Folha do Sul Gaúcho Ed. 1185 (24/03/2014)

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SEGUNDA-FEIRA 24 de março de 2014

SOCIAL

“Lembre-se: ninguém pode fazer com que você se sinta inferior sem o seu consentimento” Anna Roosevelt

Paralelo Entrevista: Dani Botelho Maria Daniela Hillal Tavares de Junqueira Botelho, ou simplesmente Dani, nasceu em Bagé, sob o signo de Aquário, em 10 de fevereiro de 1985. Turismóloga, Dani possui pós-graduação em Vídeo/ Cinema e Fotografia. Inclusive é ela, a fotografia, sua grande paixão. Da sacada do seu apartamento em São Paulo, Dani respondeu as perguntas da pauta evidenciando grande sensibilidade, um amor inspirador pelo Pampa e sobre as oportunidades que vem surgindo na carreira. A fotografa bageense ganhou destaque nacional neste mês de março ao fotografar o editorial – inclusive a cada – da revista Trip. Com vocês, mais um capítulo de Paralelo Entrevista. O que inspira Dani Botelho? No instante de observação, percepção e fixação do mundo, trago à tona todo meu repertório cultural e pessoal. Tudo aquilo que construiu minha personalidade. Dentro do curto espaço do click, carrego, revivo e recrio as cenas da infância no campo, as batidas das músicas prediletas, ou os relances dos filmes mais viscerais, os (des) amores...Porque a fotografia está no artista, assim como o artista está na imagem. Nela, constrói-se uma relação híbrida entre criador e obra. O que significa ser bageense para ti? Ser natural de uma terra de cultura riquíssima.Tenho uma linguagem muito ligada à natureza, e isso é total influência da minha vivência nos Pampas. Gosto de fotografar descalça, no meio do mato, herança que trago de Bagé. Poucos lugares que eu fotografei têm uma luz tão cinematográfica como a da nossa região. Como é fotografar em Bagé? É um pouco difícil definir com palavras, o que tenho feito com imagens. Mas ao produzir trabalhos em Bagé eu sinto uma conexão incrível com o todo, com o sublime... Quais lugares da cidade enquadras sempre que passas por eles? As ruínas de Santa Tereza. Adoro andar por elas... Qual tua definição de estética? O hibridismo entre forma, cor, sensação e alma. Como iniciou tua relação com a fotografia? De forma bem natural, eu me descobri fotógrafa. Não foi uma profissão que eu idealizei desde a infância. Comecei a estudar muito e as coisas foram acontecendo. Tua mãe, Dercy Hillal, é uma conhecida amante das artes. De alguma forma, isso influenciou o teu amor pelo Belo? Em casa eu e meu irmão (Francisco Botelho) sempre tivemos uma educação muito ligada às artes. Antes de entrarmos no colégio, a gente já estava na Escola de Artes Odessa Macedo. Então, isso fez parte do nosso repertório à vida inteira. Ainda lembro, da enorme biblioteca do meu pai; de entrar lá ainda criança e ficar maravilhada com tudo. De ver os desenhos da minha mãe espalhados pela casa. Tudo isso está em mim e

A fotógrafa bageense Dani Botelho ganhou reconhecimento nacional ao clicar a capa da edição de março da Revista Trip

reflete-se no meu trabalho. Como surgiu a possibilidade de fotografares para a revista Trip? Morando em São Paulo, as possibilidades são mais tangíveis. Os contatos são mais próximos para quem trabalha com arte porque convives com pessoas da área o tempo todo. Tive a oportunidade, através de uma modelo e amiga que morou comigo. Tudo aconteceu bem naturalmente. O que sentes ao ver teu trabalho exposto na capa da revista? Saber que estou no caminho certo transpondo as barreiras de um mercado com alta concorrência. Sinto-me vitoriosa. O que deixa Dani Botelho triste? O preconceito. Praga da humanidade. Não consigo entender como alguém ainda se sente superior por ser branco, heterossexual, desta ou daquela religião. Outro dia, vi uma amiga falando que se incomodava ao ver um casal de gays se beijando na rua. Como assim? Quem uma pessoa pensa que é para se incomodar com a felicidade do outro? A vida é um sopro, rápida demais para tanta soberba. Um lugar no mundo? Paraty, Rio de Janeiro. Uma saudade? Não sou uma pessoa nada saudosista. Acho que nada termina, só se transforma. Tudo o que vivemos, está em nós, basta acessar. Um sonho que ainda não realizou? Dar a volta ao mundo. Um sonho que já realizou? Mergulhar no fundo mar! Mergulhei 13 metros e foi um dos dias mais incríveis da minha vida. Descobri outro universo, outros seres, outras cores. Fiquei totalmente hipnotizada. Dani Botelho por Dani Botelho... “…nossa existência é uma morte lenta? É evidente que não. Semelhante paradoxo desconhece a verdade essencial da vida: ela é um sistema instável no qual se perde e se reconquista o equilíbrio a cada instante; a inércia é que é sinônimo de morte. A lei da vida é mudar.” Simone de Beauvoir.


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