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Adalberto B. M. S. Bassi ______________________________________

Bases da Mecânica e da Termodinâmica dos Meios Contínuos

Universidade Estadual de Campinas Instituto de Química Campinas 2011


FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UNICAMP Sistemas de Bibliotecas da UNICAMP / Diretoria de Tratamento da Informação Bibliotecário: Maria Lúcia Nery D. de Castro – CRB-8ª / 1724

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Bassi, Adalberto Bono Maurizio Sacchi Bases da mecânica e da termodinâmica dos meios contínuos / Adalberto B. M. S. Bassi. -- Campinas, SP: UNICAMP/Instituto de Química, 2011. “Disponível no site ChemKeys (http://www.chemkeys.com) sob licença Creative Commons (http://www.creativecommons.org.br)” 1. Termodinâmica. 2. Química. 3. Físico-química. I. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Química. II. Título. CDD – 541.369 – 540 – 541.3

ISBN 978-85-268-0948-2 (Suporte: Papel) ISBN 978-85-268-0949-9 (Suporte: Internet)

Palavras Chave: Mecânica; Termodinâmica; Meios Contínuos; Álgebra Tensorial; Análise Tensorial; Termomecânica; Não Linearidade; Materiais; Matemática Aplicada; Físico-Química Keywords: Mechanics; Thermodynamics; Continuous Media; Tensor Algebra; Tensor Analysis; Thermomechanics; Non Linearity; Materials; Applied Mathematics; Physical Chemistry Equipe: Capa: Giancarlo M. Stein dos Santos Editor: João Carlos de Andrade Universidade Estadual de Campinas Instituto de Química Caixa Postal 6154 13084-970 Campinas (SP) 2011© Adalberto B. M. S. Bassi Disponível no site ChemKeys (http://www.chemkeys.com) sob licença Creative Commons (http://www.creativecommons.org.br)


Sobre o Autor Adalberto B. M. S. Bassi nasceu em 1945, em Niter´oi, RJ e formou-se Qu´ımico Industrial em 1966, pela antiga Escola Nacional de Qu´ımica da Universidade do Brasil, hoje Escola de Qu´ımica da UFRJ. Fez p´os-gradua¸c˜ao no Centro Brasileiro de Pesquisas F´ısicas e ingressou no corpo docente do Instituto de Qu´ımica da UNICAMP em 1970, onde permanece at´e o presente momento. Doutorou-se pelo Instituto de Qu´ımica da UNICAMP em 1976, com uma tese na ´area de interpreta¸c˜ao, por meios mecˆanico-quˆanticos, de intensidades roto-vibracionais de mol´eculas em estado gasoso. Em 1977, fez p´osdoutorado junto ao Quantum Theory Project da University of Florida e, posteriormente, nesta mesma ´area foram defendidos, sob sua orienta¸c˜ao, trabalhos de mestrado e doutorado. Dedicou-se, ent˜ao, a diversas atividades acadˆemico-administrativas, entre as quais destacam-se a de Diretor do Instituto de Qu´ımica da UNICAMP e a de Pr´o-Reitor de Ensino de Gradua¸c˜ao da mesma Universidade. Ultimamente, restringe suas atividades acadˆemico-administrativas apenas a fun¸c˜oes eletivas de representa¸c˜ao, junto aos ´org˜aos colegiados superiores do Instituto e da Universidade, porque prioriza a pesquisa, a orienta¸c˜ao e o ensino em Mecˆanica e Termodinˆamica dos Meios Cont´ınuos, bem como em Termodinˆamica dos Processos Homogˆeneos.

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Preˆ ambulo A mecˆanica dos meios cont´ınuos ´e um desenvolvimento da antiga mecˆanica dos fluidos, a qual n˜ao considerava a segunda lei da termodinˆamica. Ambas s˜ao ciˆencias para o mundo macrosc´opico, ou seja, como tamb´em faz qualquer outra ciˆencia cl´assica, por causa da utiliza¸c˜ao do c´alculo diferencial e integral, elas extrapolam o comportamento macrosc´opico para regi˜oes microsc´opicas, onde na verdade tal comportamento n˜ao ocorre. Ali´as, a confirma¸c˜ao experimental da corre¸c˜ao dos resultados obtidos mediante esta extrapola¸c˜ao, em todas as ciˆencias cl´assicas, foi o principal motivo porque tantos excelentes cientistas do passado defenderam ardorosamente a continuidade da mat´eria. Hoje, sabe-se que esta extrapola¸c˜ao ´e correta desde que sejam considerados exclusivamente os seus resultados no mundo macrosc´opico. A mecˆanica dos meios cont´ınuos, por´em, n˜ao ´e s´o um aperfei¸coamento da mecˆanica dos fluidos. Ao incorporar a segunda lei e, em consequˆencia, propriedades como a energia de Gibbs, ela mostra suas profundas ra´ızes na termodinˆamica cl´assica. Por´em, ao contr´ario desta mas como faz a mecˆanica newtoniana, a mecˆanica dos meios cont´ınuos considera que os valores das grandezas materiais variam no tempo e no espa¸co. Por isto, os seus processos n˜ao s˜ao homogˆeneos e atemporais, como os da termodinˆamica cl´assica. Tamb´em por isto, ela n˜ao est´a restrita a processos limites, nem a apenas interligar estados de equil´ıbrio. Ela pretende que o seu modelo represente o mundo macrosc´opico real de modo muito mais pr´oximo e detalhado do que o faz o modelo da termodinˆamica cl´assica. Por outro lado, o uso intenso de funcionais constitutivos evidencia a absor¸c˜ao, por parte da mecˆanica dos meios cont´ınuios, dos conceitos b´asicos da termodinˆamica dos processos irrevers´ıveis. Estas duas ra´ızes s˜ao t˜ao fundamentais quanto aquela na mecˆanica dos fluidos. A elas ´e adicionado o arsenal matem´atico que a an´alise tensorial disponibiliza, facilitando um enfoque pragm´atico e computacional extremamente u ´til para a engenharia dos materiais. A uni˜ao de teorias que se sintetizou na mecˆanica dos meios cont´ınuos apresenta um enorme potencial, inclusive porque a an´alise tensorial ´e uma poderosa ferramenta matem´atica moderna, absolutamente n˜ao dispon´ıvel na ´epoca em que a termodinˆamica cl´assica foi desenvolvida. De acordo com a mecˆanica dos meios cont´ınuos, o que se conserva ´e a energia total, n˜ao ´e a energia interna. A conserva¸c˜ao da energia ´e colocada como um dos pilares desta ciˆencia, junto com as conserva¸c˜oes da massa e dos momentos linear e angular. Por outro lado, frequentemente a segunda lei da termodinˆamica ´e tratada como uma mera condi¸c˜ao limitante, a ser inclu´ıda na constru¸c˜ao dos funcionais constitutivos. Por isto, embora a existˆencia das mencionadas ra´ızes termodinˆamicas, este nome nem sempre ´e associado `a mecˆanica dos meios cont´ınuos. Ali´as, os t´ıtulos das sete referˆencias b´asicas listadas na bibliografia evidencia a diversidade de nomes usados para designar esta ciˆencia. Este autor prefere manter associadas as palavras mecˆanica e termodinˆamica, como fazem os

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t´ıtulos da primeira e quarta referˆencias. Isto parece correto porque come¸ca-se a perceber uma baixa utiliza¸c˜ao do potencial antes mencionado, n˜ao sob o enfoque da engenharia ou do desenvolvimento de “softwares”, mas sim sob o aspecto conceitual f´ısico-qu´ımico. De fato, feita exce¸c˜ao a numerosos trabalhos puramente matem´aticos, parece haver pouco interesse em tentar melhorar o entendimento dos conceitos fundamentais em que se baseia a mecˆanica dos meios cont´ınuos. Pelo contr´ario, percebe-se a tendˆencia de apenas aplic´a-los, de modo cada vez mais eficiente e produtivo, naquilo que j´a se sabe conduz a resultados experimentalmente corretos. Logo, estreitar a associa¸c˜ao entre a mecˆanica e a termodinˆamica, a primeira fortemente matem´atica e a segunda intensamente conceital, parece proveitoso para esta ciˆencia. Talvez, um dos maiores motivos deste aparente desinteresse esteja nos conhecimentos matem´aticos necess´arios para uma precisa compreens˜ao conceitual do que as equa¸c˜oes refletem. De fato, trata-se de uma base matem´atica incomum entre qu´ımicos e at´e mesmo entre f´ısicos, a n˜ao ser nos seus aspectos puramente operacionais. O objetivo deste texto ´e ajudar na aquisi¸c˜ao desta base matem´atica conceitual, sem a qual ´e realmente imposs´ıvel entender o significado f´ısico das equa¸c˜oes utilizadas pela mecˆanica dos meios cont´ınuos. Este texto n˜ao se destina a matem´aticos, mas sim a leitores que possuam conhecimentos apenas operacionais, ou rudimentares, de c´alculo diferencial e integral. Ele inicia-se com um longo cap´ıtulo de ´algebra e c´alculo tensorial, seguido por um cap´ıtulo de cinem´atica onde alguns conceitos f´ısicos come¸cam a aparecer. A parte fundamental do segundo cap´ıtulo ´e a sua se¸c˜ao sobre movimento, mas a compreens˜ao deste conceito exige a leitura das se¸c˜oes anteriores, principalmente da primeira. A u ´ltima se¸c˜ao deste cap´ıtulo ´e um pouco mais complexa, mas n˜ao pode deixar de ser entendida, porque ser´a usada em cap´ıtulos posteriores. O terceiro cap´ıtulo, sobre balanceamento, engloba a conceitua¸c˜ao f´ısica principal. No u ´ltimo cap´ıtulo s˜ao colocadas algumas no¸c˜oes b´asicas sobre os funcionais constitutivos. Este texto segue, em suas linhas gerais, o apˆendice e os primeiros trˆes cap´ıtulos da segunda referˆencia citada procurando, por´em, ser mais acess´ıvel para o leitor n˜ao matem´atico. Devido `a forte admira¸c˜ao do autor pela pen´ ultima referˆencia, este texto ´e inevitavelmente influenciado por ela. Sofre, tamb´em, as consequˆencias de ser o autor muito interessado na termodinˆamica dos processos homogˆeneos, que ´e uma vis˜ao temporal da termodinˆamica cl´assica, muito u ´til no estudo de estados da mat´eria homogˆeneos, mas n˜ao est´aveis, tais como vidros, l´ıquidos superresfriados etc. A primeira referˆencia ´e extremante atual e abrangente. A u ´ltima, por causa da proposi¸c˜ao da desigualdade de Clausius-Duhem, ´e geralmente considerada o marco inicial da mecˆanica e termodinˆamica dos meios cont´ınuos. Sem dem´erito para dezenas de outras excelentes referˆencias, o autor considera as sete selecionadas como os marcos principais desta teoria. Campinas, janeiro de 2011.

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Sum´ ario 1 An´ alise Tensorial Elementar 1.1 S´ımbolos, Fun¸c˜ao e Funcional, Matriz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ´ 1.2 Algebra Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.1 Espa¸co Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.2 Produto Interno de Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.3 Base Dual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.4 Produto Tensorial de Vetores e Tensor de Segunda Ordem . . . . 1.2.5 Transposi¸c˜ao de Tensor Simples, de Segunda Ordem e Troca entre ´Indice e Super´ındice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.6 Composi¸c˜ao de Tensores de Segunda Ordem . . . . . . . . . . . . 1.2.7 Tensor de ordem k . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.8 Regras para Transforma¸c˜ao de Componentes de Vetor e de Tensor de Segunda Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.9 Determinante e Tra¸co . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.10 Produto Interno, Invers˜ao, Ortogonalidade e Grupo de Tensores de Segunda Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.11 Elemento de Volume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.12 Produto Externo e Produto Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2.13 Teoremas para a Mecˆanica dos Meios Cont´ınuos . . . . . . . . . . 1.2.14 Espa¸co Euclideano de Pontos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 C´alculo Tensorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.1 Diferencia¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.2 Aplica¸c˜oes da Diferencia¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.3 Sistemas de Coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.4 Derivadas Covariantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3.5 Operadores para a Mecˆanica dos Meios Cont´ınuos . . . . . . . . .

33 36 41 45 50 51 51 58 66 70 75

2 Cinem´ atica 2.1 Configura¸c˜ao e Deforma¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.1.1 Gradiente de Deforma¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . 2.1.2 Diferenciais Definidos pelo Gradiente de Deforma¸c˜ao 2.1.3 Mudan¸ca de Configura¸c˜ao Referencial . . . . . . . . . 2.2 Tra¸c˜ao e Rota¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 Tra¸c˜ao e Rota¸c˜ao Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.1 Conceito B´asico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4.2 Descri¸c˜oes Material e Espacial . . . . . . . . . . . . . 2.5 Deforma¸c˜ao Relativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

82 82 82 84 87 87 89 94 94 95 99

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1 1 8 8 9 10 12 17 20 21 22 25


2.6

2.5.1 Conceito e Exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.5.2 Velocidade de Altera¸c˜ao da Tendˆencia de Deforma¸c˜ao . Mudan¸ca de Estrutura Referencial . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6.1 Transforma¸c˜ao Euclideana . . . . . . . . . . . . . . . . 2.6.2 Transforma¸c˜oes Galileiana e R´ıgida Independente de t . 2.6.3 Aplica¸c˜oes para Grandezas Cinem´aticas . . . . . . . . . 2.6.4 Derivada Temporal Corotacional . . . . . . . . . . . .

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3 Balanceamento 3.1 Equa¸c˜oes de Balanceamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1 Equa¸c˜oes de Balanceamento na Configura¸c˜ao Corrente . 3.1.2 Equa¸c˜oes de Balanceamento na Configura¸c˜ao Referencial 3.1.3 Compatibilidade Cinem´atica da Superf´ıcie Singular . . . 3.2 Massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3 Dinˆamica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.1 Momentos Linear Angular . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.2 For¸ca e Torque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.3 Tensor de Tra¸c˜ao de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3.4 Balanceamento de Momentos Linear e Angular . . . . . . 3.3.5 Balanceamento de Energia Cin´etica . . . . . . . . . . . . 3.3.6 Balanceamento de Energias Total e Interna . . . . . . . . 3.4 Equa¸c˜oes Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4.1 Equa¸c˜oes de Campo e de Rankine-Hugoniot na Descri¸c˜ao 3.4.2 Condi¸c˜oes de Fronteira do Corpo . . . . . . . . . . . . . 3.4.3 Equa¸c˜oes de Campo em Estrutura Referencial Arbitr´aria 4 Princ´ıpios B´ asicos das Teorias Constitutivas 4.1 Campos B´asicos, Fun¸c˜oes e Funcionais Constitutivos 4.2 Princ´ıpio de Objetividade Material . . . . . . . . . . 4.2.1 Conceito Fundamental . . . . . . . . . . . . . 4.2.2 Aplica¸c˜ao `a Configura¸c˜ao Referencial . . . . . 4.2.3 Aplica¸c˜ao a Classes Particulares de Materiais 4.3 Material Simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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99 101 104 104 107 108 111

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112 112 112 118 122 123 126 126 128 129 131 133 135 139 139 141 142

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145 145 147 147 148 150 151

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Cap´ıtulo 1 An´ alise Tensorial Elementar 1.1

S´ımbolos, Fun¸c˜ ao e Funcional, Matriz

Nota¸c˜ ao 1.1.1 (S´ımbolos) O campo dos n´ umeros reais ´e representado por <. A n˜ao ser no caso de s´ımbolos convencionais, como por exemplo o tensor elemento de volume e, de um modo geral escalares (tensores de ordem zero) ser˜ao representados por letras min´ usculas em it´alico (a, α,. . . ), vetores (tensores de primeira ordem) por letras min´ usculas romanas em negrito (u, v,. . . ) e tensores (de qualquer ordem salvo nula e primeira) por letras mai´ usculas it´alicas (T , F ,. . . ). O tensor identidade ser´a representado 1 , enquanto que a matriz identidade ser´a representada por [1]. Entretanto, letras it´alicas min´ usculas e mai´ usculas poder˜ao ter outros significados, desde que estes sejam explicitamente informados. Trechos em negrito correspondem a chamadas no ´ındice e, quando deseja-se ressaltar uma palavra, ela ´e sublinhada por tra¸co duplo. S´ımbolos matem´ aticos: ∈ pertence a ou pertencente a; ⊂ subconjunto de; ∀ para todo; ∃ existe; {·} conjunto constitu´ıdo pelo(s) elemento(s) representado(s) por · ; (·) conjunto ordenado constitu´ıdo pelo(s) elemento(s) representado(s) por · ; [·] matriz constitu´ıda pelo(s) elemento(s) representado(s) por · ; ·[·] aplica¸c˜ao do tensor representado pelo primeiro · ao tensor representado pelo segundo; | onde; 2 t´ermino de demonstra¸c˜ao. Defini¸c˜ ao 1.1.1 (Fun¸c˜ ao e Funcional) Sejam dois conjuntos, A e B, de escalares, vetores, tensores, ou de n-uplas (por exemplo, se n = 2 s˜ao duplas, o que significa o mesmo que pares ordenados) constitu´ıdas por escalares, vetores, ou tensores. Por

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defini¸c˜ao, uma regra que relaciona cada elemento de A a, no m´aximo, um u ´nico elemento de B, ´e uma fun¸c˜ ao g representada por g : A → B. A express˜ao g : a 7→ b | a ∈ A, b ∈ B indica que, quando a fun¸c˜ao for aplicada ao espec´ıfico elemento a, que ser´a chamado o argumento da fun¸c˜ao, este elemento ser´a relacionado ao espec´ıfico elemento b, chamado imagem da fun¸c˜ao, formando o par ordenado (a, b). Por exemplo, cos : π/3 7→ 0, 5 | π/3, 0, 5 ∈ <, formando o par ordenado (π/3, 0, 5). O conjunto de todos os pares ordenados criados pela fun¸c˜ao g ´e a pr´opria fun¸c˜ao g, porque tal conjunto explicita a regra que relaciona cada elemento de A a, no m´aximo, um elemento de B. O par ordenado (a, b), portanto, ´e o elemento da fun¸c˜ ao correspondente ao argumento a (n˜ao `a imagem b, porque v´arios argumentos podem corresponder `a mesma ´ muito frequente o uso da representa¸c˜ imagem, mas n˜ao o vice-versa). E ao g(a) para indicar b, ou seja, define-se b ≡ g(a) e costuma-se afirmar que “b ´e fun¸c˜ao de a” para indicar que b ´e a imagem correspondente ao argumento a, atrav´es da fun¸c˜ao g. Se o conjunto B for constitu´ıdo exclusivamente por escalares (ou vetores, ou tensores etc.), costuma-se afirmar que g ´e uma “fun¸c˜ao escalar” (ou vetorial, ou tensorial etc.), para indicar que a imagem da fun¸c˜ao g ´e necessariamente escalar (ou vetorial, ou tensorial etc.). Por outro lado, a representa¸c˜ ao g(·) ´e utilizada para indicar a pr´opria fun¸c˜ao g, portanto g ≡ g(·). Se, para um espec´ıfico conjunto D de argumentos a da fun¸c˜ao g : a 7→ b, a toda imagem b de a ∈ D corresponder um u ´nico argumento a, g ser´a dita fun¸c˜ao de um −1 para um em D e g : b 7→ a|a ∈ D ser´a a inversa em D da fun¸c˜ao g. Neste caso poder-se-´a, tamb´em, afirmar que a fun¸c˜ao g ´e invert´ıvel em D. Evidentemente, existe a possibilidade de que D abranja todos os poss´ıveis argumentos da fun¸c˜ao, situa¸c˜ao esta em que a express˜ao “em D” ´e omitida. Sejam, agora, dois conjuntos, C e D, de escalares, vetores, tensores, fun¸c˜oes h : A → B ou de n-uplas constitu´ıdas por escalares, vetores, tensores ou fun¸c˜oes h : A → B. Por ´nico elemento defini¸c˜ao, uma regra que relaciona cada elemento de C a, no m´aximo, um u de D, ´e um funcional F representado por F : C → D. Um tipo extremamente simples de funcional ´e a fun¸c˜ao, j´a discutida, porque a defini¸c˜ao de funcional ´e uma amplia¸c˜ao da defini¸c˜ao de fun¸c˜ao, logo n˜ao exclui esta u ´ltima. Por isto, tudo o que se seguiu `a seten¸ca de defini¸c˜ao de fun¸c˜ao, at´e ao fim do par´agrafo anterior, pode ser analogamente colocado para funcional. Por´em, usa-se o nome funcional apenas quando pelo menos um, entre os argumentos e imagens de F considerados, for uma fun¸c˜ao, ou uma n-upla contendo pelo menos uma fun¸c˜ao, porque, quando isto n˜ao ocorrer, seria uma in´ util complica¸c˜ao usar o nome funcional, ao inv´es de fun¸c˜ao, j´a que esta ´e uma denomina¸c˜ao muito mais conhecida. Considerando esta restri¸c˜ao, o exemplo mais simples de funcional ´e a composi¸c˜ ao de fun¸c˜ oes, que pode ser grafada g3 = g2 ◦ g1 , onde g1 ´e a fun¸c˜ao argumento, F = g2 ◦ ´e o funcional e g3 ´e a fun¸c˜ao imagem, logo g3 = g2 ◦ g1 ´e um caso espec´ıfico da express˜ao mais geral g3 = F(g1 ) . Impor F = g2 ◦ ´e igual a impor que, se g1 : x 7→ y e g3 : x 7→ z, exista g2 : y 7→ z. Conforme ser´a exemplificado a seguir, a existˆencia de g2 : y 7→ z corresponde a uma simplifica¸c˜ao t˜ao radical, em rela¸c˜ao `a express˜ao g3 = F(g1 ) , sendo g1 : x 7→ y e g3 : x 7→ z, que o pr´oprio conceito de funcional ´e desnecess´ario para explicar a composi¸c˜ao de fun¸c˜oes, assim como ´e desnecess´ario para explicar a fun¸c˜ao. Por isto, n˜ao se usa o nome funcional no caso de composi¸c˜ao de fun¸c˜oes, a qual ´e tamb´em chamada fun¸c˜ ao de fun¸c˜ ao. Como a imagem z ´e a mesma, ´e usual escrever g(x) = g(y), ao inv´es 2


da representa¸c˜ao mais rigorosa g3 (x) = g2 (y). Para exemplificar uma composi¸c˜ao de fun¸c˜oes, seja y = g1 (x) = sen x e z = g2 (y) = cos y, logo z = g3 (x) = cos sen x, onde a fun¸c˜ao sen ´e o argumento que o funcional cos ◦ relaciona `a fun¸c˜ao imagem cos sen. Note que, para que o funcional cos ◦ defina o elemento (x, z) da sua fun¸c˜ao imagem cos sen, basta que seja conhecido o elemento (x, y) da sua fun¸c˜ao argumento sen. Isto ocorre porque existe a fun¸c˜ao g2 : y 7→ z, neste exemplo dada por cos : y 7→ z. Em geral, por´em, o conhecimento da fun¸c˜ao imagem de um funcional, ou mesmo de apenas um elemento dela, exige o conhecimento de mais do que um u ´nico elemento de pelo menos uma entre as fun¸c˜oes presentes no seu argumento. Coerentemente com o afirmado no par´agrafo anterior, usar-se-´a o nome funcional somente quando houver esta exigˆencia, que n˜ao existe no caso da composi¸c˜ao de fun¸c˜oes. Os tipos mais conhecidos de funcionais s˜ao a deriva¸c˜ao e a integra¸c˜ao, que s˜ao regras que relacionam fun¸c˜oes entre si e que exigem o conhecimento de mais do que um u ´nico elemento das fun¸c˜oes argumento. A deriva¸c˜ao e a integra¸c˜ao s˜ao exemplos de funcionais universais, no sentido que s˜ao regras que n˜ao dependem de caracter´ısticas espec´ıficas do problema a ser resolvido. Por isto, mais uma vez, a deriva¸c˜ao e a integra¸c˜ao costumam ser apresentadas sem que o conceito de funcional seja previamente colocado. Mas existem funcionais n˜ao universais, cuja compreens˜ao exige que o conceito de funcional seja previamente apresentado. Eles aparecem em v´arias ciˆencias f´ısicas. Por exemplo, na mecˆanica e termodinˆamica dos meios cont´ınuos s˜ao utilizados funcionais constitutivos, cujas formas dependem de especificidades do material considerado. Nota¸c˜ ao 1.1.2 (Einstein) Um super´ındice, geralmente, ´e escrito entre parˆentesis, para n˜ao ser confundido com um expoente. Por exemplo, pode-se ter ai ou a(i) , de acordo com a preferˆencia quanto a numerar a por meio de ´ındices ou super´ındices i = 1, 2, 3, . . . (considere que a n˜ao necessariamente seja um escalar). Por´em, de acordo com a nota¸c˜ao de Einstein, os parˆentesis s˜ao omitidos do super´ındice. Outra caracter´ıstica desta nota¸c˜ao ´e que, num produto, quando um mesmo indicador aparecer uma vez como ´ındice e outra como super´ındice, subentende-se o somat´orio do produto para todos os valores poss´ıveis do indicador. Por exemplo, ai bi , sendo i = 1, 2 ou 3, implica em a1 b1 + a2 b2 + a3 b3 , enquanto que ai bi representa o somat´orio a1 b1 + a2 b2 + a3 b3 . Mas, se o indicador aparecer duas vezes como ´ındice, ou como super´ındice, o somat´orio ´nico entre os n˜ao estar´a subentendido. Portanto tanto ai bi como ai bi se referem a um u 1 1 poss´ıveis valores permitidos para i. Para indicar a1 b1 + a2 b2 + a3 b3 , ou a b + a2 b2 + a3 b3 , P P deve-se respectivamente escrever 3i=1 ai bi , ou 3i=1 ai bi . O indicador somativo pode ser um ´ındice e um super´ındice que apresentem a mesma base. Por exemplo, sendo i = 1, 2 ou 3, tem-se T i i = T 1 1 + T 2 2 + T 3 3 . Podem, tamb´em, ocorrer dois ou mais indicadores somativos. Por exemplo, gi j T i j indica a aplica¸c˜ao sequencial dos somat´orios em i e em j, sendo indiferente qual dos dois somat´orios ´e o primeiro a ser efetuado. Ap´os efetuado o primeiro somat´orio (se i = 1, 2 ou 3, aplicando inicialmente o somat´orio em i a gi j T i j ter-se-´a g1 j T 1 j + g2 j T 2 j + g3 j T 3 j ), aparecem termos formados por fatores com ´ındice e super´ındice alfanum´ericos iguais, o que exige a aplica¸c˜ao dos somat´orios correspondentes `a parte alfab´etica dos ´ındices e super´ındices, para cada um destes termos. A nota¸c˜ao de Einstein ser´a subentendida a partir deste ponto do texto. 3


Defini¸c˜ ao 1.1.2 (Matriz) Seja um conjunto A, cujos elementos n˜ao necessariamente s˜ao escalares e seja o conjunto I, formado pelos m primeiros n´ umeros naturais (os n´ umeros naturais s˜ao os inteiros positivos). Suponha que exista uma fun¸c˜ao ordenadora φ : I → A tal que, ∀i ∈ I, φ : i 7→ ai | ai ∈ A, ou φ : i 7→ ai | ai ∈ A, de acordo com o s´ımbolo escolhido para a imagem de φ ser, respectivamente, ai ou ai . Logo, a fun¸c˜ao φ cria, respectivamente, o conjunto ordenado (a1 , a2 , . . . , am−1 , am ) ≡ (ai )m i=1 , ou 1 2 m−1 m i m (a , a , . . . , a , a ) ≡ (a )i=1 , usando elementos do conjunto A e representando por i ai , ou a , o elemento que ela associa a cada n´ umero natural i. Neste texto, tal conjunto ordenado ser´a geometricamente representado, respectivamente, pela matriz coluna [ai ] ou [ai ], onde a1 ou a1 ´e colocado na linha superior, a2 ou a2 na linha logo abaixo da linha superior e assim sucessivamente, at´e am−1 ou am−1 na linha logo superior `a linha inferior e am ou am na linha inferior. Note que, embora neste texto o s´ımbolo [ai ], ou [ai ], sempre indique a mencionada matriz coluna, outras representa¸c˜oes geom´etricas s˜ao poss´ıveis para o conjunto ordenado considerado. Por exemplo, poderia ser imaginada uma representa¸c˜ao sob a forma de uma matriz linha, ou mesmo uma matriz circular, onde fosse colocado a1 ou a1 na posi¸c˜ao em que se encontra o n´ umero doze no mostrador de um rel´ogio anal´ogico, seguido no sentido hor´ario pelos demais elementos a2 ou a2 etc., espa¸cados entre si por arcos de igual comprimento. O que ´e significativo, portanto, ´e o conjunto ordenado, n˜ao a representa¸c˜ao geom´etrica por matriz coluna que foi para ele convencionada. Seja, agora, o mesmo conjunto A e sejam os conjuntos I e J, respectivamente formados pelos m e pelos n primeiros n´ umeros naturais. Suponha que exista uma fun¸c˜ao ordenadora φ : I × J → A tal que, ∀i ∈ I e ∀j ∈ J, tenha-se ou φ : (i, j) 7→ ai j | ai j ∈ A, ou φ : (i, j) 7→ ai j | ai j ∈ A, ou φ : (i, j) 7→ ai j | ai j ∈ A, ou φ : (i, j) 7→ ai j | ai j ∈ A, de acordo com o s´ımbolo escolhido para a imagem de φ ser, respectivamente, ai j , ai j , ai j ou ai j . Logo, a fun¸c˜ao φ cria, respectivamente, o conjunto ordenado (ai j )m,n i=1, j=1 , i m,n i j m,n ou (ai j )m,n i=1, j=1 , ou (a j )i=1, j=1 , ou (a )i=1, j=1 , usando elementos do conjunto A e re-

presentando por ai j , ou ai j , ou ai j , ou ai j , o elemento que ela associa a cada par ordenado de n´ umeros naturais (i, j). Note a conven¸c˜ao adotada, no sentido de que a ordem esquerda/direita dos indicadores (sejam eles ´ındices ou super´ındices), no elemento de A associado ao par ordenado, sempre ´e a ordem esquerda/direita conforme a qual, no par considerado, aparecem os n´ umeros naturais. j m,n i m,n Neste texto, o conjunto ordenado (ai j )m,n i=1, j=1 , ou (ai )i=1, j=1 , ou (a j )i=1, j=1 , ou (ai j )m,n a geometricamente representado, respectivamente, pela matriz retangular i=1, j=1 , ser´ [ai j ], ou [ai j ], ou [ai j ], ou [ai j ], onde o indicador `a esquerda sinaliza a linha enquanto que o indicador `a direita mostra a coluna, independentemente deles aparecerem como ´ındices ou super´ındices. Novamente, o que ´e significativo ´e o conjunto ordenado, n˜ao a representa¸c˜ao geom´etrica por matriz retangular que foi para ele convencionada. Por exemplo, seja A o infinito conjunto cont´avel dos quocientes das divis˜oes de todos os n´ umeros naturais por todos os n´ umeros naturais e seja a fun¸c˜ao φ tal que a imagem do par ordenado (i, j) seja o quociente i/j, logo a imagem do par ordenado (j, i) seja o quociente j/i. No caso do par ordenado (i, j), tal imagem pode ser representada por ai j , ou ai j , ou ai j , ou ai j . Por outro lado, se o par ordenado for (j, i), a representa¸c˜ao 4


poderer´a ser aj i , ou aj i , ou aj i , ou aj i . Note que a fun¸c˜ao φ foi definida de modo tal que, nestas oito poss´ıveis representa¸c˜oes da sua imagem, o indicador `a esquerda sempre seja o numerador do quociente, independentemente dele ser ´ındice ou super´ındice e, tamb´em, independentemente da letra usada neste indicador ser i ou j (analogamente para o indicador `a direita). Escolhamos, arbitrariamente, o s´ımbolo ai j , ou seja, consideremos ai j = i/j. Neste j caso, a fun¸c˜ao φ criou o conjunto ordenado (ai j )m,n = i/j, geometricamente i=1, j=1 | ai representado pela matriz retangular [ai j ]. Como foram inclu´ıdos, como numeradores, os n´ umeros naturais desde i = 1 at´e i = m, a matriz apresenta m linhas. Por outro lado, foram considerados os denominadores desde j = 1 at´e j = n, logo a matriz tem n colunas. Mas, se de modo igualmente arbitr´ario escolhermos o s´ımbolo aj i , logo considerarmos i aj i = j/i, a fun¸c˜ao φ criar´a o conjunto ordenado (aj i )n,m j=1, i=1 | aj = j/i, geometricamente representado pela matriz retangular [aj i ]. Esta, evidentemente, apresenta n linhas e m colunas. Note que as matrizes [ai j ] e [aj i ] s˜ao iguais nas suas respectivas partes quadradas, as quais contˆem um n´ umero l de linhas e colunas igual ao menor entre m e n, j i i=l, j=l ou seja, ai = aj | i=1, j=1 . Mas, nas suas respectivas partes restantes, todos os elementos de cada uma das duas matrizes s˜ao diferentes daqueles apresentados pela outra. Isto mostra que, se m = n, ent˜ao [ai j ] = [aj i ], o que pode confundir quem est´a acostumado `a simbologia usada nos livros did´aticos elementares de ´algebra matricial. Ali´as, as representa¸c˜oes [A] e [A]i j , respectivamente para uma matriz e para os elementos que a formam, embora muito encontradas em tais livros, n˜ao s˜ao usadas neste texto. De fato, conforme a nota¸c˜ao para aplica¸c˜ao de tensor a tensor 1.2.6, que ser´a posteriormente apresentada, M [N ] indicar´a a aplica¸c˜ao do tensor representado por M ao tensor representado N , logo n˜ao indicar´a que [N ] seja uma matriz (para evidenciar o contraste, o s´ımbolo ·[·] foi inclu´ıdo imediatamente ap´os `aquele de matriz, [·], na nota¸c˜ao para s´ımbolos 1.1.1). A diferen¸ca entre a simbologia usada neste texto e aquela que aparece nos livros did´aticos elementares de ´algebra matricial deve-se ao fato de que os mencionados livros usam s´ımbolos adequados a um conceito de matriz semelhante ao de uma tabela, enquanto que o conceito de matriz apresentado no presente texto ressalta a a¸c˜ao da fun¸c˜ao ordenadora φ e, por isto, utiliza uma simbologia mais coerente com este enfoque. Cabe, ainda, lembrar que, ao se representar um conjunto ordenado, n˜ao ´e exigido que se informe o valor final assumido por cada um dos indicadores. Logo, s˜ao absolutamente corretas, j por exemplo, as representa¸c˜oes simplificadas (ai ), ao inv´es de (ai )m es i=1 e (ai ), ao inv´ j m,n de (ai )i=1, j=1 . Conforme j´a afirmado, o indicador `a esquerda (ou `a direita), na representa¸c˜ao escolhida para o elemento do conjunto A, em geral tem algum outro significado especial al´em de, na forma matricial, fornecer a linha (ou a coluna) a que o elemento pertence. No exemplo anterior, o significado especial era ser o valor do numerador do quociente, independentemente de qual fosse a letra usada para simbolizar tal valor e, tamb´em, independentemente deste indicador ser um ´ındice ou um super´ındice. Por´em, o significado especial pode, tamb´em, determinar se o indicador ´e ´ındice ou super´ındice, conforme, por exemplo, ser´a mostrado na defini¸c˜ao de componente associado de tensor de segunda ordem 1.2.15.

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No exemplo anterior, se i fosse o numerador e j o denominador do quociente, i seria a letra usada no indicador `a esquerda e j naquele da direita, logo o par ordenado seria (i, j). Ao se trocar (i, j) por (j, i), se troca an´aloga n˜ao fosse efetuada no quociT

ente a fun¸c˜ao ordenadora, φ, seria transformada na fun¸c˜ao ordenadora φ, a qual ser´a apresentada na defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4. Esta troca de fun¸c˜oes T i

j=l ordenadoras produziria aj = ai j | m,n es de aj i = ai j | i=l, i=1, j=1 , ao inv´ i=1, j=1 . De um modo geral, as letras usadas nos dois indicadores aparecem em diversas express˜oes envolvidas no desenvolvimento matem´atico ao qual a matriz se relaciona e, ao se trocar (i, j) por j=l (j, i), para se obter aj i = ai j | i=l, aloga deve ser efetuada em tais express˜oes. i=1, j=1 troca an´ Se for esquecida a necess´aria troca em alguma das express˜oes envolvidas, provavelmente um erro grave ser´a cometido. Aconselha-se, ent˜ao, muita cautela no uso de igualdades, para m = n, do tipo [ai j ] = [aj i ].

Defini¸c˜ ao 1.1.3 (Delta de Kronecker) O delta de Kronecker, representado por j i δ j , δi , δi j ou δ i j , ´e um real nulo sempre que i 6= j, mas igual `a unidade se i = j. Entretanto, pressup˜oe-se que as possibilidades de igualdade e desigualdade entre os indicadores i e j se refiram `as grandezas que estes indicadores representam, o que cria a exigˆencia de que as mencionadas grandezas sejam compar´aveis, na teoria considerada. Em geral, a satisfa¸c˜ao desta exigˆencia ´e subentendida, mas em alguns casos pode ser conveniente explicit´a-la, como por exemplo na defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa ´ evidente que o fato dos indicadores serem ´ındices ou super´ındices, ou mesmo 1.1.4. E estarem `a esquerda ou `a direita, n˜ao afeta o valor do delta de Kronecker, ao contr´ario do que, por exemplo, ser´a mostrado na defini¸c˜ao de componente associado de tensor de segunda ordem 1.2.15. Defini¸c˜ ao 1.1.4 (Matrizes Transposta e Inversa) Seja um conjunto A e sejam os conjuntos I e J, respectivamente formados pelos m e pelos n primeiros inteiros positivos. Suponha que exista uma fun¸c˜ao φ : I × J → A tal que, ∀i ∈ I e ∀j ∈ J, tenha-se T

φ : (i, j) 7→ ai j | ai j ∈ A. Suponha, tamb´em, que exista uma outra fun¸c˜ao φ: J × I → A T

T

tal que, ∀j ∈ J e ∀i ∈ I, tenha-se φ: (j, i) 7→aj cria o conjunto ordenado

(ai j )m,n i=1, j=1

i

T

i

| aj = ai j . Enquanto a fun¸c˜ao φ

T

T

, a fun¸c˜ao φ cria o conjunto ordenado aj

i n,m

sendo o primeiro conjunto geometricamente representado pela matriz retangular

T

segundo pela matriz retangular aj

T

que a matriz aj

i

, j=1, i=1 [ai j ] e o

i

. A matriz [ai j ] tem m linhas e n colunas, enquanto

T

apresenta n linhas e m colunas. Define-se [ai j ]T ≡ aj

i

, sendo [ai j ]T

denominada a transposta da matriz [ai j ]. Note que, embora tanto [ai j ]T quanto [aj i ] apresentem n linhas e m colunas, [ai j ]T 6= [aj i ]. De fato, conforme colocado na defini¸c˜ao 1.1.2, [ai j ] e [aj i ] s˜ao iguais nas suas respectivas partes quadradas, mas nas suas respectivas partes restantes todos os elementos de cada uma das duas matrizes s˜ao diferentes daqueles apresentados pela outra. Ao contr´ario, [ai j ] e [ai j ]T n˜ao s˜ao iguais nas suas respectivas partes quadradas, mas todos os elementos de [ai j ] est˜ao presentes em [ai j ]T e v.v. Note, ainda, que esta n˜ao ´e a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta, que ser´a apresentada posteriormente 6


(defini¸c˜ao 1.2.17). A partir deste ponto do texto e at´e ao final desta defini¸c˜ao 1.1.4, imponha m = n. Assim sendo, se [ai j ] = [ai j ]T a matriz ´e dita sim´ etrica, enquanto que, se [ai j ] = −[ai j ]T , a matriz ´e chamada antissim´ etrica. j j −1 A matriz inversa de [ai ], grafada [ai ] e definida de modo a que [ai j ]−1 [ai j ] = [ai j ][ai j ]−1 = [1], onde [1] ´e a matriz unidade, corresponde a um ordenamento de ele−1

mentos do conjunto A produzido pela fun¸c˜ao φ : J × I → A tal que, ∀j ∈ J e ∀i ∈ I, −1

−1 i

tenha-se φ : (j, i) 7→ a j

−1 i

−1 i

| a j ai k = δj k , ak j a j = δk i , portanto [ai j ]−1 ≡

−1 i aj

.

Esta coloca¸c˜ao explicita a exigˆencia de que o conjunto A contenha tanto os elementos −1 i

T

i

ai j , quanto os elementos a j . Note que, como aj = ai j , os elementos de [ai j ] e [ai j ]T s˜ao os mesmos, logo ´e suficiente que [ai j ] exista para que [ai j ]T exista. Por outro lado, n˜ao ´e suficiente que [ai j ] exista para que [ai j ]−1 exista, porque n˜ao h´a garantia alguma −1 i

de que existam os elementos a j , logo, de que exista algum conjunto A que contenha −1 i

tanto os elementos ai j , quanto os elementos a j . A matriz [ai j ] ´e dita singular quando [ai j ]−1 n˜ao existir e ´e dita ortogonal quando [ai j ]T = [ai j ]−1 . A escolha da matriz [ai j ] foi totalmente arbitr´aria. Semelhantemente ao que foi apresentado para transposi¸c˜ao, simetria, antissimetria, invers˜ao, singularidade e ortogonalidade da matriz [ai j ], definem-se transposi¸c˜oes, simetrias, antissimetrias, invers˜oes, singularidades e ortogonalidades das matrizes [ai j ], [ai j ] e [ai j ]. De acordo com a defini¸c˜ao de matriz 1.1.2, o indicador `a esquerda (ou `a direita) na representa¸c˜ao escolhida para o elemento do conjunto A, independentemente deste indicador ser um ´ındice ou um super´ındice e, tamb´em, independentemente de qual seja a letra usada para simbolizar o seu valor, em geral tal indicador tem algum outro significado especial al´em de, na representa¸c˜ao matricial, indicar a linha (ou a coluna) a que pertence o elemento. De fato, no exemplo fornecido pela defini¸c˜ao 1.1.2, o significado especial do indicador `a esquerda era referir-se ao numerador do quociente. Deve-se ressaltar que as defini¸c˜oes apresentadas para matriz transposta e para matriz T

i

inversa, respectivamente aj = ai j e

−1 i aj

−1 i

ai k = δj k , ak j a j = δk i , indicam que, ao

se efetuar a transposi¸c˜ao ou a invers˜ao, os mencionados significados especiais dos dois indicadores s˜ao trocados entre si. No caso da primeira igualdade, para matriz transposta, a troca ´e evidente. No caso das u ´ltimas duas igualdades, para evidenciar a troca faz-se necess´ario informar que a defini¸c˜ao de matriz inversa subentende que sejam considerados compar´aveis, em termos de δj k e δk i (veja a defini¸c˜ao de delta de Kronecker 1.1.3), somente indicadores que apresentem o mesmo significado especial. Define-se, ainda, a j −T

matriz inversa transposta [ai ]

−T

ai

j

T −1 i aj

=

T

= aj

i −1

, cujos significa-

dos especiais dos dois indicadores s˜ao os mesmos da matriz original. Evidentemente, defini¸c˜oes an´alogas existem para as matrizes [ai j ], [ai j ] e [ai j ].

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1.2

´ Algebra Linear

1.2.1

Espa¸ co Vetorial

Defini¸c˜ ao 1.2.1 (Espa¸co Vetorial Real) Um espa¸co vetorial real V ´e um conjunto que disp˜oe de duas opera¸c˜oes: I. v + u ∈ V se v ∈ V e u ∈ V (adi¸c˜ao) e II. αv ∈ V se v ∈ V e α ∈ < (multiplica¸c˜ao escalar), as quais satisfazem as seguintes regras: ∀(u, v, w) ∈ V e ∀(α, β) ∈ <, 1. v + u = u + v (comutatividade da adi¸c˜ao). 2. v + (u + w) = (u + v) + w (associatividade da adi¸c˜ao). 3. ∃0 ∈ V tal que v + 0 = v, chamado vetor nulo e representado do mesmo modo que o escalar nulo, este u ´ltimo denominado zero (defini¸c˜ao do vetor nulo). 4. ∀v ∈ V ∃ − v ∈ V tal que v + (−v) = 0 (operacionalidade da adi¸c˜ao). 5. α(βv) = (αβ)v (associatividade escalar da multiplica¸c˜ao escalar). 6. (α + β)v = αv + βv (distributividade escalar da multiplica¸c˜ao escalar). 7. α(v + u) = αv + αu (distributividade vetorial da multiplica¸c˜ao escalar). 8. 1v = v, onde 1 ´e o escalar um (operacionalidade da multiplica¸c˜ao escalar). Usando o conceito de diferen¸ca entre n´ umeros reais, ´e estabelecido o conceito de continuidade em <. Logo, a opera¸c˜ao multiplica¸c˜ao escalar implica em que qualquer espa¸co vetorial real contenha infinitos vetores, sendo cont´ınua a varia¸c˜ao entre eles. Estabelecese, assim, o conceito de continuidade em espa¸co vetorial. Note ainda que, de acordo com a presente defini¸c˜ao, < ´e um espa¸co vetorial. Defini¸c˜ ao 1.2.2 (Base) Um conjunto de vetores (ci )ni=1 ´e denominado uma base do espa¸co vetorial real V se e somente se ∀a1 , . . . , an ∈ <, se a1 c1 + . . . + an cn = 0 ent˜ao a1 = . . . = an = 0, logo, (1) h´a independˆ encia linear entre os elementos de (ci )ni=1

e

∀u ∈ V tem-se u1 c1 + . . . + un cn = u, onde u1 , . . . , un ∈ <, logo, (2) o conjunto ordenado (ci )ni=1 abrange o espa¸co V . Neste texto, os vetores de base ser˜ao representados por ci ∈ (ci )ni=1 ou di ∈ (di )ni=1 . Perceba que, ao contr´ario do que ocorre com o indicador i = 1, . . . , n, o uso subentendido da nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2 n˜ao implica em que un cn seja um somat´orio, porque n apresenta um u ´nico valor.

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Defini¸c˜ ao 1.2.3 (Componente) De acordo com a defini¸c˜ao de base 1.2.2, se (ci )ni=1 for uma base de V e u ∈ V , ent˜ao u = ui ci . Cada elemento ui ∈ (ui )ni=1 , denominado componente de u, ´e bem definido em rela¸c˜ao `a base (ci )ni=1 . Defini¸c˜ ao 1.2.4 (Dimens˜ ao de Espa¸co Vetorial Real) Um espa¸co vetorial real pode ter muitas bases, mas todas elas cont´em o mesmo n´ umero de elementos. Tal n´ umero ´e chamado dimens˜ ao, cuja representa¸c˜ ao ´e dim. Note que, mesmo que n˜ao se trate da dimens˜ao de um espa¸co vetorial real, mas sim da dimens˜ao de alguma outra grandeza, o s´ımbolo ´e este. Por exemplo, se (ci )ni=1 for uma base de V , ent˜ao dim V = n. Neste texto somente ser˜ao considerados espa¸cos vetoriais reais de dimens˜ ao finita.

1.2.2

Produto Interno de Vetores

Defini¸c˜ ao 1.2.5 (Produto Interno de Vetores) O produto interno ´e uma fun¸c˜ao g : V × V → < com as seguintes propriedades: ∀u, v, w ∈ V e ∀α ∈ <, 1. g(u, v) = g(v, u) (simetria), 2. g(u + αv, w) = g(u, w) + αg(v, w) (por causa da simetria, bilinearidade, ao inv´es de apenas linearidade, de acordo com a defini¸c˜ao 1.2.10, adiante), 3. g(u, u) > 0 se u 6= 0 (defini¸c˜ ao positiva). Coment´ ario 1.2.1 (Espa¸co Vetorial Real com Produto Interno) Um espa¸co vetorial para o qual exista uma fun¸c˜ao g : V × V → < bilinear, sim´etrica e de defini¸c˜ao positiva ´e denominado espa¸co vetorial com produto interno. Neste texto ser˜ao considerados apenas espa¸cos vetoriais reais com produtos internos. Defini¸c˜ ao 1.2.6 (Espa¸co Vetorial Euclideano) De acordo com a defini¸c˜ao de produto interno 1.2.5, o produto interno ´e qualquer fun¸c˜ao g : V × V → < bilinear, sim´etrica e de defini¸c˜ao positiva. Se existir uma u ´nica e bem determinada, entre tais fun¸c˜oes, por meio da qual ∀u ∈ V , sendo V um espa¸ √co vetorial real de dimens˜ao finita e com produto interno, se defina a norma |u| = u · u, a imagem de tal fun¸c˜ao espec´ıfica ser´a representada por u · v, ao inv´es de g(u, v), conforme j´a mostra a pr´opria defini¸c˜ao de norma. Neste caso, V ser´a um espa¸co vetorial euclideano. Num espa¸co vetorial euclideano pode-se considerar qualquer vetor como um objeto de comprimento bem definido, comprimento este dado pela norma do vetor considerado. Note que, como n˜ao h´a restri¸c˜ao quanto ao n´ umero finito de dimens˜oes, a palavra comprimento tem, aqui, um significado generalizado em rela¸c˜ao ao usual. Se |u| = 1, u ´e chamado vetor unidade, o qual ´e representado por e. Coment´ ario 1.2.2 (Imposi¸c˜ ao aos Espa¸cos Vetoriais) A partir deste ponto do texto, ser´a subentendida a imposi¸c˜ao de que todo espa¸co vetorial ´ e euclideano. Defini¸c˜ ao 1.2.7 (Vetor Proje¸c˜ ao) Sendo u, v ∈ V ambos n˜ao nulos, para a espec´ıfica fun¸c˜ao produto interno que, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co euclideano 1.2.6, define a norma, define-se tamb´em o ˆ angulo θ(u, v), entre u e v, por meio de f (θ) = u·v/(|u||v|), onde exige-se obediˆencia `a desigualdade de Schwarz |u · v| ≤ |u||v|, o que garante ser 9


|f (θ)| ≤ 1. Note que esta defini¸c˜ao da fun¸c˜ao f n˜ao precisa coincidir com a defini¸c˜ao da fun¸c˜ao cos. Mas, sempre que esta coincidˆencia ocorrer, para que exista a fun¸c˜ao arccos imp˜oe-se, adicionalmente, que 0 ≤ θ ≤ π. Ser´a subentendido, a partir deste ponto do texto, que f = cos e que 0 ≤ θ ≤ π, o que corresponde `a defini¸c˜ao comum do ˆangulo plano θ. Os vetores u e v s˜ao ortogonais se u · v = 0, logo cos θ = 0 e θ = π/2. Todo vetor apresenta um bem definido ˆangulo em rela¸c˜ao a cada um dos vetores c1 , . . . , cn de qualquer base (defini¸c˜ao de base 1.2.2) bem determinada do espa¸co considerado. O conjunto destes ˆangulos define a dire¸c˜ ao do vetor, em rela¸c˜ao `a base considerada. Note que, como θ(u, v) ∈ [0, π], neste texto a dire¸c˜ao, em rela¸c˜ao a determinada base, inclui tamb´em o sentido (para um lado, ou para o lado oposto ao primeiro). Entretanto, a dire¸c˜ao ´e considerada uma caracter´ıstica do vetor, assim como a sua norma. Em outras palavras, dado um vetor e duas poss´ıveis bases do espa¸co considerado, os dois correspondentes conjuntos de ˆangulos indicam a mesma dire¸c˜ao do vetor. Note ainda que, como n˜ao h´a restri¸c˜ao quanto ao n´ umero finito de dimens˜oes, a palavra dire¸c˜ao apresenta, aqui, um significado generalizado em rela¸c˜ao ao usual. A proje¸c˜ ao do vetor v sobre o vetor u ´e dada por v · u/|u| = |v| cos θ(u, v). Considera-se que e = u/|u| ´e o vetor unidade na dire¸c˜ ao de u e que (v · e)e = |v| cos θ(u, v)e ´e o vetor proje¸c˜ ao de v na dire¸c˜ao de u. Coment´ ario 1.2.3 (Igualdade Entre Vetores) As defini¸c˜oes de espa¸co vetorial euclideano 1.2.6 e de vetor proje¸c˜ao 1.2.7 indicam que todo vetor ´e completamente caracterizado por sua norma e sua dire¸c˜ao. Logo, dois vetores iguais apresentam iguais normas e iguais dire¸c˜oes. Nota¸c˜ ao 1.2.1 (Produto Interno de Vetores de Base gi j ) Ser´a usada a representa¸c˜ao gi j = ci · cj , onde (ci , cj ) ∈ (ck )nk=1 , sendo (ck )nk=1 uma base de V , de acordo com a defini¸c˜ao de base 1.2.2. Usando a defini¸c˜ao de produto interno 1.2.5, tem-se gi j = gj i . Coment´ ario 1.2.4 (Decomposi¸c˜ ao do Produto Interno de Vetores) De acordo com a defini¸c˜ao de componente 1.2.3 e com a nota¸c˜ao para produto interno de vetores de base 1.2.1, se (ci )ni=1 for uma base de V (defini¸c˜ao de base 1.2.2) e u, w ∈ V , ent˜ao u = ui ci , w = wj cj e u·w = gi j ui wj , que ´e a decomposi¸c˜ ao do produto interno de vetores (de acordo com a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2, a primeira igualdade subentende um somat´orio em i, logo subentende n termos no segundo membro, a segunda um somat´orio em j, logo tamb´em subentende n termos no segundo membro, enquanto que a terceira igualdade subentende um somat´orio em i e um em j, logo n2 termos no segundo membro).

1.2.3

Base Dual

Coment´ ario 1.2.5 (Obten¸c˜ ao de Componente) Seja (ci )ni=1 uma base de V . Necessariamente existe um vetor c1 n˜ao nulo e ortogonal a todos os vetores ci ∈ (cj )nj=2 . Se a proje¸c˜ao (defini¸c˜ao de vetor proje¸c˜ao 1.2.7) de c1 sobre o vetor c1 for bem determinada, ent˜ao c1 ser´a bem determinado. Pode-se, portanto, construir um conjunto de vetores (ci )ni=1 tal que ci · cj = δ i j (ou ci · cj = δj i , porque a comutatividade do produto interno torna indiferente usar δ i j ou δj i ). Note que esta u ´ltima igualdade indica que o ˆangulo θ i entre c e ci satisfaz `a desigualdade 0 ≤ θ < π/2 e, tamb´em, que a proje¸c˜ao de cada um 10


destes dois vetores, sobre o outro, ´e o inverso da norma deste outro. De acordo com a defini¸c˜ao de base 1.2.2, ∀u ∈ V tem-se uj cj = u, logo ci · u = δ i j uj = ui . Portanto, de acordo com a defini¸c˜ao de componente 1.2.3, obt´ em-se o in ´ esimo componente de u na base (ci )i=1 efetuando o produto interno dos vetores u e ci . Conv´em ressaltar a diferen¸ca entre este procedimento para obten¸c˜ao de componente, v´alido para uma base qualquer, em rela¸c˜ao ao procedimento mais conhecido, por´em v´alido exclusivamente para base ortonormal. O coment´ario 1.2.7, adiante, esclarecer´a a coerˆencia entre os dois procedimentos. Defini¸c˜ ao 1.2.8 (Base Dual) Seja: 1. A combina¸c˜ao linear ai ci = 0, logo (ai ci ) · cj = 0, ou ai δ i j = 0, portanto aj = 0. Ent˜ao, ai ci = 0 se e somente se ai = 0 para i = 1, . . . , n, logo os vetores (ci )ni=1 s˜ao linearmente independentes. 2. As decomposi¸c˜oes (u = ui ci , w = wj cj ) ∈ V . Ent˜ao, de acordo com a nota¸c˜ao gi j para produto interno de vetores de base 1.2.1, u · w = gi j ui wj = gi j ui cj · w, o que indica que u = gi j ui cj . Portanto, u ´e uma combina¸c˜ao linear dos vetores presentes no conjunto (ci )ni=1 . De acordo com os anteriores itens 1 e 2 e com a defini¸c˜ao de base 1.2.2, se (ci )ni=1 for uma base de V , ent˜ao (ci )ni=1 tamb´em ser´a uma base de V . Se (ci )ni=1 e (ci )ni=1 forem duas bases de V relacionadas entre si pela express˜ao ci · cj = δ i j , elas formam um par de bases duais, ou uma ´e a base dual da outra. Portanto, se u ∈ V , ent˜ao u = ui ci = ui ci , onde ui = gi j uj , de acordo com o item 2 e lembrando que gi j = gj i (nota¸c˜ao 1.2.1). O componente ui de u (defini¸c˜ao de componente 1.2.3) passa a ser chamado componente contravariante de u, enquanto que o componente ui ser´a chamado componente covariante de u. Evidentemente, ´e arbitr´aria a escolha de qual componente ´e covariante e qual ´e contravariante. Coment´ ario 1.2.6 (Fun¸c˜ oes gi j e g i j ) Toda base apresenta sua base dual, cada uma delas bem determinada a partir da outra. Assim como, ∀u ∈ V , ´e arbitr´aria a escolha de qual base corresponde aos componentes covariantes e qual aos componentes contravariantes de u, as express˜oes matem´aticas referentes a cada uma, de um par de bases duais, s˜ao an´alogas `as express˜oes referentes `a outra. Tem-se, ent˜ao, utilizando o coment´ario sobre obten¸c˜ao de componente 1.2.5 na primeira linha, a defini¸c˜ao de base dual 1.2.8 na segunda e a nota¸c˜ao gi j para produto interno de vetores de base 1.2.1 na terceira: ui = ci · u ui = gi j uj gi j = ci · cj

ui = ci · u, ui = g i j uj , g i j = ci · cj .

e e e

onde sendo

Note que, de acordo com a segunda linha de equa¸c˜oes, as duas fun¸c˜oes gi j : uj 7→ ui e g i j : uj 7→ ui permitem, respectivamente, abaixar e levantar o ´ındice dos componentes de u. Usando esta segunda linha, pode-se escrever u = ui ci = g i j uj ci = uj cj , u = ui ci = gi j uj ci = uj cj ,

logo logo 11

cj = g i j ci cj = gi j ci ,

e


o que mostra que estas fun¸c˜oes tamb´em permitem transformar qualquer base na sua base dual. Usando estas u ´ltimas equa¸c˜oes tem-se ci = g i j cj = g i j gj k ck = δ i k ck ,

ou

g i j gj k = δ i k .

Nota¸c˜ ao 1.2.2 (Base Dual) Representando por β uma base, sua base dual ser´a representada β ∗ . Defini¸c˜ ao 1.2.9 (Base Ortonormal) Uma base ´e dita ortogonal se ci ·cj = 0 quando i 6= j. Uma base ´e dita ortonormal se, al´em disto, | ci | = 1 ∀i. Neste u ´ltimo caso, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co vetorial euclideano 1.2.6, os vetores da base ser˜ao representados ei , para i = 1, . . . , n. Coment´ ario 1.2.7 (Base Ortonormal Dual) De acordo com a nota¸c˜ao gi j para produto interno de vetores de base 1.2.1 e com as defini¸c˜oes de delta de Kronecker 1.1.3 e de base ortonormal 1.2.9, numa base ortonormal gi j = δi j . Usando esta igualdade e a tranforma¸c˜ao entre bases duais apresentada no coment´ario 1.2.6, sobre fun¸c˜oes gi j e g i j , tem-se ej = gi j ei = δi j ei = ej , ∀j. Portanto, uma base ortonormal ´e idˆentica `a sua base dual. Logo, numa base ortonormal n˜ao existe distin¸c˜ao entre componentes contravariantes e covariantes, todos os ´ındices podem ser escritos no mesmo n´ıvel e obt´em-se o i-´esimo componente de u efetuando o produto interno dos vetores ei e u.

1.2.4

Produto Tensorial de Vetores e Tensor de Segunda Ordem

Defini¸c˜ ao 1.2.10 (Transforma¸c˜ ao n-Linear) A fun¸c˜ao T : U → V ´e chamada de transforma¸c˜ao linear do espa¸co vetorial U para o espa¸co vetorial V se, ∀(u, w) ∈ U e ∀α ∈ <, T (u + αw) = T (u) + αT (w). A fun¸c˜ao T : U × U → V ´e chamada de transforma¸c˜ao bilinear do espa¸co vetorial U para o espa¸co vetorial V se, ∀(u1 , u2 , w) ∈ U e ∀α ∈ <, T (u1 + αw, u2 ) = T (u1 , u2 ) + αT (w, u2 ) e T (u1 , u2 + αw) = T (u1 , u2 ) + αT (u1 , w). Se, entre estas duas igualdades, apenas uma for v´alida, a transforma¸c˜ao somente ser´a linear em rela¸c˜ao `a espec´ıfica vari´avel que sofre combina¸c˜ao linear na express˜ao v´alida. Por isto, toda transforma¸c˜ao bilinear ´e uma transforma¸c˜ao linear T : U × U → V , mas o vice-versa n˜ao ´e verdade. Analogamente, uma transforma¸c˜ ao n-linear T : U n → V , do espa¸co vetorial U para o espa¸co vetorial V , ocorre quando, ∀(u1 , u2 , . . . , un , w) ∈ U e ∀α ∈ <, tem-se T (u1 , . . . , ui + αw, . . . , un ) = T (u1 , . . . , ui , . . . , un ) + αT (u1 , . . . , w, . . . , un ), para i = 1, . . . , n. Para n ≥ 2, toda transforma¸c˜ao n-linear ´e uma transforma¸c˜ao (n − 1)-linear T : U n → V , mas o vice-versa n˜ao ´e verdade. A transforma¸c˜ao linear aqui apresentada ´e uma fun¸c˜ao (de imagem) vetorial. Lembrando que, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co vetorial 1.1.1, < ´e um espa¸co vetorial, a presente defini¸c˜ao engloba, como caso particular, a transforma¸c˜ao n-linear escalar T : U n → <. Nota¸c˜ ao 1.2.3 (Espa¸co de Transforma¸c˜ ao Linear) O conjunto formado por todas as transforma¸c˜oes lineares do espa¸co vetorial U para o espa¸co vetorial V ´e um espa¸co de transforma¸c˜ ao linear representado por L(U, V ) = {T : U → V | T ´e linear}.

12


Defini¸c˜ ao 1.2.11 (Espa¸co Vetorial de Transforma¸c˜ ao Linear) A defini¸c˜ao de espa¸co vetorial real 1.2.1 e a nota¸c˜ao de espa¸co de tranforma¸c˜ao linear 1.2.3 mostram que L(U, V ) ser´a um espa¸co vetorial de transforma¸c˜ ao linear se e somente se, neste conjunto, forem definidas as opera¸c˜oes adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao escalar e tais opera¸c˜oes satisfizerem as regras enumeradas de 1 a 8 na defini¸c˜ao 1.2.1. Para que isto ocorra ´e suficiente que, para (T, S) ∈ L(U, V ) e α ∈ < , ∀w ∈ U : 1. (T + S)(w) = T (w) + S(w) (defini¸c˜ao de adi¸c˜ao de transforma¸c˜oes lineares) e 2. (αT )(w) = αT (w) (defini¸c˜ao de multiplica¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear por um escalar). Defini¸c˜ ao 1.2.12 (Produto Tensorial de Vetores ou Tensor Simples) ∀v ∈ V e ∀u ∈ U , o produto tensorial de v por u, representado por v ⊗ u ´e, por defini¸c˜ao, uma transforma¸c˜ao linear de U para V tal que, ∀w ∈ U , (v ⊗ u)(w) = (u · w)v. A transforma¸c˜ao linear produto tensorial de dois vetores, representada v ⊗ u, ´e tamb´em denominada tensor simples. Portanto, um tensor simples ´e uma espec´ıfica transforma¸c˜ao linear de um espa¸co vetorial para outro. Teorema 1.2.1 (Base de Espa¸co Vetorial de Transforma¸c˜ ao Linear) Se (ci )ni=1 n m e (dα )m a uma α=1 forem bases de V e U respectivamente, o conjunto (ci ⊗ dα )i=1 α=1 ser´ base do espa¸co vetorial de transforma¸c˜ao linear L(U, V ) apresentado na defini¸c˜ao 1.2.11. m Demonstra¸c˜ao: Seja (ci )ni=1 a base dual de (ci )ni=1 , (dα )m α=1 a base dual de (dα )α=1 e ai α ∈ < um escalar. Sejam, tamb´em, as opera¸c˜oes adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar apresentadas na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial de transforma¸c˜ao linear 1.2.11. Se ai α ci ⊗ dα = 0 ent˜ao, usando as defini¸c˜oes de produto tensorial 1.2.12 e de base dual 1.2.8, tem-se ai α (ci ⊗ dα )(dβ ) = ai α (dα · dβ )ci = ai α δαβ ci = ai β ci = 0, o que implica em ai α = 0, para i = 1, . . . , n e α = 1, . . . , m, porque (ci )ni=1 ´e uma base (defini¸c˜ao de base m 1.2.2). Portanto, (ci ⊗ dα )ni=1 α=1 ´e um conjunto de elementos linearmente independentes entre si. Al´em disto, seja ci · T (dα ) = T i α , ∀T ∈ L(U, V ). Ent˜ao, ∀v ∈ V e ∀u ∈ U , v·T (u) = vi ci ·T (uα dα ) = vi uα ci ·T (dα ) = T i α vi uα . Por outro lado, v·(ci ⊗dα )(u) = vj cj · (ci ⊗ dα )(uβ dβ ) = vj uβ (cj · ci )(dβ · dα ) = vj uβ δ ji δ βα = vi uα . Substituindo este resultado na igualdade anterior tem-se v · T (u) = T i α v · (ci ⊗ dα )(u), logo T (u) = T i α (ci ⊗ dα )(u). m Portanto, (ci ⊗ dα )ni=1 α=1 abrange o espa¸co L(U, V ). Logo, de acordo com a defini¸c˜ao de m base 1.2.2, (ci ⊗ dα )ni=1 α=1 ´e uma base de L(U, V ). 2

Coment´ ario 1.2.8 (Decomposi¸c˜ ao de Transforma¸c˜ ao Linear) O teorema 1.2.1 (base de espa¸co vetorial de transforma¸c˜ao linear) mostra que, embora nem toda transforma¸c˜ao linear entre espa¸cos vetoriais seja um tensor simples (defini¸c˜ao de produto tensorial 1.2.12), toda transforma¸c˜ao linear entre espa¸cos vetoriais ´e uma combina¸c˜ao linear de tensores simples. Coment´ ario 1.2.9 (Dimens˜ ao de Espa¸co de Transforma¸c˜ ao Linear) De acordo com o teorema 1.2.1 (base de espa¸co vetorial de transforma¸c˜ao linear) e a defini¸c˜ao de dim mens˜ao 1.2.4, dim(ci ⊗dα )ni=1 α=1 = (dim V )(dim U ), logo dim L(U, V ) = (dim V )(dim U ).

13


Defini¸c˜ ao 1.2.13 (Espa¸co de Produto Tensorial) Sempre que o espa¸co de transforma¸c˜ao linear representado, de acordo com a nota¸c˜ao 1.2.3, por L(U, V ) = {T : U → V | T ´e linear} for, de acordo com a defini¸c˜ao 1.2.11, um espa¸co vetorial de transforma¸c˜ao linear, L(U, V ) poder´a optativamente ser denominado espa¸co de produto tensorial de V por U e ser representado por V ⊗ U , ou seja, ter-se-´a L(U, V ) = V ⊗ U . Sua m base (ci ⊗ dα )ni=1 α=1 , onde (ci )ni=1 e (d)m ao bases de V e U respectivamente, ser´a α=1 s˜ m m chamada uma base produto de V ⊗U . Evidentemente, (ci ⊗dα )ni=1 α=1 , (ci ⊗dα )ni=1 α=1 m e (ci ⊗ dα )ni=1 α=1 tamb´em s˜ao bases produto de V ⊗ U .

Defini¸c˜ ao 1.2.14 (Tensor de Segunda Ordem) Toda transforma¸c˜ao linear T no espa¸co de produto tensorial V ⊗V (defini¸c˜ao 1.2.13) ´e denominada um tensor de segunda ordem. Defini¸c˜ ao 1.2.15 (Componente Assoc. de Tensor de Segunda Ordem) Sejam (ci ) e (ci ) um par de bases duais de V . Ent˜ao, um tensor de segunda ordem T no espa¸co de produto tensorial V ⊗ V pode ser representado em termos de qualquer uma entre as quatro bases produto (ci ⊗cj ), (ci ⊗cj ), (ci ⊗cj ) e (ci ⊗cj ), de V ⊗V . Geralmente, os componentes de T associados a uma destas bases diferir˜ao dos componentes associados `as outras, usando-se a simbologia T = T i j ci ⊗ cj = T ij ci ⊗ cj = Ti j ci ⊗ cj = Ti j ci ⊗ cj , onde os escalares T i j , T ij , Ti j e Ti j s˜ao os componentes associados de T . O componente associado contravariante ´e T i j , o componente associado covariante ´e Ti j , ´ importante distinguir enquanto que T ij e Ti j s˜ao componentes associados mistos. E n˜ao apenas o n´ıvel (em cima ou em baixo) mas tamb´em a posi¸c˜ao relativa (`a direita ou `a esquerda) dos ´ındices e super´ındices dos componentes de T . De fato, em geral T ij 6= Tj i . Note que, no teorema 1.2.1 (base de espa¸co vetorial de transforma¸c˜ao linear), para T ∈ L(U, V ), L(U, V ) = V ⊗ U (defini¸c˜ao de espa¸co de produto tensorial 1.2.13), u ∈ U , (ci ) uma base de V e (dα ) uma base de U , considerou-se T (u) = T i α (ci ⊗ dα )(u).Houve, portanto, coerˆencia com a simbologia aqui adotada para componente associado de tensor de segunda ordem. Entretanto, tomou-se o cuidado de substituir a letra c, com ´ındice em letra romana, pela letra d, com ´ındice em letra grega, para sublinhar que tratava-se de bases de espa¸cos vetoriais diferentes, ao contr´ario do que ocorre com o tensor de segunda ordem (defini¸c˜ao de tensor de segunda ordem 1.2.14). Coment´ ario 1.2.10 (C´ alculo de Componente Assoc. de Tensor) Sejam (ci ) e (ci ) um par de bases duais de V e seja T um tensor de segunda ordem no espa¸co de produto tensorial V ⊗ V . Ent˜ao, T i j = ci · T (cj ), T ij = ci · T (cj ), Ti j = ci · T (cj ) e Ti j = ci · T (cj ). De fato, cm · T (cn ) = cm · (T i j ci ⊗ cj )(cn ) = T i j (ci · cm )(cj · cn ) = T i j δi m δj n = T m n , onde usaram-se seguidamente as defini¸c˜oes de componente associado de tensor de segunda ordem 1.2.15 (primeira igualdade), produto tensorial 1.2.12 (segunda igualdade) e base dual 1.2.8 (terceira igualdade). Analogamente para T ij , Ti j e ´ importante notar que o indicador `a direita, em T i j , T ij , Ti j e Ti j , ´e sempre o Ti j . E vetor da direita no tensor simples pertencente ao conjunto de base, que tamb´em ´e o vetor ao qual ´e aplicada a transforma¸c˜ao T , na express˜ao para o c´alculo do componente de T associado `a base considerada.

14


Note que, no teorema 1.2.1 (base de espa¸co vetorial de transforma¸c˜ao linear), para T ∈ L(U, V ), L(U, V ) = V ⊗ U (defini¸c˜ao de espa¸co de produto tensorial 1.2.13), u ∈ U , (ci ) uma base de V e (dα ) uma base de U , mostrou-se que ci · T (dα ) = T i α implica em T (u) = T i α (ci ⊗ dα )(u). Isto ´e coerente com o c´alculo de componente associado de tensor de segunda ordem aqui apresentado e com o segundo par´agrafo da defini¸c˜ao de componente associado de tensor de segunda ordem 1.2.15. Nota¸c˜ ao 1.2.4 (Tensor de Segunda Ordem como uma Matriz) De acordo com a defini¸c˜ao de componente associado de tensor de segunda ordem 1.2.15, as matrizes [T i j ], [T ij ], [Ti j ] e [Ti j ] s˜ao as representa¸c˜ oes matriciais do tensor T em rela¸c˜ao `as correspondentes bases produto. Portanto, um tensor de segunda ordem pertencente ao espa¸co V ⊗ V pode ser representado por matrizes quadradas de dimens˜ao dim V . Coerentemente com a defini¸c˜ao de matriz 1.1.2, nestas representa¸c˜oes o indicador mais `a esquerda se refere `a linha e o mais `a direita fornece a coluna, independentemente de se tratar de ´ındice ou super´ındice. Al´em disto, o indicador `a esquerda tem o significado especial de apontar o vetor tamb´em `a esquerda, na base produto `a qual o componente se associa, enquanto que o indicador `a direita se relaciona ao vetor tamb´em `a direita. De acordo com o coment´ario 1.2.10 (c´alculo de componente associado de tensor de segunda ordem), pode-se tamb´em afirmar que o indicador `a direita mostra qual ´e o vetor ao qual ´e aplicada a transforma¸c˜ao T , na express˜ao para o c´alculo do componente de T associado `a base escolhida. Por outro lado, o fato de cada indicador ser um ´ındice ou um super´ındice informa quanto ao componente considerado ser contravariante, covariante ou mixto. Logo, se A for o conjunto de todos os poss´ıveis componentes do tensor de segunda ordem T , associados a bases do espa¸co V ⊗ V , enquanto que I e J forem dois conjuntos, cada um deles formado pelos primeiros m n´ umeros naturais, ent˜ao a fun¸c˜ao ordenadora φ : I ×J → A fornece os significados (esquerda-direita) e (em cima-em baixo) de ambos os dois indicadores, significados estes que n˜ao dependem da letra utilizada para simbolizar o valor de cada indicador. Igualdades, como a exemplificada por [T i j ] = [T j i ], s˜ao portanto corretas e correspondem, na base produto associada ao componente em foco, `a mesma troca de indicadores. De fato, para o componente misto usado como exemplo, no caso do primeiro membro da igualdade a base produto deve ser escrita (ci ⊗ cj ), enquanto que, para o segundo membro, ela deve ser anotada (cj ⊗ ci ). Note que as duas grafias representam exatamente a mesma base produto, o que garante a igualdade. Em outras palavras, o elemento de matriz T 3 5 , por exemplo, ´e exatamente o mesmo, independentemente de 3 ser o valor tomado por i ∈ I e 5 ser atribu´ıdo a j ∈ J, ou v.v. Mesmo assim, aconselha-se muita cautela no uso da igualdade [T i j ] = [T j i ], por causa das raz˜oes j´a apontadas na defini¸c˜ao de matriz 1.1.2. Note tamb´em que, de acordo com a defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4, geralmente as representa¸c˜oes matriciais de um tensor de segunda ordem n˜ao s˜ao nem sim´etricas, nem antissim´etricas (por exemplo, T 3 5 6= T 5 3 e T 3 5 6= −T 5 3 ). Coment´ ario 1.2.11 (Componente Associado de Tensor Simples) Considerando o coment´ario 1.2.10 (c´alculo de componente associado de tensor de segunda ordem), para (v, u) ∈ V e T = u ⊗ v tem-se (u ⊗ v)i j = ci · (u ⊗ v)(cj ). Mas, usando a defini¸c˜ao de tensor simples 1.2.12 tem-se ci · (u ⊗ v)(cj ) = ci · (v · cj )u. Decom-

15


pondo antes o vetor v e, depois, tamb´em o vetor u em suas respectivas componentes contravariantes, de acordo com a defini¸c˜ao de base dual 1.2.8, tem-se ci · (v · cj )u = ci · (v k ck · cj )u = ci · (v k δk j )u = v j ci · u = uk ck · v j ci = uk v j δk i = ui v j . Portanto, (u ⊗ v)i j = ui v j e, de acordo com a defini¸c˜ao 1.2.15 de componente associado contravariante T i j de tensor de segunda ordem, u ⊗ v = (u ⊗ v)i j ci ⊗ cj = ui v j ci ⊗ cj . As seguintes igualdades, portanto, definem os componentes associados dos tensores simples u ⊗ v = ui v j ci ⊗ cj = ui v j ci ⊗ cj = ui vj ci ⊗ cj = ui vj ci ⊗ cj e v ⊗ u = v i uj ci ⊗ cj = vi uj ci ⊗ cj = v i uj ci ⊗ cj = vi uj ci ⊗ cj . Logo, de acordo com a nota¸c˜ao matricial de tensor de segunda ordem 1.2.4, no caso covariante a representa¸c˜ ao matricial de um tensor simples pode ser escrita 

[(v ⊗ u)i j ] =

        

[(u ⊗ v)i j ] =

       

v1 u1 v1 u2 v1 u3 . . . v1 un  v2 u1 v2 u2 v2 u3 . . . v2 un   v3 u1 v3 u2 v3 u3 . . . v3 un   e  ..  .  vn u1 vn u2 vn u3 . . . vn un

u1 v1 u1 v2 u1 v3 . . . u1 vn  u2 v1 u2 v2 u2 v3 . . . u2 vn   u3 v1 u3 v2 u3 v3 . . . u3 vn   ,  ..  .  un v1 un v2 un v3 . . . un vn

portanto [(u ⊗ v)i j ] = [(v ⊗ u)i j ]T , onde utilizou-se a representa¸c˜ao para matriz transposta colocada na defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4. Isto evidencia que, geralmente, v ⊗ u 6= u ⊗ v. Mesmo para base ortonormal esta desigualdade em geral persiste mas, de acordo com o coment´ario 1.2.7 (base ortonormal dual), neste caso ci ⊗ cj = ci ⊗ cj = ci ⊗ cj = ci ⊗ cj . Por isto, para os componentes associados dos tensores simples em base ortonormal, tem-se ui v j = ui v j = ui vj = ui vj e v i uj = v i uj = vi uj = vi uj (embora ui v j 6= v i uj , basta escrever um entre estes dois u ´ltimos conjuntos de igualdades, porque a permuta¸c˜ao entre i e j transforma um conjunto no outro). Coment´ ario 1.2.12 (Transforma¸c˜ ao Escalar Bilinear e Tensor) Seja (u, v) ∈ V e seja o tensor de segunda ordem T ∈ V ⊗ V . Seja (ci ) uma base de V . De acordo com a defini¸c˜ao de base dual 1.2.8, tem-se u = ui ci = ui ci e v = v i ci = vi ci . Usando o coment´ario 1.2.10, para o c´alculo de componentes associados de tensor de segunda ordem, tem-se ent˜ao u · T (v) = ui v j Ti j = ui vj Ti j = ui v j T ij = ui vj T i j ∈ < . Seja, tamb´em representada por T , a transforma¸c˜ao escalar bilinear (defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao n-linear 1.2.10) T : (u, v) 7→ u · T (v), a qual, sempre que seu argumento for um par ordenado de vetores pertencentes a alguma poss´ıvel base do espa¸co vetorial V , produz como imagem o correspondente componente associado do tensor de segunda ordem T ∈ V ⊗ V . Logo, de acordo com a defini¸c˜ao de tensor de segunda ordem 1.2.14, a toda transforma¸c˜ao linear T no espa¸co de produto tensorial V ⊗V , a qual ´e uma transforma¸c˜ao linear 16


T : V → V , corresponde uma transforma¸c˜ ao escalar bilinear T : V × V → < que define os componentes associados de T em qualquer base de V , porque T (u, v) = u · T (v) e vice-versa. Para (u, v, u0 , v0 ) ∈ V e considerando T = u0 ⊗ v0 , pode-se ent˜ao escrever (u0 ⊗ v0 )(u, v) = u · (u0 ⊗ v0 )(v) logo, usando a defini¸c˜ao de produto tensorial 1.2.12, (u0 ⊗v0 )(u, v) = (u·u0 )(v·v0 ) ∈ < , o que mostra que u0 ⊗v0 ´e uma transforma¸c˜ao escalar bilinear T : V × V → <. Al´em disto, se (u, v) for um par ordenado de vetores pertencentes a alguma poss´ıvel base do espa¸co vetorial V , (u · u0 )(v · v0 ) ser´a o correspondente componente associado de u0 ⊗ v0 , conforme mostrado no coment´ario 1.2.11 (componente associado de tensor simples). Defini¸c˜ ao 1.2.16 (Transforma¸c˜ ao Tensorial Identidade) A transforma¸c˜ ao tensorial identidade ´e um tensor de segunda ordem, conforme a defini¸c˜ao 1.2.14, representado por 1 e tal que 1 (v) = v. Note que, enquanto o tensor identidade 1 ∈ V ⊗ V , o escalar unidade 1 ∈ <. Coment´ ario 1.2.13 (Componente Associado do Tensor Identidade) De acordo com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao tensorial identidade 1.2.16 e o coment´ario 1.2.10 (c´alculo de componente associado de tensor de segunda ordem), tem-se 1 i j = ci · 1 (cj ) = ci · cj . Mas o coment´ario 1.2.6 (fun¸c˜oes gi j e g i j ) mostra que ci · cj = g i j . Logo, 1 i j = g i j , onde 1 i j ´e, conforme a defini¸c˜ao de componente associado de tensor de segunda ordem 1.2.15, o componente associado contravariante do tensor 1 . Portanto, g i j ´e o componente associado contravariante da transforma¸c˜ao tensorial identidade. Por outro lado, 1 i j = ci · 1 (cj ) = ci · cj . Mas a defini¸c˜ao de base dual 1.2.8 mostra que ci · cj = δ i j . Portanto, tem-se 1 i j = δ i j para este componente associado misto da transforma¸c˜ao tensorial identidade. Analogamente, para o outro componente associado misto tem-se 1i j = δi j e, para o componente associado covariante, 1i j = gi j . Pode-se ent˜ao escrever 1 = 1 i j ci ⊗ cj = 1 i j ci ⊗ cj = 1i j ci ⊗ cj = 1i j ci ⊗ cj , ou 1 = g i j ci ⊗ cj = δ i j ci ⊗ cj = δi j ci ⊗ cj = gi j ci ⊗ cj . Note, portanto, que apenas a representa¸c˜ao matricial dos conjuntos de componentes associados mistos do tensor identidade, respectivamente representados por 1 i j e por 1i j , coincide com a matriz unidade, simbolizada [1]. Logo, [1 i j ] = [1] e [1i j ] = [1], mas [1 i j ] = [g i j ] 6= [1] e [1i j ] = [gi j ] 6= [1]. Note, tamb´em, que as matrizes [1 i j ] = [g i j ] e [1i j ] = [gi j ] s˜ao sim´etricas, de acordo com a defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4. Logo, nas quatro representa¸c˜oes matriciais do tensor identidade n˜ao apenas se pode trocar os indicadores i e j, conforme colocado na nota¸c˜ao matricial de tensor de segunda ordem 1.2.4, como tamb´em cada representa¸c˜ao ´e igual `a sua transposta, ao contr´ario do que geralmente ocorre.

1.2.5

Transposi¸ c˜ ao de Tensor Simples, de Segunda Ordem e Troca entre ´Indice e Super´ındice

Defini¸c˜ ao 1.2.17 (Transforma¸c˜ ao Linear Transposta) Para toda transforma¸c˜ao linear A ∈ V ⊗ U , define-se a correspondente transforma¸c˜ao linear AT ∈ U ⊗ V , denominada transforma¸c˜ ao linear transposta de A, tal que, ∀v ∈ V e ∀u ∈ U , ocorra T v · A(u) = u · A (v) (veja a defini¸c˜ao de espa¸co de produto tensorial 1.2.13 para notar 17


que, por defini¸c˜ao, A age sobre u e AT sobre v). Sublinhe-se que esta ´e a defini¸c˜ao da transposi¸c˜ao de uma transforma¸c˜ao linear, cujo efeito n˜ao ´e, necessariamente, o de transpor a matriz que represente um conjunto de componentes associados `a mencionada transforma¸c˜ao linear (a defini¸c˜ao 1.1.4 se refere `a transposi¸c˜ao e `a invers˜ao de matrizes). Coment´ ario 1.2.14 (gi j ou g i j Aplicado a Componente de Tensor) Conforme o coment´ario 1.2.6 (fun¸c˜oes gi j e g i j ), a fun¸c˜ao g i j levanta o ´ındice de um componente de um vetor, enquanto que a fun¸c˜ao gi j abaixa o ´ındice de um componente de um vetor. Sem mudar a posi¸c˜ao relativa, `a direita ou `a esquerda, dos ´ındices e super´ındices, estas fun¸c˜oes apresentam efeito an´alogo sobre os componentes associados de um tensor de qualquer ordem T . Portanto, T ij = gk j T i k = g i k Tk j , Ti j = gi k T k j = g k j Ti k , T i j = g k j T i k = g i k Tk j e Ti j = gi k T k j = gk j Ti k . De fato, de acordo com o coment´ario 1.2.10 (c´alculo de componentes associados de tensor de segunda ordem), tem-se gk j T i k = gk j ci ·T (ck ) = gk j ck ·T T (ci ) = cj ·T T (ci ) = ci ·T (cj ) = T ij , onde foi usada a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17 na segunda e quarta igualdades. Demonstra¸c˜oes an´alogas podem ser feitas nos demais casos. Usando a nota¸c˜ao matricial de tensor de segunda ordem 1.2.4 tanto para o tensor T como, de acordo com o coment´ario 1.2.13 (componente associado do tensor identidade), tamb´em para o tensor identidade, tem-se ent˜ao a seguinte tabela, na qual cada linha cont´em uma express˜ao tensorial e uma express˜ao matricial com o mesmo significado, porque o indicador k representa o mesmo somat´orio, tanto de acordo com a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2, como em rela¸c˜ao `as regras elementares de multiplica¸c˜ao matricial: T ij = gk j T i k = g i k Tk j

ou

[T ij ] = [T i k ][gk j ] = [g i k ][Tk j ] ,

Ti j = gi k T k j = g k j Ti k T i j = g k j T i k = g i k Tk j Ti j = gi k T k j = gk j Ti k

ou ou ou

[Ti j ] = [gi k ][T k j ] = [Ti k ][g k j ] , [T i j ] = [T i k ][g k j ] = [g i k ][Tk j ] e [Ti j ] = [gi k ][T k j ] = [Ti k ][gk j ] .

Coment´ ario 1.2.15 (Transposi¸c˜ ao de Tensor Simples) Para (u, w1 ) ∈ U e (v, w2 ) ∈ V , de acordo com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17 tem-se w1 ·(v⊗ u)T (w2 ) = w2 ·(v⊗u)(w1 ) = (w2 ·v)(u·w1 ) = w1 ·(u⊗v)(w2 ), onde foi usada a defini¸c˜ao de produto tensorial 1.2.12. Logo, para o tensor simples u⊗v tem-se que (v⊗u)T = u⊗v ou, de acordo com a nota¸c˜ao matricial de tensor de segunda ordem 1.2.4, em termos das respectivas representa¸c˜oes matriciais dos conjuntos de componentes associados, por exemplo escolhidos covariantes, [(v⊗u)Tij ] = [(u⊗v)i j ]. Mas, de acordo com o coment´ario 1.2.11 (componente associado de tensor simples), tem-se [(u ⊗ v)i j ] = [(v ⊗ u)i j ]T . A compara¸c˜ao entre as duas u ´ltimas igualdades mostra que [(v ⊗ u)Tij ] = [(v ⊗ u)i j ]T , ou seja, para um tensor simples, transpor a transforma¸c˜ao linear implica em transpor a matriz que a representa. No coment´ario 1.2.16 ver-se-´a que, na transposi¸c˜ao de tensor de segunda ordem, em geral isto n˜ao ocorre. Coment´ ario 1.2.16 (Transposi¸c˜ ao de Tensor de Segunda Ordem) Se A for um tensor de segunda ordem em V ⊗ V , demonstra-se a existˆencia das seguintes rela¸c˜oes entre os componentes de A, grafados A i j , A i j , Ai j e Ai j , respectivamente associados `as

18


quatro bases produto de V ⊗ V simbolizadas por (ci ⊗ cj ), (ci ⊗ cj ), (ci ⊗ cj ) e (ci ⊗ cj ): T ji

"

A =A

i

j

j

T

i

T ji

T

i

T

= c · A(c ) = c · A (c ) = (A )

T ji

A i= A i

i

i

j

i

j

j

T j

T

A j = A i = ci · A(c ) = c · A (ci ) = (A ) T

i

= [(AT )j i ] , #

T j

= c · A(cj ) = cj · A (c ) = (A )j , logo A "

j

#

, logo A "

T j

T

ij

T

= [(AT )j i ] ,

i i

#

, logo A j

T

T

= [(AT )j i ] e

T A j i = A i j = ci · A(cj ) = cj · A (ci ) = (A )j i , logo A j i = [(A )j i ] , T

onde, em cada linha, usou-se a defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4 na primeira igualdade, o coment´ario 1.2.10 (c´alculo de componente associado de tensor de segunda ordem) na segunda e na quarta igualdades, a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17 na terceira igualdade e a transforma¸c˜ao em matriz do conjunto inicial de componentes, antes da primeira igualdade, ocorrendo o mesmo com o conjunto final de componentes, ap´os a quarta igualdade. Na igualdade matricial que ocorre em cada linha, a defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4 pode ser aplicada `a matriz no primeiro membro, enquanto que, de acordo com a nota¸c˜ao matricial de tensor de segunda ordem 1.2.4, a troca dos ´ındices i e j pode ser aplicada `a matriz no segundo membro. Obt´em-se assim, respectivamente para cada linha: [A i j ]T = [(AT )i j ] , [A i j ]T = [(AT )i j ] , [A i j ]T = [(AT )i j ] e [A i j ]T = [(AT )i j ] . Portanto, as representa¸c˜oes matriciais dos componentes associados contravariantes de A e AT s˜ao matrizes transpostas uma da outra, o mesmo acontecendo com as representa¸c˜oes matriciais dos componentes covariantes. Entretanto, as representa¸c˜oes matriciais de qualquer um entre os dois componentes associados mistos de A e AT n˜ao s˜ao matrizes transpostas uma da outra. Defini¸c˜ ao 1.2.18 (Tensores Sim´ etrico e Antissim´ etrico) O tensor de segunda orT dem S ∈ V ⊗ V ´e dito sim´ etrico se S = S e antissim´ etrico se S T = −S. Para (u, v) ∈ V e usando a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17 tem-se, ent˜ao, que u · S(v) = v · S(u) se S for sim´etrico e u · S(v) = −v · S(u) se S for antissim´etrico. Nota¸c˜ ao 1.2.5 (Subespa¸cos Sim´ etrico e Antissim´ etrico) Definem-se os subespa¸cos de V ⊗ V Sym(V ) = {S ∈ V ⊗ V |S T = S}

e

Skw (V ) = {S ∈ V ⊗ V |S T = −S}

(Sym de “symmetric” e Skw de “skew-symmetric”). 19


Coment´ ario 1.2.17 (Transposi¸c˜ ao de Tensores Sim´ etrico e Antissim´ etrico) O coment´ario 1.2.16 (transposi¸c˜ao de tensor de segunda ordem) mostra que: 1. Para S ∈ Sym(V ) tem-se [S i j ]T = [S i j ] , [S ij ]T = [S i j ] , [S i j ]T = [S ij ] e [ Si j ]T = [ Si j ] . Portanto, embora o tensor de segunda ordem S seja sim´etrico, somente suas representa¸c˜oes matriciais contravariante e covariante s˜ao matrizes sim´etricas. 2. Para S ∈ Skw (V ) tem-se [S i j ]T = −[S i j ] , [S ij ]T = −[S i j ] , [S i j ]T = −[S ij ] e [Si j ]T = −[Si j ] . Portanto, embora o tensor de segunda ordem S seja antissim´etrico, somente suas representa¸c˜oes matriciais contravariante e covariante s˜ao matrizes antissim´etricas.

1.2.6

Composi¸ c˜ ao de Tensores de Segunda Ordem

Defini¸c˜ ao 1.2.19 (Composi¸c˜ ao de Tensores de Segunda Ordem) A composi¸c˜ ao de tensores de segunda ordem A ◦ B ´e tal que (A ◦ B)(v) = A(B(v)), ∀v ∈ V . Esta igualdade deixa evidente que a composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem ´e apenas um caso particular da composi¸c˜ao de fun¸c˜oes, apresentada na defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e funcional 1.1.1. Se (A, B) ∈ V ⊗V , tanto A como B transformam vetores percencentes a V em outros vetores tamb´em pertencentes a V . Neste caso, A(B(v)) ´e um vetor pertencente a V , portanto A ◦ B ∈ V ⊗ V . Seja A = Ai j ci ⊗ cj , B = B mn cm ⊗ cn e v = v k ck . De acordo com a defini¸c˜ao de produto tensorial de vetores 1.2.12 tem-se (cm ⊗cn )(v) = v n cm , logo B(v) = B mn v n cm e dim V (ci ⊗ cj )(B(v)) = B j n v n ci , portanto A(B(v)) = Ai j B j n v n ci . Ent˜ao, (Akj B j n v n )k=1 ´e o conjunto dos componentes do vetor (A◦B)(v) associados `a base (ck ), podendo o vetor (A◦B)(v) ser representado pela matriz coluna [Akj B j n v n ], onde o super´ındice k indica a linha a que se refere o elemento considerado. Por outro lado, as representa¸c˜oes matriciais de A na base (ci ⊗ cj ), B na base (cm ⊗ cn ) e v na base (ck ) s˜ao, respectivamente, [Ai j ], [B mn ] e [v k ]. A express˜ao tensorial (A ◦ B)(v) = Ai j B j n v n ci corresponde, portanto, `a express˜ao matricial [Ai j B j n v n ] = [Ai j ][B j n ][v n ], porque o indicador n representa o mesmo somat´orio, tanto de acordo com a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2, como em rela¸c˜ao `as regras elementares de multiplica¸c˜ao matricial, analogamente acontecendo com o indicador j. A propriedade associativa da multiplica¸c˜ao matricial permite escrever [Ai j B j n v n ] = [Ai j ][B j n ][v n ] = ([Ai j ][B j n ]) [v n ] = [(AB)i n ][v n ]. Como [Akj B j n v n ] e [v n ] s˜ao, respectivamente, as representa¸c˜oes matriciais dos vetores (A ◦ B)(v) e v, necessariamente [(AB)i n ] ´e a representa¸c˜ao matricial do tensor de segunda ordem A ◦ B. Logo, a composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem produz um tensor de segunda ordem cuja representa¸c˜ao matricial ´e a multiplica¸c˜ao matricial elementar das matrizes que representam os tensores que se comp˜oem, devendo a ordem da composi¸c˜ao ser a ordem da multiplica¸c˜ao. Evidentemente, a conclus˜ao seria a mesma, caso a base produto usada fosse outra. Note, tamb´em, que [Ai j ][B j i ] n˜ao ´e a representa¸c˜ao de uma composi¸c˜ao, porque [Ai j ][B j i ] = [(AB)i i ] = (AB)i i , ou seja, a ocorrˆencia de duplo somat´orio (veja a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2) reduz a matriz a um u ´nico escalar. Por simplicidade, a n˜ao ser quando 20


conste informa¸c˜ao em contr´ario, a partir deste ponto do texto a composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem n˜ao mais ser´a escrita A ◦ B, mas sim AB. Coment´ ario 1.2.18 (Composi¸c˜ ao com Tensor Simples) Usando as defini¸c˜oes de produto tensorial 1.2.12, de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17 e de composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem 1.2.19, para u ∈ U , v ∈ V e A ∈ V ⊗ U tem-se: 1. Se w ∈ V , ent˜ao (A(u ⊗ v))(w) = A((u ⊗ v)(w)) = A(u(v · w)) = A(u)(v · w) = (A(u) ⊗ v)(w), logo A(u ⊗ v) = A(u) ⊗ v. 2. Se w ∈ U , ent˜ao ((u ⊗ v)A)(w) = (u ⊗ v)(A(w)) = u(v · A(w)) = u(w · AT (v)) = (u ⊗ AT (v))(w), logo (u ⊗ v)A = u ⊗ AT (v). Coment´ ario 1.2.19 (Transposi¸c˜ ao de Composi¸c˜ ao) Usando a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17 e a defini¸c˜ao de composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem 1.2.19, se (v, u) ∈ V e, al´em disto, (A, B) ∈ V ⊗ V , tem-se u · (AB)(v) = u · A(B(v)) = B(v) · AT (u) = AT (u) · B(v) = v · B T (AT (u)) = v · (B T AT )(u). Por´em u · (AB)(v) = v · (AB)T (u), logo (AB)T = B T AT .

1.2.7

Tensor de ordem k

Defini¸c˜ ao 1.2.20 (Tensor de Ordem k) Conforme colocado na defini¸c˜ao de tensor de 2

segunda ordem 1.2.14, tal tensor existe no espa¸co de produto tensorial V ⊗ V ≡ ⊗ V , o qual foi apresentado na defini¸c˜ao 1.2.13. Analogamente, um tensor de ordem k existe k

no espa¸co de produto tensorial ⊗ V . De acordo com a defini¸c˜ao de base dual 1.2.8, sendo 2

(ci ) e (ci ) um par de bases duais de V , as quatro bases produto de ⊗ V s˜ao ci ⊗cj , ci ⊗cj , 2

ci ⊗ cj e ci ⊗ cj , o que mostra que dim ⊗ V = (dim V )2 , conforme o coment´ario 1.2.9 (dimens˜ao de espa¸co de transforma¸c˜ao linear). Semelhantemente, as 2k bases produtos k vetores

k vetores k

z

}|

}|

{

i

k

{

de ⊗ V s˜ao (ci ⊗ . . . ⊗ cj ), . . . , (c ⊗ . . . ⊗ cj ), logo dim ⊗ V = (dim V )k . Portanto, em concordˆancia com a defini¸c˜ao de componente associado de tensor de segunda ordem 1.2.15, tem-se T = T i j ci ⊗ cj = T ij ci ⊗ cj = Ti j ci ⊗ cj = Ti j ci ⊗ cj , enquanto que z

k vetores

k vetores

z

}|

z

{

i

}|

{

para o tensor de ordem k tem-se T = T ci ⊗ . . . ⊗ cj = . . . = Ti...j c ⊗ . . . ⊗ cj . De acordo com o coment´ario 1.2.12 (transforma¸c˜ao escalar bilinear e tensor de segunda i...j

2

ordem), a cada tensor de segunda ordem T ∈⊗ V corresponde uma transforma¸c˜ao escalar bilinear T : V × V → <, onde V × V ≡ V 2 , tal que, para (u, v) ∈ V , tenha-se T (u, v) = u·T (v), o que produz T (ci , cj ) = T i j , T (ci , cj ) = Ti j , T (ci , cj ) = T ij e T (ci , cj ) = T i j , sendo verdadeira a afirma¸c˜ao rec´ıproca. Analogamente, a cada tensor de ordem k, grafado k

T ∈⊗ V , corresponde uma transforma¸c˜ ao escalar k-linear T : V k → < tal que k vetores

z

}|

k vetores

{

z

}|

{

T (ci , . . . , cj ) = T i...j , . . . , T (ci , . . . , cj ) = T i...j e vice versa. Como caso especial de tensor de ordem k define-se, em analogia a (u0 ⊗ v0 )(u, v) = (u · u0 )(v · v0 ) (coment´ario 1.2.12), o produto tensorial de k vetores k vetores

z

0

}|

k produtos internos

k vetores 0

{z

}|

{

z

0

}|

0

{

(u ⊗ . . . ⊗ v ) (u, . . . , v) = (u · u ) . . . (v · v ), 21


onde (u0 , . . . , v0 , u, . . . , v) ∈ V . Conforme a nota¸c˜ao matricial de tensor de segunda ordem 1.2.4, um tensor de segunda 2

ordem, pertencente ao espa¸co ⊗ V , ´e representado por uma matriz quadrada (matriz de ordem 2) de dimens˜ao dim V . Coerentemente, um tensor de ordem k, pertencente ao k

espa¸co ⊗ V , ´e representado por uma matriz de ordem k (por exemplo, matriz c´ ubica para k = 3) de dimens˜ao dim V . Note que esta defini¸c˜ao mostra que um tensor de primeira ordem ´e um vetor.

1.2.8

Regras para Transforma¸c˜ ao de Componentes de Vetor e de Tensor de Segunda Ordem

Defini¸c˜ ao 1.2.21 (Matrizes de Transforma¸c˜ ao) Seja duas bases β = (ci ) e β¯ = (¯ci ), ¯ j cj . De acordo com a defini¸c˜ao de base dual do mesmo espa¸co vetorial V e seja c¯k = M k ¯ j cj ·ci = M ¯ k i . Seja, tamb´em, as bases β ∗ = (ci ) 1.2.8, cj ·ci = δj i . Portanto, c¯k ·ci = M k ¯ de acordo com a nota¸c˜ao para base e β¯∗ = (¯ci ), respectivamente bases duais de β e β, ¯ j cj implica em c¯k · ci = M ¯k i , dual 1.2.2. Seja, ainda, ci = T¯j i c¯j . Assim como c¯k = M k ¯ k i e ci = M ¯ j i c¯j , ou tem-se que ci = T¯j i c¯j implica em c¯k · ci = T¯k i . Logo, T¯k i = M ¯ j c¯k . Portanto, se c¯k = M ¯ j cj , ent˜ao cj = M ¯ j c¯k e v.v. Note que, em M ¯ j, cj = M k k k k ∗ ¯ ¯ o indicador `a esquerda se refere a qualquer uma entre as bases β e β , enquanto que o indicador `a direita corresponde a qualquer uma entre as bases β e β ∗ , independentemente de cada indicador ser ´ındice ou super´ındice. Seja M um tensor de segunda ordem no espa¸co de produto tensorial V ⊗V . Ent˜ao, de acordo com o coment´ario 1.2.10 (c´alculo de componente associado de tensor de segunda ¯ j = c¯k · M (¯cj ). Como M ¯ j = c¯k · cj , conclui-se que cj = M (¯cj ). Logo, ordem), tem-se M k k j k ¯ ¯ Mk ´e o componente, associado `a base c ⊗ c¯j , do tensor M : c¯j 7→ cj |(¯cj , cj ) ∈ V, M ∈ V ⊗ V . Pode-se, ent˜ao, escrever ci · cj = ci · M (¯cj ). Mas, de acordo com a defini¸c˜ao de base dual 1.2.8, ci · cj = δi j = c¯i · c¯j , logo c¯j · c¯i = ci · M (¯cj ). Usando a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17 tem-se, ent˜ao, c¯j · c¯i = c¯j · M T (ci ), o que implica em c¯i = M T (ci ). Em resumo, seja duas bases β = (ci ) e β¯ = (¯ci ), bem como suas bases duais, respectivamente β ∗ = (ci ) e β¯∗ = (¯ci ), pertencentes a um espa¸co vetorial V . Seja, tamb´em, o tensor de segunda ordem 1. M ∈ V ⊗ V tal que ci = M (¯ci ) e c¯i = M T (ci ). Ent˜ao: ¯ j , associado `a base c¯k ⊗¯cj , ´e tal que M ¯ j = c¯k ·cj , c¯k = M ¯ j cj Seu componente M k k k ¯ j c¯k . e cj = M k ¯ k j , associado `a base c¯k ⊗¯cj , ´e tal que M ¯ k j = c¯k ·cj , c¯k = M ¯ k j cj Seu componente M ¯ k j c¯k . e cj = M 2. N ∈ V ⊗ V tal que ci = N (¯ci ) e c¯i = N T (ci ). Ent˜ao: ¯ kj , associado `a base c¯k ⊗¯cj , ´e tal que N ¯ kj = c¯k ·cj , c¯k = N ¯ kj cj Seu componente N ¯ kj c¯k . e cj = N

22


¯k j , associado `a base c¯k ⊗¯cj , ´e tal que N ¯k j = c¯k ·cj , c¯k = N ¯k j cj Seu componente N ¯k j c¯k . e cj = N Evidentemente, o tensor M do item 1 n˜ao ´e o tensor N do item 2. Ali´as, o uso do coment´ario 1.2.32, sobre propriedades do tensor inverso (a ser posteriormente apresentado), mostra que que o tensor N ´e o tensor inverso transposto do tensor M e v.v., ou seja, N = M −T . De acordo com a defini¸c˜ao de matriz 1.1.2, as bases β = (ci ), β¯ = (¯ci ), β ∗ = (ci ) e β¯∗ = (¯ci ) podem ser respectivamente representadas pelas matrizes coluna, formadas por elementos vetoriais, [ci ], [¯ci ], [ci ] e [¯ci ]. Por outro lado, considerando a nota¸c˜ao matricial para tensor de segunda ordem 1.2.3, o tensor M definido no item 1 pode ser representado ¯ j ] e [M ¯ k j ], dependendo da base por qualquer uma entre as duas matrizes quadradas [M k escolhida para represent´a-lo ser, respectivamente, c¯k ⊗ c¯j ou c¯k ⊗ c¯j . Analogamente, o tensor N definido no item 2 pode ser representado por qualquer uma entre as duas ¯ kj ] e [N ¯k j ], dependendo da base escolhida para represent´a-lo ser, matrizes quadradas [N respectivamente, c¯k ⊗ c¯j ou c¯k ⊗ c¯j . Como ser´a notado a seguir, a possibilidade de transposi¸c˜ao e invers˜ao de matrizes torna desnecess´ario utilizar ambos os itens 1 e 2. Coerentemente com as coloca¸c˜oes iniciais ser´a, portanto, considerado apenas o item 1. Al´em disto, as combina¸c˜oes lineares entre vetores de base fornecidas pelas representa¸c˜oes mistas do tensor costumam ser mais u ´teis do que aquelas produzidas pelas representa¸c˜oes covariante e contravariante. Por este motivo, a partir deste ponto somente a representa¸c˜ao mista do item 1 ser´a usada. ¯ j cj pode ser diretamente escrita em termos matriciais, porque, A igualdade c¯k = M k em [cj ], o ordenamento da base β se reflete na sequˆencia de linhas, enquanto que, em ¯ j ], o indicador `a direita se refere a qualquer uma entre as bases β = (ci ) e β ∗ = (ci ) [M k ¯ j cj corresponde a [¯ck ] = [M ¯ j ][cj ], porque o e representa a coluna. Logo, c¯k = M k k indicador j representa o mesmo somat´orio, tanto de acordo com a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2, como em rela¸c˜ao `as regras elementares de multiplica¸c˜ao matricial. ¯ j c¯k , o ordenamento da base β¯∗ se reflete na sequˆencia de J´a na express˜ao cj = M k k ¯ j ], o indicador `a esquerda se refere a qualquer linhas de [¯c ], enquanto que, em [M k ∗ ¯ ¯ uma entre as bases β = (¯ci ) e β = (¯ci ) e representa a linha. No que se refere a [¯ck ], ´e impossivel que o ordenamento da base β¯∗ deixe de indicar a linha. Mas, no que se refere a   T

k

¯ j ], pode-se alterar a fun¸c˜ao ordenadora, usando [M ¯ j ]T ≡ M ¯ j  ao inv´es de [M ¯ j ], [M k k k em conformidade com o colocado na defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4. Em   k

T

¯ M

j

,

o indicador `a direita se refere a qualquer uma entre as bases β¯ = (¯ci ) e β¯∗ = (¯ci )

¯ j c¯k corresponde a [cj ] = [M ¯ j ]T [¯ck ], com o e representa a coluna. Portanto, cj = M k k j ¯ indicador k representando o mesmo somat´orio. Note que [Mk ] n˜ao costuma ser uma ¯ j 6= M ¯ j k = c¯j · ck , logo [M ¯ j ] 6= [M ¯ j ]T . matriz sim´etrica porque, geralmente, c¯k · cj = M k k k Como uma base n˜ao pode ser previlegiada em rela¸c˜ao a qualquer outra, a trans¯ j ] n˜ao ´e singular. Portanto, forma¸c˜ao inversa deve existir, o que garante que a matriz [M k

23


a existˆencia das igualdades ¯ j ][cj ] [¯ck ] = [M k

e

¯ j ]T [¯ck ] [cj ] = [M k

e

¯ j ]−T [cj ] . [¯ck ] = [M k

garante a existˆencia das igualdades ¯ j ]−1 [¯ck ] [cj ] = [M k

¯ j ]−1 ≡ De acordo com a defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4, tem-se [M k 

k

−1

¯ M

j

 .

−1

k

¯ j , o indicador `a direita se refere a qualquer uma entre as bases Em M

β¯ = (¯ci ) e β¯∗ = (¯ci ) e indica a coluna, o que evidencia ser correta a primeira entre as −1

k

¯ j c¯k , u ´ltimas duas equa¸c˜oes destacadas. Tal equa¸c˜ao pode, tamb´em, ser escrita cj =M onde o indicador k representa o mesmo somat´orio que ocorre na multiplica¸c˜ao matricial. 

−T

j

−1

 k T

−T

j

¯ j ]−T ≡ M ¯ k  = M ¯ j  . Em M ¯ k  o indicador `a direita Por outro lado, [M k se refere a qualquer uma entre as bases β = (ci ) e β ∗ = (ci ) e indica a coluna, o que evidencia ser correta tamb´em a segunda entre as u ´ltimas duas equa¸c˜oes destacadas, a −1

k

¯ j cj , onde o indicador j representa o mesmo qual tamb´em pode ser escrita c¯ =M somat´orio que ocorre na multiplica¸c˜ao matricial. O coment´ario 1.2.7 (base ortonormal dual) mostra que, se β e β¯ forem ambas ortonormais, ter-se-´a cj = cj e c¯j = c¯j . Considerando as quatro equa¸c˜oes matriciais ¯ j ]T = [M ¯ j ]−1 e [M ¯ j ] = [M ¯ j ]−T , logo exigir´a que a destacadas, isto exigir´a que [M k k k k ¯ j ] seja ortogonal. Ap´os o terceiro par´agrafo, foi referido exclusivamente o matriz [M k ¯ j de um tensor de segunda ordem M , associado `a base c¯k ⊗ c¯j , tal que componente M k j j ¯ ¯ j cj e cj = M ¯ j c¯k . Coloca¸c˜oes semelhantes podem ser feitas para Mk = c¯k ·c , c¯k = M k k as outras trˆes representa¸c˜oes matriciais do tensor de M , citadas no terceiro par´agrafo. k

Coment´ ario 1.2.20 (Transforma¸c˜ ao de Componentes de Vetor) Seja as bases β ∗ i ∗ ¯ ¯ = (ci ) e β = (¯ci ) (logo, β = (c ) e β = (¯ci )), do mesmo espa¸co vetorial V e seja v ∈ V . Ent˜ao, v = v j cj = v¯k c¯k = vj cj = v¯k c¯k . Considerando a defini¸c˜ao das matrizes de ¯ j cj e cj = M ¯ j c¯k , logo v j cj = v¯k c¯k = v¯k M ¯ j cj e transforma¸c˜ao 1.2.21, tem-se c¯k = M k k k ¯ j c¯k , ou v j = M ¯ j v¯k e v¯k = M ¯ j vj . Utilizando o colocado na mesma v¯k c¯k = vj cj = vj M k k k defini¸c˜ao citada, em termos matriciais pode-se, ent˜ao, escrever ¯ j ]T [¯ [v j ] = [M vk ] k

e

¯ j ][vj ] . [¯ v k ] = [M k

Lembrando que ¯ j ][cj ] [¯ck ] = [M k

e

¯ j ]T [¯ck ] , [cj ] = [M k

conclui-se que a matriz que transforma os componentes contravariantes v¯k (covariantes vj ) do vetor v, representado na base β¯ = (¯ci ) (β ∗ = (ci )), nos componentes contravariantes v j (covariantes v¯k ) do vetor v, representado na base β = (ci ) (β¯∗ = (¯ci )), ´e a transposta da matriz que transforma as bases no sentido oposto. 24


O coment´ario 1.2.7 (base ortonormal dual) mostra que, se β e β¯ forem ambas ortonormais, ter-se-´a cj = cj e c¯j = c¯j , logo vj = v j e v¯j = v¯j . Neste caso, a u ´ltima senten¸ca do par´agrafo anterior precisa ser simplificada, devendo-se, em substitui¸c˜ao `aquela senten¸ca, afirmar que a matriz que transforma os componentes v¯k do vetor v, representado na base β¯ = (¯ci ), nos componentes v j do vetor v, representado na base β = (ci ), ´e a transposta da matriz que transforma as bases no sentido oposto. Coment´ ario 1.2.21 (Transforma¸c˜ ao de Componentes de Tensor) Seja duas ba∗ ses β = {ci } e β¯ = {¯ci } (logo, β = (ci ) e β¯∗ = (¯ci )) do mesmo espa¸co vetorial V e seja A um tensor de segunda ordem em V ⊗ V . De acordo com a defini¸c˜ao de componente associado de tensor de segunda ordem 1.2.15, A = Ai j ci ⊗ cj = A¯i j c¯i ⊗ c¯j = Ai j ci ⊗ cj = A¯i j c¯i ⊗ c¯j = Ai j ci ⊗ cj = A¯i j c¯i ⊗ c¯j = Ai j ci ⊗ cj = A¯i j c¯i ⊗ c¯j . Nos quatro casos apresentados a seguir, al´em destes resultados ser´a tamb´em utilizado o coment´ario 1.2.10 (c´alculo de componente associado de tensor de segunda ordem), a defini¸c˜ao das matrizes de transforma¸c˜ao 1.2.21 e a defini¸c˜ao de matriz 1.1.2: ¯ i m cm e Tem-se que A¯i j = c¯i · A(¯cj ) e Am n = cm · A(cn ). Considerando c¯i = M ¯ j n cn , obt´em-se A¯i j = M ¯ i mM ¯ j n Am n , ou [A¯i j ] = [M ¯ i m ][Am n ][M ¯ j n ]T . c¯j = M ¯ i m cm e Tem-se que A¯i j = c¯i · A(¯cj ) e Amn = cm · A(cn ). Considerando c¯i = M −1

j

¯ n cn , obt´em-se A¯i j = M ¯i c¯j =M

j

−1

m

¯ n Amn , ou [A¯i j ] = [M ¯ i m ][Amn ][M ¯ j n ]−1 . M −1

i

¯ m cm e Tem-se que A¯i j = c¯i · A(¯cj ) e Amn = cm · A(cn ). Considerando c¯i =M −1

i

¯ j n cn , obt´em-se A¯i j =M ¯m M ¯ j n Amn , ou [A¯i j ] = [M ¯ i m ]−T [Amn ][M ¯ j n ]T . c¯j = M −1

i

¯ m cm e Tem-se que A¯i j = c¯i · A(¯cj ) e Am n = cm · A(cn ). Considerando c¯i =M −1

j

−1

i −1

j

¯ n cn , obt´em-se A¯i j =M ¯m M ¯ n Am n , ou [A¯i j ] = [M ¯ i m ]−T [Am n ][M ¯ j n ]−1 . c¯j =M

1.2.9

Determinante e Tra¸co

Defini¸c˜ ao 1.2.22 (Permuta¸c˜ ao) Seja o conjunto I, formado pelos n ≥ 2 primeiros n´ umeros naturais. Chama-se permuta¸c˜ ao a uma fun¸c˜ao σ : I → I tal que σ : (i)i=n i=1 7→ i=n (σ(i))i=1 | σ(i) 6= σ(j)∀i 6= j, (i, j) ∈ I. Uma permuta¸c˜ao que envolva exclusivamente a invers˜ao do ordenamento de dois elementos adjacentes ´e chamada transposi¸c˜ ao . Toda permuta¸c˜ao ´e uma sequˆencia de transposi¸c˜oes, mas diversas sequˆencias de transposi¸c˜oes podem corresponder `a mesma permuta¸c˜ao. Todas as sequˆencias de transposi¸c˜oes que correspondem a uma mesma permuta¸c˜ao envolvem um n´ umero de transposi¸c˜oes com a mesma paridade, embora tal n´ umero possa variar de uma sequˆencia para outra. Por isto, as permuta¸c˜oes s˜ao classificadas em pares ou ´ımpares. O sinal da permuta¸c˜ ao, representado (sinal σ), ser´a +1 quando a permuta¸c˜ao for par e ser´a −1 quando a permuta¸c˜ao for ´ımpar. Entre as n! poss´ıveis permuta¸c˜oes de (i)i=n ao permuta¸c˜oes i=1 , metade s˜ pares (como n ≥ 2, o valor de n! ´e sempre um inteiro par).

25


Defini¸c˜ ao 1.2.23 (Fun¸c˜ ao n-linear Alternante) Seja V um espa¸co vetorial e seja, de acordo com a defini¸c˜ao de dimens˜ao de espa¸co vetorial 1.2.4, dim V = n. Seja, em conformidade com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao n-linear 1.2.10, a fun¸c˜ao n-linear w : V n → <. Esta fun¸c˜ao ser´a uma fun¸c˜ ao n-linear alternante sempre que, ∀(v1 , . . . , vn ) ∈ V , w(vσ(1) , . . . , vσ(n) ) = (sinal σ)w(v1 , . . . , vn ) . Uma fun¸c˜ao n-linear alternante ser´a n˜ ao trivial quando existir um conjunto (vi )i=n i=1 ∈ V tal que w(v1 , . . . , vn ) 6= 0. Coment´ ario 1.2.22 (Redu¸c˜ ao no N´ umero de Permuta¸c˜ oes Distingu´ıveis) De acordo com a defini¸c˜ao de permuta¸c˜ao 1.2.22, s˜ao permuta¸c˜oes pares metade das n! poss´ıveis permuta¸c˜oes do conjunto ordenado (vi )i=n i=1 ∈ V . Se dois entre os vetores que formam este conjunto forem iguais, a cada permuta¸c˜ao par corresponder´a uma permuta¸c˜ao ´ımpar dela indistingu´ıvel, o que reduzir´a o n´ umero de permuta¸c˜ oes distingu´ıveis para n!/2. Se m vetores forem iguais, o n´ umero de permuta¸c˜oes distingu´ıveis ser´a n!/m!. Coment´ ario 1.2.23 (Fun. n-lin. Altern. e Base de Esp. Vet. - Parte I) Conforme o coment´ario 1.2.22, sobre redu¸c˜ao no n´ umero de permuta¸c˜oes distingu´ıveis, se uma fun¸c˜ao qualquer f : V n → < tiver como argumento um conjunto ordenado (vi )i=n i=1 ∈ V que contenha dois vetores iguais, para cada permuta¸c˜ao par do argumento existir´a uma permuta¸c˜ao ´ımpar do mesmo argumento tal que as duas imagens, produzidas por f , sejam iguais. Portanto, se w for uma fun¸c˜ao n-linear alternante, conforme sua defini¸c˜ao 1.2.23, mesmo que w seja n˜ao trivial ter-se-´a w(. . . , u, . . . , v, . . .) = 0 quando u = v. Como consequˆencia deste fato, se (vi )i=n c˜ao i=1 ∈ V for, de acordo com o item 1 da defini¸ de base 1.2.2, linearmente dependente e w for uma fun¸c˜ao n-linear alternante, ent˜ao w(v1 , . . . , vn ) = 0, mesmo que w seja n˜ao trivial. Logo, se w for uma fun¸c˜ao n-linear alternante e w(v1 , . . . , vn ) 6= 0, ent˜ao o conjunto (vi )i=n a linearmente independente. Como, de acordo com a defini¸c˜ao 1.2.23, i=1 ∈ V ser´ dim V = n, considerando o item 2 da defini¸c˜ao 1.2.2 tem-se que o conjunto (vi )ni=1 abranger´a V . Portanto, pode-se afirmar que, se w for uma fun¸c˜ao n-linear alternante a uma n˜ao trivial, existir´a um conjunto (vi )i=n i=1 ∈ V tal que w(v1 , . . . , vn ) 6= 0, o qual ser´ i=n base (ci )i=1 de V . Teorema 1.2.2 (Unicidade da Propor¸c˜ ao entre Fun. n-lin. Altern.) Sejam w e 0 w duas fun¸c˜oes n-lineares alternantes e seja w n˜ao trivial. Existe apenas um valor λ ∈ < tal que, ∀(v1 , . . . , vn ) ∈ V , tenha-se w0 (v1 , . . . , vn ) = λw(v1 , . . . , vn ). Demonstra¸c˜ao: Como w ´e n˜ao trivial, existe o conjunto de vetores (ci )ni=1 tal que w(c1 , . . . , cn ) 6= 0 e tal conjunto ´e uma base de V (coment´ario 1.2.23, sobre fun¸c˜ao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial - parte I). Suponha que (v1 , . . . , vn ) ∈ V e que va = vai ci para a = 1, . . . , n, logo w(v1 , . . . , vn ) = w(v1i1 ci1 , . . . , vnin cin ) = Pn Pn i1 in ´ltima igualdade prov´em da n-linearidade i1 =1 . . . in =1 v1 . . . vn w(ci1 , . . . , cin ), onde a u de w(v1 , . . . , vn ), conforme a defini¸c˜ao 1.2.10 desta propriedade. No somat´orio m´ ultiplo, todos os termos que contenham vetores de base repetidos s˜ao nulos. Portanto, o somat´orio m´ ultiplo simplifica-se num somat´orio sobre todas as n! permuta¸c˜oes de c1 , . . . , cn , ou seja, P σ(1) w(v1 , . . . , vn ) = σ v1 . . . vnσ(n) w(cσ(1) , . . . , cσ(n) ). Considerando que, de acordo com a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23, w(cσ(1) , . . . , cσ(n) ) = (sinal σ) w(c1 , . . . , cn ), tem-se w(v1 , . . . , vn ) = αw(c1 , . . . , cn ), 26


σ(1)

onde α = σ (sinal σ) v1 . . . vnσ(n) . Em analogia, w0 (v1 , . . . , vn ) = αw0 (c1 , . . . , cn ). v1 ,...,vn ) , logo w0 (v , . . . , v ) = w0 (c1 ,...,cn ) Como w(c1 , . . . , cn ) 6= 0, tem-se α = w( 1 n w(c1 ,...,cn ) w(c1 ,...,cn ) P

w(v1 , . . . , vn ) = λw(v1 , . . . , vn ). Note que, como os reais w0 (v1 , . . . , vn ) e w(v1 , . . . , vn ) independem de qual for a base escolhida para o espa¸co V em que se encontram os vetores v1 , . . . , vn , esta u ´ltima express˜ao indica que o real λ = w0 (c1 , . . . , cn )/w(c1 , . . . , cn ) n˜ao depende de qual for a base escolhida. 2 Coment´ ario 1.2.24 (Fun. n-lin. Altern. e Base de Esp. Vet. - Parte II) Se n 0 n n w : V → < e w : V → < forem duas fun¸c˜oes n-lineares alternantes e w : V → < for n˜ao trivial (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23), existe uma base de V , grafada (ci )ni=1 , tal que w(c1 , . . . , cn ) 6= 0 (coment´ario 1.2.23, sobre fun¸c˜ao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial - parte I). Tem-se, ent˜ao, w0 (c1 , . . . , cn ) = λw(c1 , . . . , cn ), onde λ = 0 se w0 : V n → < for trivial. Por outro lado, como λ n˜ao depende do conjunto de vetores utilizado na express˜ao w0 (v1 , . . . , vn ) = λw(v1 , . . . , vn ) (teorema da unicidade da propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes n-lineares alternantes 1.2.2), w0 : V n → < ser´a trivial se λ = 0. Portanto, w0 : V n → < ser´a n˜ao trivial se e somente se λ 6= 0. Isto indica que, se (ci )ni=1 for uma base de V tal que w(c1 , . . . , cn ) 6= 0 e se w0 : V n → < for qualquer fun¸c˜ao n-linear alternante n˜ao trivial, ent˜ao (ci )ni=1 ser´a, tamb´em, tal que w0 (c1 , . . . , cn ) 6= 0. Teorema 1.2.3 (Dependˆ encia da Propor¸c˜ ao entre Fun. n-lin. Altern.) Seja w : V n → < uma fun¸c˜ao n-linear alternante n˜ao trivial e seja a fun¸c˜ao Tw : V n → < tal que Tw (v1 , . . . , vn ) = w(T (v1 ), . . . , T (vn )), onde (v1 , . . . , vn ) ∈ V e T ∈ V ⊗ V ´e uma transforma¸c˜ao linear. O valor λ ∈ <, tal que Tw (v1 , . . . , vn ) = λw(v1 , . . . , vn ), ´e determinado apenas por T . Demonstra¸c˜ao: Seja T ∈ V ⊗ V uma transforma¸c˜ao linear T : v 7→ u, onde (v, u) ∈ V , sejam w : V n → < e w0 : V n → < duas fun¸c˜oes n-lineares alternantes n˜ao triviais (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23) e seja uma fun¸c˜ao Tw : V n → < tal que Tw (v1 , . . . , vn ) = w(u1 , . . . , un ) = w(T (v1 ), . . . , T (vn )) [eq.1]. Evidentemente, Tw tamb´em ´e uma fun¸c˜ao n-linear alternante logo, por causa do teorema da unicidade da propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes n-lineares alternantes 1.2.2, existe um u ´nico λ ∈ < tal que Tw (v1 , . . . , vn ) = λw(v1 , . . . , vn ) [eq.2]. Analogamente, Tw0 (v1 , . . . , vn ) = w0 (T (v1 ), . . . , T (vn )) [eq.3], sendo Tw0 (v1 , . . . , vn ) = λ0 w0 (v1 , . . . , vn ) [eq.4]. Por´em, devido ao mesmo teorema 1.2.2, existe um u ´nico µ ∈ < tal que w0 (v1 , . . . , vn ) = µw(v1 , . . . , vn ) [eq.5]. Subtituindo a eq.5 na eq.4 obt´em-se Tw0 (v1 , . . . , vn ) = λ0 µw(v1 , . . . , vn ) [eq.6]. Como, de acordo com o teorema 1.2.2, a eq.5 ´e v´alida tanto para o argumento v1 , . . . , vn como para o argumento u1 , . . . , un , substituindo a eq.5 na eq.3 obt´em-se Tw0 (v1 , . . . , vn ) = µw(T (v1 ), . . . , T (vn )). Substituindo antes a eq.1 e depois a eq.2 nesta u ´ltima express˜ao obt´em-se Tw0 (v1 , . . . , vn ) = µλw(v1 , . . . , vn ), que comparada com a eq.6 produz λ0 = λ, desde que µ 6= 0. Mas, de acordo com o coment´ario 1.2.24, sobre fun¸c˜ao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial - parte II, por causa da eq.5 o fato de que tanto w como w0 s˜ao n˜ao triviais implica em µ 6= 0. Portanto λ0 = λ e as eqs.2 e 4 mostram que λ n˜ao depende de qual ´e a fun¸c˜ao n-linear alternante n˜ao trivial considerada, ou seja, λ depende apenas de T . 2 Defini¸c˜ ao 1.2.24 (Determinante de Transforma¸c˜ ao Linear) Seja a transforma¸c˜ao linear T ∈ V ⊗ V . O determinante desta transforma¸c˜ ao, det T ∈ <, ´e definido pela igualdade (det T )w(v1 , . . . , vn ) = w(T (v1 ), . . . , T (vn )), ∀(v1 , . . . , vn ) ∈ V e 27


∀w : V n → <|w ´e n-linear alternante n˜ao trivial. Note que det ´e uma fun¸c˜ao que, aplicada ao argumento T , produz como imagem o real λ apresentado no teorema 1.2.3, sobre a dependˆencia da propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes n-lineares alternantes, real este que depende apenas de T . A defini¸c˜ao desta fun¸c˜ao, portanto, ´e poss´ıvel por causa do que foi demonstrado no teorema citado. O dom´ınio da fun¸c˜ao det ´e V ⊗ V , porque T ∈ V ⊗ V , enquanto que o seu contradom´ınio ´e <, porque λ ∈ <. Pode-se, ent˜ao, escrever det : V ⊗ V → <. Note, tamb´em, que na defini¸c˜ao 1.2.25 ser´a apresentado o conceito de determinante de uma matriz, enquanto que agora est´a sendo apresentado o conceito de determinante de uma transforma¸c˜ao linear. Coment´ ario 1.2.25 (Fun. n-lin. Altern. e Base de Esp. Vet. - Parte III) Seja uma fun¸c˜ao n-linear alternante n˜ao trivial w : V n → <. H´a um conjunto (ci )ni=1 tal que w(c1 , . . . , cn ) 6= 0 e este conjunto ´e uma base de V , conforme o coment´ario 1.2.23, sobre fun¸c˜ao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial - parte I. De acordo com a defini¸c˜ao de determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24 e o teorema 1.2.3, sobre a dependˆencia da propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes n-lineares alternantes, (det T )w(c1 , . . . , cn ) = w(T (c1 ), . . . , T (cn )) = Tw (c1 , . . . , cn ) = w(d1 , . . . , dn ), onde di = T ci , para i = 1, . . . , n. Esta express˜ao mostra que, quando (ci )ni=1 for uma base de V tal que w(c1 , . . . , cn ) 6= 0 e di = T ci para i = 1, . . . , n, se det T 6= 0 ent˜ao (di )ni=1 ser´a uma base de V tal que w(d1 , . . . , dn ) 6= 0. Mas, al´em de suficiente (uso do “se”), a condi¸c˜ao det T 6= 0 tamb´em ´e necess´aria (uso do “somente se”) para que (di )ni=1 seja uma base de V tal que w(d1 , . . . , dn ) 6= 0. De fato, aplicando `a igualdade Tw (c1 , . . . , cn ) = (det T )w(c1 , . . . , cn ) o teorema 1.2.2, referente `a unicidade da propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes n-lineares alternantes, percebe-se que det T = 0 implica em Tw trivial, logo implica em Tw (c1 , . . . , cn ) = w(d1 , . . . , dn ) = 0. Portanto, a seten¸ca completa diz que, se (ci )ni=1 for uma base de V tal que w(c1 , . . . , cn ) 6= 0 e se di = T ci para i = 1, . . . , n, ent˜ao (di )ni=1 ser´a uma base de V tal que w(d1 , . . . , dn ) 6= 0 se e somente se det T 6= 0. Defini¸c˜ ao 1.2.25 (Determinante de Matriz) Seja [Mi j ] uma matriz (defini¸c˜ao de matriz 1.1.2) quadrada com n linhas e n colunas (tanto i como j poderiam ser super´ındices). O determinante desta matriz, det[Mi j ] ´e, por defini¸c˜ao, det[Mi j ] =

X

(sinal σ) Mσ(1) 1 . . . Mσ(n) n ,

σ

onde o somat´orio ocorre sobre todas as n! permuta¸c˜oes do conjunto ordenado de n´ umeros naturais (1, 2, 3, . . . , n) referente `as linhas da matriz. Note que na defini¸c˜ao 1.2.24 foi apresentado o conceito de determinante de uma transforma¸c˜ao linear, enquanto que agora est´a sendo apresentado o conceito de determinante de uma matriz. A partir da presente defini¸c˜ao demostram-se os conhecidos resultados da ´algebra matricial elementar det([Ai j ][Bj k ]) = det[Ai j ] det[Bj k ] , por causa das regras de multiplica¸c˜ao matricial e det([Ai j ]T ) = det[Ai j ] , por causa da comutatividade da multiplica¸c˜ao escalar, a qual P P produz σ (sinal σ) Mσ(1) 1 . . . Mσ(n) n = σ (sinal σ) M1 σ(1) . . . Mn σ(n) . Nesta defini¸c˜ao de determinante de matriz, ambos os dois indicadores da matriz foram, arbitrariamente, considerados ´ındices. Evidentemente, cada um deles, independentemente do outro, poderia ser um ´ındice ou um super´ındice. 28


Coment´ ario 1.2.26 (Rela¸c˜ ao entre Determ. de Transf. Lin. e de Matriz) O determinante de uma transforma¸c˜ao linear pode ser calculado em termos dos seus componentes associados `as bases produto (ci ⊗ cj ) e (ci ⊗ cj ), sendo (ci )ni=1 uma base de V . De fato, a defini¸c˜ao de determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24 mostra que (det T )w(c1 , . . . , cn ) = w(T (c1 ), . . . , T (cn )) = w((T i1j1 ci1 ⊗ cj1 )(c1 ), . . . , (T injn cin ⊗ cjn )(cn )) = w((cj1 · c1 )T i1j1 ci1 , . . . , (cjn · cn )T injn cin ) = w(δ j11 T i1j1 ci1 , . . . , δ jnn T injn cin ) = w(T i11 ci1 , . . . , T inn cin ), onde foi usada a defini¸c˜ao de produto tensorial de vetores 1.2.12. P P Tem-se w(T i11 ci1 , . . . , T inn cin ) = ni1 =1 . . . nin =1 T i11 . . . T inn w(ci1 , . . . , cin ), por causa da n-linearidade de w(v1 , . . . , vn ), conforme a defini¸c˜ao 1.2.10 desta propriedade. Neste m´ ultiplo somat´orio, todos os termos que contenham vetores de base repetidos s˜ao nulos. Portanto, o somat´orio m´ ultiplo simplifica-se num somat´orio sobre todas as n! permuta¸c˜oes P σ(1) de c1 , . . . , cn , ou seja, w(T i11 ci1 , . . . , T inn cin ) = σ T 1 . . . T σ(n)n w(cσ(1) , . . . , cσ(n) ). Como, nesta u ´ltima igualdade, o primeiro membro ´e igual a (det T )w(c1 , . . . , cn ), enquanto que, de acordo com a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23, w(cσ(1) , . . . , cσ(n) ) = (sinal σ) w(c1 , . . . , cn ), tem-se (det T )w(c1 , . . . , cn ) =

P

σ (sinal

σ) T

σ(1) 1

...

σ(1) 1

T σ(n)n w(c1 , . . . , cn ), logo det T = σ (sinal σ) T . . . T σ(n)n = det[T ij ], de acordo com a defini¸c˜ao de determinante de matriz 1.2.25, sendo [T ij ] a matriz formada pelos componentes de T associados `a base considerada, {ci ⊗ cj }. Analogamente, obt´em-se det T = det[Ti j ]. De acordo com o coment´ario 1.2.14, sobre gi j ou g i j aplicado a componente de tensor, tem-se T ij = gk j T i k = g i k Tk j e Ti j = gk i T k j = g j k Ti k , logo P

det T = det[T ij ] = det[Ti j ] = det[gk j T i k ] = det[gk i T k j ] = det[g i k Tk j ] = det[g j k Ti k ] . Conforme o coment´ario 1.2.13, sobre componente associado do tensor identidade, tem-se para os componentes contravariantes e covariantes respectivamente 1 i j = g i j e 1i j = gi j , enquanto que para os componentes mistos tem-se 1 i j = δ i j e 1i j = δi j . Mas o coment´ario 1.2.6, sobre fun¸c˜oes gi j e g i j , mostra que g i k gk j = δ i j . Ent˜ao, de acordo com a express˜ao destacada, det 1 = det 1 i j = det[δ i j ] = det[g i k gk j ]. Como o indicador k representa o mesmo somat´orio, tanto usando a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2, como em rela¸c˜ao `as regras elementares de multiplica¸c˜ao matricial, tem-se det[g i k gk j ] = det([g i k ][gk j ]). Considerando a defini¸c˜ao de determinante de matriz 1.2.25, conclui-se que det[g i k gk j ] = det([g i k ][gk j ]) = det[g i k ] det[gk j ] e det[δ i j ] = 1, logo det[g i k ] det[gk j ] = 1. Em resumo, enquanto os determinantes dos componentes mistos do tensor identidade s˜ao iguais a 1, o mesmo acontecendo, evidentemente, tamb´em com o produto destes determinantes, para os determinantes dos componentes contravariante e covariante somente se garante que o produto deles ´e igual a 1. Al´em disto, de acordo com o coment´ario 1.2.7, sobre base ortonormal dual, numa base ortonormal gk j = δk j e g i k = δ k j , portanto det[gk j ] = det[δk j ] = det[g k j ] = det[δ k j ] = 1, o que simplifica a equa¸c˜ao destacada para det T = det[T ij ] = det[Ti j ] = det[T i j ] = det[Ti j ] . Coment´ ario 1.2.27 (Propriedades de Determinantes - Parte I) A fun¸c˜ao det : V ⊗ V → <, apresentada na defini¸c˜ao de determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24, tem as seguintes propriedades: 29


1. det(u ⊗ v) = 0, ∀(u, v) ∈ V . De fato, det(u ⊗ v)w(t1 , . . . , tn ) = w((u ⊗ v)(t1 ), . . . , (u⊗v)(tn )) = w((v·t1 )u, . . . , (v·tn )u), por causa da defini¸c˜ao de produto tensorial de dois vetores, ou tensor simples, 1.2.12. Mas w((v · t1 )u, . . . , (v · tn )u) = 0 por causa da dependˆencia linear entre os vetores presentes no argumento de w (coment´ario 1.2.23, sobre fun¸c˜ao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial parte I). 2. det(α1 ) = αn , onde α ∈ < e 1 ´e, de acordo com a defini¸c˜ao 1.2.16, a transforma¸c˜ao tensorial identidade para o espa¸co vetorial V de dimens˜ao n. De fato, det(α1 )w(v1 , . . . , vn ) = w(α1 (v1 ), . . . , α1 (vn )) = w(αv1 , . . . , αvn ). Mas, por causa da n-linearidade de w, tem-se det(α1 )w(v1 , . . . , vn ) = αn w(v1 , . . . , vn ), ou det(α1 ) = αn . 3. det(ST ) = (det S)(det T ), porque det(ST )w(v1 , . . . , vn ) = w(ST (v1 ), . . . , ST (vn )) = w(S(T (v1 )), . . . , S(T (vn ))) = det(S)w(T (v1 ), . . . , T (vn )) = det(S) det(T )w(v1 , . . . , vn ), ou det(ST ) = det(S) det(T ) = det(T S). 4. det S T = det S. De fato, de acordo com o coment´ario 1.2.26, sobre determinante de transforma¸c˜ao linear e de matriz, tem-se det S T = det[(S T ) i j ]. Mas, de acordo com o coment´ario 1.2.16, sobre transposi¸c˜ao de tensor de segunda ordem, [(S T ) i j ] = [Si j ]T , logo det S T = det([Si j ]T ). Conforme a defini¸c˜ao de determinante de matriz 1.2.25, det([Si j ]T ) = det[Si j ]. Portanto, det S T = det[Si j ] = det S, a u ´ltima igualdade sendo novamente devida ao coment´ario 1.2.26. Defini¸c˜ ao 1.2.26 (Tra¸co de Transforma¸c˜ ao Linear) Semelhantemente `a defini¸c˜ao da fun¸c˜ao determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24, de acordo com a qual det : V ⊗ V → <, um outro escalar pode ser a imagem da mesma transforma¸c˜ao linear, por meio de uma outra fun¸c˜ao. Para definir esta outra fun¸c˜ao, suponha que w : V n → < seja uma fun¸c˜ao n-linear alternante n˜ao trivial e que a fun¸c˜ao Tew : V n → < seja tal que P Tew (v1 , . . . , vn ) = ni=1 w(v1 , . . . , T (vi ), . . . , vn ), onde (v1 , . . . , vn ) ∈ V e T ∈ V ⊗ V ´e uma transforma¸c˜ao linear. Demonstra-se que Tew tamb´em ´e uma fun¸c˜ao n-linear alternante. Logo, por causa do teorema 1.2.2, sobre a unicidade da propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes nlineares alternantes, existe um u ´nico µ ∈ < tal que Tew (v1 , . . . , vn ) = µw(v1 , . . . , vn ). O teorema 1.2.3, sobre dependˆencia na propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes n-lineares alternantes, foi demonstrado por meio da fun¸c˜ao Tw : V n → < tal que Tw (v1 , . . . , vn ) = w(T (v1 ), . . . , T (vn )). Ele podia, por´em, ser tamb´em demonstrado usando-se, ao inv´es P de Tw , a fun¸c˜ao Tew : V n → < tal que Tew (v1 , . . . , vn ) = ni=1 w(v1 , . . . , T (vi ), . . . , vn ). Portanto, demostra-se que µ n˜ao depende da escolha da fun¸c˜ao w, ou seja, µ depende apenas de T . Seja a transforma¸c˜ao linear T ∈ V ⊗ V . O tra¸co desta transforma¸c˜ ao, trT ∈ <, Pn ´e definido pela igualdade (trT )w(v1 , . . . , vn ) = i=1 w(v1 , . . . , T (vi ), . . . , vn ), ∀(v1 , . . . , vn ) ∈ V e ∀w : V n → <|w ´e n-linear alternante n˜ao trivial. Note que trT ´e o valor µ apresentado no par´agrafo anterior, o qual depende apenas de T . O dom´ınio da fun¸c˜ao tr ´e V ⊗ V , porque T ∈ V ⊗ V , enquanto que o seu contradom´ınio ´e <, porque trT ∈ <. Pode-se, ent˜ao, escrever tr : V ⊗ V → <, analogamente a det : V ⊗ V → <. 30


Coment´ ario 1.2.28 (Rela¸c˜ ao entre Tra¸co de Transf. Lin. e de Matriz) O tra¸co de uma transforma¸c˜ao linear pode ser calculado em termos dos seus componentes associados `as bases (ci ⊗ cj ) e (ci ⊗ cj ), sendo (ci )ni=1 uma base de V . De fato, a defini¸c˜ao P de tra¸co de transforma¸c˜ao linear 1.2.26 mostra que (trT )w(c1 , . . . , cn ) = ni=1 w(c1 , . . . , P P T (ci ), . . . , cn ) = ni=1 w(c1 , . . . , (T k j ck ⊗ cj )(ci ), . . . , cn ) = ni=1 w(c1 , . . . , (cj · ci )T k j ck , . . . , cn ) = ni=1 w(c1 , . . . , δ ji T k j ck , . . . , cn ) = ni=1 w(c1 , . . . , T k i ck , . . . , cn ), onde usouse a defini¸c˜ao de produto tensorial de vetores 1.2.12. Neste m´ ultiplo somat´orio, todos os termos que contenham vetores de base repetidos s˜ao nulos. Por isto, para i = 1 existe apenas o termo w(T 1 1 c1 , c2 , . . . , cn ) = T 1 1 w(c1 , c2 , . . . , cn ), onde a igualdade ´e causada pela n-linearidade da fun¸c˜ao w (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23), para i = 2 existe apenas o termo w(c1 , T 2 2 c2 , . . . , cn ) = T 2 2 w(c1 , c2 , . . . , cn ) etc.. Portanto, (trT )w(c1 , . . . , cn ) = T i i w(c1 , . . . cn ), ou trT = T i i onde, de acordo com a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2, T i i ´e soma dos elementos diagonais da matriz [T i j ], chamada tra¸co da matriz [T i j ], logo tr[T i j ] = [T i i ] = T i i . Analogamente para os componentes associados `a base (ci ⊗ cj ). Tem-se, portanto, P

P

trT = T i i = tr[T i j ] = Ti i = tr[Ti j ] . De acordo com o coment´ario 1.2.14, sobre gi j ou g i j aplicado a componente de tensor, tem-se T i i = Ti i = gi j T i j = g i j Ti j . Mas, em termos matriciais, tr[T i j ] = tr[gk j T i k ] = tr([T i k ][gk j ]) = tr[g i k Tk j ] = tr([g i k ][Tk j ]), havendo express˜oes an´alogas para tr[Ti j ] (notar que [gi j T i j ] = gi j T i j ´e um u ´nico escalar, logo n˜ao representa uma composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem, de acordo com sua defini¸c˜ao 1.2.19). Portanto, embora trT = tr[T i j ] = tr[T i j ], os tra¸cos das matrizes T i j e Ti j n˜ao precisam ser iguais a trT . Mas, de acordo com o coment´ario 1.2.7, sobre base ortonormal dual, numa base ortonormal gk j = δk j e g i k = δ i k , logo [gk j ] = [g i k ] = [1]. Ent˜ao, numa base ortonormal os tra¸cos das matrizes T i j e Ti j s˜ao iguais a trT . Coment´ ario 1.2.29 (Propriedades de Tra¸cos) A fun¸c˜ao tr : V ⊗ V → <, apresentada na defini¸c˜ao de tra¸co de uma transforma¸c˜ao linear 1.2.26, tem as seguintes propriedades: 1. tr(αS + T ) = αtrS + trT . De fato, tr(αS + T )w(c1 , . . . , cn ) = ni=1 w(c1 , . . . , (αS + P P T )(ci ), . . . , cn ) = ni=1 αw(c1 , . . . , S(ci ), . . . , cn ) + ni=1 w(c1 , . . . , T (ci ), . . . , cn ) = (αtrS + trT )w(c1 , . . . , cn ), por causa da n-linearidade da fun¸c˜ao w (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23). Portanto o tra¸co ´e uma fun¸c˜ao linear do espa¸co V ⊗ V (o qual ´e o espa¸co das transforma¸c˜oes lineares do espa¸co vetorial V para o pr´oprio espa¸co vetorial V ) para o espa¸co <. Note que o determinante ´e uma fun¸c˜ao n˜ao linear do espa¸co V ⊗ V para o espa¸co <. P

2. tr1 = n. De fato, tr1 w(c1 , . . . , cn ) = ni=1 w(c1 , . . . , 1 (ci ), . . . , cn ) = ni=1 w(c1 , . . . , cn ) = nw(c1 , . . . , cn ), por causa da defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao tensorial identidade 1.2.16. P

31

P


3. tr(v ⊗ u) = v · u. De fato, sendo (ci ) uma base do espa¸co vetorial V , para P (v, u) ∈ V tem-se tr(v ⊗ u)w(c1 , . . . , cn ) = ni=1 w(c1 , . . . , (v ⊗ u)(ci ), . . . , cn ) = Pn Pn j i=1 w(c1 , . . . , (u · ci )v, . . . , cn ) = i=1 w(c1 , . . . , (u · ci )v cj , . . . , cn ), onde usou-se a defini¸c˜ao de produto tensorial de vetores 1.2.12. Neste m´ ultiplo somat´orio, todos os termos que contenham vetores de base repetidos s˜ao nulos. Por isto, para i = 1 existe apenas o termo w((u · c1 )v 1 c1 , c2 , . . . , cn ) = (u · c1 )v 1 w(c1 , c2 , . . . , cn ), onde a igualdade ´e causada pela n-linearidade da fun¸c˜ao w (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23), para i = 2 existe apenas o termo w(c1 , (u · c2 )v 2 c2 , . . . , cn ) = P (u·c2 )v 2 w(c1 , c2 , . . . , cn ) etc.. Portanto, tr(v⊗u)w(c1 , . . . , cn ) = ( ni=1 u·ci v i )w(c1 , . . . , cn ) = (u · v)w(c1 , . . . , cn ). 4. tr(S T ) = trS. De fato, de acordo com o coment´ario 1.2.28, sobre rela¸c˜ao entre tra¸co de transforma¸c˜ao linear e de matriz, tem-se tr(S T ) = (S T )i i = (S T )i i . Mas, de acordo com o coment´ario 1.2.16, sobre transposi¸c˜ao de tensor de segunda ordem, [(S T )i j ] = [Si j ]T , logo (S T )i i = tr[(S T )i j ] = tr([Si j ]T ) = tr[Si j ] = Si i = trS onde o coment´ario 1.2.28 foi novamente usado. 5. tr(ST ) = tr(T S). De fato, novamente de acordo com o coment´ario 1.2.28, temse tr(ST ) = (ST )i i = (ST )i i . Mas (ST )i i = tr[(ST )i j ] = tr([S i k ][T k j ]), onde a segunda igualdade prov´em da defini¸c˜ao de composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem 1.2.19. Analogamente, tem-se (T S)i i = tr[(T S)i j ] = tr([T i k ][S kj ]). Como tanto i, como k e j podem assumir valores inteiros desde 1 at´e n, de acordo com a ´algebra matricial elementar a soma dos elementos diagonais da matriz produto [S i k ][T k j ] ´e igual `a soma dos elementos diagonais da matriz produto [T i k ][S kj ], logo tr(ST ) = (ST )i i = (ST )i i = (T S)i i = (T S)i i = tr(T S). Note que o terceiro item do coment´ario 1.2.27, sobre propriedades de determinantes - parte I, mostra que det(ST ) = det(T S), semelhantemente a tr(ST ) = tr(T S). Por´em, enquanto det(ST ) = (det S)(det T ), geralmente tem-se tr(ST ) 6= (trS)(trT ). Coment´ ario 1.2.30 (Propriedades de Determinantes - Parte II) det(1 + u ⊗ v) = 1+u·v. De fato, det(1 +u⊗v)w(c1 , . . . , cn ) = w((1 +u⊗v)(c1 ), . . . , (1 +u⊗v)(cn )) = w((c1 + (v · c1 )u), . . . , (cn + (v · cn )u)), onde foram usadas as defini¸c˜oes de determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24 e de produto tensorial de vetores 1.2.12. Como, de acordo com a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23, w ´e uma fun¸c˜ao n-linear, tem-se P w((c1 +(v·c1 )u), . . . , (cn +(v·cn )u)) = w(c1 , . . . , cn )+ ni=1 w(c1 , . . . , (v·ci )u, . . . , cn )+ termos envolvendo mais do que um u ´ nico vetor u no argumento de w . Mas, de acordo com o coment´ario sobre redu¸c˜ao no n´ umero de permuta¸c˜oes distingu´ıveis 1.2.22, tais termos s˜ao nulos, porque v · ci ∈ <. Portanto, usando novamente a defini¸c˜ao 1.2.12 tem-se det(1 + u ⊗ v)w(c1 , . . . , cn ) = P w(c1 , . . . , cn ) + ni=1 w(c1 , . . . , (u ⊗ v)(ci ), . . . , cn ) = (1 + tr(u ⊗ v))w(c1 , . . . , cn ), onde au ´ltima igualdade prov´em do uso da defini¸c˜ao de tra¸co de transforma¸c˜ao linear 1.2.26. A utiliza¸c˜ao do terceiro item do coment´ario 1.2.29, referente a propriedades de tra¸cos, mostra que det(1 + u ⊗ v)w(c1 , . . . , cn ) = (1 + u · v)w(c1 , . . . , cn ).

32


1.2.10

Produto Interno, Invers˜ ao, Ortogonalidade e Grupo de Tensores de Segunda Ordem

Defini¸c˜ ao 1.2.27 (Produto Interno de Tens. de Segunda Ordem) O produto interno de dois tensores de segunda ordem (A, B) ∈ V ⊗ V ´e, por defini¸c˜ao, A · B = tr(AB T ). A fun¸c˜ao · : (V ⊗ V )2 → < ´e bilinear, sim´etrica e de defini¸c˜ao positiva, qualidades estas mostradas, para fun¸c˜oes, na defini¸c˜ao de produto interno de vetores 1.2.5. Coment´ ario 1.2.31 (Propriedades do Produto Interno Tensorial) Pode-se facilmente mostrar que: 1. 1 · A = trA, 2. A · B = B · A, 3. para (A, B, C) ∈ V ⊗ V tem-se (AB) · C = B · (AT C) = A · (CB T ), 4. (v ⊗ u) · A = v · A(u) e 5. se (ci )ni=1 for uma base de V , ent˜ao (ci ⊗ cj ) · (ci ⊗ cj ) = (ci ⊗ cj ) · (ci ⊗ cj ) = n2 . Defini¸c˜ ao 1.2.28 (Norma de Tensor de Segunda Ordem) A norma de um ten√ √ sor de segunda ordem A ∈ V ⊗V ´e, por defini¸c˜ao, |A| = A · A = trAAT . Mostra-se facilmente que, numa base ortonormal, |A| =

q

(A1 1 )2 + (A1 2 )2 + . . . + (An n )2 , enquanto

q

que, em qualquer base, |A| = (A1 1 )2 + (A1 2 )2 + . . . + (Ann )2 (analogamente para a representa¸c˜ao contravariante e para a outra representa¸c˜ao mista). Nota¸c˜ ao 1.2.6 (Aplica¸c˜ ao de Tensor a Tensor) Sejam M e N dois tensores de ordem k = 0, 1, 2, 3 . . .. O conceito de aplica¸c˜ao do tensor M ao tensor N ´e grafado M [N ] e difere do conceito de composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem apresentado na defini¸c˜ao 1.2.19. Por exemplo, para h ∈ < (escalar, ou tensor de ordem zero), (v, u, w) ∈ V 2

(vetores, ou tensores de primeira ordem), (A, B) ∈ V ⊗ V ≡⊗ V (tensores de segunda k≥2

ordem), T ∈ ⊗ V (tensor de ordem k ≥ 2), tem-se: 1. M [h] = hM , ou seja, a aplica¸c˜ao de um tensor de ordem k = 0, 1, 2, 3 . . . a um escalar ´e o produto deste escalar pelo tensor considerado; 2. v[u] = v · u, conforme a defini¸c˜ao de produto interno de vetores 1.2.5; 3. T [u] = T (u), conforme mostrado a seguir; 4. (v ⊗ u)[w] = (v ⊗ u)(w) = (u · w)v, conforme a defini¸c˜ao de tensor simples 1.2.12; 5. A[B] = A · B = tr(AB T ), conforme a defini¸c˜ao de produto interno de tensores de segunda ordem 1.2.27 e 6. (v ⊗ u)[B] = (v ⊗ u) · B = v · Bu, conforme o quarto item do coment´ario sobre propriedades do produto interno tensorial 1.2.31.

33


O item 4 ´e um caso especial do item 3, v´alido quando a transforma¸c˜ao linear for um tensor simples, ou seja, quando T = v ⊗ u. Al´em disto, o item 6 ´e um caso especial do item 5, v´alido quando A = v ⊗ u. Para explicar o item 3, considere os componentes de T e de u associados `as suas respectivas bases. Supondo que i seja o indicador (´ındice ou super´ındice) mais `a direita nos componentes de T e que j seja o indicador de u, cada componente de T (u) ter´a todos os indicadores dos componentes de T , salvo o u ´ltimo `a direita e ser´a a soma dos produtos dos componentes de T e u que apresentam i = j. Logo, como a ordem de T ´e k ≥ 2, a ordem de T (u) ´e k − 1. Coerentemente com o exposto na defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao n-linear 1.2.10, isto indica que a aplica¸c˜ao de T a um argumento formado por k − 1 vetores produz como imagem um vetor. Por isto, a representa¸c˜ao matricial de A(u) ´e a matriz coluna resultante do produto matricial elementar entre a matriz quadrada que representa A e a matriz coluna que representa u. Por outro lado, embora a representa¸c˜ao matricial da composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem, simbolizada A ◦ B ou AB conforme sua defini¸c˜ao 1.2.19, tamb´em seja o resultado de um produto matricial elementar, ela n˜ao ´e simbolizada A(B) e, conforme mostra a pen´ ultima linha, A[B] tem outro significado. Ou seja, a composi¸c˜ao A ◦ B n˜ao ´e a aplica¸c˜ao de A a B, mas sim a aplica¸c˜ao de B a u, seguida da aplica¸c˜ao de A ao vetor disto resultante, logo (A ◦ B)(u) = A(B(u)) = (AB)(u). O anterior item 1 mostra que a aplica¸c˜ao de um tensor a um escalar (tensor de ordem 0) n˜ao reduz a ordem do tensor. Os itens 2, 3 e 4 mostram que a aplica¸c˜ao de um tensor a um vetor (tensor de ordem 1) reduz em uma unidade a ordem do tensor. Os itens 5 e 6 indicam que a aplica¸c˜ao de um tensor a um tensor de ordem 2 reduz em duas unidades a ordem do tensor. Esta ´e a regra geral envolvida no conceito de aplica¸c˜ao de tensor a tensor. Evidentemente, n˜ao se pode aplicar um tensor a outro cuja ordem seja superior `aquela do primeiro. Defini¸c˜ ao 1.2.29 (Tensor Inverso de Segunda Ordem) Seja o tensor de segunda ordem A ∈ V ⊗V e seja A−1 ∈ V ⊗V |AA−1 = A−1 A = 1 , sendo A−1 u ´nico e denominado −1 inverso de A. Quando A existir, A ser´a denominado invert´ıvel ou n˜ ao singular e, no caso contr´ario, A ser´a chamado singular. De acordo com os itens 2 e 3 do coment´ario 1.2.27, AA−1 = A−1 A = 1 implica em det(A−1 ) = (det A)−1 , logo A ´e invert´ıvel somente se det A 6= 0. Demonstra-se, por´em, que A ´e invert´ıvel se e somente se det A 6= 0. Coment´ ario 1.2.32 (Propriedades do Tensor Inverso) Se, de acordo com a defini¸c˜ao de tensor inverso 1.2.29, A e B forem invert´ıveis, demonstra-se que: 1. (AB)−1 = B −1 A−1 e 2. (A−1 )T = (AT )−1 = A−T , onde A−T ´e o tensor inverso transposto do tensor A. Nota¸c˜ ao 1.2.7 (Subespa¸co Invert´ıvel) Define-se, em V ⊗ V , o subespa¸co Inv (V ) = {F ∈ V ⊗ V |F ´e invert´ıvel}. Defini¸c˜ ao 1.2.30 (Tensor Ortogonal de Segunda Ordem) O tensor de segunda ordem Q ∈ V ⊗ V ´e denominado uma transforma¸c˜ao linear ortogonal se ele preservar

34


o produto interno em V , isto ´e, se, ∀(u, v) ∈ V , ocorrer Q(u) · Q(v) = u · v. De acordo com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17, Q(u) · Q(v) = v · QT Q(u), o que indica, por causa da simetria do produto interno de vetores apresentada na sua defini¸c˜ao 1.2.5, que QT Q = 1 ou, considerando a defini¸c˜ao de tensor inverso de segunda ordem 1.2.29, que QT = Q−1 . Coment´ ario 1.2.33 (Propriedades de Tensor Ortogonal) Demonstra-se que: 1. | det Q| = 1, sendo a transforma¸c˜ao ortogonal pr´ opria se det Q = 1 e impr´ opria se det Q = −1, 2. |Q(v)| = |v|, logo a transforma¸c˜ao ortogonal preserva a norma do vetor, de acordo sua defini¸c˜ao 1.2.6 e 3. θ(Q(v), Q(u)) = θ(v, u), logo a transforma¸c˜ao ortogonal preserva o ˆangulo entre os vetores, de acordo com sua defini¸c˜ao 1.2.7. 4. Se B = QAQT (ou se A = QT BQ), de acordo com o item: (a) 3 do coment´ario 1.2.27, sobre propriedades de determinantes - parte I, tem-se det B = det(QAQT ) = det(QT QA) = det(1 A) = det A. Considerando o coment´ario 1.2.26, sobre a rela¸c˜ao entre determinante de transforma¸c˜ao linear e de matriz, igualdade an´aloga a det B = det A pode ser escrita para qualquer uma das quatro poss´ıveis representa¸c˜oes matriciais de A e B, desde que, evidentemente, as representa¸c˜oes de A e B sejam do mesmo tipo. (b) 5 do coment´ario 1.2.29, sobre propriedades de tra¸cos, tem-se trB = tr(QAQT ) = tr(QT QA) = tr(1 A) = trA. Considerando o coment´ario 1.2.28, sobre a rela¸c˜ao entre tra¸co de transforma¸c˜ao linear e de matriz, igualdade an´aloga a trB = trA pode ser escrita para qualquer uma das quatro poss´ıveis representa¸c˜oes matriciais de A e B, desde que, evidentemente, as representa¸c˜oes de A e B sejam do mesmo tipo. Defini¸c˜ ao 1.2.31 (Grupo de Tensores de Segunda Ordem) O conjunto G de tensores de segunda ordem ser´a denominado um grupo quando ele apresentar as seguintes propriedades, onde o produto AB n˜ao necessariamente indica a composi¸c˜ao, conforme sua defini¸c˜ao 1.2.19: 1. se (A, B) ∈ G ent˜ao AB ∈ G, 2. se (A, B, C) ∈ G ent˜ao A(BC) = (AB)C, 3. ∃ 1 ∈ G tal que, ∀A ∈ G, tenha-se 1 A = A1 = A, onde 1 ´e o tensor identidade, conforme sua defini¸c˜ao 1.2.16 e 4. ∀A ∈ G ∃ A−1 tal que AA−1 = A−1 A = 1 . Nota¸c˜ ao 1.2.8 (Grupos Especiais) Os grupos abaixo citados possuem representa¸c˜oes espec´ıficas:

35


1. Considerando o caso espec´ıfico em que, na defini¸c˜ao de grupo de tensores de segunda ordem 1.2.31, AB indique a composi¸c˜ao A ◦ B, percebe-se que, usando a nota¸c˜ao para subespa¸co invert´ıvel 1.2.7, Inv (V ) ´e um grupo. Por isto, Inv (V ) ´e tamb´em denominado grupo linear geral de V , ou GL(V ). 2. Considerando a defini¸c˜ao de tensor ortogonal de segunda ordem 1.2.30, o conjunto O (V ) = {Q ∈ V ⊗ V | Q ´e ortogonal} forma um grupo denominado grupo ortogonal de V . 3. O+ (V ) = {Q ∈ O (V )| det Q = 1}, onde o conjunto O+ (V ) forma um grupo porque o elemento identidade do conjunto O (V ) pertence a este seu subconjunto. O subconjunto de O (V ) cujos elementos apresentam o valor −1 como determinante n˜ao formam um grupo, porque n˜ao h´a elemento identidade neste subconjunto. O subgrupo O+ (V ) do grupo O (V ) ´e denominado grupo ortogonal pr´ oprio, ou grupo rotacional de V , porque seus elementos s˜ao rota¸c˜oes. 4. U (V ) = {T ∈ V ⊗ V | | det T | = 1}, denominado grupo unimodular de V , porque seus elementos s˜ao chamados tensores de segunda ordem unimodulares. 5. SL(V ) = {T ∈ V ⊗ V | det T = 1}, denominado grupo linear especial de V . Evidentemente, tem-se ( +

O (V ) ⊂

1.2.11

SL(V ) O (V )

)

⊂ U (V ) ⊂ GL(V ) .

Elemento de Volume

Defini¸c˜ ao 1.2.32 (Classe e Base de Orienta¸c˜ ao Positiva) Duas fun¸c˜oes alternann tes n-lineares n˜ao triviais w1 : V → < e w2 : V n → < (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23) s˜ao ditas equivalentes se w1 (c1 , . . . , cn ) = λw2 (c1 , . . . , cn )|λ ∈ <, λ > 0 e, conforme o coment´ario 1.2.23, sobre fun¸c˜ao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial - parte I, (ci )ni=1 ´e uma base de V tal que w2 (c1 , . . . , cn ) 6= 0. De acordo com o coment´ario 1.2.24, sobre fun¸c˜ao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial - parte II, a u ´nica outra possibilidade existente, al´em de λ > 0, ´e λ < 0. A rela¸c˜ ao de equivalˆ encia w1 (c1 , . . . , cn ) = λw2 (c1 , . . . , cn )|λ ∈ < e λ > 0 separa o conjunto das fun¸c˜oes alternantes n-lineares n˜ao triviais w em duas classes. De acordo com a teoria de conjuntos, toda rela¸c˜ao de equivalˆencia produz uma parti¸c˜ao, do conjunto a que ela se aplica, em subconjuntos chamados classes. Classes n˜ao se interceptam, a uni˜ao delas coincide com o conjunto que as cont´em e os elementos que formam cada classe s˜ao ditos equivalentes entre si. No presente caso, os elementos s˜ao as fun¸c˜oes w, as classes s˜ao duas e s˜ao denominadas: classe com orienta¸c˜ ao positiva de fun¸c˜oes w de V , grafada ∆, que cont´em fun¸c˜oes alternantes n-lineares n˜ao triviais w cujos valores w(c1 , . . . , cn ) apresentam todos eles o mesmo sinal (positivo ou negativo, de acordo com qual for a espec´ıfica base (ci )ni=1 utilizada) e classe com orienta¸c˜ ao oposta de fun¸c˜oes w de V , grafada ∆oposta , que cont´em fun¸c˜oes alternantes n-lineares n˜ao triviais w cujos valores w(c1 , . . . , cn ) tamb´em apresentam, todos eles, o mesmo sinal, o qual ´e: 36


negativo no caso de, para a mesma base (ci )ni=1 , a classe ∆ apresentar sinal positivo, ou positivo no caso de, para a mesma base (ci )ni=1 , a classe ∆ apresentar sinal negativo. Note que metade das fun¸c˜oes w encontra-se em cada uma das duas classes. Se (ci )ni=1 for uma base de V tal que, ∀w ∈ ∆, tenha-se w(c1 , . . . , cn ) > 0, esta ser´a uma base orientada positivamente. Portanto, se (ci )ni=1 n˜ao for orientada positivamente, ∀w ∈ ∆ ter-se-´a w(c1 , . . . , cn ) < 0. Al´em disto, se (ci )ni=1 for orientada positivamente, ∀w ∈ ∆oposta ter-se-´a w(c1 , . . . , cn ) < 0. Logo, se esta base n˜ao for orientada positivamente, ∀w ∈ ∆oposta ter-se-´a w(c1 , . . . , cn ) > 0. Evidentemente, se forem trocados entre si os conjuntos de fun¸c˜oes arbitrariamente rotulados ∆ e ∆oposta , as bases de orienta¸c˜ao positiva passar˜ao a ser as bases n˜ao orientadas positivamente e vice-versa. Defini¸c˜ ao 1.2.33 (Transforma¸c˜ ao Linear Orienta¸c˜ ao Preservante) Seja a transforma¸c˜ao linear, no caso tensor de segunda ordem, A ∈ V ⊗ V e seja (v1 , . . . , vn ) ∈ V . A transforma¸c˜ao A ser´a orienta¸c˜ ao preservante se, ∀w ∈ ∆, ocorrer que Aw ∈ ∆|Aw (v1 , . . . , vn ) = w(A(v1 ), . . . , A(vn )), onde ∆ ´e a classe das fun¸c˜oes alternantes n-lineares n˜ao triviais com orienta¸c˜ao positiva, conforme a defini¸c˜ao de classe e base de orienta¸c˜ao positiva 1.2.32. Evidentemente, se A for orienta¸c˜ao preservante, ent˜ao ∀w ∈ ∆oposta ter-se-´a que Aw ∈ ∆oposta |Aw (v1 , . . . , vn ) = w(A(v1 ), . . . , A(vn )). De acordo com a defini¸c˜ao de determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24, Aw (v1 , . . . , vn ) = (det A)w(v1 , . . . , vn ). Logo, a transforma¸c˜ao A ser´a orienta¸c˜ao preservante se e somente se det A > 0. Por exemplo, sejam (ci )ni=1 e (¯ci )ni=1 duas bases do espa¸co V e seja a transforma¸c˜ao linear, no caso tensor de segunda ordem A, tal que c¯i = A(ci ), para i = 1, . . . , n, logo (A(c1 ), . . . , A(cn )) = (¯c1 , . . . , c¯n ). Se det A > 0 ou det A < 0, as bases (ci )ni=1 e (¯ci )ni=1 ter˜ao respectivamente orienta¸c˜ ao igual ou oposta. Defini¸c˜ ao 1.2.34 (Fun¸c˜ ao e Tensor Elemento de Volume) Seja V um espa¸co vetorial tridimensional, seja (ei )3i=1 uma base ortonormal de V orientada positivamente e seja uma fun¸c˜ao alternante trilinear n˜ao trivial com orienta¸c˜ao positiva w : V 3 → <, logo w ∈ ∆, de acordo com a defini¸c˜ao de classe e base de orienta¸c˜ao positiva 1.2.32. Impondo w : (e1 , e2 , e3 ) 7→ 1, a fun¸c˜ao ser´a bem definida, representada por e e denominada elemento de volume. De fato, devido `a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23, a imposi¸c˜ao e : (e1 , e2 , e3 ) 7→ 1 implica em e(e1 , e2 , e3 ) = 1, e(e2 , e3 , e1 ) = 1, e(e3 , e1 , e2 ) = 1, e(e3 , e2 , e1 ) = −1, e(e1 , e3 , e2 ) = −1 e e(e2 , e1 , e3 ) = −1, onde todas as permuta¸c˜oes pares (defini¸c˜ao de permuta¸c˜ao 1.2.22) s˜ao positivas porque e ∈ ∆. A mesma defini¸c˜ao 1.2.23 indica, tamb´em, que o valor da imagem da fun¸c˜ao e ser´a nulo sempre que, no seu argumento, estiver repetido um dos trˆes vetores da base (ei )3i=1 . Por outro lado, a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao n-linear 1.2.10 mostra que, dadas as informa¸c˜oes anteriores, a imagem de e(u, v, w) ´e bem definida ∀(u, v, w) ∈ V . Logo, para definir completamente uma fun¸c˜ao n-linear alternante n˜ao trivial basta informar um u ´nico elemento da fun¸c˜ao,

37


tal como faz a imposi¸cËœao e : (e1 , e2 , e3 ) 7→ 1. Conforme colocado na defini¸cËœao de tensor de ordem k, numerada 1.2.20, a fun¸cËœao elemento de volume, e, ´e a transforma¸cËœao escalar correspondente ao tensor elemento de volume, e, de terceira ordem, o qual pertence ao espa¸co de produto tensorial V ⊗ V ⊗ V , 3

ou seja, e ∈⊗ V . Um tensor de terceira ordem pode ser representado em termos dos componentes associados a qualquer uma de suas 23 = 8 bases. Mas, de acordo com o coment´ario 1.2.7, sobre base ortonormal dual, as oito bases sËœao iguais entre si, porque P P P a base considerada ´e ortonormal. Tem-se, entËœao, e = 3i=1 3j=1 3i=k i j k ei ⊗ ej ⊗ ek , onde i j k = e(ei , ej , ek ) ´e um dos 33 = 27 componentes do tensor de terceira ordem 3 3 3 e, associados `a base (ei ⊗ ej ⊗ ek )i=1 ca do j=1 k=1 . De acordo com a primeira senten¸ par´agrafo anterior, 1. 1 2 3 = 2 3 1 = 3 1 2 = 1 [permuta¸cËœoes pares de (1,2,3)], 2. 3 2 1 = 1 3 2 = 2 1 3 = −1 [permuta¸cËœoes ´Ĺmpares de (1,2,3)] e 3. sËœao nulos os demais 21 componentes (algarismo 1, 2 ou 3 repetido no ´Ĺndice de ). Por causa destes valores assumidos, i j k ´e denominado s´Ĺmbolo de permuta¸cËœ ao. Ainda de acordo com a defini¸cËœao 1.2.20, os 27 valores do s´Ĺmbolo de permuta¸cËœao podem ser ordenados de modo a formar uma matriz c´ ubica com um valor no centro do cubo, um valor no centro de cada uma das seis faces, um valor no meio de cada uma das doze arestas e um valor em cada um dos oito v´ertices. Entre todos estes valores, apenas nËœao sËœao nulos aqueles localizados no meio de seis arestas. Os seis pontos correspondentes formam um hex´agono regular num plano perpendicular `a diagonal do cubo que passa pelos v´ertices onde se localizam 1 1 1 e 3 3 3 . Se o hex´agono for substitu´Ĺdo por dois triˆangulos equil´ateros cujos centros coincidam com o centro do hex´agono, formando assim uma figura com forma de estrela de seis pontas, o triˆangulo que contiver 1 2 3 corresponder´a `as permuta¸cËœoes pares. Coment´ ario 1.2.34 (Propriedades do S´Ĺmbolo de Permuta¸cËœ ao) Sejam a, b e c trˆes pares ordenados bem determinados, sendo cada elemento do par escolhido entre os trˆes algarismos 1, 2 e 3. Evidentemente, existem 3! = 6 poss´Ĺveis ordenamentos do conjunto {a, b, c}, constitu´Ĺdo por estes trˆes pares. Sejam, tamb´em, os trˆes pares ordenados (i, l), (j, m), (k, n), onde i, j, k, l, m e n sËœao ´Ĺndices do s´Ĺmbolo de permuta¸cËœao. Para estes pares de ´Ĺndices, s´o ´e permitido o ordenamento dado por ((i, l), (j, m), (k, n)). O conjunto ordenado ((i, l), (j, m), (k, n)) poder´a ser igualado a qualquer uma das seis poss´Ĺveis permuta¸cËœoes do ordenamento do conjunto {a, b, c}. Analogamente, suponha que s´o existam os pares a e b, considere que os dois pares ordenados de ´Ĺndices (j, m) e (k, n) sejam sempre mantidos na ordem ((j, m), (k, n)) e que este conjunto ordenado possa ser igualado a qualquer uma das duas poss´Ĺveis permuta¸cËœoes do ordenamento de {a, b}. Ainda, considere apenas o par a e que (k, n) possa ser igualado a a. De acordo com a defini¸cËœao de fun¸cËœao e tensor elemento de volume 1.2.34, para os 33 = 27 componentes i j k do tensor e demonstra-se que: 1. Existem 33 Ă—33 = 36 = 729 poss´Ĺveis produtos i j k l m n , entre os quais 6Ă—6/2 = 18 iguais a 1, outros 18 iguais a −1 e os restantes 693 nulos. Os 18 produtos iguais a 1 sËœao obtidos igualando ((i, l), (j, m), (k, n)) `as 6 permuta¸cËœoes de cada um dos 38


trˆes conjuntos distintos {a, b, c}1 , {a, b, c}2 e {a, b, c}3 , os quais sËœao os u ´nicos que nËœao anulam o produto nem produzem resultado negativo. Por exemplo, podese considerar {a, b, c}1 = {(1, 1), (2, 2), (3, 3)}, {a, b, c}2 = {(1, 2), (2, 3), (3, 1)} e {a, b, c}3 = {(1, 3), (2, 1), (3, 2)}. Os 18 produtos iguais a −1 sËœao obtidos igualando ((i, l), (j, m), (k, n)) `as 6 permuta¸cËœoes de cada um dos trˆes conjuntos distintos {a, b, c}4 , {a, b, c}5 e {a, b, c}6 , os quais sËœao os u ´nicos que nËœao anulam o produto nem produzem resultado positivo. Por exemplo, pode-se considerar {a, b, c}4 = {(1, 3), (2, 2), (3, 1)}, {a, b, c}5 = {(1, 1), (2, 3), (3, 2)} e {a, b, c}6 = {(1, 2), (2, 1), (3, 3)}. 2. Existem 32 Ă— 32 = 34 = 81 somat´orios de produtos 3i=1 i j k i m n = δj m δk n − δj n δk m , entre os quais 6 iguais a 1, outros 6 iguais a −1 e os restantes 69 nulos. Os 6 somat´orios de produtos iguais a 1 sËœao obtidos igualando ((j, m), (k, n)) `as 2 permuta¸cËœoes de cada um dos trˆes conjuntos distintos {a, b}1 , {a, b}2 e {a, b}3 , os quais sËœao os u ´nicos que nËœao anulam o somat´orio de produtos nem produzem resultado negativo. Por exemplo, pode-se considerar {a, b}1 = {(1, 1), (2, 2)}, {a, b}2 = {(1, 1), (3, 3)} e {a, b}3 = {(2, 2), (3, 3)}. Os 6 somat´orios de produtos iguais a −1 sËœao obtidos igualando ((j, m), (k, n)) `as 2 permuta¸cËœoes de cada um dos trˆes conjuntos distintos {a, b}4 , {a, b}5 e {a, b}6 , os quais sËœao os u ´nicos que nËœao anulam o somat´orio de produtos nem produzem resultado positivo. Por exemplo, pode-se considerar {a, b}4 = {(1, 2), (2, 1)}, {a, b}5 = {(1, 3), (3, 1)} e {a, b}6 = {(2, 3), (3, 2)}. P

3. Existem 32 = 9 duplos somat´orios de produtos 3i=1 3j=1 i j k i j n = 2δk n , entre os quais 3 iguais a 2 e os restantes 6 nulos. Os 3 duplos somat´orios de produtos iguais a 2 sËœao obtidos igualando (k, n) a cada um dos trˆes pares ordenados distintos a1 , a2 e a3 , os quais sËœao os u ´nicos que nËœao anulam o duplo somat´orio de produtos (resutado negativo ´e imposs´Ĺvel). Por exemplo, pode-se considerar a1 = (1, 1), a2 = (2, 2) e a3 = (3, 3). P

4. Existe 1 tr´Ĺplice somat´orio de produtos

P3

i=1

P3

j=1

P

P3

k=1 i j k i j k

= 6.

Note que resultado an´alogo ao apresentado no item 2 seria obtido se o ´Ĺndice repetido fosse o segundo ou o terceiro. Al´em disto, resultado an´alogo ao apresentado no item 3 seria obtido se os ´Ĺndices repetidos fossem o primeiro e o terceiro, ou o segundo e o terceiro. Coment´ ario 1.2.35 (Propriedades dos Componentes do Tensor e) Seja V um espa¸co vetorial tridimensional, seja (ei )3i=1 uma base ortonormal de V orientada positivamente, conforme a defini¸cËœao de classe e base de orienta¸cËœao positiva 1.2.32 e seja (ci )3i=1 outra base do mesmo espa¸co. Seja A ∈ V ⊗ V tal que ci = A(ei ), para i = 1, 2, 3, logo (c1 , c2 , c3 ) = (A(e1 ), A(e2 ), A(e3 )), portanto seja A uma transforma¸cËœao linear da base (ei )3i=1 para a base (ci )3i=1 , o que indica que A ´e um tensor de segunda ordem. De acordo com o coment´ario 1.2.25, sobre fun¸cËœao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial Parte III, se e somente se det A 6= 0 tem-se que, se (ei )3i=1 for uma base de V tal que w(e1 , e2 , e3 ) 6= 0, entËœao (ci )3i=1 ser´a uma base de V tal que w(c1 , c2 , c3 ) 6= 0. Em termos dos seus componentes covariantes associados `a base produto (ci ⊗ cj ⊗ 3 3 ck )3i=1 j=1 alogo ao que se encontra na defini¸cËœao de componente associk=1 (conceito an´ ado de tensor de segunda ordem 1.2.15), o tensor tridimensional de terceira ordem e, 39


apresentado na defini¸cËœao de fun¸cËœao e tensor elemento de volume 1.2.34, pode ser escrito e = ei j k ci ⊗ cj ⊗ ck . Por outro lado, em termos da fun¸cËœao alternante trilinear nËœao trivial com orienta¸cËœao positiva e : V 3 → < correspondente a este tensor, denominada fun¸cËœao elemento de volume e tamb´em apresentada na defini¸cËœao 1.2.34, tem-se ei j k = e(ci , cj , ck ) = e(A(ei ), A(ej ), A(ek )) = (det A)e(ei , ej , ek ) = (det A) i j k , onde a pen´ ultima igualdade ´e devida `a defini¸cËœao de determinante de transforma¸cËœao linear 1.2.24 eau ´ltima novamente utiliza a defini¸cËœao 1.2.34. De acordo com o coment´ario 1.2.6, sobre as fun¸cËœoes gi j e g i j , tem-se gi j = ci ¡ cj = A(ei ) ¡ A(ej ) = ej ¡ AT A(ei ) = (AT A)j i = (AT A)i j , onde usou-se as defini¸cËœoes de transforma¸cËœao linear transposta 1.2.17 e de composi¸cËœao de tensores de segunda ordem 1.2.19 na terceira igualdade, o coment´ario 1.2.10 sobre c´alculo de componente associado de tensor de segunda ordem na pen´ ultima igualdade e o fato de que o tensor de segunda T ordem (A A) ´e sim´etrico, conforme a defini¸cËœao de tensores sim´etrico e antissim´etrico 1.2.18, na u ´ltima igualdade. Tem-se, entËœao, det[gi j ] = det[(AT A)i j ] = (det[A]i j )2 = (det A)2 , onde a pen´ ultima igualdade ´e devida ao terceiro e ao quarto item do coment´ario 1.2.27, sobre propriedades de determinantes - parte I, enquanto que a u ´ltima deve-se ao coment´ario 1.2.26, sobre determinante de transforma¸cËœao linear e de matriz. √ Definindo g = det[gi j ], tem-se det A = Âą g. Para os componentes covariantes do elemento de volume obt´em-se, entËœao, √ ei j k = Âą g i j k , onde, de acordo com a defini¸cËœao de transforma¸cËœao linear orienta¸cËœao preservante 1.2.33, o sinal positivo ocorrer´a quando A for orienta¸cËœao preservante. Para os componentes contravariantes do elemento de volume obt´em-se √ √ ei j k = Âą( g)−1 i j k = Âą( g)−1 i j k , √ onde a primeira igualdade deve-se a que i j k = Âą g ei j k , porque, de acordo com a defini¸cËœao de matrizes de transforma¸cËœao 1.2.21, se ck = A(ek ), entËœao ek = AT (ck ) e v.v.. J´a a segunda igualdade resulta da considera¸cËœao de que i j k = i j k , de acordo com a j´a mencionada defini¸cËœao 1.2.34. As duas u ´ltimas expressËœoes destacadas mostram que os quatro itens do coment´ario 1.2.34, sobre propriedades do s´Ĺmbolo de permuta¸cËœao, podem ser escritos em termos dos componentes covariantes e contravariantes do tensor elemento de volume. Em especial, 1. no primeiro item usa-se ei j k el m n no lugar de i j k l m n , 2. no segundo item usa-se = δj m δk n − δj n δk m , 3. no terceiro item usa-se 2δk n e 4. no quarto item usa-se i j k = 6.

P3

i=1

P3

i=1

P3

i=1

ei j k ei m n = δ jm δ kn − δ jn δ km no lugar de

P3

j=1

P3

j=1

ei j k ei j n = 2δ kn no lugar de

P3

k=1

P3

ei j k ei j k = 6 no lugar de

40

i=1

P3

P3

i=1 i j k i m n

P3

i=1

j=1 i j k i j n

P3

j=1

P3

=

k=1 i j k


Defini¸c˜ ao 1.2.35 (Rela¸c˜ ao entre Tensor e e Determinante) Se T ∈ V ⊗ V e T = T ij ci ⊗ cj ent˜ao, de acordo com o coment´ario 1.2.26, sobre rela¸c˜ao entre determinante de transforma¸c˜ao linear e de matriz, tem-se det T = det[T ij ]. Usando o primeiro item ao final do coment´ario 1.2.35, sobre propriedades dos componentes do tensor elemento de volume e, demonstra-se ent˜ao que, para os componentes contravariantes el m n e covariantes ei j k deste tensor, tem-se det T =

1 lmn e ei j k T i l T j m T k n . 6

J´a os seis tipos de componentes mistos do tensor e, respectivamente referentes a cada uma das 23 − 2 bases mistas, n˜ao apresentam rela¸c˜oes simples com det T .

1.2.12

Produto Externo e Produto Vetorial

Defini¸c˜ ao 1.2.36 (Produto Externo de Vetores) ∀(v, u) ∈ V , o produto externo de v por u, notado v∧u, ´e definido por v∧u = v⊗u−u⊗v. Esta defini¸c˜ao mostra que o argumento da fun¸c˜ao produto externo s˜ao dois vetores, logo seu dom´ınio ´e V 2 , enquanto que a imagem desta fun¸c˜ao ´e uma transforma¸c˜ao linear, resultante da subtra¸c˜ao de dois produtos tensoriais (defini¸c˜ao 1.2.12 de produto tensorial de vetores ou tensor simples), a qual pertence a V ⊗ V . Por isto, ∧ : V 2 → V ⊗ V . A partir desta defini¸c˜ao pode-se facilmente demonstrar que a imagem de ∧ ´e um tensor de segunda ordem (defini¸c˜ao de tensor de segunda ordem 1.2.14) bilinear (defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao n-linear 1.2.10) e antissim´etrico (defini¸c˜ao de tensores sim´etrico e antissim´etrico 1.2.18). Coment´ ario 1.2.36 (Produto Externo como Base para Skw (V )) Seja a base pron n duto (ci ⊗ cj )i=1 c˜ao de espa¸co de produto tensorial 1.2.13) de V ⊗ V . Neste j=1 (defini¸ n−1 n caso, (ci ∧ cj )i=1 j=2 |i < j ser´a uma base para Skw (V ), onde usou-se a nota¸c˜ao para subespa¸cos sim´etrico e antissim´etrico 1.2.5. Foi imposto i < j porque os demais elementos n n de (ci ∧ cj )i=1 ao nulos, ou tˆem mesmo m´odulo mas sinal oposto a elementos j=1 ou s˜ n−1 n inclu´ıdos em (ci ∧ cj )i=1 j=2 |i < j. Como consequˆencia, tem-se que, de acordo com o coment´ario 1.2.9 (dimens˜ao de espa¸co de transforma¸c˜ao linear), se dim V = n, ent˜ao n−1 n dim V ⊗V = n2 e dim Skw (V ) = n(n−1)/2, porque dim(ci ∧cj )i=1 j=2 |i < j = n(n−1)/2. De fato, o n´ umero de elementos desta base ´e igual `a soma dos elementos da progress˜ao linear 1, 2, 3, . . . , (n − 1), cujo valor ´e n(n − 1)/2. Em particular, para dim V = 3 tem-se dim Skw (V ) = 3. n Para mostrar que (ci ∧cj )n−1 e uma base de Skw (V ) considere a decomposi¸c˜ao i=1 j=2 |i < j ´ W = W i j ci ⊗ cj = W j i cj ⊗ ci , onde, de acordo com a defini¸c˜ao de componente associado de tensor de segunda ordem 1.2.15, a primeira igualdade ´e v´alida para qualquer tensor desta ordem, enquanto que a segunda igualdade prov´em da troca entre os indicadores i e j. De acordo com o coment´ario 1.2.17, sobre transposi¸c˜ao de tensores sim´etrico e antissim´etrico, para W antissim´etrico tem-se W i j = −W j i , portanto W = (W i j ci ⊗ cj + W j i cj ⊗ ci )/2 = (W i j ci ⊗ cj − W i j cj ⊗ ci )/2 = W i j ci ∧ cj / 2 = W i j ci ∧ cj |i < j, onde a pen´ ultima igualdade prov´em da defini¸c˜ao de produto externo de vetores 1.2.36 e a u ´ltima ij ji ii do fato de que W ci ∧ cj = W cj ∧ ci e W ci ∧ ci = 0. Note que o duplo somat´orio ´e sobre todos os i e j em W i j ci ∧ cj / 2, mas apenas sobre i < j em W i j ci ∧ cj |i < j. 41


Defini¸c˜ ao 1.2.37 (Fun¸c˜ ao Linear Dualidade) Seja tridimensional o espa¸co vetorial V . Como, de acordo com o coment´ario 1.2.36, sobre produto externo como base para Skw (V ), o espa¸co Skw (V ) tamb´em ´e tridimensional, ∀(u, v, w) ∈ V define-se a fun¸c˜ ao linear dualidade τ : Skw (V ) → V |τ (u ∧ v) · w = e(u, v, w). Em palavras, se a fun¸c˜ao τ for aplicada `a transforma¸c˜ao bilinear u ∧ v, denominada produto externo de vetores de acordo com a sua defini¸c˜ao 1.2.36 e pertencente ao espa¸co Skw (V ), produzir´a como imagem um vetor pertencente ao espa¸co V . Este vetor ser´a tal que seu produto interno, com qualquer outro vetor w ∈ V , produzir´a um escalar igual ao escalar obtido quando a fun¸c˜ao elemento de volume do espa¸co V , grafada e de acordo com a sua defini¸c˜ao 1.2.34, for aplicada ao conjunto ordenado dos trˆes vetores (u, v, w) ∈ V . A fun¸c˜ao τ tem inversa, ou seja, a cada tensor antissim´etrico corresponde um e apenas um vetor, vetor este ao qual corresponde um e apenas um tensor antissim´etrico. Note que, como e ´e uma fun¸c˜ao trilinear alternante n˜ao trivial, de acordo com o coment´ario 1.2.23, sobre fun¸c˜ao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial - parte I, se os vetores u, v e w n˜ao forem linearmente independentes entre si, ent˜ao e(u, v, w) = 0. Isto ocorrer´a sempre que w for uma combina¸c˜ao linear de u e v. Mas ocorrer´a, tamb´em, sempre que u e v forem colineares. Ali´as, neste caso ter-se-´a e(u, v, w) = 0 qualquer que seja o vetor w, logo τ (u ∧ v) · w = 0 qualquer que seja o vetor w, o que exige τ (u ∧ v) = 0 (note que, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co vetorial real 1.2.1, o primeiro 0 ´e o escalar zero, enquanto que o segundo simboliza vetor nulo). Por outro lado, sempre que os vetores u, v e w forem linearmente independentes entre si, eles formar˜ao uma base (ci , cj , ck ) do espa¸co vetorial tridimensional V . Neste caso, o tensor e, tamb´em apresentado na defini¸c˜ao 1.2.34, apresentar´a componentes associados `as bases produto do espa¸co V ⊗ V ⊗ V provenientes desta base de V . Aos componentes covariantes e contravariantes poder´a ser aplicado o conte´ udo do coment´ario 1.2.35, sobre propriedades dos componentes do tensor e. Nota¸c˜ ao 1.2.9 (Vetor Associado a Tensor Antissim´ etrico) Seja o tensor antissim´etrico W ∈ Skw (V ), de acordo com sua defini¸c˜ao 1.2.18 e com a nota¸c˜ao para subespa¸cos sim´etrico e antissim´etrico 1.2.5. Seja, tamb´em, a fun¸c˜ao linear dualidade τ , conforme sua defini¸c˜ao 1.2.37. Aplicando esta fun¸c˜ao a W obt´em-se o vetor associado ao tensor antissim´ etrico W , representado por < W > ≡ τ (W ) e denominado vetor axial. Para entender a raz˜ao desta denomina¸c˜ao, considere (u, v, w) ∈ V e Q ∈ V ⊗ V . Usando novamente a defini¸c˜ao 1.2.37, < Q(u) ∧ Q(v) > · Q(w) = e(Q(u), Q(v), Q(w)) = (det Q) e(u, v, w) = (det Q) < u ∧ v > · w, onde na segunda igualdade utilizou-se a defini¸c˜ao de determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24. Por´em, se Q for ortogonal (defini¸c˜ao de tensor ortogonal de segunda ordem 1.2.30) o produto interno vetorial ser´a invariante, ou seja, Q(< u ∧ v >) · Q(w) = < u ∧ v > · w. Substituindo esta u ´ltima igualdade na anterior tem-se < Q(u) ∧ Q(v) > · Q(w) = (det Q)Q(< u ∧ v >) · Q(w), ou < Q(u) ∧ Q(v) > = (det Q) Q(< u ∧ v >). Lembrando que, de acordo com o coment´ario 1.2.33, sobre propriedades de tensor ortogonal, se Q for um tensor ortogonal ent˜ao det Q = ±1, obt´em-se < Q(u) ∧ Q(v) > = ±Q(< u ∧ v >). Portanto, ainda conforme o coment´ario 1.2.33, um tensor de segunda ordem ortogonal transforma os vetores u, v e < u ∧ v > respectivamente em Q(u), Q(v) e Q(< u ∧ v >), preservando os m´odulos e os ˆangulos entre os vetores. Mas < Q(u) ∧ Q(v) > , embora tendo o mesmo m´odulo de Q(< u ∧ v >), tanto pode coincidir com este vetor como pode apontar no sentido oposto a ele, dependendo da transforma¸c˜ao ortogonal ser pr´opria ou 42


impr´opria. Como, de acordo com o coment´ario 1.2.36, sobre produto externo como base para Skw (V ), tem-se W = W i j ci ∧ cj |i < j se W ∈ Skw (V ) e, como o que foi afirmado para u, v e < u ∧ v > tamb´em ´e v´alido para cada um dos conjuntos {ci , cj , ci ∧ cj } com i < j, todo vetor < W > associado a um tensor antissim´etrico W ´e denominado vetor axial. Coment´ ario 1.2.37 (Propriedades do Vetor Axial) Seja (ci , cj , ck ) uma base de V . De acordo com a defini¸cËœao de fun¸cËœao linear dualidade 1.2.37 tem-se Ď„ (ci ∧ cj ) ¡ ck = e(ci , cj , ck ) = ei j k , onde a u ´ltima igualdade prov´em do coment´ario 1.2.35, sobre propriedades dos componentes do tensor e. Mas ei j k = ei j l c l ¡ ck , logo Ď„ (ci ∧ cj ) = ei j k ck e, usando a nota¸cËœao para vetor associado a tensor antissim´etrico 1.2.9, < ci ∧ cj >= ei j k ck . Obt´em-se, de forma an´aloga, as quatro expressËœoes 1. < ci ∧ cj >= Ď„ (ci ∧ cj ) = ei j k ck = ei j k ck , 2. < ci ∧ cj >= Ď„ (ci ∧ cj ) = ei j k ck = ei j k ck , 3. < ci ∧ cj >= Ď„ (ci ∧ cj ) = ei j k ck = ei j k ck

e

4. < ci ∧ cj >= Ď„ (ci ∧ cj ) = ei jk ck = ei j k ck , para os 23 = 8 tipos de componentes do tensor de terceira ordem e. Como, de acordo com o coment´ario 1.2.36, sobre produto externo como base para Skw (V ), tem-se W = W i j ci ∧ cj / 2 se W ∈ Skw (V ), usando a primeira equa¸cËœao destacada mostra-se que < W > = ei j k W i j ck / 2. Para uma base ortonormal (conforme a sua defini¸cËœao 1.2.9) de V , orientada positivamente (de acordo com a defini¸cËœao de classe e base de orienta¸cËœao positiva 1.2.32), a defini¸cËœao de fun¸cËœao e tensor elemento de volume 1.2.34, junto com as expressËœoes destacadas, mostram que Ď„ : e1 ∧e2 7→ e3 , Ď„ : e2 ∧e3 7→ e1 e Ď„ : e3 ∧e1 7→ e2 . Al´em disto, para tal base simplifica-se a expressËœao < W > = ei j k W i j ck / 2. Por exemplo, para o componente do vetor < W > com k = 1 tem-se < W >1 = i j 1 W i j /2 = (W 2 3 − W 3 2 )/2 = W 2 3 = W2 3 , onde, para a segunda igualdade, usou-se novamente a defini¸cËœao 1.2.34 . Analogamente, obt´em-se < W >2 = W3 1 e < W >3 = W1 2 . Para esta base especial a forma matricial do tensor antissim´etrico W , em termos dos componentes do vetor a ele associado, ´e portanto escrita 



0 < W >3 − < W >2 − < W > 0 < W >1  [Wi j ] =   . 3 < W >2 − < W >1 0 Defini¸cËœ ao 1.2.38 (Produto Vetorial) O produto vetorial de u por v, grafado uĂ—v, ´e definido por u Ă— v ≥< u ∧ v >, ∀(u, v) ∈ V . Portanto, o vetor produto vetorial de dois vetores ´e o vetor associado ao produto externo destes vetores. Logo, considerando a nota¸cËœao para vetor associado a tensor antissim´etrico 1.2.9, o vetor produto vetorial ´e um tipo especial de vetor axial, tipo este que, para o caso de u e v serem vetores de base, j´a foi utilizando no coment´ario 1.2.37, sobre propriedades do vetor axial. Considerando a defini¸cËœao de produto externo de vetores 1.2.36, percebe-se que a fun¸cËœao

43


× : V 2 → V ´e bilinear e antissim´etrica (o vetor produto vetorial passa a apontar no sentido oposto quando u e v trocam de posi¸c˜ao). De acordo com o mesmo coment´ario 1.2.37, tem-se < u ∧ v > = ei j k (u ∧ v)i j ck / 2 onde, usando de novo a defini¸c˜ao 1.2.36, (u ∧ v)i j = (u ⊗ v)i j − (v ⊗ u)i j . Mas, de acordo com o coment´ario 1.2.10, para o c´alculo de componentes associados de tensor de segunda ordem, (u ⊗ v)i j = ci · (u ⊗ v)cj . Logo, considerando a defini¸c˜ao de produto tensorial de vetores 1.2.12, (u ⊗ v)i j = (ci · u)(v · cj ). Como u = uk ck e v = v k ck tem-se, ent˜ao, (u⊗v)i j = ui v j , portanto (u∧v)i j = ui v j −uj v i , ou < u∧v > = ei j k (ui v j −uj v i )ck / 2 = (ei j k ui v j + ej i k uj v i )ck / 2 = ei j k ui v j ck , onde na pen´ ultima igualdade utilizou-se o fato de que ej i k = −ei j k , conforme a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e tensor elemento de volume 1.2.34 e, na u ´ltima igualdade, o fato de que i e j s˜ao dois indicadores que podem ser trocados. Como u × v ≡< u ∧ v >, conclui-se que u × v = ei j k ui v j ck . Usando novamente a defini¸c˜ao 1.2.34, agora para o caso especial de uma base ortonormal de V orientada positivamente, obt´em-se u × v = (u2 v3 − u3 v2 )e1 + (u3 v − u1 v3 )e2 + (u1 v2 − u2 v1 )e3 , que ´e a defini¸c˜ao elementar de produto vetorial. Coment´ ario 1.2.38 (Propriedades do Produto Vetorial) Demonstra-se que: 1. < W > × v = −W (v), onde W ´e um tensor antissim´etrico. 2. (u × v) × w = (u · w)v − (v · w)u. 3. |u × v|2 = |u|2 |v|2 − |u · v|2 . 4. |u × v| = |u||v|senθ(u, v). Defini¸c˜ ao 1.2.39 (Produto Triplo) ∀(u, v, w) ∈ V , o produto triplo de u por v e w, grafado [u, v, w], ´e definido por [u, v, w] ≡ (u × v) · w =< u ∧ v > ·w = e(u, v, w), onde usou-se a defini¸c˜ao de produto vetorial 1.2.38 na pen´ ultima igualdade e, na u ´ltima igualdade, a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao linear dualidade 1.2.37, junto com a nota¸c˜ao 1.2.9 para vetor associado a tensor antissim´etrico. Como, usando novamente a defini¸c˜ao 1.2.38, u × v = ei j k ui v j ck , considerando w = wl cl tem-se [u, v, w] = ei j k ui v j wk . Logo, e(u, v, w) = ei j k ui v j wk , resultado este que pode ser obtido diretamente da defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e tensor elemento de volume 1.2.34. De fato, e(u, v, w) = e(ui ci , v j cj , wk ck ) = P3 P3 P3 i j k i j k ultima igualdade prov´em da i=1 j=1 k=1 u v w e(ci , cj , ck ) = ei j k u v w , onde a pen´ trilinearidade de e, conforme a defini¸c˜ao 1.2.10 desta propriedade. P P P No somat´orio m´ ultiplo 3i=1 3j=1 3k=1 ui v j wk e(ci , cj , ck ), s˜ao nulos todos os termos que contenham vetores de base repetidos. Portanto, o somat´orio m´ ultiplo simplifica-se num somat´orio sobre todas as 3! = 6 permuta¸c˜oes de c1 , c2 , c3 , ou seja, e(u, v, w) = P σ(1) σ(2) σ(3) v w e(cσ(1) , cσ(2) , cσ(3) ). Considerando que, de acordo com a defini¸c˜ao de σu fun¸c˜ao n-linear alternante 1.2.23, e(cσ(1) , cσ(2) , cσ(3) ) = (sinal σ)e(c1 , c2 , c3 ), tem-se ent˜ao P que e(u, v, w) = λe(c1 , c2 , c3 ), onde λ = σ (sinal σ)uσ(1) v σ(2) wσ(3) (note que esta demonstra¸c˜ao ´e semelhante `aquela do teorema 1.2.2, sobre unicidade da propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes n-lineares alternantes). Usando novamente a defini¸c˜ao 1.2.34, agora para uma base ortonormal de V orientada positivamente, tanto esta u ´ltima express˜ao, como a i j k 1 2 3 igualdade e(u, v, w) = ei j k u v w produzem e(u, v, w) = u v w + u2 v 3 w1 + u3 v 1 w2 − u3 v 2 w 1 − u1 v 3 w 2 − u2 v 1 w 3 . 44


Coment´ ario 1.2.39 (Determinante, Tra¸co e Produto Triplo) Usando a defini¸c˜ao de determinante de matriz 1.2.25 e n = 3, tem-se det[Mi j ] = M3

σ(3)

P

σ (sinal

σ) M1

σ(1)

M2

σ(2)

, onde [Mi j ] ´e uma matriz quadrada de trˆes linhas e trˆes colunas. Consideσ(i)

σ(i)

σ(i)

rando M1 = uσ(i) , M2 = v σ(i) e M3 = wσ(i) , i = 1, 2, 3, tem-se det[Mi j ] = P σ(1) σ(2) σ(3) v w = e(u, v, w)/e(c1 , c2 , c3 ), onde a u ´ltima igualdade se deve ao σ (sinal σ)u uso da defini¸c˜ao de produto triplo 1.2.39. Mas, de acordo com o coment´ario 1.2.26, sobre a rela¸c˜ao entre determinante de transforma¸c˜ao linear e de matriz, det M = det[Mi j ], logo det M = e(u, v, w)/e(c1 , c2 , c3 ). Por outro lado, conforme a defini¸c˜ao de determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24, (det M )e(c1 , c2 , c3 ) = e(M (c1 ), M (c2 ), M (c3 )) o que indica que u = M (c1 ), v = M (c2 ) e w = M (c3 ). Portanto, a defini¸c˜ao 1.2.39 ainda mostra que e(M (c1 ), M (c2 ), M (c3 )) [M (c1 ), M (c2 ), M (c3 )] det M = = . e(c1 , c2 , c3 ) [c1 , c2 , c3 ] Analogamente, demonstra-se que tr M =

1.2.13

[M (c1 ), c2 , c3 ] + [c1 , M (c2 ), c3 ] + [c1 , c2 , M (c3 )] . [c1 , c2 , c3 ]

Teoremas para a Mecˆ anica dos Meios Cont´ınuos

Defini¸c˜ ao 1.2.40 (Autovalor e Autovetor) Seja A ∈ V ⊗ V . O escalar λ ∈ < ser´a um autovalor de A se ∃v ∈ V |v 6= 0, chamado autovetor de A associado ao autovalor λ, tal que A(v) = λv. Note que λ = 0 se e somente se A = 0. Teorema 1.2.4 (Condi¸c˜ ao Nec. e Suf. de Autovalor) Tem-se A(v) = λv, para A ∈ V ⊗ V , v ∈ V |v 6= 0 e λ ∈ <, se e somente se det(A − λ1 ) = 0. Demonstra¸c˜ao: A igualdade A(v) = λv pode ser escrita (A − λ1 )(v) = 0. Seja (ci )ni=1 P uma base de V , logo v = ni=1 v i ci e v i (A − λ1 )(ci ) = 0. Portanto, o conjunto de vetores ((A − λ1 )(ci ))ni=1 ´e linearmente dependente, de acordo com o item 1 da defini¸c˜ao de base 1.2.2. Como ((A − λ1 )(ci ))ni=1 ´e linearmente dependente, o coment´ario 1.2.23, sobre fun¸c˜ao n-linear alternante e base de espa¸co vetorial - parte I, afirma que, se w for uma fun¸c˜ao alternante n-linear n˜ao trivial, ent˜ao w((A − λ1 )(c1 ), . . . , (A − λ1 )(cn )) = 0. Logo, de acordo com a defini¸c˜ao de determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24, tem-se det(A − λ1 ) = w((A − λ1 )(c1 ), . . . , (A − λ1 )(cn )) / w(c1 , . . . , cn ) = 0. Por outro lado, seguindo o mesmo racioc´ınio, mas na sequˆencia oposta, tem-se que, se det(A − λ1 ) = 0, ent˜ao A(v) = λv. 2 Defini¸c˜ ao 1.2.41 (Equa¸c˜ ao Caracter´ıstica) Observando a defini¸c˜ao de determinante de matriz 1.2.25 e o coment´ario 1.2.26, sobre a rela¸c˜ao entre determinante de transforma¸c˜ao linear e de matriz, percebe-se que a igualdade det(A − λ1 ) = 0, apresentada no teorema da condi¸c˜ao necess´aria e suficiente de autovalor 1.2.4, pode ser escrita (−λ)n + I1 (−λ)n−1 + . . . + In−1 (−λ) + In = 0. O membro esquerdo desta u ´ltima express˜ao ´e um polinˆomio de grau n em λ, onde n ´e a dimens˜ao do espa¸co vetorial V . Os coeficientes I1 , . . . , In s˜ao fun¸c˜oes escalares de A denominadas invariantes principais de A. A u ´ltima igualdade ´e chamada equa¸c˜ ao caracter´ıstica da transforma¸c˜ao linear 45


A ∈ V ⊗ V . Em geral, a equa¸c˜ao caracter´ıstica de A pode n˜ao apresentar ra´ızes reais. ´ltimas ser˜ao os autovalores de A. Por´em , se ela apresentar ra´ızes reais, estas u Teorema 1.2.5 (Cayley-Hamilton: tensor satisfaz sua eq. caract.) O teorema de Cayley-Hamilton, cuja demonstra¸c˜ao ´e omitida, mostra que A satisfaz a sua pr´opria equa¸c˜ao caracter´ıstica, ou seja, (−A)n + I1 (−A)n−1 + . . . + In−1 (−A) + In 1 = 0, sendo A2 = A ◦ A, A3 = A ◦ (A ◦ A), A4 = A ◦ (A ◦ (A ◦ A)). . . , onde usou-se a defini¸c˜ao de composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem 1.2.19. Coment´ ario 1.2.40 (Eqs. Caract. de Tensores de Dimens˜ ao 2 e 3) Prova-se que, para dim V = 2 (conforme a defini¸c˜ao de dimens˜ao de espa¸co vetorial real 1.2.4) e A ∈ V ⊗ V , a equa¸c˜ao caracter´ıstica de A, de acordo com a sua defini¸c˜ao 1.2.41, ´e λ2 −(trA)λ+det A = 0. Para dim V = 3 e A ∈ Inv (V ) (nota¸c˜ao para subespa¸co invert´ıvel 1.2.7), a equa¸c˜ao caracter´ıstica de A ´e −λ3 + (trA)λ2 − (tr(A−1 ) det A)λ + det A = 0, sendo costumeiro o uso dos s´ımbolos IA = trA, II A = tr(A−1 ) det A e III A = det A. Coment´ ario 1.2.41 (Rela¸c˜ ao entre A e 1 + A) Para dim V = 3, A ∈ V ⊗ V e B = 1 + A, demonstra-se que IB = 3 + IA , II B = 3 + 2IA + II A e III B = 1 + IA + II A + III A , onde foram utilizados os s´ımbolos apresentados no fim do coment´ario 1.2.40, sobre equa¸c˜oes caracter´ısticas de tensores de dimens˜ao 2 e 3. Isto indica que: 1. trB = 3 + trA , 2. tr(B −1 ) det B = 3 + 2trA + tr(A−1 ) det A e 3. det B = 1 + trA + (1 + tr(A−1 )) det A . Se A ≈ 0 ent˜ao det A << trA, logo tr(B −1 ) det B ≈ 3 + 2trA e det B ≈ 1 + trA . Teorema 1.2.6 (Espectral: autovalores de tensor sim´ etrico) O teorema espectral, cuja demonstra¸c˜ao ´e omitida, mostra que, se S ∈ Sym(V ) (nota¸c˜ao para subespa¸cos sim´etrico e antissim´etrico 1.2.5), existir´a uma espec´ıfica base ortonormal (ej )nj=1 , do P espa¸co vetorial n-dimensional V , tal que S possa ser escrito sob a forma S = nj=1 λj ej ⊗ ej | ∀j ∈ (j)nj=1 ∃ λj ∈ < . Esta igualdade mostra que s˜ao nulos todos os componentes Si j associados aos elementos com i 6= j da base (ei ⊗ ej ), enquanto que Sj j = λj . Tal base especial (ej )nj=1 de V ´e u ´nica, sendo denominada base principal de S. Tem-se Pn P S(ei ) = j=1 λj (ej ⊗ ej )(ei ) = nj=1 δi j λj ej = λi ei . Logo, considerando a defini¸c˜ao de autovalor e autovetor 1.2.40, os reais λj s˜ao n autovalores de S, nenhum deles nulo se S 6= 0, cada um deles associado a um dos n autovetores ej (cada autovalor se associa ao aotovetor de mesmo ´ındice). Como existem n autovalores λj , todas as ra´ızes da equa¸c˜ao caracter´ıstica de um tensor sim´etrico S, de acordo com defini¸c˜ao 1.2.41 desta equa¸c˜ao, s˜ao reais. Mas tais ra´ızes podem ser, ou n˜ao, distintas entre si. Portanto, considera-se que ´ındices de λ numericamente distintos tanto possam corresponder ao mesmo autovalor, como a autovalores diferentes entre si. Coment´ ario 1.2.42 (Diagonaliza¸c˜ ao) De acordo com o teorema espectral 1.2.6, referente aos autovalores do tensor S ∈ Sym(V ), a matriz dos componentes de S associados `a base (ei ⊗ ej ) ´e uma matriz diagonal [λj ] , cujos elementos λj (o ´ındice j indica a 46


linha e a coluna) s˜ao n = dimV autovalores de S, o que indica que todas as ra´ızes da equa¸c˜ao caracter´ıstica s˜ao reais. Pode-se, ainda, construir uma matriz quadrada [ei j ] , tamb´em com n linhas e colunas, justapondo os autovetores associados aos autovalores mencionados. Nesta constru¸c˜ao, o autovetor ej corresponde `a j-´esima coluna de [ei j ] , enquanto que a linha i desta matriz cont´em os componentes, associados ao i-´esimo vetor de uma base arbitrariamente considerada de V , (ci )ni=1 , de todos os n autovetores. A representa¸c˜ao matricial do tensor S, na base (ck ⊗ ci ), ´e a matriz [S k i ]. A igualdade S(ei ) = λi ei pode, ent˜ao, ser escrita em termos matriciais, por meio da express˜ao [S k i ] [ei j ] = [ei j ][λj ]. Como (ej )nj=1 ´e uma base ortonormal de V , temse [ei j ] [ei j ]T = [1], ou [ei j ]−1 = [ei j ]T , logo, de acordo com a defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4, a matriz [ei j ] ´e ortogonal. De acordo com o coment´ario 1.2.33, sobre propriedades de tensor ortogonal, tem-se det[S k i ] = det[λj ] e tr[S k i ] = tr[λj ]. Defini¸c˜ ao 1.2.42 (Espa¸co Caracter´ıstico) Seja λ um autovalor de T ∈ V ⊗ V . Denomina-se espa¸co caracter´ıstico de T associado a λ ao conjunto de autovetores Vλ = {v ∈ V | T v = λv}. Coment´ ario 1.2.43 (Componente Vetorial em Rela¸c˜ ao a Tensor Sim´ etr.) De acordo com o teorema espectral 1.2.6, referente aos autovalores do tensor S ∈ Sym(V ), a espec´ıfica base ortonormal (ej )nj=1 do espa¸co vetorial n-dimensional V , tal que S = Pn e, tamb´em, o conjunto dos n autovetores de S. Ao inv´es de continuar j=1 λj ej ⊗ ej ´ considerando que distintos ´ındices de λ tanto possam corresponder ao mesmo autovalor, como a autovalores diferentes entre si, a partir deste ponto do texto passa-se a utilizar λ, µ, . . . para indicar autovalores numericamente diferentes, enquanto que ´ındices em λ, µ, . . . distinguem diferentes autovetores correspondentes ao mesmo autovalor. Ent˜ao, de λ ´e uma base de Vλ , onde acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co caracter´ıstico 1.2.42, (eλi )di=1 dλ = dimVλ ´e denominado degenera¸c˜ ao do autovalor λ. Sejam λ e µ dois autovalores distintos de S. Sejam v ∈ Vλ e u ∈ Vµ . Demonstra-se facilmente que v · u = 0, ou seja, que v e u s˜ao mutuamente ortogonais. De acordo com P o mesmo teorema 1.2.6, se v ∈ V ent˜ao v = λ vλ , onde vλ ∈ Vλ , estendendo-se a soma sobre todos os espa¸cos caracter´ısticos de S e, em cada espa¸co caracter´ıstico, envolvendo um u ´nico vetor vλ . Evidentemente, cada vetor vλ pode ser expresso em termos dos seus λ . Portanto, todo vetor v ∈ V ´e componentes, associados `a correspondente base (eλi )di=1 formado por componentes ortogonais entre si, cada componente correspondendo a um dos autovalores distintos de um arbitr´ario S ∈ Sym(V ). Teorema 1.2.7 (Comuta¸c˜ ao de Composi¸c˜ ao de Tensores) Seja T ∈ V ⊗ V e, de acordo com a nota¸c˜ao para subespa¸cos sim´etrico e antissim´etrico 1.2.5, S ∈ Sym(V ). Ter-se-´a ST = T S se e somente se T preservar os espa¸cos caracter´ısticos de S, ou seja, se a aplica¸c˜ao de T a todos os vetores pertencentes a cada espa¸co caracter´ıstico de S reproduzir respectivamente o mesmo espa¸co caracter´ıstico de S. Demonstra¸c˜ao: Suponha que S e T comutem e que Svλ = λvλ . Neste caso, S(T vλ ) = T (Svλ ) = λ(T vλ ). Portanto, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co caracter´ıstico 1.2.42, (vλ , T vλ ) ∈ Vλ , ou seja, se S e T comutam o espa¸co caracter´ıstico ´e preservado. Por outro lado, se (vλ , T vλ ) ∈ Vλ , ent˜ao S(T vλ ) = λ(T vλ ) = T (λvλ ) = T (Svλ ) , logo P P c˜ao de composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem λ S(T vλ ) = λ T (Svλ ) . Mas a defini¸ 47


P

P

P

P

1.2.19 mostra que λ S(T vλ ) = S(T λ vλ ) e λ T (Svλ ) = T (S λ vλ ). Como, de acordo com o coment´ario 1.2.43, sobre componente vetorial em rela¸c˜ao a tensor sim´etrico, P tem-se v = λ vλ , pode-se escrever S(T v) = T (Sv). Logo, se o espa¸co caracter´ıstico ´e preservado, ent˜ao S e T comutam. 2 Coment´ ario 1.2.44 (Comuta¸c˜ ao de Tensores Sim´ etrico e Ortogonal) Prova-se que, de acordo com a defini¸c˜ao de tensor ortogonal de segunda ordem 1.2.30, existe apenas um subespa¸co de V que ´e preservado por toda e qualquer transforma¸c˜ao ortogonal, sendo tal subespa¸co o pr´oprio espa¸co V . Portanto, considerando o teorema sobre comuta¸c˜ao de composi¸c˜ao de tensores 1.2.7 e utilizando as nota¸c˜oes para subespa¸cos sim´etrico e antissim´etrico e para grupos especiais, respectivamente 1.2.5 e 1.2.8, tem-se que S ∈ Sym(V ) comutar´a com toda e qualquer transforma¸c˜ao ortogonal Q ∈ O (V ) se e somente se S apresentar um u ´nico espa¸co caracter´ıstico, o qual ser´a pr´oprio espa¸co n-dimensional V , ou seja, se e somente se todos os n autovalores de S forem iguais entre si. Utilizando o coment´ario 1.2.42, sobre diagonaliza¸c˜ao, percebe-se que, para que todos os n autovalores sejam iguais entre si, ´e necess´ario e suficiente que S = λ1 , onde λ ∈ <. Mas a defini¸c˜ao da transforma¸c˜ao tensorial identidade 1.2.16 mostra que 1 comuta com qualquer tensor de segunda ordem. Defini¸c˜ ao 1.2.43 (Tensor de Defini¸c˜ ao Positiva, Negativa e Semi-Defini¸c˜ ao) At´e ao momento foram mencionadas apenas fun¸c˜oes de defini¸c˜ao positiva, conforme mostrado na defini¸c˜ao de produto interno de vetores 1.2.5. Um tensor de segunda ordem T ∈ V ⊗V ser´a de defini¸c˜ ao positiva, ou de semi-defini¸c˜ ao positiva, respectivamente se, ∀v ∈ V |v 6= 0, ocorrer que v · T v > 0 ou v · T v ≥ 0. Analogamente, T ser´a de defini¸c˜ ao negativa, ou de semi-defini¸c˜ ao negativa, respectivamente se, ∀v ∈ V |v 6= 0, ocorrer que v · T v < 0 ou v · T v ≤ 0. Teorema 1.2.8 (Tensor Sim´ etrico de Defini¸c˜ ao Positiva ou Negativa) Um tensor sim´etrico ser´a de defini¸c˜ao positiva ou negativa, de acordo com a defini¸c˜ao 1.2.43 destas caracter´ısticas tensoriais, se e somente se todos os seus autovalores forem, respectivamente, positivos ou negativos. Demonstra¸c˜ao: O teorema espectral 1.2.6, sobre autovalores de tensor sim´etrico, mostra que ∀v ∈ V |v 6= 0, tem-se v · Sv = v i v j ei · Sej = v i v j λj ei · ej = v i v j λj δi j = (v i )2 λi . 2 Coment´ ario 1.2.45 (Determinante de Tens. Sim. de Def. Pos. ou Neg.) Seja, de acordo com sua defini¸c˜ao 1.2.43, um tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa S e seja [Si j ] a representa¸c˜ao matricial deste tensor. De acordo com o coment´ario sobre diagonaliza¸c˜ao 1.2.42, det[Si j ] = det[λj ]. Mas, de acordo com o teorema sobre tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa 1.2.8 e com a defini¸c˜ao de determinante de matriz 1.2.25, tem-se respectivamente det[Si j ] > 0 ou det[Si j ] < 0 logo, considerando a defini¸c˜ao de tensor inverso de segunda ordem 1.2.29, S ´e n˜ao singular. Entretanto, o fato de S ser n˜ao singular n˜ao exige que S seja de defini¸c˜ao positiva ou negativa. Teorema 1.2.9 (Quadrado de Tens. Sim. de Def. Pos. ou Neg.) Para todo tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva S, existe um u ´nico tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva S + e um u ´nico tensor sim´etrico de defini¸c˜ao negativa S − tais que (S + )2 = (S − )2 = S. Os autovalores de S + s˜ao, respectivamente, as ra´ızes quadradas positivas dos autovalores de S associados aos mesmos autovetores. Os autovalores de S − s˜ao, respectivamente, 48


as ra´ızes quadradas negativas dos autovalores de S associados aos mesmos autovetores. Como, de acordo com o teorema espectral 1.2.6, sobre autovalores de tensor sim´etrico, √ √ P P P S = ni=1 λi ei ⊗ ei , tem-se S + = ni=1 λi ei ⊗ ei e S − = ni=1 − λi ei ⊗ ei . Demonstra¸c˜ao: De acordo com o teorema sobre tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa 1.2.8, Sej = λj ej | ∀j, λj > 0. Impondo (S 0 )2 = S, tem-se (S 0 )2 ej = λj ej . q

q

Se e somente se S 0 ej = ± λj ej ter-se-´a S 0 (S 0 ej ) = ± λj S 0 ej , ou (S 0 )2 ej = λj ej . Evidentemente, de acordo com o mesmo teorema 1.2.8, existe um u ´nico S 0 de defini¸c˜ao positiva, S + e um u ´nico S 0 de defini¸c˜ao negativa, S − . 2 Nota¸c˜ ao 1.2.10 (Tensor Raiz Quadrada) O tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva + S apresentado no teorema 1.2.9, sobre quadrado sim´etrico de defini¸c˜ao posi√ de tensor + tiva ou negativa, costuma ser representado por S = S e denominado tensor raiz quadrada de S. Teorema 1.2.10 (Decomposi¸c˜ ao Polar) ∀F ∈ Inv (V ) (ver nota¸c˜ao para subespa¸co invert´ıvel 1.2.7): 1. ∃ (V, U ) ∈ Sym(V ) (ver nota¸c˜ao para subespa¸cos sim´etrico e antissim´etrico 1.2.5), sendo ambos V e U de defini¸c˜ao positiva (conforme a defini¸c˜ao de tensor de defini¸c˜ao positiva, negativa e semi-defini¸c˜ao 1.2.43) e 2. ∃ Q ∈ O(V ) (ver nota¸c˜ao para grupos especiais 1.2.8), tais que F = QV = U Q. Al´em disto, as transforma¸c˜oes V , Q e U s˜ao unicamente √ √ determinadas, respectivamente por V = F T F , Q = F V −1 e U = QV QT = F F T (ou as transforma¸c˜oes U , Q e V s˜ao unicamente determinadas, respectivamente por √ √ U = F F T , Q = U −1 F e V = QT U Q = F T F ). Demonstra¸c˜ao: De acordo com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17, ∀(v, u) ∈ V , v · F T F u = F u · F v = F v · F u = u · F T F v. Por´em, v · F T F u = u · (F T F )T v, logo (F T F )T = F T F , portanto F T F ∈ Sym(V ). Al´em disto, para v 6= 0 tem-se v·F T F v = F v·F v > 0, porque ´e imposs´ıvel ter F v = 0, uma vez que F ∈ Inv (V ). Logo, de acordo com a defini¸c˜ao 1.2.43, F T F ´e uma transforma¸c˜ao linear de defini¸c˜ao positiva. Analogamente, F F T ∈ Sym(V ) e F F T ´e uma transforma¸c˜ao linear de defini¸c˜ao √ positiva. Defina-se V = F T F . De acordo com a nota¸c˜ao para tensor raiz quadrada 1.2.10, V ser´a sim´etrica de defini¸c˜ao positiva e, de acordo com o coment´ario 1.2.45, sobre determinante de tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa, V ser´a n˜ao singular. Pode-se, ent˜ao, definir Q = F V −1 e U = QV QT . De acordo com o coment´ario 1.2.19, sobre transposi¸c˜ao de composi¸c˜ao, tem-se QQT = F V −1 (F V −1 )T = F V −1 V −T F T . Como V = V T implica em V −1 = V −T quando V for n˜ao singular, tem-se ent˜ao QQT = F V −2 F T = F (F T F )−1 F T = F F −1 F −T F T , tendo sido, na u ´ltima igualdade, usado o primeiro item do coment´ario 1.2.32. Portanto QQT = 1 , logo Q ∈ O(V ). Tem-se, tamb´em, U 2 = QV QT (QV QT ) = QV (V QT ). Por´em, V QT = (QV T )T = (QV )T e F = QV , logo U 2 = QV (QV )T = F F T . Como F F T ´e um tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva, de acordo com o teorema 1.2.9, sobre quadrado de tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa, existe um tensor ((F F T )0 )2 = F F T . Mas, embora impor U = QV QT seja suficiente para garantir que U 2 = F F T , impor U 2 = F F T n˜ao ´e suficiente para garantir que U = QV QT , ou seja, esta u ´ltima igualdade ´e 49


mais restritiva. De fato, de acordo com o coment´ario 1.2.33, sobre propriedades de tensor ortogonal, a u ´ltima igualdade exige que det U = det V e trU = trV . Esta exigˆencia √ implica na restri¸c˜ao (F F T )0 = F F T , ou seja, como V ´e sim´etrico de defini¸c˜ao positiva, √ necessariamente U tamb´em ´e sim´etrico de defini¸c˜ao positiva, logo U = F F T . 2 Coment´ ario 1.2.46 (Decomposi¸c˜ ao Cartesiana) ∀T ∈ V ⊗ V , ∃ A ∈ Sym(V ) e ∃ B ∈ Skw (V ) (nota¸c˜ao para subsepa¸cos sim´etrico e antissim´etrico 1.2.5) tais que T = A + B, sendo as transforma¸c˜oes A e B unicamente determinadas, respectivamente por A = (T + T T )/2 e B = (T − T T )/2. Note que, de acordo com a defini¸c˜ao de tensores sim´etrico e antissim´etrico 1.2.18, estas duas u ´ltimas igualdades tornam evidente que A ∈ Sym(V ) e B ∈ Skw (V ).

1.2.14

Espa¸ co Euclideano de Pontos

Defini¸c˜ ao 1.2.44 (Espa¸co Euclideano de Pontos) Seja E 0 um conjunto de pontos no espa¸co <n e seja V um espa¸co vetorial euclideano, de acordo com sua defini¸c˜ao 1.2.6. Considerando a defini¸c˜ao de dimens˜ao 1.2.4, seja n a dimens˜ao de V . Se, ∀(x, y) ∈ E 0 ∃ v ∈ V tal que 1. v seja u ´nico, grafado v = y − x e chamado vetor diferen¸ca entre y e x, 2. ∀x ∈ E 0 , x − x = 0 ∈ V , 3. ∀x ∈ E 0 e ∀v ∈ V , ∃ y ∈ E 0 , u ´nico e tal que v = y − x, ou y = x + v e 4. ∀(x, y, z) ∈ E 0 , (x − y) + (y − z) = (x − z), ent˜ao E 0 ser´a grafado E e denominado espa¸co euclideano de pontos de dimens˜ ao n, enquanto que V ser´a chamado espa¸co de transla¸c˜ ao de E. Define-se a fun¸c˜ ao distˆ anq

cia entre dois pontos (x, y) ∈ E por d(x, y) = |v| = (x − y) · (x − y). A defini¸c˜ao de espa¸co vetorial real 1.2.1 indica que tal espa¸co cont´em infinitos vetores e ´e cont´ınuo. Por causa da condi¸c˜ao 3 da presente defini¸c˜ao, isto por sua vez implica em continuidade em espa¸co euclideano de pontos, ou seja, implica em que o espa¸co euclideano de pontos seja o espa¸co <n , provido das anteriores quatro condi¸c˜oes e da defini¸c˜ao de distˆancia entre dois pontos. A mesma condi¸c˜ao 3 mostra, tamb´em, que dados um ponto x e um vetor v, o ponto y est´a bem definido, mas o mesmo ponto y pode corresponder a diversos pares (x, v). De modo an´alogo, dados os pontos x e y, o vetor v est´a bem definido, mas o mesmo vetor v pode corresponder a diversos pares (x, y). Note que, quando n = 1, ter-se-´a E = V = < e a fun¸c˜ao distˆancia ser´a o m´odulo da diferen¸ca entre dois reais, d(x, y) = |x − y|. Defini¸c˜ ao 1.2.45 (Espa¸co Tangente) Seja Ex0 = {vx = (x, v)| v = y − x, ∀y ∈ E}, logo seja vx o vetor diferen¸ca entre um ponto fixo x ∈ E e um ponto qualquer y ∈ E e seja Ex0 o conjunto de todos os vetores diferen¸ca entre y e x, ∀y ∈ E. Considerando o item 2 da defini¸c˜ao de espa¸co euclideano de pontos 1.2.44 percebe-se que Ex0 cont´em exatamente os mesmos vetores que V , mas: 1. com a restri¸c˜ao de serem considerados vetores diferen¸ca para um ponto fixo x;

50


2. sem que tenham sido definidas as opera¸c˜oes de adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao por escalar, as quais, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co vetorial real 1.2.1, caracterizam tais espa¸cos. Entretanto, tais opera¸c˜oes est˜ao definidas em V . Por isto, para defini-las em Ex0 basta impor que vx + ux = (v + u)x e αvx = (αv)x . Efetuando esta imposi¸c˜ao Ex0 ser´a grafado Ex e denominado espa¸co tangente de E em x. Os espa¸cos Ex e V s˜ao ditos isom´ orficos, o que ´e representado por Ex ∼ = V e significa que um ´e a c´opia do outro. A fun¸c˜ao ix : V → Ex , chamada fun¸c˜ ao paralelismo euclideano , estabelece uma correspondˆencia de um para um, conforme apresentado na defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e funcional 1.1.1, entre V e Ex . A composi¸c˜ao de fun¸c˜oes, tamb´em apresentada na mencionada defini¸c˜ao 1.1.1, τx, y = iy ◦ i−1 x : Ex → Ey , que transforma vx = (x, v) 7→ vy = (y, v), ´e denominada fun¸c˜ ao transla¸c˜ ao paralela dos vetores em Ex para os vetores em Ey . Portanto, vx = (x, v) ∈ Ex e uy = (y, u) ∈ Ey s˜ao o mesmo vetor se e somente se v = u. Desta forma, vetores em diferentes espa¸cos tangentes podem ser somados como se estivessem no mesmo espa¸co vetorial.

1.3 1.3.1

C´ alculo Tensorial Diferencia¸ c˜ ao

Defini¸c˜ ao 1.3.1 (Subconjunto Aberto) Um subconjunto ser´a aberto quando os elementos que o constitu´ırem, embora possam situar-se t˜ao pr´oximo quanto o desejado de elementos n˜ao pertencentes ao subconjunto considerado, jamais alcan¸carem tais elementos estranhos ao subconjunto. Um intervalo aberto ´e um subconjunto escalar, ordenado, cont´ınuo e aberto, representado por (a, b) ⊂ < (lembre que < ´e cont´ınuo, conforme afirmado na defini¸c˜ao de espa¸co vetorial real 1.2.1, al´em de ser escalar e ordenado), o que indica que a e b s˜ao respectivamente cotas inferior m´axima e superior m´ınima n˜ao pertencentes ao subconjunto. Se a cota a, b, ou ambas, pertencerem ao subconjunto, usar-se-´a respectivamente a representa¸c˜ao [a, b) ⊂ <, (a, b] ⊂ <, ou [a, b] ⊂ <, que respectivamente correspondem a um intervalo fechado abaixo, fechado acima, ou fechado abaixo e acima. Defini¸c˜ ao 1.3.2 (Derivada Escalar em Escalar) Considerando a defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1, seja f : (a, b) → < uma fun¸c˜ao aplic´avel a qualquer escalar t ∈ (a, b) ⊂ <, cuja imagem tamb´em seja um escalar. Se, ∀(t + h) ∈ (a, b) ⊂ <, existir o limite indicado na express˜ao a seguir, a derivada de f no valor t do seu argumento ser´a, por defini¸c˜ao, df 1 f˙(t) = = lim (f (t + h) − f (t)), dt h→0 h

ou

1 (f (t + h) − f (t) − hf˙(t)) = 0, h→0 h lim

onde f˙(t) ∈ <, logo f˙ : (a, b) → <. De acordo com a segunda entre as duas equa¸c˜oes conjuntamente destacadas, definindo a corre¸c˜ ao o(h) de modo a que o(h) = f (t + h) − f (t) − hf˙(t),

tem-se

lim

h→0

51

1 o(h) = 0, h

logo

lim

|h|→0

1 |o(h)| = 0, |h|


conforme ser´a mostrado na defini¸c˜ao 1.3.3, de derivada vetorial, tensorial ou de pontos, em escalar. Tradicionalmente, df = f˙(t)dt ´e o diferencial de f . Se dt for um acr´escimo arbitr´ario em t, restrito apenas pela condi¸c˜ao de que (t, t + dt) ∈ (a, b) ⊂ < ou seja, se dt n˜ao necessariamente for um acr´escimo infinitesimal (conforme, por exemplo, a defini¸c˜ao de diferencial fornecida por Tom M. Apostol, Calculus, Vol. I, Wiley, 2a. ed., New York, 1967), ent˜ao hf˙(t) ser´a o diferencial de f . Por´em, diversos livros did´aticos de c´alculo exigem que diferenciais sejam infinitesimais. Por isto, evitam-se equ´ıvocos n˜ao chamando hf˙(t) (onde a n˜ao exigˆencia de que h seja infinitesimal ´e colocada j´a como hip´otese) de diferencial. Pelo contr´ario, hf˙(t) ´e denominado derivada direcional de f no escalar t, para o escalar h. Defini¸c˜ ao 1.3.3 (Derivada Vetorial, Tensorial ou de Pontos, em Escalar) A defini¸c˜ao de derivada escalar de escalar 1.3.2 pode ser estendida para fun¸c˜oes cujos argumentos continuem pertencendo a (a, b) ⊂ < (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1), mas cujas imagens sejam tensores de ordem superior a zero. Para isto, seja W um espa¸co normatizado, o que significa que o espa¸co W disp˜oe ou de uma norma, ou de uma fun¸c˜ao distˆancia (os conceitos de limite e convergˆencia s´o fazem sentido num espa¸co para o qual seja definida uma norma, ou uma fun¸c˜ao distˆancia) e seja f : (a, b) → W uma fun¸c˜ao aplic´avel a um escalar, que varie dentro de (a, b) ⊂ <, fun¸c˜ao esta cuja imagem perten¸ca a W . Neste texto, s˜ao considerados somente os seguintes espa¸cos W : (a) W = <, que ´e um caso especial de W = V e de W = E, cuja norma e fun¸c˜ao distˆancia ´e |u| = d(x, y) = |x − y| (derivada escalar de escalar, j´a apresentada em sua defini¸c˜ao 1.3.2), ou (b) W = V , cuja norma, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co vetorial euclideano 1.2.6, √ ´e |u| = u · u (derivada vetorial de escalar), ou (c) W = V ⊗ V , sendo V ⊗ V um espa¸co de produto tensorial, de acordo com a sua defini¸c˜ao 1.2.13, cuja norma, considerando a defini¸c˜ao de norma de tensor de segunda √ ordem 1.2.28, ´e |A| = trAAT (derivada tensorial de escalar), ou (d) W = E, cuja fun¸c˜ao distˆancia, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co euclideano de pontos 1.2.44, ´e d(x, y) =

q

(x − y) · (x − y) (derivada de pontos, de escalar).

Se, ∀(t + h) ∈ (a, b) ⊂ <, existir o limite indicado na express˜ao a seguir, a derivada de f no valor t do seu argumento ser´a, por defini¸c˜ao, 1 df f˙ (t) = = lim (f(t + h) − f(t)) , dt h→0 h onde f˙ (t) ∈ W1 , sendo W1 = V (V ´e o espa¸co de transla¸c˜ao de E) quando W = E (item (d)) e W1 = W nos trˆes primeiros casos. A u ´ltima equa¸c˜ao destacada pode ser escrita lim

h→0

1 (f(t + h) − f(t) − hf˙ (t)) = 0 , h

logo

porque:

52

lim

|h|→0

1 |f(t + h) − f(t) − hf˙ (t)| = 0 , |h|


(a) quando W = <, f(t + h) − f(t) − hf˙ (t) = x = 0 exige |x| = 0 e v.v. (portanto, na mencionada defini¸c˜ao 1.3.2, a condi¸c˜ao limh→0 h1 (f (t + h) − f (t) − hf˙(t)) = 0 ´e satisfeita se e somente se lim|h|→0 1 |f (t + h) − f (t) − hf˙(t)| = 0), |h|

(b) quando W = V , f(t + h) − f(t) − hf˙ (t) = u = 0 exige |u| = 0 e v.v., (c) quando W = V ⊗ V , f(t + h) − f(t) − hf˙ (t) = A = 0 exige |A| = 0 e v.v., (d) quando W = E, sendo f(t + h) − f(t) = u e hf˙ (t) = v, f(t + h) − f(t) − hf˙ (t) = u − v = w = 0 exige |w| = 0 e v.v.. Pode-se definir a transforma¸c˜ao linear Df(t) : < → W (defini¸c˜ao 1.2.6 de transforma¸c˜ao n-linear), cuja forma depende de t ∈ (a, b), por meio da igualdade Df(t)[h] = hf˙ (t) , onde o produto hf˙ (t) deixa evidente a linearidade da transforma¸c˜ao aplicada a h. Logo, de acordo com a nota¸c˜ao para aplica¸c˜ao de tensor a tensor 1.2.6, Df(t) ´e um tensor que, se for aplicado ao tensor h, produzir´a como resultado o mencionado produto. Como h ´e um escalar, considerando o item 1 da mencionada nota¸c˜ao 1.2.6 conclui-se que Df(t)[h] = hDf(t), logo Df(t) = f˙ (t). Por´em, embora Df(t) e f˙ (t) sejam o mesmo tensor, enquanto que hf˙ (t) representa o escalar h multiplicando um tensor que ´e a imagem do argumento t atrav´es da fun¸c˜ao f˙ , Df(t)[h] representa a fun¸c˜ao (transforma¸c˜ao) Df(t), cuja forma ´ltima depende de t, aplicada ao argumento h. Portanto, o principal significado da u igualdade destacada ´e alterar o argumento ao qual a fun¸c˜ao ´e aplicada (evidentemente, no caso da citada defini¸c˜ao 1.3.2 pode-se definir Df (t)[h] = hf˙(t)). Tem-se, ent˜ao, 1 |f(t + h) − f(t) − Df(t)[h]| = 0 . lim |h|→0 |h| A equa¸c˜ao destacada no in´ıcio desta defini¸c˜ao tem exatamente a mesma abrangˆencia desta u ´ltima igualdade, sendo uma consequˆencia da outra. Mas, ao contr´ario da express˜ao inicial, esta u ´ltima est´a escrita de modo tal que a defini¸c˜ao de derivada, adequada para fun¸c˜oes f : (a, b) → W , possa ser facilmente estendida para fun¸c˜oes f : D → W , onde D ´e um subconjunto aberto, de acordo com a j´a mencionada defini¸c˜ao 1.3.1, conjunto este que n˜ao se restringe exclusivamente ao intervalo (a, b) ⊂ < . Logo, assim como a igualdade apresentada na defini¸c˜ao de derivada escalar de escalar 1.3.2 ´e uma particulariza¸c˜ao daquela destacada no in´ıcio da presente defini¸c˜ao, a u ´ltima equa¸c˜ao destacada ´e uma particulariza¸c˜ao de express˜oes mais gerais, que ser˜ao apresentadas nas defini¸c˜oes de gradiente de campo real, vetorial, tensorial ou de pontos 1.3.5 e gradiente escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor 1.3.6. Note que, enquanto f : (a, b) → W , como h ∈ < tem-se Df(t) : < → W1 , onde W1 = W se W 6= E e W1 = V se W = E. Logo, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co de transforma¸c˜ao linear 1.2.4 e considerando uma extens˜ao da defini¸c˜ao de espa¸co de produto tensorial 1.2.13, Df(t) ∈ L(<, W1 ) = W1 ⊗ <. Semelhantemente ao colocado na mencionada defini¸c˜ao 1.3.2, Df(t)[h] = hf˙ (t) ´e a derivada direcional de f no escalar t, para o escalar h. Ainda em analogia ao apresentado na defini¸c˜ao 1.3.2, mas agora de acordo com a u ´ltima equa¸c˜ao aqui destacada, definindo a corre¸c˜ ao o(h) de modo a que 53


f(t + h) − f(t) = Df(t)[h] + o(h), tem-se lim|h|→0

1 |h|

| o(h)| = 0.

Defini¸c˜ ao 1.3.4 (Campo) Seja D ⊂ E| D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1) e seja f : D → W . Tais fun¸c˜oes f s˜ao denominadas campos. Se, conforme afirmado na defini¸c˜ao de derivada vetorial, tensorial ou de pontos, de escalar 1.3.3 e utilizando a defini¸c˜ao 1.2.45 de espa¸co tangente Ex , 1. W = <, ent˜ao a fun¸c˜ao f : x ∈ D 7→ f(x) ∈ < ´e um campo escalar aplicado a D; 2. W = Ex ∼ = V , ent˜ao a fun¸c˜ao f : x ∈ D 7→ f(x) ∈ Ex ´e um campo vetorial aplicado a D; 3. W = Ex ⊗ Ex ∼ = V ⊗ V , ent˜ao a fun¸c˜ao f : x ∈ D 7→ f(x) ∈ Ex ⊗ Ex ´e um campo tensorial de segunda ordem aplicado a D; 4. W = E, ent˜ao a fun¸c˜ao f : x ∈ D 7→ f(x) ∈ E ´e um campo de pontos aplicado a D, ou uma deforma¸c˜ ao de D. Defini¸c˜ ao 1.3.5 (Gradiente de Campo Esc., Vet., Tens. ou de Pontos) Seja o campo f : D → W , de acordo com sua defini¸c˜ao 1.3.4. A fun¸c˜ao f : D → W ´e dita diferenci´avel em x ∈ D ⊂ E| D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1), se existir uma transforma¸c˜ao linear Df(x) : V → W1 , logo, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co de transforma¸c˜ao linear 1.2.4 e considerando uma extens˜ao da defini¸c˜ao de espa¸co de produto tensorial 1.2.13, Df(x) ∈ L(V, W1 ) = W1 ⊗ V , onde V ´e o espa¸co de transla¸c˜ao do espa¸co euclideano de pontos E, W = <, ou W = Ex ∼ = V , ou W = Ex ⊗ Ex ∼ = V ⊗ V , ou W = E e W1 = W se W 6= E e W1 = V se W = E, tal que, ∀v = y − x|(x, y) ∈ D, logo v ∈ V , 1 lim | f(x + v) − f(x) − Df(x)[v]| = 0 . |v|→0 |v| Esta igualdade pode ser obtida substituindo t por x e h por v na u ´ltima equa¸c˜ao destacada na defini¸c˜ao 1.3.3, de derivada vetorial, tensorial ou de pontos, de escalar. A tranforma¸c˜ao linear Df(x) ∈ L(V, W1 ) = W1 ⊗ V , definida de modo u ´nico pela u ´ltima express˜ao destacada, transforma v num elemento do espa¸co W1 . Ela ´e chamada gradiente de f em x e ´e grafada grad f (x), ou ∇f (x), ou ∇x f (esta ´e a simbologia utilizada neste texto). A transforma¸c˜ao linear ∇x f ´e: Um tensor de primeira ordem u quando W = < (a fun¸c˜ao f : x ∈ D 7→ f(x) ∈ < ´e um campo escalar), portanto neste caso ∇x f[v] = u[v] = u · v (item 2 da nota¸c˜ao 1.2.6, para aplica¸c˜ao de tensor a tensor). Um tensor de segunda ordem A quando W = Ex (a fun¸c˜ao f : x ∈ D 7→ f(x) ∈ Ex ´e um campo vetorial), portanto neste caso ∇x f[v] = A[v] = A(v) (item 3 da nota¸c˜ao 1.2.6, para aplica¸c˜ao de tensor a tensor, com k = 2).

54


Um tensor de terceira ordem T quando W = Ex ⊗ Ex (a fun¸c˜ao f : x ∈ D 7→ f(x) ∈ Ex ⊗ Ex ´e um campo tensorial de segunda ordem), portanto neste caso ∇x f[v] = T [v] = T (v) (item 3 da nota¸c˜ao 1.2.6, para aplica¸c˜ao de tensor a tensor, com k = 3). Um tensor de segunda ordem A quando W = E (a fun¸c˜ao f : x ∈ D 7→ f(x) ∈ E ´e uma deforma¸c˜ao), portanto neste caso ∇x f[v] = A[v] = A(v) (item 3 da nota¸c˜ao 1.2.6, para aplica¸c˜ao de tensor a tensor, com k = 2). Em analogia ao apresentado na mencionada defini¸c˜ao 1.3.3, mas agora de acordo com a equa¸c˜ao aqui destacada, definindo a corre¸c˜ ao o(v) de modo a que f(x + v) − f(x) = 1 ∇x f [v] + o(v), tem-se lim|v|→0 |v| | o(v)| = 0. Sendo h ∈ <, fazendo hv0 = v, grafando v por v0 e substituindo v por hv na primeira equa¸c˜ao destacada, tem-se 1 lim | f(x + hv) − f(x) − ∇x f [hv]| = 0. |hv|→0 |hv| Supondo v fixo e n˜ao nulo, o real h ser´a a u ´nica vari´avel desta equa¸c˜ao, uma vez que x ´e um parˆametro. Considerando a linearidade da transforma¸c˜ao ∇x f, esta equa¸c˜ao pode, ent˜ao, ser escrita 1 lim | f(x + hv) − f(x) − h∇x f [v]| = 0. |h|→0 |h| Esta, conforme colocado na defini¸c˜ao 1.3.3, de derivada vetorial, tensorial ou de pontos, de escalar, ser´a satisfeita se e somente se limh→0 h1 (f(x + hv) − f(x) − h∇x f [v]) = 0, logo 1 (f(x + hv) − f(x)). h→0 h

∇x f [v] = lim

Sendo t ∈ <, fazendo x0 + tv = x, grafando x por x0 e substituindo x por x + tv na equa¸c˜ao anterior, tem-se ∇x+tv f [v] = limh→0 h1 (f(x + (t + h)v) − f(x + tv)), ou

1 (f(x + (t + h)v) − f(x + tv))

. h→0 h t=0

∇x f [v] = lim

A diferen¸ca entre as duas u ´ltimas equa¸c˜oes destacadas reside no fato de que, na primeira, antes foi imposto t = 0 e, em seguida, foi efetuado o limite, enquanto que a grafia da segunda indica que antes foi efetuado o limite e, posteriormente, foi imposto t = 0. Como a ordem conforme a qual estas duas opera¸c˜oes s˜ao efetuadas n˜ao afeta o resultado final, o primeiro membro de ambas ´e o mesmo. A forma da u ´ltima express˜ao destacada ´e decorrente do fato de v e x terem sido supostos parˆametros, logo esta condi¸c˜ao n˜ao pode ser alterada. Mas nada impede que t seja considerada a vari´avel do seu membro direito, ao inv´es de h. Ali´as, isto ´e equivalente a procedimento adotado na mencionada defini¸c˜ao 1.3.3, mas em sentido oposto. Neste caso, f(x + tv) ´e uma fun¸c˜ao do argumento t, f(x + (t + h)v) ´e a mesma fun¸c˜ao, agora aplicada ao argumento t acrescido de h e, de acordo com a primeira igualdade destacada na citada defini¸c˜ao 1.3.3, lim h→0 h1 (f(x + (t + h)v) − f(x + tv)) = dtd f(x + tv), ou

d

. ∇x f [v] = f(x + tv)

dt t=0 55


Logo, a aplica¸c˜ao da transforma¸c˜ao linear gradiente de f em x, ∇x f, ao vetor v, representada por ∇x f [v], produz o valor da derivada dtd f : (a, b) → W , para t = 0, da fun¸c˜ao f de argumento escalar x + tv, onde x e v s˜ao constantes (se x e v n˜ao fossem constantes, o argumento seria um ponto do espa¸co euclideano de pontos, ao inv´es de um escalar). Tal valor ´e a derivada direcional de f no ponto x, para o vetor v. Note que, neste caso, a denomina¸c˜ao derivada direcional ´e, sob aspecto geom´etrico, especialmente apropriada. Para casos an´alogos, como os que foram e ser˜ao apresentados, esta denomina¸c˜ao ´e, por extens˜ao, mantida. Defini¸c˜ ao 1.3.6 (Grad. Esc., Vet., Ten. ou de Pontos, em Vet. ou Ten.) A u ´ltima equa¸c˜ao destacada na defini¸c˜ao 1.3.3, de derivada vetorial, tensorial ou de pontos, de escalar, permite outras generaliza¸c˜oes al´em daquela referente `a defini¸c˜ao de campo 1.3.4, onde f : D → W , sendo D ⊂ E| D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1), o que conduz ao conceito de gradiente de campo escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, apresentado na sua defini¸c˜ao 1.3.5. De fato, sejam W1 e W2 dois espa¸cos normatizados, escolhidos entre aqueles listados de (a) a (d) no come¸co da citada defini¸c˜ao 1.3.3, mas excluindo-se as possibilidades W1 = < e W1 = E, porque j´a consideradas. A fun¸c˜ao F : D → W2 ´e dita diferenci´avel em X ∈ D ⊂ W1 | D ´e aberto, se existir uma transforma¸c˜ao linear DF(X) : W1 → W3 , logo, de acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co de transforma¸c˜ao linear 1.2.4 e considerando uma extens˜ao da defini¸c˜ao de espa¸co de produto tensorial 1.2.13, DF(X) ∈ L(W1 , W3 ) = W3 ⊗ W1 , onde W3 = W2 se W2 6= E e W3 = V se W2 = E, tal que, ∀(X + Y ) ∈ D, logo Y ∈ W1 lim

|Y |→0

1 | F(X + Y ) − F(X) − DF(X)[Y ]| = 0 . |Y |

Note que: 1. A equa¸c˜ao anterior ´e a u ´ltima equa¸c˜ao destacada na citada defini¸c˜ao 1.3.3, ap´os as substitui¸c˜oes de t ∈ (a, b) ⊂ < por X ∈ D ⊂ W1 | D ´e aberto e h por Y . 2. A transforma¸c˜ao linear DF(X) ´e determinada de modo u ´nico pela express˜ao destacada, ´e denominada gradiente de F em X e ´e grafada ∂F(X) ou ∂X F (esta ´e a simbologia utilizada neste texto). 3. Em analogia ao apresentado na mencionada defini¸c˜ao 1.3.5, mas agora de acordo com a equa¸c˜ao aqui destacada, definindo a corre¸c˜ ao o(Y ) de modo a que F(X + 1 Y ) − F(X) = ∂X F [Y ] + o(Y ), tem-se lim|Y |→0 |Y | | o(Y )| = 0. 4. De modo an´alogo ao efetuado na citada defini¸c˜ao 1.3.5, demonstra-se que

d

∂X F[Y ] = , F(X + tY )

dt t=0

onde (F, ∂X F) : D → W2 , sendo D ⊂ W1 | D ´e aberto e dtd F : (a, b) → W2 . Denomina-se derivada direcional de F no vetor ou tensor X, para o vetor ou tensor Y , a ∂X F[Y ]. 56


5. Considerando os tipos de espa¸co listados no in´ıcio da mencionada defini¸c˜ao 1.3.3, as possibilidades W1 = < e W1 = E j´a foram discutidas. Restam W1 = V e W1 = V ⊗ V . No quadro a seguir, para o c´alculo de ∂X F [Y ] ∈ W2 ´e utilizada a nota¸c˜ao para aplica¸c˜ao de tensor a tensor 1.2.6. Por simplicidade, W1 = V ´e combinado s´o com W2 = < e W2 = V , enquanto que W1 = V ⊗ V apenas com W2 = <. Por analogia, outras possibilidades podem ser calculadas. W1 V V V V ⊗V V ⊗V

W2 L(W1 , W2 ) ∂X F ∈ L(W1 , W2 ) ∂X F [Y ] ∈ W2 < V v v[u] = v · u V V ⊗V A A[u] = A(u) V V ⊗V v⊗u (v ⊗ u)[w] = (u · w)v < V ⊗V A A[B] = A · B = tr(AB T ) < V ⊗V v⊗u (v ⊗ u)[B] = v · B(u)

Nota¸c˜ ao 1.3.1 (Derivada e Gradiente Generalizados) Se a transforma¸c˜ao linear considerada indicar a tendˆencia de varia¸c˜ao de uma fun¸c˜ao num determinado escalar, ela ser´a chamada derivada, como nas defini¸c˜oes de derivada escalar em escalar (s´ımbolo Df (t) = f˙(t)) e de derivada vetorial, tensorial ou de pontos, em escalar (s´ımbolo Df(t) = f˙ (t)), respectivamente 1.3.2 e 1.3.3. Se a transforma¸c˜ao linear considerada indicar a tendˆencia de varia¸c˜ao de uma fun¸c˜ao num determinado ponto, vetor ou tensor, ela ser´a chamada gradiente, como nas defini¸c˜oes de gradiente de campo escalar, vetorial, tensorial ou de pontos (s´ımbolo Df(x) = ∇x f) e de gradiente escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor (s´ımbolo DF(X) = ∂X F), respectivamente 1.3.4 e 1.3.5. Como s´ımbolo gen´erico desta transforma¸c˜ao linear, abarcando todos estes casos, neste texto ´e utilizado D · (·), onde o primeiro · representa o s´ımbolo escolhido para a fun¸c˜ao, enquanto que o segundo representa a vari´avel que define a forma da transforma¸c˜ao linear. O s´ımbolo gen´erico da aplica¸c˜ao desta transforma¸c˜ao linear a uma determinada vari´avel, ou seja, o s´ımbolo gen´erico de derivada direcional, neste texto ´e D · (·)[·]. Conforme colocado na mencionada defini¸c˜ao 1.3.2, pode-se entender D·(·)[·] como uma generaliza¸c˜ao do conceito de diferencial, portanto D · (·) como uma opera¸c˜ao que gera um diferencial, ou seja, uma opera¸c˜ao de diferencia¸c˜ao, o que justifica o t´ıtulo da presente subse¸c˜ao. Estes s´ımbolos gen´ericos podem ser usados em qualquer circunstˆancia, mas s˜ao obrigat´orios sempre que n˜ao se tratar de algum caso espec´ıfico, entre aqueles neste texto citados, para os quais outros s´ımbolos tamb´em s˜ao aceitos e, inclusive, costumam ser mais usados. Portanto, se W e W1 forem quaisquer dois espa¸cos normatizados (defini¸c˜ao 1.3.3, de derivada vetorial, tensorial ou de pontos, em escalar) e lembrando que normas se anulam quando os respectivos elementos se anulam e v.v., bem como distˆancias se anulam quando as correspondentes diferen¸cas entre elementos se anulam e v.v.: 1. A fun¸c˜ao F : D → W1 ´e dita diferenci´avel em X ∈ D ⊂ W | D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1), se existir uma transforma¸c˜ao linear DF(X) : W2 → W3 tal que, ∀(X + Y ) ∈ D , sendo Y ∈ W2 , lim

|Y |→0

1 | F(X + Y ) − F(X) − DF(X)[Y ]| = 0 . |Y |

Quando W for provido de norma ter-se-´a W2 = W , mas quando W for provido de 57


fun¸c˜ao distˆancia isto n˜ao ocorrer´a (por exemplo, para W = E ter-se-´a W2 = V ). Por outro lado, quando W1 for provido de norma ter-se-´a W3 = W1 , mas quando W1 for provido de fun¸c˜ao distˆancia isto n˜ao ocorrer´a (por exemplo, para W1 = E ter-se-´a W3 = V ). De acordo com a defini¸c˜ao de espa¸co de transforma¸c˜ao linear 1.2.4, DF(X) ∈ L(W2 , W3 ) = W3 ⊗ W2 , correspondendo esta u ´ltima igualdade a uma extens˜ao do conceito de espa¸co de produto tensorial, conforme a sua defini¸c˜ao 1.2.13. 2. Define-se a corre¸c˜ ao o(Y ) de modo a que F(X + Y ) − F(X) = DF(X)[Y ] + o(Y ), logo a express˜ao destacada no item 1 implica em lim|Y |→0 |Y1 | | o(Y )| = 0. 3. Demonstra-se que a derivada direcional

d

, DF(X)[Y ] = F(X + tY )

dt t=0

1.3.2

d F : (a, b) → W3 . dt

onde

Aplica¸ c˜ oes da Diferencia¸c˜ ao

Coment´ ario 1.3.1 (Gradientes de φ , sendo φ(A, v) = v · A(v)) Seja a fun¸c˜ao real bilinear φ : V ⊗V ×V → <, definida por φ(A, v) = v·A(v), onde A ∈ V ⊗V e (u, v) ∈ V . Lembrando do coment´ario 1.2.12, sobre transforma¸c˜ao escalar bilinear e tensor, onde ´e discutido que todo tensor A, al´em de ser uma fun¸c˜ao vetorial linear A : V → V , corresponde a uma fun¸c˜ao escalar bilinear A : V × V → < tal que A(u, v) = u · A(v), onde o primeiro A representa a fun¸c˜ao escalar biliner a ser aplicada ao argumento (u, v), enquanto que o segundo representa o tensor A a ser aplicado ao vetor v, percebe-se que φ(A, v) = A(v, v) = v · A(v). Por´em, s˜ao interessantes as express˜oes dos gradientes ∂v φ e ∂A φ da fun¸c˜ao φ(A, v). Al´em disto, o c´alculo de tais gradientes ilustra, para o caso de fun¸c˜ao de m´ ultiplas vari´aveis, o uso do item 4 da defini¸c˜ao 1.3.6, de gradiente escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor e a obediˆencia ao item 3 da mesma defini¸c˜ao. De fato, de acordo com o mencionado item 4 tem-se

∂v φ[u] = dtd φ(A, v + tu)

= dtd ((v + tu) · A(v + tu))

, onde ∂v φ ´e o gradiente t=0 t=0 de φ em v e ∂v φ[u] ´e a derivada direcional de φ em v, na dire¸c˜ao de u (note que A ´e ignorado nestas nota¸c˜oes e denomina¸c˜oes, porque ´e suposto constante). Como (v + tu) · A(v + tu) = v · A(v) + t v · A(u) + t u · A(v) + t 2 u · A(u), ent˜ao ∂v φ[u] = v·A(u)+u·A(v). Mas, de acordo com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17, v · A(u) = u · AT (v), logo v · A(u) + u · A(v) = (A + AT )(v) · u = (A + AT )(v)[u] , provindo a u ´ltima igualdade da segunda linha da tabela presente no item 5 da citada defini¸c˜ao 1.3.6. Tem-se, portanto, ∂v φ = (A + AT )(v). Note que φ(A, v+u) = (v+u)·A(v+u) = v·A(v)+v·A(u)+u·A(v)+u·A(u) = φ(A, v) + ∂v φ[u] + u · A(u). Comparando esta igualdade com a imposi¸c˜ao efetuada no item 3 da mencionada defini¸c˜ao 1.3.6, tem-se o(u) = u · A(u). Se e = u/| u| , lim|u|→0 (|u · A(u)|/| u|) = lim|u|→0 (|u| |e · A(e)|) = 0, resultado este de acordo com a exigˆencia de que lim|Y |→0 |Y1 | | o(Y )| = 0. 58


∂A φ[B] =

d dt

φ(A + tB, v)

t=0

=

d dt

(v · (A + tB)(v))

t=0

, onde ∂A φ ´e o gradiente de φ

em A e ∂A φ[B] ´e a derivada direcional de φ em A, na dire¸c˜ao de B (note que v ´e ignorado nestas nota¸c˜oes e denomina¸c˜oes, porque ´e suposto constante). Como v·(A+tB)(v) = v·A(v)+t v·B(v), tem-se ∂A φ[B] = v·B(v). Mas, de acordo com au ´ltima linha da tabela no item 5 da citada defini¸c˜ao 1.3.6, v · B(v) = (v ⊗ v)[B], logo ∂A φ = v ⊗ v . Note que φ(A + B, v) = v · (A + B)(v) = v · A(v) + v · B(v) = φ(A, v) + ∂A φ[B]. Portanto, comparando esta igualdade com a imposi¸c˜ao efetuada no item 3 da mencionada defini¸c˜ao 1.3.6, obt´em-se o(A) = 0, ficando satisfeita a exigˆencia de que lim|Y |→0 |Y1 | | o(Y )| = 0. Coment´ ario 1.3.2 (Gradiente de φ , sendo φ(A) = u · A(v)) Sejam (u, v) ∈ V vetores constantes e seja a fun¸c˜ao real linear φ : V ⊗ V → <, definida por φ(A) = u · A(v) (conv´em sublinhar que, conforme colocado no in´ıcio do coment´ario 1.3.1, sobre gradientes de φ, sendo φ(A, v) = v · A(v), esta u ´ltima, a fun¸c˜ao escalar bilinear A : V × V → < e a fun¸c˜ao vetorial linear A : U → V j´a foram definidas, n˜ao podendo ser confundidas entre si, ou com a quarta fun¸c˜ao agora apresentada). De acordo com o item 4 da defini¸c˜ao 1.3.6, de gradiente escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor, tem-se, para a derivada direcional de φ em A, para B,

d d = = u · B(v) . ∂A φ[B] = φ(A + tB)

(u · (A + tB)(v))

dt dt t=0 t=0

Como, considerando a u ´ltima linha da tabela existente no item 5 da mencionada defini¸c˜ao 1.3.6, u · B(v) = (u ⊗ v)[B], ent˜ao ∂A φ = u ⊗ v. Note que φ(A + B) = u · (A + B)(v) = u · A(v) + u · B(v) = φ(A) + ∂A φ[B]. Portanto, comparando esta igualdade com a imposi¸c˜ao efetuada no item 3 da citada defini¸c˜ao 1.3.6, obt´em-se o(A) = 0, ficando satisfeita a exigˆencia de que lim|Y |→0 |Y1 | | o(Y )| = 0. Considerando o coment´ario 1.2.46, sobre decomposi¸c˜ao cartesiana de tensor, bem como o coment´ario 1.2.15, sobre transposi¸c˜ao de tensor simples, as parcelas aditivas sim´etrica e antissim´etrica de ∂A φ s˜ao, respectivamente, (u⊗v+v⊗u)/2 e (u⊗v−v⊗u)/2. Por outro lado, o item 4 da mencionada defini¸c˜ao 1.3.6 mostra que A ∈ Sym(V ) implica em ∂A φ ∈ Sym(V ) e v.v., enquanto que A ∈ Skw(V ) implica em ∂A φ ∈ Skw(V ) e v.v.. Portanto, se A ∈ Sym(V ) tem-se ∂A φ = (u ⊗ v + v ⊗ u)/2 , mas se A ∈ Skw(V ) tem-se ∂A φ = (u ⊗ v − v ⊗ u)/2 . Coment´ ario 1.3.3 (Gradiente de Tra¸co) Tem-se

d d

∂A tr[B] = = = trB = 1 · B = 1 [B], ou tr(A + tB)

(trA + t trB)

dt dt t=0 t=0

∂A tr = 1 , onde utilizou-se 59


o item 4 da defini¸c˜ao 1.3.6, de gradiente escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor, para a primeira igualdade, o primeiro item do coment´ario sobre propriedades de tra¸cos 1.2.29 para a segunda, o primeiro item do coment´ario sobre propriedades do produto interno tensorial 1.2.31 para a quarta e a pen´ ultima linha da tabela presente no item 5 da mencionada defini¸c˜ao 1.3.6, para a quinta igualdade. Note que tr(A+B) = trA+trB = trA+∂A (trA)[B]. Portanto, comparando esta igualdade com a imposi¸c˜ao efetuada no item 3 da citada defini¸c˜ao 1.3.6, obt´em-se o(A) = 0, ficando satisfeita a exigˆencia de que lim|Y |→0 |Y1 | | o(Y )| = 0. Coment´ ario 1.3.4 (Gradiente de Determinante) De acordo com o item 4 da defini¸c˜ao 1.3.6, de gradiente escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor, tem-se

d d w((A + tB)(v1 ), . . . , (A + tB)(vn ))

∂A det[B] = , = det(A + tB)

dt dt w(v1 , . . . , vn ) t=0 t=0

onde, para a segunda igualdade, utilizou-se a defini¸c˜ao de determinante de transforma¸c˜ao linear 1.2.24. A fun¸c˜ao n-linear alternante w((A + tB)(v1 ), . . . , (A + tB)(vn )) pode ser decomposta nas seguintes parcelas aditivas: 1. um termo independente de t, w(A(v1 ), . . . , A(vn )) = w(v1 , . . . , vn ) det A ; 2. a soma de n termos de ordem 1 em t, t

Pn

i=1

w(A(v1 ), . . . , B(vi ), . . . , A(vn )) ;

3. termos cuja ordem, em t, ´e superior a 1. Por isto, ∂A det[B] = Pn

=

i=1

w(A(v1 ), . . . , B(vi ), . . . , A(vn )) = w(v1 , . . . , vn ) Pn

ou ∂A det[B] = det A

i=1

Pn

i=1

w(A(v1 ), . . . , AA−1 B(vi ), . . . , A(vn )) , w(v1 , . . . , vn )

w(v1 , . . . , A−1 B(vi ), . . . , vn ) = det A tr(A−1 B) w(v1 , . . . , vn )

onde, na u ´ltima igualdade, foi utilizada a defini¸c˜ao de tra¸co de transforma¸c˜ao linear 1.2.26. Mas, usando a pen´ ultima linha da tabela apresentada no item 5 da mencionada defini¸c˜ao 1.3.6, tem-se tr(A−1 B) = A−T · B = A−T [B], logo ∂A det = (det A)A−T . Note que, de acordo com a imposi¸c˜ao apresentada no item 3 da citada defini¸c˜ao 1.3.6, o(B) corresponde `a soma das parcelas com mais de um B em que se decomp˜oe a fun¸c˜ao n-linear alternante w((A + B)(v1 ), . . . , (A + B)(vn )) / w(v1 , . . . , vn ). Isto garante que 1 lim|B|→0 |B| | o(B)| = 0, porque w ´e linear e porque, conforme a sua defini¸c˜ao 1.2.28, a norma |B| de um tensor de segunda ordem B ´e um real tal que B/|B| seja um tensor de norma igual `a unidade. 60


Coment´ ario 1.3.5 (Diferencia¸c˜ ao em Cadeia) Sejam W1 , W2 e W3 espa¸cos normatizados, como aqueles apresentados na defini¸c˜ao 1.3.3, de derivada vetorial, tensorial ou de pontos, em escalar. Sejam, tamb´em, D1 ⊂ W1 |D1 ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1) e D2 ⊂ W2 |D2 ´e aberto. Sejam, ainda, φ : D1 → W2 , ψ : D2 → W3 e φ(D1 ) ⊂ D2 . Seja φ diferenci´avel em X ∈ D1 e seja ψ diferenci´avel em φ(X) ∈ D2 . Como este coment´ario n˜ao se restringe a algum caso espec´ıfico, entre aqueles citados neste texto, os s´ımbolos s˜ao utilizados em concordˆancia com a nota¸c˜ao de derivada e gradiente generalizados 1.3.1. De acordo estas considera¸c˜oes e com a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e funcional 1.1.1, a composi¸c˜ao de fun¸c˜oes ψ ◦ φ, tal que (ψ ◦ φ)(D1 ) = ψ(φ(D1 )), ´e diferenci´avel em X, obtendo-se, ∀Y |(X + Y ) ∈ D1 , que D(ψ ◦ φ)(X)[Y ] = D(ψ(φ(X)))[Y ] = Dψ(φ(X))[Dφ(X)[Y ] ]. Nesta express˜ao destacada: A derivada de ψ ◦φ se refere aos mesmos X e Y aos quais tamb´em se refere a derivada de φ, enquanto que a derivada de ψ respectivamente se refere a φ(X) e a Dφ(X)[Y ]. A express˜ao mostra que, impondo isto, a derivada de ψ ◦ φ se iguala `a derivada de ψ. A esta igualdade costuma-se chamar regra de diferencia¸c˜ ao em cadeia Dφ(X)[Y ] representa, em rela¸c˜ao a φ(X), o mesmo que Y representa, em rela¸c˜ao a X. De fato, Y ´e uma varia¸c˜ao no valor X que, quando |Y | → 0, define a derivada da fun¸c˜ao que tem X como vari´avel. Analogamente, Dφ(X)[Y ] ´e uma varia¸c˜ao no valor φ(X) que, quando |Dφ(X)[Y ]| → 0, define a derivada da fun¸c˜ao que tem φ(X) como vari´avel. Al´em disto, de acordo com a express˜ao destacada no item 1 da referida nota¸c˜ao 1.3.1, |Y | → 0 implica em |Dφ(X)[Y ]| → 0 e v.v.. D(ψ(φ(X))) 6= Dψ(φ(X)), porque no primeiro termo a deriva¸c˜ao da fun¸c˜ao ψ ◦ φ ocorre em X, como em D(ψ ◦ φ)(X), enquanto que no segundo termo a deriva¸c˜ao da fun¸c˜ao ψ ocorre em φ(X). Esta desigualdade indica a necessidade de n˜ao se usar o mesmo s´ımbolo nos dois u ´ltimos termos da igualdade destacada (p.e., n˜ao utilizar Dψ(φ(X)) em ambos os termos). Coment´ ario 1.3.6 (Gradientes Escalar e Vetorial em Campo Vetorial) Seja a fun¸c˜ao escalar de vetor ϕ : Dϕ ⊂ V → <|Dϕ ´e aberto, (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1) a fun¸c˜ao vetorial de vetor h : Dh ⊂ V → V |Dh ´e aberto e, de acordo com a defini¸c˜ao de campo 1.3.4, o campo vetorial g : Dg ⊂ E → V |Dg ´e aberto. (ϕ ◦ g)(x) = ϕ(g(x)) : De acordo com o coment´ario sobre diferencia¸c˜ao em cadeia 1.3.5, se g for deriv´avel em x ∈ Dg , se g(x) ∈ Dϕ e se ϕ for deriv´avel em g(x), para a composi¸c˜ao ϕ ◦ g : Dg → < existe a derivada direcional ∇x (ϕ ◦ g)[v] = ∇x ϕ(g(·))[v] = ∂u ϕ|u=g(x) [∇x g[v]], onde (v + x) ∈ Dg , u ∈ Dϕ assume o valor g(x) e, em ∇x ϕ(g(·))[v], o ´ındice x em ∇ ´e fundamental para indicar que se trata do gradiente em x da composi¸c˜ao, n˜ao do gradiente de ϕ em g(x), cujo s´ımbolo n˜ao seria ∇. Por outro lado, grafar apenas ∇x ϕ(g)[v] n˜ao esclareceria que x ´e o argumento de g. Note que a composi¸c˜ao ϕ ◦ g nao poderia ser grafada ϕg porque, conforme a defini¸c˜ao de composi¸c˜ao de tensores 61


de segunda ordem 1.2.20, o s´ımbolo ϕg, para indicar composi¸c˜ao, seria espec´ıfico para tais tensores. Tanto o s´ımbolo ∂u ϕ|u=g(x) , quanto o s´ımbolo ∂g(x) ϕ s˜ao corretos, mas utilizou-se o primeiro para sublinhar o fato de que a express˜ao do gradiente, num gen´erico vetor u, deve ser utilizada no espec´ıfico vetor g(x). A defini¸c˜ao de gradiente de campo escalar, vetorial, tensorial ou de pontos 1.3.5 mostra que ∇x g ´e um tensor de segunda ordem. Como ϕ ´e uma fun¸c˜ao escalar de um vetor, ∂u ϕ|u=g(x) ´e um vetor. De acordo com as linhas 2 e 3 da tabela do item 5 da defini¸c˜ao 1.3.6, de gradientes escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor, temse ent˜ao ∂u ϕ|u=g(x) [∇x g[v]] = ∂u ϕ|u=g(x) · ∇x g(v) = (∇x g)T (∂u ϕ|u=g(x) ) · v, onde a u ´ltima igualdade decorre do uso da defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17. Logo, usando novamente a linha 2 da mencionada tabela, tem-se ∇x ϕ(g(·))[v] = (∇x g)T (∂u ϕ|u=g(x) )[v], ou o vetor ∇x ϕ(g(·)) = (∇x g)T (∂u ϕ|u=g(x) ). (h ◦ g)(x) = h(g(x)) : De acordo com o mencionado coment´ario 1.3.5, se g for deriv´avel em x ∈ Dg , se g(x) ∈ Dh e se h for deriv´avel em g(x), para a composi¸c˜ao h ◦ g : Dg → V existe a derivada direcional ∇x (h ◦ g)[v] = ∇x h(g(·))[v] = ∂u h|u=g(x) [∇x g[v]], onde (v+x) ∈ Dg e u ∈ Dh assume o valor g(x). Como no item anterior, ∇x g ´e um tensor de segunda ordem. Como h ´e uma fun¸c˜ao vetorial de um vetor, ∂u h|u=g(x) tamb´em ´e um tensor de segunda ordem. Logo, de acordo com a linha 3 da citada tabela, ∂u h|u=g(x) [∇x g[v]] = ∂u h|u=g(x) (∇x g(v)) = (∂u h|u=g(x) ◦ ∇x g)(v) = (∂u h|u=g(x) ◦ ∇x g)[v] = ∂u h|u=g(x) ∇x g[v], onde a u ´ltima igualdade deve-se `a defini¸c˜ao de composi¸c˜ao de tensores de segunda ordem 1.2.19. Tem-se, portanto, ∇x h(g(·))[v] = ∂u h|u=g(x) ∇x g[v], ou o tensor de segunda ordem ∇x h(g(·)) = ∂u h|u=g(x) ∇x g. Note que este coment´ario apresenta as u ´teis express˜oes dos gradientes escalar e vetorial em campo vetorial, ilustra o uso da regra de diferencia¸c˜ao em cadeia mostrada no coment´ario 1.3.5, aprofunda a compreens˜ao do uso dos s´ımbolos utilizados na diferencia¸c˜ao e, ainda, sublinha a necessidade de se trabalhar com derivadas direcionais e, s´o ap´os obtida a express˜ao final, escrever esta express˜ao em termos de gradientes. De fato, se este n˜ao tivesse sido o procedimento, percebe-se facilmente os absurdos que poderiam ter sido obtidos. Coment´ ario 1.3.7 (Diferencia¸c˜ ao de Produto) A ´algebra linear cont´em diversos tipos de produtos, mas todos eles tˆem uma propriedade em comum, a saber, a bilinearidade. Seja, ent˜ao, a opera¸c˜ao bilinear π : W1 × W2 → W3 , a qual atribui, ∀φ(X) ∈ W1 e ∀ψ(X) ∈ W2 , o produto π(φ(X), ψ(X)) ∈ W3 , onde φ : X ∈ D 7→ φ(X) ∈ W1 e ψ : X ∈ D 7→ ψ(X) ∈ W2 , sendo D ⊂ W |D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1) e W ´e normatizado (defini¸c˜ao 1.3.3, de derivada vetorial, tensorial ou de pontos, 62


em escalar). Define-se f(X) = π(φ(X), ψ(X)), ∀X ∈ D, logo f : D → W3 . Sejam φ e ψ diferenci´aveis em X ∈ D ⊂ W . A bilinearidade de π(φ(X), ψ(X)) garante, ent˜ao, que f ´e diferenci´avel em X, sendo, ∀(X + Y ) ∈ D, Df(X)[Y ] = π(Dφ(X)[Y ], ψ(X)) + π(φ(X), Dψ(X)[Y ]) . Coment´ ario 1.3.8 (Diferencia¸c˜ ao de Tensor ao Quadrado) Se A ∈ V ⊗ V , ent˜ao 2 ∂A A [B] = BA + AB. De fato, usando o item 3 da defini¸c˜ao 1.3.6 de gradiente escalar, d (A dt

vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor, tem-se ∂A A2 [B] = Mas

d ((A + tB)(A + tB)) dt

= B(A + tB) + (A + tB)B, logo

d 2

(A + tB)

dt

t=0

+ tB)2

t=0

.

= BA + AB.

Coment´ ario 1.3.9 (Diferencia¸c˜ ao de Tensor Inverso) Se, de acordo com a defini¸c˜ao de tensor inverso de segunda ordem 1.2.29, A ∈ V ⊗ V for invert´ıvel, ent˜ao ∂A A−1 [B] = −A−1 BA−1 . De fato, usando o item 3 da defini¸c˜ao 1.3.6 de gradiente escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor, tem-se ∂A A−1 [B] =

d (A dt

+ tB)−1

t=0

(como A ´e invert´ıvel e t ´e arbitr´ario, existe t n˜ao nulo tal que (A+tB)−1 exista, al´em disto ocorrer em t = 0). Como (A + tB)−1 (A + tB) = 1 , ent˜ao dtd ((A + tB)−1 (A + tB)) = 0, ou ( dtd (A + tB)−1 )(A + tB) + (A + tB)−1 dtd (A + tB) = 0, ou ( dtd (A + tB)−1 )(A + tB) = −(A + tB)−1 B, ou −A−1 BA−1 .

d (A dt

+ tB)−1 = −(A + tB)−1 B(A + tB)−1 , logo

d (A dt

+ tB)−1

t=0

=

Coment´ ario 1.3.10 (Diferencia¸c˜ ao de Tra¸co de Tensor Inverso) Se, conforme a defini¸c˜ao de tensor inverso de segunda ordem 1.2.29, A ∈ V ⊗ V for invert´ıvel, ent˜ao ∂A tr(A−1 ) = −(A−2 )T . De fato, usando a regra de diferencia¸c˜ao em cadeia apresentada no coment´ario 1.3.5 e, em seguida, o afirmado no coment´ario sobre diferencia¸c˜ao de tensor inverso 1.3.9, obt´em-se ∂A tr(A−1 )[B] = ∂tr(A−1 )[∂A A−1 [B]] = −∂tr(A−1 )[A−1 BA−1 ], onde o ´ındice A−1 foi omitido no s´ımbolo ∂, para evitar redundˆancia. Note, por´em, que embora redundˆancias sejam deselegantes e denotem inexperiˆencia ou desaten¸c˜ao, elas n˜ao s˜ao erradas. Por isto, na d´ uvida, corra o risco de ser redundante, antes de correr aquele de errar. Usando o item 4 da defini¸c˜ao 1.3.6 de gradiente escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor, seguido dos itens 1 e 5 do coment´ario sobre propriedades de tra¸cos

= tr(A−1 BA−1 ) = 1.2.29, tem-se que ∂tr(A−1 )[A−1 BA−1 ] = dtd tr[A−1 + tA−1 BA−1 ]

t=0

tr(A−2 B), logo ∂A tr(A−1 )[B] = −tr(A−2 B). Considerando a pen´ ultima linha da tabela do item 5 da citada defini¸c˜ao 1.3.6, novamente o coment´ario 1.2.29 e tamb´em o coment´ario 1.2.19, sobre transposi¸c˜ao de composi¸c˜ao, tem-se ∂A tr(A−1 )[B] = −(A−2 )T [B], logo ∂A tr(A−1 ) = −(A−2 )T . Coment´ ario 1.3.11 (F´ ormulas para Diferencia¸c˜ ao de Produtos) Seja a fun¸c˜ao escalar f e as fun¸c˜oes vetoriais h e q, sendo o argumento delas uma vari´avel pertencente a D ⊂ W |D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1). De acordo com o coment´ario 1.3.7, sobre difernecia¸c˜ao de produtos, tem-se que: 1. para W = < z}|{ ˙

f h = f˙ h + f h˙ z }| ˙ { q · h = q˙ · h + q · h˙ 63


2. para W = E ∇(f h) = h ⊗ ∇f + f ∇h ∇(q · h) = (∇q)T (h) + (∇h)T (q) 3. para W = V ∂(f h) = h ⊗ ∂f + f ∂h ∂(q · h) = (∂q)T (h) + (∂h)T (q) Note que, coerentemente com a simbologia adotada, os parˆentesis ap´os os s´ımbolos ∇ e ∂ indicam que a fun¸c˜ao, `a qual o gradiente ´e aplicado, ´e o produto de duas fun¸c˜oes. Portanto, tais parˆentesis n˜ao indicam qual ´e o valor da vari´avel que define a forma da opera¸c˜ao gradiente, porque tal valor apareceria como ´ındice dos s´ımbolos ∇ e ∂. Coment´ ario 1.3.12 (Derivada e Gradiente de Ordem Superior) Seja F : D ⊂ W → W1 diferenci´avel em X ∈ D|D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1). Ent˜ao, conforme a nota¸c˜ao de derivada e gradiente generalizados 1.3.1, DF(X) : W2 → W3 e DF(X) ∈ W3 ⊗ W2 , logo DF : X ∈ D ⊂ W 7→ DF(X) ∈ DF(D) ⊂ W3 ⊗ W2 . Seja DF : D ⊂ W → W3 ⊗ W2 diferenci´avel em X. Ent˜ao D2 F(X) : W2 → W3 ⊗ W2 e D2 F(X) ∈ W3 ⊗ W2 ⊗ W2 , logo D2 F : X ∈ D ⊂ W 7→ D2 F(X) ∈ D2 F(D) ⊂ W3 ⊗ W2 ⊗ W2 , onde D2 F(X) ´e uma fun¸c˜ao derivada ou gradiente de segunda ordem. Procedendo sucessivamente desta forma, pode-se atingir derivadas ou gradientes de ordem cada vez maior, enquanto as fun¸c˜oes forem diferenci´aveis. Evidentemente, as correspondentes derivadas direcionais s˜ao DF(X)[Y ], D2 F(X)[Y ] etc., para (X + Y ) ∈ D, logo Y ∈ W2 . Evidentemente tamb´em, n˜ao se trata de composi¸c˜ao de fun¸c˜oes, ao contr´ario do que ocorre no coment´ario 1.3.5, sobre diferencia¸c˜ao em cadeia. Defini¸c˜ ao 1.3.7 (Classe C k ) Se F : D ⊂ W → W1 for diferenci´avel em X ∈ D|D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1) e, conforme o coment´ario 1.3.12, sobre derivada e gradiente de ordem superior, DF : D ⊂ W → W3 ⊗ W2 for cont´ınua em D, afirmar-se-´a que F pertence `a classe C 1 . Se DF : D ⊂ W → W3 ⊗W2 for diferenci´avel em X e D2 F : D ⊂ W → W3 ⊗ W2 ⊗ W2 for cont´ınua em D, afirmar-se-´a que DF pertence `a classe C 1 e F pertence `a classe C 2 . Procedendo sucessivamente desta forma, pode-se concluir que F pertence `a classe C k , onde, necessariamente, k ´e um inteiro maior ou igual `a unidade. Uma fun¸c˜ao ´e dita suave (“smooth”) quando ela pertencer a alguma classe C k . Seja E ´e um espa¸co euclideano de pontos, de acordo com a sua defini¸c˜ao 1.2.44. O ponto x ∈ E ser´a regular se todos os campos tensoriais para este fim considerados forem suaves neste ponto mas, se isto n˜ao ocorrer, ele ser´a singular. Uma superf´ıcie em E ser´a seccionalmente suave quando ela for constitu´ıda por pontos regulares salvo, no m´aximo, sobre um n´ umero finito de curvas. Um subconjunto de E ser´a uma regi˜ao regular quando for totalmente envolvido por uma superf´ıcie a ele pertencente, que o separe do restante de E e, al´em disto, a superf´ıcie envolvente for seccionalmente suave.

64


Coment´ ario 1.3.13 (Gradiente de Gradiente de Campo Escalar) Seja D ⊂ E|D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1) e seja φ : D → <|φ pertence `a classe C 2 . Considerando o coment´ario 1.3.12, sobre derivada e gradiente de ordem superior e de acordo com a defini¸c˜ao de classe C k 1.3.7, tem-se ent˜ao que, sendo V o espa¸co de transla¸c˜ao de E, ∃∇x φ : V → < tal que ∇φ : x ∈ D ⊂ E 7→ ∇x φ ∈ ∇D φ ⊂ V seja cont´ınua em D e, al´em disto, ∃∇x ∇φ : V → V tal que ∇∇φ : x ∈ D ⊂ E 7→ ∇x ∇φ ∈ ∇D ∇φ ⊂ V ⊗ V seja cont´ınua em D. Aten¸c˜ao: n˜ao usar o s´ımbolo ∇2 , o qual, conforme a defini¸c˜ao de laplaciano de campo escalar ou vetorial 1.3.14, representa uma transforma¸c˜ao completamente diferente daquela aqui proposta. Seja v ∈ V . Na express˜ao f(x+v)−f(x) = ∇x f [v]+o(v), apresentada na defini¸c˜ao de gradiente de campo escalar, vetorial, tensorial ou de pontos 1.3.5, pode-se, ent˜ao, impor que f = ∇φ, o que resulta na igualdade ∇x+v φ − ∇x φ = (∇x ∇φ)[v] + o(v), na qual cada um dos termos ´e um vetor e, de acordo com a terceira linha da tabela no item 5 da defini¸c˜ao 1.3.6, de gradiente escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, em vetor ou tensor, (∇x ∇φ)[v] = (∇x ∇φ)(v), porque ∇x ∇φ ´e um tensor de segunda ordem. Deve-se sublinhar que esta igualdade n˜ao representa uma composi¸c˜ao de fun¸c˜oes (∇φ ´e aplic´avel a um ponto de E, n˜ao a um vetor). A aplica¸c˜ao de ∇x a ∇φ antecede qualquer opera¸c˜ao sobre v, o que ´e o oposto do que acontece na composi¸c˜ao. Impondo u ∈ V , pode-se efetuar o produto interno da igualdade destacada por u, ∇x+v φ[u] − ∇x φ[u] = u · (∇x ∇φ)(v) + o(v), porque o(v) indica alguma corre¸c˜ao, a qual ´e fun¸c˜ao de v. Mas, porque f(x + u) − f(x) = ∇x f [u] + o(u), tem-se ∇x+v φ[u] = φ(x + v + u) − φ(x + v) + o(u) e ∇x φ[u] = φ(x + u) − φ(x) + o(u). Substituindo estas duas igualdades na u ´ltima express˜ao destacada tem-se u · (∇x ∇φ)(v) = φ(x + v + u) − φ(x + v) − φ(x + u) + φ(x) + o(u) + o(v) , cujo segundo membro n˜ao se altera com a troca entre u e v, logo u · (∇x ∇φ)(v) = v · (∇x ∇φ)(u) . Considerando a defini¸c˜ao de tensores sim´etrico e antissim´etrico 1.2.18, percebe-se que, se o gradiente do gradiente de um campo escalar pertencer `a classe C 2 , ele ser´a um tensor sim´etrico. Este coment´ario, al´em de exemplificar o uso do conceito de derivada e gradiente de ordem superior, apresentado no coment´ario 1.3.12, produz um resultado muito u ´til para a mecˆanica dos meios cont´ınuos. 65


Teorema 1.3.1 (Fun¸c˜ ao Inversa) O teorema da fun¸c˜ao inversa, cuja demonstra¸c˜ao ´e omitida, mostra que, para D ⊂ W |D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1), se a fun¸c˜ao F : D → W pertencer `a classe C k e for de um para um em D, respectivamente de acordo com as defini¸c˜oes de classe C k 1.3.7 e de fun¸c˜ao e funcional 1.1.1, ent˜ao a transforma¸c˜ao linear DF(X) ser´a invert´ıvel ∀X ∈ D e, al´em disto, tamb´em pertencer´a `a classe C k a fun¸c˜ao inversa de F em D, grafada F−1 conforme a mesma defini¸c˜ao 1.1.1. Como exemplo de transforma¸c˜ao linear invert´ıvel pode-se considerar o caso em que DF(X) ∈ V ⊗ V , o qual obedece `a defini¸c˜ao de tensor inverso de segunda ordem 1.2.29.

1.3.3

Sistemas de Coordenadas

Defini¸c˜ ao 1.3.8 (Sistema de Coordenadas) Seja D ⊂ E|D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1). Um sistema de coordenadas ´e uma fun¸c˜ao de um para um que pertence `a classe C 2 , respectivamente de acordo com as defini¸c˜oes de fun¸c˜ao e funcional 1.1.1 e de classe C k 1.3.7, grafada ψ : D → <n . De acordo com o teorema 1.3.1, sobre fun¸c˜ao inversa, isto garante que ψ −1 existe e pertence `a classe C 2 . Se x ∈ D, ent˜ao ψ : x 7→ (x1 , . . . , xn ) ´e um sistema de coordenadas, sendo (x1 , . . . , xn ) = ψ(x) as coordenadas de x. Cada fun¸c˜ao χi : D → <, tal que χi : x 7→ xi para i = 1, . . . , n, ´e uma i-´ esima fun¸c˜ ao coordenada do sistema de coordenadas ψ, tamb´em ela pertencente `a 2 classe C . Seja χ = ψ −1 , portanto seja x = χ(x1 , . . . , xn ) = χ(χ1 (x), . . . , χn (x)). Seja, ainda, a fun¸c˜ao λi : < → D, a qual define a curva da i-´ esima coordenada 1 passando por x quando t = 0, curva esta grafada λi (t) = χ(x , . . . , xi + t, . . . , xn ), onde x1 , . . . , xi−1 , xi+1 , . . . , xn s˜ao mantidos fixos. Como λi (t) ∈ D, a tangente a esta curva no ponto x ´e um vetor ci (x) ∈ Ex , onde Ex ´e o espa¸co tangente de E em x, isom´orfico ao espa¸co de transla¸c˜ao V de E, conforme a defini¸c˜ao de espa¸co tangente 1.2.45. Tem-se

d ˙ ci (x) = λi (t)

= dt χ(X + tY ) , onde X = ψ(x) e Y = (0, . . . , 0, xi = 1, 0, . . . , 0). t=0

t=0

Mas, de acordo com o item 4 da defini¸c˜ao 1.3.6, de gradiente

escalar, vetorial, tensorial d ou de pontos, em vetor ou tensor, tem-se que dt χ(X + tY )

= ∂X χ[Y ]. Portanto, t=0

ci (x) = λ˙ i (t)

t=0

= ∂X χ[Y ] =

∂χ 1 (x , . . . , xn ) , i ∂x

onde a u ´ltima igualdade indica que o c´alculo de ∂X χ[Y ] pode ser efetuado pelo m´etodo ∂χ tradicional, porque x = χ(x1 , . . . , xn ) mostra que o argumento de χ (e de ∂x e um i) ´ conjunto de escalares independentes entre si. Teorema 1.3.2 (Base de Espa¸co Tangente) O conjunto ordenado (ci (x))ni=1 ´e uma base do espa¸co tangente Ex . Demonstra¸c˜ao: ∀v ∈ Ex pode-se definir uma curva passando por x quando t = 0, a saber λ(t) = x+tv ∈ E, onde t ∈ <. Mas, de acordo com a defini¸c˜ao de sistema de coordenadas 1.3.8, λ(t) = x+tv = χ(χ1 (x+tv), . . . , χn (x+tv)), sendo χ i (x+tv) = (x+tv) i . Portanto, para x e v fixos, λ˙ = v =

n X

dχ i ∂χ dχ i 1 n ((x + tv) , . . . , (x + tv) ) = ci (x + tv) , i dt i=1 dt ∂χ 66


onde, na terceira igualdade da u ´ltima express˜ao destacada, foi novamente usada a defini¸c˜ao 1.3.8. A express˜ao destacada independe de t. Para t = 0 ela pode ser escrita

dχ i

λ˙ = v = ci (x) .

dt t=0 Esta u ´ltima express˜ao indica que o conjunto ordenado (ci (x))ni=1 abrange todo o espa¸co Ex . Como, al´em disto, os vetores ci (x) s˜ao derivadas parciais em rela¸c˜ao a vari´aveis independentes, eles s˜ao linearmente independentes entre si. Logo, de acordo com a defini¸c˜ao de base 1.2.2, eles formam uma base para Ex . 2 Defini¸c˜ ao 1.3.9 (Campo de Bases) De acordo com o item 2 da defini¸c˜ao de campo 1.3.4, ci (x) ∈ Ex ´e um campo vetorial aplicado a D ⊂ E, motivo porque o conjunto ordenado (ci (x))ni=1 ´e dito um campo de bases (uma base para cada ponto x, de acordo com o teorema sobre base de espa¸co tangente 1.3.2). Cada campo de bases ´e chamado base natural, no espa¸co V de transla¸c˜ao de E, das correspondentes coordenadas (xi )ni=1 que o originam, por meio das fun¸c˜oes λi (t) apresentadas na defini¸c˜ao de sistema de coordenadas 1.3.8. Coment´ ario 1.3.14 (Tensor M´ etrico e Base Natural Dual) A base natural vista na defini¸c˜ao de campo de bases 1.3.9, (ci (x))ni=1 , ´e contravariante. Sua base dual covariante ´e (ci (x))ni=1 . Os produtos internos gi j (x) = ci (x) · cj (x) e g i j (x) = ci (x) · cj (x) s˜ao, respectivamente, componentes covariantes (obtidos a partir da base contravariante) e contravariantes (obtidos a partir da base covariante) do tensor m´ etrico do sistema de coordenadas para o ponto x. Note que, conforme o coment´ario 1.2.13, sobre componente associado do tensor identidade, o tensor m´etrico do sistema de coordenadas ´e a forma assumida pelo tensor identidade em cada ponto x, em termos das bases naturais contravariante e covariante referentes a determinado sistema de coordenadas. Considerando, de acordo com a defini¸c˜ao de sistema de coordenadas 1.3.8, xi = χi (x) e x = χ(x1 , . . . , xn ), tem-se xi = χi (χ(x1 , . . . , xn )). Logo, usando a regra de diferencia¸c˜ao em cadeia apresentada no coment´ario 1.3.5, a saber Df(X)[Z] = Dψ(φ(X))[Dφ(X)[Z] ], tem-se ∂xi 1 (x , . . . , xn ) = δ i j = ∂xj " # ∂χ 1 n i ∂χ ∇x χ (x , . . . , x ) = ∇x χi · j (x1 , . . . , xn ) = j ∂x ∂x ∇x χi · cj (x) , onde: todos os membros foram divididos pelo acr´escimo escalar [Y ], a primeira igualdade prov´em do fato das coordenadas serem independentes entre si, tanto ∇x χi quanto

∂χ (x1 , . . . , ∂xj

xn ) s˜ao vetores,

a terceira igualdade prov´em do uso da linha 2 da tabela no item 5 da defini¸c˜ao 1.3.6, de gradiente escalar, vetorial ou de pontos, em vetor ou tensor e

67


a quarta igualdade considera a express˜ao destacada na defini¸c˜ao de sistema de coordenadas 1.3.8. Como, de acordo com a defini¸c˜ao de base dual 1.2.8, ci (x) · cj (x) = δ i j , a express˜ao destacada mostra que ci (x) = ∇x χi . Portanto, ∀x as duas bases naturais duais das coordenadas (x1 , . . . , xn ), no espa¸co V de transla¸c˜ao de E, s˜ao, para i = 1, . . . , n, ci (x) =

∂χ 1 (x , . . . , xn ) ∂xi

e

ci (x) = ∇x χi ,

respectivamente a base contravariante e a covariante das mesmas coordenadas. Coment´ ario 1.3.15 (Transforma¸c˜ ao de Sistema de Coordenadas) Considerando a defini¸c˜ao de sistema de coordenadas 1.3.8, sejam os dois sistemas ψ : D → <n e ψ¯ : D → <n , onde D ⊂ E|D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1) e ¯ sejam (x1 , . . . , xn ) = ψ(x) e (¯ x1 , . . . , x¯n ) = ψ(x) as correspondentes coordenadas de x. Suponha que a transforma¸c˜ao de coordenadas seja dada por xi = xi (¯ x1 , . . . , x¯n ) e x¯i = x¯i (x1 , . . . , xn ) . Impondo xi = χi (x) e x¯i = χ¯i (x), para i = 1, . . . , n e aplicando o gradiente em x, para P i a equa¸c˜ao destacada `a esquerda tem-se ∇x χi = nj=1 ∂∂xx¯j (¯ x1 , . . . , x¯n )∇x χ¯j , enquanto que i

∂x ¯ 1 n j ´ltimas para aquela `a direita tem-se ∇x χ¯i = nj=1 ∂x j (x , . . . , x )∇x χ . Note que estas u duas igualdades podem ser obtidas pelos m´etodos tradicionais de deriva¸c˜ao, porque xi e x¯i s˜ao fun¸c˜oes escalares de escalares e, conforme indica a defini¸c˜ao de campo 1.3.4, χi e χ¯i s˜ao campos escalares. Como, de acordo com o coment´ario 1.3.14, sobre tensor m´etrico e base natural dual, i c (x) = ∇x χi e c¯i (x) = ∇x χ¯i , tem-se

P

ci (x) =

n X

∂xi 1 (¯ x , . . . , x¯n ) c¯j (x) j ∂ x ¯ j=1

e

c¯i (x) =

n X

∂ x¯i 1 (x , . . . , xn ) cj (x) . j ∂x j=1

∂χ (x1 , . . . , xn ) e c¯i (x) = ∂∂x¯χ¯i (¯ x1 , . . . , x¯n ), onde x = χ(x1 , . . . , xn ) ∂xi Pn j ∂χ ∂χ ¯ 1 n logo ci (x) = ∂x (¯ x1 , . . . , x¯n ) ∂∂xx¯ i (x1 , . . . , xn ) i (x , . . . , x ) = j=1 ∂ x ¯j

Al´em disto, ci (x) = χ(¯ ¯ x1 , . . . , x¯n ),

= =

∂x ¯j

(x1 , . . . , xn )¯cj (x). As primeiras duas igualdades prov´em do mesmo coment´ario 1.3.14, enquanto que a seguinte espress˜ao para x utiliza a j´a citada defini¸c˜ao 1.3.8. A express˜ao que liga ci (x) a c¯j (x) pode ser obtida pelos m´etodos tradicionais de deriva¸c˜ao e uma express˜ao an´aloga existe para c¯i (x). Tem-se, portanto, ∂xi

ci (x) =

∂ x¯j 1 (x , . . . , xn ) c¯j (x) ∂xi

e

c¯i (x) =

∂xj 1 (¯ x , . . . , x¯n ) cj (x) . ∂ x¯i

As quatro igualdades destacadas podem ser escritas, em analogia ao exposto na defini¸c˜ao de matrizes de transforma¸c˜ao 1.2.21, ¯ j i c¯j (x) ci (x) = M −1

¯i ci (x) =M

−1

i

e

¯ j cj (x) , c¯i (x) =M

e

¯ i j cj (x) , c¯i (x) = M

j

c¯j (x)

68


o que permite a associa¸c˜ao i ¯ j i = ∂x , M ∂ x¯j

i

i −1 ¯ j = ∂ x¯ , M ∂xj

j

j −1 ¯ i = ∂ x¯ M ∂xi

j ¯ i j = ∂x . e M ∂ x¯i

Feita esta associa¸c˜ao, as regras de transforma¸c˜ao de componentes de vetor e de tensor, respectivamente apresentadas nos coment´arios 1.2.20 e 1.2.21, s˜ao diretamente aplic´aveis. Coment´ ario 1.3.16 (Deforma¸c˜ ao em Termos de Coordenadas) Seja uma deforma¸c˜ao, conforme o item 4 da defini¸c˜ao de campo 1.3.4, κ : D → E, sendo D ⊂ E|D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1), logo xe = κ(x), onde x ∈ D e xe ∈ κ(D). Sejam, tamb´em, as correspondentes coordenadas, de acordo com a defini¸c˜ao de e x e) e as fun¸ sistema de coordenadas 1.3.8, (x1 , . . . , xn ) = ψ(x) e (xe1 , . . . , xen ) = ψ( c˜oes ine A deforma¸ versas dos sistemas de coordenadas, respectivamente χ e χ. c˜ao, que ocorre de um ponto x para um ponto xe, tamb´em pode ser entendida como a altera¸c˜ao das coordenadas associadas a x para aquelas referentes a xe, por meio da express˜ao xeα = κα (x1 , . . . , xn ), e x e1 , . . . , x en ), usando a express˜ para α = 1, . . . , n. Como xe = κ(x) = χ( ao da deforma¸c˜ao i i em termos de coordenadas e a igualdade x = χ (x), mostrada na citada defini¸c˜ao 1.3.8, pode-se escrever n X n X ∂ χe ∂κα ∇x κ = ∇x χi . α ∂xi e ∂ x α=1 i=1 onde utilizou-se deriva¸c˜ao tradicional. De acordo com o coment´ario 1.3.14, sobre tensor m´etrico e base natural dual, a express˜ao destacada inclui os vetores ∂ χe 1 (xe , . . . , xen ) = ceα (xe) = ceα (κ(x)) e ∇x χi = ci (x) . ∂ xeα α

(x1 , . . . , xn ) e, considerando a defini¸c˜ao de Al´em disto, ela tamb´em inclui o escalar ∂κ ∂xi gradiente de campo escalar, vetorial, tensorial ou de pontos 1.3.5, o tensor de segunda ordem ∇x κ. Isto indica que os dois vetores no segundo membro formam um tensor simples. Tal tensor deve ser ceα (κ(x)) ⊗ ci (x), n˜ao ci (x) ⊗ ceα (κ(x)), porque ∇x κ ´e aplicado a um vetor diferen¸ca entre pontos pertencentes, ambos, a D, produzindo um vetor diferen¸ca entre pontos pertencentes, ambos, a κ(D). Obt´em-se, ent˜ao, ∇x κ =

n X

∂κα 1 (x , . . . , xn ) ceα (κ(x)) ⊗ ci (x) , i ∂x i=1

onde o somat´orio sobre α obedece `a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2. A u ´ltima express˜ao destacada mostra componentes mixtos do tensor gradiente de deforma¸c˜ ao, associados `a base produto correspondente `as bases naturais contravariante e covariante de quaisquer dois sistemas de coordenadas, referindo-se cada sistema de coordenadas a um ponto distinto do espa¸co euclideano de pontos. De fato, de acordo com a defini¸c˜ao de tensor de segunda ordem 1.2.14, a express˜ao destacada indica que ∂κα 1 (∇x κ)α i = (x , . . . , xn ) . ∂xi 69


Portanto, utilizando a base produto mencionada, os componentes do gradiente da deforma¸c˜ao s˜ao as derivadas parciais das fun¸c˜oes escalares de escalares κα : (x1 , . . . , xn ) 7→ xeα , para α = 1, . . . , n, que fornecem a deforma¸c˜ao em termos das rela¸c˜oes entre as coordenadas destes dois pontos. Mas, usando o coment´ario 1.2.15, sobre transposi¸c˜ao de tensor simples, tem-se que (∇x κ)T =

n X

∂κα 1 (x , . . . , xn ) ci (x) ⊗ ceα (κ(x)) , i ∂x i=1

logo ((∇x κ)T )i α =

∂κα 1 (x , . . . , xn ) . ∂xi

De fato, de acordo com o coment´ario 1.2.16, sobre transposi¸c˜ao de tensor de segunda ordem, A i j = (AT )j i . O conceito de tensor gradiente de deforma¸c˜ao ´e de extrema importˆancia para a termodinˆamica dos meios cont´ınuos, usando-se, geralmente, os componentes associados agora mostrados.

1.3.4

Derivadas Covariantes

Defini¸c˜ ao 1.3.10 (Componente de Gradiente de Campo) O gradiente de campo escalar, vetorial, tensorial ou de pontos foi apresentado na defini¸c˜ao 1.3.5. No coment´ario 1.3.16, sobre deforma¸c˜ao em termos de coordenadas, foram indicados os componentes do gradiente de campo de pontos, associados `a base produto correspondente `as bases naturais contravariante e covariante de quaisquer dois sistemas de coordenadas, referindo-se cada sistema de coordenadas a um ponto distinto do espa¸co euclideano de pontos. Ser´a, agora, considerado um u ´nico sistema de coordenadas, aplic´avel a todos os pontos do espa¸co euclideano e os dois campos de bases naturais, um contravariante e o outro covariante, referentes a este sistema de coordenadas (defini¸c˜ao de campo de bases 1.3.9 e coment´ario 1.3.14, sobre tensor m´etrico e base natural dual). De fato, os componentes dos gradientes dos campos escalar, de bases naturais, vetorial e tensorial de segunda ordem, associados aos dois campos de bases mencionados, apresentam especial interesse para a mecˆanica dos meios cont´ınuos. Portanto, seja ψ o sistema de coordenadas, de acordo com sua defini¸c˜ao 1.3.8 e sejam (x1 , . . . , xn ) = ψ(x) as correspondentes coordenadas, ou x = χ(x1 , . . . , xn ), onde x ∈ D ⊂ E|D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1). De acordo com o j´a citado coment´ario 1.3.14, sejam, ∀x, (ci (x))ni=1 e (ci (x))ni=1 as bases naturais, respectivamente contravariante e covariante, referentes a estas coordenadas. 1. Campo escalar f : D → <: o gradiente de f ´e um vetor, portanto seus componentes s˜ao produtos internos do vetor gradiente pelos vetores de base. Logo, de acordo com a defini¸c˜ao de base dual 1.2.8, os componentes covariantes do gradiente de f s˜ao dados por 1 ∇x f · ci (x) = ∇x f [ci (x)] = lim (f (x + tci (x)) − f (x)) , t→0 t onde na u ´ltima igualdade usou-se sequencialmente a express˜ao para derivada direcional da citada defini¸c˜ao 1.3.5, seguida da defini¸c˜ao de derivada escalar em es-

70


∂χ 1 1 i n 1 n calar 1.3.2. Como ci (x) = ∂x i (x , . . . , x ) = limt→0 t (χ(x , . . . , x + t, . . . , x ) − χ(x1 , . . . , xn )), onde na primeira igualdade usou-se o mencionado coment´ario 1.3.14 e na segunda a citada defini¸c˜ao 1.3.2, tem-se limt→0 1t (χ(x1 , . . . , xi + t, . . . , xn ) − χ(x1 , . . . , xn )−tci (x)) = 0. Portanto, limt→0 1t χ(x1 , . . . , xi +t, . . . , xn ) = limt→0 1t (x +tci ). Usando o conceito de composi¸c˜ao de fun¸c˜oes apresentado na defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e funcional 1.1.1 tem-se, ent˜ao, ∇x f · ci (x) = limt→0 1t (f ◦ χ(x1 , . . . , xi + t, . . . , xn ) − f ◦ χ(x1 , . . . , xn )), ou

∇x f · ci (x) =

∂(f ◦χ) (x1 , . . . , xn ) cj (x), ∂xj Pn ∂(f ◦χ) j ∂(f ◦χ) j=1 ∂xj δ i = ∂xi , logo

Se ∇x f = ci (x) =

∂(f ◦ χ) 1 (x , . . . , xn ) . i ∂x

Pn

j=1

∇x f =

ent˜ao ∇x f · ci (x) =

Pn

j=1

∂(f ◦χ) ∂xj

cj (x) ·

n X

∂(f ◦ χ) 1 (x , . . . , xn ) cj (x) . j ∂x j=1

Portanto, os componentes covariantes do vetor gradiente de um campo escalar, evidentemente associados `a correspondente base natural covariante de um sistema de coordenadas de um espa¸co euclideano de pontos, s˜ao as derivadas parciais de f ◦χ em rela¸c˜ao `as mencionadas coordenadas. Tais escalares costumam ser grafados ∂(f ◦ χ) 1 (x , . . . , xn ) = f, j (x) , ∂xj sendo denominados derivadas covariantes de campo escalar. Tem-se, ent˜ao, ∇x f = f, j (x) cj (x) , que claramente mostra ser o nome derivada covariante proveniente do fato de que trata-se dos componentes, do gradiente campo escalar f (x), associados `a base natural covariante referente ao ponto x (derivadas contravariantes n˜ao ser˜ao tratadas neste texto). Como deseja-se utilizar a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2, esta ´e a raz˜ao porque o indicador referente `a coordenada de deriva¸c˜ao (no caso, j) aparece como ´ındice, n˜ao como super´ındice do s´ımbolo do campo (no caso, f ). 2. Campo de bases naturais: as bases naturais s˜ao (ci (x))ni=1 (contravariante) e (ci (x))ni=1 (covariante). Para cada i fixo tem-se ci : x ∈ D 7→ ci (x) ∈ Ex , sendo o gradiente de ci um tensor de segunda ordem grafado Γi (x) = ∇x ci ∈ Ex ⊗ Ex . Analogamente, ci : x ∈ D 7→ ci (x) e Γi (x) = ∇x ci ∈ Ex ⊗ Ex . Os componentes de Γi e Γi associados `as bases produto naturais s˜ao os s´ımbolos de Christoffel, a seguir relacionados (nas express˜oes abaixo, todas as grandezas dependem de x, motivo porque esta dependˆencia ser´a omitida at´e ao final deste item): Γi = Γi j k cj ⊗ ck = Γi

j k

cj ⊗ ck = Γi j k cj ⊗ ck = Γi j k cj ⊗ ck

Γi = Γi j k cj ⊗ ck = Γi j k cj ⊗ ck = Γi j k cj ⊗ ck = Γi 71

j k

e

cj ⊗ ck .


Note que os s´ımbolos de Christoffel n˜ao representam componentes associados de algum tensor de terceira ordem, porque o indicador i n˜ao se refere `a base associada, mas sim ao fato de se tratar de um componente do gradiente de ci (primeira entre as u ´ltimas duas linhas destacadas) ou de ci (segunda entre as u ´ltimas duas linhas destacadas). De acordo com a segunda igualdade do item 2 do coment´ario 1.3.11, sobre f´ormulas para diferencia¸c˜ao de produtos, tem-se que 0 = ∇(ci ·cj ) = (∇ci )T (cj )+(∇cj )T (ci ) = (Γi )T (cj ) + (Γj )T (ci ). Seja Γi = Γi m k cm ⊗ ck , logo, (Γi )T = Γi m k ck ⊗ cm . Analogamente, seja Γj = Γj m k cm ⊗ ck , logo (Γj )T = Γj m k ck ⊗ cm . Substituindo (Γi )T e (Γj )T na express˜ao de ∇(ci · cj ) obt´em-se ∇(ci · cj ) = Γi j k ck + Γj i k ck = 0 , ou Γi j k = −Γj i k . Usando sempre o mesmo produto (ci · cj ), mas cm ⊗ ck ao inv´es de cm ⊗ ck e ´ cm ⊗ ck ao inv´es de cm ⊗ ck , obt´em-se Γi j k = −Γj i k ao inv´es de Γi j k = −Γj i k . E f´acil perceber que n˜ao s˜ao obten´ıveis mais outras igualdades an´alogas a estas duas. De fato, usando (cj · ci ), ao inv´es de (ci · cj ), apenas se intercambiam i e j nos dois s´ımbolos de ambas as duas u ´ltimas igualdades, cabendo, ainda, lembrar que o produto interno ´e comutativo. Por´em, considerando o coment´ario 1.3.14, Γi (x) = ∇x ci = ∇x ∇χi , onde xi = χi (x). Ent˜ao, de acordo com o coment´ario 1.3.13, sobre gradiente de gradiente de campo escalar, ∇x ∇χi ´e sim´etrico, porque a defini¸c˜ao 1.3.8 afirma que χi pertence `a classe C 2 . Portanto, cm · Γi cn = cn · Γi cm , ou cm · Γi j k (cj ⊗ ck )cn = cn · Γi j k (cj ⊗ ck )cm , ´ f´acil perceber que, embora Γi = Γi j k cj ⊗ ck = Γi j k cj ⊗ ck , ou Γi m n = Γi n m . E n˜ao existe uma rela¸c˜ao an´aloga para Γi j k . Como a simetria ´e uma propriedade que muito facilita os c´alculos, apenas a igualdade destacada costuma ser utilizada. Esta, pode ent˜ao ser re-escrita Γi k j = Γi j

k

= −Γj

i k

= −Γk i j .

Por causa da existˆencia desta u ´ltima express˜ao destacada, usa-se um u ´nico s´ımbolo i de Christoffel. Geralmente, escolhe-se o componente Γj k , freq¨ uentemente chamado o s´ımbolo de Chistoffel de segunda esp´ ecie. 3. Campo vetorial v : D → V : de acordo com a primeira igualdade do item 2 do coment´ario 1.3.11, sobre f´ormulas para diferencia¸c˜ao de produtos, tem-se (todas as grandezas dependem de x, motivo porque esta dependˆencia ser´a omitida at´e ao final deste item) ∇v = ∇(v i ci ) = ci ⊗ ∇v i + v i ∇ci . Mas, usando o primeiro item da presente defini¸c˜ao, ∇v i =

Pn

j=1

∂(v i ◦χ) (x1 , . . . , ∂xj

xn ) cj = v i , j cj . Por outro lado,

usando o segundo item da presente defini¸c˜ao tem-se ∇ci = Γi = Γi j k cj ⊗ ck . Portanto, ∇v = v i , j ci ⊗ cj + v i Γi j k cj ⊗ ck . Considerando que, no primeiro termo do segundo membro da u ´ltima equa¸c˜ao destacada, tanto i quanto j s˜ao indicadores mudos, eles poder ser respectivamente

72


substitu´ıdos por j e k, disto resultando a express˜ao de ∇v em termos da derivada covariante do componente contravariante do vetor v, ∇v = v j , k cj ⊗ ck ,

sendo v j , k = v j, k + v i Γi j k .

Alternativamente, pode-se considerar ∇v = ∇(vi ci ) = ci ⊗ ∇vi + vi ∇ci , sendo P ∇vi = nj=1 ∂(v∂xi ◦χ) (x1 , . . . , xn ) cj = vi, j cj e ∇ci = Γi = Γi j k cj ⊗ ck . Portanto, j a express˜ao de ∇v em termos da derivada covariante do componente covariante do vetor v ´e ∇v = vi, j ci ⊗ cj + vi Γi j k cj ⊗ ck , ou ∇v = v j, k cj ⊗ ck ,

sendo v j, k = vj, k − vi Γj i

k

,

onde foi utilizado Γi j k = −Γj i k . Os escalares v j , k e v j, k representam, respectivamente, componentes associados a bases produto mista e covariante do tensor ∇x v . Estes escalares s˜ao denominados derivadas covariantes de campo vetorial. Note que, semelhantemente ao colocado no final do item 1, o indicador referente `a coordenada de deriva¸c˜ao (no caso, k) aparece como ´ındice porque a correspondente base natural no ponto x (no caso, (ck (x))nk=1 ) ´e covariante, justificando o nome derivada covariante. 4. Campo tensorial de segunda ordem. A aplica¸c˜ao, a um tensor de segunda ordem, da opera¸c˜ao gradiente e dos s´ımbolos de Chistoffel selecionados no item 2 desta defini¸c˜ao produz um tensor de terceira ordem. Os componentes de tal tensor, a seguir apresentados sem demonstra¸c˜ao, s˜ao escalares denominados derivadas covariantes de campo tensorial de segunda ordem. Informa-se, portanto, que: (a) Para a representa¸c˜ao mista do campo tensorial de segunda ordem A(x) = Ai j (x) ci (x) ⊗ cj (x) tem-se ∇A = A¯i j, k ci ⊗ cj ⊗ ck , onde Ai j, k =

∂(Ai j ◦χ) (x1 , . . . , ∂xk

sendo A¯i j, k = Ai j, k + Al j Γl i k − Ai l Γj l

k

,

xn ).

(b) Para a representa¸c˜ao mista do campo tensorial de segunda ordem A(x) = Ai j (x) ci (x) ⊗ cj (x) tem-se ∇A = A¯i j, k ci ⊗ cj ⊗ ck , onde Ai j, k =

∂(Ai j ◦χ) (x1 , . . . , ∂xk

sendo A¯i j, k = Ai j, k + Ai l Γl j k − Al j Γi l k , xn ).

(c) Para a representa¸c˜ao contravariante do campo tensorial de segunda ordem A(x) = Ai j (x)ci (x) ⊗ cj (x) tem-se ∇A = A¯i j, k ci ⊗ cj ⊗ ck , onde Ai j, k =

∂(Ai j ◦χ) (x1 , . . . , ∂xk

sendo A¯i j, k = Ai j, k + Al j Γl i k + Ai l Γl j k , xn ).

73


(d) Para a representa¸c˜ao covariante do campo tensorial de segunda ordem A(x) = Ai j (x)ci (x) ⊗ cj (x) tem-se ∇A = A¯i j, k ci ⊗ cj ⊗ ck , onde Ai j, k =

∂(Ai j ◦χ) (x1 , . . . , ∂xk

sendo A¯i j, k = Ai j, k − Al j Γi l

k

− Ai l Γj l k ,

xn ).

Note que o nome derivada covariante pode ser justificado do mesmo modo j´a apresentado no final do item 3. Nota¸c˜ ao 1.3.2 (Derivada Covariante) A aplica¸c˜ao do gradiente transforma um tensor de ordem 0, 1 ou 2 respectivamente num tensor de ordem 1, 2 ou 3. Mas, nos trˆes casos, ao se aumentar em uma unidade a ordem do tensor, na defini¸c˜ao de componente de gradiente de campo 1.3.10 foi adicionado um ´ındice, n˜ao um super´ındice, aos componentes associados do tensor. Isto ocorreu porque, conforme ent˜ao explicado, a deriva¸c˜ao efetuada foi covariante. A v´ırgula presente nos s´ımbolos das derivadas covariantes indica que tais grandezas resultam da aplica¸c˜ao de uma ou mais deriva¸c˜oes covariantes e, ao mesmo tempo, separa dos outros ´ındices aqueles que foram adicionados em decorrˆencia da realiza¸c˜ao de tais opera¸c˜oes. Na citada defini¸c˜ao 1.3.10, sempre apenas um ´ındice ´e separado `a direita da v´ırgula, porque uma u ´nica deriva¸c˜ao covariante ´e realizada. Mas, a cada nova deriva¸c˜ao covariante porventura executada, um ´ındice ´e adicionado `a direita dos ´ındices anteriormente posicionados ap´os a v´ırgula, os quais se referem a deriva¸c˜oes anteriormente efetuadas (existe, sempre, uma u ´nica v´ırgula). Coment´ ario 1.3.17 (Derivada Covariante de 1 e de e) De acordo com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao tensorial identidade 1.2.16, 1 v = v mas, considerando o coment´ario 1.3.7, sobre diferencia¸c˜ao de produto, Df(X)[Y ] = π(Dφ(X)[Y ], ψ(X))+π(φ(X), Dψ(X) [Y ]). Como consequˆencia, a derivada covariante de 1 ´e necessariamente nula, independentemente da representa¸c˜ao (uma das duas mistas, contravariante ou covariante) escolhida para 1 . De acordo com o coment´ario 1.2.13, sobre componente associado do tensor identidade, 1 = g i j ci ⊗ cj = δ i j ci ⊗ cj = δi j ci ⊗ cj = gi j ci ⊗ cj . Mas, de acordo com o coment´ario 1.3.14, sobre tensor m´etrico e base natural dual, gi j (x) = ci (x) · cj (x) e g i j (x) = ci (x) · cj (x), ou seja, os componentes gi j e g i j , do tensor m´etrico de um sistema de coordenadas de um espa¸co euclideano de pontos, s˜ao fun¸c˜oes do ponto considerado. Portanto, embora os campos escalares gi j e g i j n˜ao sejam fun¸c˜oes constantes de x, suas ´ltima express˜ao derivadas covariantes s˜ao nulas, logo gi j , k = 0 e g i j, k = 0. De fato, a u destacada, no item 1 da defini¸c˜ao de componente de gradiente de campo 1.3.10, deixa evidente que o valor da derivada covariante depende n˜ao s´o do campo escalar considerado, como tamb´em, por meio da fun¸c˜ao χ = ψ −1 , do sistema de coordenadas utilizado. Considerando a defini¸c˜ao de campo de bases 1.3.9 e o coment´ario 1.3.14, sobre tensor m´etrico e base natural dual, isto ´e an´alogo a dizer que o valor da derivada covariante depende n˜ao s´o do campo escalar considerado, como tamb´em dos campos de bases duais definidos pelo sistema de coordenadas. No caso dos componentes g i j e gi j do tensor m´etrico, a dependˆencia em x destes componentes ´e compensada pela dependˆencia em x 74


das correspondentes bases (ci ⊗cj ) e (ci ⊗cj ), de modo a que 1 = g i j ci ⊗cj = gi j ci ⊗cj , ou seja, de modo a que gi j , k = 0 e g i j, k = 0. O coment´ario 1.2.35, sobre propriedades dos componentes do tensor e, indica que, √ √ sendo g = det[gi j ], tem-se ei j k = Âą g i j k e ei j k = Âą( g)−1 i j k , onde o s´Ĺmbolo de permuta¸cËœao i j k independe de x. Como a derivada covariante de gi j ´e nula, por causa do coment´ario 1.3.5, sobre diferencia¸cËœao em cadeia, o mesmo ocorre com a derivada covariante de det[gi j ] (o coment´ario 1.3.4, sobre gradiente de determinante, fornece tal gradiente, no tensor gi j ). Logo, a derivada covariante de e ´e nula, independentemente da representa¸cËœao ser qualquer uma entre as 23 = 8 poss´Ĺveis. Por exemplo, para as derivadas covariantes das representa¸cËœoes covariante e contravariante tem-se respectivamente ei j k , l = 0 e ei j k, l = 0. Conclui-se, portanto, que os componentes do tensor m´etrico e do tensor elemento de volume apresentam derivadas covariantes nulas embora, em geral, tais componentes sejam fun¸cËœoes de x. Coment´ ario 1.3.18 (Propriedades do S´Ĺmbolo de Christoffel Γi j k ) Utilizando a expressËœao apresentada no item 4d da defini¸cËœao de componente de gradiente de campo 1.3.10 e a igualdade gi j , k = 0, apresentada no coment´ario 1.3.17, sobre derivada covariante de 1 e de e, obt´em-se uma expressËœao que relaciona o s´Ĺmbolo de Christoffel de segunda esp´ecie aos componentes covariantes dos tensores m´etricos, para um dado sistema de coordenadas, a saber Γi

j k

1 ∂gl i ∂gl k ∂gi k = gj l + − 2 ∂xk ∂xi ∂xl

!

.

Outra propriedade importante ´e a regra de transforma¸cËœao entre s´Ĺmbolos de Christoffel de segunda esp´ecie relativos a dois diferentes sistemas de coordenadas de um espa¸co euclideano de pontos, dada por ÂŻ j = Γr s Γ i k

1.3.5

t

∂ 2 xr ∂ xÂŻj ∂xr ∂ xÂŻj ∂xt + . ∂ xÂŻi ∂xs ∂ xÂŻk ∂ xÂŻi ∂ xÂŻk ∂xr

Operadores para a Mecˆ anica dos Meios Cont´Ĺnuos

Defini¸cËœ ao 1.3.11 (Divergˆ encia de Campo Vetorial) De acordo com a defini¸cËœao de campo 1.3.4, seja o campo vetorial u(x). A divergˆ encia deste campo vetorial ´e um campo escalar definido por div u(x) = tr(∇x u). De fato, para ∇x u fornecido em termos da derivada covariante do componente contravariante do vetor u, conforme o item 3 da defini¸cËœao de componente de gradiente de campo 1.3.10, tem-se tr(∇x u) = tr(ÂŻ uj , k cj ⊗ck ) . Mas, de acordo com os itens 1 e 3 do coment´ario 1.2.29, sobre propriedades de tra¸cos, tr(ÂŻ uj , k cj ⊗ ck ) = uÂŻj , k tr(cj ⊗ ck ) = uÂŻj , k cj ¡ ck = uÂŻj , k δ kj = uÂŻk, k . Por outro lado, para ∇x u fornecido em termos da derivada covariante do componente covariante do vetor u, tem-se tr(∇x u) = tr(ÂŻ uj, k cj ⊗ ck ) = uÂŻj, k tr(cj ⊗ ck ) = uÂŻj, k cj ¡ ck = uÂŻj, k g j k = uÂŻk, k , onde a pen´ ultima igualdade ´e devida ao coment´ario 1.2.6, sobre fun¸cËœoes gi j e g i j , enquanto que a u ´ltima prov´em do coment´ario 1.2.14, sobre gi j ou g i j aplicado a componente de tensor. Portanto, div u(x) = tr(∇x u) = uÂŻj, k (x) g j k (x) = uÂŻk, k (x). 75


Defini¸c˜ ao 1.3.12 (Rotacional de Campo Vetorial) De acordo com a defini¸c˜ao de campo 1.3.4, seja o campo vetorial u(x). O rotacional de u(x) ´e um campo vetorial definido por rot u(x) =< (∇x u)T − ∇x u >, onde foi utilizada a nota¸c˜ao 1.2.9, para vetor associado a tensor antissim´etrico, o que indica que rot u(x) ´e um campo vetorial axial. De acordo com o coment´ario 1.2.46, sobre decomposi¸c˜ao cartesiana, (∇x u)T − ∇x u ´e o dobro da parte antissim´etrica do tensor ∇x u, mas com sinal oposto. Portanto, rot u ´e o vetor axial correspondente `a parte antissim´etrica do gradiente do vetor (−2u). De acordo com o item 3 da defini¸c˜ao de componente de gradiente de campo 1.3.10, tem-se ∇u = u¯k, j ck ⊗ cj = u¯k, j ck ⊗ cj . Portanto: 1. Para ∇x u fornecido em termos da derivada covariante do componente covariante do vetor u tem-se, de acordo com o coment´ario 1.2.15, sobre transposi¸c˜ao de tensor simples, (∇u)T − ∇u = u¯k, j (cj ⊗ ck − ck ⊗ cj ) = u¯k, j cj ∧ ck , onde a u ´ltima igualdade deve-se `a defini¸c˜ao de produto externo de vetores 1.2.36. De acordo com a mencionada nota¸c˜ao 1.2.9, < (∇x u)T − ∇x u >= τ ((∇x u)T − ∇x u), logo rot u(x) = u¯k, j τ (cj ∧ ck ). De acordo com o coment´ario 1.2.37, sobre propriedades do tensor axial, τ (cj ∧ ck ) = ej k i ci = ej ki ci , onde ej k i = e(cj , ck , ci ) e ej ki = e(cj , ck , ci ). Mas, conforme a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e tensor elemento de volume 1.2.34, e : V 3 → < ´e uma fun¸c˜ao alternante trilinear n˜ao trivial de orienta¸c˜ao positiva, logo e(cj , ck , ci ) = e(ci , cj , ck ) e e(cj , ck , ci ) = e(ci , cj , ck ), portanto ej k i = eij k e ej ki = ei j k , ou seja, rot u(x) = eij k u¯k, j (x)ci (x) = ei j k u¯k, j (x)ci (x) , onde, de acordo com o coment´ario 1.3.17, sobre derivada covariante de 1 e de e, as u ´nicas grandezas independentes de x s˜ao eij k e ei j k . 2. Analogamente, para ∇x u dado em termos da derivada covariante do componente contravariante do vetor u, obt´em-se rot u(x) = ei jk u¯k, j (x)ci (x) = ei jk u¯k, j (x)ci (x) . Coment´ ario 1.3.19 (Rotacional e Divergˆ encia de Campo Vetorial) De acordo com a defini¸c˜ao de campo 1.3.4, sejam os campos vetoriais u(x) e v(x)|cte , sendo v(x)|cte = vl cl (x) um campo tal que seus componentes (vl )nl=1 , no campo de bases (cl (x))nl=1 , independam de x. Portanto, v(x)|cte ´e um campo vetorial constante, ou independente de x, em rela¸c˜ao ao campo de base, logo em rela¸c˜ao ao sistema de coordenadas escolhido, mas n˜ao em rela¸c˜ao ao espa¸co euclideano de pontos. Conforme a defini¸c˜ao de rotacional de campo vetorial 1.3.12, tem-se v · rot u = vl cl · eij k u¯k, j ci = vl eij k u¯k, j δ l i = vi eij k u¯k, j , ou v(x)|cte · rot u(x) = vi eij k u¯k, j (x), porque vj independe de x por hip´otese e, de acordo com o coment´ario 1.3.17, sobre derivada covariante de 1 e de e, tamb´em eij k independe de x. Por outro lado, de acordo com a defini¸c˜ao de produto vetorial 1.2.38, tem-se u×v =<

76


u ∧ v >= eij k ui v j ck = eij k ui vj ck = wk ck , logo, considerando a defini¸c˜ao de divergˆencia ¯ k, k (x). de campo vetorial 1.3.11, tem-se div (u(x) × v(x)|cte ) = div (wk (x)ck (x)) = w Por´em wk (x) = eij k vj ui (x), portanto w¯ k, k (x) = eij k vj u¯i, k (x) e div (u(x) × v(x)|cte ) = vj eij k u¯i, k (x) = vi ek i j u¯k, j (x) . Como, conforme a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e tensor elemento de volume 1.2.34, e : V 3 → < ´e uma fun¸c˜ao alternante trilinear n˜ao trivial de orienta¸c˜ao positiva, tem-se ek i j = eij k , logo div(u(x) × v(x)|cte ) = vi eij k u¯k, j (x) . A express˜ao v(x)|cte · rot u(x) = div(u(x) × v(x)|cte ) ´e uma defini¸c˜ao alternativa do campo vetorial rotacional de u(x). Sugere-se comparar o conceito agora apresentado para v(x)|cte = vl cl (x) com o conceito de 1 = g i j ci ⊗ cj = gi j ci ⊗ cj , conforme discutido no mencionado coment´ario 1.3.17. Defini¸c˜ ao 1.3.13 (Divergˆ encia de Campo Tensorial) De acordo com a defini¸c˜ao de campo 1.3.4, seja o campo tensorial de segunda ordem A(x). A divergˆ encia deste campo tensorial, div A(x), ´e um campo vetorial definido por v(x)|cte · div A(x) = div (AT (x)(v(x)|cte )), onde v(x)|cte foi definido no coment´ario 1.3.19, sobre rotacional e divergˆencia de campo vetorial. Informa-se, sem demonstra¸c˜ao, que a partir desta defini¸c˜ao se obt´em: 1. div A(x) = A¯i j, j (x)ci (x), onde o componente A¯i j, j (x) do tensor de terceira ordem, que ´e a derivada covariante da representa¸c˜ao contravariante A(x) = Ai j (x)ci (x) ⊗ cj (x) do tensor de segunda ordem, ´e fornecida na letra (c) do quarto item da defini¸c˜ao de componente de gradiente de campo 1.3.10. 2. div A(x) = g j k A¯i j, k (x)ci (x), onde o componente A¯i j, k (x) do tensor de terceira ordem, que ´e a derivada covariante da representa¸c˜ao mista A(x) = Ai j (x)ci (x) ⊗ cj (x) do tensor de segunda ordem, ´e fornecida na letra (a) do quarto item da citada defini¸c˜ao 1.3.10. Por´em, considerando o coment´ario 1.2.14, sobre gi j ou g i j aplicado a componente de tensor, tem-se g j k A¯i j, k = A¯i k, k = A¯i j, j , a u ´ltima igualdade sendo devida ao fato de k ser um ´ındice mudo somativo. O resultado, portanto, ´e o mesmo do item 1. 3. div A(x) = A¯i j , j (x)ci (x), onde o componente A¯i j , j (x) do tensor de terceira ordem, que ´e a derivada covariante da representa¸c˜ao mista A(x) = Ai j (x)ci (x) ⊗ cj (x) do tensor de segunda ordem, ´e fornecida na letra (b) do quarto item da defini¸c˜ao 1.3.10. 4. div A(x) = g j k A¯i j, k (x)ci (x), onde o componente A¯i j, k (x) do tensor de terceira ordem, que ´e a derivada covariante da representa¸c˜ao covariante A(x) = Ai j (x)ci (x) ⊗ cj (x) do tensor de segunda ordem, ´e fornecida na letra (d) do quarto item da mencionada defini¸c˜ao 1.3.10. Analogamente ao afirmado no item 2, tem-se g j k A¯i j, k = A¯i k, k = A¯i j , j , portanto o resultado ´e o mesmo do item 3.

77


Defini¸c˜ ao 1.3.14 (Laplaciano de Campo Escalar ou Vetorial) De acordo com a defini¸c˜ao de campo 1.3.4, sejam os campos escalar φ(x) e vetorial h(x). Os laplacianos destes campos s˜ao respectivamente o campo escalar definido por ∇2x φ = div(∇x φ) e o campo vetorial definido por ∇2x h = div(∇x h). 1. Considerando o item 1 da defini¸c˜ao de componente de gradiente de campo 1.3.10, para φ(x) tem-se ∇x φ = φ, j (x)cj (x). Logo, usando-se defini¸c˜ao de divergˆencia de campo vetorial 1.3.11 tem-se ∇2x φ = div(φ, j (x)cj (x)) = (φ¯, j ), k g j k = g j k φ¯, j k (x) , onde a u ´ltima igualdade prov´em do uso da nota¸c˜ao de derivada covariante 1.3.2. ¯ i ci ⊗ 2. Considerando o item 3 da citada defini¸c˜ao 1.3.10, para h(x) tem-se ∇x h = h ,j ¯ i, j ci ⊗ cj . Usando o item 2 da defini¸c˜ao de divergˆencia de campo tensorial cj = h 1.3.13 obt´em-se, para a representa¸c˜ao mista de ∇x h, i

¯ ∇2x h = g j k h

, j k (x)ci (x) .

Por outro lado, usando o item 4 da defini¸c˜ao 1.3.13 obt´em-se, para a representa¸c˜ao covariante de ∇x h, ¯ (x)ci (x) . ∇2x h = g j k h i, j k Note que, nas u ´ltimas duas express˜oes destacadas, foi usada a j´a mencionada nota¸c˜ao 1.3.2. Coment´ ario 1.3.20 (Express˜ oes para Divergˆ encia e Laplaciano) De acordo com a defini¸c˜ao de campo 1.3.4, seja um campo escalar f (x), dois campos vetoriais u(x) e v(x) e um campo tensorial de segunda ordem A(x). Ser˜ao utilizados os coment´arios 1.2.6, sobre fun¸c˜oes gi j e g i j , 1.2.10, sobre c´alculo de componente associado de tensor de segunda ordem, 1.2.14, sobre gi j ou g i j aplicado a componente de tensor, 1.2.18, sobre composi¸c˜ao com tensor simples, 1.2.29, sobre propriedades de tra¸cos, 1.2.31, sobre propriedades do produto interno tensorial, 1.3.17, sobre derivada covariante de 1 e de e e as defini¸c˜oes 1.1.2, de matriz, 1.2.34, de fun¸c˜ao e tensor elemento de volume, 1.2.38, de produto vetorial, 1.3.10, de componente de gradiente de campo, 78


1.3.11, de divergˆencia de campo vetorial, 1.3.12, de rotacional de campo vetorial, 1.3.13, de divergˆencia de campo tensorial, 1.3.14, de laplaciano de campo escalar ou vetorial, para demonstrar as quatro express˜oes (a dependˆencia em x ´e omitida): 1. div(f u) = u · ∇f + f div u (a) div(f u) = ( f u )i , i = ( f ui ), i , usando a defini¸c˜ao 1.3.11 em termos do componente contravariante do vetor f u e, em seguida, o fato de que se trata da multiplica¸c˜ao de um escalar por um vetor. (b) u · ∇f = uj cj · f, i ci = uj f, i δj i = f, i ui , usando item 1 da defini¸c˜ao 1.3.10. (c) f div u = f u¯i, i , usando a defini¸c˜ao 1.3.11 em termos do componente contravariante do vetor u. Logo, ( f ui ), i = f, i ui + f u¯i, i . Como as regras comuns para deriva¸c˜ao de escalares foram obedecidas, pode-se considerar demonstrada a express˜ao. Lembrar que a barra indica que um termo, espec´ıfico para cada um dos dois casos, deve ser adicionado `as derivadas covariantes dos campos escalares f (x)ui (x) e ui (x), para se obter as correspondentes derivadas covariantes dos respectivos campos vetoriais. 2. div(A(u)) = u · div AT + tr(A∇u) (a) div(A(u)) = ( A(u) )i , i usando a defini¸c˜ao 1.3.11 em termos do componente contravariante do vetor A(u). Mas A(u) = Ai j uk (ci ⊗ cj )ck = Ai j uk (cj · ck )ci = Ai j uk δj k ci = Ai j uj ci , logo (A(u))i = Ai j uj , ou div(A(u)) = ( Ai j uj ), i . (b) u · div AT = uk ck · ( AT )i j, j ci = uk ( AT )i j, j δ ki = ( AT )i j, j ui = A¯j i, j ui = A¯i j, i uj , usando na primeira igualdade o item 1 da defini¸c˜ao 1.3.13 e, na quarta igualdade, a defini¸c˜ao 1.1.2. (c) tr(A∇u) = tr(A(¯ uj, i cj ⊗ci )) = tr(¯ uj, i A(cj ⊗ci )) = u¯j, i tr(A(cj ⊗ci )), usando o item 3 da defini¸c˜ao 1.3.10, para a componente covariante do vetor, na primeira igualdade e, na terceira igualdade, o primeiro item do coment´ario 1.2.29. Mas, utilizando o primeiro item do coment´ario 1.2.18, tem-se A(cj ⊗ci ) = A(cj )⊗ci , logo tr(A(cj ⊗ ci )) = tr(A(cj ) ⊗ ci ) = A(cj ) · ci = Ai j , onde na segunda igualdade foi usado o terceiro item do coment´ario 1.2.29 e, na terceira, o coment´ario 1.2.10. Portanto, tr(A∇u) = Ai j u¯j, i . Logo, ( Ai j uj ), i = A¯i j, i uj + Ai j u¯j, i , podendo-se considerar demonstrada a express˜ao. 3. div(u × v) = v · rot u − u · rot v

79


(a) div(u×v) = (u × v)l, i g i l usando a defini¸c˜ao 1.3.11 em termos do componente covariante do vetor u × v e lembrando que, de acordo com o coment´ario 1.2.6, g i l = g l i . Mas, de acordo com a defini¸c˜ao 1.2.38, u × v = ei j k ui v j ck , ou u × v = ej k l uj v k cl = el j k uj v k cl , sendo a u ´ltima igualdade devida `a defini¸c˜ao j k 1.2.34, logo (u × v)l = el j k u v , portanto (u × v)l, i g i l = (el j k uj v k ), i g i l = (g i l el j k uj v k ), i , sendo a u ´ltima igualdade devida a que, de acordo com o il coment´ario 1.3.17, g , i = 0. Tem-se, ent˜ao, div(u × v) = (g i l el j k uj v k ), i . (b) v · rot u = v l cl · ei jk u¯k, j ci , usando os componentes contravariantes do vetor u, de acordo com o item 2 da defini¸c˜ao 1.3.12. Considerando que cl · ci = δl i , tem-se ent˜ao v · rot u = ei jk u¯k, j v i = eki j u¯j , i v k = g i l ek l j u¯j , i v k , onde a u ´ltima igualdade ´e devida ao coment´ario 1.2.14. Como, de acordo com a defini¸c˜ao 1.2.34, e(ck , cl , cj ) = e(cl , cj , ck ), tem-se v · rotu = g i l el j k u¯j , i v k . (c) u · rot v = ei jk v¯k, j ui , obtido permutando u com v na express˜ao v · rot u = ei jk u¯k, j v i , calculada no anterior item (b). Por´em, em analogia mas diferentemente do efetuado no item (b), pode-se fazer ei jk v¯k, j ui = ej i k v¯k, i uj = g i l ej l k v¯k, i uj . Como, conforme a defini¸c˜ao 1.2.34, e(cj , cl , ck ) = −e(cl , cj , ck ), tem-se −u · rot v = g i l el j k v¯k, i uj . Portanto, (g i l el j k uj v k ), i = g i l el j k u¯j , i v k + g i l el j k uj v¯k, i . Como as regras comuns para deriva¸c˜ao de escalares foram obedecidas, a express˜ao pode ser considerada demonstrada. 4. ∇2 (u · v) = ∇2 u · v + 2∇u · ∇v + u · ∇2 v (a) ∇2 (u · v) = g j k (u · v), j k = g j k (ui ci · vl cl ), j k = g j k (ui vl δi l ), j k = g j k (ui vi ), j k , onde a primeira igualdade prov´em do item 1 da defini¸c˜ao 1.3.14. ¯ i , j k ci · vl cl = g j k u ¯ i , j k vl δi l = g j k u ¯ i , j k vi , onde a primeira (b) ∇2 u · v = g j k u igualdade prov´em do item 2 da defini¸c˜ao 1.3.14, para representa¸c˜ao mista. (c) ∇u · ∇v = (¯ ui , k ci ⊗ ck ) · (¯ vi, j ci ⊗ cj ), de acordo com o item 3 da defini¸c˜ao 1.3.10, para a componente contravariante de u e covariante de v. Por´em, v¯i, j ci ⊗ cj = g j k v¯i, j ci ⊗ ck , por causa do coment´ario 1.2.14. Logo, ∇u · ∇v = g j k u¯i , k v¯i, j (ci ⊗ ck ) · (ci ⊗ ck ) = g j k u¯i , k v¯i, j , onde a u ´ltima igualdade ´e devida ao item 4 do coment´ario 1.2.31. (d) u · ∇2 v = ul cl · g j k v¯i, j k ci = ul g j k v¯i, j k δl i = g j k ui v¯i, j k , onde a primeira igualdade ´e proveniente do item 2 da defini¸c˜ao 1.3.14, para representa¸c˜ao covariante. ¯ i , j k vi +2g j k u¯i , k v¯i, j +g j k ui v¯i, j k . Como as regras comuns Logo, g j k (ui vi ), j k = g j k u para deriva¸c˜ao de escalares foram obedecidas, a express˜ao pode ser considerada demonstrada. Este coment´ario, al´em de apresentar quatro express˜oes de grande utilidade para a mecˆanica dos meios cont´ınuos, exemplifica o uso de derivadas covariantes no c´alculo tensorial. 80


Tal uso pode ser muito conveniente porque, conforme mostrado, as express˜oes se reduzem a fun¸c˜oes escalares, para as quais as regras comuns de deriva¸c˜ao s˜ao aplic´aveis. Teorema 1.3.3 (Divergˆ encia) Seja E um espa¸co euclideano de pontos, conforme a sua defini¸c˜ao 1.2.44 e seja R ⊂ E|R ´e regular, de acordo com a defini¸c˜ao de classe C k , 1.3.7. Se ∂R indicar a superf´ıcie de R, enquanto que da indicar o diferencial da ´area de ∂R e dv o diferencial do volume de R , n(x) indicar um campo vetorial (conforme a sua defini¸c˜ao 1.3.4), de m´odulo unit´ario, normal a ∂R, dirigido para fora de R e φ : R → < , h : R → V e A : R → V ⊗ V forem campos, respectivamente escalar, vetorial e tensorial de segunda ordem, que apresentem dependˆencia em x suave (de acordo com a j´a citada defini¸c˜ao 1.3.7), ent˜ao 1.

R

2.

R

3.

R

4.

R

R

∇x φ dv ,

∂R

φ(x) n(x) da =

h(x) · n(x) da =

R

∂R

A(x)(n(x)) da =

R

∂R ∂R

h(x) ⊗ n(x) da =

R

R R

R

div h(x) dv , divA(x) dv

R

e

∇x h dv.

A demonstra¸c˜ao do teorema da divergˆencia ´e omitida. Teorema 1.3.4 (Fun¸c˜ ao Identicamente Nula em E) Seja E um espa¸co euclideano de pontos, conforme a sua defini¸c˜ao 1.2.44 e seja D ⊂ E|D ´e aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1). Seja, tamb´em, φ : D → W uma fun¸c˜ao cont´ınua, onde W ´e um espa¸co normatizado, de acordo com o colocado na defini¸c˜ao 1.3.3, de derivada vetorial, R tensorial ou de pontos, em escalar. Se, ∀N ⊂ D, ocorrer N φ(x) dv = 0, ent˜ao, ∀x ∈ D, ter-se-´a φ(x) = 0, ou seja, ent˜ao φ ser´a identicamente nulo em D. Demonstra¸c˜ao: Se φ(x◦ ) 6= 0 para algum x◦ ∈ D, como φ ´e cont´ınua ∃N ⊂ D tal que φ(x) 6= 0 ∀x ∈ N . Logo, usando-se o teorema do valor m´edio do c´alculo integral tem-se R x), onde K ´e o volume de N e o valor m´edio x¯ ∈ N , logo φ(¯ x) 6= 0, N φ(x) dv = Kφ(¯ R portanto N φ(x) dv 6= 0, o que contraria a hip´otese inicial. 2

81


Cap´ıtulo 2 Cinem´ atica 2.1 2.1.1

Configura¸c˜ ao e Deforma¸ c˜ ao Gradiente de Deforma¸c˜ ao

As ciˆencias naturais utilizam fun¸c˜oes, chamadas estruturas referenciais ou observadores, aplic´aveis aos corpos e aos instantes pertencentes a algum espa¸co-tempo, o qual ´e uma abstra¸c˜ao mental do universo material real que se sup˜oe contenha estes corpos e instantes. Tal aplica¸c˜ao produz imagens, destes conjuntos corpo-instante, as quais pertencem a algum espa¸co capaz de descrever matematicamente a abstra¸c˜ao mental considerada. Uma estrutura referencial, ou observador, de Newton, φ, ´e aplic´avel a conjuntos corpoinstante pertencentes ao espa¸co-tempo de Newton, W, que ´e a abstra¸c˜ao mental correspondente `a suposi¸c˜ao de que o universo material real seja governado pelas leis da mecˆanica cl´assica. A aplica¸c˜ao de uma estrutura referencial, ou observador, de Newton a conjuntos corpoinstante pertencentes ao espa¸co-tempo de Newton produz imagens no espa¸co produto do espa¸co euclideano de pontos tridimensional, E, pelo espa¸co unidimensional dos n´ umeros reais, <, ou seja, φ : W → E × <. Isto permite que qualquer ponto pertencente a E seja associado a qualquer instante pertencente a < e v.v., o que indica que o tempo e o ponto s˜ao considerados independentes. Deve ser notado que diferentes observadores de Newton registrar˜ao de modo diferente os fatos que ocorram em W. Na subse¸c˜ao 2.6.1 ser´a discutida a rela¸c˜ao entre estes diferentes registros mas, ao longo de todo o presente texto, apenas estruturas referenciais de Newton ser˜ao consideradas. Seja B o s´ımbolo utilizado para representar um corpo pertencente a W. Como φ ´e uma fun¸c˜ao de um para um em B (veja a defini¸c˜ao 1.1.1 de fun¸c˜ao e funcional), n˜ao s´o em E × < o tempo ´e uma vari´avel independente do conjunto de pontos que forma a imagem de B, como tamb´em em W o tempo e B s˜ao independentes. Por isto, nada impede a existˆencia de uma fun¸c˜ao de B para E, de um para um em B, v´alida em qualquer instante. Tal fun¸c˜ao ´e chamada uma configura¸c˜ ao de B. Uma espec´ıfica configura¸c˜ao de B, grafada κ, ser´a considerada a configura¸c˜ ao referencial de B. Se X for o ponto material pertencente a B que corresponde ao ponto matem´atico X ∈ E, tem-se ent˜ao κ:B→E

e 82

κ(X) = X.

(2.1)


A imagem do corpo B na configura¸c˜ao κ ´e grafada Bκ , logo X ∈ Bκ ⊂ E. As coordenadas (ver a defini¸c˜ao 1.3.8 de sistema de coordenadas) de X, (X α , α = 1, 2, 3) s˜ao as coordenadas referenciais, tamb´em chamadas coordenadas materiais, porque o ponto material X ´e matematicamente identificado pelo ponto X. Seja χ uma configura¸c˜ao arbitr´aria, tamb´em chamada configura¸c˜ ao corrente, de B. Tem-se, ent˜ao χ : B → E e χ(X) = x , portanto χκ = χ ◦ κ−1 : Bκ → Bχ ,

logo x = χκ (X) = χ(κ−1 (X)),

(2.2)

onde x ∈ Bχ ⊂ E, as coordenadas de x s˜ao as coordenadas correntes, grafadas (xi , i = 1, 2, 3) e Bχ ´e a imagem do corpo B na configura¸c˜ao χ. A fun¸c˜ao χκ ´e denominada deforma¸c˜ ao de B desde κ at´e χ. Em termos das coordenadas (X α , α = 1, 2, 3) e (xi , i = 1, 2, 3), a deforma¸c˜ao χκ pode ser escrita xi = χiκ (X 1 , X 2 , X 3 ),

(2.3)

onde o argumento (X 1 , X 2 , X 3 ) das fun¸c˜ oes de deforma¸c˜ ao χiκ pode ser abreviadamente escrito (X α ). Define-se, tamb´em, o tensor de segunda ordem gradiente de deforma¸c˜ ao, de χ em rela¸c˜ao a κ no ponto X, Fκ (X) = ∇ χκ . X

(2.4)

Quando n˜ao houver d´ uvidas sobre qual ´e a configura¸c˜ao referencial, o ´ındice pode ser i omitido tanto em χκ como em Fκ (n˜ao pode ser omitido em χκ porque a fun¸c˜ao χ tem outro significado, j´a apresentado). Isto ser´a suposto a partir deste ponto do texto. Como a fun¸c˜ao φ ´e de um para um em B, χκ ´e de um para um em Bκ , o que implica em ser F n˜ao singular, ou seja, implica em que J = det F 6= 0,

(2.5)

de acordo com a defini¸c˜ao de tensor inverso de segunda ordem 1.2.29. Em rela¸c˜ao `as coordenadas (xi , i = 1, 2, 3) e (X α , α = 1, 2, 3), respectivamente referentes `a configura¸c˜ao deformada e referencial, F pode ser representado em termos α=3 dos seus componentes associados `a base (ci (x) ⊗ cα (X))i=3 i=1 α=1 , ou seja, ∂χi , ∂X α (2.6) de acordo com o coment´ario 1.3.16 (deforma¸c˜ao em termos de coordenadas). Note que a fun¸c˜ao deforma¸c˜ao apresentada pela eq. 2.3 n˜ao precisa ser fornecida em coordenadas cartesianas, sendo utilizado um componente de car´ater contravariante (defini¸c˜ao de base dual 1.2.8) em x, referente `a base natural (defini¸c˜ao de campo de bases 1.3.9) (ci (x))3i=1 e um componente de car´ater covariante em X, referente `a base natural (cα (X))3α=1 . S˜ao tamb´em poss´ıveis outras representa¸c˜oes do tensor gradiente de deforma¸c˜ao, em rela¸c˜ao a pontos do espa¸co euclideano. Mas a representa¸c˜ao fornecida pelas eqs. 2.6 ´e particularmente simples, porque envolve apenas as derivadas parciais escalares ∂χi /∂X α . F = F i α ci (x) ⊗ cα (X) e F T = (F T )α i cα (X) ⊗ ci (x) , onde F i α = (F T )α i =

83


2.1.2

Diferenciais Definidos pelo Gradiente de Deforma¸cËœ ao

De acordo com a defini¸cËœao 1.3.5 de gradiente de campo escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, o gradiente de deforma¸cËœao, F , ´e uma transforma¸cËœao linear F : V → V , no espa¸co de transla¸cËœao V de E (defini¸cËœao de espa¸co euclideano de pontos 1.2.44). Tal transforma¸cËœao satisfaz `a expressËœao χκ (X) − χκ (X0 ) = F (X0 )[ X − X0 ] + o(X − X0 ), onde

|o(X − X0 )| = 0, (2.7) →0

lim

sendo = | X − X0 | a norma (defini¸cËœao de espa¸co vetorial euclideano 1.2.6) do vetor X − X0 ∈ V | (X, X0 ) ∈ BÎş . A eq. 2.7 mostra, portanto, que o valor F (X0 ) determina o valor de χκ (X) em rela¸cËœao ao valor χκ (X0 ), a menos de um erro de segunda ordem em = | X − X0 | . Em outras palavras, numa aproxima¸cËœao de primeira ordem o vetor imagem do vetor X − X0 , ap´os a aplica¸cËœao da transforma¸cËœao F (X0 ) a este vetor, ´e o vetor χκ (X) − χκ (X0 )| (χκ (X), χκ (X0 )) ∈ Bχ . O verdadeiro vetor imagem do vetor X − X0 , ap´os a aplica¸cËœao da transforma¸cËœao F (X0 ) a este vetor, ´e F (X0 )[ X − X0 ] ∈ V . Logo, definindo dX = X − X0

e

dx = F (X0 )[ X − X0 ] ,

tem-se

dx = F (X0 )dX ,

(2.8)

sendo dx uma aproxima¸cËœao de primeira ordem ao vetor χκ (X) − χκ (X0 ) e (X, X0 ) ∈ BÎş . A eq. 2.8, chamada equa¸cËœ ao definidora dos diferenciais dX e dx, mostra que a defini¸cËœao de diferencial independe dos valores das normas dos vetores dX e dx, embora tal independˆencia esteja limitada pela obediˆencia `a condi¸cËœao (X, X0 ) ∈ BÎş . Por´em: 1. Devido `a continuidade do espa¸co euclideano de pontos, se for imposto que a norma de dX seja infinitesimal, isto implicar´a em que, se X0 ∈ BÎş , entËœao X ∈ BÎş , logo (χκ (X), χκ (X0 )) ∈ Bχ . Portanto, se X0 ∈ BÎş , a imposi¸cËœao de que a norma de dX seja infinitesimal ser´a suficiente para garantir que seja satisfeita a exigˆencia da eq. 2.7 de que (χκ (X), χκ (X0 )) ∈ Bχ , embora nËœao seja necess´aria para que esta satisfa¸cËœao ocorra. 2. Como a defini¸cËœao de gradiente exige que lim →0 (|o(X − X0 )|/ ) = 0 (eq. 2.7), a imposi¸cËœao de que a norma de dX, grafada conforme j´a colocado, seja infinitesimal, corresponde `a imposi¸cËœao de que |o(X−X0 )| = 0 , logo, por causa da eq. 2.7, tamb´em de que χκ (X)âˆ’Ď‡Îş (X0 ) = dx e, considerando a eq. 2.8, de que a norma deste u ´ltimo vetor tamb´em seja infinitesimal. Estas trˆes imposi¸cËœoes, por´em, sËœao desnecess´arias `a satisfa¸cËœao de qualquer uma entre as eqs. 2.7 e 2.8. Fatos absolutamente an´alogos a estes correspondem `a defini¸cËœao costumeira de diferencial de escalar. A correta defini¸cËœao de diferencial de escalar pode, por exemplo, ser encontrada em Tom M. Apostol, Calculus: Volume I e II, Wiley, segunda edi¸cËœao, New York, 1969, onde ´e utilizada uma equa¸cËœao escalar an´aloga `a eq. 2.8. Muitos livros de matem´atica, por´em, no conceito de diferencial destacam a opcional imposi¸cËœao de infinit´esimo, ao inv´es da equa¸cËœao definidora dos diferenciais (ao inv´es da eq. 2.8, ou 84


de uma equa¸c˜ao an´aloga a ela). Tal enfoque ´e replicado por in´ umeros livros de f´ısica, f´ısico-qu´ımica e engenharia, mas sem consequˆencias prejudiciais ao desenvolvimento da correspondente teoria, porque a equa¸c˜ao definidora, embora algumas vezes seja apenas subentendida ou mesmo ignorada, n˜ao obstante isto ela sempre existe. Mas a atemporalidade da termodinˆamica tradicional, ao exclu´ı-la de qualquer espa¸co-tempo quadridimensional, tem como consequˆencia a poss´ıvel inexistˆencia da equa¸c˜ao definidora, quando ent˜ao o conceito de diferencial passa a ser unicamente o de infinit´esimo. Isto leva a termodinˆamica tradicional a diversos ilogismos matem´aticos, conforme mostrado por Clifford A. Truesdell, Rational Thermodynamics, Springer, New York, 1984. Evidentemente, por´em, a imposi¸c˜ao de que a norma de dX seja infinitesimal n˜ao ´e errada, uma vez que a defini¸c˜ao de diferencial permite qualquer norma tal que (X, X0 ) ∈ Bκ . A imposi¸c˜ao de que a norma de dX seja infinitesimal pode, inclusive, ser muito u ´til para simplificar a compreens˜ao de diversos conceitos matem´aticos. Por exemplo, de acordo com o anterior item 2, tal imposi¸c˜ao corresponde `a obrigatoriedade de que ocorra |o(X − X0 )| = 0 e χκ (X) − χκ (X0 ) = dx = F (X0 )dX, sendo tamb´em infinitesimal a norma de dx, o que pode ajudar na compreens˜ao do significado da transforma¸c˜ao linear F (X0 ). De fato, este ´e o modo costumeiramente utilizado pelos livros de texto para apresentar, ao leitor iniciante, o conceito de derivada de escalar. Mas um infinit´esimo n˜ao precisa ser um diferencial, assim como um diferencial n˜ao precisa ser um infinit´esimo. Por exemplo, seja o vetor A, que representa uma ´area plana de dimens˜ao finita. Tal vetor ´e perpendicular ao plano que cont´em a ´area e tem como norma o valor da ´area. Neste caso, certamente a norma de A n˜ao ´e infinitesimal, mas A pode ser um diferencial, ou seja, pode-se ter dX = A, obedecendo dX a alguma equa¸c˜ao definidora do tipo da eq. 2.8. Mas, se a ´area considerada n˜ao for plana, haver´a um vetor para cada sub-´area plana que ela contenha, sendo poss´ıvel que cada sub-´area plana se reduza a apenas um ponto (imagine, por exemplo, a ´area de uma superf´ıcie esf´erica). Neste caso, cada ´area plana ser´a infinitesimal, o mesmo ocorrendo com a norma do vetor A que a representa, logo, se A for um diferencial, com a norma de dX = A. Por´em, o simples fato de que seja infinitesimal o valor de |A|, sem que exista uma equa¸c˜ao definidora de diferenciais, n˜ao permite que se escreva dX = A, ou seja, n˜ao permite que se afirme que A ´e um diferencial, j´a que para um diferencial a equa¸c˜ao definidora por hip´otese existe. Seja ou n˜ao infinitesimal o valor de | A| , o vetor unidade na dire¸c˜ao de A (defini¸c˜ao de vetor proje¸c˜ao 1.2.7) ´e o vetor A/| A| = (v1 × v2 )/| v1 × v2 | , onde v1 e v2 s˜ao vetores linearmente independentes que tangenciam a superf´ıcie plana considerada (seja ou n˜ao infinitesimal ´area de tal superf´ıcie). Conforme colocado na eq. 2.2, sejam Bκ e Bχ respectivamente a imagem do corpo B na configura¸c˜ao referencial e numa configura¸c˜ao arbitr´aria, contendo Bκ a ´area (infinitesimal ou n˜ao) tangenciada pelos vetores v1 e v2 . Imponha-se que cada um dos vetores v1 e v2 possa ser definido por dois pontos do espa¸co euclideano, sendo ambos os pontos pertencentes a Bκ . Portanto, seja v1 = X1 − X10 e v2 = X2 − X20 , onde (X1 , X10 , X2 , X20 ) ∈ Bκ . Se a citada ´area for infinitesimal, isto exigir´a que as normas de v1 e v2 sejam infinitesimais. Se a citada ´area n˜ao for infinitesimal, esta exigˆencia n˜ao mais existir´a, mas nada impedir´a que normas infinitesimais sejam consideradas. Evidentemente, normas infinitesimais de v1 e v2 n˜ao implicam em ´area infinitesimal. 85


Sejam as normas dos vetores X1 − X10 e X2 − X20 infinitesimais ou n˜ao, por meio da eq. 2.8 obt´em-se os correspondentes vetores imagens, ap´os a aplica¸c˜ao da transforma¸c˜ao F (X10 ) e F (X20 ) respectivamente, bem como definem-se os diferenciais dX1 = X1 − X10 e dX2 = X2 − X20 , com seus correspondentes diferenciais imagens, dx1 = F (X10 )dX1 e dx2 = F (X20 )dX2 . Por´em, se for imposto que as normas dos vetores X1 − X10 e X2 − X20 sejam infinitesimais, de acordo com o anterior item 2 os diferenciais imagens, respectivamente F (X10 )dX1 e F (X20 )dX2 , ser˜ao iguais aos correspondentes vetores χκ (X1 ) − χκ (X10 ) e χκ (X2 ) − χκ (X20 ). Por isto, tal imposi¸c˜ao em muito simplifica as express˜oes dos vetores unidade perpendiculares `a superf´ıcie, numa configura¸c˜ao arbitr´aria. De fato tem-se, ent˜ao, os vetores unidade perpendiculares ` a superf´ıcie eκ =

dX1 × dX2 | dX1 × dX2 |

e

e=

F dX1 × F dX2 , | F dX1 × F dX2 |

respectivamente referentes `a configura¸c˜ao referencial e arbitr´aria. Note que, nestas u ´ltimas equa¸c˜oes destacadas, foram omitidos os pontos que definem as formas dos operadores gradiente. Isto ocorreu porque, al´em de ter sido imposto que que as normas dos vetores X1 − X10 e X2 − X20 fossem infinitesimais, foi adicionalmente imposto que fosse tamb´em infinitesimal a ´area que eles tangenciam, o que implica na coincidˆencia dos pontos X10 e X20 . Implica, tamb´em, em que seja infinitesimal a ´area tangenciada pelos vetores dx1 e dx2 . Portanto, a mencionada imposi¸c˜ao adicional n˜ao apenas permite a omiss˜ao dos pontos que definem as formas dos operadores gradiente, como tamb´em implica em que |dX1 × dX2 | = daκ

e

| F dX1 × F dX2 | = da

sejam as equa¸c˜oes definidoras dos diferenciais correspondentes `as ´areas planas, os quais s˜ao infinitesimais. Seja um vetor v do espa¸co de transla¸c˜ao V de E. Considerando infinitesimal o diferencial daκ , tem-se que v · e da = v · (F dX1 × F dX2 ) = F (F −1 v) · (F dX1 × F dX2 ). De acordo com a defini¸c˜ao de produto triplo 1.2.39, F (F −1 v) · (F dX1 × F dX2 ) = [F dX1 , F dX2 , F (F −1 v)]. Mas, [F dX1 , F dX2 , F (F −1 v)] = det F [dX1 , dX2 , (F −1 v)], de acordo com o coment´ario 1.2.39, sobre determinante, tra¸co e produto triplo. Considerando a eq. 2.5 e usando novamente a defini¸c˜ao 1.2.39 tem-se, ent˜ao, v · e da = J(F −1 v)·(dX1 ×dX2 ) = J(F −1 v)·eκ daκ = v·JF −T eκ daκ , sendo a u ´ltima igualdade devida `a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17. Portanto, e da = JF −T eκ daκ . Analogamente, seja v3 = X3 − X30 , onde (X3 , X30 ) ∈ Bκ , um vetor n˜ao pertencente ao plano dos vetores v1 e v2 . Defina-se o diferencial dX3 = X3 − X30 , bem como o seu diferencial imagem dx3 = F (X30 )dX3 , correspondentes `a equa¸c˜ao definidora 2.8 e imponha-se que | X3 − X30 | e daκ sejam infinitesimais. De acordo com o anterior item 2, neste caso dx3 = χκ (X3 ) − χκ (X30 ). Tem-se, ent˜ao, o volume infinitesimal dv = | dx3 · dx1 × dx2 | = | F dX3 · F dX1 × F dX2 |. Usando novamente a defini¸c˜ao 1.2.39 e o coment´ario 1.2.39, tem-se que | F dX3 · F dX1 × F dX2 | = | det F || dX3 · dX1 × dX2 | = | J| dvκ , logo dv = | J| dvκ . Isto indica que, se | J| = 1, a deforma¸c˜ao preserva o volume. A rela¸c˜ ao entre os diferenciais infinitesimais de ´ area referencial e arbitr´ aria, 86


bem como a rela¸c˜ ao entre os diferenciais infinitesimais de volume referencial e arbitr´ ario, respectivamente e da = JF −T eκ daκ

dv = | J| dvκ ,

e

(2.9)

muito u ´teis para a mecˆanica dos meios cont´ınuos, foram facilmente obtidas por causa da grande simplifica¸c˜ao proveniente de terem sido consideradas infinitesimais as normas dos diferenciais daκ e dX3 .

2.1.3

Mudan¸ ca de Configura¸c˜ ao Referencial

b uma outra configura¸ Seja κ c˜ao referencial de B, definida de modo an´alogo `a configura¸c˜ao referencial κ (eq. 2.1), pertencendo as imagens de ambas as duas configura¸c˜oes ao espa¸co euclideano de pontos E, correspondente `a estrutura referencial de Newton φ. A composi¸c˜ao c = λ(X) = κ b ◦ κ−1 : E → E , tal que X b (κ−1 (X)) , λ=κ b . Seja χb ´e chamada uma mudan¸ca de configura¸c˜ ao referencial de κ para κ κ definida de modo an´alogo a χκ (eq. 2.2). As deforma¸c˜oes desde cada uma das duas configura¸c˜oes b , at´ referenciais κ e κ e a configura¸c˜ao arbitr´aria χ , respectivamente χκ e χbκ , s˜ao relacionadas entre si por meio da composi¸c˜ao

χκ = χbκ ◦ λ : Bκ → Bχ ,

c . tal que x = χκ (X) = χbκ (λ(X)) = χbκ (X)

Se dX = X − X0 , de acordo com a u ´ltima equa¸c˜ao destacada ∇ λ) dX = ∇

χ dX = ∇ (χbκ ◦ X0 κ X0 λ dX], onde a u ´ltima igualdade ´e devida ao coment´ario 1.3.5, sobre

χκ [∇ c b X0 X 0 diferencia¸c˜ao em cadeia. Por´em ∇ a eq. 2.4,

c X 0

Fκ (X) = ∇ χκ = ∇c χbκ ◦ ∇ λ X X X Fκ = Fbκ P ,

2.2

χbκ [∇

X0

λ dX] = (∇

e, sendo onde

c X 0

χbκ ◦ ∇ λ) dX ou, usando X0

b ◦ κ−1 ), P (X) = ∇ λ = ∇ (κ X X

c) = ∇ χ . Fbκ ( X κ c b X

(2.10)

Tra¸c˜ ao e Rota¸c˜ ao

O gradiente da deforma¸c˜ao (eq. 2.4) ´e uma medida da deforma¸c˜ao no ponto X ∈ Bκ ⊂ E. Mas outras medidas existem, cujos significados f´ısicos s˜ao, at´e, mais evidentes. Como o gradiente da deforma¸c˜ao F ´e n˜ao singular (eq. 2.5), de acordo com o teorema da decomposi¸c˜ao polar 1.2.10 h´a dois tensores sim´etricos (defini¸c˜ao de tensores sim´etrico e antissim´etrico 1.2.18) de defini¸c˜ao positiva (defini¸c˜ao de tensor de defini¸c˜ao positiva, negativa e semi-defini¸c˜ao 1.2.43), U e V e um tensor ortogonal (defini¸c˜ao de tensor ortogonal de segunda ordem 1.2.30), R, determinados de modo u ´nico a partir de F , tais que √ √ F = RU = V R , U = F T F , V = RU RT = F F T e R = F U −1 . (2.11) Denomina-se tensor de rota¸c˜ ao a R, tensor direito de estiramento a U e tensor esquerdo de estiramento a V , onde direito e esquerdo referem-se `a posi¸c˜ao do tensor, 87


em rela¸c˜ao a R, na composi¸c˜ao F = R ◦ U = V ◦ R (note que ´e esta composi¸c˜ao que d´a origem ao nome decomposi¸c˜ao polar). Estas denomina¸c˜oes provˆem da interpreta¸c˜ao f´ısica destes tensores. De fato, de acordo com o teorema espectral 1.2.6, sobre autovalores de tensor sim´etrico, como os tensores U e V s˜ao sim´etricos, para cada um deles existe uma base ortonormal, do espa¸co vetorial tridimensional, tal que o tensor possa ser representado como uma matriz diagonal de autovalores. Al´em disto, de acordo com o teorema 1.2.8 (tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa), como U e V s˜ao de defini¸c˜ao positiva, todos os seus autovalores s˜ao positivos. Por isto, U e V representam estiramentos puros, ao longo de trˆes eixos ortogonais entre si. Mas, como a aplica¸c˜ao de tensor ortogonal a dois vetores preserva o produto interno entre eles, R representa uma rota¸c˜ao pura. Logo, o gradiente de deforma¸c˜ao resulta de um estiramento puro U seguido de uma rota¸c˜ao R, ou da mesma rota¸c˜ao R seguida de um estiramento V 6= U . Enquanto que ambos os tensores de estiramento medem a tra¸c˜ao, ou mudan¸ca de forma, o tensor de rota¸c˜ao mede a mudan¸ca de orienta¸c˜ao, ou rota¸c˜ao. Como U 2 = F T F e V 2 = F F T , o uso dos itens 3 e 4 do coment´ario 1.2.27, sobre propriedades de determinantes - parte I, mostra que (det U )2 = (det F )2 = (det V )2 . Mas, de acordo com o coment´ario 1.2.45, sobre determinante de tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa, como U e V s˜ao sim´etricos de defini¸c˜ao positiva, seus correspondentes determinantes s˜ao positivos. Pode-se, portanto, escrever det U = det V = | det F | .

(2.12)

Sejam os autovalores e autovetores de U respectivamente vi e ei , para i = 1, 2, 3, logo seja U ei = vi ei (de acordo com a nota¸c˜ao de Einstein 1.1.2, n˜ao ocorre somat´orio sobre o ´ındice i). Como V = RU RT , tem-se V (Rei ) = RU RT (Rei ) = RU (ei ) = vi (Rei ). Portanto U e V tˆem os mesmos autovalores e seus autovetores diferem apenas pela rota¸c˜ao R. Os autovalores vi , todos eles positivos, s˜ao chamados estiramentos principais e os correspondentes autovetores, mutuamente ortonormais, s˜ao chamados dire¸c˜ oes principais. Utilizando as eqs. 2.12, U e V podem ser obtidos a partir de F , calculando-se a raiz quadrada dos tensores sim´etricos de defini¸c˜ao positiva F T F e F F T , respectivamente. Para isto, basta considerar o teorema 1.2.9, sobre quadrado de tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa e a nota¸c˜ao 1.2.10, para tensor raiz quadrada. Mas, para efeito de c´alculo, ´e mais conveniente introduzir os tensores de tra¸c˜ ao de Cauchy Green direito e esquerdo, respectivamente definidos por C = U2 = F T F

e B = V 2 = FFT .

(2.13)

Usando a representa¸c˜ao F = F jβ cj ⊗ cβ do gradiente de deforma¸c˜ao (eqs. 2.6), bem como o coment´ario 1.2.15, sobre transposi¸c˜ao de tensor simples e a defini¸c˜ao de matrizes transposta e inversa 1.1.4, tem-se F T F = F i α F jβ (cα ⊗ ci )(cj ⊗ cβ ) e F F T = F i α F jβ (cj ⊗cβ )(cα ⊗ci ) . Por meio do item 1 do coment´ario 1.2.18, sobre composi¸c˜ao com tensor simples, obt´em-se (cα ⊗ci )(cj ⊗cβ ) = ((cα ⊗ci )(cj ))⊗cβ . Considerando a defini¸c˜ao de produto tensorial de vetores ou tensor simples 1.2.12 e, em seguida, o coment´ario 1.2.6, sobre fun¸c˜oes gi j e g i j , tem-se ((cα ⊗ ci )(cj )) ⊗ cβ = (ci · cj )cα ⊗ cβ = gi j cα ⊗ cβ , logo 88


(cα ⊗ ci )(cj ⊗ cβ ) = gi j cα ⊗ cβ . Analogamente, (cj ⊗ cβ )(cα ⊗ ci ) = g α β cj ⊗ ci . Logo, F T F = gi j F i α F jβ cα ⊗ cβ e F F T = g α β F i α F jβ cj ⊗ ci = g α β F i α F jβ ci ⊗ cj , porque F F T ´e sim´etrico. Tem-se, portanto, Cα β = gi j F i α F jβ

e

B i j = g α β F i α F jβ ,

e

[B i j ] = [F i α ][g α β ][F jβ ]T .

ou, na forma matricial, [Cα β ] = [F i α ]T [gi j ][F jβ ]

Conv´em lembrar que gi j e g α β s˜ao, de acordo com a eq. 2.6 e com o coment´ario 1.3.14, sobre tensor m´etrico e base natural dual, respectivamente um componente covariante do tensor m´etrico referente ao sistema de coordenadas no ponto x da configura¸c˜ao deformada e um componente contravariante do tensor m´etrico referente ao sistema de coordenadas no correspondente ponto X da configura¸c˜ao referencial. Como exemplo, considere a deforma¸c˜ao x = χκ (X), dada em coordenadas cartesianas tanto na configura¸c˜ao referencial como na deformada e definida por meio das express˜oes x = X + κY ,

y=Y

e

z=Z .

(2.14)

Esta deforma¸c˜ao ´e chamada cisalhamento simples e κ > 0 ´e chamado quantidade de cisalhamento. Usando as eqs. 2.3 e 2.6, conforme as quais Fi α = ∂χi /∂X α , tem-se a forma matricial   1 κ 0  [Fi α ] =  0 1 0  (2.15)  . 0 0 1 Note que, como det F = 1, de acordo com a eq. 2.9 o cisalhamento simples preserva o volume. Sugere-se acompanhar pelo livro (p. 6 e 7) o tratamento restante deste exemplo.

2.3

Tra¸c˜ ao e Rota¸c˜ ao Lineares

Os tensores de tra¸c˜ao e rota¸c˜ao mostrados na se¸c˜ao 2.2 podem representar quaisquer deforma¸c˜oes. Mas, nesta se¸c˜ao, somente ser˜ao consideradas deforma¸c˜oes suficientemente pequenas para que a imposi¸c˜ao da linearidade, nos tensores que que as representam, cause erros desprez´ıveis. De acordo com a eq. 2.8, tem-se dx1 · dx2 = F dX1 · F dX2 = dX2 · (F T F ) dX1 = dX2 · CdX1 , onde a segunda igualdade prov´em da defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17 e a terceira igualdade prov´em da eq. 2.13. A express˜ao destacada mostra que dx1 · dx2 − dX1 · dX2 = dX2 · (C − 1 ) dX1 = 2 dX2 · E dX1 , onde

(2.16)

C −1 (2.17) 2 ´e chamado tensor de tra¸c˜ ao de Green - St. Venant, ou tensor de tra¸c˜ ao referencial (de acordo com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao tensorial identidade 1.2.16, o s´ımbolo 1 representa o tensor identidade). Analogamente, tem-se E=

dX1 · dX2 = F −1 dx1 · F −1 dx2 = dx2 · (F −T F −1 ) dx1 = dx2 · B −1 dx1 , logo 89


dx1 · dx2 − dX1 · dX2 = dx2 · (1 − B −1 ) dx1 = 2 dx2 · e dx1 , onde

(2.18)

1 − B −1 (2.19) 2 ´e chamado tensor de tra¸c˜ ao de Almansi - Hamel, ou tensor de tra¸c˜ ao corrente. Se n˜ao houver deforma¸c˜ao (ou para deforma¸c˜ao infinitesimal), χκ (X) − χκ (X0 ) = X − X0 ∀(X, X0 ) ∈ Bκ , logo a eq. 2.7 indicar´a que o(X − X0 ) = 0 e F = 1 . Portanto, a eq. 2.13 mostrar´a que C = B = 1 e as eqs. 2.17 e 2.19 respectivamente produzir˜ao E = 0 e e = 0. Por isto, e=

para deforma¸c˜oes pequenas os tensores E e e n˜ao diferem muito de tensores nulos. Para tratar adequadamente deforma¸c˜oes pequenas, utiliza-se o vetor deslocamento u = x − X. Em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao referencial, κ, o vetor deslocamento pode ser escrito u(X) = χκ (X) − X (sendo χκ definido pela eq. 2.2), o que permite obter o tensor gradiente referencial de deslocamento H(X) = ∇ u = F (X) − 1 , X onde foi usada a eq. 2.4. Mas o vetor deslocamento tamb´em pode ser escrito em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao corrente, χ, tendo-se ent˜ao u(x) = x − χ−1 κ (x) , o que produz o tensor gradiente espacial de deslocamento h(x) = ∇x u = 1 − F −1 (x) , −1 porque, do acordo com a eq. 2.4, ∇x χ−1 (x). Evidentemente, κ = F

para deforma¸c˜oes pequenas os tensores H e h tamb´em n˜ao diferem muito de tensores nulos. Utilizando as equa¸c˜oes acima destacadas para H(X) e h(x), bem como as eqs. 2.13, 2.17 e 2.19, tem-se E=

C−1 2

=

F T F −1 2

e=

1 −B −1 2

=

1 −(F F T )−1 2

=

(H+1 )T (H+1 )−1 2

=

H + HT + HT H 2

=

1 −(1 −h)T (1 −h) 2

=

h + hT − hT h . 2

e (2.20)

Sublinhe-se que, ao contr´ario do conceito de infinitesimal apresentado na subse¸c˜ao 2.1.2, o conceito de deforma¸c˜ao pequena independe do m´odulo do vetor X−X0 , enquanto que, ∀X ∈ Bκ , implica em m´odulo pequeno para o vetor χκ (X) − X. Usando a primeira das duas eqs. 2.20 e simbolizando qualquer conjunto de termos de ordem igual ou superior a dois em |H| por meio de o(2), obt´em-se E = Ee + o(2), onde Ee =

H + HT 2 90

(2.21)


´e o tensor de tra¸c˜ ao infinitesimal introduzido por Cauchy na teoria cl´assica da elasticidade. Numa aproxima¸c˜ao de primeira ordem em rela¸c˜ao a H considera-se o(2) = 0, e portanto imp˜ logo E = E, oe-se a linearidade da defini¸c˜ao de E a partir de H. Evidentemente, tal aproxima¸c˜ao se justifica somente se H for suficientemente pr´oximo de um tensor nulo, ou seja, somente se a deforma¸c˜ao for suficientemente pequena para que o erro causado seja desprez´ıvel. Evidentemente, para tra¸c˜ao infinitesimal E = Ee = 0. √ A segunda das eqs. 2.11 indica que U = F T F logo, usando a defini¸c˜ao de H antes q √ destacada, tem-se U = (H + 1 )T (H + 1 ) = 1 + H + H T + H T H. A quarta das eqs. √ 2.11 mostra que R = F U −1 = (H + 1 )/ 1 + H + H T + H T H. Considere, agora, o desenvolvimento em s´erie de MacLaurin (1 + x)n = 1 + nx + n(n − 1)x2 /2! + . . ., o qual cont´em um n´ umero finito de termos se n for um inteiro positivo e, caso contr´ario, converge √ 2 para x < 1. Fazendo n = 1/2 e x = H + H T + H T H tem-se 1 + H + H T + H T H = 1 + (H + H T )/2 + o(2). Fazendo n = −1/2 e x = H + H T + H T H tem-se (H + √ 1 )/ 1 + H + H T + H T H = (H + 1 )(1 − (H + H T )/2 + o(2)) = 1 + (H − H T )/2 + o(2). Portanto, √ T U= F T F = 1 + H+H + o(2) = 1 + Ee + o(2) e 2 R=

F U −1 = 1 +

H−H T 2

+ o(2) =

e + o(2), 1 +R

(2.22)

onde

H − HT = (2.23) 2 ´e chamado tensor de rota¸c˜ ao infinitesimal, em analogia ao tensor de tra¸c˜ao infinitee Note que, de acordo com o coment´ simal, E. ario sobre decomposi¸c˜ao cartesiana 1.2.46, e e E e R s˜ao, respectivamente, a parte sim´etrica e a parte antissim´etrica do tensor H. Pode-se obter interpreta¸c˜oes geom´etricas para os componentes do tensor infinitesimal e em rela¸ de tra¸c˜ao E, c˜ao a um sistema de coordenadas cartesianas. Para isto: e R

1. Seja dX1 = dX2 = s0 e1 . Neste caso, eq. 2.16 indica que dx1 · dx2 − s20 e1 · e1 = 2s20 e1 · Ee1 , ou dx1 · dx2 − s20 = 2s20 E1 1 . De acordo com a subse¸c˜ao 2.1.2, a eq. 2.8 define os diferenciais dx1 = F (X10 )dX1 e dx2 = F (X20 )dX2 , respectivamente em rela¸c˜ao aos diferenciais dX1 = X1 − X10 e dX2 = X2 − X20 . Estes u ´ltimos s˜ao arbitr´arios, sujeitos apenas `a restri¸c˜ao de que (X1 , X10 , X2 , X20 ) ∈ Bκ . Mas, porque s´o faz sentido comparar diferenciais correspondentes `a mesma equa¸c˜ao definidora, a igualdade dX1 = dX2 implica n˜ao apenas em vetores respectivamente com igual norma e dire¸c˜ao (dire¸c˜ao inclui sentido), conforme colocado no coment´ario 1.2.3, sobre igualdade entre vetores, mas tamb´em com igual ponto de aplica¸c˜ao no espa¸co euclideano de pontos tridimensional. Logo, dx1 = dx2 e dx1 · dx2 = s2 , onde o comprimento s ´e o comprimento s0 ap´os deforma¸c˜ao. Note que a dire¸c˜ao de dx1 = dx2 n˜ao precisa ser a mesma de dX1 = dX2 . Tem-se, portanto, E1 1 =

s2 − s20 (s − s0 )(s + s0 ) = 2 2s0 2s20 91


e analogamente para E2 2 e E3 3 . Numa deforma¸c˜ao suficientemente pequena para e tamb´ que se possa considerar E = E, em pode-se impor s + s0 = 2s0 , portanto Ee1 1 =

s − s0 . s0

e em Au ´ltima igualdade destacada mostra que os componentes diagonais do tensor E, rela¸c˜ao a um sistema de coordenadas cartesianas, s˜ao as altera¸c˜oes de comprimento sofridas, por unidade de comprimento original.

2. Seja dX1 = s0 e1 e dX2 = s0 e2 . Neste caso, eq. 2.16 indica que dx1 · dx2 − s20 e1 · e2 = 2s20 e2 · Ee1 , ou dx1 · dx2 − s20 cos(π/2) = 2s20 E2 1 . A eq. 2.8 mostra que dx1 · dx2 = F dX1 · F dX2 = s20 F e1 · F e2 = s20 | F e1 || F e2 | cos θ, onde θ ∈ [0, π] ´e o ˆangulo formado entre os dois vetores ap´os a deforma¸c˜ao. Logo,| F e1 || F e2 | cos θ = 2E2 1 = 2E1 2 (para confirmar que E ´e sim´etrico veja as eqs. 2.13 e 2.17). Se γ = π/2 − θ , ter-se-´a E1 2 E2 1 senγ = = , 2 | F e1 | | F e2 | | F e1 | | F e2 | onde γ ´e o sim´etrico da altera¸c˜ao sofrida no ˆangulo entre os dois vetores, como consequˆencia da deforma¸c˜ao. Numa deforma¸c˜ao suficientemente pequena para que e tamb´ se possa considerar E = E, em pode-se impor | F e1 | = | F e2 | = 1 e senγ = γ, obtendo-se γ Ee1 2 = Ee2 1 = . 2 e fora da diagonal, tˆ Os outros componentes de E, em interpreta¸c˜oes an´alogas a esta.

3. Como F = 1 + H, de acordo com o coment´ario 1.2.41, sobre a rela¸c˜ao entre A e 1 +A, para H ≈ 0, tem-se det F ≈ 1+trH. Por outro lado, de acordo com a segunda das eqs. 2.9, para diferenciais de volume infinitesimais tem-se dv = | det F | dvκ , que neste caso pode ser escrito dv = det F dvκ , porque det F ≈ 1. Numa deforma¸c˜ao suficientemente pequena para que se possa considerar E = Ee tem-se H ≈ 0 logo, se adicionalmente forem impostos diferenciais de volume infinitesimais, 3 X dv − dvκ det F dvκ − dvκ = = det F − 1 = trH = Eei i , dvκ dvκ i=1

onde a u ´ltima igualdade ´e devida `a eq. 2.21. Portanto, a soma dos elementos diagonais de Ee ´e a altera¸c˜ao de volume sofrida, em rela¸c˜ao a um volume infinitesimal original. e em Pode-se, tamb´em, interpretar os componentes do tensor infinitesimal de rota¸c˜ao, R, rela¸c˜ao a um sistema de coordenadas cartesianas. Para isto, considere dX = s0 (cos θ e1 + sen θ e2 ), logo considere que dX forme um ˆangulo θ com e1 . De acordo com a eq. e dX, onde a segunda igualdade 2.8, tem-se dx = F dX = (1 + H) dX = (1 + Ee + R) deve-se `a defini¸c˜ao do gradiente referencial de deslocamento, H, enquanto que a terceira prov´em das eqs. 2.21 e 2.23. Seja dxh o vetor proje¸c˜ao de dx sobre o plano definido por e1 e e2 , sendo s a norma deste vetor proje¸c˜ao. Considere que e3 seja perpendicular

92


ao mencionado plano. Como o outro vetor componente de dx ´e paralelo a e3 , tem-se dX × dx · e3 = dX × dxh · e3 = s0 s senw, onde w ´e o ˆangulo de rota¸c˜ao desde dX at´e dxh . Tem-se, portanto, e dX · e = dX × (E e + R) e dX · e . s0 s senw = dX × dx · e3 = dX × (1 + Ee + R) 3 3

Substituindo dX = s0 (cos θ e1 + sen θ e2 ) na igualdade destacada e efetuando-se as opera¸c˜oes indicadas, entre os vetores de base ortonormais ei , obt´em-se e + cos 2θ E e − 1 sen 2θ(E e −E e )) . s0 s senw = s20 (R 21 12 11 22 2 e tamb´ Numa deforma¸c˜ao suficientemente pequena para que se possa considerar E = E, em pode-se impor s = s0 e senw = w. Neste caso, a u ´ltima igualdade destacada toma a forma e −E e ). e + cos 2θ E e − 1 sen 2θ(E w=R 11 22 21 12 2 Esta igualdade mostra que w depende de θ, ou seja, o ˆangulo de rota¸c˜ao desde dX at´e dxh depende do ˆangulo entre os vetores dX e e1 . Mas conv´em lembrar que, por causa da eq. 2.8, que define dx em fun¸c˜ao de dX, o vetor dX = X − X0 necessariamente apresenta norma e dire¸c˜ao (dire¸c˜ao inclui sentido) completamente arbitr´arias, sendo bem estabelecido apenas o seu ponto de aplica¸c˜ao, X0 . Logo, o ˆangulo θ ´e necessariamente arbitr´ario e a u ´ltima equa¸c˜ao destacada define w em fun¸c˜ao de θ, assim como a eq. 2.8 define dx em fun¸c˜ao de dX. e n˜ Evidentemente, os tensores Ee e R ao dependem de θ. De fato, eles respectivamente s˜ao a parte sim´etrica e antissim´etrica do tensor gradiente referencial de deslocamento H = F − 1 (texto logo ap´os a eq. 2.23), o qual, assim como o gradiente de deforma¸c˜ao F , depende apenas do ponto de aplica¸c˜ao do vetor dX (veja a eq. 2.4). Seja

< w >=

1 Z 2π w(θ) dθ 2π 0

o ˆangulo m´edio de rota¸c˜ao desde dX at´e dxh , quando o ˆangulo θ, entre dX e e1 , variar desde 0 at´e 2π rd. Integrando, para θ variando entre desde 0 at´e 2π rd, a pen´ ultima igualdade destacada, percebe-se que e . < w >= R 21 e e Interpreta¸c˜oes an´alogas valem para R ao os outros dois componentes n˜ao 1 3 e R3 2 , que s˜ nulos do tensor antissim´etrico, correspondentes ao mesmo vetor axial. Foi efetuado um estudo das interpreta¸c˜oes geom´etricas dos tensores de tra¸c˜ao infie que respectivamente s˜ nitesimal, Ee e de rota¸c˜ao infinitesimal, R, ao as partes sim´etrica e antissim´etrica do gradiente referencial de deslocamento, H. Tratamento semelhante pode ser feito usando-se o gradiente espacial de deslocamento, h. Por´em, h = 1 − F −1 e H = F −1 diferem apenas em o(2), conforme pode ser mostrado efetuando-se o desenvolvimento em s´erie de F −1 , em termos de F . Portanto, numa deforma¸c˜ao suficientemente e tem-se h = H. Tem-se, ainda, as express˜ pequena para que se possa considerar E = E, oes para componentes dos tensores de tra¸c˜ ao e de rota¸c˜ ao infinitesimais, em termos de derivadas do vetor deslocamento em coordenadas cartesianas da configura¸c˜ao corrente,

Eei j

1 = 2

∂ui ∂uj + ∂xj ∂xi

!

e

93

e R ij

1 = 2

∂ui ∂uj − ∂xj ∂xi

!

.

(2.24)


2.4 2.4.1

Movimento Conceito B´ asico

Desde o in´ıcio do presente cap´ıtulo, a vari´avel tempo foi utilizada apenas para explicar, nos primeiros par´agrafos da subse¸c˜ao 2.1.1, o conceito de estrutura referencial, ou observador. Isto ocorreu porque, devido ao fato de serem espa¸cos produtos ambos os espa¸cos entre si relacionados por meio do observador de Newton, φ, existe uma fun¸c˜ao que, ao ser aplicada ao corpo material B, produz uma imagem de B no espa¸co euclideano de pontos tridimensional E. Tal fun¸c˜ao, de um para um em B e v´alida em qualquer instante, foi chamada configura¸c˜ao. A teoria desenvolvida at´e a este ponto do texto ´e consequˆencia da existˆencia da fun¸c˜ao configura¸c˜ao e, por isto, independe da vari´avel tempo, logo ´e atemporal. A perda conceitual envolvida em toda teoria atemporal ´e devida ao fato de que, evidentemente, numa teoria atemporal perdem a separa¸c˜ao temporal eventos que, numa teoria temporal, ocorrem em instantes distintos. Por exemplo, para a teoria atemporal at´e agora desenvolvida, as configura¸c˜oes arbitr´arias de B poderiam ser distinguidas entre si por meio da aplica¸c˜ao, ao s´ımbolo χ, de um ´ındice identificador. Neste caso, o valor do ´ındice n˜ao seria o valor da vari´avel tempo, mas sim uma identifica¸c˜ao da configura¸c˜ao considerada. Mas, na teoria temporal, a cada instante t, pertencente a determinado intervalo temporal, corresponde uma u ´nica configura¸c˜ao. Logo, para o mencionado intervalo, o valor t indica qual ´e a configura¸c˜ao considerada, por isto mesmo chamada configura¸c˜ao corrente. O s´ımbolo χ(·, t) (defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e funcional 1.1.1) ´e mais apropriado do que o uso de t como um ´ındice, uma vez que t ´e uma vari´avel que se altera de modo cont´ınuo. Al´em disto, o uso de t como ´ındice ter´a um outro significado, que ser´a apresentado na subse¸c˜ao 2.5.1. Na teoria temporal a fun¸c˜ao espacial χ(·, t) ´e uma configura¸c˜ao, assim como, na teoria atemporal, a fun¸c˜ao espacial χ, que pode ser grafada χ(·), ´e uma configura¸c˜ao. Constitui-se a u ´nica diferen¸ca na determina¸c˜ao, por meio do valor t, de qual ´e a configura¸c˜ao, ou seja, desaparece a fun¸c˜ao χ(·), considerada v´alida em qualquer instante, sendo substitu´ıda pela fun¸c˜ao χ(·, t), espec´ıfica para o instante t. Uma sequˆencia temporal cont´ınua de configura¸c˜oes χ(·, t) : B → E ´e, por defini¸c˜ao, um movimento de B, simbolizado por

χ = χ(·, t) : B → E| χ(·, t) varia continuamente para t# < t < t# , t ∈ < . Note que o s´ımbolo χ passa a ter, a partir deste ponto do texto, significado distinto do anterior, apresentado na primeira subse¸c˜ao. Altera¸c˜oes an´alogas ocorrer˜ao com outros s´ımbolos, mas a mudan¸ca de significado n˜ao mais ser´a destacada. Evidentemente, como a fun¸c˜ao espacial configura¸c˜ao χ(·, t) varia continuamente para t# < t < t# , o mesmo acontece com a imagem do corpo B em E. O conjunto χ de fun¸c˜oes, chamado movimento, ´e uma fun¸c˜ao espacial-temporal χ : B × < → E,

tal que

x = χ(X, t).

(2.25)

Enquanto o s´ımbolo χ(X, t) indica que tanto o valor X como o valor t s˜ao fornecidos, sendo a fun¸c˜ao espacial-temporal movimento χ = χ(·, ·) a eles aplicada e disto resultando como imagem o ponto χ(X, t) = x, o s´ımbolo χ(·, t) indica que apenas o valor t ´e fornecido, sendo a fun¸c˜ao espacial-temporal movimento χ = χ(·, ·) a ele aplicada e disto resultando 94


como imagem a fun¸c˜ao χ(·, t), que aplicada ao corpo B produz a imagem dele em E, no instante t (tal imagem ´e o conjunto dos pontos x). Isto confirma que χ(·, t) ´e a fun¸c˜ao espacial configura¸c˜ao, que produzir´a x se for aplicada a X. Tem-se, tamb´em, a representa¸c˜ ao do movimento de B por meio da sequˆencia temporal cont´ınua de deforma¸c˜oes, em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao referencial κ, a qual, assim como acontece com o corpo material B, permanece independente do tempo e v´alida em qualquer instante,

χκ = χκ (·, t) : Bκ → B t | χκ (·, t) = χ(·, t) ◦ κ−1 varia cont. para t# < t < t# , t ∈ < , onde B t ´e a imagem do corpo B na configura¸c˜ao χ(·, t). Assim como acontece com o conjunto χ de fun¸c˜oes (que ´e o movimento), tamb´em o conjunto χκ de fun¸c˜oes (que ´e a representa¸c˜ao do movimento) ´e uma fun¸c˜ao espacial-temporal χκ : Bκ × < → E,

x = χκ (X, t) = χ(κ−1 (X), t).

tal que

(2.26)

Note que, para um ponto fixo X da imagem da configura¸c˜ao referencial, o conjunto das imagens x = χκ (X, t) da fun¸c˜ao temporal χκ (X, ·) : < → E forma uma curva no espa¸co euclideano de pontos. Tal curva, chamada caminho ou trajet´ oria do ponto X ∈ Bκ , ou do ponto X do corpo B, ´e, respectivamente, a imagem da fun¸c˜ao temporal χκ (X, ·), ou da fun¸c˜ao temporal χ(X, ·). Os vetores velocidade, v e acelera¸c˜ ao , a do ponto X s˜ao, por defini¸c˜ao, respectivamente a primeira e a segunda derivada temporal da posi¸c˜ao deste ponto, quando esta se altera ao longo do caminho percorrido pelo ponto X ∈ Bκ , ou seja, v : Bκ × < → V

tal que

v(X, t) =

∂χκ (X, t) ∂t

a : Bκ × < → V

tal que

a(X, t) =

∂ 2 χκ (X, t) , ∂t2

e

(2.27) (2.28)

onde V ´e o espa¸co de transla¸c˜ao de E e χκ (X, t) ´e deriv´avel em rela¸c˜ao a t, o mesmo ocorrendo com a sua derivada temporal. Por outro lado, χκ (X, t) ´e deriv´avel em rela¸c˜ao a X, produzindo a express˜ao do gradiente de deforma¸c˜ ao da configura¸c˜ao corrente no instante t, configura¸c˜ao esta grafada χ(·, t), em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao referencial κ, no ponto material X da imagem desta u ´ltima, Fκ (X, t) = ∇ χκ (·, t) . X

(2.29)

Na atemporalidade, a eq. 2.29 se reduz `a eq. 2.4. A partir deste ponto do texto, ser´a implicitamente considerado que as fun¸c˜oes satisfazem as condi¸c˜oes necess´arias para que as opera¸c˜oes indicadas possam ser efetuadas, sem que isto precise ser de cada vez afirmado.

2.4.2

Descri¸ c˜ oes Material e Espacial

Os vetores velocidade (eq. 2.27) e acelera¸c˜ao (eq. 2.28), bem como o tensor de segunda ordem gradiente de deforma¸c˜ao (eq. 2.29), s˜ao exemplos de quantidades f´ısicas atribu´ıdas 95


a cada ponto de um corpo material, quantidades estas cujos valores variam de ponto para ponto do citado corpo e, dado um ponto fixo X (logo, dado um ponto fixo X), variam com a altera¸c˜ao exclusivamente temporal de x = χκ (X, t) (eq. 2.26), ou seja, variam a medida que o ponto X prossegue no seu caminho, definido pela fun¸c˜ao temporal χκ (X, ·). Embora a modifica¸c˜ao temporal destes dois vetores e tensor dependa apenas da altera¸c˜ao temporal de x = χκ (X, t), existem outras quantidades f´ısicas cujas modifica¸c˜oes temporais, al´em de dependerem da altera¸c˜ao temporal de x = χκ (X, t), tamb´em dependem diretamente do instante considerado. O estudo de tais quantidades pode basear-se em dois enfoques alternativos, os quais levam `as mesmas conclus˜oes: • enfocando-se inicialmente como evolui o valor da quantidade considerada, ao longo do caminho percorrido pelo ponto X ∈ Bκ , como efetuado no final da subse¸c˜ao anterior para os vetores velocidade e acelera¸c˜ao e conforme poderia ser efetuado para o tensor gradiente da deforma¸c˜ao (obtendo-se a correspondente derivada parcial temporal), ou • enfocando-se inicialmente como se altera o valor da quantidade considerada, de ponto para ponto da imagem da configura¸c˜ao corrente do corpo. O primeiro enfoque corresponde `a descri¸c˜ao material, ou referencial, ou lagrangeana da quantidade, enquanto que o segundo ´e chamado descri¸c˜ao espacial, ou euleriana. Para melhor apresentar estas duas descri¸c˜oes, considere uma configura¸c˜ao referencial κ e uma quantidade f´ısica cujos valores Q perten¸cam a um espa¸co W . Na descri¸c˜ao material, os valores Q s˜ao definidos, em rela¸c˜ao ao movimento χ do corpo material B, por meio da fun¸c˜ao temporal f (X, ·) : < → W . Seja f = {f (X, ·)} o conjunto espacial cont´ınuo de tais fun¸c˜oes temporais, que engloba todos os pontos de Bκ e somente estes pontos. Tem-se, ent˜ao, f : Bκ × < → W,

tal que Q = f (X, t).

A segunda entre as equa¸c˜oes acima destacadas, an´aloga `as eqs. 2.27, 2.28 e 2.29, ´e a descri¸c˜ao material da quantidade f´ısica cujo valor ´e Q ∈ W . J´a a descri¸c˜ao espacial da mesma quantidade ´e dada pela fun¸c˜ao espacial fe(·, t) : Bt → W . Considerando a

sequˆencia temporal cont´ınua de tais fun¸c˜oes, grafada fe = fe(·, t) , tem-se fe : Bt × < → W,

tal que Q = fe(x, t) .

Evidentemente, Q = fe(x, t) = fe(χκ (X, t), t) = f (X, t).

(2.30)

Na mecˆanica dos meios cont´ınuos, a eq. 2.30 ´e escrita por meio da simbologia (an´aloga `a utilizada na termodinˆamica tradicional) f = f (X, t) = f (x, t), onde Q foi substitu´ıdo por f e fe(x, t) foi substitu´ıdo por f (x, t). Esta simbologia simplificada pode causar equ´ıvocos, especialmente quando forem envolvidas diferencia¸c˜oes. Tais equ´ıvocos podem ser evitados escrevendo-se explicitamente as vari´aveis envolvidas, como por exemplo em ∂f (X, t)/∂t, para a derivada temporal na descri¸c˜ao material e 96


∂f (x, t)/∂t, para a derivada temporal na descri¸c˜ao espacial. Como as duas descri¸c˜oes s˜ao igualmente diferenci´aveis, tanto em rela¸c˜ao ao tempo quanto em rela¸c˜ao ao ponto (X ou x conforme o caso), a diferen¸ca entre elas se reduz a uma simples troca entre X e x. Por´em, abandonando a simbologia matem´atica rigorosa, para evitar os mencionados equ´ıvocos a mecˆanica dos meios cont´ınuos introduz s´ımbolos espec´ıficos, a seguir apresentados (as quais, na verdade, n˜ao precisariam existir). Tem-se, assim, os s´ımbolos: 1. Para derivada parcial temporal de f (X, t), df ∂f (X, t) f˙ = = , dt ∂t onde, em df /dt, evidentemente f representa a fun¸c˜ao temporal f (X, ·), a qual ´e uma fun¸c˜ao local. Note que o adjetivo “local” indica “num determinado ponto fixo do corpo B”, logo num determinado ponto fixo da imagem de alguma configura¸c˜ao referencial do corpo. Portanto, fixado um ponto do corpo, df /dt ´e a derivada u ´nica de uma fun¸c˜ao temporal. 2. Para o gradiente, no ponto X, de f (X, t), Gradf = ∇ f (·, t), X e analogamente Div para a divergˆencia e Rot para o rotacional. 3. Para derivada parcial temporal de f (x, t), ∂f ∂f (x, t) = . ∂t ∂t 4. Para o gradiente, no ponto x, de f (x, t), gradf = ∇x f (·, t), e analogamente div para a divergˆencia e rot para o rotacional. As rela¸c˜oes entre estas nota¸c˜oes s˜ao de grande importˆancia. Sendo v dado pela eq. 2.27 tem-se, respectivamente para f = ψ, onde ψ ´e um escalar e para f = u, onde u ´e um vetor: ∂ψ ∂u u˙ = ψ˙ = + (gradψ) · v, + (gradu)v e (2.31) ∂t ∂t Gradψ = F T gradψ, Gradu = (gradu)F. (2.32) Nas eqs. 2.31, a derivada parcial ∂f /∂t informa a tendˆencia de varia¸c˜ao temporal de f no ponto x, considerando nula a tendˆencia de altera¸c˜ao temporal na localiza¸c˜ao deste ponto. Esta ´e, portanto, a derivada a que se refere o item 3. Logo, ∂f /∂t 6= 0 indica que f apresenta a dependˆencia temporal direta citada no primeiro par´agrafo desta subse¸c˜ao. Por outro lado, a derivada u ´nica f˙ informa a tendˆencia de varia¸c˜ao temporal de f no ponto x, levando por´em em considera¸c˜ao a tendˆencia de altera¸c˜ao temporal na localiza¸c˜ao

97


deste ponto, dada pelos segundos termos dos segundos membros das eqs. 2.31. Por esta raz˜ao, f˙ ´e a derivada a que se refere o item 1, que engloba a tendˆencia total de varia¸c˜ao de f com t, neste instante, para um determinado ponto fixo do corpo B. O tensor de segunda ordem Fκ (X, t) = ∇ χκ (·, t) (eq. 2.29), ao ser aplicado a um X vetor diferen¸ca infinitesimal entre dois pontos da imagem da configura¸c˜ao referencial, produz um vetor diferen¸ca infinitesimal entre dois pontos da imagem da configura¸c˜ao corrente (eq. 2.7 e 2.8). Por outro lado, o tensor de segunda ordem Fκ−1 (x, t) = ∇x χ−1 κ (·, t), ao ser aplicado a um vetor diferen¸ca infinitesimal entre dois pontos da imagem da configura¸c˜ao corrente, produz um vetor diferen¸ca infinitesimal entre dois pontos da imagem da configura¸c˜ao referencial. O tensor FκT (X, t), embora ainda relacionado a ∇ χκ (·, t) assim X como Fκ (X, t), por causa da transposi¸c˜ao ´e aplicado a um vetor diferen¸ca infinitesimal entre dois pontos da imagem da configura¸c˜ao corrente e produz um vetor diferen¸ca infinitesimal entre dois pontos da imagem da configura¸c˜ao referencial (ao contr´ario de Fκ−1 (x, t), o tensor FκT (X, t) n˜ao se relaciona a ∇x χ−1 κ (·, t)). Por isto, enquanto que F pode ser aplicado a um vetor diferen¸ca cujos componentes contravariantes se refiram `a base natural (cα (X))3α=1 (eq. 2.6), F T pode ser aplicado a um vetor cujos componentes covariantes se refiram `a base natural (ci (x))3i=1 , com ´e o caso do vetor gradψ = ∇x ψ(·, t), o que esclarece alguns aspectos fundamentais da primeira entre as eqs. 2.32. Quanto `a segunda equa¸c˜ao, se o tensor de segunda ordem gradu for fornecido j=3 k=3 k=3 j k na base mista (cj (x) ⊗ ck (x))j=3 j=1 k=1 , ou na base covariante (c (x) ⊗ c (x))j=1 k=1 , a composi¸c˜ao (gradu)F fornecer´a o resultado indicado. Para o caso espec´ıfico em que u = v tem-se, usando a eq. 2.27, o gradiente material da velocidade, ∂ ∂ ∂ Gradv = ∇ v(·, t) = ∇ χκ (·, t) = ∇ χκ (·, t) = F (X, t) = F˙ , X X ∂t ∂t X ∂t onde foi usada a eq. 2.29 na pen´ ultima igualdade. Logo, Gradv = F˙

(2.33)

e, usando a segunda eq. 2.32, tem-se (gradv)F = F˙ , ou, para o gradiente espacial da velocidade , gradv = F˙ F −1 . (2.34) Re-escrevendo a eq. 2.26, x = χκ (X, t), sob a forma x = x(X, t) (em analogia a f = ˙ f (X, t)) e usando a simbologia apresentada no item 1, eq. 2.27 mostra que v = x. ¨ . Portanto, usando a segunda entre as eqs. 2.31 Analogamente, obt´em-se a = v˙ = x chega-se `a express˜ao da acelera¸c˜ ao em fun¸c˜ ao da velocidade, a=

∂v + (gradv)v. ∂t

(2.35)

Ser˜ao a seguir apresentadas, sem demonstra¸c˜ao, duas u ´teis equa¸c˜oes complementares: GradJ = J div(F T ) Div(JF −T ) = 0

e

div(J −1 F T ) = 0;

gradJ = −J Div(F −T ).

e 98

(2.36) (2.37)


Um tipo importante de movimento, definido por meio da eq. 2.26, ´e dado por χκ (X, t) = x◦ (t) + Q(t)(X − X◦ ),

(2.38)

onde Q(t) ´e um tensor ortogonal dependente do tempo. Para este movimento demonstrase que ¨◦ + w ˙ 0 × (x − x◦ ) + w0 × (w0 × (x − x◦ )), v = x˙ ◦ + w0 × (x − x◦ ) e a = x onde a velocidade angular w0 ´e definida como o vetor axial do tensor antissim´etrico QQ˙ T , ou seja, w0 =< QQ˙ T >. Demonstra-se, tamb´em, que neste movimento a forma (comprimento e ˆangulo) de qualquer elemento material n˜ao se altera. Por isto, ele ´e chamado movimento r´ıgido. Outro tipo importante ´e o movimento harmˆ onico, descrito pelo campo de acelera¸c˜ao, na descri¸c˜ao espacial, a(x, t) = k 2 xex + k 2 yey ,

(2.39)

onde (ex , ey ) ´e a base natural do sistema de coordenadas cartesianas bidimensional.

2.5 2.5.1

Deforma¸c˜ ao Relativa Conceito e Exemplo

A eq. 2.25 definiu o movimento por meio da fun¸c˜ao espacial-temporal χ : B × < → E, tal que x = χ(X, t), ou x0 = χ(X, τ ), (2.40) onde a vari´avel x foi substitu´ıda por x0 e a vari´avel t foi substitu´ıda τ . Esta substitui¸c˜ao foi feita para permitir que a fun¸c˜ao espacial χ(·, τ ) , que ´e configura¸c˜ao no instante τ , seja comparada com a configura¸c˜ao correspondente a um instante referencial t, χ(·, t), embora κ : B → E, tal que X = κ(X), continue sendo uma configura¸c˜ao referencial atemporal. Deseja-se, portanto, comparar configura¸c˜oes em momentos τ anteriores e posteriores ao instante t (o qual pode, por exemplo, ser o instante corrente). Assim como as eqs. 2.26 representam o movimento por meio da fun¸c˜ao χκ : Bκ × < → E, que ´e uma sequˆencia temporal cont´ınua de deforma¸c˜oes em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao referencial atemporal κ, pode-se representar o movimento por meio da sequˆencia temporal cont´ınua de deforma¸c˜ oes relativas χt : Bt × < → E,

tal que x0 = χt (x, τ ) = χ(χ−1 (x, t), τ ) = χκ (χ−1 κ (x, t), τ ),

(2.41)

onde a fun¸c˜ao espacial χt (·, τ ) = χ(·, τ ) ◦ χ−1 (·, t) = χκ (·, τ ) ◦ χ−1 e a κ (·, t) : Bt → Bτ ´ deforma¸c˜ao relativa no instante τ . Em analogia ao gradiente de deforma¸c˜ao apresentado pela eq. 2.29, define-se o tensor de segunda ordem gradiente de deforma¸c˜ ao relativa, Ft (x, τ ) = ∇x χt (·, τ ) ,

(2.42)

que ´e o gradiente de deforma¸c˜ao da configura¸c˜ao χ(·, τ ), referente ao instante τ , em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao χ(·, t), relativa ao momento t, no ponto x da imagem desta u ´ltima configura¸c˜ao. Evidentemente, Ft (x, t) = 1 . (2.43) 99


Por outro lado, de acordo com a eq. 2.29 tem-se Fκ (X, t) = ∇ χκ (X, t) e Fκ (X, τ ) = X ∇ χκ (X, τ ). Usando estas duas express˜oes e a eq. 2.42 obt´em-se X Fκ (X, τ ) = Ft (x, τ )Fκ (X, t) .

(2.44)

Por exemplo, seja um movimento no plano x-y, dado em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao referencial κ (eqs. 2.26) e considerando-se, para todas as configura¸c˜oes, o sistema de coordenadas cartesianas. Considere o movimento espec´ıfico dado por x = χκ (X, Y, t) = (X et , Y (t + 1)) , onde X = (X, Y ).

(2.45)

Em termos de fun¸c˜oes de deforma¸c˜ao an´alogas `a eq. 2.3, tem-se x = χxκ (X, Y, t) = X et e y = χyκ (X, Y, t) = Y (t + 1), logo X = x e−t e Y = y/(t + 1), ou −t X = χ−1 κ (x, y, t) = (x e ,

y ). t+1

Usando a eq. 2.41, calcula-se a deforma¸c˜ao relativa −t x0 = χκ (χ−1 κ (x, y, t), τ ) = χκ (x e ,

y τ +1 , τ ) = (x eτ −t , y) . t+1 t+1

Aplicando as eqs. 2.6 a este caso especial tem-se F = F xX ex ⊗ ex + F xY ex ⊗ ey + F yX ey ⊗ ex + F yY ey ⊗ ey , onde (ex , ey ) ´e a base natural do sistema de coordenadas cartesianas e F xX = ∂χxκ /∂X = et , F xY = ∂χxκ /∂Y = 0, F yX = ∂χyκ /∂X = 0 e F yY = ∂χyκ /∂Y = t+1. Portanto, Fκ (t) = et ex ⊗ ex + (t + 1) ey ⊗ ey . Por outro lado, aplicando a eq. 2.42 a este caso especial tem-se, considerando a pen´ ultima equa¸c˜ao destacada, Ft (τ ) =

∂( τ +1 y) ∂( τ +1 y) ∂(x eτ −t ) ∂(x eτ −t ) ex ⊗ ex + ex ⊗ ey + t+1 ey ⊗ ex + t+1 ey ⊗ ey , ∂x ∂y ∂x ∂y

ou

τ +1 ey ⊗ ey . t+1 Evidentemente, a express˜ao de Fκ (τ ) ´e obtida substituindo-se t por τ na express˜ao de Fκ (t). Fazendo τ = t na express˜ao de Ft (τ ), percebe-se que a eq. 2.43 ´e satisfeita. Sustituindo-se as express˜oes de Fκ (τ ), Ft (τ ) e Fκ (t) na eq. 2.44, percebe-se que ela, tamb´em, ´e satisfeita. Na subse¸c˜ao 2.4.1 foi informado que o caminho ou trajet´oria ´e o conjunto das imagens x = χκ (X, t) da fun¸c˜ao temporal χκ (X, ·) : < → E. Logo, para este caso espec´ıfico o caminho ´e dado pela eq. 2.45, considerando-se fixo o ponto X. Mas, para X 6= 0, o tempo pode ser eliminado nas fun¸c˜oes de deforma¸c˜ao x = X et e y = Y (t + 1), obtendo-se ´ltima equa¸c˜ao fornece y = Y (ln Xx + 1). Logo, para o ponto fixo X com X 6= 0, a u a coordenada y referente a cada coordenada x e v.v., evidentemente correspondendo x = (x, y) a algum instante t n˜ao diretamente explicitado pela equa¸c˜ao. Mas, se X = 0, ent˜ao x = 0 e y = Y (t + 1), sendo portanto imposs´ıvel eliminar a vari´avel t. As fun¸c˜oes de deforma¸c˜ao ainda mostram que, neste caso especial, a configura¸c˜ao referencial ´e a Ft (τ ) = eτ −t ex ⊗ ex +

100


configura¸c˜ao corrente no instante t = 0. Como outro exemplo, demonstra-se que o campo de velocidades v(x, t) = u(y) ex , (2.46) denominado escoamento newtoniano, apresenta o gradiente de deforma¸c˜ao relativa Ft (τ ) = 1 + (τ − t)

2.5.2

du ex ⊗ ey . dy

(2.47)

Velocidade de Altera¸c˜ ao da Tendˆ encia de Deforma¸c˜ ao

A eq. 2.29 define o gradiente de deforma¸c˜ao, o qual mede a tendˆencia de deforma¸c˜ao da configura¸c˜ao corrente no instante t, em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao referencial, no ponto X da imagem desta u ´ltima. Uma medida da velocidade de altera¸c˜ao desta tendˆencia de deforma¸c˜ao ´e o valor da derivada temporal material F˙ κ (X, t), no instante t (item 1 da subse¸c˜ao 2.4.2). Mas, de acordo com a eq. 2.33, F˙ κ (X, t) = Gradv, onde Gradv ´e o gradiente material (item 2 da subse¸c˜ao 2.4.2) da velocidade v, sendo esta u ´ltima definida pela eq. 2.27. Esta equa¸c˜ao mostra que v ´e a velocidade de altera¸c˜ao, no instante t, da posi¸c˜ao x ocupada pelo ponto material X naquele momento t. Logo, Gradv mede a tendˆencia de modifica¸c˜ao desta velocidade, dentro da imagem da configura¸c˜ao corrente referente ao instante t, em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao referencial, no ponto X da imagem desta u ´ltima. A igualdade entre estes dois conceitos, expressa pela eq. 2.33, ´e matematicamente ∂ ∂ explicada pela troca de ordem de deriva¸c˜ao, ou seja ∂t ∇ χκ (·, t) = ∇ ∂t χκ (·, t). X X Uma an´aloga igualdade conceitual prov´em da eq. 2.34, gradv = F˙ κ (X, t)Fκ−1 (X, t). De acordo com o item 4 da subse¸c˜ao 2.4.2, gradv mede a tendˆencia de modifica¸c˜ao espacial da velocidade num ponto x da imagem da configura¸c˜ao corrente, no instante t que corresponde `a configura¸c˜ao corrente. Faz-se, portanto, necess´ario mostrar qual ´e o significado da composi¸c˜ao de F˙ κ (X, t) com Fκ−1 (X, t). Para isto, considerando o gradiente de deforma¸c˜ao relativa apresentado pela eq. 2.42, pode-se definir L(x, t) =

∂ Ft (x, τ )|τ =t = F˙ t (x, τ )|τ =t = F˙ t (x, t) , ∂τ

(2.48)

onde a segunda igualdade ser´a justificada no pr´oximo par´agrafo e ∂ Ft (x, τ )/∂ τ ´e uma medida da velocidade de altera¸c˜ao, no instante τ , da tendˆencia de deforma¸c˜ao da configura¸c˜ao referente ao instante τ em rela¸c˜ao `a configura¸c˜ao corrente no momento t, no ponto x da imagem desta u ´ltima. Portanto, L(x, t) ´e uma medida da velocidade de altera¸c˜ao, no instante t, da tendˆencia de deforma¸c˜ao da configura¸c˜ao corrente no momento t, em rela¸c˜ao a ela mesma, no ponto x da imagem desta configura¸c˜ao. No in´ıcio da subse¸c˜ao 2.4.2 foi colocado que Fκ (X, t) varia com t apenas devido `a

101


altera¸c˜ao temporal de x = χκ (X, t) (eq. 2.25) e, no item 1 daquela subse¸c˜ao, foi mostrado que este fato pode ser simbolizado por F˙ κ (X, t) = ∂Fκ (X, t)/∂t. Analogamente, Ft (x, τ ) varia com τ apenas devido `a altera¸c˜ao temporal de x0 = χt (x, τ ) (eq. 2.41). Logo, pela mesma raz˜ao que F˙ κ (X, t) = ∂Fκ (X, t)/∂t, tem-se que F˙ t (x, τ ) = ∂ Ft (x, τ )/∂ τ , ou seja, o gradiente local da deforma¸c˜ao relativa ´e uma fun¸c˜ao u ´nica do tempo, o que justifica a segunda igualdade na eq. 2.48. De acordo com a eq. 2.44, Fκ (X, τ ) = Ft (x, τ )Fκ (X, t). Derivando em rela¸c˜ao a τ tem-se, ent˜ao, F˙ t (τ ) = F˙ (τ )F −1 (t). Mas, de acordo com a eq. 2.34, F˙ (τ ) = (gradv(τ ))F (τ ), logo F˙ t (τ ) = (gradv(τ ))F (τ )F −1 (t). Usando novamente a eq. 2.44, obt´em-se F˙ t (τ ) = (gradv(τ ))Ft (τ ). Como Ft (t) = 1 (eq. 2.43), tem-se F˙ t (t) = gradv(t) ou, de acordo com a eq. 2.48, L = gradv .

(2.49)

A eq. 2.49, proveniente da eq. 2.34, indica a igualdade entre as interpreta¸c˜oes conceituais de gradv e de L, ambas apresentadas no par´agrafo anterior. Como, de acordo com a subse¸c˜ao 2.1.1, as estruturas referenciais, ou observadores, s˜ao de um para um no corpo material β, n˜ao apenas o gradiente de deforma¸c˜ao F tem inversa (eq. 2.5), como tamb´em existe a transforma¸c˜ao linear inversa do gradiente de deforma¸c˜ao relativa Ft (x, τ ), definido pela eq. 2.42. Portanto, de acordo com o teorema da decomposi¸c˜ao polar 1.2.10, h´a dois tensores sim´etricos (defini¸c˜ao de tensores sim´etrico e antissim´etrico 1.2.18) de defini¸c˜ao positiva (defini¸c˜ao de tensor de defini¸c˜ao positiva, negativa e semi-defini¸c˜ao 1.2.43), Ut e Vt e um tensor ortogonal (defini¸c˜ao de tensor ortogonal de segunda ordem 1.2.30), Rt , determinados de modo u ´nico a partir de Ft , tais que Ft = Rt Ut = Vt Rt ,

Ut =

q

FtT Ft

,

Vt =

Rt Ut RtT

=

q

Ft FtT

e Rt = Ft Ut−1 , (2.50)

analogamente ao definido para a decomposi¸c˜ao polar do tensor de deforma¸c˜ao F (eqs. 2.11). Continuando a analogia, Ut ´e o tensor direito de estiramento relativo, Vt ´e o tensor esquerdo de estiramento relativo e Rt ´e o tensor de rota¸c˜ ao relativa. As interpreta¸c˜oes f´ısicas destes tensores tamb´em s˜ao an´alogas `as ent˜ao efetuadas, valendo coment´arios e equa¸c˜oes an´alogas, inclusive no que se refere `a defini¸c˜ao dos tensores de tra¸c˜ ao relativa de Cauchy-Green direito e esquerdo, respectivamente grafados Ct e Bt . Para τ = t, de acordo com a eq. 2.43 tem-se Ft = FtT = 1 . Logo, considerando as eqs. 2.50, Ut (t) = Vt (t) = Rt (t) = 1 . Mantendo x e t constantes e derivando em rela¸c˜ao a τ a primeira entre as eqs. 2.50, obt´em-se F˙ t (τ ) = Rt (τ )U˙ t (τ ) + R˙ t (τ )Ut (τ ). Impondo τ = t nesta express˜ao e usando a u ´ltima express˜ao destacada, bem como a eq. 2.48, tem-se L(t) = U˙ t (t) + R˙ t (t) .

(2.51)

Como Ut ´e sim´etrico tem-se a · Ut (τ )b = b · Ut (τ )a. Como os vetores a e b s˜ao arbitr´arios, eles podem independer de τ , logo o fato de Ut ser sim´etrico implica em a · U˙ t (τ )b = b · U˙ t (τ )a, o que indica que U˙ t (τ ) ´e um tensor sim´etrico. Analogamente, R˙ t (τ ) ´e um tensor antissim´etrico. Portanto, de acordo com o coment´ario 1.2.46, sobre decomposi¸c˜ao cartesiana, a eq. 2.51 mostra a decomposi¸c˜ao de L(t) em suas partes 102


sim´etrica e antissim´etrica. Logo, definindo o tensor estirante D(t) = U˙ t (t) = DT (t)

(2.52)

W (t) = R˙ t (t) = −W T (t) ,

(2.53)

e o tensor rotativo as eqs. 2.49, 2.51, 2.52 e 2.53 mostram que 1 D = (gradv + gradvT ) 2

1 W = (gradv − gradvT ) . 2

e

(2.54)

De acordo com a nota¸c˜ao para vetor associado a tensor antissim´etrico 1.2.9 e o coment´ario 1.2.37, sobre propriedades do vetor axial, o vetor axial associado ao tensor antissim´etrico W ´e grafado < W >. Define-se o vetor axial w, chamado vorticidade, tal que w =< −2W >= rotv,

(2.55)

onde a u ´ltima igualdade ´e devida `a defini¸c˜ao de rotacional de campo vetorial 1.3.12. O tensor direito de tra¸c˜ao relativa de Cauchy-Green ´e dado por Ct (τ ) = FtT (τ )Ft (τ ) ,

(2.56)

em analogia `a primeira entre as eq. 2.13. Os tensores de Rivlin-Ericksen, grafados An (x, t), s˜ao as n-´esimas derivadas temporais de Ct (τ ) aplicadas ao instante τ = t, An (x, t) =

(n) Ct (x, t)

∂n = n Ct (x, τ )|τ = t , ∂τ

n = 1, 2, 3, . . . .

(2.57)

Para n = 1 tem-se A1 (x, t) = C˙ t (x, t) = F˙ tT (x, t) + F˙ t (x, t) = LT + L , onde a primeira igualdade ´e justificada da mesma forma que a segunda igualdade na eq. 2.48, a segunda igualdade ´e obtida usando as eqs. 2.56 e 2.43 e a u ´ltima ´e devida `a eq. 2.48. Usando a eq. 2.49 e a primeira entre as eqs. 2.54, a equa¸c˜ao antes destacada produz A1 = 2D .

(2.58)

Demonstra-se, ainda, que v˙ =

∂v 1 ∂v 1 + grad(v · v) + 2 W v = + grad(v · v) + w × v ∂t 2 ∂t 2

(2.59)

e que, para o campo de velocidades dado pela eq. 2.46 (escoamento newtoniano), tem-se du A1 = (ex ⊗ ey + ey ⊗ ex ) , dy

du A2 = 2 dy

!2

103

(ey ⊗ ex )(ex ⊗ ey )

e A3 = 0. (2.60)


2.6 2.6.1

Mudan¸ca de Estrutura Referencial Transforma¸ c˜ ao Euclideana

Conforme apresentado na subse¸c˜ao 2.1.1, uma estrutura referencial de Newton, φ, ´e uma fun¸c˜ao que, ao ser aplicada a um conjunto corpo-instante pertencente a W, produz uma imagem em E × <, logo φ : W → E × <. Como φ ´e uma fun¸c˜ao de um para um em B, o tempo ´e uma vari´avel independente tanto em W quanto em E × <. Por´em, diferentes estruturas referenciais de Newton produzem imagens diferentes do mesmo conjunto corpoinstante, seja em E como em <. Mas, se as unidades de medida de espa¸co e de tempo forem respectivamente as mesmas para todos os observadores de Newton, 1. as distˆancias e os ˆangulos das imagens do corpo em E, referentes a um mesmo instante em W, ser˜ao os mesmos e 2. para todo intervalo temporal em W, a sua imagem em < independer´a da estrutura referencial escolhida. Estas duas condi¸c˜oes ser˜ao impostas, ao se mudar de uma estrutura referencial de Newton para outra. Sejam φ e φ∗ duas estruturas referenciais de Newton e seja ∗ = φ∗ ◦ φ−1 : E × < → E × < ,

tal que

∗ : (x, t) 7→ (x∗ , t∗ ),

uma mudan¸ca de φ para φ∗ . A mudan¸ca de estrutura referencial de Newton mais geral poss´ıvel, mas que obedece `a imposi¸c˜ao colocada no par´agrafo anterior, ´e uma transforma¸c˜ao r´ıgida dependente do tempo chamada transforma¸c˜ ao euclideana, definida por x∗ = Q(t)(x − x◦ ) + c(t) e t∗ = t + a , (2.61) onde a ∈ <, (x◦ , c(t)) ∈ E e Q(t) ∈ O(V ), sendo, conforme a nota¸c˜ao para grupos especiais 1.2.8, O(V ) o s´ımbolo do grupo ortogonal do espa¸co vetorial V , o que indica que Q(t) ´e um tensor ortogonal de segunda ordem. Note que x◦ ´e um ponto referencial para x, enquanto que c(t) ´e um ponto referencial para x∗ e perceba que a eq. 2.61 define x∗ como uma fun¸c˜ao de x e t, enquanto que t∗ ´e definido como fun¸c˜ao apenas de t. As eqs. 2.61 indicam que, se em determinado momento t forem registrados os pontos x1 e x2 pelo observador φ, logo for registrado o vetor u = x2 − x1 , no correspondente momento t∗ ser´a registrado o vetor u∗ = x∗2 − x∗1 pelo observador φ∗ , sendo u∗ = Q(t)u .

(2.62)

De modo an´alogo, pode-se definir os vetores v = x4 − x3 e v∗ = x∗4 − x∗3 . De acordo com a defini¸c˜ao de tensor ortogonal de segunda ordem 1.2.30, Q(t)u · Q(t)v = u · v. Por outro lado, considerando o segundo item coment´ario 1.2.33, sobre propriedades de tensor ortogonal, |Q(t)u| = |u| e |Q(t)v| = |v|. Estas trˆes u ´ltimas igualdades mostram que a primeira entre as eqs. 2.61 garante que os dois observadores registram os mesmos comprimentos e ˆangulos, enquanto que a segunda garante os mesmos intervalos temporais. Se a configura¸c˜ao referencial, κ, coincidir com a configura¸c˜ao corrente de B registrada pela estrutura referencial φ no instante t, ter-se-´a X = x e X◦ = x◦ . Neste caso, a diferen¸ca χκ (X, t) − x◦ (t), na eq. 2.38, coincidir´a com a diferen¸ca x∗ − c(t), na primeira entre as eqs. 2.61. Portanto, na transforma¸c˜ao euclideana o registro feito pela estrutura 104


referencial φ∗ , no momento t∗ = t + a, ´e o resultado da aplica¸c˜ao de um movimento r´ıgido ao registro efetuado pela estrutura referencial φ, no instante t, movimento este que depende de t. Ou seja, coerentemente com o que foi colocado no primeiro par´agrafo, os dois observadores registram exatamente os mesmos comprimentos e ˆangulos, mas os percebem em locais do espa¸co e em instantes diferentes, sendo fixa a diferen¸ca temporal, enquanto que a diferen¸ca espacial depende do instante (t ou t∗ de acordo com o observador) em que a observa¸c˜ao ´e efetuada. De acordo com a defini¸c˜ao de tensor de ordem k 1.2.20, existe o espa¸co de produto n tensorial ⊗ V , no qual se encontram os tensores de ordem n. Define-se a transforma¸c˜ao linear Q∗ , a qual ´e denominada fun¸c˜ ao linear induzida, no espa¸co de produto tensorial n ⊗ V , pela rota¸c˜ao Q(t) da transforma¸c˜ao euclideana entre as estruturas referenciais (prin n meira entre as eqs. 2.61). A fun¸c˜ao linear induzida Q∗ : ⊗ V →⊗ V ´e uma transforma¸c˜ao n linear que, ao ser aplicada a um tensor de ordem n do espa¸co de produto tensorial ⊗ V , transforma-o em outro tensor de ordem n pertencente ao mesmo espa¸co, sendo os dois tensores respectivamente os registros que as estruturas referenciais φ e φ∗ , onde a segunda ´e uma transforma¸c˜ao euclideana da primeira, efetuam para um tensor de ordem n definido pelos mesmos pontos de B. Por exemplo, para n = 1 tem-se Q∗ : V → V , ou seja, a fun¸c˜ao linear induzida, ao ser aplicada a um vetor do espa¸co vetorial V , transforma-o em outro vetor pertencente ao mesmo espa¸co. A eq. 2.62 mostra ent˜ao que, neste caso, Q∗ [u] = Qu .

(2.63)

Assim como, por causa da eq. 2.62, `a transforma¸c˜ao linear Q∗ : V → V corresponde a eq. n n 2.63, por causa da mesma eq. 2.62 `a transforma¸c˜ao linear Q∗ : ⊗ V →⊗ V corresponde Q∗ [u1 ⊗ u2 ⊗ . . . ⊗ un−1 ⊗ un ] = Qu1 ⊗ Qu2 ⊗ . . . ⊗ Qun−1 ⊗ Qun ,

(2.64)

sendo a eq. 2.63 uma forma particular da eq. 2.64 para n = 1, ou seja, para Q∗ : V → V . Para n = 2, tem-se Q∗ : V ⊗ V → V ⊗ V tal que, de acordo com a eq. 2.64, Q∗ [u1 ⊗ u2 ] = Qu1 ⊗ Qu2 = Q(u1 ⊗ u2 )QT , devendo-se a u ´ltima igualdade aos dois itens do coment´ario 2.18, sobre composi¸c˜ao com tensor simples. De acordo com o coment´ario 2.8, sobre decomposi¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear, toda transforma¸c˜ao linear entre espa¸cos vetoriais ´e uma combina¸c˜ao linear de tensores simples. Portanto, o tensor de segunda ordem T ∈ V ⊗ V ´e uma combina¸c˜ao linear de tensores simples u1 ⊗ u2 , o que implica em T ∗ = Q∗ [T ] = QT QT

ou Ti∗1 i2 = Qi1j1 Tj1 j2 (QT )j2 i2 = Qi1j1 Qi2j2 Tj1 j2 ,

(2.65)

onde a segunda equa¸c˜ao est´a escrita em termos dos componentes covariantes de T ∗ e T , logo i1 , i2 , j1 , j2 = 1, . . . , d, sendo d a dimens˜ao de V . Note que a u ´ltima igualdade da segunda equa¸c˜ao ´e devida ao uso do coment´ario 1.2.16, sobre transposi¸c˜ao de tensor de segunda ordem. n De um modo geral, para n > 0 e M ∈ ⊗ V tem-se M ∗ = Q∗ [M ]

e

Mi∗1 ... in = Qi1j1 . . . Qinjn Mj1 ... jn , 105

(2.66)


onde a segunda equa¸c˜ao, em termos de componentes, ´e uma generaliza¸c˜ao da eq. 2.65. A segunda, entre as eqs. 2.66, evidentemente indica que, para um espa¸co vetorial V de dimens˜ao trˆes, pode-se efetuar inicialmente a soma Qin1 Mj1 ... jn−1 1 + Qin2 Mj1 ... jn−1 2 + Qin3 Mj1 ... jn−1 3 = (QM )j1 ... jn−1 in , seguida da soma 1 2 3 Qin−1 (QM )j1 ... jn−2 1 in + Qin−1 (QM )j1 ... jn−2 2 in + Qin−1 (QM )j1 ... jn−2 3 in =

(Q2 M )j1 ... jn−2 in−1 in e assim sucessivamente at´e `a soma Qi11 (Qn−1 M )1 i2 ,... in + Qi12 (Qn−1 M )2 i2 ,... in + Qi13 (Qn−1 M )3 i2 ,... in = (Qn M )i1 ... in = Mi∗1 ... in , porque cada um dos ´ındices i1 . . . in e j1 . . . jn assume os valores 1, 2 e 3, podendo o tensor tridimensional de segunda ordem Q(t) ser representado por uma matriz quadrada de dimens˜ao trˆes. Por outro lado, para n = 0 a eq. 2.61 mostra que, se um escalar for aplicado ao ponto x, o mesmo escalar ser´a aplicado a x∗ . Logo, para n = 0 tem-se Q∗ : < → < e Q∗ = 1. (2.67) As eqs. 2.66 (n > 0) e 2.67 (n = 0) comp˜oem a defini¸c˜ao matem´atica completa da fun¸c˜ao linear induzida Q∗ . Se Φ for o conjunto de todas as estruturas referenciais, pode-se definir a fun¸c˜ao n

f : Φ →⊗ V , denominada observ´ avel, cujo argumento, φ ∈ Φ, ´e alguma estrutura referencial e cuja n imagem, f (φ) ∈ ⊗ V , ´e o valor do observ´avel f registrado pela estrutura φ. Note que esta defini¸c˜ao de observ´avel considera que todas as imagens f (φ) perten¸cam ao mesmo espa¸co tensorial de ordem n, qualquer que seja a estrutura referencial escolhida. Isto ´e uma generaliza¸c˜ao do fato de que, para uma transforma¸c˜ao euclideana, tanto o argumento como a imagem de Q∗ pertencem, sempre, ao mesmo espa¸co de ordem n. O conjunto de todas as transforma¸c˜oes euclideanas ´e chamado classe euclideana, representada por Σ. Seja Ψ uma sub-classe pertencente a Σ. O observ´avel f ´e dito indiferente `a estrutura referencial em Ψ, ou invariante `a altera¸c˜ao de estrutura referencial em Ψ, se f (φ∗ ) = Q∗ f (φ) (2.68) sempre que a mudan¸ca entre estruturas referenciais pertencer a Ψ. Em palavras, o n observ´avel f ´e dito indiferente `a estrutura referencial em Ψ se suas imagens em ⊗ V se transformarem uma na outra de modo coerente com a eq. 2.61. Se Ψ = Σ diz-se que f ´e indiferente `a estrutura referencial, ou invariante `a mudan¸ca de estrutura referencial, ou objetivo, sob transforma¸c˜ao euclideana. Especificamente, um escalar s, um vetor u e um tensor de segunda ordem T s˜ao objetivos quando s∗ (t∗ ) = s(t) ,

u∗ (t∗ ) = Q(t)u(t)

e

T ∗ (t∗ ) = Q(t)T (t)QT (t).

(2.69)

Como exemplo de grandezas objetivas temos escalares, vetores e tensores associados a pontos do corpo B, conforme considerado para a dedu¸c˜ao da defini¸c˜ao matem´atica completa da fun¸c˜ao linear induzida Q∗ . Como exemplo de grandezas n˜ao objetivas, pode-se citar grandezas relacionadas ao movimento, conforme ser´a mostrado na pr´oxima subse¸c˜ao. Pode-se, tamb´em, mostrar que n˜ao s˜ao objetivos os vetores axiais associados a tensores antissim´etricos objetivos. 106


2.6.2

Transforma¸ c˜ oes Galileiana e R´ıgida Independente de t

De acordo com a subse¸c˜ao 2.4.1, o movimento ´e dado pela fun¸c˜ao χ(·, ·), a qual ´e uma sequˆencia temporal de configura¸c˜oes do corpo B tal que x = χ(X, t), onde t ∈ < , X ∈ B e x ∈ E. De acordo com a subse¸c˜ao 2.6.1, seja ∗ uma mudan¸ca de estrutura referencial de φ para φ∗ . Na nova estrutura referencial o movimento ´e representado por χ∗ (·, ·), tal que x∗ = χ∗ (X, t∗ ), onde t∗ ∈ < , X ∈ B e x∗ ∈ E. A eq. 2.61 mostra, ent˜ao, que χ∗ (X, t∗ ) = Q(t)(χ(X, t) − x◦ ) + c(t)

e

t∗ = t + a .

(2.70)

Note que a eq. 2.70 pressup˜oe que o tempo, em W, seja definido a menos de uma constante aditiva. De fato, os argumentos de χ e χ∗ s˜ao conjuntos ponto corporal-instante que diferem entre si apenas pela constante aditiva temporal permitida pela transforma¸c˜ao euclideana. Em outras palavras, cada estrutura referencial pressup˜oe que seus registros temporais coincidam com os correspondentes valores do tempo em W e todas as estruturas referenciais consideradas s˜ao interlig´aveis por meio de transforma¸c˜ao euclideana. As eqs. 2.27 e 2.28 respectivamente definiram os vetores velocidade e acelera¸c˜ao como derivadas parciais temporais referentes a um ponto fixo da imagem da configura¸c˜ao referencial, porque esta era considerada u ´nica. Por´em, na pr´oxima subse¸c˜ao ser´a considerada a altera¸c˜ao da configura¸c˜ao referencial causada por uma altera¸c˜ao de estrutura referencial. N˜ao sendo u ´nica a configura¸c˜ao referencial, conv´em propor defini¸c˜oes mais fundamentais para os vetores velocidade e acelera¸c˜ao, ou seja, conv´em considerar um ponto fixo do corpo B, ao inv´es de um ponto fixo da imagem da configura¸c˜ao referencial. Por outro lado, de acordo com a subse¸c˜ao 2.4.2, na descri¸c˜ao material esta derivada parcial pode ˙ o que tamb´em ser´a feito quando o ponto fixo pertencer ao corpo B. ser anotada x, Calculando a derivada parcial da eq. 2.70 tem-se, ent˜ao, x˙ ∗ =

∂χ∗ (X, t∗ ) ˙ − x◦ ) + Qx˙ + c˙ = Q(x ∂t∗

ou

x˙ ∗ − Qx˙ = Ω (x∗ − c) + c˙ ,

(2.71)

˙ − x◦ ) = QQ ˙ T Q(x − x◦ ) = QQ ˙ T (x∗ − c) = Ω (x∗ − c), sendo a primeira porque Q(x igualdade devida ao fato de Q ser ortogonal, a segunda devido `a aplica¸c˜ao da eq. 2.70 e a terceira `a defini¸c˜ao T ˙ Ω (t) = Q(t)Q (t), (2.72) onde Ω (t) ´e denominado o tensor velocidade angular de φ∗ em rela¸c˜ao a φ. Derivando T T T ˙ ˙ ˙ Q(t)QT (t) = 1 obt´em-se Q(t)Q (t) + Q(t)Q˙ T (t) = 0 ou Q(t)Q (t) + (Q(t)Q (t))T = 0 ou, usando a eq. 2.72, Ω T = −Ω , (2.73) logo Ω ´e antissim´etrico. Derivando a segunda entre as duas eqs. 2.71 obt´em-se ¨ ∗ − Q¨ ˙ + Ω˙ (x∗ − c) + c¨ . x x = Q˙ x˙ + Ω (x˙ ∗ − c) ˙ T Qx˙ = Ω (x˙ ∗ − Ω (x∗ − c) − c), ˙ onde a primeira igualdade ´e devida `a Tem-se Q˙ x˙ = QQ ortogonalidade de Q e a segunda ´e devida, conjuntamente, `a eq. 2.72 e `a segunda entre ˙ − Ω 2 (x∗ − c) na u as eqs. 2.71. Substituindo Q˙ x˙ = Ω (x˙ ∗ − c) ´ltima equa¸c˜ao destacada obt´em-se ¨ ∗ − Q¨ ˙ + (Ω˙ − Ω 2 )(x∗ − c) . x x = c¨ + 2Ω (x˙ ∗ − c) (2.74) 107


Note que, de acordo com a segunda entre as eqs. 2.69, tanto a segunda entre as eqs. 2.71, quanto a eq. 2.74, deveriam apresentar o segundo membro nulo caso, respectivamente, a velocidade e a acelera¸c˜ao fossem vetores objetivos. Mas a eq. 2.72 mostra que, se Q(t) for uma fun¸c˜ao constante do tempo, Ω = 0. Se, al´em disto, c(t) for uma fun¸c˜ao linear no tempo, a eq. 2.74 mostra que a acelera¸c˜ao ser´a um tensor objetivo. Tal mudan¸ca de estrutura referencial ´e chamada transforma¸c˜ ao galileiana, dada por x∗ = Q(x − x◦ ) + Vt + c◦

e

t∗ = t + a ,

(2.75)

onde a ∈ <, (x◦ , c◦ ) ∈ E, Q ∈ O(V ) e V ∈ V . Al´em disto, a, x◦ , c◦ , Q e V s˜ao, todas elas, fun¸c˜oes constantes do tempo. Por´em, embora a acelera¸c˜ao seja indiferente `a mudan¸ca galileiana de estrutura referencial, a segunda entre as eqs. 2.71 mostra que a velocidade n˜ao ´e objetiva nem em rela¸c˜ao `a transforma¸c˜ao galileiana. De fato, a velocidade apenas ´e indiferente `a transforma¸c˜ ao r´ıgida independente do tempo entre estruturas referenciais, definida por x∗ = Q(x − x◦ ) + c◦

e

t∗ = t + a ,

(2.76)

onde valem para a, x◦ , c◦ e Q os mesmos coment´arios feitos para o caso da transforma¸c˜ao galileiana.

2.6.3

Aplica¸ c˜ oes para Grandezas Cinem´ aticas

A configura¸c˜ao referencial, κ, correspondente `a estrutura referencial φ ´e grafada κφ e coincide com a configura¸c˜ao corrente de B registrada pela estrutura referencial φ no instante t◦ . Tem-se, ent˜ao, X = κφ (X) = χ(X, t◦ )

e

X∗ = κφ∗ (X) = χ∗ (X, t∗◦ ).

(2.77)

Mas, de acordo com a primeira entre as eqs. 2.70, χ∗ (X, t∗◦ ) = Q(t◦ )(χ(X, t◦ ) − x◦ ) + c(t◦ ) ,

logo X∗ = Q(t◦ )(X − x◦ ) + c(t◦ ).

Fazendo K = Q(t◦ ) um tensor ortogonal de segunda ordem e c◦ = c(t◦ ) um ponto, ambos independentes de t, obt´em-se a express˜ao, para a transforma¸c˜ao euclideana de um ponto da imagem da configura¸c˜ao referencial, X∗ = κφ∗ (κ−1 φ (X)) = K(X − x◦ ) + c◦ .

(2.78)

Note que a eq. 2.78 implica em que, definida a configura¸c˜ao referencial κφ , est˜ao definidas as configura¸c˜oes referenciais correspondente a todas as estruturas referenciais obtidas por transforma¸c˜ao euclideana de φ. De acordo com as eqs. 2.26, em termos de deforma¸c˜oes o movimento, nas duas estruturas referenciais, pode ser respectivamente representado por χκ (·, ·), logo x = χκ (X, t) e χ∗κ (·, ·), logo x∗ = χ∗κ (X∗ , t∗ ). Portanto, usando-se a primeira entre as duas eqs. 2.61 tem-se χ∗κ (X∗ , t∗ ) = Q(t)(χκ (X, t) − x◦ ) + c(t) .

108


Definindo Fκ∗ (X∗ , t∗ ) = ∇

χ∗ (·, t∗ ) em analogia a Fκ (X, t) = ∇ χκ (·, t) (eq. 2.29), conX X∗ κ −1 siderando que ∇ (κφ∗ (κφ (·))) = K de acordo com a eq. 2.78 e lembrando que K T = X K −1 , a aplica¸c˜ao de ∇ `a u ´ltima equa¸c˜ao destacada produz, por meio do uso em seu priX −1 ∗ ∗ ∗ meiro membro da express˜ao χ∗κ (X∗ , t∗ ) = χ∗κ (κφ∗ (κ−1 φ (X)), t ), logo ∇ χκ (κφ∗ (κφ (·)), t ) X = ∇ ∗ χ∗κ (·, t∗ )∇ (κφ∗ (κ−1 ario 1.3.5, sobre diferenφ (·))), deduzida a partir do coment´ X X cia¸c˜ao em cadeia, Fκ∗ (X∗ , t∗ ) = Q(t)Fκ (X, t)K T , ou, simplificadamente, F ∗ = QF K T .

(2.79)

Comparando a eq. 2.79 com a terceira entre as eqs. 2.69 percebe-se que o gradiente de deforma¸c˜ao n˜ao ´e um tensor de segunda ordem objetivo, em rela¸c˜ao `a transforma¸c˜ao euclideana. De acordo com o teorema 1.2.10 (decomposi¸c˜ao polar), F = RU = V R e F ∗ = R∗ U ∗ = V ∗ R∗ , sendo V , U , V ∗ e U ∗ bem determinados, sim´etricos e de defini¸c˜ao positiva, enquanto que R e R∗ s˜ao bem determinados e ortogonais (veja as eqs. 2.11). A eq. 2.79 mostra, ent˜ao, que R∗ U ∗ = F ∗ = QRU K T = QRK T KU K T

e V ∗ R∗ = F ∗ = QV RK T = QV QT QRK T ,

logo R∗ = QRK T ,

U ∗ = KU K T

e

V ∗ = QV QT .

(2.80)

Porque as eqs. 2.13 mostram que C = U 2 e B = V 2 , tem-se tamb´em que C ∗ = KCK T

e

B ∗ = QBQT .

(2.81)

Comparando as eqs. 2.80 e 2.81 com a terceira entre as eqs. 2.69 percebe-se que o tensor de rota¸c˜ao R, o tensor de estiramento direito U e o tensor direito de Cauchy-Green C n˜ao s˜ao tensores de segunda ordem objetivos, em rela¸c˜ao `a transforma¸c˜ao euclideana, enquanto que o tensor de estiramento esquerdo V e tensor esquerdo de Cauchy-Green B s˜ao objetivos em rela¸c˜ao a esta transforma¸c˜ao. Derivando a eq. 2.79 em rela¸c˜ao ao tempo obt´em-se ˙ KT . F˙ ∗ = QF˙ K T + QF Considerando as eqs. 2.34 e 2.49 tem-se F˙ = LF , que substitu´ıdo na u ´ltima equa¸c˜ao destacada produz ˙ K T = QLQT QF K T + QQ ˙ T QF K T = QLQT F ∗ + QQ ˙ T F ∗, L∗ F ∗ = QLF K T + QF devendo-se a u ´ltima igualdade `a eq. 2.79. P´os-multiplicando a u ´ltima equa¸c˜ao destacada ∗ −1 por (F ) e usando a eq. 2.72 obt´em-se, ent˜ao, L∗ = QLQT + Ω .

(2.82)

Considerando a decomposi¸c˜ao de L em sua parte sim´etrica D (tensor estirante, eq. 2.52) e antissim´etrica W (tensor rotativo, eq. 2.53), tem-se L = D + W (eq. 2.51), portanto a eq. 2.82 pode ser escrita D∗ + W ∗ = Q(D + W )QT + Ω 109


de onde, separando os termos sim´etricos e antissim´etricos (a eq. 2.73 mostra que Ω ´e antissim´etrico), obt´em-se D∗ = QDQT

W ∗ = QW QT + Ω .

e

(2.83)

Portanto, a terceira entre as eqs. 2.69 mostra que, enquanto que os tensores gradiente espacial da velocidade L e rotativo W n˜ao s˜ao objetivos em rela¸c˜ao a uma transforma¸c˜ao euclideana, o tensor estirante D ´e objetivo em rela¸c˜ao a esta transforma¸c˜ao. Seja u(x, t) um campo vetorial objetivo, em rela¸c˜ao `a transforma¸c˜ao euclideana. De acordo com a segunda entre as eqs. 2.69 tem-se, ent˜ao, u∗ (x∗ , t∗ ) = Q(t)u(x, t).

(2.84)

Lembrando que, de acordo com o in´ıcio da subse¸c˜ao 2.6.1, ∗ : (x, t) 7→ (x∗ , t∗ ), tem-se u∗ (x∗ , t∗ ) = u∗ (∗(x, t)), logo ∇x u∗ (∗(·, t)) = ∇x∗ u∗ (·, t∗ )∇x ∗ (·, t) = ∇x∗ u∗ (·, t∗ )Q(t) onde, para a pen´ ultima igualdade, foi utilizado o coment´ario 1.3.5, sobre diferencia¸c˜ao em cadeia, enquanto que para a u ´ltima foi usada a primeira entre as eqs. 2.61. Logo, ∇x u∗ (∗(·, t)) = ∇x∗ u∗ (·, t∗ )Q(t). Por outro lado, aplicando ∇x `a eq. 2.84 tem-se ∇x u∗ (∗(·, t)) = Q(t)∇x u(·, t) e, igualando os segundos membros das duas u ´ltimas equa¸c˜oes destacadas, obt´em-se ∇x∗ u∗ (·, t∗ ) = Q(t)∇x u(·, t)QT (t),

ou (gradu)∗ = Q(gradu)QT .

(2.85)

Portanto, se u(x, t) for um campo vetorial objetivo, gradu ser´a um campo tensorial de segunda ordem objetivo. Analogamente, demonstra-se que, se f for um campo tensorial objetivo de grau n, ent˜ao gradf ser´a um campo tensorial objetivo de grau n + 1. Mas a eq. 2.84 mostra que a derivada ∂∂tu n˜ao ´e objetiva. Por outro lado, reescrevendo a eq. 2.84 na configura¸c˜ao referencial, u∗ (X∗ , t∗ ) = Q(t)u(X, t) e calculando tanto a derivada temporal, quanto o gradiente em rela¸c˜ao a X, obt´em-se ˙ u˙ ∗ = Qu˙ + Qu e (Gradu)∗ = Q(Gradu)K T , (2.86) onde ∇ (κφ∗ (κ−1 φ (·))) = K, de acordo com a eq. 2.78. Portanto, embora u(X, t) seja X um vetor objetivo em rela¸c˜ao `a transforma¸c˜ao euclideana, tanto a sua derivada temporal ˙ quanto o tensor de segunda ordem Gradu, n˜ao s˜ao objetivos material, que ´e o vetor u, em rela¸c˜ao a esta transforma¸c˜ao. Seja, agora, um campo escalar objetivo ψ, logo ψ ∗ = ψ, de acordo com a primeira entre as eqs. 2.69. Obt´em-se, de modo an´alogo ao efetuado para o campo vetorial u, que ψ˙ ∗ = ψ˙ ,

(gradψ)∗ = Q(gradψ)

e

(Gradψ)∗ = K(Gradψ),

(2.87)

portanto ψ˙ e gradψ s˜ao objetivos em rela¸c˜ao `a transforma¸c˜ao euclideana, enquanto que Gradψ n˜ao ´e objetivo em rela¸c˜ao a esta transforma¸c˜ao. 110


2.6.4

Derivada Temporal Corotacional

A derivada temporal corotacional de um campo vetorial pode ser definida por 1 ◦ u= lim (u(t + h) − P (t + h)u(t)), h→0 h

(2.88)

onde a transforma¸c˜ao linear P : V → V ´e o tensor de rota¸c˜ao relativa Rt apresentado na se¸c˜ao 2.5.2, ou seja, onde imp˜oe-se P (τ ) = Rt (x, τ ). Portanto, P (t + h) aplica ao vetor u(t) a tendˆencia de rota¸c˜ao existente no ponto x0 = χ(t) (x, t + h) (eq. 2.41) que corresponde ao instante t + h, relativa ao ponto x no instante t. O vetor resultante ´e subtra´ıdo do vetor u(t + h). Mas, ao se fazer h → 0, tende-se ao mesmo instante e ponto, ◦ indicando u a velocidade de altera¸c˜ao do vetor u em rela¸c˜ao `a sua velocidade de rota¸c˜ao devida ao movimento do corpo. Como Rt (x, t + h) = Rt (x, t) + hR˙ t (x, t) + o(2) (defini¸c˜ao de derivada), Rt (t) = 1 (subse¸c˜ao 2.5.2) e R˙ t (t) = W (t) (eq. 2.53), a eq. 2.88 pode ser escrita 1 ◦ u= lim (u(t + h) − u(t) − hW (t)u(t)) , ou h→0 h ◦

u= u˙ − W u

(2.89)

A eq. 2.89 indica, portanto, que a derivada temporal corotacional de um campo vetorial ´e a diferen¸ca entre a derivada temporal do campo e o resultado da aplica¸c˜ao do tensor rotativo ao campo vetorial (nesta equa¸c˜ao, evidentemente todos os termos se referem ao mesmo instante e ao mesmo ponto). Se o campo vetorial u for objetivo em rela¸c˜ao `a transforma¸c˜ao euclideana, ent˜ao, de acordo com a segunda entre as eqs. 2.69, ˙ + Qu. ˙ Usando estas duas express˜oes e a segunda entre u∗ (t∗ ) = Q(t)u(t) e u˙ ∗ = Qu ◦∗ ∗ ∗ ∗ ˙ + Qu˙ − (QW QT + Ω )Qu. De acordo com as eqs. 2.83 obt´em-se u = u˙ − W u = Qu ˙ T , logo Ω Qu = QQ ˙ T Qu = Qu, ˙ porque Q ´e ortogonal. Substituindo a eq. 2.72, Ω = QQ ◦∗ ◦∗ este resultado na express˜ao de u obt´em-se u = Q(u˙ − W u) ou, usando a eq. 2.89, ◦∗

u =Qu . Au ´ltima equa¸c˜ao destacada mostra que, se o campo vetorial u for objetivo em rela¸c˜ao a` transforma¸c˜ao euclideana, sua derivada temporal corotacional tamb´em ser´a um campo vetorial objetivo. Define-se, tamb´em, a derivada temporal corotacional de um campo tensorial de segunda ordem, S, por meio da equa¸c˜ao ◦ 1 T S (t) = lim (S(t + h) − P (t + h)S(t)P (t + h)) h→0 h

(2.90)

e prova-se que impor P (τ ) = Rt (x, τ ), na eq. 2.90, implica em que ◦

S = S˙ − W S + SW . ◦

A partir da u ´ltima equa¸c˜ao destacada demonstra-se que, se S for objetivo, S ser´a objetivo.

111


Cap´ıtulo 3 Balanceamento 3.1 3.1.1

Equa¸co ˜es de Balanceamento Equa¸ c˜ oes de Balanceamento na Configura¸c˜ ao Corrente

A forma integral para balanceamento cl´ assico na configura¸c˜ ao corrente, de qualquer grandeza material ψ, ´e Z Z d Z ψ dv = Φψ [n] da + σψ dv . dt Pt ∂Pt Pt

(3.1)

Na eq. 3.1: 1. P ⊂ B, sendo Pt a imagem da configura¸c˜ao corrente de P no instante t e impondose que Pt seja regular (o significado de regular ´e apresentado na defini¸c˜ao de classe C k 1.3.7). O s´ımbolo ∂Pt representa a superf´ıcie que separa Pt do restante de Bt . Note que, embora a regi˜ao Pt varie com o tempo, ela sempre corresponde aos mesmos pontos materiais X ∈ B, qualquer que seja o instante t, analogamente ocorrendo com ∂Pt . Por isto, Pt e ∂Pt s˜ao respectivamente denominadas imagens da configura¸c˜ao corrente de uma regi˜ ao material e de uma superf´ıcie material, d R enquanto que dt Pt ψ dv ´e a derivada u ´nica de uma fun¸c˜ao temporal. 2. v representa volume, a simboliza ´area e n(x, t) ´e um campo vetorial de norma igual `a unidade, perpendicular a ∂Pt e que aponta para fora da regi˜ao Pt . 3. A descri¸c˜ao espacial (subse¸c˜ao 2.4.2) ψ(x, t) e o seu suprimento mecˆ anicocl´ assico dentro de Pt , simbolizado σψ (x, t), s˜ao campos tensoriais de ordem m, enquanto que o fluxo mecˆ anico-cl´ assico de ψ(x, t) atrav´es de ∂Pt , representado por Φψ (x, t), ´e um campo tensorial de ordem m + 1. Como indicam seus nomes, suprimentos e fluxos mecˆanico-cl´assicos s˜ao explicados por meio de modelos cl´assicos do comportamento da mat´eria. 4. A aplica¸c˜ao de Φψ a n ´e descrita na nota¸c˜ao para aplica¸c˜ao de tensor a tensor 1.2.6. 5. Existem fluxos e suprimentos mecˆ anico-estat´ısticos, os quais s˜ao explicados por meio de modelos estat´ısticos do comportamento da mat´eria, mas eles n˜ao aparecem na eq. 3.1. Eles apareceriam, como parcelas aditivas, no segundo membro dela, o 112


que a tornaria mais abrangente. Mas este texto limita-se ao enfoque cl´assico da mat´eria. Como exemplos de fluxos e suprimentos mecˆanico-cl´assicos pode-se citar o fluxo de massa (por defini¸c˜ao, inexiste suprimento mecˆanico-cl´assico de massa), bem como fluxos e suprimentos de momento linear, momento angular, energia cin´etica, energia interna e energia total. Como exemplo de fluxo mecˆanico-estat´ıstico podese mencionar o fluxo difusivo, para o caso de solu¸c˜oes com ou sem rea¸c˜ao qu´ımica e, como exemplo de suprimento mecˆanico-estat´ıstico, pode-se lembrar suprimentos de massa de esp´ecies qu´ımicas distintas, decorrentes de rea¸c˜oes qu´ımicas. A eq. 3.1 mostra que, no instante t e em Pt , a velocidade de altera¸c˜ao da grandeza d R e o resultado da adi¸c˜ao de duas parcelas: Pt ψ dv, dada por dt Pt ψ dv , ´

R

a velocidade de ingresso ou egresso de ψ em Pt no instante t, atrav´es de ∂Pt , dada por R Φ nda e ∂Pt ψ a velocidade de cria¸c˜ao ou aniquila¸c˜ao de ψ em Pt no instante t, dada por Pt σψ dv, onde o suprimento σψ pode ser devido a fontes externas e tamb´em internas, estas u ´ltimas causadas pelo movimento do corpo. R

S˜ao chamadas conservativas as grandezas para as quais os correspondentes suprimentos s˜ao devidos exclusivamente a fontes externas. Esta denomina¸c˜ao prov´em do fato de que, quando isto acontecer, para qualquer regi˜ao material isolada P (separada do restante do corpo B por meio de uma superf´ıcie material ∂P imperme´avel `a mat´ eria e `a R R energia) ocorrer´a a conserva¸c˜ao de Pt ψ dv . A lei cl´ assica de conserva¸c˜ ao de Pt ψ dv ´e um conjunto de condi¸c˜oes suficiente para que ∀x ∈ ∂P, ∀x ∈ P,

Φψ (x, t) = 0 e σψ (x, t) = 0.

Entretanto, poderiam ser criados v´ınculos entre parcelas de Φψ e σψ que garantissem a R conserva¸c˜ao temporal de Pt ψ dv sem que se tivesse Φψ = σψ = 0 na eq. 3.1, ou seja, a lei cl´assica de conserva¸c˜ao poderia n˜ao ser necess´aria para que ocorresse a conserva¸c˜ao R de Pt ψ dv . Por outro lado, se existirem fluxos ou suprimentos mecˆanico-estat´ısticos, impor Φψ = R σψ = 0 na eq. 3.1 pode ser insuficiente para que ocorra a conserva¸c˜ao de Pt ψ dv. Neste caso, a lei cl´assica de conserva¸c˜ao dever´a ser substitu´ıda por outra lei, n˜ao apenas cl´assica, que seja suficiente para garantir a mencionada conserva¸c˜ao. Por´em, s´o quando a grandeza φ for conservativa existir´a alguma lei de conserva¸c˜ao (apenas cl´assica ou n˜ao), ou seja, s´o quando n˜ao existirem fontes internas de suprimento para φ. O teorema de transporte coloca que Z Z ∂ψ d Z ψ dv = dv + ψ un da , dt V V ∂t ∂V

onde

(3.2)

V (t) ⊂ E|V (t) ´e regular, ∂V (t) ´e a superf´ıcie que separa V (t) do restante de E e x n˜ao mais simboliza a representa¸c˜ao corrente do ponto X do corpo B, mas apenas um ponto pertencente ao subconjunto V (t) do espa¸co euclideano de pontos. 113


v representa volume, a simboliza ´area e o escalar un (x, t) ´e a norma do componente, perpendicular `a superf´ıcie ∂V (t), do vetor velocidade de um ponto x ∈ ∂V (t). Tal norma ser´a afetada por sinal positivo quando o componente for dirigido para fora de V (t) e por sinal negativo em caso contr´ario. ψ(x, t) ´e um campo tensorial suave (o significado de suave ´e apresentado na defini¸c˜ao de classe C k 1.3.7) para todo ponto interior a V (t) (logo, ψ(x, t) n˜ao precisa ser suave para todo ponto em ∂V (t)). Deve-se notar que o teorema de transporte ´e uma vers˜ao tridimensional da conhecida f´ ormula de Laplace do c´alculo, Z f (t) ∂ψ d Z f (t) ψ(x, t)dx = dx + ψ(f (t), t)f˙(t) − ψ(g(t), t)g(t) ˙ , dt g(t) g(t) ∂t

(3.3)

onde ψ(x, t) precisa ser suave no intervalo aberto (defini¸c˜ao de subconjunto aberto 1.3.1) (g(t), f (t)), n˜ao se exigindo suavidade nos pontos terminais do intervalo, g(t) e f (t). No caso particular de V (t) ser uma imagem Pt de uma regi˜ao material, como a superf´ıcie ˙ ∂V (t) ser´a imagem de uma superf´ıcie material ter-se-´a un (x, t) = x(x, t) · n(x, t), onde x voltou a simbolizar a representa¸c˜ao corrente do ponto X do corpo B e x˙ ´e o vetor velocidade definido pela eq. 2.27. Neste caso, a eq. 3.2 pode ser escrita, utilizando a descri¸c˜ao espacial (subse¸c˜ao 2.4.2) da grandeza ψ, o que exige o uso das imagens das configura¸c˜oes correntes da regi˜ao e da superf´ıcie material, respectivamente Pt e ∂Pt , Z Z d Z ∂ψ ψ dv = dv + ψ (x˙ · n) da . dt Pt Pt ∂t ∂Pt

(3.4)

Como um exemplo de aplica¸c˜ao da eq. 3.4 suponha ψ = 1, o que reduz esta equa¸c˜ao a

Z d Z dv = x˙ · n da . dt Pt ∂Pt R Definindo V (t) = Pt dv e lembrando o item 2 do teorema 1.3.3 (teorema da divergˆencia) tem-se, ent˜ao, Z dV = div x˙ dv . (3.5) dt Pt Se o movimento for incompress´ıvel, ou seja, se o volume de qualquer parte de P se mantiver constante durante o movimento, ent˜ao, como o integrando ´e cont´ınuo (sup˜oese que o vetor acelera¸c˜ao possa ser definido), de acordo com o teorema 1.3.4 (fun¸c˜ao identicamente nula em E) a divergˆencia da velocidade dever´a ser nula, ou seja,

div x˙ = 0.

(3.6)

Note que, ao contr´ario do que ocorre para a eq. 3.1, a satisfa¸c˜ao da eq. 3.2 exige que ψ(x, t) seja um campo tensorial suave para todo ponto interior `a regi˜ao de integra¸c˜ao V (t). Esta exigˆencia, evidentemente, persiste para a eq. 3.4, no que se refere `a regi˜ao de integra¸c˜ao Pt , embora o s´ımbolo Pt represente qualquer regi˜ao regular que seja imagem de uma regi˜ao material, ou seja, embora este s´ımbolo n˜ao informe sobre esta exigˆencia adicional. Suponha agora que, ao inv´es de ψ(x, t) ser um campo tensorial suave para todo ponto interior a Pt , ele sofresse uma descontinuidade finita nos pontos de uma superf´ıcie 114


orientada S, interior a Pt , a qual, de acordo com a defini¸c˜ao de classe C k 1.3.7, seria portanto uma superf´ıcie singular em rela¸c˜ao ao campo tensorial ψ(x, t). Neste caso, em S o campo sofreria a descontinuidade finita kψk = ψ + − ψ −

(3.7)

sendo, em cada ponto x ∈ S, ψ + (x) e ψ − (x) os valores limites do campo, dos dois lados de S. Seja V uma especial regi˜ao Pt com, no m´aximo, uma descontinuidade finita de campos tensoriais sobre uma u ´nica superf´ıcie interna S. Imponha-se, portanto, que todos os campos tensoriais considerados sejam suaves em V − S. Embora V seja uma regi˜ao Pt especial, V ainda n˜ao ´e suficientemente espec´ıfica para garantir que a eq. 3.4 seja aplic´avel. Por´em, assim como a eq. 3.4 foi escrita usando-se Pt e admitindo-se uma restri¸c˜ao adicional n˜ao explicitada neste s´ımbolo, nada impede que ela seja grafada usando-se V e admitindo-se uma an´aloga restri¸c˜ao adicional. Considere que o limite ψ + aconte¸ca na subregi˜ao V + e que o limite ψ − esteja na subregi˜ao V − . N˜ao se imp˜oe que a superf´ıcie S seja material. Portanto, os pontos do corpo correspondentes `a descontinuidade finita de ψ(x, t) n˜ao precisam ser os mesmos em cada momento, ao contr´ario do que ocorre com os pontos de ∂V. Logo, o escalar velocidade ˙ A superf´ıcie S ´e orientada un (x, t), com que cada ponto de S se move, n˜ao precisa ser x·n. de modo a que un (x, t) seja positivo quando o correspondente vetor velocidade for dirigido para V + . Nestas condi¸c˜oes, o teorema de transporte pode ser aplicado separadamente `as duas subregi˜oes V + e V − , obtendo-se respectivamente Z d Z ψ dv = dt V + V+ Z Z d ψ dv = dt V − V−

Z Z ∂ψ dv + ψ (x˙ · n) da + ψ + (−un )da, ∂t (∂V)+ S Z Z ∂ψ dv + ψ (x˙ · n) da + ψ − un da . ∂t (∂V)− S

e

Somando estas duas igualdades e usando a eq. 3.7 obt´em-se Z Z Z d Z ∂ψ ψ dv = dv + ψ (x˙ · n) da − kψk un da . dt V V ∂t ∂V S

(3.8)

Evidentemente, a eq. 3.4 pode ser considerada um caso particular da eq. 3.8, espec´ıfico para kψk = 0. Igualando os segundos membros das eqs. 3.1 e 3.8, para uma regi˜ao V contendo uma superf´ıcie singular S tem-se Z V

Z Z Z Z ∂ψ Φψ [n] da + σψ dv . ψ (x˙ · n) da − kψk un da = dv + ∂t ∂V V ∂V S

(3.9)

Restrinja-se, a partir de agora e at´e `a eq. 3.11 inclusive, a defini¸c˜ao de ψ de modo a que ˙ · n e Φψ [n] = Φψ · n, logo ψ x˙ ou ψ e σψ sejam escalares, portanto ψ (x˙ · n) = (ψ x) e Φψ sejam vetores que, na eq. 3.9, fazem produto interno com o vetor n, ˙ ou ψ e σψ sejam vetores, portanto ψ (x˙ · n) = (ψ ⊗ x)(n) (defini¸c˜ao de produto tensorial de vetores ou tensor simples 1.2.12) e Φψ [n] = Φψ (n), logo ψ ⊗ x˙ e Φψ sejam tensores de segunda ordem que, na eq. 3.9, s˜ao aplicados ao vetor n. 115


No primeiro caso, ´e aplic´avel o item 2 do teorema 1.3.3 (teorema da divergˆencia) `as duas integrais sobre ∂V da eq. 3.9, enquanto que, no segundo caso, ´e aplic´avel o item 3 do mesmo teorema, `as mesmas integrais. Obt´em-se ent˜ao, respectivamente, Z " V

Z " V

#

Z ∂ψ + div(ψ x˙ − Φψ ) − σψ dv = kψk un da e ∂t S #

Z ∂ψ + div(ψ ⊗ x˙ − Φψ ) − σψ dv = kψk un da . ∂t S

Lembrando que todo ponto regular ´e um ponto interno de uma regi˜ao constitu´ıda apenas por pontos regulares, seja VR ⊂ V uma regi˜ao formada exclusivamente por pontos regulares e seja x ∈ VR qualquer um dos pontos regulares pertencentes a V. Ent˜ao, para VR as duas u ´ltimas equa¸c˜oes destacadas respectivamente indicam que Z

#

"

∂ψ + div(ψ x˙ − Φψ ) − σψ dv = 0 e ∂t

"

∂ψ + div(ψ ⊗ x˙ − Φψ ) − σψ dv = 0. ∂t

VR

Z VR

#

(3.10)

A partir de agora apenas a eq. 3.10 ser´a utilizada, porque convenciona-se que ˙ quando ψ for escalar, o s´ımbolo ψ ⊗ x˙ deve ser entendido como ψ x, sendo ψ ⊗ x˙ denominado fluxo convectivo de ψ. Como o integrando ´e cont´ınuo, de acordo com o teorema 1.3.4 (fun¸c˜ao identicamente nula em E) obt´em-se, ent˜ao, a equa¸c˜ao de balanceamento em um ponto regular, tamb´em chamada equa¸c˜ ao de campo, ∂ψ + div(ψ ⊗ x˙ − Φψ ) − σψ = 0. ∂t

(3.11) R

Conforme a subse¸c˜ao 3.1.1, a lei cl´assica de conserva¸c˜ao de Pt ψ dv ´e um conjunto de condi¸c˜oes suficiente para que Φψ = σψ = 0, na eq. 3.1. Evidentemente, em termos da eq. 3.11 esta lei pode ser descrita como um conjunto de condi¸c˜oes suficiente para que, ∀x ∈ Pt , tenha-se divΦψ (x, t) = σψ (x, t) = 0. Volte, a partir de agora, a considerar que ψ(x, t) seja um campo tensorial de ordem arbitr´aria m e suponha um ponto singular qualquer x ∈ V. Logo, imp˜oe-se apenas que x ∈ S, sendo S uma superf´ıcie interna em V na qual ψ, Φψ e σψ podem apresentar descontinuidades finitas. Seja VS ⊂ V uma regi˜ao que cont´em o ponto singular x e seja s = VS ∩ S. Mantenha a ´area s inalterada enquanto que o volume de VS tende para zero, ou seja, fa¸ca (∂VS )+ e (∂VS )− tenderem para s. Deseja-se encontrar a forma para a qual tender´a a eq. 3.9, quando VS tender para este limite. Para isto, deve-se lembrar que o escalar un ´e positivo quando o correspondente vetor velocidade for dirigido para V + e deve-se impor que, no limite considerado, n tamb´em seja dirigido para V + (ao contr´ario de ser sempre dirigido para fora de VS , o que seria coerente com o segundo esclarecimento ap´os a eq. 3.1 mas, no limite considerado, deixaria indeterminado o sentido de n). Para encontrar a desejada forma da eq. 3.9, ela deve ser discutida termo a termo: 116


1. Considerando que ∂ψ/∂t e σψ s˜ao finitos em VS , obt´em-se que Z

lim

VS →0 VS

Z ∂ψ σψ dv = 0 . dv = lim VS →0 VS ∂t

2. Lembrando que χκ (X, t) n˜ao precisa ser suave, embora precise ser cont´ınua, considere a possibilidade de que a descontinuidade finita do campo tensorial ψ, na ´area s, por motivo f´ısico cause uma descontinuidade finita da velocidade x˙ nesta mesma ˙ = x˙ + − x˙ − (por exemplo, suponha que a ´area s perten¸ca a uma ´area, dada por kxk frente de onda ac´ ustica que se propague num l´ıquido em movimento). Definindo + kψ (x˙ · n)k = ψ (x˙ + · n) − ψ − (x˙ − · n) tem-se, ent˜ao, lim

Z

VS →0 ∂VS

ψ (x˙ · n) da =

Z

+

+

[ψ (x˙ · n) − ψ (x˙ · n)] da =

s

Z

kψ (x˙ · n)k da .

s

3. Considerando que a descontinuidade finita do campo tensorial ψ, na ´area s, cause uma descontinuidade finita do campo tensorial fluxo de ψ, nesta mesma ´area, grafada kΦψ k = Φψ+ − Φψ− , tem-se lim

Z

VS →0 ∂VS

Φψ [n] da =

Z s

(Φψ+

Φψ− ) [n] da

=

Z s

kΦψ k [n] da .

Lembrando que kψk = ψ + − ψ − e definindo kψ(x˙ · n − un )k = ((x˙ + · n) − ψ + un ) − (ψ − (x˙ − · n) − ψ − un ) , a forma limite da eq. 3.9 pode ent˜ao ser escrita Z s

{kψ(x˙ · n − un )k − kΦψ k[n]} da = 0.

(3.12)

Como o integrando ´e cont´ınuo, de acordo com o teorema 1.3.4 (fun¸c˜ao identicamente nula em E) obt´em-se, ent˜ao, a equa¸c˜ao de balanceamento em um ponto singular, tamb´em chamada equa¸c˜ ao de Rankine-Hugoniot kψ(x˙ · n − un )k − kΦψ k[n] = 0 .

(3.13)

Definindo os dois escalares velocidades locais de propaga¸c˜ ao, de S em rela¸c˜ao ao corpo em movimento U ± = un − x˙ ± · n , (3.14) logo kψ U k = (ψ + un − ψ + (x˙ + · n)) − (ψ − un − ψ − (x˙ − · n)) = −kψ(x˙ · n − un )k , a eq. 3.13 pode ser escrita kψ U k + kΦψ k[n] = 0 .

(3.15) R

Conforme a subse¸c˜ao 3.1.1, a lei cl´assica de conserva¸c˜ao de Pt ψ dv ´e um conjunto de condi¸c˜oes suficiente para que Φψ = σψ = 0, na eq. 3.1. Evidentemente, em termos das eqs. 3.13 e 3.15 esta lei pode ser descrita de igual modo. Se S for uma superf´ıcie material ˙ Al´em disto, conforme j´a afirmado logo ap´os a eq. 3.3, neste caso ter-se-´a x˙ ± = x. un = x˙ · n. Portanto, de acordo com a eq. 3.14, neste caso U ± = 0 e, considerando a eq. 3.15, kΦψ k[n] = 0 (no caso de Φψ ser um tensor, ele n˜ao pode ser descont´ınuo e, no caso de Φψ ser um vetor, ou ele ´e cont´ınuo, ou a sua descontinuidade ´e perpendicular a n). 117


3.1.2

Equa¸ c˜ oes de Balanceamento na Configura¸c˜ ao Referencial

Para qualquer grandeza material ψ, sua forma integral para balanceamento cl´ assico na configura¸c˜ ao referencial deve ser uma express˜ao com o mesmo formato matem´atico da equa¸c˜ao 3.1, porque tal formato reflete um significado f´ısico que n˜ao pode ser alterado ao se passar de uma configura¸c˜ao corrente para a configura¸c˜ao referencial. Tem-se, portanto, Z Z d Z ψ ψκ dvκ = Φκ [nκ ] daκ + σκψ dvκ , (3.16) dt Pκ ∂Pκ Pκ onde Pκ ´e a imagem da configura¸c˜ao referencial de P ⊂ B, sendo Pκ regular (o significado de regular ´e apresentado na defini¸c˜ao de classe C k 1.3.7). Evidentemente, a imagem da configura¸c˜ao referencial, Pκ , de uma regi˜ao material, ´e uma fun¸c˜ao constante de t, o mesmo ocorrendo com a imagem da configura¸c˜ao referencial, ∂Pκ , de uma superf´ıcie material, ao contr´ario do que acontece com as correspondentes imagens das configura¸c˜oes correntes, respectivamente Pt e ∂Pt (subse¸c˜ao 3.1.1). Note que, at´e este ponto do texto, o ´ındice κ apareceu em B, χ, F , nas descri¸c˜oes material e espacial (subse¸c˜ao 2.4.2) da derivada temporal de F e, somente na subse¸c˜ao b, 2.1.2, tamb´em em e, da e dv. Exclusivamente na subse¸c˜ao 2.1.3 encontra-se o ´ındice κ b , foi claramente em F e χ. Em todos estes casos, o significado do uso do ´ındice κ, ou κ explicitado. Para que isto tamb´em ocorra em rela¸c˜ao `a eq. 3.16, deve-se inicialmente lembrar que, de acordo com o colocado na subse¸c˜ao 2.4.2, a eq. 2.30, a saber Q = fe(x, t) = fe(χκ (X, t), t) = f (X, t), em mecˆanica dos meios cont´ınuos ´e escrita f = f (X, t) = f (x, t), embora a eq. 2.30 explicite que fe 6= f . Assim como Pκ e ∂Pκ respectivamente diferem de Pt e ∂Pt , as eqs. 2.9 mostram que dvκ e daκ respectivamente diferem de dv e da. Por isto, de acordo com a conven¸c˜ao lembrada no par´agrafo anterior e com a exigˆencia de que as eqs. 3.1 e 3.16 sejam ambas satisfeitas, tem-se ψκ (X, t) = 6 ψ(X, t) = ψ(x, t) , ψ Φκ (X, t) = 6 Φψ (X, t) = Φψ (x, t) e ψ σκ (X, t) = 6 σψ (X, t) = σψ (x, t) .

(3.17)

Como a imagem da configura¸c˜ao referencial, Pκ , de uma regi˜ao material, matematicamente identifica tal regi˜ao, a eq. 3.16 matematicamente identifica o que ocorre na regi˜ao material. Por isto, ψκ (X, t) = ψ(X, t) , Φκψ (X, t) = Φψ (X, t) e σκψ (X, t) = σψ (X, t) ,

(3.18)

o que indica que ´e a descri¸c˜ao material das fun¸c˜oes indexadas por κ, n˜ao a descri¸c˜ao material das fun¸c˜oes n˜ao indexadas, que pode ser igualada `as correspondentes grandezas materiais. Para prosseguir, deve-se utilizar as eqs. 2.9, a saber n da = JF −T nκ daκ e dv = | J| dvκ . Considere que: 1. Como da ´e um escalar, aplicar um tensor ou um vetor a n e, depois, multiplicar o resultado por da ´e o mesmo que aplicar um tensor ou um vetor a nda. Analogamente em rela¸c˜ao a daκ e nκ . 118


2. Para impor que nκ aponte sempre para fora da regi˜ao Pκ , analogamente ao que foi imposto para n, ao inv´es de, em termos da igualdade n da = JF −T nκ daκ , o vetor nκ corresponder ao vetor n, deve-se substituir, nesta igualdade, J por |J|. De fato, enquanto que o vetor axial nκ daκ transforma-se em concordˆancia com esta u ´ltima igualdade, o vetor diferen¸ca infinitesimal entre dois pontos do espa¸co euclideano de pontos, dX, transforma-se de acordo com a express˜ao dx = F dX (eq. 2.8). Conforme a subse¸c˜ao 2.1.2, a transforma¸c˜ao de nκ daκ pode ser escrita F dX1 × F dX2 = (det F )F −T (dX1 × dX2 ). Se, ao inv´es de F , tiv´essemos um tensor ortogonal Q, como Q = Q−T e det Q = ±1 ter´ıamos QdX1 × QdX2 = ±Q(dX1 × dX2 ), express˜ao esta coerente com a utiliza¸c˜ao da defini¸c˜ao de produto vetorial 1.2.38 na nota¸c˜ao para vetor associado a tensor antissim´etrico 1.2.9. De acordo com o coment´ario 1.2.33, sobre propriedades do tensor ortogonal, a transforma¸c˜ao ortogonal preserva as normas dos vetores e os ˆangulos entre eles. Adicionalmente, a transforma¸c˜ao ortogonal pr´opria (det Q > 0) preserva tamb´em o sentido de rota¸c˜ao (p.e., de 1 para 2 nos dois casos), enquanto que a impr´opria (det Q < 0) reverte o sentido de rota¸c˜ao (de 1 para 2 em um caso e de 2 para 1 no outro). Analogamente, embora a aplica¸c˜ao do gradiente de deforma¸c˜ao F n˜ao preserve as normas dos vetores e os ˆangulos entre eles, se o sentido de rota¸c˜ao for de dX1 para dX2 e de F dX1 para F dX2 (ou de dX2 para dX1 e de F dX2 para F dX1 ), ter-se-´a det F > 0 e os vetores axiais n e nκ apontar˜ao, ambos, ou para fora, ou para dentro das respectivas regi˜oes materiais (de acordo com as defini¸c˜oes de nκ e n, ambos apontar˜ao para fora). Caso contr´ario, ter-se-´a det F < 0 e, enquanto um vetor apontar´a para dentro, o outro apontar´a para fora (ou a defini¸c˜ao de nκ , ou a defini¸c˜ao de n ser´a violada). Por isto, deve-se impor que n da = |J|F −T nκ daκ . 3. No caso espec´ıfico de Φψ ser um vetor, para o primeiro termo do segundo membro da equa¸c˜ao 3.1 tem-se Z ∂Pt

Φψ [n]da = Z ∂Pκ

Z ∂Pt

Φψ · n da =

|J|F −1 Φψ · nκ daκ =

Z ∂Pκ

Z ∂Pκ

Φψ · |J|F −T nκ daκ =

|J|F −1 Φψ [nκ ]daκ .

Usando os trˆes itens anteriores, a compara¸c˜ao entre as eqs. 3.16 e 3.1 indica que ψκ Φκψ Φκψ σκψ

= = = =

| J| ψ | J| Φψ F −T | J| F −1 Φψ | J| σψ

onde ψκ ´e um tensor de ordem m, se Φκψ for um tensor de ordem m + 1 > 1, se Φκψ for um vetor e onde σκψ ´e um tensor de ordem m.

(3.19)

Como o teorema de transporte se refere a qualquer regi˜ao regular, V (t), pertencente a um espa¸co euclideano de pontos e a qualquer campo tensorial suave em todo ponto interior a V (t), este teorema ´e v´alido tanto para a descri¸c˜ao espacial, quanto para a descri¸c˜ao material do campo tensorial. Portanto, usando na eq. 3.2 o tensor ψκ (X, t), ao inv´es do tensor ψ(x, t), pode-se escrever Z Z d Z ˙ ψκ dvκ + ψκ Uκ daκ , ψκ dvκ = dt V V ∂V

119


onde X n˜ao mais simboliza a representa¸c˜ao referencial do ponto X do corpo B, mas apenas um ponto pertencente ao subconjunto V (t) do espa¸co euclideano de pontos, enquanto que o escalar Uκ (X, t) ´e a norma do componente, perpendicular `a superf´ıcie ∂V (t), do vetor velocidade de um ponto X ∈ ∂V (t). Tal norma ser´a afetada por sinal positivo quando o componente for dirigido para fora de V (t) e por sinal negativo em caso contr´ario. Analogamente ao que foi feito ap´os a eq. 3.2 pode-se, agora, impor que V (t) seja a imagem Pκ de uma regi˜ao material ou, desde j´a, impor que V (t) seja a imagem Vκ de uma regi˜ao material. Isto implica em que X volte a simbolizar a imagem, na configura¸c˜ao referencial, do ponto X do corpo B. Neste caso, como Vκ e ∂Vκ s˜ao fun¸c˜oes constantes de t, tem-se ˙ ˙ = 0. Logo, a u Uκ = X·n = 0, j´a que X ´ltima equa¸c˜ao destacada produzir´a, analogamente `a eq. 3.4 mas para a descri¸c˜ao material (subse¸c˜ao 2.4.2) da grandeza ψ, o que exige o uso da imagem Vκ da configura¸c˜ao referencial da regi˜ao material, imagem esta na qual o campo ψκ seja suave, a igualdade Z d Z ψκ dvκ = ψ˙ κ dvκ . dt Vκ Vκ

(3.20)

Se existir uma superf´ıcie singular Sκ (t) movendo-se dentro da regi˜ao Vκ , analogamente `a eq. 3.8 obt´em-se Z Z d Z ˙ ψκ dvκ = ψκ dvκ − kψκ k Uκ daκ , dt Vκ Vκ Sκ (t)

(3.21)

onde kψκ k = ψκ+ − ψκ− . O escalar Uκ ter´a sinal positivo quando o correspondente vetor velocidade for dirigido para a regi˜ao que apresentar ψκ+ como valor limite de ψκ , quando X se aproximar de Sκ (t) e, caso contr´ario, ter´a sinal negativo. Igualando o segundo membro da eq. 3.21 ao segundo membro da eq. 3.16, mas para Pκ = Vκ e ∂Pκ = ∂Vκ nesta u ´ltima equa¸c˜ao, tem-se Z Vκ

ψ˙ κ dvκ −

Z Sκ (t)

kψκ k Uκ daκ =

Z ∂Vκ

Φκψ [nκ ] daκ +

Z Vκ

σκψ dvκ ,

(3.22)

que ´e a igualdade an´aloga `a eq. 3.9. Restrinja-se, apenas neste par´agrafo, a ordem m de ψκ , impondo-se m ≤ 1. Aplicando o item 2 ou o item 3 do teorema 1.3.3 (teorema da divergˆencia),respectivamente quando Φκψ ´e um vetor (ψκ e σκψ s˜ao escalares) ou Φκψ ´e um tensor de segunda ordem (ψκ e σκψ s˜ao vetores), obt´em-se Z Vκ

(ψ˙ κ − DivΦκψ − σκψ ) dvκ =

Z Sκ (t)

kψκ k Uκ daκ .

Lembrando que todo ponto regular ´e um ponto interno de uma regi˜ao constitu´ıda apenas por pontos regulares, seja VκR ⊂ Vκ uma regi˜ao formada exclusivamente por pontos regulares e seja X ∈ VκR qualquer um dos pontos regulares pertencentes a Vκ . Ent˜ao, para VκR a u ´ltima equa¸c˜ao destacada indica, analogamente `a eq. 3.10, que Z VκR

(ψ˙ κ − DivΦκψ − σκψ ) dvκ = 0 . 120

(3.23)


Como o integrando ´e cont´ınuo, usando o teorema 1.3.4 (fun¸c˜ao identicamente nula em E) obt´em-se ψ˙ κ − DivΦκψ − σκψ = 0 , (3.24) que ´e an´aloga `a equa¸c˜ao de campo 3.11. Duas igualdades u ´teis s˜ao ∂ψ ˙ ψ˙ κ = J( + div(ψ ⊗ x)) ∂t

DivΦκψ = JdivΦψ .

e

(3.25)

Multiplicando a eq. 3.11 por J e usando as eqs. 3.25, a eq. 3.24 pode ser obtida diretamente da eq. 3.11. Retire a restri¸c˜ao imposta, no par´agrafo anterior, ao valor da ordem m de ψκ e considere que, no instante t, ψκ , Φκψ e σκψ possam apresentar descontinuidades finitas num ponto XS ∈ Sκ (t). Seja, no instante t, XS ∈ VκS ⊂ Vκ e seja sκ (t) = VκS ∩ Sκ (t). Mantenha a ´area sκ (t) inalterada enquanto que o volume de VκS tende para zero, ou seja, fa¸ca (∂VκS )+ e (∂VκS )− tenderem para sκ (t). Deseja-se encontrar a forma para a qual tender´a a eq. 3.22, quando VκS tender para este limite. Para isto, deve-se lembrar que o escalar Uκ ´e positivo quando o correspondente vetor velocidade for dirigido para (∂VκS )+ e deve-se impor que, no limite considerado, nκ tamb´em seja dirigido para (∂VκS )+ (ao contr´ario de ser sempre dirigido para fora de VκS , o que seria coerente com a segunda considera¸c˜ao ap´os a eq. 3.16 mas, no limite considerado, deixaria indeterminado o sentido de nκ ). Para encontrar a desejada forma da eq. 3.22, ela deve ser discutida termo a termo: 1. Lembrando que ψ˙ κ e σκψ s˜ao finitos em VκS , tem-se lim

Z

VκS →0 VκS

ψ˙ κ dvκ = lim S

Z

Vκ →0 VκS

σκψ dvκ = 0.

2. Por outro lado, lim S

Vκ →0

Z ∂VκS

Φκψ

[nκ ] daκ =

Z sκ

kΦκψ k[nκ ] daκ ,

onde kΦκψ k = (Φκψ )+ − (Φκψ )− .

Portanto, neste limite a eq. 3.22 pode ser escrita Z sκ

( kψκ k Uκ + kΦκψ k[nκ ] ) daκ = 0.

Como o integrando ´e cont´ınuo, usando o teorema 1.3.4 (fun¸c˜ao identicamente nula em E) chega-se a (3.26) kψκ k Uκ + kΦκψ k[nκ ] = 0. A eq. 3.26 ´e an´aloga `a eq. 3.15. Note que, tanto na descri¸c˜ao espacial como na descri¸c˜ao material, a descontinuidade finita no campo, respectivamente kψk e kψκ k, gera desconti˙ tamb´em nuidade finita no respectivo fluxo, mas a descontinuidade finita na velocidade x, gerada na descri¸c˜ao espacial, n˜ao ´e gerada na descri¸c˜ao material.

121


3.1.3

Compatibilidade Cinem´ atica da Superf´ıcie Singular

˙ tem-se que Usando a eq. 2.33 e o fato, comentado logo ap´os a eq. 2.34, de que v = x, ˙ F˙ = Grad x. (3.27) A eq. 3.27 ´e uma condi¸c˜ao de integrabilidade, ou seja, ´e a condi¸c˜ao de existˆencia de uma fun¸c˜ao χκ tal que x = χκ (X, t), conforme colocado pela eq. 2.26. De fato, a eq. 3.27 iguala as derivadas segundas mistas, com ordem reversa de deriva¸c˜ao, da fun¸c˜ao χκ , porque F = Gradχκ (X, t) e x˙ = ∂χκ (X, t)/∂t (respectivamente eqs. 2.29 e 2.27, mas trocando s´ımbolos por aqueles apresentados na subse¸c˜ao 2.4.2). A eq. 3.27 evidencia uma necess´aria ˙ Como consequˆencia desta rela¸c˜ao, efetuando uma manipula¸c˜ao rela¸c˜ao entre F e x. matem´atica da eq. 3.27 obt´em-se uma necess´aria rela¸c˜ao entre as descontinuidades finitas ˙ sobre a superf´ıcie singular. de F e x, Para isto, deve-se inicialmente considerar a quarta express˜ao do teorema da divergˆencia 1.3.3, a seguir transcrita, Z

h ⊗ n da =

Z

∇h dv .

(3.28)

R

∂R

Lembrando que Vκ ´e a imagem de uma configura¸c˜ao referencial de P ⊂ B, imagem esta por hip´otese regular e que cont´em, no m´aximo, uma descontinuidade finita de campos tensoriais sobre uma u ´nica superf´ıcie singular m´ovel, Sκ (t), usa-se a eq. 3.28 para integrar a eq. 3.27 sobre Vκ , obtendo-se Z Vκ

F˙ dvκ =

Z ∂Vκ

x˙ ⊗ nκ daκ .

(3.29)

Entretanto, como a eq. 3.28 exige que o campo v seja suave, a eq. 3.29 exige que F n˜ao apresente descontinuidade em Vκ . Nestas condi¸c˜oes, ´e v´alida a eq. 3.20, o que permite que a eq. 3.29 seja escrita Z d Z F dvκ = x˙ ⊗ nκ daκ . (3.30) dt Vκ ∂Vκ Considere a eq. 3.30 como um caso particular da eq. 3.16 (a qual ´e v´alida para tensor ψκ de qualquer ordem m), para

ψκ = F , o que implica em m = 2, Φκψ [nκ ] = x˙ ⊗ nκ e σκψ = 0. Supondo, agora, que F apresente descontinuidade finita na superf´ıcie singular m´ovel, Sκ (t), por compara¸c˜ao com a eq. 3.26 obt´em-se ˙ ⊗ nκ = 0 , Uκ kF k + kxk

(3.31)

chamada condi¸c˜ ao de compatibilidade cinem´ atica da superf´ıcie singular. A ˙ ⊗ nκ )(nκ ) = −(Uκ kF k)(nκ ), ou kxk ˙ = −Uκ ~a, onde o vetor eq. 3.31 mostra que (kxk ~a = kF nκ k ´e a descontinuidade finita de F , na dire¸c˜ao normal a Sκ (t) (note que ~a n˜ao precisa ser normal a Sκ (t)). Usando novamente a eq. 3.31 tem-se, ent˜ao, que Uκ kF k = ˙ ⊗ nκ = Uκ~a ⊗ nκ , logo kF k = ~a ⊗ nκ . Portanto, a eq. 3.31 ´e equivalente a qualquer −kxk uma das duas igualdades ˙ = −Uκ~a kxk

e 122

kF k = ~a ⊗ nκ .

(3.32)


Tanto a eq. 3.31 como a primeira entre as eqs. 3.32 mostram que as descontinuidades ˙ est˜ao relacionadas entre si. Isto ´e de se esperar, porque a deforma¸c˜ao finitas kF k e kxk χκ (X, t) evidentemente n˜ao ´e descont´ınua na superf´ıcie Sκ (t), mas nela apresenta um ˆangulo que se reflete em descontinuidades finitas em suas derivadas, descontinuidades estas cuja interrela¸c˜ao depende de nκ e de Uκ (ou seja, depende da dire¸c˜ao perpendicular `a superf´ıcie Sκ (t) e da velocidade de deslocamento da superf´ıcie nesta dire¸c˜ao, no ponto de Sκ (t) e no instante considerados). Tal ˆangulo aparece porque a superf´ıcie singular m´ovel afeta, de modo diferenciado, a deforma¸c˜ao `a sua frente, em rela¸c˜ao `a deforma¸c˜ao atr´as dela. Demonstra-se que, para uma superf´ıcie singular m´ovel que seja caracterizada pela condi¸c˜ao f (X, t) = 0, usando tanto a descri¸c˜ao espacial da grandeza e a configura¸c˜ao corrente da parte P do corpo, quanto a descri¸c˜ao material da grandeza e a configura¸c˜ao referencial da mesma parte do corpo, tem-se as igualdades Grad f , |Grad f | f˙ Uκ = − , |Grad f | (F T )± n nκ = |(F T )± n| nκ =

n=

grad f , |grad f |

∂f /∂t , |grad f | U± Uκ = . |(F T )± n| un = −

e

(3.33) (3.34)

As quatro eqs. 3.33 fornecem vetores e escalares previamente definidos, usando-se na coluna da esquerda a descri¸c˜ao material da grandeza e a configura¸c˜ao referencial de P, enquanto que na coluna da direita tem-se respectivamente o mesmo vetor e escalar, mas na descri¸c˜ao espacial da grandeza e na configura¸c˜ao corrente de P. J´a as duas eqs. 3.34, envolvendo os valores limites do gradiente de deforma¸c˜ao transposto (F T )± , relacionam entre si escalares e vetores referentes `as descri¸c˜oes referencial (Uκ e nκ ) e corrente [as velocidades locais de propaga¸c˜ao de S em rela¸c˜ao ao corpo em movimento, U ± (eq. 3.14) e o vetor n].

3.2

Massa

Seja representada por β : B → E toda configura¸c˜ao do corpo B e seja β : B 7→ Bβ . Imponha a existˆencia de uma fun¸c˜ao integr´avel (toda fun¸c˜ao cont´ınua ´e integr´avel, mas o oposto n˜ao ´e verdade) e positiva ρβ : Bβ → <+ , chamada densidade volum´ etrica de massa correspondente `a configura¸c˜ao β, tal que, para toda regi˜ao material (subse¸c˜ao 3.1.1) P ⊂ B, tenha-se Z M (P) =

ρβ dvβ ,

(3.35)

onde β : P 7→ Pβ ⊂ Bβ , enquanto que M ´e a distribui¸c˜ ao de massa de B, que ao ser aplicada a cada uma de suas regi˜oes materiais P produz o correspondente escalar massa M (P) daquela regi˜ao material. Logo, a eq. 3.35 mostra que o escalar massa associado `as imagens de todas todas as configura¸c˜oes de determinada regi˜ao material P ⊂ B ´e o mesmo, ou seja, alterar este escalar implica em alterar a pr´opria regi˜ao material P (n˜ao, apenas, em alterar a configura¸c˜ao de P). Porisso, a massa ´e uma medida da regi˜ ao material P. 123


Tem-se a segunda entre as eqs. 2.9, a saber dv = | J| dvκ , onde J = det Fκ (eq. 2.5), sendo, de acordo com a eq. 2.29, Fκ (X, t) = ∇ χκ (·, t). Logo, de modo mais expl´ıcito a X segunda entre as eqs. 2.9 pode ser escrita dv = | det ∇ χκ (·, t)| dvκ . X Definindo β1 : B → Bβ1 , β2 : B → Bβ2 e λ = β2 ◦ β1−1 : Bβ1 → Bβ2 , analogamente `a u ´ltima equa¸c˜ao destacada pode-se escrever, se β1 : X 7→ xβ1 , dvβ2 = | det ∇xβ1 λ| dvβ1 , a qual, junto com a eq. 3.35, mostra que M (P) =

Z P β1

Z P β1

ρβ1 dvβ1 =

Z P β2

ρβ2 dvβ2 =

Z

ρβ2 | det ∇λ| dvβ1 ,

P β1

( ρβ1 − ρβ2 | det ∇λ| ) dvβ1 = 0 , ρβ 2 =

ou

portanto

ρβ 1 , | det ∇xβ1 λ|

(3.36)

porque o integrando ´e cont´ınuo, logo pode ser aplicado o teorema 1.3.4 (fun¸c˜ao identicamente nula em E). Como β1 e β2 s˜ao duas configura¸c˜oes quaisquer, eq. 3.36 indica que a densidade volum´etrica de massa de uma configura¸c˜ao determina as densidades volum´etricas de massa de todas as outras poss´ıveis configura¸c˜oes do corpo. Quando β1 = κ, logo xβ1 = X, a eq. 3.36 poder´a ser escrita ρ=

ρκ , | det Fκ (X, t)|

(3.37)

onde ρκ (X, t) na verdade deve ser escrito ρκ (X), conforme ser´a mostrado pela primeira entre as eqs. 3.94 e ρ(x, t) = ρ(X, t), de acordo com a simbologia apresentada imediatamente ap´os a eq. 2.30. Para cada configura¸c˜ao corrente χ(·, t) ∈ χ(·, ·), onde χ(·, ·) ´e o movimento do corpo B (subse¸c˜ao 2.4.1), seja a descri¸c˜ao espacial ρ(x, t) da densidade volum´etrica de massa, onde x ∈ Pt e Pt ⊂ Bt , sendo Bt a imagem de B por meio da configura¸c˜ao corrente considerada. Qualquer que seja o movimento χ, tem-se d Z ρ dv = 0 , dt Pt

(3.38)

porque a eq. 3.35 indica que a altera¸c˜ao temporal da configura¸c˜ao corrente de uma mesma regi˜ao material P n˜ao modifica a massa da configura¸c˜ao corrente. A garantia de que a eq. 3.38 seja satisfeita para qualquer movimento χ s´o pode ser obtida mediante a imposi¸c˜ao de que, na eq. 3.1 (descri¸c˜ao espacial), se ψ = ρ,

ent˜ao

Φψ = 0

e

σψ = 0 .

Logo, a satisfa¸c˜ao da eq. 3.38 ´e suficiente para a satisfa¸c˜ao das u ´ltimas duas igualdades R destacadas. Lembrando que a lei cl´assica de conserva¸c˜ao de Pt ψ dv ´e o conjunto de condi¸c˜oes suficientes para que Φψ = σψ = 0 na eq. 3.1 (subse¸c˜ao 3.1.1), percebe-se que a eq. 3.38 ´e a lei cl´ assica de conserva¸c˜ ao da massa. 124


Logo, para que o movimento provoque uma altera¸c˜ao temporal da configura¸c˜ao corrente de uma mesma regi˜ao material P, mas esta altera¸c˜ao n˜ao modifique a massa da configura¸c˜ao corrente, ou seja, para garantir que, no enfoque cl´assico, a eq. 3.38 seja obedecida, o conceito f´ısico de regi˜ao material de um corpo deve ser imaginado de modo tal que, obrigatoriamente, Φψ e σψ sejam nulos na eq. 3.1. Mas suponha, por exemplo, que por causa de difus˜ao ocorresse uma altera¸c˜ao nas concentra¸c˜oes das esp´ecies qu´ımicas presentes em P, mesmo sem que houvesse rea¸c˜ao qu´ımica em P. Neste caso, o movimento incluiria as mudan¸cas produzidas pela difus˜ao (talvez devesse, ent˜ao, ser chamado de processo) e um conceito f´ısico de P, imaginado de modo a garantir que Φψ = σψ = 0 na eq. 3.1, em geral permitiria que a difus˜ao modificasse o escalar M (P). Logo, para tal conceito de P a eq. 3.38 n˜ao seria obedecida, embora a lei cl´assica de conserva¸c˜ao da massa continuasse satisfeita. Isto seria inaceit´avel, porque a obediˆencia `a eq. 3.38 ´e, conforme j´a afirmado, uma consequˆencia da eq. 3.35, sendo esta u ´ltima um postulado b´asico da presente teoria. Logo, em tal situa¸c˜ao obrigatoriamente o conceito f´ısico de P teria que ser alterado, o que exigiria que a eq. 3.1 fosse modificada. De fato, se a eq. 3.1 inclu´ısse fluxos ou suprimentos estat´ısticos, a obediˆencia `a eq. 3.38 exigiria anula¸c˜ao de outras grandezas, al´em de Φψ e σψ , logo eq. 3.38 n˜ao seria apenas a lei cl´assica de conserva¸c˜ao da massa. Como a difus˜ao n˜ao ´e explicada por meio de algum modelo cl´assico do comportamento da mat´eria, ela n˜ao ´e englobada pela eq. 3.1. Entretanto, se ao segundo membro da eq. 3.1 fossem adicionadas parcelas referentes ao efeito da difus˜ao, a defini¸c˜ao dada pela eq. 3.38 seria a lei cl´assica e difusiva de conserva¸c˜ao da massa. Neste caso, o conceito f´ısico de P seria imaginado de modo a que, adicionalmente a Φψ e σψ , fossem tamb´em anuladas as parcelas do segundo membro da eq. 3.1 referentes ao efeito de difus˜ao. Em resumo, na teoria apresentada imp˜oe-se que a massa de toda parte material de qualquer corpo n˜ao se altere durante o movimento (ou processo), o que pode ser representado pela eq. 3.38. De acordo com o que aconte¸ca ao corpo, a obediˆencia `a eq. 3.38 pode corresponder apenas `a lei cl´assica de conserva¸c˜ao da massa, ou exigir leis de converva¸c˜ao mais restritivas, como no exemplo dado, onde a lei de conserva¸c˜ao ´e cl´assica e difusiva. Leis de conserva¸c˜ao mais restritivas exigem a adi¸c˜ao de termos ao segundo membro da eq. 3.1 e, tamb´em, exigem a reformula¸c˜ao do conceito f´ısico de P e a amplia¸c˜ao do conceito de movimento. Cabe, ainda, ressaltar que: 1. Neste texto, apenas o enfoque cl´assico ´e considerado (difus˜ao, rea¸c˜ao qu´ımica etc. n˜ao s˜ao consideradas). 2. A massa ´e um conceito primitivo. Por isto, imp˜oe-se que a distribui¸c˜ao de massa, logo tamb´em a densidade volum´etrica de massa, sejam objetivas sob transforma¸c˜ao euclideana (subse¸c˜ao 2.6.1). 3. Toda teoria na qual exista a fun¸c˜ao ρβ : Bβ → <+ , sendo β qualquer configura¸c˜ao, ´e uma teoria para meio cont´ınuo em B. Por exemplo, a fun¸c˜ao ρβ n˜ao existiria numa teoria que supusesse pontos m´assicos (locais com volume nulo e massa n˜ao nula) imersos num ambiente de massa nula, ou seja, que admitisse uma distribui¸c˜ao discreta de massas. Logo, tal teoria n˜ao poderia ser classificada como uma teoria para meios cont´ınuos. Para obter um conceito f´ısico realista 125


da parte P ⊂ B, que seja coerente com as parcelas inclu´ıdas no membro direito da eq. 3.1 (generalizada, ou n˜ao, por meio da inclus˜ao de fluxos ou suprimentos estat´ısticos), pode ser mais conveniente visualizar uma distribui¸c˜ao discreta de massas do que uma distribui¸c˜ao cont´ınua. Mas, embora tal visualiza¸c˜ao discreta possa ser u ´til `a compreens˜ao do problema, ´e necess´ario lembrar que ela ´e absolutamente inconsistente com qualquer teoria de meio cont´ınuo. Considerando (descri¸c˜ao espacial) ψ = ρ e σψ = 0 , al´em de divΦψ = 0 na eq. 3.11 e Φψ = 0 na eq. 3.13, as eqs. 3.11 e 3.13 indicam respectivamente que ∂ρ ˙ =0 + div(ρx) e kρ(x˙ · n − un )k = 0 . (3.39) ∂t As eqs. 3.39 est˜ao na descri¸c˜ao espacial. A segunda, entre elas, indica que s´o existir´a descontinuidade em x˙ se houver descontinuidade em ρ e vice-versa. Mas, como o valor ρ ´e necessariamente real, apenas descontinuidades finitas podem ocorrer. Pode ser mais conveniente escrever esta igualdade em termos das velocidades locais de propaga¸c˜ao definidas pela eq. 3.14, obtendo-se imediatamente kρ U k = 0 .

(3.40)

Por outro lado, para a primeira entre as eqs. 3.39 pode ser mais u ´til utilizar a descri¸c˜ao material da derivada temporal da densidade volum´etrica de massa. Para efetuar esta transforma¸c˜ao pode-se lembrar que, de acordo com o primeiro item do coment´ario 1.3.20 ˙ = x˙ · gradρ + ρ divx, ˙ enquanto (express˜oes para divergˆencia e laplaciano), tem-se div(ρx) que, de acordo com a primeira entre as eqs. 2.31, tem-se ρ˙ = (∂ρ/∂t) + x˙ · gradρ. Portanto, a primeira entre as eqs. 3.39 pode ser escrita ρ˙ + ρ divx˙ = 0,

(3.41)

ainda na descri¸c˜ao espacial (lembrar a equa¸c˜ao f = f (X, t) = f (x, t) da subse¸c˜ao 2.4.2). A eq. 3.41 costuma ser chamada equa¸c˜ ao da continuidade. A eq. 3.6 indica que divx˙ = 0 quando um fluido for incompress´ıvel. Substituindo esta indica¸c˜ao na eq. 3.41 tem-se, ent˜ao, que ρ˙ = 0 (3.42) quando um fluido for incompress´ıvel, resultado este que ´e esperado. A partir da eq. 3.41 obt´em-se duas express˜oes muito u ´teis, que ser˜ao apresentadas sem demonstra¸c˜ao. Tem-se que, para qualquer quantidade tensorial ψ, ∂(ρψ) ρψ˙ = + div(ρψ ⊗ v) ∂t

(3.43)

mas, se ψ(x, t) for uma fun¸c˜ao arbitr´aria, para a imagem Pt de qualquer regi˜ao material ter-se-´a Z d Z ˙ dv . ψρ dv = ψρ (3.44) dt Pt Pt

3.3 3.3.1

Dinˆ amica Momentos Linear Angular

Seja χ(·, t) uma configura¸c˜ao corrente pertencente ao movimento χ(·, ·) do corpo B (subse¸c˜ao 2.4.1) e seja uma regi˜ao material P ⊂ B. Define-se o vetor momento li126


near de P, em χ(·, t), pela express˜ao P(P, t) =

Z

ρ x˙ dv ,

(3.45)

Pt

sendo Pt ⊂ Bt a imagem da configura¸c˜ao corrente, no instante t, da regi˜ao material (subse¸c˜ao 3.1.1) P ⊂ B. Define-se, tamb´em, o tensor antissim´etrico momento angular de P em rela¸c˜ao a x◦ ∈ E, em χ(·, t), pela express˜ao Hx◦ (P, t) =

Z Pt

ρ (x − x◦ ) ∧ x˙ dv .

(3.46)

Os primeiros membros das defini¸c˜oes dadas pelas eqs. 3.45 e 3.46 claramente indicam que, ao contr´ario da massa, os momentos linear e angular n˜ao s˜ao medidas da regi˜ao material P (se¸c˜ao 3.2), uma vez que dependem de P mas, tamb´em, de t. Como Hx◦ (P, t) ´e um tensor antissim´etrico (defini¸c˜ao de tensores sim´etrico e antissim´etrico 1.2.18), de acordo com a nota¸c˜ao 1.2.9 (vetor associado a tensor antissim´etrico) ele geralmente ´e representado como um vetor axial. Portanto, na eq. 3.46 o s´ımbolo ∧ pode ser interpretado tanto com indicando um produto externo (defini¸c˜ao de produto externo de vetores 1.2.36) como um produto vetorial (defini¸c˜ao de produto vetorial 1.2.38). Como a velocidade n˜ao ´e objetiva sob transforma¸c˜ao euclideana (subse¸c˜ao 2.6.2), as eqs. 3.45 e 3.46 mostram que P e H tamb´em n˜ao s˜ao objetivos. As leis da dinˆamica ser˜ao a seguir postuladas, em conformidade com o enfoque cl´assico de Newton e Euler, de acordo com o qual os movimentos s˜ao produzidos pela a¸c˜ao de for¸cas e torques sobre o corpo considerado. Seja f(P, t) o vetor for¸ca total agindo sobre P ⊂ B no instante t e seja mx◦ (P, t) o tensor antissim´etrico, ou vetor axial, torque total agindo sobre P ⊂ B no instante t, em rela¸c˜ao a x◦ ∈ E. Na mecˆanica, for¸cas e torques s˜ao conceitos primitivos e, por isto, imp˜oe-se que f(P, t) e mx◦ (P, t) sejam objetivos sob transforma¸c˜ao euclideana. Dados estes conceitos, pode-se agora enunciar as duas leis fundamentais da dinˆ amica: 1. Existe uma estrutura referencial φ, chamada inercial, em rela¸c˜ao `a qual, se f(P, t) ˙ = 0, ent˜ao P(P, t) = 0, para qualquer movimento χ de qualquer regi˜ao material P ⊂ B. De fato, como a primeira igualdade ´e indiferente `a transforma¸c˜ao euclideana, mas a segunda n˜ao ´e, ocorrendo esta rela¸c˜ao causa-efeito em determinada estrutura referencial, ela n˜ao pode ocorrer em todas as outras estruturas referenciais obten´ıveis, a partir da primeira, por transforma¸c˜ao euclideana. Postula-se, portanto, a existˆencia de alguma estrutura referencial em que tal rela¸c˜ao de causaefeito ocorra. 2. Para qualquer movimento em rela¸c˜ao `a estrutura inercial, s˜ao v´alidas a primeira e a segunda lei de Euler, respectivamente fornecidas pelas duas equa¸c˜oes a seguir apresentadas: ˙ P(P, t) = f(P, t) e ˙ x◦ (P, t) = mx◦ (P, t) . H

(3.47) (3.48)

Evidentemente, as duas leis de Euler n˜ao s˜ao objetivas sob transforma¸c˜ao euclideana.

127


Utilizando as eqs. 3.45 e 3.46, com rela¸c˜ao a esta u ´ltima lembrando que as defini¸c˜oes de produto externo e de produto vetorial implicam em que sejam nulos tais produtos para dois vetores iguais e usando a eq. 3.44, tem-se ˙ P(P, t) =

Z

¨ dv ρx

e

Pt

˙ x◦ (P, t) = H

Z Pt

¨ dv . ρ (x − x◦ ) ∧ x

(3.49)

Como a acelera¸c˜ao ´e indiferente `a transforma¸c˜ao galileiana, quando as eqs. 3.49 forem obe˙ eH ˙ tamb´em ser˜ao indiferentes a tal transforma¸c˜ao. Como f(P, t) e mx◦ (P, t) decidas P s˜ao objetivos sob transforma¸c˜ao euclideana, as leis de Euler s˜ao objetivas sob transforma¸c˜ao galileiana, ou seja, se φ for uma estrutura de referˆencia inercial, φ∗ tamb´em ser´a uma estrutura de referˆencia inercial se e somente se tais estruturas estiverem entre si relacionadas por meio de uma transforma¸c˜ao galileiana. Logo, as leis da dinˆamica se apresentar˜ao conforme as mesmas express˜oes matem´aticas, em todas as estruturas de referˆencia entre si relacionadas por meio de transforma¸c˜oes galileianas.

3.3.2

For¸ ca e Torque

No enfoque cl´assico, a for¸ca total f(P, t), que age sobre P ⊂ B no instante t, pode ser decomposta em duas parcelas aditivas: a for¸ca corporal f b (P, t) que, embora seja produzida por fonte externa a B, age diretamente no interior de P, portanto n˜ao ´e transmitida a P pela superf´ıcie desta parte do corpo (p.e., for¸ca da gravidade), f b (P, t) =

Z

ρ b dv ,

onde

(3.50)

Pt

b ´e o vetor densidade m´assica de suprimento de for¸ca corporal e a for¸ca de contato f c (P, t), transmitida a P por meio da mencionada superf´ıcie, c

f (P, t) =

Z

t da ,

onde

(3.51)

∂Pt

t ´e o vetor densidade de tra¸c˜ ao superficial por unidade de ´area. Portanto, foi considerado que a intera¸c˜ao entre as diferentes partes do corpo se manifesta somente por meio das for¸cas de contato, logo b = b(x, t), ou seja, a densidade m´assica de suprimento de for¸ca corporal n˜ao depende do que ocorra em outros pontos do corpo. Por outro lado, para x ∈ ∂Pt tem-se t = t(x, t, ∂Pt ), porque f c (P, t) ´e a for¸ca exercida, pelo restante do corpo B, sobre sua parte P no instante t, por meio da superf´ıcie ∂Pt , sendo t a densidade desta for¸ca, por unidade de ´area, no ponto x ∈ ∂Pt . Tem-se, ent˜ao, a decomposi¸c˜ao da for¸ca total que age sobre P ⊂ B no instante t, Z

f(P, t) =

ρ b(x, t) dv +

Pt

Z ∂Pt

t(x, t, ∂Pt ) da .

(3.52)

Analogamente, tem-se a decomposi¸c˜ao do torque total mx◦ (P, t), que age sobre P ⊂ B no instante t, em rela¸c˜ao a x◦ ∈ E, mx◦ (P, t) =

Z Pt

(x − x◦ ) ∧ ρ b dv + 128

Z ∂Pt

(x − x◦ ) ∧ t da .

(3.53)


Conv´em novamente destacar que o enfoque cl´assico n˜ao permite que uma parte material ou ponto do corpo exer¸ca qualquer influˆencia sobre outra parte material ou ponto do mesmo corpo, a n˜ao ser que tal influˆencia seja transmitida por meio da superf´ıcie que delimita cada parte material considerada. Por exemplo, n˜ao s˜ao considerados os efeitos produzidos por estruturas moleculares polarizadas.

3.3.3

Tensor de Tra¸ c˜ ao de Cauchy

Seja n um vetor de norma unit´aria, dirigido para fora de Pt e perpendicular a ∂Pt ¯ um vetor de norma unit´aria, dirigido para fora de P¯t e no ponto x ∈ ∂Pt . Seja n ¯ ∈ ∂ P¯t . O postulado de Cauchy imp˜oe que, se ∂Pt e ∂ P¯t perpendicular a ∂ P¯t no ponto x ¯ , ent˜ao t(x, t, ∂Pt ) = apresentarem, num ponto x ∈ ∂Pt ∩ ∂ P¯t , um mesmo vetor n = n ¯ t(x, t, ∂ Pt ) . Portanto, o postulado de Cauchy imp˜oe que t(x, t, ∂Pt ) = t(x, t, n) .

(3.54)

Tomando a eq. 3.54 como base, impondo que t(·, t, n) seja uma fun¸c˜ao integr´avel (conforme j´a colocado na se¸c˜ao 3.2, toda fun¸c˜ao cont´ınua ´e integr´avel, mas o oposto n˜ao ´e ¨ quanto b sejam finitos em Bt , demonstra-se que a primeira verdade) de x e que tanto x lei de Euler (eq. 3.47) implica em t(x, t, −n) = −t(x, t, n) ,

(3.55)

t(x, t, n) = T (x, t)n(x, t) .

(3.56)

que por sua vez implica em

A eq. 3.55 reflete o princ´ıpio de Cauchy, enquanto que a eq. 3.56 representa o teorema de Cauchy. A eq. 3.56 define o tensor de tra¸c˜ ao de Cauchy, T (x, t), que ´e um campo tensorial de segunda ordem que, aplicado ao campo vetorial n(x, t), produz o vetor tra¸c˜ao superficial t(x, t, n). A tra¸c˜ao superficial t pode ser decomposta num componente perpendicular `a superf´ıcie, a tra¸c˜ ao normal (n · t)n = (n · T n)n = (n ⊗ n)T n ,

(3.57)

onde usou-se a eq. 3.56 e a defini¸c˜ao de produto tensorial de vetores ou tensor simples 1.2.12 e uma tra¸c˜ ao de cisalhamento t − (n · t)n = (1 − n ⊗ n)T n ,

(3.58)

onde usou-se a eq. 3.57. Se Ti j forem os componentes de T , em rela¸c˜ao ao sistema cartesiano de coordenadas, ent˜ao e eq. 3.56 mostra que Ti j ´e o componente, na dire¸c˜ao do i-´esimo eixo coordenado, do vetor tra¸c˜ao superficial t referente a uma superf´ıcie perpendicular `a dire¸c˜ao do j-´esimo eixo coordenado. Por este motivo, os componentes T1 1 , T2 2 e T3 3 s˜ao, respectivamente, os componentes normais `as superf´ıcies perpendiculares `as dire¸c˜oes 1, 2 e 3, enquanto que T2 1 e T3 1 s˜ao os componentes de cisalhamento da superf´ıcie perpendicular `a dire¸c˜ao 1, 129


T1 2 = T2 1 e T3 2 s˜ao os componentes de cisalhamento da superf´ıcie perpendicular `a dire¸c˜ao 2, T1 3 = T3 1 e T2 3 = T3 2 s˜ao os componentes de cisalhamento da superf´ıcie perpendicular `a dire¸c˜ao 3 (a raz˜ao da simetria ser´a explicada posteriormente). De um modo geral, os componentes diagonais s˜ao chamados componentes normais e os componentes fora da diagonal s˜ao chamados componentes de cisalhamento. Alguns espec´ıficos tensores de tra¸c˜ao ser˜ao a seguir apresentados: Tensor de Press˜ ao Hidrost´ atica T = −p1 : A eq. 3.56 mostra que, para este tensor, a tra¸c˜ao t sobre qualquer superf´ıcie ´e o vetor tra¸c˜ao normal −p n, onde o escalar −p recebe o nome press˜ ao hidrost´ atica. Tensor de Tens˜ ao ou Compress˜ ao Pura, ou Uniaxial T = σ(e ⊗ e): Para uma superf´ıcie perpendicular ao vetor e, cuja norma ´e igual `a unidade, a eq. 3.56 mostra, usando a defini¸c˜ao de produto tensorial de vetores ou tensor simples 1.2.12, que t = σ(e ⊗ e)e = σ e, ou seja, mostra que a tra¸c˜ao sobre esta espec´ıfica superf´ıcie ´e o vetor tra¸c˜ao normal σ e, onde σ ´e um escalar positivo no caso de tens˜ao e negativo no caso de press˜ao. Tensor de Cisalhamento Puro T = τ (c ⊗ d + d ⊗ c), n˜ao sendo colineares c e d: Se (c∗ , d∗ ) for a base dual de (c, d) (defini¸c˜ao de base dual 1.2.4), usando a eq. 3.56 tem-se τ c∗ τ d∗ e t2 = T ∗ = ∗ d , t1 = T ∗ = ∗ c |d | |d | |c | |c | onde t1 ´e um vetor tra¸c˜ao de cisalhamento em rela¸c˜ao `a superf´ıcie normal ao vetor de norma unit´aria d∗ /|d∗ |, enquanto que t2 ´e um vetor tra¸c˜ao de cisalhamento em rela¸c˜ao `a superf´ıcie normal ao vetor de norma unit´aria c∗ /|c∗ |. Por constru¸c˜ao geom´etrica planar constata-se que o ˆangulo entre os vetores d e d∗ ´e igual ao ˆangulo entre os vetores c e c∗ , porque os dois ˆangulos apresentam dire¸c˜oes perpendiculares entre si, sendo ambos agudos. Isto causa a igualdade c · c∗ d · d∗ = , |c||c∗ | |d||d∗ | onde c · c∗ = d · d∗ = 1, logo |c| / |d∗ | = |d| / |c∗ | = a . Substituindo, nas primeiras duas express˜oes destacadas, respectivamente c = |c| (c/|c|) e d = |d| (d/|d|) tem-se, ent˜ao, t1 = aτ

c |c|

e

t2 = aτ

d , |d|

logo

|t1 | = |t2 | = aτ .

Tensor de Tra¸c˜ ao Planar: Se, para um determinado j fixo, acontecer que T1 j = Tj 1 = 0, T2 j = Tj 2 = 0 e T3 j = Tj 3 = 0, ter-se-´a um tensor de tra¸c˜ao planar, porque o vetor t pertencer´a ao plano dos outros dois vetores de base. Tensores de tens˜ao ou compress˜ao pura, bem como tensores de cisalhamento puro, s˜ao casos especiais de tensores de tra¸c˜ao planar.

130


3.3.4

Balanceamento de Momentos Linear e Angular

Usando as eqs. 3.45 (defini¸c˜ao de momento linear) e 3.52 (decomposi¸c˜ao da for¸ca total), numa estrutura inercial (subse¸c˜ao 3.3.1) a eq. 3.47 (primeira lei de Euler) pode ser escrita Z Z d Z ρ x˙ dv = ρ b dv + t da . dt Pt Pt ∂Pt

(3.59)

A eq. 3.59, usando a eq. 3.56 (defini¸c˜ao do tensor de tra¸c˜ao de Cauchy), por sua vez pode ser escrita Z Z d Z ρ x˙ dv = ρ b dv + T n da , (3.60) dt Pt Pt ∂Pt chamada primeira lei de Cauchy. Comparando a eq. 3.60 com a eq. 3.1 tem-se que, no enfoque cl´assico, na configura¸c˜ao corrente e utilizando a descri¸c˜ao espacial, ψ = ρ x˙ ,

Φψ = T

e

σψ = ρ b .

Portanto, T = b = 0 ´e uma condi¸c˜ao suficiente para que Φψ = σψ = 0 na eq. 3.1, logo T = b = 0 ´e a lei de cl´ assica conserva¸c˜ ao do momento linear (subse¸c˜ao 3.1.1). Por´em, para o momento linear, tamb´em poderia ser deduzida uma lei de conserva¸c˜ao n˜ao apenas cl´assica, analogamente ao que foi indicado para o caso da massa. De fato, se a eq. 3.1 fosse generalizada por meio da adi¸c˜ao, ao seu segundo membro, de parcelas referentes a fluxos ou suprimentos estat´ısticos, a compara¸c˜ao dela com a eq. 3.60 mostraria que a conserva¸c˜ao do momento linear ocorreria se T = b = 0 e se, al´em disto, na eq. 3.1 fossem anuladas todas as parcelas referentes a fluxos ou suprimentos estat´ısticos. Deve-se adicionalmente lembrar que, conforme ressaltado na subse¸c˜ao 3.3.2, o enfoque cl´assico n˜ao permite que uma parte material ou ponto do corpo exer¸ca qualquer influˆencia sobre outra parte material ou ponto do mesmo corpo, a n˜ao ser que tal influˆencia seja transmitida por meio da superf´ıcie que delimita cada parte material considerada. Para incluir tais influˆencias, a eq. 3.60 deveria ser alterada. ˙ Φψ = T e σψ = ρ b, as eqs. Retornando ao enfoque cl´assico e considerando ψ = ρ x, 3.11 e 3.13 indicam respectivamente que ∂ ˙ + div(ρ x˙ ⊗ x˙ − T ) − ρ b = 0 (ρ x) ∂t

e

˙ x˙ · n − un )k − kT kn = 0 . (3.61) kρ x(

A primeira entre as eqs. 3.61, que ´e a forma local da primeira lei de Cauchy para pontos regulares, costuma ser chamada equa¸c˜ ao do movimento. Assim como ocorre com a primeira entre as eqs. 3.39, ela cont´em a descri¸c˜ao espacial da derivada temporal, mas pode ser mais u ´til a descri¸c˜ao material desta derivada. Para se efetuar esta transforma¸c˜ao, ˙ / ∂t + div(ρ x˙ ⊗ x) ˙ = ρ¨ basta perceber que a eq. 3.43 indica que ∂(ρ x) x . Por isto, uma express˜ao mais usual da equa¸c˜ao de movimento ´e ρ¨ x − div T = ρ b ,

(3.62)

a qual mostra que a conserva¸c˜ao do momento linear, para um ponto regular, implica em ¨ = 0. Por outro lado, assim como ocorre com a segunda entre as eqs. 3.39, `as vezes ´e x mais conveniente escrever a segunda entre as eqs. 3.61 em termos das velocidades locais de propaga¸c˜ao definidas pela eq. 3.14, obtendo-se imediatamente ˙ + kT kn = 0 . kρ U xk 131

(3.63)


Usando as eqs. 3.46 (defini¸c˜ao do momento angular) e 3.53 (decomposi¸c˜ao do torque total em materiais apolares), numa estrutura inercial a eq. 3.48 (segunda lei de Euler) pode ser escrita Z Z d Z ρ (x − x◦ ) ∧ x˙ dv = (x − x◦ ) ∧ ρ b dv + (x − x◦ ) ∧ t da . dt Pt Pt ∂Pt

(3.64)

A eq. 3.64, usando a eq. 3.56 (defini¸c˜ao do tensor de tra¸c˜ao de Cauchy), por sua vez pode ser escrita Z Z d Z ρ (x − x◦ ) ∧ x˙ dv = (x − x◦ ) ∧ ρ b dv + (x − x◦ ) ∧ T n da , (3.65) dt Pt Pt ∂Pt denominada segunda lei de Cauchy. Comparando a eq. 3.65 com a eq. 3.1 tem-se que, no enfoque cl´assico, na configura¸c˜ao corrente e utilizando a descri¸c˜ao espacial, ψ = (x − x◦ ) ∧ ρ x˙ ,

Φψ = (x − x◦ ) ∧ T

e

σψ = (x − x◦ ) ∧ ρ b .

Como o ponto x◦ ´e completamente arbitr´ario, T = b = 0 ´e uma condi¸c˜ao suficiente para que Φψ = σψ = 0 na eq. 3.1, logo T = b = 0 ´e a lei cl´ assica de conserva¸c˜ ao do momento angular. Note que os momentos linear e angular apresentam a mesma lei cl´assica de conserva¸c˜ao, cabendo considera¸c˜oes an´alogas sobre a sua generaliza¸c˜ao. Logo, impor T = b = 0 na eq. 3.1 ´e suficiente para que ambos os dois momentos se conservem, embora, sem a imposi¸c˜ao desta condi¸c˜ao, cada um deles ainda possa ser individualmente conservado, mediante a cria¸c˜ao de v´ınculos espec´ıficos n˜ao permitidos pelas leis de conserva¸c˜ao (subse¸c˜ao 3.1.1). A substitui¸c˜ao de ψ = (x − x◦ ) ∧ ρ x˙ , Φψ = (x − x◦ ) ∧ T e σψ = (x − x◦ ) ∧ ρ b na eq. 3.13 leva, novamente, `a segunda entre as eqs. 3.61. Por outro lado, efetuando esta mesma substitui¸c˜ao na eq. 3.11, ap´os v´arias transforma¸c˜oes alg´ebricas obt´em-se, por meio do uso da eq. 3.62, T = TT, (3.66) que ´e a forma local da segunda lei de Cauchy para pontos regulares. O fato de T ser sim´etrico apresenta importante consequˆencia. De fato, de acordo com o teorema 1.2.6 (espectral: autovalores de tensor sim´etrico), a simetria de T garante que existam trˆes campos vetoriais ortonormais n(x, t) tais que, para cada um deles, T (x, t)n(x, t) = σ(x, t)n(x, t) ,

(3.67)

onde o escalar real σ(x, t) (autovalor) ´e chamado tra¸c˜ ao principal, enquanto que o vetor n(x, t) (autovetor) ´e denominado dire¸c˜ ao principal. de T (x, t). Embora hajam trˆes dire¸c˜oes principais, existem no m´aximo trˆes diferentes tra¸c˜oes principais a elas correspondentes. Por exemplo, para o tensor de press˜ao hidrost´atica T = −p1 (subse¸c˜ao 3.3.3), toda dire¸c˜ao ´e uma dire¸c˜ao principal e o escalar −p ´e a tra¸c˜ao principal. Ali´as, uma situa¸c˜ao comum ´e a de um escoamento com press˜ao hidrost´atica T = −p1 e densidade m´assica suprimento de for¸ca corporal b = −grad φ. Para esta situa¸c˜ao, o teorema de Bernouilli demonstra que se ∂v/∂t = 0 , ent˜ao

v2 1 + φ) + v · grad p = 0 e (3.68) 2 ρ 2 v 1 grad( + φ) + grad p = 0 . (3.69) 2 ρ

v · grad(

se ∂v/∂t = 0 e rot v = 0 , ent˜ao 132


3.3.5

Balanceamento de Energia Cin´ etica

˙ ConPode-se efetuar o produto interno dos termos da eq. 3.62 pelo vetor velocidade x. siderando que ˙ , x˙ · ρ¨ x = ρ dtd ( 12 x˙ · x) ˙ − tr(T T ∇x) ˙ , de acordo com o item 2 do coment´ario 1.3.20 (exx˙ · div T = div(T T x) press˜oes para divergˆencia e laplaciano), ˙ = div(T x) ˙ , de acordo com a eq. 3.66 e div(T T x) ˙ = T · grad x˙ , de acordo com a defini¸c˜ao de produto interno tensorial 1.2.27, tr(T T ∇x) obt´em-se d 1 ˙ = div(T x) ˙ + ρx˙ · b − T · grad x˙ . ( x˙ · x) (3.70) dt 2 Tanto a primeira entre as eqs. 3.61, quanto a equa¸c˜ao de movimento 3.62, s˜ao equa¸c˜oes vetoriais que expressam a forma local, para pontos regulares, da primeira lei de Cauchy, a qual ´e o balanceamento cl´assico de momento linear, na configura¸c˜ao corrente e utilizando a descri¸c˜ao espacial, referente a uma estrutura inercial. J´a a eq. 3.70 ´e escalar, porque interrelaciona as proje¸c˜oes dos vetores, presentes na eq. 3.62, sobre a dire¸c˜ao do vetor ˙ enquanto velocidade x˙ (nesta igualdade, todas as proje¸c˜oes aparecem multiplicadas |x|), que a eq. 3.66, tamb´em envolvida na dedu¸c˜ao da eq. 3.70, ´e tensorial e se refere `a segunda lei de Cauchy, que ´e o balanceamento cl´assico de momento angular. Por´em, no mais as eqs. 3.61, 3.62, 3.66 e 3.70 tˆem exatamente as mesmas caracter´ısticas. Seja χ(·, t) uma configura¸c˜ao corrente pertencente ao movimento χ(·, ·) do corpo B (subse¸c˜ao 2.4.1) e seja uma regi˜ao material (subse¸c˜ao 3.1.1) P ⊂ B. Define-se a energia cin´ etica da regi˜ao material P, em χ(·, t), pela express˜ao ρ

K(P, t) =

1Z ρ x˙ · x˙ dv , 2 Pt

(3.71)

sendo Pt ⊂ Bt a imagem da regi˜ao material P ⊂ B, por meio da configura¸c˜ao corrente χ(·, t). Se j´a tivessem sido definidas as grandezas Φψ e σψ referentes `a energia cin´etica, ˙ considerando ψ = ρ x˙ · x/2 na eq. 3.11 ter-se-ia a forma local, para pontos regulares, do balanceamento cl´assico de energia cin´etica, na configura¸c˜ao corrente e utilizando a ∂ ρ ˙ ( 2 x˙ · x). Como a descri¸c˜ao espacial. Tal forma local, portanto, envolve a derivada ∂t eq. 3.70, que resulta da aplica¸c˜ao da eq. 3.11 aos momentos linear e angular, envolve a ˙ conv´em relacionar entre si estas duas derivadas. Tem-se, ent˜ao, derivada ρ dtd ( 12 x˙ · x), ∂ ρ ˙ = ( x˙ · x) ∂t 2 d ρ ρ ˙ − x˙ · grad( x˙ · x) ˙ = ( x˙ · x) (primeira entre as eqs. 2.31) dt 2 2 d 1 dρ 1 ρ ˙ + ( x˙ · x) ˙ − x˙ · grad( x˙ · x) ˙ = ρ ( x˙ · x) dt 2 dt 2 2 d 1 ρ ρ ˙ − [( x˙ · x) ˙ divx˙ + x˙ · grad( x˙ · x)] ˙ = ρ ( x˙ · x) (eq. 3.41) dt 2 2 2 d 1 ρ ˙ − div[( x˙ · x) ˙ x] ˙ (item 1 do coment´ario 1.3.20). = ρ ( x˙ · x) dt 2 2 133

(3.72)


Como x˙ ´e completamente arbitr´ario, a eq. 3.72 mostra que os balanceamentos de momentos linear e angular implicam no balanceamento de energia cin´etica. ˙ x/2] ˙ De fato, subtra´ındo div[(ρx˙ · x) aos dois membros da eq. 3.70 tem-se ∂ ρ ρ ˙ = div[T x˙ − ( x˙ · x) ˙ x] ˙ + ρx˙ · b − T · grad x˙ , ( x˙ · x) ∂t 2 2

(3.73)

que ´e a forma local do balanceamento cl´assico de energia cin´etica em ponto regular. Comparando a eq. 3.73 com a eq. 3.11 percebe-se que ρ ψ = x˙ · x˙ , 2

Φψ = T x˙

e

σψ = ρx˙ · b − T · grad x˙ .

Aplicando as u ´ltimas trˆes equa¸c˜oes destacadas `a eq. 3.1 obt´em-se a forma integral de balanceamento cl´assico da energia cin´etica, na configura¸c˜ao corrente e utilizando a descri¸c˜ao espacial, referente a uma estrutura inercial, Z Z d Z ρ ˙ dv , x˙ · x˙ dv = T x˙ · n da + (ρx˙ · b − T · grad x) dt Pt 2 ∂Pt Pt

onde

(3.74)

T x˙ · n = n · T T x˙ = x˙ · T n = x˙ · t, sendo a primeira igualdade devida `a eq. 3.66, a segunda `a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear transposta 1.2.17 e a terceira `a eq. 3.56 (defini¸c˜ao de R ˙ tensor de tra¸c˜ao de Cauchy). Como a potˆ encia cin´ etica K(P, t) = dtd Pt ρ2 x˙ · x˙ dv, a eq. 3.74 pode, ent˜ao, ser escrita ˙ K(P, t) =

Z

x˙ · t da +

Z

ρx˙ · b dv −

Pt

∂Pt

Z

T · grad x˙ dv ,

(3.75)

Pt

onde os termos ∂Pt x˙ · t da e Pt ρ x˙ · b dv s˜ao absolutamente coerentes com os termos R que definem as respectivas for¸cas mecˆanicas f c (P, t) = ∂Pt t da (eq. 3.51) e f b (P, t) = R encia mecˆ anica transmitida `a regi˜ao material Pt ρ b dv (eq. 3.50), constituindo a potˆ P, em χ(·, t), Z Z P (P, t) = x˙ · t da + ρx˙ · b dv . (3.76) R

R

Pt

∂Pt

Quanto `a eq. 3.13, a descontinuidade de x˙ sobre a superf´ıcie singular faz grad x˙ divergir sobre tal superf´ıcie. Portanto, n˜ao existe, para a energia cin´etica, uma express˜ao ˙ por´em, com a forma da eq. 3.13. O aparecimento do produto interno tensorial T · grad x, produz mais consequˆencias, cujas caracter´ısticas at´e a este ponto do texto ainda n˜ao tinham ocorrido, do que somente impedir a existˆencia de uma equa¸c˜ao de RankineHugoniot para a energia cin´etica. De fato, trata-se de um suprimento produzido por fonte necessariamente interna `a regi˜ao material P, o que indica que a energia cin´etica n˜ao ´e uma grandeza conservativa, portanto indica que n˜ao existe uma lei de conserva¸c˜ao da energia cin´etica, fosse ela cl´assica ou n˜ao (subse¸c˜ao 3.1.1), embora o balanceamento de energia cin´etica tenha sido obtido a partir dos balanceamentos de momentos linear e angular, os quais apresentam uma mesma lei de conserva¸c˜ao. Como a lei cl´assica de conserva¸c˜ao dos momentos linear e angular ´e T = b = 0 na eq. 3.1, ou seja, ´e T (x, t) = t(x, t) = 0 | x ∈ ∂P e b(x, t) = 0 | x ∈ P, sempre que for imposta esta lei as eqs. 3.76 e 3.75 tornar-se-˜ao, respectivamente, P (P, t) = 0 e K˙ P =0 (P, t) = −

Z Pt

134

T · grad x˙ dv ,

(3.77)


onde KË™ P =0 (P, t) ´e a potˆ encia cin´ etica sem potˆ encia mecˆ anica. Substituindo as eqs. 3.76 e 3.77 na eq. 3.75 obt´em-se Ë™ K(P, t) = P (P, t) + KË™ P =0 (P, t) .

(3.78)

Deve-se, por´em, lembrar que v´Ĺnculos especiais podem permitir a conserva¸cËœao dos momentos linear e angular sem que seja imposta a lei cl´assica de conserva¸cËœao de tais momentos. Em outras palavras, ´e poss´Ĺvel conservar estes momentos tendo-se, simultaneamente, R Ë™ P (P, t) 6= 0, logo K(P, t) 6= − Pt T ¡ grad xË™ dv . Qualifica-se como homogˆ eneo ao processo durante o qual, para todo t, qualquer propriedade intensiva (por exemplo densidade, pressËœao, temperatura, concentra¸cËœao etc.) apresente o mesmo valor em todos os pontos de Pt , embora tal valor possa variar com t. Impondo que, num processo homogˆeneo, a velocidade tamb´em apresente igual valor em todos os pontos, entËœao, por defini¸cËœao, a homogeneidade exige que grad xË™ = 0 (nËœao confundir com o conceito de material homogˆeneo, a ser apresentado no final da se¸cËœao 4.3). Portanto, num processo homogˆeneo: 1. KË™ P =0 (P, t) = 0, de acordo com a eq. 3.77. Ë™ 2. K(P, t) = P (P, t), de acordo com as eqs. 3.78 e com o primeiro item. 3. Existe a lei cl´assica de conserva¸cËœao da energia cin´etica e esta coincide com a lei cl´assica de conserva¸cËœao dos momentos linear e angular.

3.3.6

Balanceamento de Energias Total e Interna

Conforme um dos conceitos centrais da mecˆanica, a energia ´e conservativa. Isto gera a id´eia de existˆencia de uma conservativa energia total, divis´Ĺvel em parcelas aditivas, as quais nËœao precisariam ser conservativas. Uma parcela nËœao conservativa seria a energia cin´etica, j´a definida pela eq. 3.71. A energia cin´etica ´e um conceito fundamental da dinˆamica, intimamente relacionado aos conceitos de momento linear e angular, conforme mostrado na subse¸cËœao 3.3.5. Por diferen¸ca, a parte restante da energia total ´e denominada energia interna. Evidentemente, a energia interna deve ser nËœao conservativa, sua altera¸cËœao compensando a altera¸cËœao de energia cin´etica, ou seja, numa regiËœao material isolada (subse¸cËœao 3.1.1) a potˆencia que altera a energia cin´etica deve ser, a cada instante, igual e de sinal contr´ario `a potˆencia que modifica a energia interna. Em outras palavras, tal potˆencia deve, apenas, transformar energia cin´etica em interna e vice-versa. Seja χ(¡, t) uma configura¸cËœao corrente pertencente ao movimento (subse¸cËœao 2.4.1) χ(¡, ¡) do corpo B e seja uma regiËœao material (subse¸cËœao 3.1.1) P ⊂ B. Define-se a energia interna de P, em χ(¡, t), pela expressËœao E(P, t) =

Z

Ď dv ,

(3.79)

Pt

sendo Pt ⊂ Bt a imagem de P na configura¸cËœao corrente e (x, t) a densidade m´ assica de energia interna. Define-se, tamb´em, a potˆ encia total trocada por Pt ⊂ Bt , Z ∂Pt

xË™ ¡ t da +

Z ∂Pt

h da +

Z Pt

135

Ď xË™ ¡ b dv +

Z Pt

Ď r dv ,

(3.80)


onde os termos ∂Pt xË™ ¡ t da e Pt Ď xË™ ¡ b dv j´a foram comentados logo ap´os a eq. 3.75. O escalar densidade m´assica de suprimento de calor r = r(x, t), assim como ocorre com o vetor b, ´e produzido por fonte externa a B (por exemplo, ´e uma radia¸cËœao proveniente de fonte externa ao corpo). Este escalar ´e o an´alogo, para a energia interna, do que ´e o escalar xË™ ¡ b, para a energia cin´etica. O escalar densidade de calor condutivo superficial, h = h(x, t, ∂Pt ), ´e o an´alogo, para a energia interna, do que ´e o escalar xË™ ¡ t para a energia cin´etica. ImpËœoe-se que tanto quanto r e h sejam objetivos sob transforma¸cËœao euclideana, porque trata-se de conceitos primitivos. Semelhantemente ao postulado (eq. 3.54), princ´Ĺpio (eq. 3.55) e teorema de Cauchy (eq. 3.56), o princ´Ĺpio de fluxo t´ ermico de Fourier-Stokes afirma que R

R

h(x, t, ∂Pt ) = h(x, t, n) = −q(x, t) ¡ n(x, t) ,

(3.81)

onde q(x, t) ´e o vetor fluxo t´ ermico. A eq. 3.81 ´e a defini¸cËœao de q(x, t). Usando as eqs. 3.71 (defini¸cËœao de energia cin´etica), 3.79 (defini¸cËœao de energia interna), 3.80 (defini¸cËœao de potˆencia total trocada, nela fazendo a substitui¸cËœao xË™ ¡ t = T xË™ ¡ n, de acordo com a subse¸cËœao 3.3.5, imediatamente ap´os a eq. 3.74) e 3.81 (defini¸cËœao do vetor de fluxo t´ermico q), para uma estrutura inercial obt´em-se a expressËœao para o balanceamento cl´assico de energia total, na configura¸cËœao corrente e utilizando a descri¸cËœao espacial, Z Z d Z Ď ( xË™ ¡ xË™ + Ď ) dv = (T xË™ − q) ¡ nda + Ď (xË™ ¡ b + r) dv . dt Pt 2 ∂Pt Pt

(3.82)

Ao se comparar a eq. 3.82 com a eq. 3.1 obt´em-se Ďˆ=

Ď xË™ ¡ xË™ + Ď , 2

ÎŚĎˆ = T xË™ − q

e

ĎƒĎˆ = Ď (xË™ ¡ b + r) .

Portanto, a lei cl´ assica de conserva¸cËœ ao da energia total (subse¸cËœao 3.1.1) ´e obedecida se e somente se T = q = b = r = 0 na eq. 3.82, ou seja, T e q sËœao nulos na superf´Ĺcie, enquanto que b e r sËœao nulos em todo ponto da regiËœao material. Conv´em, ainda, lembrar que, desde a subse¸cËœao 3.3.2, considera-se que densidades m´assicas de suprimento nËœao dependam do que ocorra em outros pontos do corpo, ou seja, que a intera¸cËœao entre as diversas partes do corpo se manifeste somente por meio de contato superficial. At´e ao fim da subse¸cËœao anterior, isto se referia apenas ao suprimento de for¸ca corporal b e `a tra¸cËœao superficial t = T n. Mas, a partir da presente subse¸cËœao, este conceito envolve tamb´em o suprimento de calor r e o calor condutivo superficial h = q ¡ n. As eqs. 3.11 e 3.13 indicam respectivamente que ∂ Ď Ď ( xË™ ¡ xË™ + Ď ) + div(( xË™ ¡ xË™ + Ď )xË™ − T xË™ + q) − Ď (xË™ ¡ b + r) = 0 e (3.83) ∂t 2 2 Ď Ë™ ¡ n = 0. k( xË™ ¡ xË™ + Ď )(xË™ ¡ n − un )k + kq − T xk (3.84) 2 A eq. 3.83 (equa¸cËœao de campo) ´e a forma local, em pontos regulares, da eq. 3.82, enquanto que a eq. 3.84 (equa¸cËœao de Rankine-Hugoniot) ´e a forma local da mesma equa¸cËœao, mas para pontos sobre uma superf´Ĺcie singular. Pode ser mais u ´til escrever a eq. 3.84 em termos das velocidades locais de propaga¸cËœao definidas pela eq. 3.14, obtendo-se imediatamente 1 Ë™ + kT xË™ − qk ¡ n = 0 . (3.85) kĎ U ( + xË™ ¡ x)k 2 136


A partir da eq. 3.85 demonstra-se que, supondo que a componente tangencial da velocidade seja cont´Ĺnua na superf´Ĺcie singular, tem-se 1 1 kqk ¡ n = (Ď U )− k − (n ¡ T n) + U 2 k . Ď 2

(3.86)

Subtraindo a eq. 3.73 da eq. 3.83 obt´em-se ∂(Ď ) + div(Ď xË™ + q) − T ¡ grad xË™ − Ď r = 0. ∂t

(3.87)

Como foi subtra´Ĺda a equa¸cËœao de campo para a energia cin´etica da equa¸cËœao de campo da energia total, a eq. 3.87 ´e a equa¸cËœao de campo para a energia interna. Comparando as eqs. 3.87 e 3.11 obt´em-se que Ďˆ = Ď ,

ÎŚĎˆ = −q

e

ĎƒĎˆ = T ¡ grad xË™ + Ď r ,

resultado este absolutamente coerente com os resultados an´alogos, obtidos para a energia cin´etica e para a energia total. Portanto, assim como a energia cin´etica, a energia interna tamb´em nËœao ´e conservativa. A eq. 3.87 cont´em a descri¸cËœao espacial da derivada temporal, mas pode ser mais u ´til a descri¸cËœao material desta derivada. Para se efetuar esta transforma¸cËœao, nota-se que âˆ‚Ď âˆ‚ ∂(Ď ) Ë™ + Ď Ë™ − Ď (grad ) ¡ xË™ = Ď Ë™ − div(Ď x) Ë™ , = + Ď = − div(Ď x) ∂t ∂t ∂t onde foram usadas a primeira entre as eqs. 3.39, a primeira entre as eqs. 2.31 e o item 1 do coment´ario 1.3.20 (expressËœoes para divergˆencia e laplaciano). Substituindo a u ´ltima expressËœao destacada na eq. 3.87, obt´em-se Ď Ë™ + div q = T ¡ grad xË™ + Ď r .

(3.88)

Tamb´em em analogia ao que acontece para a energia cin´etica, nËœao existe uma equa¸cËœao de Rankine-Hugoniot para a energia interna. Ou seja, ao contr´ario do que ocorre para pontos regulares, nËœao ´e poss´Ĺvel decompor a eq. 3.84 numa expressËœao para energia cin´etica e outra para energia interna. A medida que o ponto regular se aproximar da superf´Ĺcie singular, as divergˆencias das energias cin´etica e interna se anularËœao entre si, de modo a tender para uma descontinuidade finita para a energia total (eq. 3.84). Conforme destacado logo ap´os a eq. 3.87, para a energia interna deve-se considerar Ďˆ = Ď , ÎŚĎˆ = −q e ĎƒĎˆ = T ¡ grad xË™ + Ď r . EntËœao, para a energia interna a eq. 3.1 deve ser escrita Z Z Z d Z T ¡ grad xË™ dv + Ď r dv , Ď dv = − q ¡ n da + dt Pt Pt Pt ∂Pt

(3.89)

que ´e o balanceamento cl´assico de energia interna, na configura¸cËœao corrente e utilizando a descri¸cËœao espacial, para uma estrutura inercial. Note que, conforme esperado, somando as eqs. 3.74 (balanceamento cl´assico de energia cin´etica) e 3.89 obt´em-se a eq. 3.82 (balanceamento cl´assico de energia total). Em analogia `a defini¸cËœao de potˆencia mecˆanica dada pela eq. 3.76, define-se a potˆ encia t´ ermica Z Z Q(P, t) = − q ¡ n da + Ď r dv . (3.90) Pt

∂Pt

137


Usando as eqs. 3.77 e 3.90, a eq. 3.89 pode ser re-escrita sob a forma ˙ E(P, t) = Q(P, t) − K˙ P =0 (P, t) ,

(3.91)

que ´e an´aloga `a eq. 3.78. Somando a eq. 3.78 `a eq. 3.91 tem-se ˙ ˙ E(P, t) + K(P, t) = Q(P, t) + P (P, t) ,

(3.92)

conforme esperado. De acordo com o primeiro item do u ´ltimo par´agrafo da subse¸c˜ao 3.3.5, ˙ para um processo homogˆeneo tem-se KP =0 (P, t) = 0. Isto indica que, neste processo: 1. As energias cin´etica e interna n˜ao se transformam diretamente uma na outra, porque ´e anulada a potˆencia transfer´ıvel, K˙ P =0 (P, t). Por isto, tanto a energia cin´etica como a energia interna s˜ao conservativas, apresentado respecticamente as leis cl´assicas de conserva¸c˜ao {T (x, t) = 0 | x ∈ ∂P , b(x, t) = 0 | x ∈ P} e {q(x, t) = 0 | x ∈ ∂P , r(x, t) = 0 | x ∈ P}. O fato de ser poss´ıvel conservar, separadamente, cada uma das duas energias, confirma que elas n˜ao se transformam, diretamente, uma na outra. ˙ 2. Para a energia interna tem-se E(P, t) = Q(P, t), de acordo com a eq. 3.91, enquanto ˙ que, considerando a eq. 3.78, para a energia cin´etica tem-se K(P, t) = P (P, t). N˜ao se altera, portanto, a eq. 3.92, v´alida para qualquer processo em meio cont´ınuo. Grafando P 0 (P, t) `a potˆencia mecˆanica correspondente `a conserva¸c˜ao dos momentos linear e angular sem que seja imposta a lei cl´assica de conserva¸c˜ao de tais momentos (ver texto imediatamente ap´os a eq. 3.78), nos processos homogˆeneos costuma-se subtrair ˙ P 0 (P, t) de ambos os membros da igualdade K(P, t) = P (P, t), que passa a ser escrita 0 0 0 ˙ K (P, t) = P (P, t) − P (P, t), sendo P (P, t) − P (P, t) a potˆencia mecˆanica correspondente ao movimento de corpo r´ıgido, logo K˙ 0 (P, t) ´e a potˆencia cin´etica do movimento de corpo r´ıgido. Por outro lado, nos processos homogˆeneos costuma-se adicionar P 0 (P, t) a ambos ˙ os membros da igualdade E(P, t) = Q(P, t), obtendo-se E˙ 0 (P, t) = Q(P, t) + P 0 (P, t), chamada primeira lei da termodinˆ amica dos processos homogˆ eneos. Logo, a 0 potˆencia interna E˙ (P, t), a que se refere a primeira lei da termodinˆamica dos processos homogˆeneos, n˜ao ´e a mesma `a que se refere a eq. 3.91. De fato, a diferen¸ca entre E˙ 0 (P, t) e a potˆencia total ´e a potˆencia cin´etica de corpo r´ıgido K˙ 0 (P, t), n˜ao ´e a potˆencia cin´etica total definida pela eq. 3.75. Conv´em, ainda, lembrar que, a rigor, ´e irrealiz´avel um processo em meio cont´ınuo que mantenha, ao longo de todo o seu tempo de existˆencia, a homogeneidade de todas as suas propriedades intensivas, inclusive da velocidade pontual, mesmo supondo-se que os valores de tais grandezas possam variar no tempo. Por´em, quando as velocidades de homogeneiza¸c˜ao das propriedades intensivas e da velocidade pontual forem suficientemente maiores do que a velocidade de avan¸co do processo, dentro da precis˜ao desejada o processo pode ser considerado homogˆeneo. Mas, para processos em meio cont´ınuo de um modo geral, a primeira lei da termodinˆamica deve ser fornecida em termos da energia total, ou seja, por meio das eqs. desde 3.82 at´e 3.86, ou de express˜oes obtidas a partir destas igualdades.

138


3.4 3.4.1

Equa¸co ˜es Complementares Equa¸ c˜ oes de Campo e de Rankine-Hugoniot na Descri¸c˜ ao Material

Ser˜ao apresentadas as equa¸c˜oes de campo e de Rankine-Hugoniot, na descri¸c˜ao material, para a massa, os momentos linear e angular, a energia interna, a energia total e a energia cin´etica, quando existirem tais equa¸c˜oes. Massa Como, para a massa, ψ = ρ , Φψ = 0 e σψ = 0 (se¸c˜ao 3.2), de acordo com as eqs. 3.19 tem-se ψκ = |J| ρ = ρκ , Φψκ = 0 e σκψ = 0. (3.93) Logo, usando as eqs. 3.24 e 3.26 tem-se, respectivamente, ρ˙ κ = 0

kρκ k Uκ = 0.

e

(3.94)

Como considerar Uκ = 0 seria uma particulariza¸c˜ao que, conforme a condi¸c˜ao de compatibilidade cinem´atica na superf´ıcie singular expressa pela primeira entre as eqs. 3.32, ˙ = 0, a segunda entre as eqs. 3.94 pode ser escrita implicaria em impor kxk kρκ k = 0.

(3.95)

Note que a primeira entre as eqs. 3.93 ´e a eq. 3.37. Momento Linear Como, para o momento linear, ψ = ρx˙ , Φψ = T e σψ = ρb (subse¸c˜ao 3.3.4, logo ap´os a eq. 3.60), de acordo com as eqs. 3.19 tem-se ψκ = |J| ρx˙ = ρκ x˙ ,

Φψκ = |J| T F −T = Tκ

e

σκψ = |J| ρb = ρκ b ,

(3.96)

onde na primeira e terceira equa¸c˜ao foi utilizada a primeira entre as eqs. 3.93 e o tensor Tκ ´e denominado tensor de tra¸c˜ ao de Piola-Kirchoff . Logo, usando as eqs. 3.24 e 3.26 tem-se, respectivamente, ¨ − DivTκ − ρκ b = 0 ρκ x

˙ κ + kTκ knκ = 0, kρκ xkU

e

(3.97)

onde na primeira equa¸c˜ao foi usada a primeira entre as eqs. 3.94. Por meio da primeira entre as eqs. 3.32 e da eq. 3.95, a segunda entre as eqs. 3.97 pode ser escrita kTκ nκ k = ρκ Uκ2 kF nκ k .

(3.98)

Usando a primeira entre as eqs. 2.9, que relaciona eκ daκ com eda e, tamb´em, o que foi colocado na subse¸c˜ao 3.1.2, sobre a substitui¸c˜ao de J por |J|, mostra-se que Z ∂Pt

T n da =

Z ∂Pκ

139

Tκ nκ daκ .

(3.99)


Momento Angular De acordo com a subse¸cËœao 3.3.4, a equa¸cËœao de Rankine-Hugoniot para os momentos linear e angular ´e a mesma na descri¸cËœao espacial, logo tamb´em ´e a mesma na descri¸cËœao material. Quanto `a equa¸cËœao de campo, ela ´e, na descri¸cËœao espacial, a eq. 3.66, a saber, T = T T . Considerando esta igualdade e a segunda entre as eqs. 3.96, tem-se que TÎşT = |J| F −1 T ,

(3.100)

logo TÎşT = F −1 |J|T F −T F T = F −1 TÎş F T , onde, na u ´ltima igualdade, usou-se novamente a segunda entre as eqs. 3.96. Tem-se, portanto, F TÎşT = TÎş F T , que indica que, embora tenha sido usada a igualdade T = T T , nËœao foi obtida igualdade an´aloga para o tensor TÎş . Logo, o tensor de tra¸cËœao de Piola-Kirchoff nËœao ´e sim´etrico. Energia Interna Como, para a energia interna, Ďˆ = Ď , ÎŚĎˆ = −q e ĎƒĎˆ = T ¡ gradxË™ + Ď r (subse¸cËœao 3.3.6, logo ap´os a eq. 3.87), de acordo com as eqs. 3.19 tem-se ĎˆÎş = |J| Ď = Ď Îş ,

ÎŚĎˆÎş = −|J|F −1 q = −q Îş

e

ĎƒÎşĎˆ = TÎş ¡ FË™ + Ď Îş r , (3.101)

onde na primeira equa¸cËœao foi utilizada a primeira entre as eqs. 3.93 e o vetor q Îş ´e denominado vetor fluxo t´ ermico material. A aplica¸cËœao da terceira entre as eqs. 3.19 a ĎƒĎˆ = T ¡ gradxË™ + Ď r inicialmente produz ĎƒÎşĎˆ = |J|(T ¡ gradxË™ + Ď r). Mas tem-se que Ë™ T ) = tr(|J| T (FË™ F −1 )T ) = tr(|J|T F −T FË™ T ) = tr(TÎş FË™ T ) = |J| T ¡ gradxË™ = |J| tr(T (gradx) TÎş ¡ FË™ , onde para a primeira e u ´ltima igualdades utilizou-se a defini¸cËœao de produto interno de tensores de segunda ordem 1.2.27, na segunda igualdade usou-se a eq. 2.34 e, na quarta, a segunda entre as eqs. 3.96. Usando, ainda, a primeira entre as eqs. 3.93 no termo |J| Ď r , chega-se ao resultado apresentado na terceira entre as eqs 3.101. Logo, usando a eq. 3.24 (lembrar que a energia interna diverge numa superf´Ĺcie singular), tem-se Ď Îş Ë™ + Div q Îş − TÎş ¡ FË™ − Ď Îş r = 0,

(3.102)

onde foi utilizada a primeira entre as eqs. 3.94. Usando a primeira entre as eqs. 2.9, que relaciona eÎş daÎş com eda e, tamb´em, o que foi colocado na subse¸cËœao 3.1.2, sobre a substitui¸cËœao de J por |J|, mostra-se que Z ∂Pt

q ¡ n da =

Z ∂PÎş

qκ ¡ nκ daκ .

(3.103)

Energia Total Como, para a energia total, Ďˆ = Ď 2 xË™ ¡ xË™ + Ď , ÎŚĎˆ = T xË™ − q e ĎƒĎˆ = Ď (xË™ ¡ b + r) (subse¸cËœao 3.3.6 logo ap´os a eq. 3.82), de acordo com as eqs. 3.19 tem-se Ď Ď Îş xË™ ¡ xË™ + Ď Îş ĎˆÎş = |J| ( xË™ ¡ xË™ + Ď ) = 2 2 ÎŚĎˆÎş = |J| F −1 (T xË™ − q) = TÎşT xË™ − q Îş ĎƒÎşĎˆ = |J| Ď (xË™ ¡ b + r) = Ď Îş (xË™ ¡ b + r) ,

140

(3.104)


onde, na primeira e na terceira equa¸cËœao, foi utilizada a primeira entre as eqs. 3.93. Usando a eq. 3.100 conjuntamente com a segunda entre as eqs. 3.101, confirma-se a u ´ltima igualdade da segunda equa¸cËœao. Logo, utilizando as eqs. 3.24 e 3.26 tem-se, respectivamente, ¨ + ) Ë™ − Ď Îş (xË™ ¡ b + r) = 0 Ď Îş (xË™ ¡ x Ë™ + Div(q Îş − TÎşT x) 1 e kĎ Îş ( xË™ ¡ xË™ + )kUÎş + kTÎşT xË™ − q Îş k ¡ nÎş = 0, 2

(3.105)

onde, na primeira equa¸cËœao, foi usada a primeira entre as eqs. 3.94. Por meio da condi¸cËœao de compatibilidade cinem´atica na superf´Ĺcie singular expressa pelas eqs. 3.32, a segunda entre as eqs. 3.105 pode ser escrita kqÎş k ¡ nÎş = UÎş ( kĎ Îş k − < TÎş nÎş > ¡ kF nÎş k) ,

(3.106)

onde usa-se o s´Ĺmbolo < A >= (A+ + A− )/2 para o valor m´edio de A sobre a superf´Ĺcie singular. Energia Cin´ etica Subtra´Ĺndo a eq. 3.102 da primeira entre as eqs. 3.105 (veja a se¸cËœao 3.3.6), obt´em-se ¨ − Div(TÎşT x) Ë™ + TÎş ¡ FË™ − Ď Îş xË™ ¡ b = 0, Ď Îş xË™ ¡ x

(3.107)

que corresponde ao uso da eq. 3.24 para a energia cin´etica (lembrar que a energia cin´etica diverge numa superf´Ĺcie singular).

3.4.2

Condi¸ cËœ oes de Fronteira do Corpo

A fronteira do corpo, em determinado instante t, sËœao os pontos da imagem ∂Bt de sua superf´Ĺcie material (subse¸cËœao 3.1.1), sendo nulas as velocidades locais de propaga¸cËœao U Âą = un − xË™ Âą ¡n (eq. 3.14). Por isto, na fronteira a descri¸cËœao espacial dos balanceamentos locais em pontos singulares, para momento linear e angular (eq. 3.63) e energia total (eq. 3.85), sËœao respectivamente kT k n = 0

e

kqk ¡ n = kxË™ ¡ T nk ,

onde, para a segunda equa¸cËœao, considerou-se T Âą xË™ Âą ¡n = xË™ Âą ¡T Âą n, por causa da defini¸cËœao de transforma¸cËœao linear transposta 1.2.17 e da equa¸cËœao de campo para momento angular (eq. 3.66) T = T T . Mas, como a primeira entre as u ´ltimas duas expressËœoes destacadas mostra que T ´e bem determinado na fronteira, tem-se T Âą = T , logo a segunda, entre tais expressËœoes, pode ser escrita Ë™ ¡ T n. kqk ¡ n = kxk (3.108) A eq. 3.108 mostra que, se a fronteira for fixa (xË™ = 0) ou livre (T n = 0), para todas as configura¸cËœoes correntes e para a configura¸cËœao referencial, entËœao a componente normal do vetor fluxo t´ermico ser´a, sempre, bem definida na fronteira. Se a componente normal do vetor fluxo t´ermico for, sempre, bem definida na fronteira, como, por exemplo, acontece nos dois casos citados no par´agrafo anterior, entËœao o corpo poder´a apresentar uma fronteira adiab´ atica, ou seja, termicamente isolante, o que

141


indica que a componente normal do vetor fluxo t´ermico ser´a sempre nula na fronteira. Optativamente, pode-se usar, para a fronteira, a descri¸cËœao material dos balanceamentos locais em pontos singulares, para momento linear (segunda entre as eqs. 3.97) e energia total (segunda entre as eqs. 3.105). Lembrando que UÎş = 0 sobre a fronteira do corpo, tem-se entËœao, respectivamente, kTÎş k nÎş = 0

e

kTÎşT xË™ − qÎş k ¡ nÎş = 0 .

A primeira equa¸cËœao mostra que TÎş ´e bem determinado na fronteira e, para a segunda equa¸cËœao, considera-se (TÎşT )Âą xË™ Âą ¡ nÎş = xË™ Âą ¡ Tκ¹ nÎş . Mas, como TÎş ´e bem determinado na fronteira, tem-se Tκ¹ = TÎş , logo a segunda, entre as u ´ltimas duas equa¸cËœoes destacadas, pode ser escrita Ë™ ¡ TÎş nÎş = kqÎş k ¡ nÎş . kxk (3.109) A eq. 3.109 confirma que, se a fronteira for fixa ou livre, entËœao a componente normal do vetor de fluxo t´ermico material ser´a bem definida na fronteira. Evidentemente, sempre a componente normal do vetor fluxo t´ermico material for bem definida na fronteira, ela poder´a ser nula, o que ocorre no caso de fronteira adiab´atica.

3.4.3

Equa¸ cËœ oes de Campo em Estrutura Referencial Arbitr´ aria

Grandezas Objetivas nas Equa¸cËœ oes de Campo Ao longo deste cap´Ĺtulo, foram definidas v´arias grandezas objetivas, em rela¸cËœao `a transforma¸cËœao euclideana (subse¸cËœao 2.6.1). Entre elas, podem ser destacadas: 1. O escalar massa M (P), logo o escalar densidade volum´etrica de massa Ď (se¸cËœao 3.2). Portanto (primeira entre as eqs. 2.69), Ď âˆ— (x∗ , t∗ ) = Ď (x, t). 2. Os vetores for¸ca f(P, t) e torque mxâ—Ś (P, t) (subse¸cËœao 3.3.1), logo os vetores densidade m´assica de suprimento de for¸ca corporal b (eq. 3.50) e tra¸cËœao superficial t (eq. 3.51), assim como o tensor de tra¸cËœao de Cauchy T (eq. 3.56). Portanto (respectivamente segunda e terceira entre as eqs. 2.69), b∗ (x∗ , t∗ ) = Q(t)b(x, t)

e

T ∗ (x∗ , t∗ ) = Q(t)T (x, t)QT (t)

3. Os escalares densidade m´assica de energia interna , densidade m´assica de suprimento de calor r e densidade de calor condutivo superficial h (se¸cËœao 3.3.6), logo o vetor de fluxo t´ermico q (eq. 3.81). Portanto, ∗ (x∗ , t∗ ) = (x, t) ,

r∗ (x∗ , t∗ ) = r(x, t)

e

q∗ (x∗ , t∗ ) = Q(t)q(x, t) .

Na subse¸cËœao 2.6.3 foi indicado que o gradiente da velocidade L = grad xË™ satisfaz `a eq. 2.82, a qual pode ser re-escrita sob a forma Ë™ ∗ = Q (grad x) Ë™ QT + â„Ś , (grad x)

(3.110)

onde â„Ś = QË™ QT ´e um tensor antissim´etrico denominado tensor de velocidade angular de Ď†âˆ— em rela¸cËœao a φ (eq. 2.72). Tem-se, entËœao, que: 142


A. Considerando que, de acordo com a defini¸cËœao de divergˆencia de campo vetorial 1.3.11, tem-se divu(x) = tr(∇x u) e que trâ„Ś = 0, porque â„Ś ´e antissim´etrico, Ë™ ∗ = tr(Q (grad x) Ë™ QT ). Mas, de acordo com o a eq. 3.110 mostra que tr(grad x) Ë™ QT ) = item 5 do coment´ario 1.2.29 (propriedades dos tra¸cos), tem-se tr(Q (grad x) Ë™ QT Q) = tr(grad x), Ë™ porque Q ´e ortogonal (subse¸cËœao 2.6.1). Logo, tr((grad x) Ë™ ∗ = div xË™ . (div x) B. Considerando que, de acordo com a defini¸cËœao de produto interno de tensores de segunda ordem 1.2.27, tem-se A ¡ B = tr(AB T ), a eq. 3.110 mostra que, lembrando Ë™ ∗ ) = tr(Q T QT Q (grad x) Ë™ QT ) + tr(T ∗ â„Ś) = que T ´e objetivo (item 2), tr(T ∗ (grad x) Ë™ tr(T (grad x)), por causa do item 5 do coment´ario 1.2.29, porque Q ´e ortogonal e ∗ porque T ´e sim´etrico (eq. 3.66) e â„Ś ´e antissim´etrico, o que causa tr(T ∗ â„Ś) = 0. Logo, Ë™ ∗ = T ¡ grad xË™ . (T ¡ grad x) Tem-se, ainda, que: I. A eq. 2.85 mostra que o gradiente de um campo vetorial objetivo ´e objetivo. Como q ´e objetivo (item 3), ∇x q ´e objetivo e, de acordo com a defini¸cËœao de divergˆencia de campo vetorial 1.3.11, div q = tr(∇x q), logo div q ´e um escalar objetivo, ou seja, (div q)∗ = div q . II. De acordo com a defini¸cËœao 1.3.13 de divergˆencia de campo tensorial S, tem-se v ¡ divS = div(S T v) = tr(∇x (S T v)), onde a u ´ltima igualdade se deve `a defini¸cËœao de divergˆencia de campo vetorial 1.3.11. Como v ´e um campo vetorial constante qualquer, v ´e objetivo. EntËœao, o vetor S T v ser´a objetivo se S for objetivo, porque, neste caso, (S T v)∗ = (S T )∗ v∗ = QS T QT Qv = QS T v. Logo, de acordo com a eq. 2.85, se S for objetivo ser´a objetivo o escalar v ¡ divS = div(S T v) = tr(∇x (S T v)). Mas (v ¡ divS)∗ = v∗ ¡ (divS)∗ = v ¡ divS, sendo v∗ = Qv, implica em (divS)∗ = Q divS, porque Qv ¡ Qu = u ¡ QT Qv = u ¡ v (defini¸cËœao de transforma¸cËœao linear transposta 1.2.17). Logo, se S for objetivo entËœao o vetor divS ´e objetivo. Como T ´e objetivo sob transforma¸cËœao euclideana (item 2), entËœao (div T )∗ = Q div T . ´ objetiva a derivada temporal material de um campo escalar objetivo, conforme III. E indica a primeira entre as trˆes eqs. 2.87. Portanto, como Ď e sËœao objetivos, respectivamente de acordo com os itens 1 e 3, (Ď ) Ë™ ∗ = Ď Ë™

e

( ) ˙ ∗ = ˙ .

Equa¸cËœ oes de Campo As observa¸cËœoes apresentadas na primeira parte desta subse¸cËœao mostram que as equa¸cËœoes de campo para massa (eq. 3.41), Ď Ë™ + Ď divxË™ = 0 143


e para energia interna (eq. 3.88), Ď Ë™ + div q = T ¡ grad xË™ + Ď r , sËœao objetivas sob transforma¸cËœao euclideana. Mas na subse¸cËœao 2.6.2 mostrou-se que a velocidade e a acelera¸cËœao nËœao sËœao vetores objetivos, em rela¸cËœao `a transforma¸cËœao euclideana, porque elas respectivamente satisfazem `a segunda entre as eqs. 2.71 e `a equa¸cËœao 2.74. Logo, a equa¸cËœao de campo para o momento linear (eq. 3.62), Ď Â¨ x − div T = Ď b , ¨ , embora, em nËœao ´e objetiva sob transforma¸cËœao euclideana, porque cont´em a acelera¸cËœao x rela¸cËœao `a tranforma¸cËœao galileiana, seja indiferente `a estrutura de referˆencia. De acordo com a eq. 2.74, tem-se ¨ ∗ − i∗ , Q¨ x=x

onde

Ë™ + (â„ŚË™ − â„Ś 2 )(x∗ − c) . i∗ = c¨ + 2â„Ś (xË™ ∗ − c)

Portanto, ao se aplicar a transforma¸cËœao Q aos vetores da equa¸cËœao de campo para o ¨ − Q div T = Ď Q b , ou, como Ď , div T e b sËœao objetivos, momento linear obt´em-se Ď Q x Ď âˆ— (¨ x∗ − i∗ ) − (div T )∗ = Ď âˆ— b∗ . ¨ ∗ − i∗ ´e objetivo sob transforma¸cËœao euclideana. Portanto, Demonstra-se que o vetor x as equa¸cËœoes de campo objetivas sob transforma¸cËœao euclideana sËœao, respectivamente para massa, momento linear e energia interna, Ď Ë™ + Ď divxË™ = 0 ,

Ď Â¨ x − div T = Ď (b + i)

e

Ď Ë™ + div q − T ¡ grad xË™ = Ď r , (3.111)

onde o vetor i ´e nulo se Ď†âˆ— for uma estrutura de referˆencia inercial, porque neste caso ¨ ∗ − (div T )∗ = Ď âˆ— b∗ , logo â„Ś = c¨ = 0 numa estrutura de referˆencia inercial. Por isto, Ď âˆ— x i ´e denominado vetor densidade m´assica de suprimento de for¸ca inercial, enquanto que b + i ´e o vetor densidade m´assica de suprimento de for¸ca corporal aparente. Note que: • A partir das trˆes eqs. 3.111 e da equa¸cËœao de campo para o momento angular (simetria do tensor T ) tem-se equa¸cËœoes de campo objetivas para as energias cin´etica e total. • A partir das equa¸cËœoes de campo objetivas para massa, momentos e energias, temse as correspondentes equa¸cËœoes integrais objetivas de balanceamento, bem como as correspondentes equa¸cËœoes objetivas de Rankine-Hugoniot. ´ usual se escrever b significando b + i, em qualquer estrutura de referˆencia, com • E a particularidade de se considerar i = 0 se a estrutura for inercial. • A densidade m´assica de for¸ca inercial i ´e formada pelas parcelas de Coriolis 2â„Ś (xË™ − Ë™ centr´Ĺfuga âˆ’â„Ś 2 (x − c), de Euler â„ŚË™ (¨ c), x − i) e inercial referente `a transla¸cËœao, c¨. • As trˆes eqs. 3.111 apresentam as descri¸cËœoes materiais das correspondentes derivadas temporais. Evidentemente, elas podem ser escritas em termos das descri¸cËœoes espaciais destas derivadas.

144


Cap´Ĺtulo 4 Princ´Ĺpios B´ asicos das Teorias Constitutivas 4.1

Campos B´ asicos, Fun¸ co Ëœes e Funcionais Constitutivos

De acordo com o cap´Ĺtulo anterior, as equa¸cËœoes de balanceamento locais, para pontos regulares e singulares, dependem da: 1. fun¸cËœao pontual movimento χ : BĂ—< → E, fornecida pela eq. 2.25 e de todas as grandezas cinem´aticas dela decorrentes (posi¸cËœao, velocidade, gradiente de deforma¸cËœao etc.); 2. fun¸cËœao escalar densidade volum´etrica de massa Ď : B Ă— < → <+ , cuja descri¸cËœao espacial, que pode ser escrita Ď : Bt Ă— < → <+ , ´e definida pela eq. 3.35 (sendo β a configura¸cËœao corrente, ou seja, retirando-se os ´Ĺndices β do integrando e, no ´Ĺndice do sinal de integra¸cËœao, substituindo β por t); 3. fun¸cËœao vetorial densidade m´assica de suprimento de for¸ca corporal b : B Ă— < → V , cuja descri¸cËœao espacial, que pode ser escrita b : Bt Ă— < → V , ´e definida pela eq. 3.50; 4. fun¸cËœao escalar densidade m´assica de suprimento de calor r : B Ă— < → <, cuja descri¸cËœao espacial, que pode ser escrita r : Bt Ă— < → <, ´e definida pela eq. 3.80; 5. fun¸cËœao tensorial de Cauchy T : B Ă— < → V ⊗ V , cuja descri¸cËœao espacial, que pode ser escrita T : Bt Ă— < → V ⊗ V , ´e fornecida pela eq. 3.56; 6. fun¸cËœao escalar densidade m´assica de energia interna : B Ă— < → <, cuja descri¸cËœao espacial, que pode ser escrita : Bt Ă— < → <, ´e definida pela eq. 3.79 e 7. fun¸cËœao vetorial de fluxo t´ermico q : B Ă— < → V , cuja descri¸cËœao espacial, que pode ser escrita q : Bt Ă— < → V , ´e definida pela eq. 3.81. Al´em destas sete fun¸cËœoes, deve-se agora introduzir a fun¸cËœao escalar temperatura, por defini¸cËœao positiva, grafada θ : B Ă— < → <+ . A temperatura ´e suposta ser um primitivo, logo ´e suposta ser objetiva sob transforma¸cËœao euclideana (subse¸cËœao 2.6.1). Considera-se que: 145


A. cada um entre Ď (X, t), χ(X, t) e θ(X, t) seja um campo b´ asico e que o conjunto dos trˆes campos b´asicos caracterize as propriedades do material, enquanto que B. T (X, t), q(X, t) e (X, t) sejam grandezas constitutivas, as quais dependem dos trˆes campos b´asicos e, al´em disto, tamb´em dependem do tipo de material que constitui o corpo B ao qual pertence o ponto X (este ´e o significado do adjetivo constitutivo). Note que, enquanto os campos b´asicos sËœao exatamente os trˆes indicados, existem infinitas outras grandezas constitutivas, al´em das trˆes mencionadas, que nËœao aparecem nas ante-citadas equa¸cËœoes de balanceamento. C. b(X, t) e r(X, t) influenciem Ď (X, t), χ(X, t) e θ(X, t), portanto indiretamente influenciem as grandezas constitutivas, mas que nËœao influenciem diretamente tais grandezas. Note que nos anteriores itens de A a C escreveu-se, por exemplo, Ď (X, t), embora a ausˆencia de ´Ĺndice em Ď seja costumeiramente associada a Ď (x, t). Logo, para evitar confusËœoes, quando a fun¸cËœao sem ´Ĺndice se referir a (X, t) este fato dever ser explicitado. Para o estudo de como as grandezas constitutivas dependem dos campos b´asicos, fazse inicialmente necess´ario definir o conceito de hist´ oria de uma fun¸cËœao temporal Ďˆ(¡), dado por Ďˆ t (s) = Ďˆ(t − s) , sendo s ∈ [0, ∞), (4.1) onde o intervalo fechado abaixo [0, ∞) (defini¸cËœao 1.3.1 de subconjunto aberto) mostra que s ´e uma coordenada temporal apontada para o passado, a partir do instante presente t. Como s = 0 corresponde ao momento presente, tem-se Ďˆ t (0) = Ďˆ(t). Sendo C(X, t) o valor, no ponto X ∈ B e no instante t, de uma grandeza constitutiva qualquer, postula-se, entËœao, o princ´Ĺpio de determinismo C(X, t) = F(Ď t (Y, s), χt (Y, s), θt (Y, s), X, t) ,

∀Y ∈ B

e ∀s ∈ [0, ∞),

(4.2)

onde F ´e um funcional constitutivo (defini¸cËœao de fun¸cËœao e funcional 1.1.1). Logo, o princ´Ĺpio de determinismo impËœoe que as hist´orias completas da densidade, do movimento e da temperatura, em todos os pontos Y do corpo B, determinam os valores das grandezas constitutivas, para todo instante t e ponto X pertencente a B. Portanto, o valor C(X, t) ser´a anotado F(Ď t (Y, s), χt (Y, s), θt (Y, s), X, t) sempre que se desejar ressaltar o seu car´ater constitutivo. Por outro lado, C(¡, ¡) = F(Ď t (Y, s), χt (Y, s), θt (Y, s), ¡, ¡) ´e uma fun¸cËœao constitutiva espacial e temporal. Evidentemente, a forma correta do funcional F, que depende do tipo de material que constitui o corpo B, deve ser confirmada experimentalmente. Por outro lado, experimentos podem sugerir formas matem´aticas para os funcionais. Mas, provavelmente, nËœao ´e poss´Ĺvel determinar F usando apenas experimentos. Existem, por´em, algumas exigˆencias universais que devem ser satisfeitas por qualquer funcional constitutivo, como condi¸cËœao necess´aria para a sua confirma¸cËœao experimental. As mais importantes exigˆencias deste tipo sËœao: I. o princ´Ĺcio de objetividade material, II. o princ´Ĺpio de simetria material e III. considera¸cËœoes termodinˆamicas. 146


4.2

Princ´ıpio de Objetividade Material

4.2.1

Conceito Fundamental

Na eq. 4.2, evidentemente C(X, t) ´e o valor de uma grandeza constitutiva observ´avel, logo a igualdade corresponde a alguma estrutura referencial. Isto pode ser explicitado escrevendo-se, ao inv´es da eq. 4.2, C(X, t; φ) = Fφ (ρt (Y, s), χt (Y, s), θt (Y, s), X, t) ,

∀Y ∈ B

e ∀s ∈ [0, ∞),

(4.3)

onde C(X, t; φ) indica que (X, t) ´e argumento da estrutura referencial φ, estrutura esta por meio da qual o valor C ´e determinado (ver o colocado imediatamente ap´os a eq. 2.70). Na eq. 4.3 o ´ındice φ de F indica que a forma do funcional depende desta estrutura referencial e subentende-se que (Y, s) ´e argumento da estrutura referencial φ, estrutura esta por meio da qual as fun¸c˜oes ρt , χt e θt s˜ao determinadas. Mas, se C for uma grandeza constitutiva objetiva em rela¸c˜ao `a transforma¸c˜ao euclideana, postula-se que a forma do funcional n˜ao dependa da estrutura referencial, embora o seu argumento se altere de acordo com a estrutura referencial considerada. Sendo C(X, t) o valor de uma grandeza constitutiva objetiva em rela¸c˜ao `a transforma¸c˜ao euclideana, postula-se, portanto, o princ´ıpio de objetividade material Fφ = Fφ∗ , (4.4) para quaisquer estruturas referenciais φ e φ∗ . De acordo com a eq. 2.68, supondo que C seja o valor de uma grandeza constitutiva objetiva e que C ∈ Sn (n = 0, 1, 2 respectivamente para espa¸co escalar, vetorial e tensorial de segunda ordem), tem-se C(X, t∗ ; φ∗ ) = Q∗ C(X, t; φ) , onde Q∗ ´e a transforma¸c˜ao linear induzida no espa¸co tensorial Sn pela transforma¸c˜ao euclideana. Substituindo a eq. 4.3 na u ´ltima igualdade destacada e impondo F = Fφ = Fφ∗ (eq. 4.4), tem-se F(ρ∗ (Y, t∗ − s), χ∗ (Y, t∗ − s), θ∗ (Y, t∗ − s), X, t∗ ) = Q∗ F(ρ(Y, t − s), χ(Y, t − s), θ(Y, t − s), X, t) , ∀Y ∈ B

e ∀s ∈ [0, ∞).

Lembrando que as grandezas ρ (se¸c˜ao 3.2) e θ (se¸c˜ao 4.1) s˜ao objetivas sob transforma¸c˜ao euclideana, a qual ´e fornecida pela eq. 2.61, a saber x∗ = Q(τ )(x − x◦ ) + c(τ ) e τ ∗ = τ + a e considerando x∗ = χ∗ (Y, τ ∗ ) e x = χ(Y, τ ), sendo τ ∗ = t∗ − s e τ = t − s, tem-se F(ρ(Y, t − s), χ∗ (Y, t∗ − s), θ(Y, t − s), X, t∗ ) = Q∗ F(ρ(Y, t − s), χ(Y, t − s), θ(Y, t − s), X, t) , onde ∗ ∗ χ (Y, t − s) = Q(t − s)(χ(Y, t − s) − x◦ ) + c(t − s) , sendo t∗ = t + a , ∀Y ∈ B e ∀s ∈ [0, ∞). (4.5)

147


A eq. 4.5 ´e a restri¸c˜ao imposta, pelo princ´ıpio de objetividade material, ao funcional constitutivo correspondente a uma grandeza objetiva. Sublinhe-se que, se a grandeza a que se refere o funcional n˜ao for objetiva, esta restri¸c˜ao geralmente n˜ao ser´a v´alida. Entretanto, a restri¸c˜ao imposta ao funcional ´e bem maior do que explicitamente mostra a eq. 4.5. De fato, conv´em lembrar que a transforma¸c˜ao euclideana ´e uma transforma¸c˜ao r´ıgida dependente do tempo (eq. 2.61), a transforma¸c˜ao galileiana ´e uma transforma¸c˜ao euclideana espec´ıfica, em que Q independe de t e c ´e uma fun¸c˜ao linear de t (eq. 2.75), mas ainda existe uma transforma¸c˜ao galileiana especial, que ´e a transforma¸c˜ao r´ıgida independente do tempo (eq. 2.76). Uma espec´ıfica transforma¸c˜ao r´ıgida independente do tempo considera Q(t) = 1 e c◦ = x◦ , o que reduz a transforma¸c˜ao euclideana a x∗ = x e t∗ = t + a , logo Q∗ = 1 . Como a eq. 4.5 ´e v´alida para qualquer transforma¸c˜ao euclideana, ela necessariamente ´e v´alida para esta especial transforma¸c˜ao r´ıgida independente do tempo. Mas, para o caso desta especial transforma¸c˜ao, tem-se, simplificando a simbologia da eq. 4.5, F(ρt , χt , θt , X, t + a) = F(ρt , χt , θt , X, t) , o que implica em F n˜ao depender explicitamente de t, porque o valor a ´e totalmente arbitr´ario. Portanto, enquanto que para o valor de uma grandeza constitutiva qualquer devese usar a eq. 4.3, para o valor de uma grandeza constitutiva objetiva o princ´ıpio de objetividade material implica em C(X, t; φ) = F(ρt (Y, s), χt (Y, s), θt (Y, s), X) ,

∀Y ∈ B

e ∀s ∈ [0, ∞),

(4.6)

onde subentende-se que (Y, s) ´e argumento da estrutura referencial φ, estrutura esta por meio da qual as fun¸c˜oes ρt , χt e θt s˜ao determinadas. Por outro lado, a forma correta da eq. 4.5 ´e dada pela igualdade F(ρt (Y, s), (χt )∗ (Y, s), θt (Y, s), X) = Q∗ F(ρt (Y, s), χt (Y, s), θt (Y, s), X) , (χt )∗ (Y, s) = Qt (s)(χt (Y, s) − x◦ ) + ct (s) , t∗ = t + a, ∀Y ∈ B e ∀s ∈ [0, ∞).(4.7) Em resumo, para uma grandeza constitutiva objetiva devem ser usadas as eqs. 4.6 e 4.7, as quais prov´em da aplica¸c˜ao do principio de objetividade material `a eq. 4.3. A eq. 4.5 deve ser considerada uma etapa intermedi´aria da dedu¸c˜ao feita, porque ela n˜ao revela, explicitamente, uma importante restri¸c˜ao imposta, pelo princ´ıpio de objetividade material, ao funcional constitutivo correspondente a uma grandeza objetiva.

4.2.2

Aplica¸ c˜ ao ` a Configura¸c˜ ao Referencial

Tem-se χκ (X, t) = χ(X, t) , ρκ (X, t) = ρ(X, t) , θκ (X, t) = θ(X, t) e Cκ (X, t) = C(X, t) , (4.8) onde a primeira igualdade ´e devida `as eqs. 2.25 e 2.26 e as u ´ltimas trˆes podem ser obtidas a partir da primeira entre as eqs. 3.18. Logo, de acordo com a eq. 4.6, para o valor de

148


uma grandeza constitutiva objetiva C(X, t) tem-se C(X, t) = F(ρt (Y, s), χt (Y, s), θt (Y, s), X) , F(ρt (Y, s), χt (Y, s), θt (Y, s), X) = F(ρtκ (Y, s), χtκ (Y, s), θκt (Y, s), κ−1 (X)) e Cκ (X, t) = F(ρtκ (Y, s), χtκ (Y, s), θκt (Y, s), κ−1 (X)), onde na segunda linha foram utilizadas as primeiras trˆes entre as eqs. 4.8 e a eq. 2.1 e, na terceira linha, foi usada a u ´ltima das eqs. 4.8. Definindo Fκ (ρtκ (Y, s), χtκ (Y, s), θκt (Y, s), X) = F(ρtκ (Y, s), χtκ (Y, s), θκt (Y, s), κ−1 (X)) ,

(4.9)

tem-se, ent˜ao, Cκ (X, t) = Fκ (ρtκ (Y, s), χtκ (Y, s), θκt (Y, s), X) ,

∀Y ∈ Bκ

e ∀s ∈ [0, ∞).

(4.10)

A eq. 2.1 pode ser escrita X = κ(X), na estrutura de referˆencia φ e X∗ = κ∗ (X), na estrutura de referˆencia φ∗ . Logo, de acordo com a u ´ltima entre as eqs. 4.8 e com a eq. 2.68, supondo que C seja uma grandeza constitutiva objetiva tem-se Cκ∗∗ (X∗ , t∗ ) = C(X, t∗ ; φ∗ ) = Q∗ C(X, t; φ) = Q∗ Cκ (X, t) . Usando a eq. 4.10 pode-se, portanto, escrever Fκ∗ (ρ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), χ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), θκ∗∗ (Y∗ , t∗ − s), X∗ ) = Q∗ Fκ (ρκ (Y, t − s), χκ (Y, t − s), θκ (Y, t − s), X) .

(4.11)

Mas, usando a eq. 4.9, tem-se tamb´em que Fκ∗ (ρ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), χ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), θκ∗∗ (Y∗ , t∗ − s), X∗ ) = F(ρ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), χ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), θκ∗∗ (Y∗ , t∗ − s), (κ∗ )−1 (X∗ )) = F(ρκ (Y, t − s), χ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), θκ (Y, t − s), (κ∗ )−1 (X∗ )) ,

(4.12)

sendo a u ´ltima igualdade devida ao fato de que as grandezas ρ (se¸c˜ao 3.2) e θ (se¸c˜ao 4.1) s˜ao objetivas sob transforma¸c˜ao euclideana. A express˜ao que mostra como se altera um ponto da configura¸c˜ao referencial, quando ocorre uma transforma¸c˜ao euclideana da estrutura de referˆencia φ para a estrutura de referˆencia φ∗ , ´e dada pela eq. 2.78, a seguir transcrita, X∗ = γ(X) = K(X − x◦ ) + c◦ ,

sendo

γ = κ∗ ◦ κ−1 : Bκ → Bκ∗ ,

(4.13)

onde K ´e um tensor ortogonal de segunda ordem e c◦ ´e um ponto, ambos fixos (independentes de t). Para o funcional na terceira linha da eq. 4.12 pode-se, ent˜ao, escrever F(ρκ (Y, t − s), χ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), θκ (Y, t − s), (κ∗ )−1 (X∗ )) = F(ρκ (Y, t − s), χ∗κ∗ (γ(Y), t∗ − s), θκ (Y, t − s), (κ∗ )−1 (γ(X))) = F(ρκ (Y, t − s), χ∗κ∗ (γ(Y), t∗ − s), θκ (Y, t − s), (κ)−1 (X)) = Fκ (ρκ (Y, t − s), χ∗κ∗ (γ(Y), t∗ − s), θκ (Y, t − s), X) ,

149

(4.14)


onde a segunda linha ´e devida ao uso da primeira entre ae eqs. 4.13, a terceira linha `a u ´ltima entre as eqs. 4.13 e a quarta linha, `a eq. 4.9. Substituindo a eq. 4.14 na eq. 4.12 tem-se Fκ∗ (ρ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), χ∗κ∗ (Y∗ , t∗ − s), θκ∗∗ (Y∗ , t∗ − s), X∗ ) = Fκ (ρκ (Y, t − s), χ∗κ∗ (γ(Y), t∗ − s), θκ (Y, t − s), X)

(4.15)

e, substituindo a eq. 4.15 na eq. 4.11 obt´em-se Fκ (ρκ (Y, t − s), χ∗κ∗ (γ(Y), t∗ − s), θκ (Y, t − s), X) = Q∗ Fκ (ρκ (Y, t − s), χκ (Y, t − s), θκ (Y, t − s), X) , sendo χ∗κ∗ (γ(Y), t∗ − s) = Q(t − s)(χκ (Y, t − s) − x◦ ) + c(t − s) , t∗ = t + a , ∀Y ∈ Bκ e ∀s ∈ [0, ∞) ,

(4.16)

de acordo com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao euclideana, dada pela eq. 2.61, a saber x∗ = Q(t)(x − x◦ ) + c(t) e t∗ = t + a. Note que, usando a igualdade que aparece na sua terceira linha, a eq. 4.16 envolve apenas a configura¸c˜ao referencial κ da estrutura de referˆencia φ. Utilizando a simbologia usual χ∗κ∗ (γ(Y), t∗ − s) = (χtκ )∗ (γ(Y), s) = (χtκ )∗ ◦ γ(Y, s) , a eq. 4.16 pode ser escrita Fκ (ρtκ (Y, s), (χtκ )∗ ◦ γ(Y, s), θκt (Y, s), X) = Q∗ Fκ (ρtκ (Y, s), χtκ (Y, s), θκt (Y, s), X) , sendo (χtκ )∗ ◦ γ(Y, s) = Qt (s)(χtκ (Y, s) − x◦ ) + ct (s) , t∗ = t + a , ∀Y ∈ Bκ e ∀s ∈ [0, ∞) .

(4.17)

Note que tanto na eq. 4.7 como na eq. 4.17 a forma do funcional n˜ao se altera e o seu argumento altera-se no que se refere `a hist´oria do movimento ou da deforma¸c˜ao respectivamente, mas n˜ao se modifica em rela¸c˜ao `as hist´orias da densidade e da temperatura do corpo. Note tamb´em que, de acordo com a eq. 4.10, tem-se Cκ (X, t) = Fκ (ρκ (Y), χtκ (Y, s), θκt (Y, s), X) ,

∀Y ∈ Bκ

e ∀s ∈ [0, ∞) ,

(4.18)

porque ρtκ (Y, s) deve ser substitu´ıdo por ρκ (Y), conforme mostra a primeira igualdade das eqs. 3.94. Esta mesma substitui¸c˜ao deve, evidentemente, ser tamb´em aplicada aos dois termos das respectivas primeiras igualdades das eqs. 4.16 e 4.17.

4.2.3

Aplica¸ c˜ ao a Classes Particulares de Materiais

O princ´ıpio de objetividade material apresenta importantes aspectos gerais. Al´em disto, ele causa efeitos espec´ıficos em funcionais constitutivos referentes a classes particulares de materiais. Isto ser´a exemplificado usando a fun¸c˜ao constitutiva (de acordo com a defini¸c˜ao de fun¸c˜ao e funcional 1.1.1, uma fun¸c˜ao constitutiva tamb´em ´e um funcional constitutivo), para o tensor de tra¸c˜ao de Cauchy, T = T (ρ, v, L) , 150

(4.19)


onde v ´e o vetor velocidade definido pela eq. 2.27 e L = gradv = F˙ F −1 , apresentado usando-se as eqs. 2.34 e 2.49, ´e o tensor gradiente espacial do vetor velocidade. Como T ´e uma grandeza constitutiva (se¸c˜ao 4.1) objetiva (item 2 da se¸c˜ao 3.4.3) tensorial (eq. 3.56), de acordo com a eq. 2.65 tem-se T (ρ∗ , v∗ , L∗ ) = QT (ρ, v, L)QT ,

(4.20)

onde foi imposto que Tφ∗ = Tφ , por causa da eq. 4.4 (princ´ıpio de objetividade material). De acordo com a defini¸c˜ao de transforma¸c˜ao euclideana dada pela eq. 2.61, Q(t) ´e qualquer tensor ortogonal e c(t) ´e qualquer vetor. Como 1. ρ∗ = ρ, de acordo com o item 1 da se¸c˜ao 3.4.3, ˙ − x◦ ) + c, ˙ de acordo com a eq. 2.71 e 2. v∗ = Qv + Q(x ˙ T , de acordo com as eqs. 2.82 e 2.72, 3. L∗ = QLQT + QQ tem-se ˙ − x◦ ) + c, ˙ T ) = QT (ρ, v, L)QT . ˙ QLQT + QQ T (ρ, Qv + Q(x Evidentemente, a u ´ltima igualdade destacada deve ser v´alida para Q(t) = 1 , situa¸c˜ao ˙ L) = T (ρ, v, L). Como c(t) ´e um esta na qual ela admite a forma especial T (ρ, v + c, vetor arbitr´ario, esta forma especial indica que T n˜ao pode depender de v. Portanto, T = T (ρ, L). Al´em disto, de acordo com as eqs. 2.51, 2.52 e 2.53, tem-se L(t) = D(t) + W (t), sendo sim´etrico o tensor estirante, D(t) e antissim´etrico o tensor rotativo, W (t). Demonstra-se que, para todo tensor antissim´etrico W , existe um tensor ortogonal Q(t) tal que, ˙ ◦ ) = −W . para t = t◦ , tenha-se Q(t◦ ) = 1 e Q(t Certamente, a u ´ltima igualdade destacada deve tamb´em ser v´alida para este espec´ıfico ˙ T = QDQT +QW QT +QQ ˙ T = tensor Q = Q(t◦ ), situa¸c˜ao esta u ´ltima na qual QLQT +QQ D, logo T (ρ, L) = T (ρ, D), o que exige que T n˜ao dependa de W . Portanto, a aplica¸c˜ao do princ´ıpio de objetividade material exige que a eq. 4.19 se reduza a T = T (ρ, D) .

(4.21)

Ent˜ao, usando a primeira entre as duas eqs. 2.83 a eq. 4.20 se reduz a T (ρ, QDQT ) = QT (ρ, D)QT ,

(4.22)

v´alida para qualquer tensor ortogonal Q(t), quando for v´alida a eq. 4.19.

4.3

Material Simples

De acordo com o funcional existente na eq. 4.18, as hist´orias t´ermica e deformativa de qualquer parte do corpo podem afetar o comportamento presente de qualquer ponto do corpo. Entretanto, geralmente apenas as hist´orias de uma vizinhan¸ca, com dimens˜oes vari´aveis, do ponto considerado afeta de modo significativo o comportamento presente de tal ponto. Neste caso, considera-se que tais hist´orias possam ser representadas por desenvolvimentos convergentes em s´erie de Taylor, em torno do ponto considerado, ocorrendo 151


o truncamento da s´erie numa ordem tal a manter a precis˜ao desejada. Note que este procedimento mant´em completas as hist´orias de todas as partes do corpo, mas limita geometricamente a regi˜ao considerada significativa. Se apenas os termos de primeira ordem forem mantidos nas s´eries, ter-se-´a ρκ (Y) = ρκ (X) + Grad ρκ (X)(Y − X) + o(2), χκ (Y, t) = χκ (X, t) + Grad χκ (X, t)(Y − X) + o(2), θκ (Y, t) = θκ (X, t) + Grad θκ (X, t)(Y − X) + o(2). Note que: 1. Ser˜ao considerados desprez´ıveis os termos de ordem igual ou superior a dois, grafados o(2). 2. Y − X ´e o vetor posi¸c˜ao de cada um dos pontos pertencentes a Bκ , em rela¸c˜ao ao ponto X considerado, tamb´em pertencente a Bκ . Em cada uma das trˆes equa¸c˜oes do conjunto destacado, as transforma¸c˜oes lineares Grad ρκ (X), Grad χκ (X, t) e Grad θκ (X, t) s˜ao respectivamente aplicadas ao vetor posi¸c˜ao de cada ponto de Bκ , em rela¸c˜ao a X. Como a forma destas transforma¸c˜oes lineares n˜ao depende de Y e como a informa¸c˜ao sobre a geometria do corpo considerado pode ser inclu´ıda na defini¸c˜ao do funcional presente na eq. 4.18, Y pode ser omitido do argumento do funcional. 3. De acordo com a eq. 2.29, tem-se Fκ (X, t) = ∇ χκ (·, t) = Grad χκ (X, t). X 4. Define-se gκ (X, t) = ∇ θκ (X, t) = Grad θκ (X, t). X 5. Como ρκ (X) e Grad ρκ (X) s˜ao fun¸c˜oes exclusivamente de X, a presen¸ca delas no argumento do funcional que aparece na eq. 4.18 pode ser absorvida pela expl´ıcita presen¸ca de X no citado argumento. 6. De acordo com a eq. 4.1, tem-se χtκ (Y, s) = χκ (Y, t−s) = χκ (X, t−s)+Grad χκ (X, t − s)(Y − X) + o(2), onde a u ´ltima igualdade ´e devida `a segunda entre as trˆes equa¸c˜oes do conjunto destacado. Usando a mesma eq. 4.1 tem-se, ent˜ao, χtκ (Y, s) = χtκ (X, s) + Fκt (X, s), onde Fκt (X, s) = Fκ (X, t − s) = Grad χκ (X, t − s), sendo a u ´ltima igualdade devida ao anterior item 3. Analogamente, θκt (Y, s) = θκt (X, s) + gtκ (X, s), onde gtκ (X, s) = gκ (X, t − s) = Grad θκ (X, t − s), sendo a segunda igualdade devida ao anterior item 4. Portanto, a aproxima¸c˜ao de primeira ordem `a eq. 4.18 pode ser escrita Cκ (X, t) = Fκ (χtκ (X, s), Fκt (X, s), θκt (X, s), gtκ (X, s), X) ,

∀s ∈ [0, ∞) .

(4.23)

De modo an´alogo, ap´os substitui¸c˜ao de ρtκ (Y, s) por ρκ (Y) (conforme colocado imediatamente depois da eq. 4.18), a eq. 4.16 pode ser escrita Fκ (χ∗κ∗ (γ(X), t∗ − s), ∇ χ∗κ∗ (γ(·), t∗ − s), θκ (X, t − s), ∇ θκ (·, t − s), X) = X X Q∗ Fκ (χκ (X, t − s), ∇ χκ (·, t − s), θκ (X, t − s), ∇ θκ (·, t − s), X) , (4.24) X X 152


onde foi usado o fato da temperatura (se¸c˜ao 4.1), logo tamb´em o seu gradiente na descri¸c˜ao material, serem objetivos. De acordo com a eq. 2.26 e sendo a fun¸c˜ao γ definida pela segunda entre as eqs. 4.13, tem-se x = χκ (X, t − s) e x∗ = χ∗κ∗ (γ(X), t∗ − s) = χ∗κ∗ (X∗ , t∗ − s) . De acordo com a transforma¸c˜ao euclideana, a qual ´e fornecida pela eq. 2.61, a saber x∗ = Q(t)(x − x◦ ) + c(t) e t∗ = t + a, tem-se ent˜ao χ∗κ∗ (γ(X), t∗ − s) = Q(t − s)(χκ (X, t − s) − x◦ ) + c(t − s) , ∇ χ∗κ∗ (γ(·), t∗ − s) = Q(t − s)∇ χκ (·, t − s) , ou X X ∇ χ∗κ∗ (γ(·), t∗ − s) = Q(t − s)Fκ (X, t − s) X

logo

(4.25) (4.26)

χ∗ ∗ (·, t∗ − s) = Fκ∗∗ (X∗ , t∗ − s) 6= ∇ χ∗κ∗ (γ(·), t∗ − s)]. Substituindo, na X X∗ κ eq. 4.24, a eq. 4.26, bem como ∇ χκ (·, t − s) = Fκ (X, t − s), tem-se X

[note que ∇

Fκ (χ∗κ∗ (γ(X), t∗ − s), Q(t − s)Fκ (X, t − s), θκ (X, t − s), ∇ θκ (·, t − s), X) = X ∗ Q Fκ (χκ (X, t − s), Fκ (X, t − s), θκ (X, t − s), ∇ θκ (·, t − s), X) . (4.27) X Por outro lado, considerando Q(t − s) = 1 , logo Q∗ = 1 , a eq. 4.25 ser´a escrita χ∗κ∗ (γ(X), t∗ − s) = χκ (X, t − s) − x◦ + c(t − s) , que, substitu´ıda na eq. 4.27, produz Fκ (χκ (X, t − s) − x◦ + c(t − s), Fκ (X, t − s), θκ (X, t − s), ∇ θκ (·, t − s), X) = X Fκ (χκ (X, t − s), Fκ (X, t − s), θκ (X, t − s), ∇ θκ (·, t − s), X) . X Como a eq. 4.27 deve ser v´alida para qualquer transforma¸c˜ao euclideana e como x◦ ´e arbitr´ario, a u ´ltima igualdade destacada mostra que o funcional Fκ n˜ao depende do ponto x = χκ (X, t − s). Logo, a eq. 4.23, na verdade, deve ser escrita Cκ (X, t) = Fκ (Fκt (X, s), θκt (X, s), gtκ (X, s), X) ,

∀s ∈ [0, ∞),

(4.28)

enquanto que a equa¸c˜ao 4.27 deve ser escrita Fκ (Q(t − s)Fκ (X, t − s), θκ (X, t − s), ∇ θκ (·, t − s), X) = X Q∗ Fκ (Fκ (X, t − s), θκ (X, t − s), ∇ θκ (·, t − s), X) . X Usando a eq. 4.1 e o anterior item 4, a u ´ltima igualdade destacada pode ser escrita Fκ (Qt (s)Fκt (X, s), θκt (X, s), gtκ (X, s), X) = Q∗ Fκ (Fκt (X, s), θκt (X, s), gtκ (X, s), X) ,

∀s ∈ [0, ∞).

(4.29)

Note que o princ´ıpio da objetividade material n˜ao impˆos restri¸c˜ao alguma `as hist´orias t´ermicas, θκt (X, s) e gtκ (X, s), mas relacionou as hist´orias dos gradientes de deforma¸c˜ao 153


nas duas estruturas de referˆencia. Este fato ´e coerente com o comentado no in´ıcio do par´agrafo logo ap´os a eq. 4.17. Um material cujas express˜oes constitutivas dos valores das suas grandezas objetivas apresentem a forma fornecida pela eq. 4.28 ´e denominado um material simples. Um material simples ´e chamado homogˆ eneo quando existir uma espec´ıfica configura¸c˜ao de referˆencia κh , chamada configura¸c˜ ao homogˆ enea, para a qual o funcional Fκ , nas eqs. 4.28 e 4.29, n˜ao dependa explicitamente de X, ou seja, Cκh (X, t) = Fκh (Fκth (X, s), θκt h (X, s), gtκh (X, s)) ,

∀s ∈ [0, ∞).

(4.30)

Um material pode ser simples sem ser homogˆeneo e um material pode ser homogˆeneo sem ser simples. Evidentemente, um material pode ser nem simples, nem homogˆeneo e o conceito de material homogˆeneo ´e totalmente distinto do conceito de processo homogˆeneo, este u ´ltimo apresentado no par´agrafo final da subse¸c˜ao 3.3.5, sobre balanceamento de energia cin´etica.

154


Bibliografia The Mechanics and Thermodynamics of Continua, de Morton E. Gurtin, Eliot Fried e Lallit Anand, Cambridge, Cambridge, 2010. Continuum Mechanics, de I-Shih Liu, Springer, Berlim, 2002. Rational Extended Thermodynamics, de Ingo Muller e Tommaso Ruggeri, Springer, Berlim,1998. ˇ The Mechanics and Thermodynamics of Continuous Media, de Miroslav Silhav´ y, Springer, Berlim, 1997. The Non-Linear Field Theories of Mechanics, de Clifford Ambrose Truesdell e Walter Noll, Springer, Berlim, 1992. Rational Thermodynamics, de Clifford Ambrose Truesdell, Springer, Berlim, 1984. The Classical Field Theories, de Clifford A. Truesdell e R. Toupin, “Handbuch der Physik” v. III, parte 1, p. 226 – 793, Springer, Berlim, 1960.

155


´Indice Remissivo aberto, intervalo, 51 aberto, subconjunto, 51 abrangˆencia, 8 acelera¸c˜ao a(X, t) defini¸c˜ao, 95 em fun¸c˜ao da velocidade, 98 ´area, rela¸c˜ao entre daκ e da, 86, 87 autovalor defini¸c˜ao, 45 degenera¸c˜ao, 47 autovetor, 45 balanceamento cl´assico forma integral configura¸c˜ao corrente, 112 configura¸c˜ao referencial, 118 base campo de, 67 com orienta¸c˜ao igual, 37 com orienta¸c˜ao oposta, 37 de espa¸co vetorial de trans. linear, 13 defini¸c˜ao, 8 dual defini¸c˜ao, 11 fun¸c˜oes gi j e g i j , 11 representa¸c˜ao, 12 matriz de transforma¸c˜ao de, 22 natural defini¸c˜ao, 67 dual, 68 orientada positivamente, 37 ortogonal, 12 ortonormal defini¸c˜ao, 12 dual, 12 representa¸c˜ao para vetor de, 12 principal, 46 produto, 14 produto interno gi j de vet. de, 10, 11 produto interno g i j de vetores de, 11

representa¸c˜ao para vetor de, 8 Bernouilli, teorema de, 132 calor condutivo superficial h, 136 suprimento de, r, 136 caminho, 95 campo b´asico, 146 de bases, 67 de pontos, 54 defini¸c˜ao, 54 escalar, 54 gradiente de, 54 tensorial de segunda ordem, 54 vetorial, 54 Cauchy primeira lei de, 131 princ´ıpio de, 129 segunda lei de, 132 tensor de tra¸c˜ao de componentes de cisalhamento do, 129 componentes normais do, 129 defini¸c˜ao, 129 dire¸c˜ao principal do, 132 tra¸c˜ao principal do, 132 teorema de, 129 Christoffel s´ımbolo de segunda esp´ecie de, 72 s´ımbolos de, 71 cisalhamento quantidade de, 89 simples, 89 classe C k , 64 conceito, 36 de orienta¸c˜ao oposta, 36 de orienta¸c˜ao positiva, 36 euclideana, 106 coment´ario 156


1.2.1 (espa¸co vetorial real com produto interno), 9 1.2.2 (imposi¸c˜ao aos esp. vetoriais), 9 1.2.3 (igualdade entre vetores), 10 1.2.4 (decomposi¸c˜ao do produto interno de vetores), 10 1.2.5 (obten¸c˜ao de componente), 10 1.2.6 (fun¸c˜oes gi j e g i j ), 11 1.2.7 (base ortonormal dual), 12 1.2.8 (decomposi¸c˜ao de transforma¸c˜ao linear), 13 1.2.9 (dimens˜ao de espa¸co de transforma¸c˜ao linear), 13 1.2.10 (c´alculo de componente assoc. de tensor de segunda ordem), 14 1.2.11 (componente associado de tensor simples), 15 1.2.12 (transforma¸c˜ao escalar bilinear e tensor de segunda ordem), 16 1.2.13 (componente assoc. do tensor identidade), 17 1.2.14 (gi j ou g i j aplicado a componente de tensor), 18 1.2.15 (transpos. de tensor simples), 18 1.2.16 (transpos. de tensor de segunda ordem), 18 1.2.17 (transpos. de tensores sim´etrico e antissim´etrico), 20 1.2.18 (compos. com tens. simples), 21 1.2.19 (transposi¸c˜ao de composi¸c˜ao), 21 1.2.20 (transforma¸c˜ao de componentes de vetor), 24 1.2.21 (transforma¸c˜ao de componentes de tensor), 25 1.2.22 (redu¸c˜ao no n´ umero de permuta¸c˜oes distingu´ıveis), 26 1.2.23 (fun¸c˜ao n-linear alternante e base de esp. vet. - parte I), 26 1.2.24 (fun¸c˜ao n-linear alternante e base de esp. vet. - parte II), 27 1.2.25 (fun¸c˜ao n-linear alternante e base de esp. vet. - parte III), 28 1.2.26 (rela¸c˜ao entre determinante de transf. linear e de matriz), 29 1.2.27 (propriedades de determinantes parte I), 29 1.2.28 (rela¸c˜ao entre tra¸co de transforma¸c˜ao linear e de matriz), 31 157

1.2.29 (propriedades de tra¸cos), 31 1.2.30 (propriedades de determinantes parte II), 32 1.2.31 (propriedades do produto interno tensorial), 33 1.2.32 (propried. do tensor inverso), 34 1.2.33 (propriedades de tensor ortogonal), 35 1.2.34 (propriedades do s´ımbolo de permuta¸c˜ao), 38 1.2.35 (propriedades dos componentes do tensor e), 39 1.2.36 (produto externo como base para Skw (V )), 41 1.2.37 (propriedades do vetor axial), 43 1.2.38 (propriedades do produto vetorial), 44 1.2.39 (determinante, tra¸co e produto triplo), 45 1.2.40 (equa¸c˜oes caracter´ısticas de tensores de dimens˜ao 2 e 3), 46 1.2.41 (rela¸c˜ao entre A e 1 + A), 46 1.2.42 (diagonaliza¸c˜ao), 46 1.2.43 (componente vetorial em rela¸c˜ao a tensor sim´etrico), 47 1.2.44 (comuta¸c˜ao de tensores sim´etrico e ortogonal), 48 1.2.45 (determinante de tensor sim. de defini¸c˜ao positiva ou negativa), 48 1.2.46 (decomposi¸c˜ao cartesiana), 50 1.3.1 (gradientes de φ, sendo φ(A, v) = v · A(v)), 58 1.3.2 (gradiente de φ, sendo φ(A) = u · A(v)), 59 1.3.3 (gradiente de tra¸co), 59 1.3.4 (gradiente de determinante), 60 1.3.5 (diferencia¸c˜ao em cadeia), 61 1.3.6 (gradientes escalar e vetorial em campo vetorial), 61 1.3.7 (diferencia¸c˜ao de produto), 62 1.3.8 (diferencia¸c˜ao de tensor ao quadrado), 63 1.3.9 (diferenc. de tensor inverso ), 63 1.3.10 (diferencia¸c˜ao de tra¸co de tensor inverso ), 63 1.3.11 (f´ormulas para diferencia¸c˜ao de produtos), 63


1.3.12 (derivada e gradiente de ordem corpo B do espa¸co-tempo de Newton, 82 corre¸ca˜o de argumento superior), 64 escalar, 51, 53 1.3.13 (gradiente de gradiente de campo gen´erico, 58 escalar), 65 vetorial ou tensorial, 56 1.3.14 (tensor m´etrico e base natural vetorial para ponto, 55 dual), 67 1.3.15 (transforma¸c˜ao de sistema de codefini¸c˜ao ordenadas), 68 1.1.1 (fun¸c˜ao e funcional), 1 1.3.16 (deforma¸c˜ao em termos de coor1.1.2 (matriz), 4 denadas), 69 1.1.3 (delta de Kronecker), 6 1.3.17 (derivada covar. de 1 e de e), 74 1.1.4 (matrizes transposta e inversa), 6 1.3.18 (propriedades do s. de Christoffel j 1.2.1 (espa¸co vetorial real), 8 Γi k ), 75 1.2.2 (base), 8 1.3.19 (rotacional e divergˆencia de cam1.2.3 (componente), 9 po vetorial), 76 1.2.4 (dimens˜ao de esp. vetorial real), 9 1.3.20 (express˜oes para divergˆencia e la1.2.5 (produto interno de vetores), 9 placiano), 78 1.2.6 (espa¸co vetorial euclideano), 9 compatibilidade cinem´atica da superf´ıcie 1.2.7 (vetor proje¸c˜ao), 9 singular, condi¸c˜ao de, 122 1.2.8 (base dual), 11 composi¸c˜ao 1.2.9 (base ortonormal), 12 de fun¸c˜oes, 2 1.2.10 (transforma¸c˜ao n-linear), 12 de tensores de segunda ordem 1.2.11 (espa¸co vetorial de transformacom tensor simples, 21 ¸c˜ao linear), 13 defini¸c˜ao, 20 1.2.12 (produto tensorial de vetores ou transposi¸c˜ao de, 21 tensor simples), 13 configura¸c˜ao 1.2.13 (espa¸co de produto tensorial), 14 corrente, 83 1.2.14 (tensor de segunda ordem), 14 defini¸c˜ao, 82 1.2.15 (componente associado de tensor homogˆenea, 154 de segunda ordem), 14 referencial 1.2.16 (transforma¸c˜ao tensorial identidefini¸c˜ao, 82 dade), 17 mudan¸ca de, 87 1.2.17 (transforma¸c˜ao linear transposconservativa, grandeza, 113 ta), 17 constitutiva, grandeza, 146 1.2.18 (tensores sim´etrico e antissim´econstitutivo, funcional, 3, 146 trico), 19 continuidade 1.2.19 (composi¸c˜ao de tensores de seem <, 8 gunda ordem), 20 em espa¸co 1.2.20 (tensor de ordem k), 21 euclideano de pontos, 50 1.2.21 (matrizes de transforma¸c˜ao), 22 vetorial, 8 1.2.22 (permuta¸c˜ao), 25 coordenada 1.2.23 (fun¸c˜ao n-linear alternante), 26 i-´esima fun¸c˜ao, 66 1.2.24 (determinante de transforma¸c˜ao corrente, 83 linear), 27 curva da i-´esima, 66 1.2.25 (determinante de matriz), 28 defini¸c˜ao, 66 1.2.26 (tra¸co de transform. linear), 30 material, 83 1.2.27 (produto interno de tensores de referencial, 83 segunda ordem), 33 sistema de, 66 158


1.2.28 (norma de tensor de segunda ordem), 33 1.2.29 (tensor inverso de segunda ordem), 34 1.2.30 (tensor ortogonal de segunda ordem), 34 1.2.31 (grupo de tensores de segunda ordem), 35 1.2.32 (classe e base de orienta¸cËœao positiva), 36 1.2.33 (transforma¸cËœao linear orienta¸cËœao preservante), 37 1.2.34 (fun¸cËœao e tensor elemento de volume), 37 1.2.35 (rela¸cËœao entre tensor e e determinante), 41 1.2.36 (produto externo de vetores), 41 1.2.37 (fun¸cËœao linear dualidade), 42 1.2.38 (produto vetorial), 43 1.2.39 (produto triplo), 44 1.2.40 (autovalor e autovetor), 45 1.2.41 (equa¸cËœao caracter´Ĺstica), 45 1.2.42 (espa¸co caracter´Ĺstico), 47 1.2.43 (tensor de defini¸cËœao positiva, negativa e semi-defini¸cËœao), 48 1.2.44 (espa¸co euclideano de pontos), 50 1.2.45 (espa¸co tangente), 50 1.3.1 (subconjunto aberto), 51 1.3.2 (derivada escalar em escalar), 51 1.3.3 (derivada vetorial, tensorial ou de pontos, em escalar), 52 1.3.4 (campo), 54 1.3.5 (gradiente de campo escalar, vetorial, tensorial ou de pontos), 54 1.3.6 (gradiente esc., vet., tens. ou de pontos, em vetor ou tensor), 56 1.3.7 (classe C k ), 64 1.3.8 (sistema de coordenadas), 66 1.3.9 (campo de bases), 67 1.3.10 (componen. de gradiente de campo), 70 1.3.11 (divergˆencia de campo vet.), 75 1.3.12 (rotacional de campo vet.), 76 1.3.13 (divergˆencia de campo tens.), 77 1.3.14 (laplaciano de campo escalar ou vetorial), 78 deforma¸cËœao defini¸cËœao, 54, 83

fun¸cËœao de, 83 gradiente de, 69 gradiente, F , de, 83, 95 relativa defini¸cËœao, 99 gradiente, Ft , de, 99 degenera¸cËœao, 47 delta de Kronecker, 6 derivada covariante de campo escalar, 71 de campo tensorial de seg. ordem, 73 de campo vetorial, 73 direcional em escalar, 52, 53 em ponto, 56 em vetor ou tensor, 56 gen´erica, 58 escalar em escalar, 51 vetorial, tensorial ou pontual em escalar, 52 descri¸cËœao espacial ou euleriana, 96 material, referencial ou lagrangeana, 96 determinismo, princ´Ĺpio de, 146 diferencia¸cËœao em cadeia, regra de, 61 diferenciais, equa¸cËœao definidora, 84 dimensËœao de espa¸co de transforma¸cËœao linear, 13 de Skw (V ), 41 de espa¸co vetorial real, 9 representa¸cËœao, 9 dire¸cËœoes principais, 88 divergˆencia de campo tensorial, 77 de campo vetorial, 75 Einstein, nota¸cËœao de, 3 energia cin´etica K, 133 interna E, defini¸cËœao, 135 densidade m´assica , 135 total, 135 equa¸cËœao 2.1, 82 equa¸cËœao 2.2, 83 equa¸cËœao 2.3, 83 equa¸cËœao 2.4, 83

159


equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao

2.5, 83 2.6, 83 2.7, 84 2.8, 84 2.9, 87 2.10, 87 2.11, 87 2.12, 88 2.13, 88 2.14, 89 2.15, 89 2.16, 89 2.17, 89 2.18, 90 2.19, 90 2.20, 90 2.21, 90 2.22, 91 2.23, 91 2.24, 93 2.25, 94 2.26, 95 2.27, 95 2.28, 95 2.29, 95 2.30, 96 2.31, 97 2.32, 97 2.33, 98 2.34, 98 2.35, 98 2.36, 98 2.37, 98 2.38, 99 2.39, 99 2.40, 99 2.41, 99 2.42, 99 2.43, 99 2.44, 100 2.45, 100 2.46, 101 2.47, 101 2.48, 101 2.49, 102 2.50, 102 2.51, 102 2.52, 103

equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao 160

2.53, 103 2.54, 103 2.55, 103 2.56, 103 2.57, 103 2.58, 103 2.59, 103 2.60, 103 2.61, 104 2.62, 104 2.63, 105 2.64, 105 2.65, 105 2.66, 105 2.67, 106 2.68, 106 2.69, 106 2.70, 107 2.71, 107 2.72, 107 2.73, 107 2.74, 107 2.75, 108 2.76, 108 2.77, 108 2.78, 108 2.79, 109 2.80, 109 2.81, 109 2.82, 109 2.83, 110 2.84, 110 2.85, 110 2.86, 110 2.87, 110 2.88, 111 2.89, 111 2.90, 111 3.1, 112 3.2, 113 3.3, 114 3.4, 114 3.5, 114 3.6, 114 3.7, 115 3.8, 115 3.9, 115 3.10, 116


equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao

3.11, 3.12, 3.13, 3.14, 3.15, 3.16, 3.17, 3.18, 3.19, 3.20, 3.21, 3.22, 3.23, 3.24, 3.25, 3.26, 3.27, 3.28, 3.29, 3.30, 3.31, 3.32, 3.33, 3.34, 3.35, 3.36, 3.37, 3.38, 3.39, 3.40, 3.41, 3.42, 3.43, 3.44, 3.45, 3.46, 3.47, 3.48, 3.49, 3.50, 3.51, 3.52, 3.53, 3.54, 3.55, 3.56, 3.57, 3.58,

116 117 117 117 117 118 118 118 119 120 120 120 120 121 121 121 122 122 122 122 122 122 123 123 123 124 124 124 126 126 126 126 126 126 127 127 127 127 128 128 128 128 128 129 129 129 129 129

equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao equa¸c˜ao 161

3.59, 131 3.60, 131 3.61, 131 3.62, 131 3.63, 131 3.64, 132 3.65, 132 3.66, 132 3.67, 132 3.68, 132 3.69, 132 3.70, 133 3.71, 133 3.72, 133 3.73, 134 3.74, 134 3.75, 134 3.76, 134 3.77, 134 3.78, 135 3.79, 135 3.80, 135 3.81, 136 3.82, 136 3.83, 136 3.84, 136 3.85, 136 3.86, 137 3.87, 137 3.88, 137 3.89, 137 3.90, 137 3.91, 138 3.92, 138 3.93, 139 3.94, 139 3.95, 139 3.96, 139 3.97, 139 3.98, 139 3.99, 139 3.100, 140 3.101, 140 3.102, 140 3.103, 140 3.104, 140 3.105, 141 3.106, 141


equa¸c˜ao 3.107, 141 equa¸c˜ao 3.108, 141 equa¸c˜ao 3.109, 142 equa¸c˜ao 3.110, 142 equa¸c˜ao 3.111, 144 equa¸c˜ao 4.1, 146 equa¸c˜ao 4.2, 146 equa¸c˜ao 4.3, 147 equa¸c˜ao 4.4, 147 equa¸c˜ao 4.5, 147 equa¸c˜ao 4.6, 148 equa¸c˜ao 4.7, 148 equa¸c˜ao 4.8, 148 equa¸c˜ao 4.9, 149 equa¸c˜ao 4.10, 149 equa¸c˜ao 4.11, 149 equa¸c˜ao 4.12, 149 equa¸c˜ao 4.13, 149 equa¸c˜ao 4.14, 149 equa¸c˜ao 4.15, 150 equa¸c˜ao 4.16, 150 equa¸c˜ao 4.17, 150 equa¸c˜ao 4.18, 150 equa¸c˜ao 4.19, 150 equa¸c˜ao 4.20, 151 equa¸c˜ao 4.21, 151 equa¸c˜ao 4.22, 151 equa¸c˜ao 4.23, 152 equa¸c˜ao 4.24, 152 equa¸c˜ao 4.25, 153 equa¸c˜ao 4.26, 153 equa¸c˜ao 4.27, 153 equa¸c˜ao 4.28, 153 equa¸c˜ao 4.29, 153 equa¸c˜ao 4.30, 154 equa¸c˜ao caracter´ıstica, 45 da continuidade, 126 de campo, 116 de Rankine-Hugoniot, 117 definidora de diferenciais, 84 do movimento, 131 escoamento newtoniano, 101 espa¸co-tempo de Newton W, 82 espacial, descri¸c˜ao, 96 espa¸co de transla¸c˜ao, 50 euclideano de pontos de dimens˜ao n

defini¸c˜ao, 50 ponto regular, 64 ponto singular, 64 regi˜ao regular, 64 superf´ıcie seccionalmente suave, 64 isom´orfico, 51 normatizado, 52 tangente, 51 vetorial real caracter´ıstico, 47 com produto interno, 9 de dimens˜ao finita, 9 defini¸c˜ao, 8 euclideano, defini¸c˜ao, 9 euclideano, impos. subentend., 9 estiramentos principais, 88 estrutura referencial de Newton φ, 82 indiferen¸ca `a, ou invariˆancia `a mudan¸ca de, 106 inercial, 127 Euler, leis de, 127 euleriana, descri¸c˜ao, 96 fluxo convectivo, 116 mecˆanico-cl´assico Φψ , 112 mecˆanico-estat´ıstico, 112 t´ermico q, 136 t´ermico material q κ , 140 for¸ca corporal f b , 128 corporal aparente, suprimento b+i, 144 corporal, suprimento b, 128 de contato f c , 128 defini¸c˜ao, 127 inercial, suprimento i, 144 Fourier-Stokes, princ. de fluxo t´ermico, 136 fronteira adiab´atica, 141 defini¸c˜ao, 141 fixa, 141 livre, 141 fun¸c˜ao argumento, 2 bilinear, 9 composi¸c˜ao de, 2 coordenada, i-´esima, 66 162


de fun¸c˜ao, 2 de defini¸c˜ao positiva, 9 de deforma¸c˜ao, 83 de um para um em D, 2 defini¸c˜ao, 2 distˆancia, 50 elemento de, 2 imagem defini¸c˜ao, 2 representa¸c˜ao, 2 inversa em D, 2 invert´ıvel em D, 2 linear dualidade, 42 induzida, 105 n-linear alternante defini¸c˜ao, 26 elemento de volume, defini¸c˜ao, 37 elemento de volume, rela¸c˜ao com determinante, 41 n˜ao trivial, defini¸c˜ao, 26 n˜ao trivial, equivalente, 36 paralelismo euclideano, 51 representa¸c˜ao, 2 sim´etrica, 9 suave, 64 temporal, hist´oria de, 146 transla¸c˜ao paralela, 51 funcional constitutivo, 3, 146 defini¸c˜ao, 2 universal, 3

independˆencia linear, 8 intervalo aberto, 51 fechado abaixo, 51 abaixo e acima, 51 acima, 51 invariantes principais, 45 lagrangeana, descri¸c˜ao, 96 Laplace, f´ormula de, 114 laplaciano de campo escalar, 78 de campo vetorial, 78 lei(s) cl´assica de conserva¸c˜ao da energia total, 136 da massa, 124 defini¸c˜ao, 113 do momento angular, 132 do momento linear, 131 de Cauchy primeira, 131 segunda, 132 de Euler, 127 fundamentais da dinˆamica, 127 local, 97

massa densidade volum´etrica de, 123 distribui¸c˜ao de, 123 escalar, 123 material descri¸c˜ao, 96 gradiente regi˜ao de campo escalar, vetorial, tensorial ou defini¸c˜ao, 112 de pontos, 54 isolada, 113 de deforma¸c˜ao F , 83, 95 medida de, 123 de deforma¸c˜ao relativa Ft , 99 simples escalar, vetorial, tensorial ou de pontos, defini¸c˜ao, 154 em vetor ou tensor, 56 homogˆeneo, 154 espacial de velocidade, 98 superf´ ıcie, 112 material de velocidade, 98 matriz grandeza antissim´etrica, 7 conservativa, 113 de transforma¸c˜ao de base, 22 constitutiva, 146 defini¸c˜ao, 4 determinante de, 28 hist´oria de fun¸c˜ao temporal, 146 inversa, 7 incompress´ıvel, movimento, 114 163


observador de Newton φ, 82

inversa transposta, 7 ortogonal, 7 sim´etrica, 7 singular, 7 tra¸co de, 31 transposta, 6 meio cont´ınuo, teoria para, 125 momento angular, 127 linear, 127 movimento defini¸c˜ao, 94 harmˆonico, 99 incompress´ıvel, 114 r´ıgido, 99 representa¸c˜ao por deforma¸c˜ao, 95 n-upla, 1 Newton escoamento de, 101 espa¸co-tempo, W, de corpo, B, pertencente ao, 82 defini¸c˜ao, 82 estrut. refer., ou observador, φ, de, 82 nota¸c˜ao 1.1.1 (s´ımbolos), 1 1.1.2 (Einstein), 3 1.2.1 (produto interno de vetores de base gi j ), 10 1.2.2 (base dual), 12 1.2.3 (espa¸co de transform. linear), 12 1.2.4 (tensor de segunda ordem como uma matriz), 15 1.2.5 (subespa¸cos sim´etrico e antissim´etrico), 19 1.2.6 (aplica¸c˜ao de tensor a tensor), 33 1.2.7 (subespa¸co invert´ıvel), 34 1.2.8 (grupos especiais), 35 1.2.9 (vetor associado a tensor antissim´etrico), 42 1.2.10 (tensor raiz quadrada), 49 1.3.1 (derivada e gradiente generalizados), 57 1.3.2 (derivada covariante), 74

permuta¸c˜ao defini¸c˜ao, 25 distingu´ıvel, 26 ´ımpar, 25 par, 25 s´ımbolo de, 38 sinal de, 25 Piola-Kirchoff, tensor de tra¸c˜ao de, 139 ponto regular, 64 singular, 64 potˆencia cin´etica ˙ defini¸c˜ao, 134 K, sem potˆencia mecˆanica K˙ P =0 , 135 mecˆanica P , 134 t´ermica, 137 total, 135 press˜ao hidrost´atica, 130 processo homogˆeneo defini¸c˜ao, 135 primeira lei da termodinˆamica, 138 produto externo de vetores como base para Skw (V ), 41 defini¸c˜ao, 41 vetor associado a, 43 interno de tens. de segunda ordem, 33 interno de vetores de base em esp. vet. eucl., gi j , 10, 11 de base em esp. vet. eucl., g i j , 11 decomposi¸c˜ao em esp. vet. eucl., 10 defini¸c˜ao, 9 representa¸c˜ao em esp. vet. eucl., 9 ordin´ario de tensores de segunda ordem, veja composi¸c˜ao tensorial de vetores defini¸c˜ao, 13 espa¸co de, 14 triplo, 44 vetorial, 43

referencial, descri¸c˜ao, 96 objetividade material, princ´ıp. de, 146, 147 regi˜ao material defini¸c˜ao, 112 objetivo, 106 isolada, 113 observ´avel, 106 164


regular ponto, 64 regi˜ao, 64 rela¸c˜ao de equivalˆencia, 36 representa¸c˜ao de campo dos n´ umeros reais, 1 escalar, 1 matriz identidade, 1 tensor, 1 tensor identidade, 1 vetor, 1 rotacional de campo vetorial, 76, 77 s´ımbolo de Christoffel de seg. esp´ecie, 72 s´ımbolos de Christoffel, 71 matem´aticos da mecˆanica dos meios cont´ınuos, 97 gerais, 1 simetria material, princ´ıpio de, 146 suave fun¸c˜ao, 64 superf´ıcie seccionalmente, 64 subconjunto aberto, 51 superf´ıcie material, 112 singular, condi¸c˜ao de compatibilidade cinem´atica da, 122 suprimento de calor r, 136 de for¸ca corporal b, 128 de for¸ca corporal aparente b + i, 144 de for¸ca inercial i, 144 mecˆanico-cl´assico σψ , 112 mecˆanico-estat´ıstico, 112 temperatura, 145 tensor de cisalhamento puro, 130 de ordem k defini¸c˜ao, 21 e transforma¸c˜ao escalar k-linear, 21 de press˜ao hidrost´atica, 130 de Rivlin-Ericksen, 103 de rota¸c˜ao R, 87 e componentes, 93 infinitesimal R, e defini¸ infinitesimal R, c˜ao, 91 165

relativa Rt , 102 de segunda ordem antissim., representa¸c˜ao espa¸co de, 19 antissim´etrico, vetor associado a, 42 antissim´etrico, defini¸c˜ao, 19 antissim´etrico, transposi¸c˜ao de, 20 aplica¸c˜ao gi j ou g i j a componente, 18 autovalor de, 45 autovetor de, 45 c´alculo de componente associado, 14 componente assoc. contravariante, 14 componente assoc. covariante, 14 componente assoc. misto, 14 componente, transforma¸c˜ao de, 25 composi¸c˜ao, 20 de defini¸c˜ao negativa, 48 de defini¸c˜ao positiva, 48 de semi-defini¸c˜ao negativa, 48 de semi-defini¸c˜ao positiva, 48 defini¸c˜ao, 14 defini¸c˜ao de componente assoc., 14 e transforma¸c˜ao escalar bilinear, 17 equa¸c˜ao caracter´ıstica de, 45 espa¸co caracter´ıstico de, 47 grupo linear especial SL(V ), 36 grupo linear geral GL(V ), 36 grupo ortogonal O, 36 grupo ortogonal pr´oprio O+ , 36 grupo rotacional O+ , 36 grupo unimodular U, 36 grupo, defini¸c˜ao, 35 invariantes principais de, 45 inverso, 34 inverso transposto, 34 invert´ıvel ou n˜ao singular, 34 norma, 33 orienta¸c˜ao preservante, 37 ortogonal impr´oprio, 35 ortogonal pr´oprio, 35 ortogonal, defini¸c˜ao, 34 produto interno de, 33 raiz quadrada, 49 representa¸c˜ao matricial, 15 sim´etrico, defini¸c˜ao, 19 sim´etrico, representa¸c˜ao espa¸co de, 19 sim´etrico, transposi¸c˜ao de, 20 singular, 34 transposi¸c˜ao, 18


unimodular, 36 de tens˜ao ou compress˜ao pura, ou uniaxial, 130 de tra¸c˜ao corrente e, 90 de Almansi - Hamel e, 90 de Cauchy - Green direito C, 88 de Cauchy - Green esquerdo B, 88 de Cauchy, compon. normais do, 129 de Cauchy, componentes de cisalhamento do, 129 de Cauchy, defini¸c˜ao, 129 de Cauchy, dire¸c˜ao principal do, 132 de Cauchy, tra¸c˜ao principal do, 132 de Green - St. Venant E, 89 de Piola-Kirchoff, 139 e componentes, 93 infinitesimal E, e defini¸ infinitesimal E, c˜ao, 90 planar, 130 referencial E, 89 relativa Cauchy - Green direi. Ct , 102 relativa Cauchy - Green esqu. Bt , 102 direito de estiramento U , 87 estiramento relativo Ut , 102 elemento de volume defini¸c˜ao, 38 rela¸c˜ao com determinante, 41 esquerdo de estiramento V , 87 estiramento relativo Vt , 102 estirante, 103 gradiente de deforma¸c˜ao F , 83, 95 de deforma¸c˜ao relativa Ft , 99 espacial de deslocamento h, 90 espacial de velocidade, 98 material de velocidade, 98 referencial de deslocamento H, 90 identidade componente associado, 17 defini¸c˜ao, 17 m´etrico, 67 momento angular, 127 rotativo, 103 simples componentes associados, 16

componentes associados em base ortonormal, 16 composi¸c˜ao, 21 defini¸c˜ao, 13 representa¸c˜ao matricial, 16 transposi¸c˜ao, 18 torque, 127 velocidade angular Ω , 107 teorema 1.2.1 (base de espa¸co vetorial de transforma¸c˜ao linear), 13 1.2.2 (unicidade da propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes n-lineares alternantes), 26 1.2.3 (dependˆencia da propor¸c˜ao entre fun¸c˜oes n-lineares alternantes), 27 1.2.4 (condi¸c˜ao necess´aria e suficiente de autovalor), 45 1.2.5 (Cayley-Hamilton: tensor satisfaz sua equa¸c˜ao caracter´ıstica), 46 1.2.6 (espectral: autovalores de tensor sim´etrico), 46 1.2.7 (comuta¸c˜ao de composi¸c˜ao de tensores), 47 1.2.8 (tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa), 48 1.2.9 (quadrado de tensor sim´etrico de defini¸c˜ao positiva ou negativa), 48 1.2.10 (decomposi¸c˜ao polar), 49 1.3.1 (fun¸c˜ao inversa), 66 1.3.2 (base de espa¸co tangente), 66 1.3.3 (divergˆencia), 81 1.3.4 (fun¸c˜ao identicam. nula em E), 81 torque, 127 tra¸c˜ao de cisalhamento, 129 normal, 129 superficial t, 128 trajet´oria, 95 transforma¸c˜ao n-linear base de espa¸co vetorial de, 13 decomposi¸c˜ao, 13 defini¸c˜ao, 12 determinante de, 27 dimens˜ao de espa¸co de, 13 escalar e tensor de ordem k, 21 escalar e tensor de segunda ordem, 17 espa¸co vetorial de, 13

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ortogonal, 10 produto vetorial, 43 proje¸c˜ao, 10 torque, 127 tra¸c˜ao de cisalhamento, 129 normal, 129 superficial t, 128 unidade defini¸c˜ao, 9 velocidade v(X, t) numa dire¸c˜ao, 10 defini¸c˜ao, 95 ⊥ superf´ıcie, eκ e e, 86 gradiente espacial de, 98 representa¸c˜ao, 9 gradiente material de, 98 velocidade v(X, t), 95 velocidade angular Ω , 107 velocidade local de propaga¸c˜ao U ± , 117 ± velocidade local de propaga¸c˜ao U , 117 vorticidade, 103 vetor volume acelera¸c˜ao a(X, t) elemento de defini¸c˜ao, 95 defini¸c˜ao, 37 em fun¸c˜ao da velocidade, 98 rela¸c˜ao com determinante, 41 ˆangulo, 9 rela¸c˜ao entre dvκ e dv, 87 assoc. a produto externo de vetores, 43 vorticidade, 103 associado a tensor antissim´etrico, 42 axial, 42 componente contravariante, 11 covariante, 11 defini¸c˜ao, 9 obten¸c˜ao, 11 transforma¸c˜ao de, 24 comprimento, 9 deslocamento u, 90 diferen¸ca, 50 dire¸c˜ao, 10 fluxo t´ermico q, 136 fluxo t´ermico material q κ , 140 for¸ca corporal f b , 128 corporal aparente, suprim. b + i, 144 corporal, suprimento b, 128 de contato f c , 128 defini¸c˜ao, 127 inercial, suprimento i, 144 igualdade de, 10 momento angular, 127 linear, 127 norma, 9 orienta¸c˜ao preservante, 37 representa¸c˜ao para espa¸co de, 12 tra¸co de, 30 transposta, 17 euclideana, 104 galileiana, 108 r´ıgida independente do tempo, 108 transporte, teorema de, 113 transposi¸c˜ao, 25

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