Primeiro relatório sobre as paternidades negras no Brasil

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Paternidades negras e quilombos virtuais Humberto Baltar Para que a leitura deste capítulo faça sentido, primeiramente precisamos definir “quilombos virtuais”. O termo “aquilombamento” tem sido muito utilizado e seu sentido vem sendo reduzido à ideia de reunião de pessoas negras. Entretanto, nem todo grupamento preto é um quilombo, pois é possível que pessoas negras que reproduzem a lógica propagada pela branquitude também se reúnam. Entende-se por “quilombo” um local de acolhimento para pessoas negras que buscam romper com a supremacia e os valores da branquitude, incluindo o machismo, que prega a superioridade do homem branco cis heterossexual sobre todos os demais seres humanos. Uma marca constante destes espaços, sejam eles, presenciais ou virtuais é a escuta ativa. Escutar é um dos princípios mais fundamentais da ancestralidade africana, já que a mesma se baseia na tradição oral.

2.1 Sankofa, o retorno Por causa do racismo estrutural que promove o apagamento das subjetividades negras diuturnamente, a situação das paternidades negras no Brasil se torna uma pauta emergencial. Não é possível abordar a temática apenas como uma modalidade de paternidade a ser discutida em rodas de conversa ou grupos temáticos, porque existe uma ação ou diversas ações de aniquilação de toda forma de apreço, cultivo e promoção da ancestralidade africana e seu legado. Mesmo considerando apenas a sociedade e cultura brasileira e deixando de lado o legado africano e as raízes da negritude, quando homens pretos buscam grupos de masculinidade e paternidade com o intuito de trocar experiências e compartilhar vivências, fica nítida a impossibilidade de abordar a fundo as angústias, dilemas e anseios derivados das questões raciais.

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