue criar o primeiro ambiente educativo onde acolher esses jovens: o Oratório festivo.”

Convite

No âmbito da sua missão, a Fundação AIS pretende com este evento recordar e apoiar aqueles que por todo o mundo sofrem com a discriminação, restrições e perseguição à liberdade religiosa, em especial os milhares de famílias cristãs na Síria. A Fundação AIS convida todos os seus benfeitores e amigos a participar neste evento cultural e solidário. (entrada gratuita) 18 de Dezembro, às 16h, na Sociedade de Geografia de Lisboa (R. das Portas de Santo Antão, 100)

Votos de um Santo Natal!

COMPAREÇA e divulgue esta informação pelos seus amigos e família.

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Destaque

NOVENA DE NATAL COM A FAMÍLIA

NOVO

Esta é uma caixa diferente, com um conteúdo pouco habitual. Dentro dela, existem nove puxadores de porta, com nove personagens, nove orações e nove desafios, para cada dia da novena. Uma forma de preparar o Natal em família, procurando o verdadeiro sentido para palavras tão simples como “descoberta”, “amizade”, “felicidade”, “libertação”, “paz”, “confiança”, “solidariedade”, “silêncio” e “alegria”.

Cód. DI093

€ 10,00

Uma proposta da Fundação AIS e do Apostolado da Oração – Rede Mundial de Oração do Papa. Para rezar, em família, entre 17 e 25 de Dezembro. Para guardar, no coração de cada um, todo o ano. SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS CAPA DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt PERIODICIDADE REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, IMPRESSÃO Alexandra Ferreira PAGINAÇÃO FONTE L’Église dans le monde – AIS França DEPÓSITO LEGAL FOTOS © AIS ISSN

Christmas card de Margaret Tarrant 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign 352561/12 2182-3928

Isento de registo na ERC ao abrigo do Dec. Reg. 8/99 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A

Rua Professor Orlando Ribeiro, 5 D, 1600-796 LISBOA Tel 21 754 40 00 • Fax 21 754 40 01 • NIF 505 152 304 fundacao-ais@fundacao-ais.pt • www.fundacao-ais.pt


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