a fêmea e preservar seu território
Vivian Oswald Correspondente vivianoswald@oglobo.com.br - BERLIM -
A
impressionante variedade de assobios, trinados e gorjeios faz do rouxinol um dos principais símbolos dos poetas. A ave está presente em numerosas obras, como a “Odisseia”, de Homero, e “Orfeu”, de Virgílio. O poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare também citou o pássaro em um dos seus sonetos: o “Sonnet 102”, quando comparou a sua poesia de amor ao canto do rouxinol. O repertório musical desse pássaro inclui 260 sequências. Seu canto tem uma dupla função: à noite, é usado como objeto de sedução e, de madrugada, um pouco antes do nascer do sol, serve para defender o território, mostrando aos outros passarinhos que ali, onde ele está, é o seu habitat. Quanto mais perto de áreas urbanas, mais alto é o seu canto. Estudos de ornitologistas indicam que a ave já nasce com uma predisposição para o canto, só que o aprendizado ocorre apenas depois de o filhote abandonar o ninho materno. Considerado um pássaro extremamente tímido, o rouxinol tem por costume se esconder no meio da vegetação. Procriando em florestas da Europa e do Sudoeste da Ásia, é em Berlim onde se concentra a maior população de rouxinóis do continente europeu. Não por acaso, é na Alemanha onde se encontram
os grandes especialistas desse pássaro. Professora de biocomunicação da Universidade Livre de Berlim, Silke Kipper acaba de concluir uma pesquisa que revela novos dados sobre o passarinho. O rouxinol é um dos mais fiéis ao seu lugar de origem, mesmo depois da perda do contato com os pais. Mas o mais fascinante, revela a bióloga de 41 anos, é seu repertório musical: o rouxinol é capaz de cantar durante duas horas sem repetir uma única vez a mesma sequência. Quem ouve, pensa que são pássaros diferentes. O parque de Treptow, ao sul da capital alemã, foi o ponto de observação de Kipper e seus colegas. Segundo a especialista, é a partir das 23h que os rouxinóis começam a cantar mais inspirados, continuando a cantoria ao longo de toda a madrugada. Durante o dia, garante a ornitologista, o pássaro fica mais calmo, cantando apenas de vez em quando. Esse passarinho foi o que mais lucrou com a urbanização. Percebemos que ele convive de maneira harmoniosa com os seres humanos, garante Silke.
Ave migratória Enquanto na Inglaterra houve redução da população desses passarinhos migratórios, em Berlim o número de rouxinóis é cada vez maior. A explicação, segundo Silke, os campos de urtiga em áreas verdes pouco cuidadas da cidade — as plantas dos parques públicos são podadas apenas uma vez por ano para economizar os custos da prefeitura local
— fazem o rouxinol se sentir tão bem e à vontade na capital alemã. Os rouxinóis vivem na Europa Central em dois períodos do ano: de fevereiro a março e de setembro a outubro, quando então começam uma longa viagem em direção à África, permanecendo no continente africano durante todo o inverno no Hemisfério Norte. Os mesmos rouxinóis voltavam da sua migração de inverno para Berlim ao longo de oito anos consecutivos. Para realizar o percurso, os passarinhos armazenavam, no verão, gordura bastante para a travessia dos Alpes e do Mediterrâneo, até atingir o Sul do Saara. A travessia é muito perigosa e extenuante, apenas um terço das aves sobrevive. Entre os filhotes, o percentual de sobrevivência é de apenas 2%. Apesar das grandes perdas no meio do caminho, a população vem aumentando nos últimos anos. Só em Berlim, a quantidade de rouxinóis chega a nove mil. A fêmea, que não canta, reage com sensibilidade ao canto dos pretendentes. Os passarinhos mais fortes fisicamente são também os que têm o maior repertório musical. Algumas sequências são cantadas para atrair a parceira, enquanto outras servem apenas para mostrar aos rivais que são “importantes”. Depois de encontrar a parceira, o macho ajuda a construir o ninho. Quando os filhotes nascem, o macho passa a cantar menos para se dedicar à prole. Os filhotes passam cerca de nove dias todo o tempo no ninho. Depois disso, os pais ainda acompanham os filhotes por duas semanas.
PARCERIA PELA SUSTENTABILIDADE Sustentabilidade é o tema central desta publicação que a Folha de Alphaville traz em parceria com a revista Amanhã, do jornal O Globo, que trata desde consumo consciente, estilo de vida, meio ambiente e tudo o que envolve a sobrevivência do planeta. Nesta primeira edição, o foco é a produção de energia domiciliar em iniciativas que reduzem a conta de luz. Você verá também o que empresas de Alphaville, do segmento de construção civil, estão fazendo em prol da sustentabilidade.
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Símbolo dos poetas, o passarinho é um virtuoso musical, capaz de entoar 260 sequências diferentes e cantar por duas horas seguidas sem repetir nenhuma delas
Canto. O rouxinol canta para atrair
Folha de Alphaville
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SEXTA-FEIRA 5/7/2013
Folha de Alphaville AMANHÃ
ROUXINOL, UMA AVE ARTISTA