Folhetim Lorenianas - 2019

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FOLHETIM

LORENIANAS

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ÍNDICE Apresentação ....................................................................5 Resenhas ...........................................................................9 Entrevista com Júnia, filha de Ruth Guimarães .....10 Filatelia no Unifatea ...............................................14 Um pouco sobre a história: Museu Major Novaes........................................................................................15 Viajantes do Vale do Paraíba do Século XIX...........17 Casa da Cultura: Solar Conde de Moreira Lima...... 19 UNIFATEA comemora 65 anos.................................20 Textos Gerais......................................................................23 Coringa, o Cobrador.................................................24 Empatia como pedagogia........................................26 Editora Lunática Valeparaibana..............................28 Eic em Foco........................................................................31 Eic em foco, por Alana e Maria Paula.....................32 Eic em foco, por Carlos Antônio..............................34 Eic em foco, por João Gabriel..................................35 Contos/Ficção....................................................................39 Selos sob o olhar de Chronos..................................40 Um Ipê......................................................................44 Cartas de Areias......................................................46 A Grande Roda.........................................................48 Papel Jussá!.............................................................50 Poemas...............................................................................55 À Mestre...................................................................56 2


Leonor......................................................................57 Sobra Silábica.........................................................58 O Que É Cultura?.....................................................59 O Vale......................................................................60 Créditos............................................................................. 62

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APRESENTAÇÃO A edição do Folhetim Lorenianas de 2019 foi resultado de textos produzidos pelos alunos do 2º Ano (4º Período) do curso de Letras do Unifatea. Dividido em cinco seções, o Folhetim contemplou na seção “Resenhas” eventos que ocorreram dentro do Unifatea, além de outros em cidades próximas, todos visando um panorama da produção cultural da região de Lorena. Uma segunda seção cuidou de temas gerais, desde dicas de editoras a reflexões sobre a situação da educação em sala de aula, e até mesmo uma breve análise aproximando o filme Coringa (2019) à obra do escritor brasileiro Rubem Fonseca. Outra seção apresentou, por parte dos alunos, um panorama do XVI Encontro de Iniciação Científica, EIC 2019, que aconteceu no Unifatea no mês de novembro, ali o leitor encontrará um pouco da pesquisa acadêmica divulgada no evento sob o olhar crítico dos alunos. Outras duas seções serviram de espaço para a produção criativa dos alunos, uma vinculada à ficção (contos, cartas fictícias), e outra à poesia. Na primeira, cinco nar5


rativas produzidas pelos alunos mostram a capacidade de aliar conhecimento à criatividade, pois alguns textos nascem dos estudos ou eventos dos quais os alunos participaram. A seção dos poemas também é um belo convite para a leitura do lirismo introjetado nos alunos, valendo ressaltar os dois belos poemas dedicados à professora Leonor Gayean (Unifatea). Por fim, convidamos os leitores para que aproveitem os textos, aprendendo, emocionando-se e divertindo-se, e que esta publicação possa fazer jus a cultura de nossa região. João Francisco Junqueira

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RESENHAS “Eventos que ocorreram dentro do Unifatea, além de outros em cidades próximas, todos visando um panorama da produção cultural da região de Lorena.”

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ENTREVISTA COM JÚNIA, FILHA DE RUTH GUIMARÃES “ C OM P RE L I V ROS , C O M P R E CAIXINHA D E M Ú SI CA, É MAI S I M P O RTANTE A L I M E NTAR A AL MA D O Q U E O COR PO”

Ruth Guimarães nasceu em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, em 13 de junho de 1920. Apesar de não ter o Ensino Médio completo, prestou o vestibular por meio de uma cláusula que dizia que se alguém possuísse uma obra de nível nacional poderia fazer o vestibular. Então, passou no vestibular da USP, e estudou Letras Clássicas, foi professora e 10

tradutora do francês, latim, inglês e do grego. Casou-se com José Botelho Neto, artisticamente conhecido como Botelho Neto, e apelidado de Zizinho. Foi um fotógrafo muito conhecido na região, fez Linguística no UNIFATEA e também foi professor e fundador do laboratório de fotografia da faculdade. Eles tiveram nove filhos: Marta, Antônio José, Rubem, Joaquim Ma-

ria, Judá, Marcos, Rovana, Olavo e Júnia. No dia 28 de setembro ocorreu o Clube de Leitura na Casa da Ruth, em Cachoeira Paulista, e alguns alunos do curso de Letras do Unifatea compareceram para conversar com a filha da Ruth, Júnia Botelho. UNIFATEA: Há algum personagem da sua mãe que foi inspirado nos seus irmãos? Ou alguma característica de algum personagem? JUNIA: Minha mãe se inspirou em personagens reais que observava e absorvia. Mas nenhum deles


foram seus filhos. Ela quis escrever a história de Rovana, mas já estava muito velha e passou a bola para o Joaquim, que publicou o Livro de Rovana. UNIFATEA: Você lembra como foi a reação do seu pai ou dos seus irmãos quando sua mãe começou a fazer sucesso como escritora? JUNIA: Meu pai foi um grande admirador de Ruth Guimarães. Assim como nós, seus filhos. Mas ela era tão tranquila, tão simples, tão desapegada e desencanada, que não conhecíamos as “entrelices”. Não tínhamos a mídia atrás de nós, nem sabíamos que ser escritor era uma coisa importante.

UNIFATEA: Será que quando Ruth começou a escrever não achou que faria tanto sucesso? JUNIA: No primeiro livro ela já fez muito sucesso, o público teve uma reação muito boa. Ela era parceira de Guimarães Rosa e o Audálio Dantas que fazia as fotos e o trabalho jornalístico. Nunca subiu a cabeça de minha mãe ser escritora e nunca ganhou dinheiro com isso. UNIFATEA: Como foi sua infância sendo filha de Ruth Guimarães? JUNIA: Minha mãe não ligava para essas coisas de fama, você vinha aqui em casa ela estava de chinelo ou pantufa e um coque muito

mal feito (risos). Ela dava todos os livros dela, não tinha nenhum em casa. Nós não tínhamos água corrente e nem luz elétrica, íamos buscar água na mina para esquentar no fogão à lenha. Nós éramos pobres, mas não nos sentíamos pobres. Íamos para a escola como todas as crianças, fizemos aula de piano e de datilografia. Nós saímos e passeávamos o tempo todo. Lembro que ela dizia “olha, nós vamos passear e dormir no hotel das estrelas”, o hotel das estrelas era deitar na praça ou na beira da praia. Ela levava a criançada toda, porque era professora então levava os alunos para todo lugar. Nós

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sempre viajamos muito e conhecemos muitos lugares. Nós tínhamos que ajudar com as cadernetas e a corrigir as provas. Fazíamos fichamento, revisão, bibliografia e arrumávamos as pontuações dos livros, porque apesar de ser professora, ela era péssima em pontuação. Também dávamos os títulos das crônicas, porque ela não gostava de dar títulos. Era uma vida de trabalho o tempo todo, o trabalho do meu pai e o trabalho dela. Não tinha aquele glamour, achávamos legal, mas “a gente era a gente”. UNIFATEA: E você sabe como foi a infância da sua mãe? JUNIA: Minha

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mãe aprendeu a ler muito cedo, com quatro anos, ela ia para aquelas escolas para crianças de 5 a 12 anos lá em Minas. Minha mãe nasceu em Cachoeira Paulista, mas morou em Minas, perto de Pouso Alegre. Ela ia com uma babá para a escola, o meu avô era rico, dono de usinas, mas como minha avó não tinha conhecimento sobre isso, não soube administrá-lasquando meu avô morreu e acabou perdendo tudo. Pelo que parece minha mãe desenvolveu a síndrome do pânico quando criança, então, os médicos obrigaram os meus avós a levarem ela de volta pra Cachoeira e ela passou a morar com meus

bisavós. Meu bisavô sabia ler e escrever bem pouco, já a minha bisavó não sabia nada. Ela estava numa casa de praticamente analfabetos, então, sempre lia jornais para eles, mas de uma forma mais leve e descontraída. Ainda criança, ela começou a escrever para o jornalzinho de Cachoeira, mas era aquela coisa de criança, mas mesmo assim era publicado. Ela era muito inteligente, então os professores queriam que ela frequentasse uma escola particular, mas ela foi expulsa, porque era muito sapeca (risos). UNIFATEA: A sua mãe possuía alguma frase motivacional? Ou algum


bordão que ela sempre utilizava com os filhos ou familiares? JUNIA: Minha mãe era cheia de frases, “causos” e histórias. Não tinha uma só. Eu gostava de duas frases que ela usava de vez em quando, que depois descobri ao ler um livro de coletânea de contos franceses, que não eram suas… Mas nem por isso gostei menos. Uma vez, quando uma pessoa estava falando de filhos e disse que sua filha queria uma caixinha de música, mas que ela precisava tanto de roupas, minha mãe respondeu: “Compre livros, compre caixinha de música, é mais importante alimentar a alma do que o corpo”.

E outra vez, a propósito de alguém que tinha feito o máximo que pôde numa situação delicada, ela disse: “Para quem faz o que pode e dá o que tem, nem Deus pode pedir mais”. UNIFATEA: De um tempo para cá os livros da Ruth estão sendo considerados como Literatura Negra. O que você acha sobre isso? JUNIA: Eu acho muito importante os negros deixarem claro sua importância. Mas uma literatura não deveria ter cor e nem gênero, ela é literatura e ponto final. A minha mãe lutou por algumas coisas dos negros. Na Bienal, ela fez um discurso falando que nós, os

negros, temos que nos orgulhar do que somos, mas temos que ler, aprender e sair do que somos pela literatura e pela educação. Ela não tava falando exatamente do negro, ela falava de todo mundo. A gente precisa olhar a literatura de Ruth Guimarães como uma literatura brasileira. Sabe o que ela queria? Queria que nós contássemos nossas histórias. UNIFATEA: Por fim, quais são os planos para a Casa da Ruth futuramente? JUNIA: A nossa casa é um espaço de visitação. Aliás, mais do que isso: é um espaço de encontros, de conversas, de reflexões e de cultura.

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Filatelia no Unifatea Nós sabemos que selo, nada mais é, do que um adesivo, geralmente colocado em correspondências durante a prestação de algum serviço postal. Mas o que muitas vezes não sabemos, é que os selos postais têm uma história pra contar. As pessoas responsáveis por decifrar a história por trás dos selos, são os chamados filatelistas. Eles estudam a história dos selos, se tornandomais informados a respeito de um determinado assunto ou 14

tema em específico. Portanto, podemos dizer, que um filatelista, não é apenas um colecionador de selos, é uma pessoa que destina seu tempo para obter conhecimento. Os filatelistas costumam escolher algum tipo de filatelia, comotradicional, histórica, literária, moderna, entre outras, que permita que eles busquem um estudo específico e seja um grande viajante e caçador de imagens. I m p o r tante dizer, que a filatelia é um passatempo al-

tamente educativo, que tem até sido recomendada como terapia ocupacional, se tornando mais conhecida e ajudando pessoas a sair do estresse do cotidiano e da vida moderna. Os filatelistas acreditam que filatelia é uma arte que precisa ser constantemente atualizada com o intuito de instruir cada vez mais o próprio conhecimento, além de que o selo, é um mensageiro sem fronteiras.


Um pouco sobre a história: Museu Major Novaes

A história do Museu Major Novaes começa quando as terras da Fazenda Boa Vista foram adquiridas por Manuel de Moraes Pinto, que as vendeu para o Tenente Cel. Henrique Dias Vasconcelos. A esposa do tenente Vasconcelos troca estas terras com Joaquim Ferreira da Silva. Em 1836,

Joaquim morre, mas ele já havia aumentado o patrimônio da sua família comprando terras até as proximidades de Lavrinhas. Então sua esposa e herdeira Dona Fortunata casa-se novamente em 1837 com o Capitão Antônio Dias Telles de Castro, que patrocina a construção da casa sede da Fazenda

Boa Vista. Mas em 1866, Dona Fortunata fica novamente viúva e casa com Alferes Manoel de Freitas Novaes, que logo tornou-se major. O Major Novaes assume os negócios da fazenda e funda uma colônia de trabalhadores livres, formada por espanhóis, jagunços e cearenses. O Museu Major Novaes tornou-se um patrimônio público em 1972, e foi solicitado pela sua última moradora chamada de Sra. Celestina 15


Novaes, mas conhecida publicamente na cidade de cruzeiro como dona Tita. O museu possui um acervo de mais de 500 peças. Há mobílias, imagens sacras, porcelanas, pratarias, cristais, moedas, fotografias, além de 30 metros de natureza particular, sendo um dos maiores acervos do Vale do Paraíba. Mas o Ministério Público decidiu que caberia ao 16

Estado restaurar o prédio e a Prefeitura Municipal de Cruzeiro restaurar o acervo. O restauro demorou dois anos, começou em 2012 e terminou apenas em 2014, agora possuindo uma estrutura moderna, monitoramento por câmeras, acessibilidade e sistema de iluminação próprio para patrimônios históricos (SANTOS). Atualmente, o museu conta com inúmeras atividades, festivais e eventos culturais, literários e musicais. Dentre os eventos culturais, há exposições de quadros, aulas de yoga, jogos

educativos, entre outros. O museu promove sarais com dança, música e poesia. No âmbito literário, há diversos lançamentos de livros, além da FLIC (Feira Literária de Cruzeiro) que conta com a reunião de escritores, exibição de documentário, atividades infantis, apresentações teatrais e musicais. O Museu Major Novais também oferece debates com importantes temas contemporâneos, rodas de conversas, prosas e palestras. Em determinados dias, há oficinas culturais e visitas de escolas da região.


Viajantes no Vale do Paraíba no Século XIX

Na sexta-feira, 13 de setembro de 2019, o Centro Universitário Teresa D’Ávila (UNIFATEA), recebeu no Auditório São José, uma palestra abordando a História dos “Viajantes no Vale do Paraíba no Século XIX”. O palestrante Thales Gayean, graduado em História pela Faculdade Federal de Ouro

Preto, guiou os participantes à compreensão do contexto e das figuras que registraram acerca da região valeparaibana. Em um primeiro momento da exposição, Gayean reforçou o contexto histórico do Brasil nos séculos que antecederam aos anos expedicionários dos viajantes no Vale.

Trazendo a perspectiva estrangeira sobre o espaço explorado, o Vale do Paraíba, o palestrante apresentou cinco viajantes que coletaram, classificaram e registraram as riquezas da geografia e povoado que viviam na região. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), Augusto Emílio Zaluar (18261882), Thomas Ender (17931875), Arnaud Julien Pallière (1784-1862) e Jean Baptise Debret (1768-1848) foram os nomes estudados na 17


palestra, sendo viajantes que registraram em literatura ou gravura as cidades que se formavam no Vale do Paraíba. Amostras literárias desses viajantes sobre as características das cidades da região como Lorena, Guaratinguetá e Taubaté foram expostas e comentadas. Algumas curiosidades pertinentes sobre as cidades do Vale do Paraíba fo18

ram relatadas por esses viajantes. Auguste de Saint-Hilaire, em 1822, retratou o caráter rural de Guaratingueta e a população mestiça de Taubaté. E Thomas Ender, em 1817, relatou inúmeros negros livres e tropeiros, além de casas e igrejas peculiares dessa região. A exposição do tema “Viajantes no Vale do Paraíba no Século XIX”,

proporcionou aos participantes regressar a um período distante no qual expedicionários estrangeiros (viajantes) contribuíram para preservar a História e formação da região em seus registros. Compreender o espaço que nos cerca a partir da experiência com a história de onde se vive, resume a fala desta palestra.


Casa da Cultura: Solar Conde Moreira Lima

Localizado no município de Lorena (SP), acredita-se que o Solar Moreira Lima começou a ser construído entre 1852 e 1856 por Joaquim José Moreira Lima, pai do Conde Moreira Lima. O Solar Moreira Lima foi o mais importante casario de Lorena no século XIX, não só pelo luxo, riqueza e beleza, mas por ter hospedado a Família Real, Conselheiros, Ministros e Titulares do Império. O solar tem o estilo neoclássico de cons-

trução (modelo que vigorou no séc. XIX e que imita os padrões da arte clássica greco-romana da antiguidade: colunas, arcos, frontões, cornijas, platibandas, muito mármore nas sacadas, escadarias e esculturas e pinturas do estilo renascentista italiano, com equilíbrio da composição e harmonia das co-

res). Atualmente, o solar é sede da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Lorena, e tem como patrono o poeta lorenense Péricles Eugênio da Silva Ramos. No local são realizados diversos eventos culturais, educativos, além de diversas exposições e cursos gratuitos. 19


Unifatea comemora 65 anos

Neste ano de 2019, a nossa instituição universidade Unifatea comemorou 65 anos de existência, inspirando, motivando e transformando vidas. Em uma reunião solene na capela do 20

Unifatea tivemos uma missa em ação de graças em comemoração ao aniversário. A missa foi ministrada pelo Pr. Pedro Cunha, tendo dois alunos do curso de Letras, Maurício e Rafael Leal, re-

alizando os agradecimentos em nome dos cursos presentes. Ao término da Missa a palavra ficou com a irmã Silvana, que fez as considerações finais.


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TEXTOS GERAIS “Temas gerais, desde dicas de editoras a reflexões sobre a situação da educação em sala de aula, e até mesmo uma breve análise aproximando o filme Coringa (2019) à obra do escritor brasileiro Rubem Fonseca.”

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Coringa, o cobrador

Um dos lançamentos mais aguardados do segundo semestre de 2019 é, sem dúvidas, o filme Coringa. Dirigido por Todd Phillips, renomado roteirista e produtor, e estrelado por Joaquim Phoenix, ator de excelentes obras, como: Ela (2013), Gladiador (2000), Você Nunca Esteve Realmente Aqui (2017) e Sinais (2002). O filme gerou grande ansiedade e expectativa sobre a atuação de Joaquim como Coringa. Tanto pela má recepção do último Coringa do universo cinematográfico da DC, estrelado por Jared Leto, quanto pela atuação marcante e atemporal de Heath Ledger, que interpretou de forma excepcional o palhaço psicopata na trilogia “O Cavaleiro das Trevas”, do diretor Christopher Nolan. Apesar

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disso, o filme e a atuação de Joaquim Phoenix foram recebidos com excelência pelo público e crítica. A versão de 2019 do Coringa é a mais humana já feita, a existência do personagem é extremamente crível, como se qualquer indivíduo da sociedade, ao experienciar os mesmos acontecimentos de Arthur, pudesse se tornar um “Coringa”. A humanidade representada na obra faz o espectador sentir medo, pena, raiva e empatia pelo personagem. No longa, é feito uma inversão de papeis já conhecidos, o Coringa sempre foi apresentado como um antagonista, que servia como plano de fundo para o desenvolvimento de um herói protagonista, o Batman. Nesse filme, entretanto, o Coringa é colocado como protagonista,


papel reservado aos heróis, o que causou uma “relativização” de sua crueldade e vilania, algumas pessoas começaram a ver o Coringa como um herói e não um vilão, o que é extremamente preocupante, mas revela coisas importantes em um aspecto social. Essa mesma inversão é feita no conto “O Cobrador” de Rubem Fonseca, que narra a história de um homem que nunca teve as mesmas oportunidades e chances que os mais ricos, e por causa disso, ele os “cobra”, protegendo os trabalhadores e mais pobres e assassinando de forma violenta os mais ricos, exercendo uma justiça falsa. Arthur Fleck, personagem que se torna o Coringa no longa, é extremamente parecido com o Cobrador, ele sofreu durante toda sua vida com família, sociedade e consigo mesmo, o que o fez se tornar esse vilão atemporal. Coringa (2019) não é tão chocante quanto “O

Cobrador” e talvez seja por isso que tenham relativizado sua crueldade, pois esse mesmo movimento não acontece no conto de Rubem Fonseca, embora os personagens façam a mesma coisa, apenas em intensidade diferente. Ainda que o filme esteja sendo “mal lido” por alguns espectadores, sua grandeza é inegável, e perceber as similaridades com uma obra de um escritor contemporâneo brasileiro, apenas aumenta o que ele representa.

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Empatia como recurso pedagógico

Antes de começarmos a falar, precisamos entender o termo “empatia” para que seja possível prosseguir com o assunto central. Empatia é a capacidade psicológica de sentir o que sentiria outra pessoa caso estivesse na mesma situação. Para ficar mais claro, é colocar-se no lugar do outro e tentar compreender seus sentimentos e suas emoções. Usar a empatia como recurso em sala de aula é fundamental nos tempos de hoje. Por quê? Porque além de formarmos alunos, 26

precisamos lembrar que formamos pessoas e estas pessoas são diferentes do que éramos quando estávamos no Ensino Fundamental e Médio. É necessário criar uma geração de professores que além de ensinar as matérias básicas como Matemática, Língua Portuguesa, Ciências etc, ensine aos alunos como ser uma pessoa mais empática. Sabemos que não é a obrigação dos professores ensinar compaixão, bons modos, respeito e todos os itens que formam o aluno


em um ser humano melhor, mas para isso é preciso entender e estudar o meio social em que o aluno está inserido. Na periferia, na maioria dos casos, o aluno vive com os avós ou com os tios, porque os pais ou os irmãos estão presos ou até mesmo mortos. E são estes alunos que mais precisam de suporte, porque, segundo Rousseau, “O homem é produto do meio”, então como esperar que uma criança seja boa se ela não tem bons exemplos? Se ela não está inserida num bairro, numa casa

ou até mesmo numa escola boa? Precisamos compreender que estes alunos são o futuro, e colocar nossos olhos além da sala de aula e das matérias. É essencial criarmos uma geração de crianças empáticas, mostrar para os alunos que a dor do coleguinha é uma dor real, ensinar compaixão e respeito ao próximo, para que futuramente tenhamos uma geração de pessoas boas e que, conseqüentemente, tornarão o mundo um lugar bem melhor para todos viverem.

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Editora lunática valeparaibana

É fato que a litera- leparaibanas, podem ser tura é imprescindível na encontradas as de Ruth vida das pessoas. Como diz Guimarães Água Funda e, a célebre frase do escritor um livro de crônicas, Dona Monteiro Lobato, “um país Ruth. Há, também, o livro é formado por homens e A Senhora do Café do prolivros”. Seguindo a fala do fessor Diego Amaro de Alautor, o folhetim traz infor- meida e O Guardião do Vale mações sobre a Casalua, do professor Francisco Souma editora valeparaibana. dero, ambos historiadores. Fundada em 2015, a Além disso, a editora é resCasalua trabalha com edi- ponsável pelas coletâneas ção de livros, revistas, cria- da Academia de Letras de ção de conteúdo, design e Lorena. web. A editora está presen- Em suma, deixamos te em vários eventos cultu- como dica para os amantes rais, como feiras literárias de literatura e apaixona(Flip, Flic, Flica, Flip4 etc). dos pelo Vale. Dê ouvido a Neste ano, na Flic ocorrida Monteiro Lobato e deixe os no Museu Major Novaes, livros fazerem parte do seu em Cruzeiro, uma aluna do cotidiano. Literature-se! curso de Letras do UNIFATEA pôde conhecer obras FICOU CURISOSO PARA vendidas pela editora e CONHECER A CASALUA? CONHEÇA UM POUCO MAIS apreciar o belíssimo traba- PELOS CONTATOS ABAIXO: lho desenvolvido pela rescontato@editoracasalua.com ponsável Mariana Bastos https://editoracasalua.com/ Toledo, editora e jornalista. facebook.com/editoracasalua @editoracasalua Dentre as obras va28


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EIC EM FOCO “Um panorama do XVI Encontro de Iniciação Científica, EIC 2019, que aconteceu no Unifatea no mês de novembro.”

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EIC EM FOCO,

No mês de novembro, ocorreu no UNIFATEA o XVI Encontro de Iniciação Científica (EIC), XIV Mostra de Pós-Graduação e VI Mostra de Extensão, com o tema: “Bioeconomia: Diversidade e Riqueza para o Desenvolvimento Sustentável”. O evento aconteceu entre os dias 07 e 09 e contou com a participação do público interno e externo. Dessa forma, inúmeras pesquisas foram apresentadas, inclusive a respeito da inclusão. É importante que haja preocupação com essa questão, porque, infelizmente, ainda há estabelecimentos e até mesmo pessoas que não acham necessária a inclusão ou que não sabem lidar com deficientes, fazendo com que eles se sintam excluídos. Houve apresentações orais sobre literatura 32

POR ALANA E MARIA PAULA

surda, autismo, deficientes no mundo dos games, alunos dotados, enfim, este texto busca ressaltar duas delas, responsáveis por abordarem sobre inclusão e acessibilidade. MARKETING DE INCLUSÃO: O AUTISTA NA SOCIEDADE SENDO PÚBLICO-ALVO DAS PUBLICIDADES O trabalho, apresentado por Adryelle Calmon, Brenda Machado e Letícia Barros e orientado pela Prof. Me. Deyse Souza, da ETEC Padre Carlos Leôncio da Silva, trata sobre o Maketing de inclusão para grupos sociais a partir de ações de marketing, promovendo uma sociedade igualitária. Como objetivos, a pesquisa busca avaliar a situação do autista como


público-alvo das publicidades, e como objetivos específicos pretende-se encontrar uma forma de incluí-los na sociedade brasileira por meio do marketing de inclusão. Quanto à metodologia, foram utilizados estudos comparativos, bibliográficos e documentais. Quanto ao resultado, nota-se que é fundamental que marcas repensem a forma que se comunicam, pois há a barreira entre agências publicitárias e autistas. Conclui-se, portanto, que é necessário que os autistas também sejam foco da publicidade, pois podem ser futuramente um mercado consumidor. Assim, a partir dessa parcela social, o marketing e suas ferramentas podem ser colocados em prática. BENGALA SENSORIAL LÚDICA COMO FACILITADORA PARA O DEFICIENTE VISUAL INFANTIL

O trabalho, apresentado por Esp. Karen de Lima, Esp. Maria de Oliveira, Prof. Rosinei Ribeiro, Selma Cristiane, Profª Drª. Simone Borges, da UNIFATEA, teve como objetivo desenvolver um protótipo de bengala sensorial acoplando a um componente lúdico, visando facilitar orientação, mobilidade e estimular a percepção tátil, auxiliando no dia a dia da criança com deficiência visual. Foi utilizada tecnologia assistida para ampliar as habilidades e auxiliar na inclusão social, o que faz com que o deficiente tenha uma qualidade de vida melhor e partilhe da igualdade com todos os cidadãos. A bengala é um recurso pedagógico e lúdico, contribui para a autonomia, aperfeiçoamento das sensações e dos sentidos dos alunos deficientes.

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EIC EM FOCO,

Entre os dias 07 a 09 de novembro de 2019 ocorreu o XVI Encontro de Iniciação Científica, XIV Mostra de Pós-Graduação e VI Mostra de Extensão (EIC). No dia 07, no auditório Clarice Lispector, foi apresentado pelo aluno do curso de Letras Leonardo Augusto Lorenzon o artigo “Estágio supervisionado: Uma ferramenta importante no processo de amadurecimento do discente”, que evidenciou a necessidade do estágio supervisionado para a formação do futuro docente. O artigo ainda mostrou as peculiaridades do estágio supervisionado e abordou questões relacionado com a práticas de ensino. Esse artigo contemplou todos os pontos para uma boa apresentação, os slides estavam objetivos e sucintos. Nesse mesmo dia, na ses34

POR CARLOS ANTÔNIO

são banner, foi apresentado por Bruno Dantas de Oliveira o artigo “A utilização da plataforma do Instagram para segmento alimentício: Bolo”, que teve como objetivo compreender a produção de imagens em dispositivos móveis através dos conteúdos compartilhados em redes sociais para aumentar a venda dos produtos. O banner estava bem organizado e estruturado, além de conter as informações necessárias para uma boa compreensão.


EIC EM FOCO,

O Encontro de Iniciação Científica (EIC), promovido pelo Centro Universitário Teresa D’ Ávila nos dias 07, 08 e 09 de novembro de 2019, propôs um espaço de divulgação dos trabalhos acadêmico-científicos dos universitários. A respeito do primeiro dia de evento, no espaço Clarice Lispector, foi realizada uma sessão de apresentação oral sobre a temática “Educação”. Os trabalhos expostos colaboraram para o compartilhamento e reflexão de pesquisas pertinentes ao cenário atual da temática em questão. No início os alunos apresentaram seus respectivos artigos científicos, focando no compartilhamento da problematização do trabalho desenvolvido, os objetivos, método empregado para a realização da

POR JOÃO GABRIEL

pesquisa, os resultados e discussões pertinentes e a conclusão. Após a exposição de cada artigo a banca avaliadora realizou comentários e questionamentos direcionados aos autores da pesquisa, estabelecendo um momento de reflexão e extinção de qualquer dúvida a respeito do que fora apresentado. Além da sessão oral, havia nas dependências da universidade painéis de apresentação de temáticas diversificadas. Esse modelo é uma forma de apresentação sintetizada em banners, o qual permite que os participantes do evento leiam os trabalhos de maneira mais dinâmica. Avaliadores circulam entre os trabalhos para validar a participação dos autores na exposição dos artigos científicos. A disposição das 35


informações sobre o trabalho nos banners expõe uma introdução, objetivo, metodologia, resultado e discussão, conclusão e referência para que o público compreenda sucintamente a proposta dos trabalhos. Os dias do evento, assim como foi no primeiro, estabelecem o caráter expositivo e reflexivo, bem como a noção de compartilhamento de pesquisas realizadas nas diversas áreas de atuação acadêmica. Epistemologicamente, os universitários ampliam sua participação nos processos de pesquisa e compreensão das etapas de apresentação acadêmica. Portanto, o EIC (Encontro de Iniciação Científica) estimula a comunidade universitária à constante busca por inovações e envolvimento com o conhecimento.

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CONTOS/FICÇÃO “Espaço para a produção criativa dos alunos, vinculada à ficção (contos, cartas fictícias).”

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SELOS SOB O OLHAR DE SATURNO Na sala de uma universidade, em um dia livre de aulas, após uma apresentação sobre contos fantásticos de uma professora, um homem velho, de baixa estatura, calvo e barbudo ficou em pé e caminhou segurando um pendrive em direção ao notebook, espetou o dispositivo na entrada USB, e abriu um slide em powerpoint. FILATELIA: COLECIONISMO E ESTUDO DE SELOS – Para quem não me conhece, meu nome é Bitt – Disse o homem – E eu coleciono selos. Hoje, vou contar um pouco mais desse estudo que tanto amo para vocês. Dali pra frente foi puro amor, não só de Bitt, enquanto falava com todo seu coração de seu hobby e estudo, mas também da platéia, que ouvia com prontidão cada palavra escolhida por Bitt. O homem viajou no tempo com suas palavras, mostrando conceitos, selos importantes e marcantes, detalhes, ferramentas e processos da filatelia. Era possível sentir no ar da sala as vibrações emitidas por seu ser a cada palavra relacionada a esse estudo. Teve começo, meio e fim, até que Bitt concluiu seu raciocínio e andou na direção do notebook. – Bom! – Esfregou as mãos após mudar para o último slide de sua apresentação – Alguma pergunta? Depois de um período, mãos começaram a brotar e foram atenciosamente selecionadas por Bitt. – Os selos somem com o tempo? – Perguntou um aluno na primeira fileira, que observava com muita aten40


ção as palavras de Bitt – Digo, o papel, a tinta... – Somem... Às vezes... – As sobrancelhas de Bitt tentaram se juntar, mas chocaram em rugas sobre a pele – Com o tempo, somem... Às vezes somem. Bitt olhou o relógio em seu pulso, observou brevemente os Is, Vs e Xs cravejados sobre a aureola dourada, e levantou a cabeça novamente para a platéia. – E como você consegue esses selos? – Perguntou uma garota que sentava no meio da sala. – Bom... Eu... Aaah – Os dedos de Bitt sumiram na alva barba – Eu viajo... Sim! Eu viajo, viajo para lugares onde encontro esses selos, ou compro na internet. – E você já tem todos? – A garota indagou. – Me falta um, o primeiro... olho de boi... – José pressionou os lábios e piscou rapidamente – Mas eu já desisti... Eu desisti tem um tempo... Já não importa mais. A platéia encarou Bitt, ficaram instigados por causa de seus recentes devaneios. Bitt deu de ombros. – Bom, eu agradeço a atenção de todos, foi ótimo falar disso com vocês. Palmas explodiram nas mãos dos espectadores, inesperado para Bitt, que temia que achariam chato ou maçante ver um homem mais velho dialogar sobre selos. Um sorriso sincero e acolhedor surgiu em seu rosto, desenhando o maxilar largo. [...] Bitt chegou em sua casa com o peito pomposo. Falar sobre sua maior paixão sempre o revigorava. Abriu a porta e caminhou pelos corredores até chegar ao porão, desceu uma curta escada e bateu os dedos em um 41


interruptor antigo, fazendo luz. Bitt encarou uma forma coberta por uma lona azul, respirou fundo e caminhou com longos passos e um leve sorriso no rosto em direção à forma. Cerrou o punho na lona, e puxou, içando não só poeira para cima, mas também desistência e tristeza. Uma cápsula oval de bronze foi revelada, o metal levemente fosco refletia a lâmpada amarela que pendia indo de um lado para o outro no teto do porão. Diversos relógios de tamanhos diversos adornavam a cápsula, eles eram conectados por curtos e tortos canos de chumbo. Ao lado da cápsula, havia um painel, onde se podia colocar uma data e coordenadas. – Sabe... Por muito tempo desisti e não segui procurando – Suspirou Bitt – Mas ver tantas cabeças erguidas e olhos luminosos interessados em meu maior amor... Isso é tudo pra mim, eu não posso parar... Eu consigo, hoje! Eu consigo você... Bitt caminhou até um armário antigo, as dobradiças uivaram e reclamaram quando puxou as portas e sentiu o cheiro guardado a muito tempo. Olhou de cima a baixo um manequim vestido com um macacão cinza, botas, luvas e um óculos de aviação e sorriu, sorriu. Calçou as luvas e botou as botas após ter colocado o macacão. Balançou o tórax e o braço, para que tudo se ajustasse e ficasse como havia de ser, embora as coisas já estivessem como precisavam estar. Bitt regulou o painel na máquina, pressionou o botão do relógio em seu punho e deu alguns passos para trás... Um, oito, quatro, três No... Rio de Janeiro... 42


A máquina começou a rosnar. Os relógios que a adornavam se revelaram não só como adornos, pois ao passo que a máquina tremia e os canos batiam entre si, os ponteiros rodavam mais e mais rápido, até sumirem. Uma luz azul começou a brilhar na parte interior da máquina. Bitt levantou a mão para proteger os olhos, mas abaixou a cabeça e os fechou. – Agora eu consigo você... Agora eu consigo... – Bitt subiu os óculos de aviação do pescoço para os olhos – Você será meu, olho de boi! Agora eu consigo você! Bitt ergueu a cabeça, sorriu com a boca aberta e correu em direção a máquina, gargalhando. Pulou e entrou no brilho, e tão rápido como um segundo, tanto a máquina quanto Bitt haviam sumido em um flash. Este conto teve como inspiração uma palestra sobre filatelia e contos fantásticos, no UNIFATEA, ministrada por José Antônio Bittencourt e Marlene Sardinha.

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UM IPÊ Em homenagem aos ipês, responsáveis por colorir o Vale nos meses de agosto e setembro, escrevi este conto reflexivo. Espero fazer jus a beleza dessa árvore que tanto me inspira.

Colocando a mala no chão e dando adeus ao táxi que a deixara na velha rua há anos não visitada, Alice sentiu os primeiros efeitos de se estar ali, em contato com o que tinha de mais puro de sua infância. Suspirou pesadamente e arrastou a mala pela calçada acima até a casa que conhecia bem. O humilde imóvel com muro cinza e aparentemente torto, mas que, segundo seu avô, foi construído milimetricamente acompanhando o nível da rua. Parando em frente ao portão, buscou nos bolsos a chave e, com um movimento quase temeroso, entrou casa adentro. Como é difícil encarar as memórias deixadas para trás. A casa continuava a mesma que seus olhos infantis conheceram bem, mas o tempo levou a leveza das risadas e momentos partilhados em dias felizes. Abriu as janelas, as portas, andou por entre os cômodos. Ali vivera, sorrira e chorara. Dali, levara os melhores anos de sua ingenuidade pueril. Foi naquele quintal, brincando no gramado, que conhecera seu primeiro amigo de infância, o Ipê. Belíssimo ipê amarelo que a fascinava cada vez mais com suas fases, suas faces, seus humores. Via tanta sabedoria no velho tronco. Como podia estar seco, aparentemente morto, e amanhecer em outro dia cheio 44


de flores amarelas, como gema, como ouro. Queria ele mostrar ao sol o quão belo e reluzente poderia ser? Os olhos dela se enchiam de tanta curiosidade. Hoje, andando pelo mesmo gramado, Alice ainda via o esplendor de seu velho companheiro. Para ela, seu ipê ainda era a melhor metáfora existente para explicar o homem e seu potencial: “Às vezes, podemos nos sentir galhos frágeis, sem valor, mas a nossa beleza é intrínseca e reluz apaixonadamente quando nos permitimos dizer ao mundo quem somos”. Debaixo do mesmo Ipê, que mostrou tantas vezes aos olhos sensíveis sua força, estava Alice, já mulher, recém-casada, mudando e sendo mudada pelos mesmos sopros do tempo em que seu bom companheiro. Na casa, já não havia mais os antigos moradores e a cachorra que fazia do quintal uma zona completa. Havia ali resquícios de amor em cada canto e memórias espalhadas, que apenas ela e sua família poderiam resgatar. Sentiu-se feliz, então, por manter a promessa a sua avó, a qual lhe disse para jamais vender a antiga casinha fruto de sua vida dura pelas carvoarias no alto da Serra. Suas raízes estavam ali, entrelaçadas ao velho amigo. Dentro de instantes, o marido de Alice chegaria para ajudá-la com a organização e restauração do antigo imóvel. Fariam da casinha de sua avó o lugar mais acolhedor da face da terra, como um dia lembrara que fora. Naquele pequeno pedaço do paraíso, em que a calmaria abraça o coração, viveriam momentos de amor durante as férias que tanto almejavam juntos. Era a boa e velha casa da vovó no campo.

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CARTAS DE AREIAS

José Bento Monteiro Lobato (1882-1948) eternizou a cidade de Areias, no Vale do Paraíba, no mapa literário, há cem anos, após a publicação de Cidades Mortas. Como homenagem ao autor, que tanto contribuiu para a literatura brasileira, foi produzida uma pequena biografia em forma de “carta fictícia”, supostamente escrita por sua esposa Maria Pureza Natividade para um familiar. Essa carta foi desenvolvida na aula de Literatura Infanto-Juvenil, proposta pela professora Leonor.

Areias, 01 de abril de 1908.

Olá, prima Cidinha! Espero que esta carta lhe encontre em boa saúde. Por aqui, estamos bem e as coisas estão caminhando. Escrevo-lhe para contar, sobre meu casamento! Casei-me aos 28 dias do mês de março, como sabe. Ainda sinto muito que essa parte de minha família não possa ter presenciado o motivo de minha felicidade. Vocês nem mesmo conhecem meu esposo! Irei dar a vocês ínfimos detalhes, do jeitinho que sua mãe, Dita, gosta. Foi batizado José Renato de Monteiro Lobato, mas, por preferência, chama-se Monteiro Lobato. Nasceu em Taubaté, aos 18 dias do mês de abril de 1882. Formou-se em Direito e no ano passado, tornou-se promotor público desta cidadezinha no interior do Vale: Areias. Ele pinta e escreve artigos para as grandes cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. É um homem de muitas 46


opiniões e letras. Pelo modo como observa e compara Areias à Cidade Morta, não duvido de que escreva um livro sobre isso daqui a alguns anos. Aliás, não acredito que haja algo sobre o qual ele não possa escrever! É um homem literário, gosta de contos e fábulas. Que me puxem as orelhas! Mas deixo por escrito aqui, que o imagino até mesmo escrevendo para crianças! É sonhador, diz querer fundar sua própria Editora. Imagine, Cidinha! É também visionário. Neste ponto, espero que você me compreenda, mas Monteiro sonha que o Brasil avance e que saiba aproveitar suas riquezas. Meu marido é nacionalista, acredita que um dia poderá encontrar o famoso “ouro negro”, petróleo. Eu o apoio e ouço suas ideias. Espero que sejamos muito felizes juntos. Eu já sinto que sou. Fique bem e até breve... Um Abraço, Maria Pureza Natividade Lobato

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A GRANDE RODA

Era período de colheita. O semeado se faria pronto para um bruto senhor do campo, que de sol a sol esperava um bom resultado daquela plantação. Esse senhor não era tão diferente da configuração maquinaria como a de um lavrador qualquer, já que os lavradores representam peças de uma grande engrenagem, subordinados pelos beneficiados de uma roda lucrativa desequilibrada. Esse sistema regido pelas rédeas das mãos de um só, põe viseiras e aliena suas pequeninas partes à mera função braçal. De certa forma, torna-se possível prender os lavradores, e interfere-os de realizar outras tarefas se não as da lavoura. Como todos sabem, mesmo até os que desconfiam, na lavoura há estágios da vida das sementes que devem ser, na labuta, acompanhados para que se possa obter uma farta colheita. Desta premissa, todo lavrador que se preze ou está preso à lavoura, trabalha desde a preparação do solo à colheita. E a estes cuidados cabem aos lavradores, esses em específico, trabalhar como mulas domadas atrás de capim verde que cai como migalhas do bolso de seu senhor. O decrépito velho, o bruto camponês de quem discorríamos a pouco, mas não inteiramente insensível, percebera que todo este sistema contínuo e alienante havia o comovido a refletir. No entanto, passou meses dedicando a pensar e de forma alguma saberia a esse lavor explicar. Talvez essa incapacidade se dava ao fato de que, sua função não era dar luz à filosofia alguma, já 48


que era uma pequena peça da grande engrenagem, alienadamente destinada a lavrar. Mas será que ele ou qualquer outro dos seus, necessitava de sabença de doutor algum para concluir alguma teoria? Esse senhor lavrador descobriu que não! A resposta estava à sua volta: a subordinação era naturalmente capital. E apesar de alheios estudiosos depois de muito trabalho nada concluir, para esse velho lavrador tudo se encaixou. Depois de muito matutar, assim a teoria ficou: “Meu patrão concedia-me terras alugadas para plantar; eu deixava as pobres sementes em minhas terras deitar, e elas enquanto eu as regar desenvolvidas para o dia da colheita vão estar... tudo subordinação.” Era período de colheita! Obviamente esse senhor lavrador deveria ter transitado por todos os estágios da lavra para o dia que chegou. Só havia um problema, a percepção desse lavrador desvendara a subordinação de uma pequena esfera da grande roda. De forma que a pensar esquecera sua função, o coitado achava que não era mais alienado. Era período de colheita! O PATRÃO a cobrar o aluguel, a semente em terras de teoria não cresceu e o coitado, não pago para pensar, na grande roda “se fodeu”.

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PAPEL JUSSÁ!

Notáveis construções de aparelhos e dispositivos tecnológicos tomam a atenção de muita gente no cenário digital. Mas essas pessoas não sabem ou já se esqueceram de como a realidade cotidiana do “dia de ontem” era, em relação ao atual, assim por dizer, desconfortável. Pode-se imaginar que nos acostumamos muito rápido com o que é bom e novidade, e assim deve ser fácil esquecer o que já não é fama nem confortável. Inicia-se um pensamento clarividente de que “a gente acostuma”, entretanto limpar-se antigamente não deveria ser fácil. Em tempos de fim de ano, dá-se muitos figos. E “Seu Juquinha” tinha vários pés de figos de espinho, que por sinal era alvo de muitas amizades. O dono era generoso, e não fazia questão de distribuir uns figuinhos aos seus amigos. O vendedor da lojinha, Seu Manuel, adorava tais agrados sumarentos. Quando chegava dezembro o português esperava as frutinhas de figo de espinho. Sem esquecer a dificuldade de realizar as tarefas biológicas, sabe-se por uma senhora, que já faleceu, que se faziam as “necessidades” no mato. Lugar bem comum do cotidiano do ambiente rural e antigo, mas a grande questão é: como se limpava as particularidades naquela época? Dizia ela que se apanhava um matinho peludinho chamado de “limpa cu”, melhor do que folha de jornal. Se passa boa parte da vida secretando, melhor não estragar a máquina com produto “riscoso”. Tendo em vista que os banheiros quando existiam, chamados “casinhas”, eram perigosos. Nada me fez es50


quecer que mesmo apertado nunca mais fui em tais casinhas perto de chiqueiro, ou se houvesse chiqueiros pela redondeza. Deu-se o ocorrido que estava sentado no caixote da casinha, era alto e fundo o buraco que dava fim num córrego. Da mesma forma que descia meu fax para baixo, senti um focinho gelado e úmido encostando nas minhas nádegas. Era um porco que se enfiara entre fezes e odores no “encanamento” da casinha. Contudo, o objetivo real do relato deu-se em anos mais tarde. Quando já haviam banheiros em casa, com encanamento de verdade, e que não tinham focinhos presos nesses. Seu Manuel, o português da venda, estava há semanas em disenteria desgastante. Comera tanto figo de espinho, que viera embrulhados em papéis de seda em duas grandes caixas, que seu amigo Seu Juquinha enviara para seu desfrute. Tão bonita e enfeitada estava a caixa, o vendedor não se conteve em guardar um recordo. Pegou os papéis de seda que envolviam os figos de espinhos, tão coloridos, pensou: Guardá-los-ei para oportunidades de enfeite melhor? Sem pensar a segunda vez, a maneira que comia os frutos dobrava os papéis de seda. Coitado do Seu Manuel, assado de tanto trabalhar no vaso sanitário. Lia o jornal, mais do que o habitual, esfregava tanto para amaciá-lo que seu operário até agradecia no final das contas, até piscava em contentamento. Em pele o português sentia a falta de um produto que ainda nem existia no Brasil, o papel higiênico. Vacilante, correra para o banheiro em desespero. Contudo, eis o grande problema: não havia mais nenhum jornal no banheiro. Mas havia papéis de seda, coloridos e dobradinhos numa caixa, que poderiam substituir e exercer a mesma função do impresso. 51


Depois do sufoco, o português voltara para a venda a trabalhar em seu ofício. Viera a comentar com um freguês um conselho para botar em ordem o intestino. Contou ao cliente: - Há duas semanas estou em caganeiras! Acabo de limpar-me com papéis de seda que ganhara em figos de espinho, pois até meu jornal acabara. Triste fim do homem, não pode comer alguns figuinhos. Agora estou além de assado, coçando. O cliente observa a história do vendedor, e comenta: - Mas, Seu Manuel. Utilizaste o papel que estava envolto no figo de espinho. Sem pensar, responde: - Sim, ora pois! Retruca o cliente: - Manuel, Manuel! Tu, além de comilão é burro não sabes que tem jussá nesse tipo de figo. Parvo da vida Seu Manuel reclama: - Estava mesmo a perceber uma comichão no meu rabo.

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POEMAS “Um belo convite para a leitura do lirismo introjetado nos alunos.�

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À MESTRA Frágil como Ceci, forte como Aurélia. Fonte de conhecimento e inspiração, Devemos a ela nosso respeito, Nossa eterna gratidão. Como falar de Camões? Ela sabe. Sobre as Pessoas de Pessoa, diz bem. Viajávamos pelos países com fala portuguesa A sabedoria dela vai além. Difícil não se encantar por suas histórias, Descobríamos além-mar, Fazia-nos sentir o sabor das palavras, Aprendemos a Literatura amar.

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LEONOR Quando o amor transborda, Faz-se o ato ensinar. Desbravam-se caminhos, Dentro das pรกginas h(รกmar). Muito mais que literatura, Libertar-se, pensar. Conhecemos outros mundos Aprendemos a caminhar. Iluminada e companheira Fez-nos desabrochar O que hรก dentro de um livro? Ela irรก lhe contar...

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SOBRA SILÁBICA Pobre, palavra que não é dona nem das sílabas que usa. Não é pobre? O “po” de seu início faz som seco e vazio. Fugazmente é levado assim como o pó ao vento. Já o “bre” não sei o que faço com esse. Mas pobre do jeito que é, assim fica sem solução. O vento bateu, levou o “po”. O pobre do “bre” fugiu, correndo atrás de um serviço, o qual não lhe abalasse muito o “po”_u_co que agora sobrou.

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O QUE É CULTURA? A cultura brasileira é uma colcha de retalhos costurada a partir dos colonos portugueses que chegaram nas Grandes Navegações, de costumes indígenas que aqui habitavam, dos africanos e de outros povos europeus, formando essa miscigenação. A miscigenação influenciou nas festas e nos alimentos típicos, no Rio de Janeiro comemos feijão preto, em São Paulo feijão carioquinha e arroz, já em Manaus come peixe com açaí na mesma refeição. A e É e

cultura popular é criada por um determinado povo esse povo tem parte especial na criação representada por literatura, arte, música, dança é formada com o contato de pessoas de várias regiões.

O Forró do “arrasta-pé” veio do sertão nordestino o fervo do Frevo pernambucano é frenético o Funk que veio da favela é considerado libertino já a Bossa-Nova que surgiu no Rio é ético. Cultura é um conjunto de crenças, tradições e costumes, que é passado de geração em geração, não há cultura inferior e superior, porque o Brasil é tão grande que possuímos diferentes formas de expressões. 59


O VALE No passado, um retrato De conquistas, batalhas e caminhos Um passado grandioso E tambĂŠm de desafios. De maneira Ăşnica e simbĂłlica Os anos se passaram E o vale foi se formando Acolhendo as pessoas que aqui foram ficando. O vale da agricultura Das riquezas, da religiosidade O vale da cultura E da grandiosidade.

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CRÉDITOS Apresentação Autor: Prof. João Francisco Junqueira Resenhas Entrevista com Júnia, filha de Ruth Guimarães Autores: Alana Diniz, Carlos Antônio e Maria Paula Garofolo Filatelia no Unifatea Autores: Samuel de Jesus e Ugo Panza Um pouco sobre a história: Museu Major Novaes Autora: Maria Paula Garofolo Viajantes do Vale do Paraíba do Século XIX Autores: Carlos Antônio e João Gabriel Casa da Cultura: Solar Conde de Moreira Lima Autor: Carlos Antônio UNIFATEA comemora 65 anos Autor: Rafael Leal Textos Gerais Coringa, o Cobrador Autor: Kalil Afonso Empatia como pedagogia Autora: Maria Paula Garofolo Editora Lunática Valeparaibana Autora: Alana Diniz Eic em Foco Eic em foco, por Alana e Maria Paula Eic em foco, por Carlos Antônio Eic em foco, por João Gabriel 62


Contos/Ficção Selos sob o olhar de Chronos Autor: Kalil Afonso Um Ipê Autora: Alana Diniz Cartas de Areias Autora: Alana Diniz A Grande Roda Autor: João Gabriel Hajar Papel Jussá! Autor: João Gabriel Hajar Poemas À Mestre Autora: Alana Diniz Leonor Autora: Alana Diniz Sobra Silábica Autor: João Gabriel Hajar O Que É Cultura? Autora: Maria Paula Garofolo O Vale Autor: Carlos Antônio FICHA TECNICA DIAGRAMAÇÃO MATEUS JOFRE DESIGN MATEUS JOFRE REVISÃO MATEUS JOFRE ILUSTRAÇÕES UGO PANZA 63


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