Os Beças, João da Cruz e Costa Serrão - Protagonistas da linha de Bragança

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Hugo Silveira Pereira

sempenho das suas funções políticas, estava bem e recomendava-se “e emfim, com o melhor humor, ri-se francamente das investidas parvas de todos os Farias e Pires Villares”543. O conselheiro podia sorrir-se das críticas e das teorias de conspiração dos progressistas quanto quisesse. No entanto, era um facto que a sua liderança entre os regeneradores locais não era consensual. Alguns militantes do partido, entre os quais se destacava Alberto Charula, não se reviam no seu líder, apesar de não terem nenhuma outra figura de referência no distrito. Por este motivo viraram-se para Teixeira de Sousa, notável regenerador que, como já vimos, ambicionava também a chefatura política de Bragança. Para promover a sua imagem na região e difundir a sua propaganda, Alberto Charula fundou e dirigiu na cidade um novo jornal, o Districto de Bragança544. Fazemos aqui esta referência, porque a existência desta oposição interna influiu também no desenrolar do processo que desembocou na construção da linha de Mirandela a Bragança, como veremos no capítulo seguinte. 2.2.2.1. A acção de Abílio e José como propugnadores da linha do Tua Abílio Beça iniciou a sua campanha em prol da linha de Bragança em finais da década de 1880. Na década seguinte, enquanto deputado, continuou a luta no parlamento. A chegada ao governo civil deu-lhe mais autoridade para exigir o melhoramento dos poderes públicos. Foi na condição de governador civil que Beça reencetou contactos com os “altos poderes do Estado” no sentido de dotar Bragança de um caminho-de-ferro. Ao longo de 1900, Abílio foi, por várias vezes, recebido pelos reis, a quem solicitou a imediata construção da linha-férrea. O próprio jornal progressista confirmava estes contactos, dos quais se esperava a realização da ambição máxima da cidade e da região nortetransmontana545. Além dos reis, Beça e os seus apaniguados depositavam uma grande esperança em Hintze Ribeiro. Os regeneradores de Bragança mostravam-se convictos de que “o anno de 1901 dará um formal desmentido aos que põem em duvida a realisação da mais ardente aspiração de Bragança e dos concelhos do norte do districto”546. Com a chegada de José a São Bento, os Beças passaram a jogar em dois campos ao mesmo tempo. Abílio usava a sua influência pessoal e como governador civil junto do executivo. Por seu lado, José garantia que no parlamento o caminho-de-ferro de Bragança não era esquecido. 543

Gazeta de Bragança, 12.5.1901, n.º 469: 1.

544

SOUSA, 2013, vol. 2: 509.

545

Gazeta de Bragança, 8.4.1900, n.º 414; 18.11.1900, n.º 445: 1. O Nordeste, 25.7.1900: n.º 685. O Seculo, 7.5.1902, n.º 7308: 1.

546

Gazeta de Bragança, 14.10.1900, n.º 440; 3.3.1901, n.º 459.

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