Do Capitalismo para o Digitalismo

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Nesta definição surge também o conceito de força de trabalho [1] essencialmente para distinguir o que há de específico na prestação de cada trabalhador da disponibilidade abstracta para desempenhar tarefas durante o tempo em que está ao serviço do seu patrão. Quer o “tempo de trabalho socialmente necessário” quer o conceito de “força de trabalho” revelam-se profundamente anacrónicos no mundo de hoje e de difícil aceitação pelos trabalhadores do conhecimento. Numa época em que o conhecimento de cada trabalhador é o instrumento mais precioso que ele possui, o único que no essencial lhe garante o emprego e o salário, e em que a capacidade de inovar, de fazer diferente da média, é a sua maior vantagem profissional, esta involuntária desvalorização do trabalho contida na abordagem de Marx é quase inaceitável. A consciência, e o orgulho, que os trabalhadores hoje têm do papel fulcral que a sua prestação individual pode ter no “sucesso” de um produto são postos em causa por esta redução arbitrária a um abstracto denominador comum. Um simples exemplo serve para demonstrar a importância do aspecto qualitativo do trabalho: dois frascos de detergente têm sem dúvida “tempos socialmente necessários” de produção idênticos no entanto a sua aceitação pelos consumidores pode ser completamente diferente no que toca às quantidades vendidas. Como veremos mais adiante numa época em que a transacção mais comum dos consumidores é escolher entre vários produtos similares, a qualidade (e não a quantidade) do trabalho é determinante para tal selecção.

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