Jornal Fortaleza Decor

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fortalezadecor jornal

PUBLICAÇÃO MENSAL • EDIÇÃO 3 • ANO II • JANEIRO DE 2010

NESTA EDIÇÃO Mundo Sustentável Os cuidados para a preservação da água, tão preciosa para a vida no Planeta Terra

Design

O vintage está na moda! Qual seu significado na decoração de interiores?

Artesanato

A sensível arte oriental do origami e kirigami, através do trabalho de Felipe Maranhão

SUA MAJESTADE,

A MADEIRA

MADEIRAS ECOLOGICAMENTE CORRETAS TAMBÉM SÃO VALORIZADAS NA DECORAÇÃO DE INTERIORES.


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Editorial

Sumário

ais um ano começa e o espírito de renovação também se reflete em vários setores de nossa vida. Na decoração de interiores não é diferente e essa década se inicia com muitas novidades e transformações. O jornal Fortaleza Decor inicia o ano com esse mesmo sentimento de renovação e traz nessa primeira edição a Madeira como tema principal. Tendo como sempre a sustentabilidade como um dos pilares dessa publicação, na matéria de capa “Sua Majestade, a Madeira”, abordamos a valorização crescente desse produto no segmento da decoração de interiores, o modo como podemos valorizar nossas florestas trazendo a certificação como aliada principal de sua preservação e o crescente uso da madeira ecológica em projetos de arquitetura, como no caso da “Casa de Eucalipto” idealizada pelo arquiteto Henry Teixeira. Um exemplo de boa utilização do produto certificado, agregando além da sustentabilidade, beleza e economia ao projeto. Também apresentamos nessa edição o talendo do decorador Sidney Viana, utilizando diferentes técnicas na reforma de móveis e Felipe Maranhão, o Origamista, mostrando um pouco da delicada arte da dobradura de papel. Na seção Vitrine, o leitor conhecerá mais sobre o belo espelho veneziano com o decorador Carlos Zaranza, lerá sobre os cuidados e preservação de um bem tão precioso como a água em Mundo Sustentável e conhecerá mais sobre o termo Vintage com o Professor Neandro Nascimento. Desejamos uma boa leitura e um ano de 2010 repleto de realizações!

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VITRINE. Espelho Veneziano. Beleza e raridade em exposição no Museu do Louvre.

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MUNDO SUSTENTÁVEL. Os cuidados para a preservação de um bem tão precioso para a vida na Terra: a água.

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DESIGN. O termo vintage está na moda! Mas qual seu significado e contexto na decoração de ambientes?

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CAPA. A madeira ecológica está cada vez mais presente na decoração de interiores. Na Capa projeto do Arqt° Henry Teixeira.

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REFORMA. Sidney Viana trabalha com talento e demostra um pouco sua arte de reforma de mobiliários.

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ARTESANATO. A sensível arte oriental do origami e do kirigami, através do trabalho de Felipe Maranhão.

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Obter telefones e e-mails de artesãos, arquitetos e decoradores entre outros profissionais ligue: (85) 3082.8886. Para escrever para o jornal Fortaleza Decor mandar e-mail para atendimentoaoleitorfd@gmail.com ou acessar o blog www.fortalezadecor.blogspot.com. Obter números atrasados mande e-mail para encalhefd@gmail.com. Para anunciar no jornal ligue: (85) 8777.9998 ou 3082.8886.

Expediente FortalezaDecor é publicado mensal com distribuição gratuita em Fortaleza. Tiragem: 4.000 exemplares. Jornalista responsável: Rodrigo Cunha (MTb 1907/CE). Diagramação/Projeto Gráfico: Rodrigo Cunha. Departamento Comercial: Eliza Souza - (85) 8777.9998. Administração e Publicidade: Lílian Fernandes - (85) 8772.2394. Consultor: Carlos Zaranza - (85) 8716.9909. Editado por Spot Publicidade e Editora. Telefone: (85) 3082.8886 – E-mail: contato@fortalezadecor.com.br. AGRADECIMENTOS: Nílson Monteiro, Neandro Nascimento, Robson Gomes, Henry Teixeira e Felipe Maranhão.

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Vitrine

ARTIGO DE MUSEU

TÃO BELA E RARA QUANTO UMA PINTURA RENASCENTISTA A ARTE VENEZIANA ESTÁ EXPOSTA NO MUSEU DO LOUVRE TEXTO. CARLOS ZARANZA FOTOGRAFIA. DIVULGAÇÃO

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espelho é um recurso extremamente útil quando se trata da criação de um efeito de maior amplitude aos espaços, dando a sensação de duplicidade de qualquer item que esteja sob ou a frente dele, ampliando efeitos visuais. Porém, quando falamos de espelhos venezianos, estamos nos referindo a algo acima de tudo belo e surpreendente.

Seja qual for o estilo decorativo da composição, o espelhos venezianos vão bem em ambientes que vão do clássico ao moderno, tornado-se sempre atração nos espaços A origem destes espelhos se deu na Veneza do século XIV, quando surgiu a técnica do espelho de superfície lisa e fundo metálico que utilizamos até hoje. Antes desta revolução técnica, que utilizava vidro e mercúrio, os espelhos eram feitos a partir de metais polidos, como a prata e o bronze. Para se ter

uma idéia, basta saber que um espelho veneziano custava mais do que uma pintura de gênios renascentistas como Rafael ou o equivalente a um navio de guerra. O valor artístico dos espelhos venezianos é tão grande que um de seus exemplares está exposto no Museu do Louvre. O monopólio veneziano foi quebrado na década de 1660, durante o reinado de Luís XIV conhecido como o Rei Sol, representado pelo luxo do Palácio de Versalhes. O Rei ordenou que seu ministro das finanças subornasse artesãos de Veneza para que vendessem seus segredos. A impressionante Sala dos Espelhos em Versalhes mostra que o plano foi vitorioso, pois seus belos espelhos seguem o modelo veneziano de fabricação. Seja qual for o estilo decorativo da composição, eles vão bem em ambientes que vão do clássico ao moderno, sejam em halls, livings, salas de jantar ou mesmo em lavabos, tornado-se sempre atração nos espaços. Vale ressaltar que aqueles mais antigos e já corroídos pelo tempo tem o mesmo valor estético que os novos recém saídos das lojas.Importante mesmo é saber que em qualquer situação, estarão sempre em posição de destaque. 

CARLOS ZARANZA É CONSULTOR, DESIGNER DE AMBIENTES E PROFESSOR http://carloszaranzadecorador.blogspot.com

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Mundo sustentável

economia e reuso

de água

ELIZA SOUZA (fortalezadecor@hotmail.com)

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erra, planeta água. Mais que tema de canção vencedora de festival é antes de tudo uma frase muito verdadeira, visto que, ¾ da superfície terrestre é coberta por água, onde apenas 0,8% são de água doce, menos que 1% de toda água disponível no planeta.

Cada brasileiro tem disponível cerca de 34 milhões de litros de água doce, embora um percentual expressivo da população nas cidades não tenha acesso a uma rede de água e esgoto Constituída de duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, dela nasceram as primeiras formas de vida há milhões de anos. Tida como elemento purificador em diversas religiões desde os primórdios da antiguidade, no mundo moderno sua presença é vital para a garantia da existência de cidades, campos, criação de animais, plantações e indústrias. As reservas naturais de água

vêm diminuindo em virtude do excessivo consumo por parte da população mundial. A natureza não está conseguindo suprir essa demanda que cresce assustadoramente ano após ano. Em contrapartida para agravar ainda mais a situação, a humanidade vem poluindo essas reservas naturais diminuindo ainda mais sua capacidade de abastecimento. O Brasil é a maior reserva hidrológica do mundo. Cada brasileiro tem disponível cerca de 34 milhões de litros de água doce, embora um percentual expressivo da população nas cidades não tenha acesso a uma rede de água e esgoto. Em outros países a água já é um artigo de luxo e a falta de reservas naturais em algumas décadas se tornará um problema gravíssimo. Diante desse quadro poderíamos nos considerar em uma situação confortável e olharíamos para o futuro confiantes e tranqüilos. Não podemos esquecer, porém, que em um país que possui uma matriz energética com base em usinas hidrelétricas, eletricidade e água são irmãs. A diminuição dos níveis das hidrelétricas ocasionadas pelas secas ao longo dos anos promoveu apagões e uma queda substancial na economia do país se refletindo no PIB. O aquecimento global que promove esse desequilíbrio no clima nos faz voltar

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os olhos para o desperdício energético que ocorre no Brasil e no mundo. Para começar a cuidar disso, medidas de economia de água e energia podem ser tomadas no dia-a-dia em nossas casas. Vão desde hábitos pessoais e domésticos muito simples a uma mudança estrutural. Medidas como: escovar os dentes ou fazer a barba com a torneira fechada, controlar o tempo no banho, somente usar água corrente quando for enxaguar a louça, acumular roupa suja e lavar tudo de uma vez só na lavadora (preferindo as front load que economizam água e energia elétrica), trocar as válvulas de descargas por caixas que são acopladas ao vaso sanitário (daquelas que se limita o volume de descarga), trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes ou pelas modernas LED, evitar o uso de ar-condicionado trocando se possível por ventiladores, não usar mangueiras para lavar pisos, automóveis, calçadas etc. Na reutilização ou reuso de água há a possibilidade de ir ainda mais adiante. O aproveitamento de água da chuva, um projeto inspirador, mas ainda sem aplicação imediata pela população das cidades, em regiões de chuvas intensas poderiam representar até 100% de uma casa inteira. Sua imediata aplicação é difi-

cultada por alguns motivos. Pouco espaço para instalação de cisternas, controle rígido das primeiras águas de chuva coletadas e alto custo são algumas das dificuldades para implantação desse projeto. A legislação brasileira encara as águas de chuva como esgoto, pois ela vai dos telhados para os pisos e bocas de lobo carregando todo tipo de impurezas que vão desaguar em um córrego que por sua vez dará em um sistema de captação de água potável. O reuso da água presente no esgoto é um dos projetos mais aplicados em todo o mundo. O esgoto quando tratado e devolvido aos rios é limpo o suficiente para ser usado em indústrias, rega de parques e lavagem de ruas. A água de um esgoto tratado poderia substituir cerca de 40% da água potável consumida no lar, porém, a distribuidora não tem condições de utilizar mais um sistema para oferecê-lo ao consumidor final, visto que, já há a implantação de um sistema para água potável. O reuso de água de banho é uma das opções mais interessantes quando se visa a redução do uso de água potável em operações simples como descargas de vasos sanitários. Chamada de água cinza, é muito utilizada em outros países. Vários projetos vêm sendo desenvolvidos de maneira muito satisfatória e são considerados baratos e seguros, pois todo o sistema é feito em um circuito fechado – chuveiro, ralo de Box, reservatório fechado e vaso sanitário – utilizando-se filtros e tratamentos para reutilização da água. Esses sistemas respondem até 30% ou mais de economia de água em uma casa e são absolutamente viáveis. De olho no futuro e sabendo que a água se tornará um recurso cada vez mais raro em nossas vidas, cada um de nós seres humanos pode tomar pequenas atitudes que surtirão um grande efeito no futuro. Podemos começar deixando bem fechadas as torneiras. O meio-ambiente agradece. 


Design

o que é ser

RESIGNIFICAÇÃO. Exemplo de arquitetura contemporânea com influência modernista.

vintage?

O

COLORIDO. Interior com influência sessentista.

FUTURISTA. Interior vanguardista.

termo vintage esteve e está na moda! O termo vem carregando terminologias como “resignificação” e “resignificância” ou ainda “descontextualizar” para “recontextualizar”. Mas o que isso quer dizer? Qual o significado? Qual é o contexto? Primeiramente devemos conhecer o que é vintage! Ao pé da letra, vintage significa safra boa de boas uvas. Portanto, se dermos resignificado ao termo, podemos considerar que vintage, em arte e design, é trazer de volta “boas safras” de obras de arte e de design, ou seja, objetos que marcaram uma época, um movimento, um estilo, uma linguagem, ou simplesmente elementos decorativos que compunham um repertório de formas de uma época, um movimento, um estilo, uma linguagem... Pode-se dizer que nem tudo que é antigo é vintage. Grande exemplo disso, foram os relançamentos de carros como o Dodge Challenger, o Chevrolet Camaro e o Ford Mustang, todos com características, formas e principais linhas, similares as dos modelos lançados na década de 60. Vale ressaltar que os ambientes contemporâneos (final do século XX/início do século XXI) tenderiam a ficar inundados de frieza e monotonia, diante do universo

do Design de Interiores marcado por um renascimento (nenhuma conotação com o Renascimento Italiano) do Moderno (final da década de 20, influência da Escola Bauhaus), com móveis de desenho retilínio, com a utilização da madeira, do vidro e do metal, redução de elementos decorativos, principalmente os não funcionais, entre outros. No entanto, a proposta vintage acabou por salvar os novos projetos, já que a busca pelo novo foi o resgate ao passado, contemplando as mais interessantes representações de arte e design da história. Os ambientes atuais são sutilmente pontuados com objetos e elementos decorativos que encontram similaridade com obras do passado, com suas graciosas curvas, cores, efeitos, entre outros aspectos. Aguardam-se, para um futuro próximo, propostas vanguardistas para o Design de Interiores e para a Arquitetura brasileiros, prática esta já comum em países da Europa e no Oriente bem abastado de riquezas como Bahein. Por fim, um apelo: livremonos das amarras do passado para desenvolvermos um Design e uma Arquitetura com identidade, brasileira, com influências “vintagistas” sim, pois estas fazem parte da nossa escola, mas com o nosso tempero. 

NEANDRO NASCIMENTO É DESIGNER, ERGONOMISTA E PROFESSOR

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Capa

de lei!

a madeira é

MADEIRAS DE ÁRVORES CERTIFICADAS ESTÃO CADA VEZ MAIS PRESENTES NA DECORAÇÃO DE INTERIORES TEXTO. ELIZA SOUZA FOTOGRAFIA. DIVULGAÇÃO

A

caiacá, Guarandi, Ipê, Imbuia, Jacarandá, Mogno, Angico, Pau-Brasil, Andiroba, Araribá são apenas algumas das espécies de árvores existentes na rica flora brasileira, muitas delas entrando em processo de extinção e de valor altíssimo no mercado.

Tradicionalmente utilizada na construção civil a madeira é cada vez mais empregada como elemento de enfeite para espaços internos Conhecidas como madeiras de Lei são altamente resistentes a temperaturas e ataques de insetos. No tempo do Brasil colônia, essas árvores que produzem madeira nobre eram protegidas por lei e só o governo poderia extraí-las. A primeira espécie a ser considerado monopólio da coroa foi o Pau-brasil que já

naquela época se tornava escasso devido a sua excessiva exploração. Atualmente existe uma legislação específica para cada espécie. Muitas outras espécies também compõem a flora brasileira, algumas delas são: Cerejeira, Cedro, Angelim - pedra, Curupixá, Cumaru, Jatobá, Louro-vermelho, Marupá, Maçaranduba, Muiracatira, Paumarfim, Pequiá, Pinus, Sucupira dentre muitos outras, nos trazendo uma infinidade de texturas, cores e cheiros, alguns deles característicos somente de nossas florestas. Tradicionalmente utilizada na construção civil a madeira é cada vez mais empregada como elemento de enfeite para espaços internos. Seja em seu estado bruto ou em forma de painéis de madeira industrializada, chegam às marcenarias onde são largamente utilizados como revestimento de paredes, pisos, móveis dentre outros. A beleza e funcionalidade da madeira são imprescindíveis em um bom projeto arquitetônico e de interiores. Contribui em muito com sua diversidade de tonalidades, resistência, elegância e sobriedade.

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Não bastasse toda essa supremacia ante os outros materiais, a valorização da madeira em tempos atuais se dá também como uma tentativa de salvar as florestas. Um bom projeto de decoração pode ser lindo e ecologicamente correto. As madeiras de reflorestamento e as madeiras certificadas e de demolição estão atualmente presentes na maioria dos ambientes apontando uma tendência mundial. Morar bem não precisa necessariamente ser sinônimo de desperdício e má utilização de recursos naturais. A extinção e dificuldade de obter algumas espécies levaram a diversificação da madeira usada na construção. A fiscalização ambiental sobre a extração de madeira muito mais rígida e nova consciência ambiental, nos leva a solução de trocar espécies ameaçadas, como o ipê, por peças com desempenho semelhante, obtidas pelo reflorestamento ou cultivo, como teca, eucalipto e angelim. Os painés de madeira também são uma solução de baixo custo para mobiliar nossas casas, além trazer ao projeto beleza e praticidade. 

Detalhe de toras de eucalipto na foto principal e cadeira de madeira desenvolvida por alunas da Faculdade Estácio FIC (Jotaene Marcenaria).


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Móveis em madeira (Jotaene Marcenaria): 1. Mesa de Centro - MDF, rádica wengle e rádica marfim; 2. Mesa de Centro - base pau-cetim e tampo pedra-castelo; 3. Mesa de Escritório - vidro e detalhes em rádica

Produtos ecologicamente corretos HÁ AINDA UM DESCONHECIMENTO por parte da população com relação ao que vem a ser a madeira ecológica, produto que já vem sendo amplamente utilizado nos atuais projetos arquitetônicos e de ambientações.

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m dos tipos de madeira ecológica é a madeira certificada. Ela atende a toda legislação, assim como a madeira de reflorestamento, mas tem alguns passos que são cumpridos além da pura legislação. Esse tipo de madeira tem a certificação do FSC (sigla em inglês para a palavra Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal, em português), uma certificação que é considerada até mais importante que o ISO 9000. É o selo verde mais reconhecido do mundo. Ele comprova que a extração da madeira passou por todos os elos da cadeia produtiva e atende a todos os quesitos de sustentabilidade. Atesta

que o produto é resultado de um processo produtivo manejado de forma ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável. A madeira certificada é utilizada tanto em projetos corporativos como projetos residenciais. Principalmente arquitetos e decoradores vêm, procurando muito esse tipo de material para valorizar o seu trabalho.Quando determinada madeira não é encontrada com essa certificação muitas vezes procura-se madeiras alternativas para atender esse tipo de cliente. O MDP e o MDF são uma alternativa eficiente e prática e são produtos ecologicamente corre-

tos. Tem-se a impressão que por serem produtos industriais podem ser nocivos ao meio ambiente, porém, tanto o MDF como o MDP são feitos de “coníferas” que são madeiras que não são originárias do Brasil. São madeiras plantadas. Tanto fabricantes como fornecedores de MDF e MDP já estão certificados pelo FSC, já atendem portanto, a todos os quesitos mencionados de sustentabilidade. A certificação do FSC vem coibir práticas criminosas como a mãode-obra escrava e mão-de-obra infantil. A extração da madeira utilizando manejos de alto impacto ambiental também não permitem que a empresa use o selo da FSC. É bom salientar que as árvores nativas também se encontram no mercado com o selo de certificação do FSC, e ele é de extrema importância para nossas florestas. Trazendo a elas um manejo sustentável se evita sua exploração, e,

por conseguinte, sua extinção dando-lhe um valor comercial. O incentivo ao uso da madeira tropical é bem vindo desde que a madeira seja bem manejada. Florestas bem manejadas e certificadas garantem que o processo todo foi cumprido. Existe uma variedade de produtos certificados. Madeiras como Eucalipto, Pinus, MDP, MDF, compensados e madeira bruta já são bastante utilizados nas marcenarias, respondendo até a um percentual expressivo do seu faturamento. Com a certificação o temor de comprar produtos que são nocivos ao meio ambiente inexiste. Os produtos não certificados não nos dão essa garantia e o comprador tem que se informar se os mesmos foram fabricados com baixo consumo d’água, baixo consumo energético, que a matéria-prima é de produtos reciclados e não nocivos ao meio ambiente. 

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Capa

Entrevista: a marcenaria em Fortaleza

QUAIS AS PERSPECTIVAS DO PROFISSIONAL DA MARCENARIA EM FORTALEZA? O que pensa o profissional que lida diariamente com essa nobre matéria que é a madeira? Os destinos da marcenaria em Fortaleza, que antes de ser profissão é sobretudo uma arte. Sobre esses tópicos o jornal Fortaleza Decor entrevistou Nilson Monteiro, fundador da AMFOR - Associação das Marcenarias de Fortaleza e o professor Robson Gomes, coordenador do Curso de Design de Produtos da Faculdade Estácio/FIC. FD – Como está atualmente o mercado de marcenaria na capital cearense? Prof. Robson Gomes – O mercado da marcenaria tem crescido e todo mercado é impulsionado pela economia. A economia aqui de Fortaleza foi gratificada pela chegada de muitas lojas de móveis modulados, mas nem todo cliente fica satisfeito com apenas essa opção. Ele vai à loja, mas encontra outra possibilidade de pesquisa que são os marceneiros. Estes fazem o mesmo serviço: alguns deles até com qualidade superior. Vejo que o mercado da marcenaria tem sido impulsionado tanto com a chegada de lojas que vendem o mesmo serviço de confecção e instalação de produtos quanto pelos profissionais que atuam no mercado hoje como o designer de interiores. Acho que o futuro da marcenaria no Ceará vai ser muito parecido com o dos maiores pólos industriais que temos no Sul do país. Vejo a marcenaria industrial como o futuro da marcenaria na cidade. Para ter essa possibilidade aqui, precisa-se ter excelência no serviço, qualidade no produto final e organização para se começar um trabalho, evitando perdas e prejuízos pra o cliente.

A marcenaria é uma classe que precisa estar sempre unida e investir em maquinário, pois a concorrência se torna muitas vezes desleal Robson Gomes FD – O que faz o cliente preferir um trabalho de marcenaria a uma loja de móveis pré-moldados? RG – Nesse caso temos dois tipos de móveis: móveis sob-medida e móveis prontos, que são chamados tecnicamente de mobiliário de composição. O que vai levar a pessoa a procurar um marceneiro para subs-

tituir um mobiliário de composição seria a personalização do ambiente dele. Então o marceneiro tem condições hoje de auferir as medidas do local e adaptar o mobiliário ao gosto do cliente, ou seguir um projeto de um profissional, um serviço similar ao serviço das lojas. A grande vantagem do cliente é que ele vai ter um ambiente personalizado. É como se o mobiliário tivesse crescido dentro da casa dele, onde tudo já estava no local certo. Por outro lado não vejo barreira do marceneiro trabalhar com móveis de composição. Fazer estrutura de madeira e trabalhar com parceiros que vão colocar a espuma, o tecido ou qualquer outro material, agregando à composição do mobiliário, que não tem esse domínio, essa tecnologia na marcenaria dele. Se não tiver como fazer um trabalho com vidro, ter um parceiro de uma vidraçaria que vai colocar, por exemplo, portas de vidro no mobiliário, trabalhar com pastilhas de vidro, todos os componentes que podem estar inseridos no projeto. FD – Quais são os projetos que existem para melhor qualificação da marcenaria? Nilson Monteiro – Há 10 ou 12 anos o Senai ofereceu cursos não apenas direcionados à marcenaria, mas a indústria moveleira como um todo. Como a demanda era pequena, o curso acabou se esvaindo e agora está havendo novamente uma necessidade de treinar esse profissional de marcenaria, agora impulsionado pelas marcenarias que estão se desenvolvendo, evoluindo para uma forma mais industrial. Atualmente nós podemos dizer que o Senai não dispõe de curso para a área a não ser aqueles cursos de metromegia, que ensina como ler projetos, como tirar medidas. Técnica mesmo da marcenaria não dispomos de nenhum. O que as marcenarias têm hoje para a facilidade de administração são os cursos do Sebrae na área administrativa, mas o “chão de fábrica” tem uma demanda muito grande e aberta. É uma solicitação da Amfor juntamente com parcei-

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ros para que isso possa ter em pouquíssimo tempo aqui no Estado. FD – Sabemos que na parte de planejamento de um ambiente existe a marcenaria. Qual a importância que o profissional, o arquiteto ou o designer de interiores dá a esta questão? RG – Vai depender muito do projeto, mas em sua maioria a madeira é ainda um dos materiais mais presentes nos projetos de interior. A madeira e o vidro, até porque em Fortaleza a gente tem uma maresia muito forte e trabalhar com inox e alumínio fica um pouco mais caro. Então madeira hoje é bastante utilizada e bem viável pela nossa condição natural. FD – E o design? Aqui se faz trabalho em marcenaria utilizando um design mais moderno e competitivo? NM – A Amfor tem se destacado exatamente por dar grande importância a este ponto. Percebemos que as empresas de marcenaria estão evoluindo, formando um novo conceito. Em parceria com um designer ou um arquiteto, elas também passaram a oferecer aos clientes ambientes modernos, tornando-se assim cada vez mais competitivas. FD – De um modo geral existem oportunidades de trabalho de marcenaria na cidade? NM – Eu costumo dizer que a marcenaria tem problemas parecidos com os da construção civil. A construção civil em Fortaleza há mais ou menos 10 anos tinha problemas de toda natureza. Hoje a marcenaria tem os mesmos problemas, mas nós já temos um atenuante na trajetória que é o sindicato de associações que trabalham para evoluir no mercado. Existe um espaço muito grande, largas avenidas a serem ocupadas, desde o desenvolvimento de produto para óticas, clínicas, lojas, e ainda a malha comercial como um todo, de pessoas físicas, jurídicas. Existindo essas grandes possibilidades se exige também que a marcenaria possa ter

uma evolução no seu negócio. Hoje ela, mais do que nunca, precisa se organizar, porque as lojas de modulados estão avançando de uma forma assustadora. Algumas marcenarias ainda têm uma postura antiquada, e esse grupo vem exatamente trazer essas empresas para o presente. Fazendo com que essa evolução possa acontecer com mais rapidez, por que o mercado não espera e a gente sabe que existem hoje muitas marcenarias fechando. Quem tem dinheiro investe, e quando se investe tem mercado e isso nós temos visto dentro das marcenarias da Amfor. Nós observamos, por exemplo, que o mercado da zona norte do estado é super-aberto para todos. Não só englobaria Sobral como toda aquela região do entorno. Nós sabemos que esse mercado existe e para que possamos ter uma boa fatia dele é necessário ter muita organização e mudança de atitude. FD – As intituições acadêmicas tem demonstrado interesse em estabelecer parcerias? RG – Total interesse. A gente precisa muito do profissional que está no mercado trabalhando com marcenaria para dar um apoio aos professores em sala de aula. Palestras, onde o Nilson é frequentemente convidado a expôr um pouco do dia-a-dia dele, da sua experiência no mercado e o tipo de serviço que ele presta. É uma troca de experiências. Nós temos que contar com apoio daqueles que vieram com a gente lá do inicio há quatro anos, quando começou a preocupação com o design e a fazer esta parceria. Todo setor ganha por ter profissionais preocupados em dar uma nova visão a esse mercado. Foi impressionante como eles conseguiram assimilar o conceito do design, esse conceito de reaproveitamento de sobras, da marcenaria limpa, da economia industrial voltada para indústria madeireira, a conscientização que eles têm do uso da madeira de reflorestamento, o controle de estoque de madeira. Vejo como parceiros muito inteligentes, que assimilam rápido os conceitos mais modernos que temos hoje na marcenaria, na marcenaria industrial.


Considerações finais

RG – Tenho um conselho: eu acho que a marcenaria é uma classe que precisa estar sempre unida, investir em maquinário. A concorrência muitas vezes se torna desleal e se eles não investirem em maquinário não terão condições somente com a experiência de estar em um mercado que cresce muito rápido. NM – Hoje a marcenaria tem que caminhar mais para a realidade industrial. Estar sempre atualizada e planejar o modo que ela vai fabricar. Estar sempre “antenada” com os lançamentos, participar de feiras, palestras, de grupos de discussões, de encontros com nossos parceiros, para que possamos ter cada vez mais esclarecimento e conhecimento e assim nos tornarmos cada vez mais empresas e empresários de sucesso. 

Casa de eucalipto

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beleza e o bom preço foram dois dos fatores que levaram o Arquiteto Henry Teixeira a utilizar o Eucalipto em um dos seus projetos. A escolha dessa espécie como madeira estrutural da casa partiu de conversas preliminares com o cliente onde houve uma identificação em relação ao visual do eucalipto e seu caráter ecológico. Segundo o Arquiteto se optasse por usar outra madeira na mesma espessura de pilar que usou no projeto sairia muito caro. Foi escolhido então o eucalipto que teve um bonito efeito com pilares robustos, feitos de madeira ecologicamente correta, visto que provenientes de áreas reflorestadas (veja mais fotos na página seguinte). 

O eucalipto tem feito bastante sucesso no país inteiro pricipalmente na Bahia e regiões Sul e Sudeste, pelo seu caráter ecológico e por ter um apelo estético diferente do que se vinha usando nos últimos anos

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Capa GALERIA: CASA DE EUCALIPTO / HENRY TEIXEIRA

AGENDA

Cursos MIL IDÉIAS. Oferece cursos grátis, entre os quais textura em tela acrílica, pintura em madeira e arte francesa. Av. Br. de Studart, 626, Meireles (85) 2352-2766. MUNDO DA ARTE. Ministra cursos de pintura a óleo e curso de biscuit. Rua Pedro I, 761, Centro, (85) 3252.4055.

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Eventos

FEIRA DO ARTEFATO. Oferece aos visitantes as mais variadas opções de presentes, produtos artesanais, obras de arte, móveis rústicos, diversão infantil e música ao vivo. Primeiro sábado do mês no Shopping Salinas (Av. Washington Soares, 909, Edson Queiroz), de 15 a 20h.


Reforma

SOB O SIGNO DO TALENTO

REFORMA: O ANTES E O DEPOIS

SIDNEY VIANA TRABALHA COM TALENTO NA ARTE DE REFORMA DE MOBILIÁRIOS TEXTO. ELIZA SOUZA FOTOGRAFIA. DIVULGAÇÃO

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uem nunca teve aquele móvel de estimação que em hipótese nenhuma sonharia em jogar fora? Aquela cômoda da vovó toda em madeira maciça que só de olhar remete aos bons tempos da infância, mas que ficaria linda em pátina provençal?

Com algumas peças sonhamos, visualizamos suas formas em cores nítidas. Conseguimos sentir sua textura e até seu cheiro. Tê-las em nosso mobiliário é uma conquista. Quem nunca guardou a foto daquela cadeira de design art noveau que ficaria divina em sua sala? Mais do que simples peças de ambientação, alguns móveis são tão importantes e vitais para nós que não conseguimos pensar na idéia de dar, vender ou simplesmente jogar no lixo. Com algumas peças sonhamos, visualizamos suas formas em cores nítidas. Conseguimos

sentir sua textura e até seu cheiro. Tê-las em nosso mobiliário é uma conquista. Foi pensando em transformar sonhos em realidade que o decorador Sidney Viana começou há vinte anos a aprender as diferentes técnicas que permitem reformar móveis sem que eles percam suas características de época e estilo. Sidney utiliza as mais variadas técnicas em seu trabalho. Pátina, pátina provençal, decapage, laca provençal, folheação a ouro, prata e bronze, restauração verniz, pinturas especiais e satiné são algumas delas. Também fabrica e aluga móvel e peças de design famosas, algumas delas expostas em sua loja aberta há quase um ano. Com toda essa versatilidade o decorador desenvolve projetos em variados segmentos. Algumas de suas peças exclusivas como artista plástico estão também expostas em sua loja provando que em seu caso arte e talento sempre andam juntos.

DECAPAGEM

Serviço Reforma & Arte Rua Vicente Linhares, 1218, Aldeota Fones: (85) 3224.5841/8848.1039 sidvianna@yahoo.com.br www.reformaearte.com.br

PINTURA DOURADA, LACA PROVENÇAL E SOFÁ REFORMADO

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Artesanato

BELEZA ORIENTAL

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A SENSÍVEL ARTE DO ORIGAMI E KIRIGAMI TEXTO. ELIZA SOUZA FOTOGRAFIA. DIVULGAÇÃO

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inda adolescente, o pedagogo Felipe Maranhão teve contato pela primeira vez com a cultura japonesa. Através do curso de japonês da Universidade Estadual do Ceará (UECE), ele conheceu essa cultura rica e milenar que sempre lhe despertou intenso interesse. Sua professora de japonês, certo dia, apresentou à turma o que seria uma de suas grandes paixões até hoje: o origami. Felipe, com determinação, aprendeu a arte da dobradura de papel e desde então não parou mais. Ministra hoje oficinas de origami e kirigami, além de desenvolver um belo trabalho como intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) para surdos. A arte do origami nasceu na China, mesmo antes do surgimento do papel. A técnica utilizava a seda, e se faziam recipientes de frutas para serem deixados nos templos em oferenda aos deuses. Com o surgimento do papel, a arte do origami foi introduzida no Japão, sendo então aperfeiçoada e disseminada para todo o mundo. “Oru”, que quer dizer dobra, e “kami”, papel, deram origem à palavra. As figuras de origami têm para os japoneses diferentes significados. Tsuru (cegonha) simboliza fertilidade e longevidade. O kusudama, (kususaúde + dama-bola) figuras onde são colocadas ervas aromáticas, são ofertadas aos enfermos para restabelecer a saúde. O kusudama é colocado na cabeceira da cama do doente com o objetivo de equilibrar sua energia, promovendo assim sua cura. Em suas diversas oficinas, Felipe também utiliza a arte do kirigami, que vem do Japonês “kiru” cortar, e “kami”, papel. Assim como o ori-

gami, o kirigami cria representações de objetos e seres em papel, porém, recortando-os. Pode ser associado ao origami trazendo uma nova representação artística chamada “origami tridimensional”. Há também o kiriê, arte de formar figuras e desenhos através do corte do papel com um fino estilete. O kiriê vem sendo bastante utilizado no design de tapetes e painéis. Felipe conta que, além de ter a possibilidade de criar diversas formas em papel, a arte do origami e kirigami trazem grandes benefícios a quem quer que esteja disposto a aprendêla. Um exemplo disso é a pura satisfação de criação. Saber ser capaz de fazer belas figuras traz um grande ganho à auto-estima de qualquer pessoa. Outros benefícios se observam tais como o aprimoramento da paciência, melhora na concentração, desenvolvimento da coordenação motora, redução nos níveis de estresse, dentre outros. Mais do que simples dobraduras e recortes em papel, essas práticas milenares mostram muito da riqueza da cultura oriental. A delicadeza e sensibilidade orientais aos poucos se incorporam ao nosso dia-a-dia nos trazendo também todos os benefícios de equilíbrio interior que essa prática encerra. Usar a arte para representar figuras em papel é transformar através do amor. Trazendo assim a mais pura magia ao que se faz. Serviço Felipe Maranhão integra o grupo denominado Confraria do Origami, criado em março de 2005. Mais informações podem ser obtidas através do site www.origamista.com ou pelo e-mail origamista@msn.com. Telefone para contato: (85) 8805.6075. 

12 JORNAL FORTALEZA DECOR

1. “Dois cisnes”, origami; 2. “Ratinhos amigos”, origami; 3. “Cadeira de design”, kirigami; 4. “Convites de casamento”, kirigami; 5. “Jarros de flores”, origami; 6. “Origami modular”, kusudama; 7. “Uma rosa”, origami; 8. “Ni Hana”, kiriê e 9. “Flores em detalhe”, origami

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