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Mostra Comunidades de cuidado
um Policial Militar no caminho de casa? O que justifica a recorrência com a qual as mulheres negras relatam, no filme, serem confundidas com faxineiras por interlocutoras que não têm qualquer outra informação a seu respeito além da cor da pele? Rolê é uma obra que deixa entrever as formas pelas quais a cultura está no corpo de dinâmicas políticas formadas em forte articulação com o espaço urbano. Nesses ambientes de privação de direito e violência constante, jovens parecem cada vez mais conscientes da importância que é produzir imagens e criar referências compartilháveis, permitindo falar para muito além de sua vizinhança, despertando consciências diante as repressões que sofrem. É o caso da performance Bombril em que Priscila Rezende e um grupo de mulheres negras esfregam peças de alumínio contra os cabelos em um shopping de Niterói, enquanto são observadas com ar de incredulidade e incompreensão. É uma luta histórica, imagética e material forjada no caldo da cultura negra, jovem e urbana. O filme traz memória a João Alberto Silveira Freitas, brutalmente assassinado em uma loja do Carrefour de Porto Alegre, em 20 de novembro de 2020, Dia da Consciência Negra. Aliás, as reações que provocou em cidades do país diferem dos rolezinhos em caráter e táticas de aparecimento. É sobretudo na concretude das relações que Rolê faz a história de movimento e do que não muda: o racismo que estrutura todas as nossas relações. Carlos Henrique de Lima é arquiteto e urbanista (FAU-UnB, 2006); Doutor em Urbanismo (PROURB-UFRJ, 2016) e professor do Departamento de Teoria e História da FAUUnB desde 2016. Referências ECCHI, Bernardo. A Tradição Européia do Planejamento: Culturas e Políticas. In RIBEIRO,Elane; et. al (orgs). Tempos e Escalas da Cidade e do Urbanismo: quatro palestras. Brasília: FAU-UnB, 2014, p. 13-24. FRIDMAN, Fania. Donos do Rio em Nome do Rei: uma história fundiária da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garamond, 1999. GONÇALVES, Guilherme L; COSTA, Sérgio. Um porto no capitalismo global: desvendando a acumulação entrelaçada no Rio de Janeiro. São Paulo: Boitempo, 2020. MAMIGONIAN, B. Africanos livres: a abolição do tráfico de escravos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. REIS, João José. Ganhadores: a greve negra de 1857 na Bahia. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. WILDERSON III, Frank B. Afropessimismo. São Paulo: Todavia, 2021