Brasil para onde caminhamos? Está na hora de pensar o que queremos para o futuro

Page 42

Capa

Caso a China venha a ocupar o lugar dos EUA como a grande potência mundial e econômica, o senhor não acha que os BRICs conseguirão alavancar sua atuação para se tornarem um bloco forte como o G8? Marcos Troyjo – Não. Eu acho que a natureza da ascensão chinesa é diferente da natureza da ascensão dos outros três países. A China vai se tornar talvez a principal economia do mundo sem ser a principal liderança do mundo. Por via de regra, na história, houve quase que uma relação siamesa, umbilical, entre liderança econômica e liderança política. Isso não vai acontecer com a China, até pela própria vocação da China como ator das relações internacionais. O tipo de liderança que, por exemplo, os EUA exerceram é aquilo que eu gosto de chamar de liderança de expansão; ou seja, o poder flui do núcleo para fora. No caso da China, sem dúvida alguma, há um centro, mas o fluxo é diferente: o poder flui de fora para dentro. É quase que uma ideia de absorção, de fechamento. Qual é a única construção do homem que é possível de ser vista do espa-

ço sideral? É a Muralha da China. E para que serve este muro? Para fechar, para proteger. A principal obra arquitetônica do poder chinês é a Cidade Proibida. O nome por si já é esclarecedor: “proibida”, para ninguém entrar. A arquitetura do local é formada por diferentes quadrados que vão diminuindo em tamanho até chegar à figura central do imperador. Como podemos perceber, a China sempre manteve essa coisa do autocentrismo. Eu acho também que a China sabe o que ela quer do mundo e ela usa isso muito bem. Ela tem um projeto para ela própria no mundo, mas não tem um projeto para o mundo. É diferente da liderança dos EUA. Os EUA sabem o querem para si e para o mundo porque guardam uma ideia de como o mundo deve funcionar. Quanto aos chineses, eles acham que o mundo deve funcionar de tal maneira que venha a produzir os benefícios de interesse da China. Logo, nós não vamos ver um eclipse econômico, do ponto de vista do tamanho do PIB, se a liderança geopolítica americana vier a ser substituída por uma chinesa. Nós teremos um mundo em que os EUA não serão mais hegemônicos, mas continuarão sendo protagônicos dentre uma série de coadjuvantes muito importantes. Se o senhor fosse hoje o presidente da República e se

42


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.