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A DEMOCRACIA NA AMÉRICA
Unidos misturavam com freqüência os estilos de maneira sin gular e às vezes punham juntas palavras que, na linguagem da mãe-pátria, tinham o costume de se evitar. Essas observações, que me foram feitas várias vezes por pessoas que me pareceram dignas de crédito, levaram-me a refletir sobre esse tema, e minhas reflexões me conduziram, pe la teoria, ao mesmo ponto a que tinham chegado pela prática. Nas aristocracias, a língua deve naturalmente participar do repouso em que todas as coisas se mantêm. Fazem-se pou cas palavras novas, porque se fazem poucas coisas novas; e, mesmo se coisas novas fossem feitas, procurar-se-ia pintá-las com palavras conhecidas, de que a tradição fixou o sentido. Se sucede que, nelas, o espírito humano se agite enfim por si próprio, ou que a luz, penetrando de fora, o desperte, as novas expressões que se criam têm um caráter culto, inte lectual e filosófico que indica que não devem seu nascimento a uma democracia. Quando a queda de Constantinopla fez as ciências e as letras refluírem para o Ocidente, a língua fran cesa se viu de repente invadida por uma profusão de palavras novas, que tinham sua raiz no grego e no latim. Viu-se surgir então na França um neologismo erudito, que era usado ape nas pelas classes esclarecidas e cujos efeitos nunca se fize ram sentir no povo, ou que só chegaram a ele muito tempo depois. Todas as nações da Europa ofereceram sucessivamente o mesmo espetáculo. Somente Milton introduziu na língua inglesa mais de seiscentas palavras, quase todas tiradas do latim, do grego ou do hebraico. O movimento perpétuo que reina no seio de uma de mocracia tende, ao contrário, a renovar sem cessar a fisiono mia da língua, bem como a dos negócios. No meio dessa agi tação geral e desse concurso de todos os espíritos, forma-se grande número de idéias novas; idéias antigas se perdem ou reaparecem; ou então se subdividem em pequenas e infini tas nuances. Encontramos aí, portanto, com freqüência, palavras que devem sair de uso e outras que é necessário introduzir. As nações democráticas apreciam o movimento por si mesmo, aliás. Isso se vê tanto na língua como na política.