TCC arqurbuvv O PASTICHE ENXAIMEL EM TERRITÓRIOS DE IMIGRAÇÃO

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O Pastiche Enxaimel em Territórios de Imigração A desvalorização de uma Paisagem Cultural real em Domingos Martins – ES

Flora Kiefer Huber VILA VELHA 2019


UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

FLORA KIEFER HUBER

O PASTICHE ENXAIMEL EM TERRITÓRIOS DE IMIGRAÇÃO – A DESVALORIZAÇÃO DE UMA PAISAGEM CULTURAL REAL EM DOMINGOS MARTINS – ES

VILA VELHA 2019


FLORA KIEFER HUBER

O PASTICHE ENXAIMEL EM TERRITÓRIOS DE IMIGRAÇÃO – A DESVALORIZAÇÃO DE UMA PAISAGEM CULTURAL REAL EM DOMINGOS MARTINS – ES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha, como pré requisito do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, para a obtenção do grau de Graduado em Arquitetura e Urbanismo. Sob a orientação do Prof. Mestre Luiz Marcello Gomes Ribeiro.

VILA VELHA 2019


FLORA KIEFER HUBER O PASTICHE ENXAIMEL EM TERRITÓRIOS DE IMIGRAÇÃO – A DESVALORIZAÇÃO DE UMA PAISAGEM CULTURAL REAL EM DOMINGOS MARTINS – ES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Vila Velha, como pré requisito do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo, para a obtenção do grau de Graduado em Arquitetura e Urbanismo. Sob a orientação do Prof. Mestre Luiz Marcello Gomes Ribeiro.

Aprovado em __ de ______________ de 2019. COMISSÃO EXAMINADORA:

__________________________________________ Prof. Ms. Luiz Marcello Gomes Ribeiro Universidade Vila Velha Orientador

__________________________________________ Arq. Sthéphi Lubki Wagmacker Universidade Vila Velha Avaliadora Interna

__________________________________________ Arq. Rodrigo Zotelli Queiroz Gerência de Memória e Patrimônio - SECULT/ES Avaliador Externo


Dedico este trabalho aos meus avós paternos e maternos, in memoriam, que apesar de já terem nos deixado foram a grande inspiração para a elaboração dessa pesquisa: nos ensinaram parte da cultura trazida pelos nossos antecedentes na imigração européia no século XIX, dentre elas a que arte que me apaixonei: a Arquitetura.


Agradecimentos É com o coração cheio de gratidão que termino meu Trabalho de Conclusão de Curso. Os anos de faculdade e a jornada que trilhei foram árduos, contudo, Deus me amparou em todo tempo. Dessa forma, agradeço primeiramente ao meu amado Deus, que guiou os meus caminhos até aqui e por ser minha rocha de sustentação. Agradeço à minha mãe, Valdete por todo carinho e ao meu pai Elias, pela ajuda e incentivo antes e durante toda a minha jornada acadêmica. Ao meu marido Thiago, meu grande amor e companheiro de vida. O grande apoiador da minha escolha pela Arquitetura e Urbanismo, que não mediu esforços para me ajudar a concluir esse curso. Ao meu filho, minha razão de viver. Que me deu motivos para lutar e persistir, que me ensinou o quão profundamente pode-se amar outro ser e junto com seu pai somos família, meu maior sonho constituído. Agradeço aos meus irmãos Priscila, Eden e Enoque e à minha cunhada Jociléia, por estarem presente e torcendo pelo meu sucesso. Também sou grata aos meus sobrinhos pelo amor incondicional. Agradeço a todos os meus queridos primos e tios, tanto Riz quanto Kiefer, também a família Huber, do meu esposo, meus sogros Atelcio e Fátima pelo apoio. Minhas tias Marina e Gessi a qual a gratidão é imensa, assim como meu primo Eng. Civil Germano pelos ensinamentos no estágio e as minhas primas Bárbara e Gidemara por serem exemplos. A todos os amigos, tanto os do transporte universitário, quanto os colegas de sala, por terem muitas vezes aliviado as pressões da vida acadêmica com palavras de incentivo. Agradeço também a Ruth Schlenz por ter aberto as portas de sua residência para que eu pudesse estudá-la e pelas informações prestadas com tanto carinho. Em especial, agradeço ao meu orientador, Prof. Ms. Luiz Marcello Gomes Ribeiro por ter acreditado no meu tema e ter me acolhido como sua orientanda. Obrigada por tanto aprendizado e que fique registrado minha profunda admiração.

Flora Kiefer Huber


‘A arte de um povo é a sua alma viva, o seu pensamento, a sua língua no significado mais alto da palavra; quando atinge a sua expressão plena, torna-se patrimônio de toda a humanidade, quase mais do que a ciência, justamente porque a arte é a alma falante e pensante do homem, e a alma não morre, mas sobrevive à existência física do corpo e do povo. ’ Ivan Turgueniev.


RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo a contribuição ao estudo dos condicionantes que levam a produção de uma arquitetura pastiche, ou seja, não autentica inspirada na técnica construtiva do enxaimel, na cidade de Domingos Martins-ES e as transformações na paisagem urbana provenientes dela. O pastiche enxaimel é analisado tomando como partido a turistificação da cidade, bem como a patrimonialização pejorativa da cultura local vista somente como mercadoria, caracterizando uma indústria de simples consumo patrimonial. Para isso, houve a necessidade da compreensão acerca do patrimônio histórico e cultural local, diferenciando o pastiche produzido e as construções genuínas da imigração alemã martinense, a qual através de análises percebe-se peculiar e única, proveniente das adaptações da técnica enxaimel às necessidades topológicas locais. A metodologia adotada baseia-se em pesquisas bibliográficas, estudo de casos e de campo nos imóveis históricos, bem como a análise de acervos etnográficos. Ao término dessa pesquisa, obteve-se o anseio pela valorização da arquitetura de enxaimel da colonização através do projeto de restauração da Casa Schlenz. Esta, uma residência com 160 anos de história real ligada a imigração que fora construída por colonos alemães e que possui desafios para sua adequação as necessidades atuais, sendo a acessibilidade plena a maior delas. Palavras-Chave: Pastiche. Enxaimel. Patrimônio histórico. Identidade. Domingos Martins.


ABSTRACT The present research aims to contribute to the study of the conditioning factors that lead to the production of a pastiche architecture, inspired by the construction technique of the half - timber, in the city of Domingos Martins - ES and the transformations in the urban landscape from it. The half-timber pastiche is analyzed taking as a party the touristification of the city, as well as the patrimonialization of the local culture seen only as a commodity, characterizing a patrimonial industry. In order to achieve this, there was a need to understand the local historical and cultural heritage, differentiating the pastiche produced and the genuine constructions of the German Martinian immigration, which through analysis, is perceived to be peculiar and unique, coming from the adaptations of the half-timber technique to the needs locations. The methodology adopted is based on bibliographical researches, case studies and field studies in historic buildings, as well as the analysis of ethnographic collections. At the end of this research, we obtained the yearning for the valorization of the architecture of half-timbering of the colonization through the project of restoration of the Casa Schlenz. This is a residence with 160 years of real history linked to immigration that was built by German settlers and that has challenges to adapt to current needs, with full accessibility being the largest of them. Keywords: Pastiche. Half-timbered. Historical patrimony. Identity. Domingos Martins.


LISTA DE FUGURAS Figura 01 - Linha do tempo com os eventos que marcaram a crise européia no século XIX e a conseqüente migração em massa.....................................................25 Figura 02 - A exploração dos imigrantes nos portos de embarque............................26 Figura 03 - A colônia de Santa Isabel no início do século XX....................................28 Figura 04 - Família inteira de colonos preparando roça para plantio.........................29 Figura 05 - Hotel Imperador em 1955........................................................................33 Figura 06 - Hotel Imperador em 2015. ......................................................................33 Figura 07 - Cafeteria Portal Pedra Azul com destaque para arquitetura referenciada no blocause................................................................................................................34 Figura 08 - Ruas locais e seus edifícios de Domingos Martins. ................................35 Figura 09 - Avenida Presidente Vargas em 2013 com destaque para o sub dimensionamento da via.............................................................................................36 Figura 10 - Ambiência da Avenida Presidente Vargas em 1930, com o Museu Casa da Memória em primeiro plano...................................................................................45 Figura 11 - Ambiência da Praça Dr. Arthur Gerhardt, com destaque para as transformações na paisagem em comparação com a imagem anterior.....................45 Figura 12 - Fotografia da residência de Germano Kruger, Biriricas, Domingos Martins, ES. ...............................................................................................................49 Figura 13 - Fotografia da Casa Schlenz com destaque para o madeiramento em enxaimel na empena lateral. Centro, Domingos Maritns, ES.....................................50 Figura 14 - Rothenburgob der Tauber, Alemanha......................................................52 Figura 15 - Modelo de Blocausse...............................................................................54 Figura 16 - Elementos do sistema construtivo enxaimel............................................55


Figura 17 - Tipos de contraventavento.......................................................................56 Figura 18 - Tipos de escora........................................................................................56 Figura 19 - O sistema baixo-saxão.............................................................................57 Figura 20 - O Sistema Alemânico...............................................................................58 Figura 21 - O Sistema Franco....................................................................................59 Fugura 22 - Evolução da casa vestafliana.................................................................60 Fugura 23 - Formas usuais de telhados na Alemanha...............................................61 Figura 24 e 25: Casas em Enxaimel Romântico na Alemanha..................................62 Figuras 26 e 27 - Stone Sculpture Museum, Bad Kreuznach - Alemanha.....................63 Figura 28 - Configuração das primeiras casas de colonos no Rio Grande do Sul..............................................................................................................................65 Figura 29 - Implantação de edificações da propriedade típica alemã capixaba no século XIX..................................................................................................................67 Figura 30 - Casa típica com escada e varanda no centro da fachada.......................68 Figura 31 - Implantação de edificações da propriedade típica alemã capixaba no século XIX. ................................................................................................................68 Figura 32 - Implantação de edificações da propriedade típica alemã capixaba no século XIX..................................................................................................................70 Figura 33 - Agricultor cortando madeira para confecção de ‘tabuinhas’....................71 Figura 34 - Foto de ‘tabuinha’ antiga da Casa Schlenz, Domingos Martins..............72 Figura 35 - Enxaimel pronto para receber barro. ......................................................73 Figura 36 - Casa Schlenz, com destaque para o preenchimento com tijolos de barro ....................................................................................................................................73


Figura 37 - Casa Schlenz, com destaque para o preenchimento com barro e capim..........................................................................................................................74 Figura 38 - Casa Schlenz, com destaque para o reboco sobre a estrutura enxaimel.....................................................................................................................75 Figura 39 - Pintura de cerimônia de coroação na Praça Römerberg, outubro de 1745, com destaque para a Casa Laderam.........................................................................77 Figura 40 - Fotografia panorâmica da Praça Römerberg. À esquerda está a Casa Laderam, edifício que faz parte do complexo que compreende a prefeitura. Em estilo gótico

tardio,

o

edifício

é

a

representação

feminina

da

cidade.........................................................................................................................77 Figura 41 - Implantação de Römerbergcom a localização e tratamento dos edifícios bombardeados em 1944.............................................................................................79 Figura 42 - Edifícios que compõe o Samstagsberg....................................................80 Figura 43 e 44 - À esquerda o edifício Alte Nikolaikirche e à direita o edifício Mainkai.......................................................................................................................81 Figura 45 - Cidade de Lucerna, Suíça........................................................................83 Figura 46 - Vista aérea da cidade de Campos do Jordão, com destaque para a similaridade da arquitetura com a da imagem anterior..............................................84 Figura 47 - Fachadas frontais dos edifícios que compõem o Boulevard Geneve. A reportagem que possui essa imagem como capa o descreve como ‘o lugar mais charmoso de Campos do Jordão.’..............................................................................85 Figura 48 - O restaurante e a casa de Ciampoligni ao fundo, ambos com telhado borboleta.....................................................................................................................86 Figura 49 - Estudo de Oswaldo Bratke para Residência em Campos de Jordão – São Paulo..........................................................................................................................86 Figura 50 - Parcial do complexo arquitetônico do Auditório Cláudio Santoro em Campos do Jordão. Arqtos. Croce, Aflalo&Gasperini. 1979......................................88


Figura 51 - Implantação do SESC Domingos Martins................................................89 Figura 52 - Edifícios SESC Domingos Martins...........................................................90 Figura 53 - Casa Schlenz, em Domingos Martins - ES..............................................93 Figura 54 - Imagem do início do povoado de ‘Campinho’ (Domingos Martins), por volta de 1860, quando a Igreja Luterana ainda era capela. A demarcação na foto corresponde a Casa Schlenz que, embora esteja distante, já era notável sua presença na fotografia. ..............................................................................................94 Figura 55 - Parede de quadros da Casa Schlenz, na qual está a foto dos donos da cada

no

centro

e

abaixo

quadros

religiosos....................................................................................................................95 Figura 56 - Planta esquemática representando a área a ser acrescida do banheiro acessível na Casa Schlenz......................................................................................106 Figura 57 - Perspectiva inicial do banheiro acessível representando a inclinação do telhado......................................................................................................................103 Figura 58 - Perspectiva inicial com as duas opções de rampas propostas, sendo a opção a direita escolhida..........................................................................................104 Figura 59 - Mood Board do Projeto Básico de Intervenção da Casa Schlenz.........106 Figura 60 - Vista 01 - Fachada Principal..................................................................107 Figura 61 - Vista 02 - Fachada Principal..................................................................108 Figura 62 - Vista 03 - Fachada Principal..................................................................108 Figura 63 - Vista 03 - Fachada Principal..................................................................109 Figura 64 - Fachada Lateral Direita..........................................................................110 Figura 65 - Fachada Lateral Esquerda.....................................................................110 Figura 66 - Vista 07 - Cobertura...............................................................................111


Figura 67 - Vista 08 - Rampa...................................................................................112 Figura 68 - Vista 09 - Rampa...................................................................................112 Figura 69 - Vista 10 - Garagem................................................................................113 Figura 70 - Vista 11 - Quintal dos fundos.................................................................114 Figura 71 - Vista 12 - exterior do banheiro...............................................................115 Figura 72 - Vista 13 - exterior do banheiro...............................................................115 Figura 73 - Vista 14 - interior do banheiro................................................................116 Figura 74 - Vista 15 - interior do banheiro................................................................117 Figura 75 - Mancha de umidade...............................................................................122


LISTA DE QUADROS QUADRO 01 - Edificações de uso comercial em Domingos Martins, ES..................37 QUADRO 02 - Edificações de uso misto em Domingos Martins, ES.........................39 QUADRO 03 - Edificações de uso residencial em Domingos Martins, ES................41 QUADRO 04 - Edificações de uso institucional em Domingos Martins, ES...............43 QUADRO 05 - Quadro de Patologias.........................................................................98


LISTA DE TABELAS TABELA 01 - PATOLOGIAS NA COBERTURA.......................................................118 TABELA 02 - PATOLOGIAS NO PISO E FORRO...................................................121 TABELA 03 - PATOLOGIAS NO REBOCO E PINTURA.........................................122 TABELA 04 - PATOLOGIAS NAS ESQUADRIAS...................................................127


Sumรก Sumรกrio


INTRODUÇÃO........................................................................................ 1

18

CAPÍTULO 1: DAS PROVÍNCIAS GERMÂNICAS ATÉ A CIDADE DE DOMINGOS MARTINS....................................................................

21

1.1

TERRITÓRIOS DE IMIGRAÇÃO NO BRASIL....................................... 22

1.2

MOTIVOS

DA

IMIGRAÇÃO:

A

ALEMANHA

NO

SÉCULO

XIX......................................................................................................... 1.3

23

DA COLÔNIA DE SANTA ISABEL À CIDADE DE DOMINGOS MARTINS............................................................................................... 26

1.3.1

Os movimentos migratórios e a colônia de Santa Isabel................

26

1.3.2

O desenvolvimento da cidade............................................................

28

1.3.3

O crescimento e as novas economias............................................... 29

1.3.4

A especulação imobiliária.................................................................... 33

1.3.5

A baixa qualidade arquitetônica e o empobrecimento do ambiente urbano nessas cidades........................................................................ 35

1.3.6

A busca por uma identidade e o surgimento do Pastiche Enxaimel................................................................................................ 44

1.3.7

A legislação que constrói o pastiche.................................................. 46

1.3.8

A verdadeira memória desamparada.................................................. 47 CAPÍTULO 2: A TÉCNICA CONSTRUTIVA ENXAIMEL DA EUROPA 51

2

ATÉ A CIDADE DE DOMINGOS MARTINS..........................................

2.1

O ENXAIMEL NA ARQUITETURA CENTRO-EUROPÉIA..................... 52

2.1.1

A técnica construtiva e sua história.................................................... 52

2.1.2

O enxaimel na atualidade..................................................................... 61

2.2

O ENXAIMEL E A ARQUITETURA DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ................ 63

2.2.1

O estabelecimento dos imigrantes na Colônia de Santa Isabel....... 63

2.2.2

A arquitetura suas adaptações feitas pelos imigrantes.................... 65

2.2.2.1 Em relação à propriedade rural e a planta baixa...................................

66

2.2.2.2 Com relação à estrutura........................................................................

70

2.2.2.3 Cobertura...............................................................................................

71

2.2.2.4 Preenchimento....................................................................................... 72 2.2.2.5 Revestimento.........................................................................................

74

2.4

ESTUDOS DE CASO............................................................................

75

2.4.1

A Reconstrução de Römerberg - Frankfurt, Alemanha.................... 76


2.4.2

Parque-tematização do município de Campos de Jordão...............

2.4.3

SESC Domingos Martins...................................................................... 89

3

CAPÍTULO 3: PROJETO BÁSICO DE RESTURO E

81

REABILITAÇÃO DA CASA SCHLENZ................................................

92

3.1

A CASA SCHLENZ................................................................................

93

3.1.1

Levantamento Cadastral.....................................................................

96

3.1.1.1 Levantamento Físico.............................................................................

96

3.1.1.2 Análise Tipológica e Quadro de Patologias...........................................

97

3.2

MEMORIAL JUSTIFICATIVO................................................................

99

3.2.1

Conceito e Partido...............................................................................

100

3.2.2

Programa de necessidades................................................................

100

3.2.3

Estudo de implantação dos acréscimos............................................ 102

3.2.4

Implantação e térreo...........................................................................

104

3.3.5

Cobertura.............................................................................................

105

3.3.6

Vocabulário de materiais....................................................................

106

3.3.7

Os acréscimos: banheiro acessível e a rampa.................................

111

3.3.8

Recomendações para recuperação de técnicas tradicionais construtivas.......................................................................................... 117 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................

134

REFERÊNCIAS..................................................................................... 137 APÊNDICES


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Introdução

A premissa desse trabalho de conclusão de curso nasceu em uma aula da disciplina Técnicas Retrospectivas, mais precisamente sobre as teorias do restauro. A inquietação referente ao atual cenário da arquitetura capixaba, mais precisamente no município de Domingos Martins e arredores, já se apresentava antes mesmo do conhecimento teórico sobre o assunto. O que se observa em relação a produção arquitetônica dessas cidades é a contínua produção de edifícios que lembram a arquitetura mundialmente conhecida como alemã, o enxaimel ou, segundo VEIGA (2014), o neoenxaimel, termo que caracteriza a reprodução do estilo na contemporaneidade e que será discutido nessa pesquisa. A Arquitetura genuína enxaimel, no alemão Fachwerk ou Fachwerkbau, consiste em uma técnica construtiva na qual a tradução literal do alemão é ‘construção em prateleiras’. Segundo Weimer: Designa uma construção em que as paredes são estruturadas por um tramado de madeira aparelhada em que as peças horizontais, verticais e inclinadas são encaixadas entre si e cujos tramos são posteriormente preenchidos com taipa, adobe, pedra, tijolos, etc.(WEIMER, 2005, p. 66).

Baseando-se nesse conceito e na forma tradicional em que o enxaimel foi empregado na Europa central, o neoenxaimel torna-se um estilo depreciativo, um pastiche, ou seja, uma imitação sem cunho arquitetônico qualitativo e histórico. A mudança na paisagem urbana nas cidades em estudo, com inúmeros edifícios de estilo neoenxaimel representa uma inversão cultural que será descrita nessa pesquisa.


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Levando em consideração uma possível justificativa histórica para a referida reprodução, pretende-se contrapor essa ideia a partir da abordagem dos principais pontos sobre a colonização alemã na região montanhosa do Espírito Santo, principalmente relacionados à arquitetura que os colonos desenvolveram nessas terras. Durante o desenvolvimento dessa pesquisa, através de estudos de campo de autênticos exemplares da arquitetura da imigração alemã, pode ser constada a riqueza dessas primeiras edificações e o mal estado de conservação em detrimento da inversão cultural. Ou seja, coletivamente busca-se valorizar e agregar valores de identidade ao pastiche ao invés do que é real, sendo que inúmeras casas antigas, verdadeiramente históricas e memoráveis, foram demolidas e perdidas por diferentes motivações. Domingos Martins é um município do estado do Espírito Santo, situado a aproximadamente 42 quilômetros da capital Vitória. Com 34.239 habitantes (IBGE, 2014) a colonização do município foi predominantemente alemã e italiana. É reconhecido como ‘Cidade do Verde’ pela proporção de Mata Atlântica como cobertura vegetal. A Casa Schlenz, exemplar da arquitetura enxaimel dos imigrantes foi reconhecida como a primeira edificação da cidade de Domingos Martins, datando de meados do século XIX. A edificação, onde atualmente reside um casal de irmãos; sendo o homem um senhor com deficiência física, cadeirante; apresentam mal estado de conservação e muitas necessidades de adaptação as demandas atuais, sendo a acessibilidade um quesito imprescindível para a habitabilidade na residência. Diante disso, a densidade histórica da residência verificada em visitas de campo foi propulsora da sensação de pertencimento e do desejo de restauro para preservação do imóvel. Para tanto, analisar a conjuntura, tanto econômica quanto social, torna-se imprescindível para o entendimento do contexto da região. É possível constatar a hegemonia do neoenxaimel, contudo não são abordadas quais as motivações para tal efeito, nem mesmo feitas análises qualitativas e quantitativas.


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O respaldo e o embasamento teórico dessa pesquisa estão fundamentados nos principais autores que tratam da teoria do restauro, bem como das reconstruções históricas ligadas à memória coletiva e identidade, como Choay (2001); Hobsbawm; Ranger (1997). Também se destaca na busca pelo entendimento histórico contextualizado: Weimer (2005) e, especificamente no estado do Espírito Santo, a biografia Rölke (2016) foi imprescindível para esta pesquisa. Somando-se a pesquisa bibliográfica, metodologicamente torna-se necessário o levantamento da Casa Schlenz, visando à compreensão do edifício em todos os seus aspectos, garantindo uma proposta de intervenção pertinente. Por conseguinte, as proposições para a residência serão expressas graficamente na forma de projeto arquitetônico de reabilitação e restauro. Desta forma, este trabalho visa abordar os fatos que contribuem para a construção de pastiche nessas localidades e esclarecer os questionamentos dos profissionais do campo da arquitetura, urbanismo, história, entre outros indivíduos interessados que não compreendem o que conduziu a sociedade e poder público municipal aceitarem tal fato. Serão abordados os aspectos históricos, sociais, econômicos e assim como outros dados relevantes para o entendimento da reprodução arquitetônica dessa sociedade.


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1 Capítulo 1 - Das províncias germânicas até a cidade de Domingos Martins A chegada e instalação dos imigrantes europeus em terras brasileiras no século XIX influenciaram na construção histórica e social da nação brasileira. A emigração foi um processo que se prolongou por quase um século e a conjuntura que levou ao fenômeno compreende vários fatores, dentre eles a crise econômica, social e política que a Europa passava, somada ao incentivo à imigração pela monarquia brasileira. Nesse capítulo pretende-se apontar quais os principais aspectos da onda de imigrações no século XIX, de forma a esclarecer como os fatos externos influenciaram na formação do território capixaba.


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1.1 TERRITÓRIOS DE IMIGRAÇÃO NO BRASIL Para se estabelecerem no Império do Brasil (denominação do Brasil no período monárquico), os imigrantes passavam por um processo que demandava desde o acordo com agenciadores até a instalação em terras brasileiras. Após a viagem da Europa ao Brasil, os imigrantes desembarcavam nos portos e eram direcionados pelo Governo Imperial até as províncias, onde eram fundadas colônias para os imigrantes se domiciliarem. Algumas dessas colônias foram fundadas pelo governo, como é o caso de Santa Isabel onde, atualmente, está localizada a cidade de Domingos Martins e outras pelos próprios imigrantes, de acordo com as necessidades de ocupação do território. Em se tratando da imigração alemã no século XIX, cerca de cinco milhões do total de emigrados chegaram às Américas. Destes, apenas 13.862 (1%) se dirigiram para ao Brasil. Conforme nos afirma Pelanda (1925), a maioria dos imigrantes alemães se instalou na região sul do país aderindo ao projeto de consolidação de fronteiras do Império Brasileiro em áreas próximas a Bacia Prata, sendo São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, a primeira colônia germânica fundada em solo brasileiro. Também Blumenau, em Santa Catarina, foi estabelecida por imigrantes alemães liderados pelo filósofo alemão Hermann Blumenau. Imigrantes alemães se radicaram ainda em Minas Gerais, nos atuais municípios de Teófilo Otoni e Juiz de Fora, e no Espírito Santo, onde hoje se localizam os municípios que compõem a região montanhosa do estado. A região sul do Brasil é reconhecida nacionalmente por ser um pólo da imigração alemã: A contribuição cultural germânica nessas cidades é inegável, não podendo ser ignorado o fato de que elas foram fundadas por imigrantes alemães e que continuaram recebendo uma grande quantidade de imigrantes até as primeiras décadas do século XX. Assim, parte da população atual descende desses imigrantes. Em cidades menores da região e, especialmente, em áreas rurais, a influência germânica é ainda mais perceptível, tendo diversos costumes e tradições sido preservados ao longo do tempo. (VEIGA, 2014, p. 2).

Em nível nacional, não houve um modelo único de implantação dos imigrantes no tecido urbano. O que houve foram dois modelos distintos de distribuição: o modelo de ‘concentração’ e o modelo de ‘dispersão’ (TOSI E LOMBARDI, 1998). O modelo


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de ‘concentração’ compreendeu as colônias do sul brasileiro e do interior do Espírito Santo, nas quais a população imigratória era predominante rural e era a maioria, se não a unanimidade, de moradores o que facilitava a adaptação e manutenção das tradições empíricas. Já o modelo de ‘dispersão’ aconteceu nas lavouras de café do interior paulista e nas cidades onde os imigrantes tinham contato e assimilação da cultura brasileira, não conseguindo manter, assim, a unidade da suas raízes. 1.2 MOTIVOS DA IMIGRAÇÃO: A ALEMANHA NO SÉCULO XIX A Alemanha, assim como toda Europa, na segunda metade do século XIX passava por crises políticas, sociais e econômicas, acarretadas pela derrota de Napoleão e o fortalecimento da centralidade política da nobreza (WEIMER, 2005). Logo, torna-se imprescindível para o entendimento da imigração alemã no Brasil a compreensão do contexto histórico europeu no século XIX. “O mapa do que hoje em dia conhecemos como Alemanha mais se assemelhava a uma colorida colcha de retalhos, composta de inúmeros pequenos estados.” (RÖLKE, 2016).


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Mapa 01 - Mapa de Unificação da Alemanha

Fonte: RÖLKE, 2016.

Conforme o Mapa 01, este vasto território estava subordinado aos domínios do Império Napoleônico e, assim como toda Europa apreensiva diante da ascensão do Império e das Guerras Napoleônicas, sujeitavam-se as suas leis e restrições. Uma dessas, o Bloqueio Continental, consistia no fechamento dos portos e fim do comércio internacional em toda Europa, até mesmo em territórios não conquistados pelas Guerras Napoleônicas, como estratégia econômica de enfraquecer a GrãBretanha. A Figura 01 sintetiza os eventos que levaram a imigração européia no século XIX.


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Figura 01-Linha Linha do tempo com os eventos que marcaram a crise européia no século XIX e a conseqüente migração migraç em massa

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Com o fim do império napoleônico,, a nobreza alemã buscava consolidar-se consolidar e abolir as idéias de liberdades oriundas da Revolução Francesa. Para isso, foi realizada a Confederação Alemã que buscava unir os territórios que hoje formam a Alemanha. Apesar das tentativas de unificação, a maioria da população era rural, sedentária e as condições de comunicação comunicação eram precárias. Havia três classes sociais: a nobreza, a burguesia e o povo. As relações entre as classes variavam de um reino para o outro. Relação esta que, na Prússia ainda era mantida como regime de servidão feudal. O reino prussiano era o segundo segundo maior da Confederação Alemã e apresentava estrutura social atrasada. Abusos eram cometidos contra os súditos, de modo que eram tratados como cabeça de gado e até mesmo foram vendidos como soldados para a Guerra da Independência norte americana. Os camponeses camponeses que não eram mantidos no regime de servidão tinham que pagar altos impostos e estavam sujeitos a corvéia,, trabalho gratuito para o senhor feudal, feudal produzindo tudo que necessitavam para sua subsistência, mesmo trabalhando como servos, com invernos rigorosos ri que dificultavam a produtividade agrícola, resultando em fome e uma vida árdua.


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Esses são motivos pelos quais as maiores partes dos imigrantes alemães que se estabeleceram no Brasil eram prussianos, principalmente os pomeranos. O artesanato, fonte de renda extra do camponês, perdia a concorrência para a produção fabril. Weimer (2005) deixa claro em sua perspectiva: “Então, o camponês não tinha oura alternativa do que vender o que ainda lhes restava e emigrar para a cidade ou vagar nômade pelos campos à procura de trabalho, ou ainda, emigrar para outro continente.” (WEIMER, 2005, p. 47). 1.3 DA COLÔNIA DE SANTA ISABEL ATÉ A CIDADE DE DOMINGOS MARTINS A colônia de Santa Isabel, onde posteriormente se desenvolveu o município de Domingos Martins, recebeu 163 imigrantes de origem germânica, no ano de 1846 (RÖLKE, 2016). Tomando como base os acontecimentos na Europa que levaram a imigração, pretende-se abordar o processo de ocupação da cidade. 1.3.1 Os movimentos migratórios e a colônia de Santa Isabel Os camponeses buscavam agenciadores para lhes transportarem para territórios americanos com promessas de uma vida melhor. Aos poucos, o campo foi esvaziando-se pelas notícias de prosperidade encontradas pelos alemães que emigraram para o Brasil, embora esse quadro tenha sido mudado posteriormente. A Figura 02 representa a desorganização devido à demanda de imigrantes para partirem nos portos de embarque.


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Figura 02 - A exploração dos imigrantes nos portos de embarque

Fonte: Charge do acervo Staatsarchiv Hamburg, século XIX.

Em meio às conseqüências da guerra franco-prussiana e más notícias vindas dos territórios de imigração, o governo alemão decretou, em 1896, O Rescrito de Von Der Heydt que rescindia as concessões para agenciadores de viagem, barrando a emigração. “Nos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial, a emigração alemã chegou a quase se anular e o Brasil recebeu os últimos grandes contingentes”. (WEIMER, 2005, p. 110). Paralelamente, Couto Ferraz, presidente da província do Espírito Santo, solicitava imigrantes ao Governo Imperial. Apesar de outras nacionalidades de imigrantes virem para o Brasil, os alemães era maioria. O Governo Provincial criou então a Colônia de Santa Isabel, representada na Figura 03, para recebê-los. Juntamente com esta também foram fundadas, naquele primeiro momento, outras colônias de imigração alemã, como: a colônia de Rio Novo, Santa Leopoldina e de Fransilvânia, atual cidade de Baixo Guandu.


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Figura 03 - A colônia de Santa Isabel no início do século XX

Fonte: Reprodução Câmara Municipal de Domingos Martins, 2016.

1.3.2 O desenvolvimento da cidade Santa Isabel fora um conjunto de terras desmembradas da colônia de Viana, fundada por açorianos. Para se estabelecerem, cada imigrante recebia cerca de 50 hectares de terra e certa quantia em dinheiro. A colônia era descrita em documentos oficiais com terras férteis e clima agradável, não muito distantes da capital. As dificuldades encontradas nos primeiros anos de ocupação foram imensas: terrenos acidentados cobertos por uma densa Mata Atlântica, falta de recursos materiais e humanos, remédios, mercadorias. Além disso, a colônia de Viana, de maioria católica, opunha-se a comercializar com Santa de Isabel, de maioria protestante. Para conseguirem sobreviver, toda a família trabalhava inclusive as crianças, como pode constatado na Figura 04.


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Figura 04 - Família inteira de colonos preparando roça para plantio

Fonte: Acervo pessoal de Helma Rölke, final do século XIX.

Apesar das dificuldades, os imigrantes deixaram seu legado e conseguiram desenvolver a região mediante as dificuldades: Em 11 de março de 1878, a colônia foi elevada à condição de Distrito Policial. Em 1891, foi criado o município de Santa Isabel. Em 1917, foi criado o Distrito de Campinho, que passou a ser a sede do município de Santa Isabel. Em 1938, a vila de Campinho foi elevada à categoria de cidade. Em 1921, em homenagem a Domingos Martins, capixaba que participou da Revolução Pernambucana, o município recebeu o nome de Domingos Martins. (RÖLKE, 2015, p. 219).

Atualmente o município de Domingos Martins é dividido em sete distritos: Sede, Melgaço, Ponto Alto, Paraju, Aracê, Santa Isabel e Biriricas. Em 31 de outubro de 1991, o distrito de Marechal Floriano emancipou-se de Domingos Martins, tornandose um município independente. Os distritos interiorizados, como Melgaço e Aracê conseguiram preservar melhor as tradições que os colonos desenvolveram em terras capixabas. Porém, há muito, as tradições como língua, dança e arquiteturas já se dissiparam entre as gerações. 1.3.3 O crescimento e as novas economias Nas primeiras décadas do século XX novas localidades foram ocupadas e os territórios densos de Mata Atlântica começaram a abrigar casas em grandes propriedades

isoladas.

As

gerações

de

descendentes

de

imigrantes

se

encarregaram de abrir estradas, construir moradias, plantar e colher nessas terras.


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Nessas propriedades agrícolas, a cultura e as técnicas rudimentares eram mantidas entre os descendentes. Não é por acaso que a principal atividade do município é a agricultura, destacando-se, atualmente, o cultivo de morango, na localidade de Pedra Azul especialmente, e do café arábica (IBGE, 2010). Apesar da base agrária predominante, na última década do século XX até a atualidade, o turismo e o mercado imobiliário vêm crescendo de forma intensiva, apresentando uma importante participação na economia do município. Além disso, o setor secundário também é crescente no município visto que possui a fábrica de Refrigerantes Coroa e várias pequenas produções de biscoitos caseiros com receitas ‘típicas’ alemãs. No setor terciário destaca-se a empresa E&L Produções de Software, empresa de grande porte que gera emprego e renda para região. Contudo o desenvolvimento turístico da região, mais visível, iniciou-se pela procura dos visitantes por melhores condições climáticas e contato com a natureza, gerando o ecoturismo que: [...] possui entre seus princípios a conservação ambiental aliada ao envolvimento das comunidades locais, devendo ser desenvolvido sob os princípios da sustentabilidade, com base em referenciais teóricos e práticos, e no suporte legal. (BRASIL. Ministério do Turismo, 2010).

Logo Domingos Martins ganhou o slogan de ‘Cidade do Verde’, muito incentivado pela mídia. Soma-se a esse fator o rápido êxodo rural que a região sofreu, fazendo com que os habitantes das cidades das regiões metropolitanas buscassem o campo para se reconectarem com o passado campestre da colonização do território.1 Outro fenômeno relacionado ao turismo que caracteriza as últimas décadas é a demanda por produtos culturais, principalmente o patrimônio histórico. Segundo Winter, (2006) o grande desenvolvimento capitalista observou na memória coletiva e cultural uma forma de mercado, gerando o que se conhece hoje por indústria cultural. Ainda segundo o autor: O comércio de patrimônio e herança se torna uma atividade lucrativa, com nichos de mercado e metas de consumo. A transformação da memória em mercadoria valeu a pena, houve um enorme boom de consumo do passado em filmes, livros, artigos e, mais recentemente, na internet e na televisão. Há toda uma indústria dedicada a exibições de grande impacto em museus, O Agroturismo é um fenômeno da sociedade capitalista, para entender mais sobre sua contextualização no Espírito Santo, pesquisar PIRESA, Mariana Rodrigues . Agroturismo, agricultura familiar e pluriatividade: um estudo de caso sobre as regiões turísticas das montanhas capixabas e dos imigrantes no estado do Espírito Santo, 2013. 1


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cujos visitantes parecem responder cada vez mais a shows espetaculares. (WINTER, 2006, p. 78).

Nesse contexto, Domingos Martins contém os requisitos turísticos necessários para o crescimento econômico do setor: clima agradável, natureza exuberante, público alvo com poder aquisitivo, advindo da Grande Vitória. Desta forma, faltava configurara cidade sob uma aparência que remetesse e conectasse tudo isso, visto que a indústria turística sempre vai preferir lugares de características marcantes, que consigam impactar os turistas por suas imagens. Em relação à imagem da cidade, é importante ressaltar, segundo Oliveira e Harb, que a imagem do destino possui um impacto crucial na decisão do turista escolher ou não um lugar para visitar (OLIVEIRA E HARB, 2012). Primeiramente, define-se imagem como o conjunto de percepções e representações mentais do futuro e recordações passadas que o turista possui sobre o destino escolhido. (ACERENZA, 2002; BIGNAMI, 2002). Outro aspecto relevante é que a imagem de um destino turístico pode ser formada a partir de três dimensões: a orgânica, a induzida e a complexa. A orgânica é formada por meio de literatura, amigos e famílias que trazem informações acerca do destino. A induzida é formada por entidades interessadas em vender o destino turístico por meio de feiras e artigos em revistas especializadas. A imagem complexa é formada quando o turista tem uma ideia real derivada de seu contato direto com o destino (ECHTNER E RITCHIE, 1991). No caso de Domingos Martins, a imagem induzida da cidade é formulada pelo próprio poder público e pela mídia para incentivar tanto o turismo como a especulação imobiliária que será abordada no tópico a seguir. No caso do pastiche enxaimel na imagem da cidade, é tangível a conclusão de Garcia e Bahl, (2010) quando dizem que o local receptor pode correr o risco de divulgar uma imagem inexistente ou inapropriada. Dessa forma, Domingos Martins se empenha na construção de uma imagem que destaca sua semelhança com outras (do sul brasileiro) e tornar-se obscura para a percepção dos visitantes seus verdadeiros potenciais turísticos, exemplificada na verdadeira memória desamparada. A espetacularização da arquitetura, segundo Veiga, (2013) pode ocorrer de Duas maneiras: com a restauração de edifícios antigos ou com a construção de novas arquiteturas monumentais e arrojadas. Engloba também a faceta turística de construção de novos edifícios que imitam algo que já existiu, como é o caso desse


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estudo. A valorização desse tipo de atração arquitetônica é característica da sociedade contemporânea que possui grande fixação pela mercadoria e pela imagem. Em seu livro A Sociedade do Espetáculo, Debord, (1997) critica e descreve a sociedade atual na qual o valor das coisas não está mais nelas em si, mas na sua imagem e nos desejos que ela desperta. Esse aspecto pode ser observado em vários exemplos da sociedade, como no culto a celebridades e no consumismo exacerbado que vem aumentando gradativamente pelas redes sociais, onde o conteúdo não mais importa. Para tornar a cidade atrativa do ponto de vista turístico, já na década de 1950 começaram a aparecer os primeiros passos em direção ao neoenxaimel. É o caso do Hotel Imperador, representado na Figura 05 no ano de sua inauguração e na Figura 06 na atualidade. O site da Prefeitura Municipal de Domingos Martins explica: O Hotel Imperador foi inaugurado no dia 6 de janeiro de 1955. Por causa de sua arquitetura o hotel tornou-se um atrativo no município, passando a ser considerado o hotel de referência para os casais em lua de mel em todo o Estado. E uma curiosidade: antes mesmo de se consolidar como atrativo turístico, o Hotel Imperador, nos primeiros anos de sua existência, era o destino de muitos hóspedes que buscavam tratamento de saúde, em função do clima, ideal para o tratamento de doenças respiratórias. (PREFEITURA MUNICIPAL DE DOMINGOS MARTINS, 2015.)


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Figura 05 - Hotel Imperador em 1955

Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE DOMINGOS MARTINS, 2015.

Figura 06 - Hotel Imperador em 2015

Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE DOMINGOS MARTINS, 2015.

1.3.4 A especulação imobiliária Mediante ao crescimento do turismo cultural e ecológico na região, o setor imobiliário tende a acompanhá-los. Destaca-se, em relação ao aglomerado urbano, um aumento desenfreado do número de loteamentos na zona rural do município, principalmente no distrito de Aracê, onde se localiza a o monumento natural da Pedra Azul (PITANGA, 2006).


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A Pedra Azul é um maciço natural de granito e gnaisse, com 1.822 metros de altitude em relação ao nível do mar. A cor da pedra é azulada e a forma de um lagarto subindo uma de suas vertentes corresponde a uma marca máxima atrativa na

paisagem

para

o

turismo

bem

como

para

a

comercialização

dos

empreendimentos imobiliários (PITANGA, 2006). A localidade foi colonizada por italianos, mas não chegaram a formar uma colônia. Apesar de ter uma forte atividade turística, com várias opções de lazer, a agricultura, em especial o cultivo de morango também é uma atividade importante para o município. Tanto que, para atrair mais turistas, foi criada a Festa do Morango na década de 1980, quase 100 anos após o término da imigração. Sites de hotéis e viagens anunciam a região como sendo uma das mais românticas do país, fomentando os estereótipos da indústria do turismo. É o que pode ser observado na reportagem que possui como capa a Figura 07 do site Gazeta Online: “Domingos Martins está entre as cinco cidades mais românticas do país: O município da Serra Capixaba levou o quarto lugar no pleito que escolheu as cidades mais românticas do Brasil.” (GAZETA ONLINE, 2017). Figura 07 - Cafeteria Portal Pedra Azul com destaque para a arquitetura referenciada no blocause

Fonte: GAZETA ONLINE, 2017.


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Ainda segundo Pitanga: “De acordo com o levantamento do IPES (2004), no município de Domingos Martins, entre 1995 a 2004, foram mais de 1.670 novos lotes registrados e em andamento de registro na Prefeitura do Município.” (PITANGA, 2006, p 92). Esse aumento no número de loteamentos é conseqüência da valorização imobiliária na região, que nem sempre possui a infraestrutura adequada e correta para suportar esse contingente2. 1.3.5 A baixa qualidade arquitetônica e o empobrecimento do ambiente urbano É comum observar, caminhando pelas ruas de Domingos Marins, a presença de edifícios com padrão arquitetônico variando de baixo a ruim. Grande parte das fachadas utiliza revestimentos e esquadrias de forma desorganizada e sem planejamento, resultando em produtos esteticamente sofríveis, conforme pode ser constatado na Figura 08. Figura 08 - Rua local de Domingos Martins e seus edifícios

Fonte: Flora Kiefer, 2019.

Além dos edifícios, a infraestrutura viária também não é adequada, visto que atualmente as vias se encontram subdimensionadas em relação ao fluxo de

2

Para se ter uma ideia da dimensão do processo de parcelamento e loteamento no município, de acordo com o cadastro do municipal, constava 246 unidades construídas em seu núcleo urbano, entre os anos de 1995 a 2002 e 1.288 lotes em zona rural, somando 1.584 imóveis registrados. No recadastramento do ano de 2017, esse número já havia crescido para 8.000 imóveis e seria acrescido de mais 6.000, resultando em 14.000 lotes, ou seja, um aumento de quase dez vezes em relação a 2002 (IPES, 2004).


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veículos, como pode ser observado na Figura 09. Nos últimos anos, a fim de melhorar o trânsito na sede, a prefeitura vem realizando mudanças como remover vagas de estacionamentos de determinadas vias e estabelecer apenas um sentido de tráfego em outras, dando fim à mão dupla. Figura 09: Avenida Presidente Vargas em 2019 com destaque para o subdimensionamento da via.

Fonte: Flora Kiefer, 2019.

A maior parte dos edifícios da cidade foi construída nas décadas de 1980 e 1990, caracterizado por um modelo onde predominam as autoconstruções, ou seja, edificações sem planejamento e assistência técnica adequada. Outro fator foi à falta de exigência dos órgãos municipais competentes, visto que a Secretaria Municipal de Obras, desde então, não exercia papel fiscalizador, cenário que atualmente tem mudado pelo fortalecimento da fiscalização. Analisando a arquitetura martinense sem relação aos usos das edificações, é possível observar a maior parte dos edifícios de uso estritamente comercial se encontram localizados na Rua de Lazer3 do município. Esta recebe uma relevante quantidade de turistas e por isso abriga comércio de bares, restaurantes, adegas e, não por acaso, está repleta de pastiches em forma de referência ao enxaimel para vender uma imagem necessária à indústria turística, como observado no QUADRO 01. A descrição sobre a Rua de Lazer no site da PMMD define: “Localizada no centro da cidade, na Rua João Batista Wernersbach, a Rua de Lazer, oferece várias opções de entretenimento, alimentação e compras tanto para os moradores locais como para os turistas.” (PREFEITURA MUNICIPAL DE DOMINGOS MARTINS, 2016). 3


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Os exemplares de Arquitetura de uso misto podem ser observados no QUADRO 02 e correspondem à maior parte dos empreendimentos imobiliários recentes. Por isso, são prédios de maior gabarito, sobressaindo-se na paisagem com quatro a oito pavimentos. A valorização do solo no centro de Domingos Martins vem acontecendo em função do crescimento imobiliário na cidade. É comum observar novos edifícios sendo construídos e muitos são vendidos por valores considerados elevados por metro quadrado.


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As casas no município são, em sua maioria, de um a três pavimentos e distribuem-se uniformemente pela cidade, conforme as QUADRO 03. Caracterizadas por modelos de autoconstrução e grande parte com a solução do popular ‘terraço capixaba’4, é difícil estabelecer um padrão de arquitetura civil em Domingos Martins, pois essas casas possuem variados padrões e sua diversidade pode ser comparada a própria diversidade da sociedade local.

4

Terraço capixaba é “uma cobertura praticamente plana em que há um espaço entre a laje e o telhado, muito utilizado como área de serviço ou extensão do quintal.”(GAZETA ONLINE, 2015).


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Em relação ao uso institucional, o fato mais marcante é que a maioria dessas edificações configura-se como pastiches em referência ao enxaimel, conforme pode ser observado no QUADRO 04. Um dos fatores que o justificam é que a criação de uma aparência germanizada da cidade tenha partido do poder público. Esses edifícios são sede de órgãos municipais da gestão pública.


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Ao final, um fator determinante para o empobrecimento do ambiente urbano resulta no uso equivocado do pastiche enxaimel, objeto dessa pesquisa. Essas construções imitam o antigo método construtivo, porém, de forma depreciativa e sem critérios. Esse fator pode ser constatado pelas peças de madeira ou concreto apenas pregadas nas fachadas, em vez de ser realmente um componente estrutural. Este falso ‘estilo germânico’, ou seja, o pastiche enxaimel depreciativo que será mais estudado e aprofundado, especificamente, no capítulo 2. 1.3.6 A busca por uma identidade e o surgimento do Pastiche Enxaimel Como já dito, a indústria cultural do turismo prefere lugares com características marcantes, tais como: arquitetura, música, dança, culinária, paisagem cultural. Nesse sentido, Domingos Martins passou por um processo de construção da imagem da cidade para o turismo, promovido pelo poder público, iniciando-se nos anos 2000. Não só em Domingos Martins, mas também nos municípios vizinhos de colonização européia, foram criadas arquiteturas e festas típicas, no intuito de tornar tais cidades mais atrativas a um projeto de turismo cultural. Françoise Choay (2001) também aborda tal questão “os monumentos e o patrimônio históricos adquirem [atualmente] dupla função – obras que propiciam saber e prazer, postas à disposição de todos; mas também produtos culturais, fabricados, empacotados e distribuídos para serem consumidos”. (CHOAY, 2001, p. 211). Segundo a autora, o processo de indústria patrimonial consiste na transformação do patrimônio cultural em mercadoria. Para isso essas localidades forjam sua história e recriam identidades. Essa recriação da de uma identidade tipicamente alemã nos municípios da região montanhosa do Espírito Santo é o que Hobsbawm e Ranger (1997) denominam de tradição inventada: Tradições que parecem ou alegam ser antigas são muitas vezes de origem bastante recente e algumas vezes inventadas. [...] significa um conjunto de práticas, de natureza ritual ou simbólica, que buscam inculcar certos valores e normas de comportamentos através da repetição, a qual automaticamente implica continuidade com um passado histórico adequado. (HOBSBAWM E RANGER, 1997, p. 9)


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Na área central de Domingos Martins não havia exemplares que remetessem à germanidade necessária para a indústria turística, pois as casas em enxaimel, feitas genuinamente pelos imigrantes, passaram por adaptações e modificações em relação às tradicionais casas alemãs, como é o caso do uso do reboco sobre a estrutura de madeira. Na ambiência urbana da cidade alguns imóveis antigos, do início do século XX, ainda existiam, conforme a Figura 10, mas não remetiam à aparência necessária. Figura 10 - Ambiência da Avenida Presidente Vargas em 1930, com o Museu Casa da Memória em primeiro plano

Fonte: Acervo fotográfico Casa da Memória.

Figura 11 - Ambiência da Praça Dr. Arthur Gerhardt, com destaque para as transformações na paisagem em comparação com a imagem anterior


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Fonte: Evaldo Teixeira, 2016.

Assim, foi necessário recriar uma arquitetura enxaimel, ou melhor dizendo, o neoenxaimel que apenas simula o estilo,mas não utiliza a técnica tradicional construtiva. Essas edificações aparentemente simulam uma técnica que é herança da imigração, mas que não é verdade. E, nesse sentido, a reprodução do pastiche enxaimel em Domingos Martins pode ser considerada um exemplo da indústria patrimonial citada por Choay, (2001), pois não existiam atrativos históricos suficientes, sendo necessário inventá-los. A mudança na paisagem urbana da cidade pode ser constada na comparação entre as figuras 09 e 10, uma em 1930 e outra em 2016. Fica evidente que as construções germanizadas atuais buscam remeter à presença da imigração alemã na região, embora a fotografia de 1930 possua vários exemplares dessa arquitetura da imigração, porém, sem o madeiramento enxaimel evidente. Também festas foram criadas com temas que remetem à cultura e ao clima para atrair mais o interesse dos turistas. Essas festas são mais um exemplo de tradições inventadas, criadas para atrair turistas e não pelos imigrantes. Domingos Martins possui atualmente de um a três eventos por mês, todos os meses do ano, pautados na tematização da região. São exemplos a Sommerfest, que reproduz a ideia do festival catarinense de Blumenal, e o Festival Internacional de Inverno, inspirado na mesma atração de Campos do Jordão. Aos finais de semana a praça da cidade recebe muitos turistas e atrações para o público. As festas têm maior freqüência durante o período do inverno para estimular, ainda mais, a vinda de turistas em busca de temperaturas amenas. 1.3.7 A legislação que constrói o pastiche A iniciativa de dar a Domingos Martins uma aparência germanizada começou na década de 1980 e, para realçar ainda mais essa germanidade, foi crida ao final daquela década a Sommerfest. Com a atração de grande público, as autoridades municipais propuseram a isenção de IPTU, por 10 anos, para quem construísse suas edificações em um ‘estilo germânico’. O site da Prefeitura Municipal de Domingos Martins anunciou na reportagem sobre Recadastramento Imobiliário, na parte de


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isenção, ano de 2016: “Já os proprietários de imóveis que optarem por fachadas em estilo predominante na região (germânico), tem isenção de IPTU por um período de 10 anos.” 5 A iniciativa de isentar imposto aos novos imóveis, pastiches da arquitetura enxaimel,também foi uma estratégia implantada no município de Blumenal, SC.6Essa ideia, assim como a Sommerfest e a criação de grupos de dança típica alemã, foi uma reprodução das estratégias de germanização do sul do país. Boa parte dos elementos culturais recriados foram cópias de exemplos sulinos, comprovando que além de não possuir elementos suficientes, a cidade não tem nem mesmo estratégias próprias para seu desenvolvimento turístico. Contudo, através da leitura do Código de Tributação do município de Domingos Martins, não é possível encontrar nenhum artigo que discorra sobre a isenção para casas com fachadas em ‘estilo germânico’.7A explicação para esse fato foi obtida em pesquisas de campo e visitas ao Setor de Tributação da Prefeitura Municipal de Domingos Martins: após prévio levantamento dessas edificações, foi constatado que a prefeitura perderia uma parcela significativa de tributação. Para não ter prejuízos financeiros, a Câmara Municipal optou por vetar o artigo. A justificativa de prejuízo financeiro foi suficiente para o veto. Vale à pena ressaltar que não houve estudos ou planejamentos técnicos, tampouco foram consultados arquitetos e urbanistas, especialistas em patrimônio histórico, para darem parecer sobre esse tipo de isenção, desprezando a consultoria e a habilitação profissional sobre o assunto. 1.3.8 A verdadeira memória desamparada Face ao que já foi exposto, percebe-se que a sociedade martinense passa por uma séria inversão de valores culturais ao dar importância a uma arquitetura sem PREFEITURA MUNICIPAL DE DOMINGOS MARTINS. Prefeitura está finalizando o recadastramento imobiliário. Disponível em: <http://www.domingosmartins.es.gov.br/noticia/itemlist/tag/iptu.html>. Acesso em: 12 set. 2018. 6 Lei n.º 2.262, que em seu artigo primeiro determina: ‘Fica o executivo autorizado a conceder favores fiscais às edificações que forem construídas dentro do perímetro urbano de Blumenau para fins comerciais, residenciais, isolados ou conjuntamente, e que apresentarem os estilos arquitetônicos típicos conhecidos como Enxaimel e Casa dos Alpes, nas seguintes bases: a- 50% do Imposto Predial Urbano para edificações residenciais; b- 1/3 do IPU para as edificações destinadas ao comércio, obedecendo os critérios de lançamento estabelecidos pelo Código Tributário do Município’. A mesma lei fixava o benefício por um período de 10 anos, a partir da concessão do habite-se” (ALTHOFF, 2008). 7 Lei complementar nº 41/2017, INSTITUI O CÓDIGO TRIBUTÁRIO DO MUNICÍPIO DE DOMINGOS MARTINS E DA OUTRAS PROVIDÊNCIAS. 5


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autenticidade histórica em detrimento de valores reais locais. Assim, ao invés de valorizar um patrimônio real existente, acabam por produzir novos produtos que são consumidos como patrimônio autêntico. Como resultado desta equação, a valorização do que é falso resulta na lógica reversa: desvaloriza-se o que é verdadeiro. O modelo de ocupação pelos imigrantes alemães nas propriedades rurais analisadas nessa pesquisa consistiu na edificação de uma residência na qual a família desenvolvia suas atividades. O estudo dessas arquiteturas quanto as suas características e métodos construtivos será aprofundado no capítulo 2. O importante neste momento é compreender como se dava, de forma operacional, a geração e ocupação do espaço da habitação do colono. Conforme a família crescia e os filhos dos imigrantes se casavam e constituíam suas famílias, novas residências iam sendo edificadas nas propriedades. Muitas vezes, os descendentes de colonos que herdaram a residência construíam novas moradias e, na busca por conforto, deixavam a residência original, mais primitiva. Mediante a esse fenômeno cultural de abandono da casa antiga, restam poucos exemplares autênticos da arquitetura da imigração alemã com os elementos que caracterizam esse tipo de construção. As poucas restantes estão localizadas,em sua multiplicidade, na zona rural. A residência da Família Kruger, está localizada no distrito de Biriricas e é um caso representativo da arquitetura da imigração alemã capixaba, conforme suas variações. A residência está representada na Figura 12.


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Figura 12 - Fotografia da residência de Germano Kruger, Biriricas, Domingos Martins, ES.

Font: Armin Miertschink e Werner Bruske, 2016.

Outro considerável exemplo de arquitetura da imigração alemã em Domingos Martins é a Casa Schlenz. Localizada no Centro de Domingos Martins, a residência,considerada a mais antiga da cidade, é remanescente, em meio a tantas que foram demolidas ao longo do século XX. Percebe-se através das imagens, Figura 13, a deterioração das madeiras das varandas, o revestimento desprendido das fachadas e os entulhos. Muitos moradores locais não reconhecem a residência como um patrimônio histórico, apelidando a residência pejorativamente de ‘barraco’. Essa desvalorização da primeira edificação do município de Domingos Martins comprova a falta de reconhecimento pela população de sua própria trajetória histórica e seu patrimônio real mediante a recriação do mesmo para atender a uma indústria cultural patrimonializadora.


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Figura 13 - Fotografia da Casa Schlenz com destaque para o madeiramento em enxaimel, na empena lateral. Centro, Domingos Martins, ES

Fonte: Elina Raquel, 2018.

Para compreender o genuíno patrimônio arquitetônico martinense é necessário entender como os imigrantes produziam o enxaimel na Alemanha, o que será abordado no capítulo seguinte.


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2 Capítulo 2 - A técnica construtiva enxaimel, enxaimel, da Europa até a cidade de Domingos Martins


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2.1 O ENXAIMEL NA ARQUITETURA CENTRO-EUROPÉIA 2.1.1 A técnica construtiva e sua história Como já dito anteriormente, a Arquitetura enxaimel, do idioma alemão Fachwerk ou Fachwerkbau, consiste em uma técnica construtiva na qual a tradução literal é ‘construção em prateleiras’ (WEIMER, 2005). A figura 14 representa o enxaimel antigo, é descrito: O método construtivo enxaimel é a denominação dada à estrutura de madeira, que articulada horizontal, vertical e inclinada formam um conjunto rígido e acabado através do encaixe dos caibros de madeira. Somente. É o conceito atual e pode mudar de acordo com o recorte do período histórico, ou mesmo de acordo com o conceito do termo alemão – Fachwerk. (WITTIMANN, 2016, p. 2).

Figura 14 - Rothenburgob der Tauber, Alemanha

Fonte: Angelina Wittmann, 2016.

Outro fato apresentado anteriormente nessa pesquisa é que muitos concluem erroneamente que o enxaimel são peças de madeiras fixadas nas fachadas, como no caso do neoenxaimel e demais pastiches. Outros definem o enxaimel como caibros de madeira fixados com pregos de madeira e não pregos de ferro, como


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eram feitos nas guildas8 na idade média. A fixação das peças com pregos de madeira pode ser justificativa para o pastiche enxaimel, embora esta prática tenha sido feita pelas Corporações de Ofício e tenha relevância histórica, não poderia ser chamada de enxaimel, visto que este representa um método construtivo e as peças de madeira são estrutura (WITTIMANN, 2016). Sabendo das variações de estilo, é necessário o estudo de como era desenvolvido esse tipo de arquitetura em seu berço, a Europa central para compreender a adaptação do estilo nos territórios de imigração brasileiros. As construções em madeira eram comuns na Europa desde o período da Antiguidade. Na evolução das técnicas construtivas, os alicerces de madeira foram substituídos por pedras e por meio da inclinação e encaixe das peças de madeira obtinha-se a rigidez da estrutura. Segundo Bott, (1976), a descoberta da triangulação significa para esta técnica construtiva o mesmo que a roda para os transportes. Mesmo com a invasão dos romanos a Europa central, introduzindo novos materiais e técnicas construtivas, até a Baixa Idade Média todas as construções eram de madeira. No fim do primeiro período medieval que as construções em pedras de tradição latina foram retomas principalmente na Arquitetura palaciana, militar e religiosa, caracterizando as grandes catedrais góticas. Contudo, a arquitetura civil e popular continuou a reproduzir as tradicionais construções em madeiras (THIEDE, 1963). Havia apenas dois tipos de construção em madeira: o blocausse e o enxaimel. O blocausse, no alemão Blockbau, construção com troncos, consistia na construção das paredes com troncos roliços, de diâmetros semelhantes e levemente falquejados em duas faces opostas (WEIMER, 2005). A Figura 13 representa um modelo de edificação em blocausse.

Mais informações sobre as Guildas ou Corporações de Ofício na Idade Média, ler: ANGELINA WITTMANN. Guildas ou corporação de oficios. Disponível em:<https://angelinawittmann.blogspot.com/2014/08/guildas-ou-corporacao-de-oficios.html>. Acesso em: 17 out. 2018. 8


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Figura 15 - Modelo de Blocausse

Fonte: Gislon, 2013.

Os troncos eram sobrepostos e encaixados nas extremidades, no encontro das paredes. Dessa forma, as construções em blocausse exigiam troncos retos e lisos, sendo a espécie apropriada a de coníferas. De acordo com Gislon, (2013), (2013 é possível que esta tenha sido sido a técnica construtiva mais antiga e a primeira a ser abandonada devido ao alto consumo de madeira que necessitava. Além disso, o aumento populacional na Europa demandava cada vez mais moradias, necessitando de novas técnicas construtivas. Por isso, o blocausse blocausse caiu em desuso, ficando restrito à arquitetura rural. rural Quanto ao enxaimel, segundo Weimer, (2005), a matéria prima principal era a madeira aparelhada,, sendo a técnica difundida principalmente nos locais onde havia abundância, que corresponde à planície germânica e o planalto médio alemão. As espécies mais utilizadas eram o carvalho e, posteriormente, o abeto e a faia. O enxaimel acabou por se difundir em toda a Europa Central na primeira fase da Idade Média. Com a massiva reprodução, já no século XVI começaram as restrições para exploração de madeira, até que em 1736 tornou-se tornou se obrigatória a construção do andar térreo em pedra (WEIMER, 2005). De onde se pode concluir que, na época da imigração, as casas de enxaimel haviam se tornado obsoletas, “não por obsolescência da técnica, mas por falta de matéria prima.” (WEIMER, 2005, p 67).


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Os elementos essenciais de composição do sistema construtivo enxaimel estão representados na figura 16, a seguir: Figura 16 - Elementos do sistema construtivo enxaimel

Fonte: Adaptado de GISLON 2013.

1. Baldrame: Base em madeira da edificação que está sob a estrutura de pedra ou concreto na qual será fixada a trama estrutural. 2. Esteio: É a peça de sustentação vertical da edificação, também conhecido por coluna, linha ou pé direito. Quando o esteio está localizado na aresta do edifício é chamado de Esteio de canto, pois possui comportamento estrutural diferenciado. 3. Frechal: É a peça que fecha a estrutura e onde geralmente é apoiado o telhado. 4. Contraventamento: É o travamento da estrutura para torná-la mais resistente ao vento. O contraventamento era feito de forma diferente conforme o local e as necessidades climáticas. Na Figura 17 os principais modelos de contraventamento encontrados na Europa Central:


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Figura 17 - Tipos de contraventavento

Fonte: WEIMER, 2005.

5. Preenchimento:Na figura o preenchimento está em adobe, mas pode ser de outros materiais tais como taipa, tijolos, pedras, variando de acordo com lugar e recorte histórico. 6. Escora: Tem função de garantir a estabilidade da casa e são colocadas duas em cada plano de parede, fixadas nos Esteios de canto. Na figura 18 estão os principais modelos de escoras, porém é importante ressaltar que essas receberam diferentes variações com grande valor plástico.

Figura 18: Tipos de escora.

Fonte: WEIMER, 2005.

7. Peitoril:Peça de madeira horizontal intermediária entre o baldrame e a verga. Um plano de parede poderia ter mais de um peitoril, dependendo do pé direito. Não necessariamente o peitoril era a parte inferior de uma janela.


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8. Janela:Era feita no vão entre o peitoril e o baldrame, geralmente eram pequenas aberturas. 9.

Verga: Peça de madeira horizontal intermediária entre o frechal e o peitoril. Um plano

de parede poderia ter mais de uma verga, dependendo do pé direito.

O enxaimel evoluiu na Idade Média, apresentando-se em três estilos principais: o baixo-saxão, o alemânico e o franco.O entendimento desses estilos é importante para a compreensão das técnicas que os imigrantes utilizaram para edificaram suas casas em solo brasileiro. O sistema baixo-saxão foi o mais antigo e desenvolvido na baixa Alemanha principalmente por vestifalianos e pomeranos9. Sua principal característica eram os elementos de baldrames, frechais e esteios contínuos, conforme figura 19. Figura 19 - O sistema baixo-saxão

Fonte: WEIMER, 2005.

O sistema construtivo alemânico era o mais recente dos sistemas e diferenciavase muito do sistema baixo-saxão. Se caracterizava pelo grande espaçamento entre os esteios ou colunas, de forma que exigia um um vigamento horizontal robusto para 9

Pomeranos são um povo originado da Pomerânia. Esta,que não existe mais no mapa da Europa, era uma região localizada ao norte da Polônia e da Alemanha, na costa sul do Mar Báltico, pertencente ao Sacro Império Romano-Germânico até o começo do século XIX, tornando-se posteriormente parte da Prússia e, mais tarde, terminada a Segunda Guerra Mundial, dividida entre a Polônia e a Alemanha. Imigrantes oriundos de Pomerânia tiveram de fugir de crises e perseguições sucessivas na Europa para tentar refazer sua vida no Brasil, mais precisamente no Espírito Santo, único país do mundo onde ainda se fala regularmente o idioma pomerano. (MIDIA CIDADA, 2014).


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suportar os esforços de flexão.As paredes superiores avançavam menos sobre o plano das inferiores, diminuindo os esforços e houve grande avanço dos entrelaçamentos estruturais contribuindo para maiores pés-direitos.A representação esquemática do sistema pode ser observada na Figura 20. Figura 20 - O Sistema Alemânico

Fonte: WEIMER, 2005.

O sistema franco foi desenvolvido na Média Alemanha, principalmente por povos renanos. Esse estilos representou a evolução das qualidades plásticas, de forma que as escoras começaram a serem feitas de forma curva e o contraventamento ganhou variados desenhos, como pode se observado na Figura 21. Esse estilo tendeu ao pitoresco, ressaltando as qualidades artesanais dos construtores. Em uma única construção poderia haver cerca de quinze ou vinte desenhos diferentes entre os tramos. Esse produção artística do sistema franco é caracterizada como um barroquismo na evolução dos sistemas (WEIMER, 2005).


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Figura 21 - O Sistema Franco

Fonte: WEIMER, 2005.

Outra característica importante do enxaimel da Europa central foi a forma de organização das plantas das residências. Levando em consideraçãoos invernos rigosoros e clima frio europeutoda a residência era organizada de forma a aproveitar o melhor possível a fonte de calor: o fogo, como partido para a espacialização geral. Como pode ser observado na Figura 22, ao animais e o feno também eram mantidos no corpo das residênciaspois os estábulos aquecidos surgiram muito tempo depois. A sala de convivência ficava nos fundos para garantir privacidade pois era o espaço mais utilizado pela família. Os dormitórios primeiramente eram sepadados por cortinas e depois por divisórias, tornando-se pequenos quartos.


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Fugura 22 - Evolução da casa vestafliana

Fonte: Adaptado de WEIMER, 2005.

As coberturas dessas casas eram inicialmente de palha e posteriormente passaram a ser de telhas de ardósia. Sob elas estava a estrutura de sustentação do telhado feita de encaixes de madeira, semelhante a estrutura da casa. Os telhados tinham diferentes configurações, como pode ser observado na Figura 23, dependendo do local e período histórico.


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Figura 23 - Formas usuais de telhados na Alemanha

Fonte: WEIMER, 2005.

O desenvimento do enxaimel na europa central apresentouuma riqueza cultural e grande variação de temas e detalhes, tais como estruturas, tipos de coberturas e telhados, além do mobiliário. Todos esses temas específicos merecem ser abordados, no entanto, entanto para garantir que o objetivo dessa pesquisa seja alcançado(o pastiche enxaimel em Domingos Martins), torna-se torna necessário abordagem do que realmente os imigrantes reproduziram do enxaimel alemão no Brasil.10 2.1.2 O enxaimel na atualidade Conforme Weimer, (2005), (2 o enxaimel na Alemanha foi aos poucos abandonado, devido à escassez de matéria prima. prima. Esse processo se iniciou a partir do século XVII, finalizando-se se no século XIX devido o avanço das técnicas construtivas e, pontualmente, pelo concreto armado. Somando-se Soma a falta de matéria prima, as casas

10

Para saber mais sobre a história histó do Enxaimel, ler: WEIMER, Günter. A arquitetura da imigração alemã / Günter Weimer - 2.ed. - Porto Alegre, Editora as UFRGS, 2005.


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construídas em exaimel começaram a cobrir a estrutura entrelaçada para adaptar-se ao Neoclassicismo vigente e ao abandono total da estética medieval. Assim, por questões técnicas e estilísticas, o enxaimel caiu em desuso. Apesar disso, segundo Grossmann (2006), na metade do século XIX o enxaimel passou por um revivalismo histórico na Alemanha, influenciado pelo período romântico. Essas casas se diferenciavam das primitivas em muitos aspectos, apesar de serem construídas com a técnica tradicional, conforme se observa na figura 24 e 25. Primeiramente, eram casas de burgueses, em terrenos isolados e não em ruas apertadas e possuíam um semblante romântico. O contexto histórico do enxaimel romântico diferenciava-se do enxaimel da Idade Média, mas seu objetivo era a valorização da memória e identidade alemãs. Nesse sentido, é importante ressaltar que a reprodução do pastiche enxaimel em territórios de imigração não é a primeira tentativa de enaltecer esse patrimônio. Figura 24 e 25 - Casas em Enxaimel Romântico na Alemanha

Fonte: GROSSMANN, 2006.

Na contemporaneidade, não se fala sobre reprodução de enxaimel na Alemanha. Isso se deve ao fato de que a técnica foi totalmente substituída pelo uso do concreto armado e estruturas de aço. A técnica tradicional, apesar de conhecida e estudada, não é válida para reprodução, já que não foi aprendida por tradição. Dessa forma, o


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que se faz é preservar o patrimônio existente e seguir as recomendações da Carta de Veneza (IPHAN, 1964) a respeito. O Stone Sculpture Museum, cidade de Bad Kreuznach, Alemanha é um caso interessante de ser compreendido. O uso da estrutura de enxaimel antigo foi preenchido e complementado por materiais e técnicas contemporâneas, seguindo as recomendações do Artigo 10° da Carta de Veneza, que diz: Quando as técnicas tradicionais se revelarem inadequadas, a consolidação de um monumento pode ser assegurada através do recurso a outras técnicas modernas de conservação e de construção, cuja eficácia tenha sido demonstrada por dados científicos e comprovada pela experiência.(CARTA DE VENEZA, 1964, Artigo 10º).

As imagens da arquitetura do museu remetem de uma só vez ao passado e ao futuro, observada nas figuras 26 e 27. É evidente o respeito as técnicas construtivas rudimentares. A descrição do museu no site dos arquitetos que o projetaram, diz: “As velhas paredes do celeiro foram removidas, deixando apenas a madeira das empenas que foram colocadas sobre uma nova estrutura de concreto.” (ARCHILOVERS, 2010). Figuras 26 e 27 - Stone Sculpture Museum, Bad Kreuznach, Alemanha

Fonte: ARCHILOVERS, 2010.

2.2 O ENXAIMEL E A ARQUITETURA DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ 2.2.1 O estabelecimento dos imigrantes na Colônia de Santa Isabel


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A conjuntura que levou a emigração européia em massa no século XVIII foi abordada no capítulo 1, mas vale apena ressaltar alguns pontos que tiveram impacto na história local. O primeiro deles, brevemente já abordado, é o fato de que o Império do Brasil incentivava a imigração porque necessitavam de uma maior quantidade de população branca. Não apenas para substituir a mão de obra escrava, quando da assinatura da Lei Áurea, mas também para que a população branca fosse numerosa em relação à negra diante da possibilidade um conflito racial (WEIMER, 2005). A disposição dos imigrantes era determinada pelo Governo Provincial, que criou a Colônia de Santa Isabel, como citado anteriormente. Para chegarem à colônia, os imigrantes abriram caminho em meio aos territórios intocados das montanhas capixabas. Muitos sofreram com a malária devido à densa mata onde proliferavam os mosquitos, alguns chegavam a não resistir (RÖLKE, 2016). Apesar da abundância de madeira, não foram construídas casas estruturadas de madeira no Espírito Santo nos primeiros momentos, como aconteceu em algumas colônias no sul do Brasil, onde até hoje ainda é comum ver estas casas. Quando os imigrantes chegavam aos lotes indicados, construíam choupanas11 rudimentares, cobertas com folhas de palmeira. As laterais eram de troncos de palmito, relativamente fáceis de serem abertos com machado e cunha. O palmito, inclusive, é um material natural muito utilizado pelos imigrantes pela sua facilidade de manuseio e durabilidade, também utilizado para estrutura do telhado posteriormente. Os pisos eram de terra batida. Mas logo que possível, os colonos tentavam construir a sua casa em melhores condições de estrutura (RÖLKE, 2016). Não existem registros iconográficos de como seriam essas primeiras casas em terras capixabas, contudo, pelas descrições, elas eram semelhantes às casas sulinas, conforme representadas na Figura 28.

11

Choupana: pequena casa ou cabana de acabamento tosco, feita de madeira ou ramos. (AURÉLIO, 2016)


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Figura 28 - Configuração das primeiras casas de colonos no Rio Grande do Sul

Fonte: WEIMER, 2005.

2.2.2 A arquitetura e suas adaptações feitas pelos imigrantes Através das construções do Enxaimel Romântico no século XIX nota-se que a população ainda dominava a técnica que era reproduzida tradicionalmente desde a Idade Média. Como já citado, a técnica não se tornou obsoleta, o desuso do enxaimel na Alemanha ocorreu pela escassez da matéria prima, a madeira. Assim, os imigrantes europeus ainda dominavam a técnica quando se estabeleceram no Brasil. Não se sabe ao certo qual a profissão dos imigrantes que se estabeleceram na colônia de Santa Isabel, visto que não há registros que as demonstrem. Mesmo assim, essa população dominava a técnica construtiva do enxaimel. Uma das justificativas é que as casas eram construídas em mutirão com a supervisão de uma pessoa que tinha experiência nesse ramo sendo, na maioria das vezes, um carpinteiro (RÖLKE, 2016). Sendo assim, não era necessária uma mão de obra especializada para se construir enxaimel no Espírito Santo, apenas um supervisor. A junção da comunidade para construção das residências também é uma herança germânica (WEIMER, 2005). O imigrante teve que construir sua moradia e, para isso, utilizava sua técnica centenária de construção, mas também havia necessidade de adaptá-la às necessidades e aos recursos naturais locais, por isso aproveitavam a abundância de


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madeira da região. Primeiramente, pode-se dizer que a houve uma sensível simplificação e integração entre vários estilos construtivos diferentes no enxaimel desenvolvido em terras capixabas em relação ao enxaimel alemão. Algumas técnicas foram aplicadas integralmente, outras foram adaptadas e outras foram inventadas diante das necessidades. Ainda sobre a arquitetura da imigração alemã no Espírito Santo: Assim, mais do que um estilo tipicamente alemão, seria mais apropriado falar de um novo estilo que aqui surgiu, juntando a estrutura em enxaimel interiorizada e herdada na Alemanha com a realidade tropical, onde alguns esquemas culturais e históricos tiveram que sofrer profundas modificações. (RÖLKE, 2016, p. 326).

De acordo com Veiga (2013), uma característica marcante que difere o enxaimel alemão do produzido em território brasileiro é a sua relação com o espaço, visto que os exemplares de enxaimel no Brasil são encontrados em zonas rurais, quando na Alemanha esse tipo de construção estava presente preponderantemente no meio urbano. Esse fator pode ser justificado pelo assentamento de imigrantes em áreas de mata virgem, no qual se desenvolveram modelos de propriedades rurais. Para compreender esse novo estilo que aqui surgiu, é necessária a compreensão dos elementos constituintes as residências dos imigrantes alemães, desde a forma de organização da propriedade, até os elementos construtivos. 2.2.2.1 Em relação à propriedade rural e a planta baixa Quando analisada a forma de organização da casa rurais alemãs em relação à centralidade dos cômodos e até mesmo abrigo de animais para melhor aproveitamento de calor, se observa uma mudança substancial nas casas de imigrantes

no

estado.

Estas

eram

marcadas

pela

descentralidade

dos

compartimentos, fazendo surgir numerosas construções. A separação do fogão à lenha do resto da casa era necessária devido aos riscos de propagação de incêndio. A cozinha tornou-se um anexo, assim como o curral/estábulo, galinheiros, chiqueiros, paióis, depósitos, casinha que cobria o forno e o local de preparar a ração (o “cozido”, como se dizia) para os porcos (RÖLKE, 2016). Essa descentralidade da casa típica da arquitetura da imigração alemã capixaba pode ser demonstrada na Figura 29 que representa a implantação dos compartimentos da Casa Schlenz.


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Figura 29 - Implantação de edificações da propriedade típica alemã capixaba no século XIX

Fonte: Elaboração própria da autora, 2018.

Outro aspecto circunstancial das casas em enxaimel no Brasil foi à inserção de varandas, elemento inexistente no enxaimel europeu. Majoritariamente na fachada frontal da residência, as varandas foram uma adaptação feita devido às necessidades climáticas do clima tropical brasileiro. Com o passar dos anos, as varandas adquiriram uma função considerável, visto que o acesso principal da casa se dava por ela. Além disso, elas se tornaram um espaço de estar, principalmente nos dias de verão onde os homens tocavam concertina e a família trocava conversas. A varanda típica das casas tradicionais pode ser observada na Figura 30. Ao dar início à construção de uma casa, o primeiro elemento quando se pretendia construir era varanda (RÖLKE, 2016).


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Figura 30: Casa típica com escada e varanda no centro da fachada

Fonte: RÖLKE, 2016.

A organização da área principal e interna da residência se dá através da setorização entre a área social, que corresponde à sala de jantar e sala estar, e área privativa, que corresponde aos quartos, como pode ser observado na figura 31. As casas eram somente em um pavimento e o tamanho variava conforme as posses do colono (RÖLKE, 2016). Figura 31 - Implantação de edificações da propriedade típica da imigração alemã capixaba no século XIX

Fonte: Elaboração própria da autora, 2019.


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Subindo por uma pequena escada até a varanda, encontrava-se no centro da casa a porta que dava para a sala. A cada lado da sala havia um ou dois quartos. Só se chegava a estes quartos através de portas que conduziam a eles a partir da sala. Essa mesma forma de setorização das áreas privativas pode ser observada nos exemplares de exaimel europeu, deixando clara a herança germânica na organização espacial das residências. Um dos quartos pertencia ao casal, onde dormiam com os filhos mais novos. As meninas maiores costumavam dormir no outro quarto. Depois de certa idade, os rapazes eram alojados no sótão e era comum no meio da sala de jantar ter uma escada que levava a ele (RÖLKE, 2016). A cozinha era uma construção à parte, ao lado da casa e ambas eram construídas ao mesmo tempo. O bloco anexo que comportava a cozinha continha dois cômodos: a cozinha propriamente dita, com fogão a lenha, e uma despensa. O fogão era construído sobre uma armação de madeira com quatro pés onde se montavam tijolos crus que recebiam uma chapa de ferro gusa com bocas. Junto à cozinha havia um pequeno cômodo, onde se guardavam os alimentos dentro de latas ou em armários. Era um tipo de despensa, onde eram guardadas também as gamelas, a máquina de desnatar leite, a máquina de moer café, recipientes com carne salgada ou frita e banha e com ela coberta para melhor conservação (RÖLKE, 2016). A cozinha era ligada a casa por um estreito corredor com cobertura para que um eventual incêndio na cozinha não se alastrasse até a casa. Como as casas não comportavam banheiro, a despensa ao lado da cozinha era também usada como local de higiene corporal. Era o lugar mais apropriado, pois estava perto do fogão, de onde se buscava água quente. Há de se observar que, por questões culturais, trazidas da Europa, não se tomava banho todos os dias, refletindo a falta de banheiro nas casas. (RÖLKE, 2016). A organização tradicional da casa pode ser observada na figura 32.


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Figura 32 - Planta baixa esquemática da residência típica da colonização alemã capixaba no século XIX

Fonte: Elaboração própria da autora, 2019.

2.2.2.2 Com relação à estrutura Dos três diferentes sistemas enxaimel, desenvolvido na Europa: o baixo saxão, o franco e o alemânico; o sistema baixo-saxão foi o que mais se destacou nas casas em enxaimel no Brasil, pois a maior parte dos imigrantes provinha do norte alemão, onde o sistema fora originalmente empregado. Além disso, era o mais simples dos sistemas, com poucas escoras (VEIGA, 2016). Inicialmente, era preciso escolher espécies de madeiras para resistirem ao apodrecimento, sendo as espécies mais comuns: a graúna, o jacarandá e o ipê (RÖLKE, 2016). Geralmente, utilizavam-se as árvores preexistentes no terreno, de forma que a derrubada delas cedia lugar à moradia e era aproveitada como matéria prima. Quando não havia espécies adequadas à construção da moradia, as madeiras eram retiradas da mata e falquejadas no próprio local de retirada. A madeira era cortada e falquejada e o tramo de madeira que sustenta as paredes era montado primeiramente no chão e não diretamente nos alicerces. Do mesmo modo como se fazia na Alemanha, as paredes eram levantadas, a estrutura era presa e logo se fazia a estrutura do telhado (VEIGA, 2016).


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2.2.2.3 Cobertura Os tetos, com pouquíssimas exceções, eram de duas águas e com alta inclinação devido à herança cultural germânica e ao necessário aproveitamento do sótão como dormitório. A especial forma de se realizar o cobrimento das casas em exaimel no Brasil era através de telhas de madeira, denominada como as “tabuinhas”, Figura 33. O fazer artesanal das ‘tabuinhas de madeira’, que está representado na Figura 34, é descrito: O tronco da madeira braúna era cortado em pequenas toras de mais ou menos 50 centímetros de comprimento. Uma lâmina de metal cortante, de mais ou menos 40 centímetros de comprimento e 10 de largura, presa a um cabo, era segurada por alguém, que a colocava numa das extremidades da tora. Com atora em pé e a lâmina colocada, um segundo trabalhador deferia golpes comum porrete de madeira em cima da lâmina. Esta então cortava finas tábua 1 a 2 centímetros de espessura. A largura das “tabuinhas” girava em torno de 20 centímetros. Eventuais falhas ou lascas da madeira eram aparadas com facão, machado ou enxó. Depois, furava-se uma das extremidades das “tabuinhas”,introduzindo nela uma cavilha de madeira. Posteriormente também se usavam pregos. Com esta cavilha ou prego, a “tabuinhas” era assentada e presa nas ripas do telhado. (RÖLKE, 2016, p. 327).

Figura 33 - Agricultor cortando madeira para confecção de ‘tabuinhas’

Fonte: RÖLKE, 2016.


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Figura 34 - Foto de ‘tabuinha’ antiga da Casa Schlenz, Domingos Martins

Fonte: Flora Kiefer, 2018.

A confecção das ripas que sustentavam as “tabuinhas” do telhado era com troncos de palmito. Esse material foi mais utilizado nas casas capixabas do que nas sulinas de arquitetura alemã, pela abundância e facilidade de “lascar o tronco de palmito longitudinalmente com machado e cunhas de ferro.” (RÖLKE, 2016, p. 327). 2.2.2.4 Preenchimento O preenchimento dos tramos de madeira das paredes podia ser feito tanto de tijolos de barro como de taipa.12Inicialmente, todas as casas brasileiras construídas em enxaimel preenchiam os tramos com taipa de mão, conforme observado na Figura 35. Essa técnica de preenchimento é brasileira e foi adaptada nas casas de enxaimel, dessa forma, não sendo originais nas casas em enxaimel germânicas. Já os tijolos foram utilizados nas últimas fases do enxaimel centro europeu, podendo ser crus ou cozidos e foram utilizados também no Espírito Santo, Figura 36. No Sul do Brasil, o preenchimento em taipa foi quase inexistente, devido à umidade Sobre a taipa: Técnica construtiva rudimentar de construção de paredes, podendo ser taipa de pilão ou de mão, sendo essa última a utilizada no enxaimel. Consiste na armação de paredes são com madeira ou bambu e preenchidas com barro e fibra. A matéria-prima é: trama de madeira ou bambu, cipó ou outro material para amarrar a trama, solo local, água e fibra vegetal, como capim ou palha. O solo local e água são amassados com os pés e, depois de homogeneizados, são misturados à fibra e a massa é usada para preencher a trama(PINHAL ARQUITETURA, 2019). 12


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climática do local (VEIGA, 2016). Na figura 37 é possível observar que na Casa Schlenz também foi utilizado barro e capim para preenchimento, caracterizando a taipa combinada com tijolos para preenchimento das paredes. Figura 35 - Enxaimel pronto para receber barro

Fonte: (RÖLKE, 2016, p. 330).

Figura 36 - Casa Schlenz, com destaque para o preenchimento com tijolos de barro

Fonte: Elina Raquel, 2018.


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Figura 37- Casa Schlenz, com destaque para o preenchimento com barro e capim

Fonte: Flora Kiefer, 2018.

2.2.2.5 Revestimento Feito o preenchimento, após alguns dias fazia-se então o reboco. É interessante ressaltar que o reboco no sul brasileiro era opcional e variava de acordo com a opinião estética (VEIGA, 2016). No entanto, no Espírito Santo era comum que a casas em enxaimel fossem todas rebocadas. Na maioria das vezes, cobriam-se até mesmo as peças de madeira, para melhor proteção do madeiramento contra o apodrecimento. Por isso, é comum não se reconhecer aparentemente arquiteturas genuinamente enxaimeis em Domingos Martins, pois o tramado de madeira era utilizado coberto pelo reboco sendo caiados com o leite da cal hidratada. Na figura 38 da Casa Schlenz é possível observar que a estrutura enxaimel só é evidenciada pela degradação do reboco. Além disso, essas casas eram construídas no sistema baixo-saxão e, como dito anteriormente, era o mais simples e quase não apresentava empenas e ‘cruz de Santo André’, o que erroneamente é associado à imagem da unanimidade das construções em enxaimel. As esquadrias eram instaladas, posteriores ao reboco. “Portas e janelas eram geralmente de tábuas de madeira e pintadas nas cores azul celeste, o que contrastava de uma forma agradável com a cor branca das paredes.” (RÖLKE, 2016, p. 327).


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Figura 38 - Casa Schlenz, com destaque para o reboco sobre a estrutura enxaimel

Fonte: Elina Raquel, 2018.

2.4 ESTUDOS DE CASO Diante da integridade histórica do método construtivo enxaimel, desde a Idade Média até a imigração alemã no século XIX, é evidente que seu significado é ilustre para os povos germânicos. Sendo assim, o enxaimel é responsável por fortalecer a memória e a identidade de um povo, com centenas de exemplares de edificações tombadas como patrimônio histórico em países centro europeus, localidades dos Estados Unidos, Brasil e Austrália. O IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional estabelece que as intervenções nesses edifícios sigam os parâmetros internacionais de conservação em patrimônio cultura estabelecidas na ‘Carta de Veneza’. Esta é o documento que discorre sobre a conservação e restauração de monumentos e sítios históricos, elaborada em maio de 1964, na qual se destaca: Portadoras de mensagem espiritual do passado, as obras monumentais de cada povo perduram no presente como o testemunho vivo de suas tradições seculares. A humanidade, cada vez mais consciente da unidade dos valores humanos, as considera um patrimônio comum e, perante as gerações futuras, se reconhece solidariamente responsável por preservá-las, impondo a si mesma o dever de transmiti-las na plenitude de sua autenticidade. (IPHAN, 1964, p. 1).

Como o objeto de estudo dessa pesquisa é a problemática do pastiche enxaimel em Domingos Martins, a genuína arquitetura da imigração alemã já fora retratada


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como memória desampara, devido à inversão de valores da atual ‘sociedade do espetáculo.’ Essa conjuntura leva a necessidade de preservação e reabilitação desse patrimônio desprezado e, por isso, os próximos passos descritos no capítulo 4 dessa pesquisa, retratarão as diretrizes do projeto de restauração da Casa Schlenz, Domingos Martins - ES. Diante da proposição do projeto de restauração de arquitetura de enxaimel, tornase necessário o conhecimento de exemplos desses projetos nessas edificações. Não somente projetos de restauração, como também de reconstrução e pastiches, este último ideal para a fundamentação da problematização dessa pesquisa. Os próximos tópicos desse capítulo tratarão de exemplificar projetos de restauro em monumentos em enxaimel, de forma a contribuir efetivamente nas medidas de restauração e conservação da Casa Schlenz. 2.4.1 A reconstrução de Römerberg - Frankfurt, Alemanha Römerberg é a emblemática e principal praça da prefeitura de Frankfurt, Alemanha. A praça é configurada por uma série de edifícios históricos importantes, como prefeitura e câmara13municipais da cidade, uma vez que é sede do poder desde a Alta Idade Média. Em suas centenas de anos de história, a praça é alvo de inúmeros acontecimentos marcantes, como as coroações da monarquia. Durante a Segunda Guerra Mundial, a praça foi bombardeada e, posteriormente, seus edifícios foram reconstruídos através de um minucioso processo de valorização da memória e identidade do local. As obras de reconstrução dos edifícios, principalmente os de enxaimel, elevaram a proporção turística da praça, tornando-a o principal ponto turístico de Frankfurt (FRANKFURT TOURISMUS, 2014).

O edifício sede da Câmara Municipal de Frankfurt é oZum Römer, do século 15 e o nome da praça, Römerberg, é derivado do nome desse edifício. 13


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Figura 39 - Pintura de cerimônia de coroação na Praça Römerberg, outubro de 1745, com destaque para a Casa Laderam

Fonte: Wikipedia, 2009.

Figura 40 - Fotografia panorâmica da Praça Römerberg. À esquerda está a Casa Laderam, edifício que faz parte do complexo que compreende a prefeitura. Em estilo gótico tardio, o edifício é a representação feminina da cidade

Fonte: Wikipedia, 2009.

A comparação entre a praça em 1745 e 2009 pode ser observada nas figuras 39 e 40, respectivamente, evidenciando a imponência da Casa Laderam. O patrimônio arquitetônico de Römerberg de edifícios góticos e barrocos foi amplamente destruído em 1944, durante os ataques aéreos em Frankfurt. A composição dos edifícios


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observados na vista panorâmica da praça (Figura 40) é o resultado de reconstruções fiéis e de novos edifícios das décadas de 1950 e 1980. A reconstrução dos edifícios foi um processo de ampla discussão. Primeiramente, era necessário manter a densidade histórica do lugar promovida pelos edifícios. Porém, reconstruir fachadas barrocas e góticas atemporais competiria em contrariar as recomendações da Carta de Veneza (1964) e das Teorias do Restauro, visto que não havia registros suficientes para se reproduzirem técnicas retrospectivas ao ponto de se reconstruírem exemplares inteiros de edifícios. Optou-se assim, por novos edifícios contemporâneos, que respeitassem a escala e a proporção contextualizadas na praça, conforme recomendações internacionais da Carta de Veneza. Já com os edifícios em enxaimel, a conjuntura era diferenciada. Não porque eram edifícios mais novos, visto que alguns datam até mesmo de antes das construções barrocas e góticas da praça, pois o enxaimel é anterior a esses estilos. A razão pela qual esses edifícios foram reconstruídos está na documentação e manutenção das técnicas. Há pelo menos um século dos ataques aéreos, a Alemanha passava por um período revivalista conhecido como o Enxaimel Romântico, no qual era evidente que a técnica não havia se perdido. Assim, conhecia-se a técnica genuinamente germânica. As reconstruções dos exemplares de enxaimel na praça eram uma forma de reforço da memória e identidade da população alemã no pós-guerra, período em que o discurso de paz era impreterível. Para melhor compreensão ao tratamento dado aos edifícios da praça, é necessário,antes de tudo, entender sua localização na implantação.A praça está localizada no centro da cidade antiga de Frankfurt e sua implantação pode ser observada na Figura 41. Iniciando pela parte Oeste é onde está localizada a Casa Laderam, representada anteriormente nas figuras 39 e 40. A praça possui vários edifícios vinculados à história e identidade locais, porém, a Casa Laderam merece destaque especial nesse quesito. Resumidamente, a casa fora construída para moradia da influente família Hartrad do período medieval. Posteriormente, o edifício passou a ser a sede onde aconteciam as reuniões e encontros do salão de Old Limpurg, que era uma associação entre nobres e ricos da cidade de Frankfurt que pretendiam assumir a política de influências e poderio local, formando uma sociedade aristocrática dominante. Dessa forma, o edifício da Idade Média teve contribuições de diferentes períodos históricos, chegando ao estilo gótico tardio de sua fachada principal, quando se tornou sede da monarquia. Assim, a Casa


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Laderam com suas as empenas góticas é um edifício que fazia parte integral da memória coletiva da sociedade e, mesmo que as técnicas já fossem esquecidas, sua reconstrução foi fundamentada na imponência do edifício para as tradições e a identidade locais. Figura 41 - Implantação de Römerberg com a localização e tratamento dos edifícios bombardeados em 1944

Fonte: Adaptado de Wikipedia, ‘Localização e planta de Römerberg’, 1862.

O lado Leste da praça é denominado em sua tradução de ‘Montanha do Sábado’. A fileira de edifícios emblemáticos em enxaimel nesse lado da praça é denominada ‘Samstagsberg’, conforme a Figura 42. Esses edifícios foram quase totalmente destruídos no bombardeio e reconstruídos de 1981 a 1984, após um longo trabalho de estudo e planejamento.


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Figura 42 - Edifícios que compõe o Samstagsberg

Fonte: Wikipedia, 2009.

As casas ao sul do Beco Limpurger são novos edifícios da década de 1950 em vez das casas danificadas pela guerra, visto que suas reconstruções não eram alvo de engajamento social, como os exemplos anteriores. Além disso, as técnicas construtivas já não eram conhecidas e as gerações que utilizavam esses edifícios há muito já haviam se passado. No lado sul da praça localiza-se o gótico Alte Nikolaikirche. Este, assim como a Casa Laderam, foi reconstruído em seu estilo original e,juntamente com um novo edifício, compõem o Museu Histórico de Frankfurt. O novo edifício, denominado Mainkai, foi construído no lugar da antiga Haus Freudenberg e inaugurado no ano de 2017. A diferença, bem como o respeito à escala e proporção entre o edifício antigo e o edifício novo pode ser observada nas figuras 43 e 44.


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Figuras 43 e 44 - À esquerda o edifício Alte Nikolaikirche e à direita o edifício Mainkai

Fonte: Wikipedia, 2009.

Muitos edifícios foram destruídos na Praça de Römerberg e a proposta, ora desenvolvida nesse estudo de caso, foi entender o tratamento diferenciado dado aos edifícios perimetrais da praça, em especial aqueles em enxaimel. Diante das decisões de reconstrução e renovação, percebe-se que, diante do mesmo contexto, cada edificação necessitou ser analisada em suas particularidades e levando em consideração as contribuições do corpo técnico, da sociedade e seu engajamento com as demandas locais. 2.4.2 A parque-tematização do município de Campos de Jordão, SP Campos do Jordão é um município brasileiro, localizado na Serra da Mantiqueira, Estado de São Paulo. Com aproximadamente 50 mil habitantes (IBGE 2006),o município é conhecido pelo epíteto de ‘Suíça brasileira’14, devido ao seu clima tropical de altitude considerado o melhor do mundo no Congresso Climatológico de Paris em 1957.Apesar do clima local se relacionado com o suíço, a história local de formação nada tem a ver com aquele país e nem tampouco sua colonização.

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Este termo surge com a publicação dos estudos de Belfort de Mattos Filho, no 1º Congresso Brasileiro Hidro-Climatológico, em 1935, nos quais se alude a Campos do Jordão como a Davos Paulista (PAULO FILHO, 1997). Tal termo é utilizado como slogan da propaganda da estância de tratamento de saúde paulista, fazendo referência ao sistema terapêutico da Suíça.


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As terras que hoje correspondem a Campos do Jordão foram adquiridas por sesmarias por Inácio Caetano Vieira de Carvalho, que fundou nelas a Fazenda Bonsucesso. Vieira de Carvalho lutou pelo pertencimento delas à Capitania de São Paulo, devido ao seu alto valor no ciclo do ouro no Brasil. Os herdeiros de venderam a Fazenda Bonsucesso ao Brigadeiro Jordão, que faleceu antes de conhecê-la, embora tivesse mudado o nome da propriedade para Fazenda Natal. Esta ficou conhecida como os 'Campos do Jordão', e em 1934 teve sua emancipação, através do desmembramento do município de São Bento do Sapucaí. O clima ideal da cidade já atraia pessoas desde o século XIX que buscavam tratamento para doenças pulmonares. Assim, a cidade sempre recebera turistas no que ficou conhecido como ‘Ciclo da Cura’. A explicação para tal fato está nas teorias médicas do período: As atribuições em relação às virtudes terapêuticas do município devemse, sobretudo, às epidemias presentes no Brasil no século XX, dentre elas, a tuberculose. [...] Os locais afastados dos centros urbanos tornaram-se alternativas para a minimização dos riscos de contágio, bem como método terapêutico. As teses médicas da década de 20 do século passado mostram claramente a relação do ar com a doença. (HAMMERL, 2011, p. 2).

Além disso, “Campos do Jordão não é divulgada apenas por suas virtudes climáticas, mas também por suas características hidrominerais, haja vista que a associação entre água e cura não era novidade nesse período.” (HAMMERL, 2011, p. 3). Efetivado o ciclo da cura, interesses privados de oligarquias começaram a investir em novas de modalidades de turismo na cidade, construindo novos empreendimentos e modalidades de lazer, como hotéis e cassinos. A elevação da cidade à estância climática nas primeiras décadas do século XX atraiu tantos doentes que o poder púbico teve que intervir na entrada e permanência dos mesmos nos sanatórios da cidade. A cidade foi, então, infraestruturada com abertura de novas vias e ferrovias. Dessa forma, acontecia a transição do Ciclo da Cura para o Ciclo do Turismo. Retrato dessa época de transição da cidade é o romance “Floradas na Serra”, de Dinah Silveira de Queiroz15, que romantizava ainda mais o cenário de cura e romance de Campos do Jordão. Tanto que, a cidade tornou-se ponto de encontro e festas da elite paulista. 15

O romance de Dinah Silveira de Queiroz traz as aventuras de Elza, uma jovem paulista que, ao contrair tuberculose, é recomendada por seu médico a realizar o tratamento na estância climatérica de Campos do Jordão. A obra tornou-se best-seller em menos de um mês, sendo adaptada para filme em 1954.


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Desde então, o turismo na cidade cresceu em grande proporção. A criação de slogans é uma das estratégias de propaganda demandada pela indústria do turismo, assim como a venda da imagem da cidade. Essa imagem, muitas vezes é modificada, na tentativa de tornar a cidade mais atrativa. Nessa questão, entra a espetacularização da arquitetura, já retratada anteriormente nessa pesquisa como fenômeno no município de Domingos Martins. Em se tratando de Campos do Jordão, a espetacularização de sua arquitetura é evidente quando se compara sua imagem recriada com a de cidades turísticas suíças, conforme as imagens XX.Vale a apena acrescentar que “o objetivo imediato da propaganda continua sendo manter, através das representações, um valor simbólico suficientemente forte para atrair turistas.” (SILVA, 2004). Dessa forma, o turista obtém uma visão distorcida que nada tem a ver com a realidade cultural do local, o que é reafirmado por Oliveira (2007) quando diz: Em Campos do Jordão, predomina a temática de vila européia, somando clima frio, paisagem de montanha, chalés alpinos e comidas quentes. Mas, que problemas a categoria de cenarização encerra? A cópia de uma vila européia autêntica? Um não-lugar (AUGÉ, 1997), espaço da solidão e da similitude que não cria nem tradição nem identidade? Campos do Jordão está para além da idéia do cenário não original, uma vez que qualquer cidade é ela mesma uma invenção social, não tendo nada de original, autêntico e verdadeiro em si mesmo. (OLIVEIRA, 2007, p.14).

Figura 45 - Cidade de Lucerna, Suíça

Fonte: Guia Viajar Melhor, 2014.


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Figura 46 - Vista aérea da cidade de Campos do Jordão, com destaque para a similaridade da arquitetura com a da imagem anterior

Fonte: Viagens e Caminhos, 2014.

A tematização da cidade para parecer a ‘Suíça brasileira’ do ponto de vista arquitetônico pode ser observada nas figuras 45 e 46. A reprodução de uma arquitetura de um povo, a qual a sua técnica construtiva já tenha se perdido quanto tradição e memória coletiva, nada mais é do que pastiche. A invenção das tradições é tão presente na arquitetura jordanense que um ponto de turismo importante foi inventado com a temática de representar uma vila alemã, conforme figura 47. Na verdade, o local é uma rua composta de várias lojas de luxo contemporâneo, ou seja, um shopping. O site do empreendimento denominado Boulevard Geneve descreve: ‘cada parede deveria ter suas características próprias, como se tivessem sido construídas por famílias alemãs ou inglesas’, deixando claro que o conceito do edifício está baseado numa inverdade. A arquitetura da cidade é tida como inspiração do ‘estilo europeu’, retratada e aceita orgulhosamente dessa forma pela sociedade e poder público local.


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Figura 47 - Fachadas frontais dos edifícios que compõem o Boulevard Geneve. A reportagem que possui essa imagem como capa o descreve como ‘o lugar mais charmoso de Campos do Jordão.’

Fonte: Boulevard Geneve, 2014.

Apesar da intensa produção de pastiches em arquitetura, nem sempre a história da arquitetura em Campos do Jordão funcionou assim. De alguma forma, através dos tempos, no panorama da arquitetura local, houve tentativas de produção de expressões autênticas associadas a paisagem e ao clima jordanense condizentes com a marca do tempo ao qual foram produzidos seus projetos. Um exemplo relevante são as obras do arquiteto modernista Oswaldo Bratke, que desenvolveu na cidade, mais precisamente no condomínio Jardim do Embaixador, casas de campo com aparências que fogem do contexto europeizante e são marcadas por elementos modernos como ângulos retos, brises e purezas de formas. No referido condomínio Bratke criou ruas, todas com nomes de árvores, levando em conta as curvas de nível. O lugar possui esse nome em homenagem ao embaixador José Carlos Macedo Soares, ministro das Relações Exteriores do governo Vargas, entre 1934 e 37, que havia loteado parte de Capivari. A área foi subdividida em 169 lotes: variando entre 818 e 7.880 metros quadrados, eles possuíam em média 1,5 mil metros quadrados (SERAPIÃO, 2008). O Jardim do Embaixador é considerado o primeiro loteamento sofisticado da cidade. Antes disso, pouco mais de uma centena de casas de campo ficavam em Capivari. No bairro, o Tênis Clube era o centro social. Além do desenho da


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urbanização, Bratke projetou o restaurante (Figura 48) e uma série de residências. As casas projetadas por Bratke ficavam ao redor do do restaurante, muito próximas a rua Araucária. Figura 48 - O restaurante e a casa de Ciampoligni ao fundo, ambos com telhado borboleta

Fonte: Arcoweb, 2018.

A historiografia da arquitetura não desenvolveu a contribuição dessas construções residenciais que já possuíam feições modernas. Os pesquisadores só podem se alimentar dos desenhos publicados na revista Acrópole, conforme figura 49. Figura 49 - Estudo de Oswaldo Bratke para Residência em Campos de Jordão – São Paulo.

Fonte: Revista Acropole n° 76 – 1944.


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Analisando essas imagens, Hugo Segawa, citado por Serapião, (2008) observou que Bratke apresentava “soluções formais coerentes: edificações de geometria nítida e de predominância horizontal, plano único de cobertura com grandes beirais, materiais deixados à vista (pedra e madeira, principalmente) e generosos panos de vidro - configurando a tênue separação interior/exterior, valorizando a belíssima paisagem campestre daquela estância turística.” (SERAPIÃO, 2008, p. 5). Atualmente, quase 70 anos depois, um turista apressado nem percebe a existência do bairro. Apenas uma discreta placa o sinaliza. O antigo distrito rural foi engolido pelo Ciclo do Turismo em Campos do Jordão. Outra mostra de possível sobrevida de uma arquitetura autêntica em Campos de Jordão pode ser observada na construção do Auditório Cláudio Santoro, o palácio do Festival de Inverno, um ícone para o Ciclo do Turismo jordanense. A construção do auditório partiu de um mandatário biônico - o governador indicado Paulo Egydio Martins, durante sua gestão 1975/79, que, no dizer de Serapião, “para o bem ou para o mal, preparou a localidade para o seu estágio atual”. (SERAPIÂO, 2008, p.6). A implantação da sede do Festival de Inverno de Campos do Jordão, idealizado em 1970, se tornou o principal marco arquitetônico do período. O Auditório Cláudio Santoro, de grande viés brutalista, possui uma ousada estrutura de quatro grandes pilares e foi desenvolvido por Croce, Aflalo&Gasperini. Um dos projetos preferidos de Gian Carlo Gasperini, o espaço, representado na figura 50, segue subutilizado quando fora do período do festival.


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Figura 50 - Parcial do complexo arquitetônico do Auditório Cláudio Santoro em Campos do Jordão. Arqtos. Croce, Aflalo&Gasperini. 1979.

Fonte: Haruo Mikami, 2018.

Por outro lado, atendendo a demanda turistificadora e patrimonializadora de Campos de Jordão, vamos encontrar propostas que seguem a receita fácil de uma arquitetura comercial e de apelo junto ao visitante consumidor de Campos de Jordão. Com mais ou menos critérios, diferentes escritórios de arquitetura irão atuar na elaboração e produção de uma arquitetura pastiche ou de inspirações temáticas preenchendo o cotidiano local com lojas, bares, restaurantes, malls, etc. Observam-se projetos como do Mall Campos onde, diz o escritório Arktito, responsável pela proposta: Os materiais estruturantes da construção, como tijolo maciço e estrutura metálica, aparecem também como revestimento, em sua forma natural. Fazendo analogia ao imaginário suíço, sua cobertura de com telhas planas de material asfáltico dialoga com essa característica arquitetônica muito presente na cidade. (ARKTITO, 2018, p. 2).

Mas a vulgarização da identidade arquitetônica local pode alcançar patamares mais extremos ainda. Muitos escritórios e considerados profissionais defendem a existência de um ‘estilo’ Casas Campos de Jordão. Pela internet pode-se deparar com essa e outras arbitrariedades estilísticas cujo único resultado é a promoção do pastiche e vulgarização do patrimônio cultural jordanense. Segundo estes atuantes no mercado imobiliários, pode-se empreender a construção de novas residências a partir de projetos de Chalés Suíços, Estilo


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Normando, o Chalé Pinho-jordanense, Pinho jordanense, o Neoenxaimel e ainda o Neoclássico Francês e o Neoclássico Campos do d Jordão (MÍTULA IMÓVEIS, 2018). Por conclusão pode-se se depreender que o caso de Campos de Jordão é precursor no quesito negação da história e cultura tradicional em favor do Mercado Imobiliário e da turistificação local. Assim como em Domingos Martins, valores val culturais e patrimoniais da região ficam de lado e chegam mesmo a ser renegados, enquanto os atrativos de apelo popular e consumista constroem uma nova tradição. 2.4.3 SESC Domingos Martins Mediante ao crescimento da indústria do turismo na cidade de Domingos Martins, a instituição do terceiro setor SESC (Serviço Social do Comércio) se viu atraída por investir na cidade através de um empreendimento hoteleiro. O SESC é empreendedor de centros de turismo, hotéis e pousadas em todo o Brasil e busca instalar ar suas unidades em locais com capacidade turística para atrair público consumidor. O enorme interesse e a capacidade lucrativa de um empreendimento hoteleiro na cidade se traduzem na escala do projeto: são cinco blocos de edifícios, totalizando 314 apartamentos, mentos, além de lazer recreativo e ecológico, podendo ser observada na implantação do complexo, figura 51. Figura 51 - Implantação do SESC Domingos Martins

Fonte: SESC-ES, SESC 2018.


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A arquitetura escolhida para o complexo foi o pastiche enxaimel, denominado no site de ‘estilo germânico’. A espetacularização da arquitetura e a sua associação com a ‘indústria patrimonial’ foi profundamente abordada nessa pesquisa.Contudo, é importante destacar que a opção pelo pastiche reforça a ideia de que a indústria do turismo é baseada na imagem marcante que o lugar pode vender, levando a falsificação de seus elementos culturais, nesse caso da arquitetura.O site do empreendimento a descreve como “Uma estrutura ao estilo germânico, típico das antigas construções da cidade”,16 com objetivo de chamar atenção e reforçar ainda mais a transformação do patrimônio cultural em mercadoria. A imagem dos edifícios do complexo, figura 52, amplamente difundidas em propagandas turísticas, apresenta características de imitação do enxaimel: telhado com alta inclinação e de ardósia, peças de concreto pintadas de marrom que imitam as empenas de madeirada e primeiro andar caracterizado como embasamento de pedra. Figura 52 - Edifícios SESC Domingos Martins

Fonte: SESC-ES, 2018.

Diante dos estudos de casos apresentados, é possível concluir que a imagem da arquitetura de enxaimel é utilizada para propaganda e para aumento da atividade turística. Assim, cidades como Domingos Martins e Campos do Jordão, acabam por 16

SESC ESPIRITO SANTO . Centro de turismo social e lazer de Domingos Martins. Disponível em: <http://sesc-es.com.br/sobre-o-sesc/nossas-unidades/hoteis-do-sesc/centro-de-turismo-social-elazer-de-domingos-martins/>. Acesso em: 03 nov. 2018.


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intensificar seus pastiches em enxaimel, modificando suas paisagens e gerando inversão de valores culturais, tudo para fomentar a ‘indústria patrimonial’. (CHOAY, 2001). Nesse sentido, a história das cidades é muitas vezes reinventada de uma forma lúdica, porém nociva, afinal a indústria do turismo não deseja uma imagem de passado pobre e sem recursos. A realidade é que a colonização brasileira fora um período de muitas dificuldades em que os colonos alemães morriam de malária e outras doenças e sofriam com a cobrança dos altos impostos do governo imperial. A prosperidade só se deu com o desenvolvimento nas últimas décadas do século XX e, mesmo assim, vagarosamente (RÖLKE, 2016).


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3 Capítulo 3: Projeto Projeto Básico de Restauro e Reabilitação da Casa Schlenz Schlenz


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3.1 A CASA SCHLENZ O município de Domingos Martins teve efetivamente uma colonização alemã. As primeiras construções dos colonos não perduraram, visto que eram considerados abrigos provisórios. Após a ocupação das terras, os imigrantes construíam suas casas definitivas, utilizando a técnica do enxaimel herdada de sua cultura natal e adaptando às necessidades topológicas da antiga Vila de Santa Isabel. No entanto, poucas delas resistiram às ações cronológicas e humanas. Uma das remanescentes dessas arquiteturas peculiares é a Casa Schlenz, figura 53. Figura 53 - Casa Schlenz, em Domingos Martins - ES

Fonte: Elina Raquel, 2018.

A residência foi construída na década de 1860, na primeira fase da imigração alemã no estado do Espírito Santo. É bem provável que seu proprietário estivesse entre os 163 imigrantes que chegaram ao estado em 1847. A maior parte das informações sobre a casa foi obtida através de entrevistas com pessoas idosas durante pesquisas de campo. A atual proprietária do imóvel, senhora Ruth Schlenz, descreveu os dados sobre sua construção. Ela é sobrinha neta do Sr. Felipe Schlenz, primeiro proprietário e construtor do edifício e herdou a casa de seus pais, pois seus tios avós não tiveram herdeiros. Segundo ela, seu tio avô era alemão e chegou a terras capixabas junto com sua esposa. Para edificar a casa, ele desmatou as árvores que existiam no terreno.


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É importante destacar que a colônia de Santa Isabel enquanto vila ficava afastada cerca de cinco quilômetros da que foi, primeiramente denominada ‘Campinho’, Sede atual de Domingos Martins. Segundo a memória de alguns cidadãos da terceira idade do município, juntamente com a senhora Ruth, a casa foi a primeira a ser edificada na sede e sua construção data de vinte anos antes da igreja luterana, figura 54, pois, na casa foram realizados cultos protestantes, casamentos, batizados. Figura 54 - Imagem do início do povoado de ‘Campinho’ (Domingos Martins), por volta de 1860, quando a Igreja Luterana ainda era capela. A demarcação na foto corresponde a Casa Schlenz que, embora que distante, já era notável sua presença na fotografia

Fonte: Casa da Memória de Domingos Martins, Década de 1860.

Em seus quase 160 anos de história a casa permanece com seu uso residencial. Ali moraram primeiro, os tios avós de Ruth juntamente com seus pais. Os pais de Ruth a criaram na casa, junto com seus irmãos. A maior parte mudou-se da casa, porém ela e um irmão permaneceram. Ele possui paralisia nas pernas sendo


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cadeirante. Todavia, eles têm orgulho de residirem naquela que foi a primeira edificação da cidade e de recontar as histórias de seus anciãos. É notório que a utilização do imóvel como moradia, ao longo do tempo, foi fundamental para sua manutenção quase que integral. Esse fator fica ainda mais evidente no interior da residência, pois Ruth faz questão de manter a composição dos ambientes conforme era na época da colonização. Assim, são encontradas muitas características das casas da arquitetura alemã capixaba, conforme ilustra a figura 55. Figura 55 - Parede de quadros da Casa Schlenz, na qual está a foto dos donos da cada no centro e abaixo quadros religiosos

Fonte:Flora Kiefer, 2018.

Os quadros da parede são elementos específicos das casas da arquitetura alemã em Domingos Martins, conforme descreve: Muito comum era um quadro chamado Credoria e outro denominado Himmelsbrief, que eram comercializados contra a vontade das lideranças religiosas. Mas a religiosidade popular tinha estes quadros em grande estima,pois se acreditava que eles garantiam proteção contra dificuldades de qualquer espécie. Era comum também ter a foto do dono da casa e de sua esposa em seu dia de casamento, ricamente emoldurada. Estas molduras eram preparadas e vendidas por viajantes, que recolhiam as fotos, pintavam e emolduravam-nas.A confecção destes quadros significava certo investimento financeiro. (RÖLKE, 2016, p. 335).

A utilização residencial também contribui para a permanência da casa em meio a vida urbana. É certo que Domingos Martins é uma cidade pacata, devido a sua


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escala e densidade habitacional. Apesar disso, muitas dessas arquiteturas foram demolidas até mesmo nas áreas rurais no município, por isso as que restaram são remanescentes, história viva edificada da colonização alemã dessas terras. A casa destoa de seu entorno e este é mais um dos fatores para preservação do imóvel: é uma arquitetura que tem a marca de seu tempo. A Prefeitura Municipal de Domingos Martins listou a casa como elementos com interesse de preservação. A recomendação técnica de estudos feitos por arquitetos e urbanistas durante a elaboração do novo Plano Diretor Municipal de 2013 é que a residência seja tombada em nível estadual.17 Apesar de nenhuma ação efetiva ter acontecido até o momento, seu tombamento é essencial, uma vez que a casa é uma arquitetura que representa a história da colonização da cidade e demonstra como era a história de vida dos colonos alemães. 3.1.1 Levantamento Cadastral Conforme as recomendações do Manual de elaboração de projetos de preservação do patrimônio cultural do Ministério da Cultura (2013), um Projeto Básico de Intervenção no Patrimônio Edificado dever conter a Pesquisa Histórica, o Levantamento Físico, a Análise Tipológica, Identificação de Materiais e Sistema Construtivo, Prospecções, Estrutural e do Sistema Construtivo e Arqueologia. Ainda há uma etapa de Diagnóstico que compreende o Mapeamento de Danos, Análises do Estado de Conservação, Estudos Geotécnicos e Ensaios e Testes. Considerando a metodologia acima apresentada, não foi possível realizar todos os itens recomendados pelo Ministério da Cultura, devido ao caráter dessa pesquisa apresentar-se como um trabalho de conclusão de curso e sua exigüidade de tempo. Além disso, um projeto de intervenção completo abrange várias áreas do conhecimento e possui caráter multidisciplinar, englobando diversas profissões e outros levantamentos onerosos. Contudo, os itens principais foram contemplados, como é o caso da pesquisa histórica, retratada desde o início desse trabalho através do estudo do enxaimel enquanto técnica construtiva, da Alemanha até Domingos Martins. 3.1.1.1 Levantamento Físico 17

PLANO DIRETOR MUNICIPAL DE DOMINGOS MARTINS: ANEXO 10: ELEMENTOS DE INTERSSE DE PRESERVAÇÃO


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O levantamento Físico apresenta-se nessa pesquisa através das pranchas em APÊNDICES denominadas LEVANTAMENTO CADASTAL CASA SCHLENS DOMINGOS MARTINS E LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO CASA SCHLENS DOMINGOS MARTINS. As medições para aquisição de dados para o levantamento, como as medições e fotografias foram obtidas através de visitas à casa, pela autora, no período entre o segundo semestre de 2018 e o primeiro de 2019. As pranchas de levantamento cadastral foram elaboradas pela autora, assim como as fotografias, sendo algumas, conforme indicado, de Elina Raquel do Carmo. Foi possível constatar através do levantamento físico que a Casa Schlenz possui características típicas de casas antigas, como cotas sem valores exatos, paredes mais grossas (18 centímetros) sem padrão de espessura. A compreensão dessas características físicas da casa proporcionou bases e foi fundamental para as proposições do projeto de intervenção de reabilitação. 3.1.1.2 Análise Tipológica e Quadro de Patologias Através de relatos dos donos da residência e de análise do levantamento fotográfico é possível constatar que a técnica construtiva da residência é de fato o enxaimel. Esse estilo arquitetônico no município de Domingos Martins, bem como a forma de construção e organização já apresentada no Capítulo 2 dessa pesquisa, tendo a casa em questão sido amplamente citada nos exemplos. Apesar de ter seus elementos preservados com estima pela família, a edificação sofre com a ação do tempo. Além disso, não há assistência técnica adequada de arquitetos para orientação de como lidar com obras de restauro de acordo com as teorias do patrimônio histórico e com a Carta de Veneza. Mesmo assim, a casa não foi descaracterizada em sua totalidade. A principal ação de reforma fora a troca da cobertura em ‘tabuinhas’ de madeira por telhas de fibrocimento. As demais patologias e o estado geral da residência podem ser constatados no Quadro 05. É possível constatar através deste quais as partes constituintes mais comprometidas.


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Em relação à deterioração, a parte mais crítica está na estrutura de madeira que se encontra comprometida pela ação de cupins, conforme constatado no Quadro 05. Também é importante destacar que a estrutura em enxaimel é uma técnica intensamente estudada e documentada e, caso seja necessário remontar parcialmente sua estrutura, a forma de fazê-la assim como era feita pelos colonos é plenamente reconhecida. A cobertura em telha de fibrocimento é um aspecto empobrecedor na residência. É certo que as tabuinhas de madeira, as telhas originais da casa, possuiem uma vida útil muito pequena devido a falta de imunização e proteção. Porém, a telha de fibrocimento não integra-se harmoniosamente ao conjunto, tanto na questão da combinações de sua materialidade quanto visual e esteticamente. A madeira é o material mais utilizado de modo geral na residência. Assim como na estrutura, o madeiramento do forro, do assoalho, do guarda corpo e das tábuas de fechamento também se encontram em estado crítico. O madeiramento do assoalho, como pode ser constatado no Quadro 05, possui muitas fendas que prejudicam a acessibilidade na mobilidade dos usuários da residência. O reboco de barro danificado também é uma técnica documentada, sendo fundamentada sua necessária reprodução. A fachada lateral direita e a fachada frontal da cozinha, indicadas nas pranchas 05/06 e 06/06 do Levantamento Físico em Apêndices, não receberam reboco na construção original, deixando a estrutura enxaimel à vista, conforme eram as casas da Alemanha e do Sul do Brasil. Isso se deve ao fato da orientação solar das fachadas, uma vez que as fachadas lateral esquerda e parte da fachada frontal da sala estão orientadas a Nordeste, onde há maior incidência de sol e chuva, sendo necessário cobrir o madeiramento com reboco. As demais pranchas de levantamento cadastral, cortes, plantas, fotografias, representam a residência e forneceram dados para o desenvolvimento da proposta. 3.2 MEMORIAL JUSTIFICATIVO As etapas preliminares de levantamento e diagnóstico recomendadas no Manual de elaboração de projetos de preservação do patrimônio cultural do Ministério da Cultura foram apresentadas anteriormente. Dando continuidade a metodologia


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proposta do Projeto Básico de Intervenção no Patrimônio Edificado, pretende-se apresentar nos itens seguintes que compreendem o Memorial Descritivo e as peças gráficas em Apêndices. É importante destacar que nessa etapa de projeto de intervenção não serão apresentadas a parte orçamentária e o projeto executivo de intervenção, excetuando o banheiro acessível, devido ao grau de abrangência escolhido. 3.2.1. Conceito e Partido O Projeto de Intervenção na Casa Schlenz apresentado conceitua-se na recuperação da aparência primitiva do edifício, atendendo as necessidades de restauro de sua materialidade devido às degradações. Além disso, outra intenção projetual norteadora desse projeto é atender as necessidades contemporâneas dos moradores da casa, principalmente na questão de acessibilidade, reabilitando a função residencial que é primordial para a existência e conservação do edifício e o atualizando diante das demandas atuais. Partindo desses princípios, para recuperar aparência original é imprescindível que as técnicas construtivas bem como os materiais originais sejam respeitadas e reproduzidas fielmente, de acordo com as documentações. Para atender as demandas atuais, é necessário promover acessibilidade na residência, conforme as normas vigentes. Assim, decidiu-se pela proposição de um banheiro acessível, visto que não havia na residência, e um acesso independente para o cadeirante. 3.2.2 Programa de necessidades Diante das diretrizes de projeto para recuperação da casa de sua degradação, também se torna necessária a abordagem de como a casa se adequará as demandas atuais de habitação, acessibilidade e sustentabilidade. A questão mais impactante é a da acessibilidade, visto que um dos moradores é cadeirante. Apesar de tudo, os moradores não se queixam da total falta de acessibilidade na casa, pois as portas originais possuem dimensões adequadas e o cadeirante consegue se locomover em seu interior com relativa facilidade. De modo geral, as principais ações para melhoria da acessibilidade na casa são: •

Criação de um acesso principal adequado e independente;


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• •

Adaptação ou construção de um banheiro no interior da residência; Restauração geral dos elementos degradados (piso, forro, telhado, estrutura, paredes), conforme terapias e recomendações para recuperação dos elementos em patologias através do resgate de técnicas tradicionais construtivas, apresentado nessa pesquisa.

• Vaga de garagem, visto que é uma exigência do Plano Diretor de Domingos Martins, havendo espaço no terreno para que seja construída. • Melhorias das instalações elétricas e hidráulicas. • Promover a privacidade nos quintal dos fundos da casa. Outra questão significativa em relação às demandas atuais do patrimônio histórico é o combate e proteção contra incêndios. Apesar de não ser exigido o projeto de incêndio nessa edificação pela área total, um incêndio acarretaria a destruição do patrimônio, por isso, uma estratégia é utilizar revestimentos com vernizes para madeira ignifugantes. Além disso, serão previstos extintores que, pela dimensão do imóvel, serão eficazes em caso de um princípio de incêndio. É possível constatar que as instalações elétricas da casa não estão adequadas, pois os fios de eletricidade são aparentes. A iluminação no interior também é precária, fazendo com que a haja necessidade de adequação a demanda atual. Outras redes, como as de internet e telefonia também estão aparentes. Porém, de um modo geral, os projetos de instalações elétricas e hidráulicos não serão produzidos nessa etapa, visto que necessitam de levantamento preciso e detalhamentos executivos. Os moradores possuem um estilo de vida simples e não necessitam da inserção de muitas inovações para habitarem na residência. Em entrevistas, citaram a questão da acessibilidade, mas, de modo geral, não tem queixas significativas sobre a residência, devido ao orgulho que possuem por habitarem nela. Mas é importante pensar na inserção da casa, não somente em tempo presente, como também projetá-la para o futuro. Dessa forma, pode-se dimensionar a rede elétrica para receber

mais

instalações

no

futuro.

Além

sustentabilidade nas edificações é recorrente.

disso,

a

demanda

atual

por


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3.2.3 Estudo de implantação dos acréscimos Seguindo o conceito de atender as necessidades de promover acessibilidade na residência, havia duas opções em relação ao sanitário: reformar o banheiro existente que não tinha dimensões e equipamentos necessários ou criar um novo volume anexo para o banheiro. A primeira opção acarretaria a ampliação do banheiro existente e poderia romper com a posição original das paredes e suas ambiências históricas. Assim, optou-se pela segunda opção. É importante lembrar que a residência em sua originalidade não possuía nenhum sanitário e o espaço em que o banheiro está localizado era uma despensa onde se realizava uma precária higiene pessoal. Assim, o banheiro construído posteriormente também precisa de reforma, pois as instalações hidráulicas estão inadequadas. Optou-se por locar o novo sanitário próximo as áreas molhadas, na parte dos fundos do terreno, onde há espaço para construção e seguindo o alinhamento do corredor de entrada, conforme a planta representada na Figura 56. Figura 56 - Planta esquemática representando a área a ser acrescida do banheiro acessível na Casa Schlenz

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Em relação à volumetria, esse novo cômodo deve integrar-se harmoniosamente ao conjunto volumétrico da residência, por isso o telhado acompanha a inclinação do telhado original, o que facilitou também no posicionamento da caixa d’água. As


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proposições para esse volume podem ser observadas na figura 57, uma volumetria inicial da proposta. Figura 57 - Perspectiva inicial do banheiro acessível representando a inclinação do telhado

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Mais um acréscimo volumétrico ao conjunto será a garagem, que seguirá os mesmo padrões do banheiro: implantação no interior do lote, inclinação, materiais, forma. Assim, o conjunto de intervenções contemporâneas será identificável e formará uma unidade. Outra demanda de acessibilidade na residência que implica no volume do conjunto um acesso independe para o cadeirante, visto que é necessário o auxílio de duas pessoas para carregá-lo e assim acessar a residência, uma situação constrangedora. Analisando as possibilidades, uma rampa seria o melhor meio possível, do ponto de vista econômico e prático. Sabe-se que a inclinação estabelecida pela NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, para rampas é de 8,33% e para vencer desníveis com a essa inclinação as rampas tornam-se grandes elementos. Na figura 58, estão representadas as duas proposições de rampas para a residência. Apresar de a opção à esquerda não impactar na fachada frontal, optouse pela segunda opção, uma vez que o acesso dela se dá pela despensa e da outra por um quarto. O acesso por uma área íntima poderia restringir o uso da rampa futuramente, o que também facilitou a escolha pela opção à direita.


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Figura 58 - Perspectiva inicial com as duas opções de rampas propostas, sendo a opção a direita escolhida

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

3.3.4 Implantação e térreo A planta térrea em análise nesse item encontra-se em APÊNDICES: Térreo com Implantação - Intervenção, prancha 02/09. As modificações no térreo da edificação são pontuais, de forma que a proporcionalidade dos ambientes e o traçado original da alvenaria serão mantidos. Em relação à alvenaria, a planta térrea está precedida pela Planta de Reforma Demolir e Construir, em Apêndices. As demolições demarcadas na planta restringem-se aos vãos das novas portas a serem instaladas na cozinha, no banheiro existente e no banheiro acessível. O banheiro da casa possui instalações hidráulicas na alvenaria enxaimel. Para adequá-lo, sugere-se uma parede nova a construir dentro do banheiro, em gesso acartonado, de forma a não comprometer a estrutura existente e facilitar as instalações. As demais paredes a serem construídas são as do banheiro acessível, também em gesso acartonado e a estrutura metálica funcionará de forma independente. As demais alvenarias, tanto enxaimel como as vedações em madeira, serão restauradas, seguindo as técnicas apresentadas anteriormente. As demais modificações encontram-se basicamente no jardim dos fundos, onde será construída uma garagem, anexa ao forno a lenha. Tanto o forno quanto a


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cobertura não é original, porém sua localização é desde a construção da casa, por isso será mantido e reconstruído. Os fundos da casa é um espaço privativo, cuja privacidade nunca foi estabelecida, exceto por algumas vegetações que obstruíam a visão do volume do edifício. A fim de atender a essa demanda da moradora Ruth, propõe-se cercar todo o terreno, com grade de aço, conforme pode ser observado na planta. A prancha de Cortes - 03/09, em APÊNDICES, busca representar as soluções explicadas no texto. 3.3.5 Cobertura O telhado em ‘tabuinhas’ possui suas técnicas de fabricação artesanal documentada e muitos idosos, na região, ainda lembram como fazer e quais as ferramentas são utilizadas. Dessa forma, esse tipo de cobertura ainda está presente na memória de parte dos cidadãos martinenses. Devido à falta de tratamento adequado da madeira, esse as ‘tabuinhas’ tinham uma vida útil muito curta e não perduraram nas gerações descendentes. Assim, não há registro de residência em enxaimel que tenha cobertura característica em Domingos Martins. Porém, somando-se a disponibilidade de materiais ao fato do conhecimento e documentação, a reprodução do telhado em ‘tabuinhas’ de madeira não é uma técnica inadequada e encontra respaldo no Artigo 9° da Carta de Veneza: A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese [...] (IPHAN, 1964, Art. 9°.)

Dessa forma, propõe-se reconstrução da cobertura do edifício em sua originalidade. A planta da cobertura encontra-se em APÊNDICE, prancha 06/10. As tabuinhas deverão ser impermeabilizadas segundo as terapias recomendadas e terão o auxílio de uma subcobertura com o uso de tyvec, entre as estruturas superiores do telhado para garantir maior estanqueidade e impermeabilização do dorso das peças. Por questões de segurança não foi possível o acesso ao sótão da residência para o levantamento da estrutura do telhado. Porém, segundo a dona da casa, a estrutura é quase toda original, excetuando-se poucas peças substituídas. Segundo as técnicas de recuperação e imunização do madeiramento estrutural da cobertura, instalando o tyvece reconstruindo o telhado em tabuinhas, as técnicas


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tradicionais serão respeitadas e grande parte da unidade estética perdida será resgatada. 3.3.6 Vocabulários de materiais Em relação aos materiais utilizados na proposta, a ideia central está apresentada no partido, que é o respeito aos materiais originais, de forma a recuperar cores, unidades e texturas primitivas. Para conceituar a materialidade, elaborou-se um quadro conceito, (Mood Board) a fim de nortear uma inspiração de composição para o edifício. Figura 59 - Mood Board do Projeto Básico de Intervenção da Casa Schlenz.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

As Figuras 60, 61, 62 e 63 representam ilustrações para a proposta, assim como as pranchas de fachadas em APÊNDICE. A madeira existente deve ser aproveitada e restaurada buscando revelar sua aparência original. O reboco


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pintado com cal distingue-se das placas cimentícias das intervenções (banheiro e garagem) pela textura e alinhamento. A pedra volta a ter sua aparência original e as vedações nas paredes de pedras são recuadas e escurecidas para fazerem o fechamento dos vãos, porém sem perder a unidade de composição entre cheios e vazios. Figura 60 - Vista 01 - Fachada Principal

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A decisão de manter o reboco sobre a estrutura enxaimel nas fachadas da casa principal e deixá-la aparente na cozinha é em respeito às decisões dos primeiros construtores, levando em consideração o contexto climático.


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Figura 61 - Vista 02 - Fachada Principal

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Figura 62 - Vista 03 - Fachada Principal

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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Figura 63 - Vista 03 - Fachada Principal

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A vegetação deve ser utilizada com cautela (figura 64), pois, utilizada demasiadamente, como está, obstrui a leitura visual do volume do edifício. A cor azul celeste das esquadrias foi preferência da dona da residência. De acordo com a disponibilidade de tintas coloridas da época da construção da casa, admite-se tanto as cores verdes como azuis, sendo que a primeira cor utilizada foi mesmo o azul conforme relato oral. As peças de madeira da residência devem ser tratadas mediante injeção de imunizantes solvidos em base água. Essa escolha é devido à necessidade posterior de envernizamento ignifugante das peças, através do CKC, verniz retardante ao fogo. Assim, a madeira torna-se protegida contra fungos e brocas e também contra possíveis sinistros, sem que haja interferência em sua aparência natural.


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Figura 64 - Vista 05 - Fachada Lateral Direita

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Figura 65 - Vista 06 - Fachada Lateral Esquerda

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Na figura 65 a fachada lateral esquerda estรก evidente, juntamente com uma parte dos fundos. A grade que cerca o limite do terreno comeรงa a ser evidenciada,


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estabelecendo privacidade, sem obstruir o edifício. A figura 66 é uma visual da cobertura, onde é possível observar parte dos fundos e a marcação do banheiro como intervenção. Através da análise das imagens, percebe-se que a recuperação do telhado em tabuinhas e toda a composição restituída remetem a uma aparência de casas típicas dos antepassados, pouco presente, mas não extinta da memória coletiva. Figura 66 - Vista 07 - Cobertura

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

3.3.7 Acréscimos: banheiro acessível, rampa e garagem A rampa de acessibilidade é um elemento robusto que possui aproximadamente quinze metros lineares, para vencer um desnível de um metro e vinte, com a inclinação estabelecida pela NBR 9050. Como toda intervenção, foi necessário integrá-la ao conjunto da residência, destacando sua contemporaneidade. Para isso, ela terá revestimento moldado in loco, para áreas externas, um revestimento de alta resistência e fácil limpeza. Além disso, sua cor deve combinar com os materiais da casa. O guarda corpo será tubular na cor cobre para melhor harmonia, fazendo com que a materialidade da rampa seja contemporânea, porém não impacte na percepção da residência. A figura 67 representa como será a rampa. O local de implantação da rampa encontra-se maciçamente coberto por vegetação que deverá ser ajustada ao novo contexto. Será mantido um estreito canteiro com lavandas que


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ajudam no disfarce do peso visual do novo elemento que poderia tornar-se maçante na fachada. A figura 68 representa uma visual de como serå a entrada com a rampa. Ela possui largura de um metro e vinte centímetros, acompanhando a largura mínima dos patamares exigida pela norma. Figura 67 - Vista 08 - Rampa

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Figura 68 - Vista 09 - Rampa

Fonte: Elaborado pela autora, 2019


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A garagem será um elemento com tamanho mínimo exigido para guarda de um veículo e possui volumetria simplificada. A cobertura da garagem será em telha Dânica simples com a mesma inclinação do telhado em tabuinhas da residência principal. A figura 69 representa a volumetria da garagem. As paredes serão brancas com o mesmo acabamento proposto para o volume do banheiro. Não foi possível vedar completamente o espaço, pois obstruiria a visão do forno a lenha que está ao fundo do lote, um elemento inestimável para a residência. Figura 69 - Vista 10 - Garagem.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

O quintal dos fundos da residência será uma área aprazível, sem densa vegetação e com topografia plana, conforme figura 70. Assim, esse espaço externo que possuí grande potencial se tornará uma área externa agradável para o convívio familiar, além de possuir uma garagem coberta e a manutenção do forno.


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Figura 70 - Vista 11 - Quintal dos fundos.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

O anexo do banheiro acessível a casa é, talvez, a intervenção de maior presença nesta proposição. Isto porque acrescenta um novo ambiente à residência e impacta na relação das pessoas com o ambiente interior. A intenção de foi constituí-lo de uma volumetria simplificada, seguindo, ao máximo, a volumetria da casa, a inclinação do telhado e utilizando materiais e técnicas contemporâneas, conforme ilustra a figura 71. Não é possível observar através das imagens a diferença de texturas, no entanto, a parte nova será executada em placas cimentícias, lisas e pintadas com tinta PVA branca, em contraste ao reboco de barro e pintura em cal da construção inicial. Nesse caso, a diferença de texturas é uma das principais intenções na busca pela diferenciação e autenticidades entre o novo e o antigo. O entelhamento também será diferenciado, com o uso de telhas Dânica.


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Figura 71 - Vista 12 - exterior do banheiro

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A figura 72 é uma vista do exterior na qual o volume do banheiro aparece em destaque. A báscula em vidro e alumínio também se distingue das esquadrias originais. Figura 72 - Vista 13 - exterior do banheiro

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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A proposta para o interior do banheiro é simplificada, conforme observado na figura 73. Os revestimentos do piso e paredes são brancos, retificados e o forro será de gesso liso. A intenção é não utilizar tendências e modismos temporais, tampouco ousar demasiadamente por ser uma intervenção em um edifício histórico de características simples. Os moradores da residência são pessoas humildes e o estilo do banheiro segue as suas preferências. As barras de apoio seguem a NBR 9050 e são de inox polido, material utilizado na maioria dos itens: chuveiro, acento, papeleira, penduradores, visando criar uma identidade no ambiente. Figura 73 - Vista interior do banheiro.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

O mobiliário do banheiro também busca adequar-se o máximo possível às necessidades de acessibilidade. Pequenos armários são necessários em sanitários para guardar itens de higiene pessoal, toalhas, etc. Nesse projeto, foi difícil encontrar local para marcenaria, pois abaixo do lavatório é necessário espaço livre para o encaixe da cadeira de rodas, ao lado da bacia sanitária situa-se a área de transferência e em frente ao lavatório obstruiria o raio de giro da cadeira. Assim, a estratégia utilizada fora um armário móvel, tipo volante, com rodinhas e dimensões que o próprio cadeirante possa movimentá-lo e utilizá-lo conforme sua posição no interior do banheiro.


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Figura 74 - Vista 15 - interior do banheiro.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Na figura 74 observa-se o espelho levemente inclinado, com o objetivo de aumentar o ângulo de visão do cadeirante. A iluminação no banheiro é geral e de tarefa, possuindo um plafon de iluminação geral, dois spots sobre o lavatório e chuveiro e dois pendentes de iluminação decorativa no toalheiro. 3.3.8 Recomendações para recuperação dos elementos em patologias através do resgate de técnicas tradicionais construtivas As recomendações apresentadas nesse tópico seguem a metodologia do Manual de Conservação Preventiva para Edificações, elaborado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O manual possui diversas orientações, de acordo com as patologias de cada edifício. Nessa pesquisa, serão apresentadas as patologias e recomendações de reparos referentes ao Quadro 05, específicas da Casa Schlenz, bem como técnicas de imunização de todo o madeiramento da casa. •

COBERTURA:

As práticas de reconstrução do telhado em tabuinhas e a imunização da estrutura de madeira estão descritas no Manual Prático de Conservação de Telhados do


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IPHAN. As patologias da estrutura são solucionadas segundo o Manual de Conservação Preventiva para Edificações: TABELA 01 - PATOLOGIAS NA COBERTURA PROBLEMA IDENTIFICADOS

CAUSAS

Apodrecimento das devido à umidade

Presença de água e falta de ventilação

peças

PROCEDIMENTOS PARA REPARO Solucione os problemas de umidade. Procure um bom carpinteiro que possa fazer a substituição dos trechos apodrecidos e fazer emendas, se possível com o mesmo tipo de madeira, nas peças danificadas, conservando a técnica construtiva original e a sua resistência. Ver Fichas DU, TU e Manual de cobertura

Além das recomendações de recuperação da estrutura e reconstrução das tabuinhas da cobertura, pela ausência de calhas é necessário seguir a ficha de aplicação de técnica TT01: Técnica: Afastamento das águas de chuva da construção. Princípio: Para manter em bom estado uma construção de terra é necessário afastar a água através de proteções simples. Um dos primeiros elementos de proteção é o beiral, cuja função é dirigir as águas para longe do edifício. Mantenha, portanto, os beirais em bom estado e não reduza as suas dimensões. O segundo elemento de proteção é a drenagem. Sempre que o terreno nas vizinhanças da construção apresentar aclive, será prudente criar uma vala de drenagem que conduza as águas para longe da construção. Também as águas que caem dos telhados devem ser canalizadas, evitando-se que respinguem ou empocem, atingindo as base das paredes e provocando a sua degradação. A colocação de piso com inclinação correta e a instalação de drenagens possibilitarão que o edifício se mantenha em bom estado. Finalmente, nos muros divisórios, além dos cuidados já referidos, deve ser aplicada uma


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proteção superior em forma de cobertura com caimento adequado. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 101). •

MADEIRAMENTO:

FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TM01 Técnica: Recomendações gerais na utilização de novas peças de madeira Princípio: 1. Solicitar a orientação de um profissional qualificado; 2. A substituição total de uma peça de madeira só deve ocorrer em caso extremo; 3. A reintegração é a intervenção feita no sentido de complementar um pedaço de uma peça danificada ou destruída. 4. Adquirir madeiras sem alburno. 5. Sem sinais de fungos e ou insetos 6. Sem nós 7. Peças alinhadas e cortadas no sentido das fibras 8. Peças secas ao ar não em estufas 9. Utilizar madeiras com as mesmas características mecânicas das encontradas na edificação 10. Para pisos, forros e esquadrias, utilizar madeiras tratadas, cuja umidade residual seja semelhante a umidade das madeiras já existentes no edifício 11. Fazer as emendas sempre com tarugos e colas. Só em último caso se devem utilizar parafusos de latão. NUNCA utilizar pregos ou parafusos de ferro que sofrem oxidação e irão causar danos ao material; 12. Nos casos onde for necessário utilizar chapas ou perfis de ferro galvanizado estes deverão ser muito bem tratados para evitar oxidação. 13 – As peças novas deverão passar pelo processo de imunização por imersão antes de serem colocadas no edifício. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 108). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TM03 Técnica: Emendas de vigas, barrotes e pilares


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Princípio: Nas bases de pilares ou nas cabeceiras das vigas e barrotes, devido à umidade, as madeiras costumam apodrecer e sofrer a ação de fungos e insetos. Nestes casos como são peças que suportam cargas devem ser bem emendadas. Quando as peças são de grande responsabilidade estrutural devem ser previamente calculadas por especialistas, para obter-se a dimensão correta das bitolas das chapas, perfis e parafusos. Para estes casos podemos utilizar um dos procedimentos abaixo: A. Reforço de uma extremidade da viga com duas cantoneiras em L e parafusos. B. Reforço de uma extremidade da viga ou pilar com duas chapas laterais e parafusos (fig. 03). C. Reforço com chapas internas, colocadas com resina. Recomendações: Procure auxílio de técnico especializado ou de um oficial de carpintaria qualificado. Utilize madeira igual à antiga, bem seca e imunizada. Quando utilizar chapas metálicas, tenha o cuidado de realizar tratamentos anticorrosivos para evitar oxidações. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 110). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TM04 Técnica: Preenchimento de pequenos buracos Princípio: Serve para complementar pequenos defeitos na madeira devido à presença de nódulos, rachaduras ou buracos. É feito com cola e pó de serra fino, no mesmo tom da madeira original. Este pó não deve ser de madeira mais dura que a original. Deve-se ter o cuidado de deixar o preenchimento um pouco mais alto.


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Para fazer o acabamento da peça, deve-se utilizar uma lixa mais grossa e depois uma lixa fina. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 111). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TM05 Técnica: Preenchimento em grandes falhas Princípio: Para estes casos é necessário fazer-se uma emenda. Deve-se remover cuidadosamente com um formão a parte danificada, tornando a falha regular. Em seguida imuniza-se a parte interna, de acordo a com as orientações dadas nas fichas de imunização, para depois aplicar o novo pedaço de madeira. Muito cuidado com a escolha da madeira, que deve seguir as recomendações da TM01. A fixação se faz com cola branca ou cola epoxídica. Enquanto a cola não seca deixe a emenda presa com grampo ou sargento para garantir a fixação correta. Muito cuidado no entalhe da madeira e no acabamento da peça. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 112). •

PISO E FORRO DE MADEIRA: TABELA 02 - PATOLOGIAS NO PISO E FORRO

PROBLEMA IDENTIFICADOS

CAUSAS

Arqueamento de peças

Sobrecarga ou cupins

Presença de pó branco abaixo das peças ou ao lado e também pequenas perfurações circulares na madeira.

Broca

PROCEDIMENTOS PARA REPARO Substitua as peças arqueadas por outras de maior dimensão capazes de sustentar o peso colocado sobre elas. Ver fichas DU, TU, DI, TI e TM Identifique o foco e extermine. Substitua as peças no todo ou em parte, por madeira similar, observando os encaixes, e imunizando todo o conjunto de piso, barrotes e forro – peças novas e antigas. Ver fichas DU,TU, TM, DI e TI01,02,TI05 a 08


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REBOCO E PINTURA: TABELA 03 - PATOLOGIAS NO REBOCO E PINTURA

PROBLEMA IDENTIFICADOS

CAUSAS

PROCEDIMENTOS PARA REPARO Identifique e bloqueie a fonte de umidade de acordo com as fichas DU e TU e refaça o reboco de acordo com as ficha específica TU.

Áreas com reboco descolando em placas

Presença de sais

Descascamento da pintura

Má aplicação da técnica ou umidade

Ocorre quando a tinta é aplicada sobre superfícies poeirentas ou de reboco novo e é provocado pelo envelhecimento ou pela má aderência da tinta. Raspe a superfície, limpe-a de poeira e repinte a área.

Desagregação - Descamação parcial ou total do filme da tinta do substrato,

Pintura aplicada sobre superfície de reboco novo não curado. Presença de sal na alvenaria. Superfície revestida por reboco impermeável – cimento. Nas regiões frias, devido ao congelamento da água dentro dos poros da parede.

TP01 e TP02.

FICHA DU09. Se a mancha de umidade tem este aspecto: Figura 75: Mancha de umidade.

Fonte: Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 136.


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• Superfície do reboco descolada e pulverulenta. • Manchas de umidade com a parte superior apresentando faixa esbranquiçada e pulverulenta. • Presença de sais solúveis no material de reboco. Se essas opções se aplicam ao caso, o problema tem forte probabilidade de ser provocado por sais que cristalizam à superfície da parede. Esses sais foram trazidos do subsolo pela umidade ascendente, estavam latentes no material de construção ou, nas regiões próximas ao mar foram trazidos através do aerosol marinho ou da água de chuva. A água ao circular pela parede trás esses sais para a superfície, onde cristalizam, aumentam de volume e desagregam o reboco. Para orientação sobre a solução a adotar veja a ficha TU14. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 136). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TU14 Técnica: Camada de reboco sacrifical Princípio: As eflorescências são provocadas pela cristalização de sais na superfície dos materiais, sendo a condição básica para o seu aparecimento a circulação de água. Os sais podem estar nos materiais de construção ou no terreno, mas em qualquer dos casos dependerão da água para manifestar-se. Recomendação: A primeira providência é impedir o aceso de água à construção. Para tal, é preciso reconhecer o padrão de umidade na área tingida pois este irá indicar com alguma precisão onde se encontra o foco de alimentação. Em seguida, pode proceder-se à remoção dos sais, embora esta seja uma operação delicada, feita à base da aplicação de emplastos, que deve ser usada apenas para paredes com valor artístico significativo e sob a orientação de um técnico especializado. Em paredes comuns usa-se o chamado reboco sacrificial, uma camada de reboco novo, bastante poroso, que terá a função de sofrer a cristalização dos sais enquanto a alvenaria seca gradualmente, sendo então retirado e aplicado novo reboco


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sacrificial é que não ocorram mais eflorescências. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 154). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TU15 Técnica: Substituição do reboco. Princípio: O congelamento de água nos poros do material é um processo bastante semelhante ao da eflorescência. Sua causa única é a circulação de água em alvenarias que estão sujeitas a baixas temperaturas. Recomendação: A solução do problema, da mesma forma é o bloqueio da entrada de água no edifício. Uma vez cortada a fonte de alimentação a parede deverá ser deixada secar e o reboco refeito. Para orientação sobre a forma de reaplicar um reboco, verifique a ficha TA02. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 155). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TA02 Técnica: Substituição de reboco Princípio: Para substituir uma área de reboco, deve cortar-se o trecho danificado, com corte esquadrejado, até atingir-se a base da alvenaria. Após o corte, todo o material solto ou com pouca aderência (assim como as eflorescências e qualquer tipo de crescimento biológico), devem ser removidos por meio de escovação vigorosa com escova de cerdas duras, aplicando-se em seguida fungicidas no caso de haver indícios de que tenha ocorrido ataque biológico. Antes que qualquer argamassa seja aplicada à superfície, as juntas devem ser cortadas a uma profundidade de pelo menos 1,6 cm, para se obter aderência suficiente. A superfície da alvenaria deve, então, ser umedecida para reduzir a sucção, em especial nos climas quentes e posteriormente aplicada a argamassa. Aplica-se primeiro uma camada de emboço de traço, em argamassa de cal e areia grossa, no traço 1:2 ou 2,5 que deve ser texturizada com uma desempenadeira dentada, para que haja melhor aderência do reboco de acabamento. O reboco será


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uma argamassa de cal e areia fina de traço 1:3. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 121). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TP01 Técnica: Preparação da superfície Princípio e Recomendação: A boa preparação da superfície é fator tão importante quanto a escolha de bons produtos para a sua pintura. BASE PARA PAREDES REVESTIDAS COM ARGAMASSA OU REBOCO EM AMBIENTES INTERNOS OU EXTERNOS. •

A superfície deve estar limpa, seca e isenta de poeira.

Imperfeições na alvenaria ou perda de reboco deverão ser corrigidas segundo as recomendações das Fichas TA02.

Eliminar totalmente todas as partes soltas ou mal aderidas, raspando ou escovando a superfície.

Eliminar o brilho de qualquer origem, usando lixa adequada.

A superfície deve ser limpa com água e sabão para retirada de manchas de gordura.

As partes que contém mofo e fungos devem ser lavadas com água em abundância e escova de nylon ou aço.

BASE PARA PINTURA EM MADEIRA •

Lixar toda a superfície para eliminar farpas.

Retirar a poeira com pano úmido e aguardar secar.

Eliminar manchas de gordura com água e sabão neutro.

Corrigir as imperfeições com massa a óleo.

Corrigir as imperfeições com massa óleo.

Em casos onde a madeira será pintada pela 1ª vez utilizar fundo nivelador para madeira.

Após a secagem, lixar outra vez a superfície e eliminar o pó.

BASE PARA PINTURA EM FERRO


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Limpar a seco a superfície – lixar, até remover toda a ferrugem e sujeiras, com escova de aço ou jatos de areia fina – neste caso com orientação de um técnico.

Remover gorduras, graxas e óleos, lavando com solvente de limpeza.

Aplicar uma demão de Zarcão, como fundo anticorrosivo para proteger o substrato.

Em superfícies novas, que ainda não apresentam oxidação, aplicar um anticorrosivo para proteção. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 183).

FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TP02 Técnica: Pintura a base de cal. Princípio: Após a superfície limpa e seca deve-se: •

A tinta a base de cal deverá ser fabricada com pasta de cal. Esta pasta deverá ser diluída com água até se tornar um leite bem grosso.

Aplicar a primeira demão de forma mais fluída, 1 porção de leite para 3 porções de água. Esta demão deve ser aplicada horizontalmente.

A segunda demão deverá ser feita com cerca de 1 porção de leite para 2 porções de água. Deve ser aplicada verticalmente.

As camadas seguintes devem ser aplicadas alternadamente: horizontal e vertical. Geralmente com 3 demãos tem-se a pintura definitiva. A terceira demão deverá ser na proporção 1:2.

A tinta deverá ser toda coada, em peneira fina antes da sua aplicação. Para as paredes externas pode-se aditivar na última demão um fixador tipo caseína ou resina acrílica tipo Primal ou similar.

Caso seja necessário uso de pigmentos, deve-se dar preferência aos corantes naturais. O pigmento deverá ser diluído em água quente e deixar repousar por 48 horas e seu volume não deverá exceder a 15% do volume de toda a tinta. Deve-se ter cuidado de obter uma mistura homogênea da tinta após o acréscimo do pigmento.

Para evitar que as diversas direções das camadas fiquem visíveis, a pintura pode ser batida com uma escova. Conhecida como cal batida.


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Recomendação: As demãos de tinta deverão ser aplicadas de modo a se obter uma película de espessura uniforme e delgada.

Cada demão de pintura deverá ser precedida de uma umidificação da parede para evitar que a água da tinta seja absorvida muito rapidamente, criando-se fissuras na superfície.

Não utilizar massa corrida diluída em água como base para tinta a base de cal.

NUNCA pintar as superfícies externas em dias de chuva ou em dias de ventos fortes. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 184). •

ESQUADRIAS: TABELA 04 - PATOLOGIAS NAS ESQUADRIAS

PROBLEMA IDENTIFICADOS

CAUSAS

Pintura em mau estado

Umidade

Ferragens danificadas

oxidadas

ou

Umidade

PROCEDIMENTOS PARA REPARO Lixe a esquadria para retirar a pintura antiga, emasse quaisquer irregularidades, aplique uma camada de primer e repinte a esquadria. Ver fichas TP03 Encontrando pontos de oxidação, desmonte a peça, lixe retirando o excesso de tinta ou a oxidação, dê um fundo de zarcão e repinte. Peças quebradas, que não for possível recuperar, tanto na ferragem de fixação ou na de vedação, substitua por similares de boa qualidade. Ver ficha TP04

FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TP03 Técnica: Pintura com tinta a óleo ou esmalte sintético para esquadrias de madeira e forros de madeira não decorado Princípio: Após a superfície limpa, de acordo com os procedimentos estabelecidos na TP01, deve-se: •

Aplicar uma demão de fundo selador para nivelar


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Lixar toda a superfície e eliminar o pó resultante, com pano seco.

Corrigir imperfeições superficiais com massa a óleo.

Lixar toda a superfície e eliminar o pó resultante.

Aplicar outra demão de fundo selador nivelador de base sintético.

Lixar cuidadosamente com lixa fixa fina de acabamento e limpar bem com pano seco, eliminado toda a sujeira e poeira.

Aplicar duas ou três demãos de tinta a óleo ou esmalte sintético.

Recomendação: As madeiras novas e que contém muita resina, como a Peroba, o Pau-Ferro e o Ipê, podem apresentar problemas de secagem ou manchas em conseqüências da migração de substâncias orgânicas do seu interior para a tinta ou verniz. Nestes casos aplique um selador incolor a base de goma-laca. Em casos de repintura o procedimento é semelhante, sendo dispensado o uso do fundo nivelador. Em pinturas externas não é recomendada a aplicação de tintas foscas, pois estas tendem a sofrer forte degradação pelos raios ultravioletas. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 185). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TP04 Técnica: Pintura de Metais ferrosos Princípio: Após a limpeza deve-se: •

Aplicar duas demãos de fundo anticorrosivo de boa qualidade.

Aplicar duas ou três demãos de acabamento na cor especificada com tinta ou esmalte sintético.

Recomendação: A preparação da superfície é fundamental para a obtenção de bons resultados. Quanto maior o grau de limpeza, maior será a vida do revestimento. Aplicar camadas finas, obedecendo aos intervalos recomendados pelo fabricante, até atingir a espessura desejada.


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O fundo corrosivo é que protege a estrutura de metal, por isto deve ter boas propriedades. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 186). •

BASE DE PEDRA:

Para recuperação do estado original, preenchimento de fissuras (se necessário) e proteção da pedra: FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TPE01 Técnica: Limpeza por vaporização de água Princípio: A limpeza por vaporização de água é um método bastante efetivo para a dissolução das crostas de sujeira que aderem à pedra. É um processo não abrasivo e que não a umidifica excessivamente. A água deve sair do pulverizador como uma névoa fina e o jato não deve ser apontado diretamente para a superfície, para evitar desgastes localizados. A limpeza deve ser feita de cima para baixo, para que a água ao correr pela superfície vá dissolvendo a sujeira dos níveis inferiores. O tempo de duração da pulverização depende da qualidade da pedra e da quantidade de sujeira. É preferível fazer a limpeza em períodos curtos repetidos várias vezes, para se obter um melhor controle. Na retirada da sujeira amolecida, pode-se usar escovas ou brochas macias para não danificar a pedra. Recomendações:

NUNCA

DEVEM

SER

USADAS

FERRAMENTAS

METÁLICAS. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 87). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TPE07 Técnica: Preenchimento de Fissuras Princípio: Quando a superfície da pedra apresenta fissuras ou rachaduras, há necessidade de preenchê-las e colar os fragmentos, para que se recupere a


130

integridade do material. Os materiais utilizados para o preenchimento são as pastas e as colas. As pastas são compostas por um ligante, geralmente, uma resina termo endurecedora a que se acrescenta um pó de enchimento que dê estrutura. (o pó da própria pedra, pó de vidro etc.) Antes de se proceder ao preenchimento de uma fissura é importante limpar a pedra, retirando a poeira e os pedaços soltos. Todas as fissuras devem então ser preenchidas. É preciso que a superfície da pedra fique lisa e não ofereça pontos fracos que favoreçam a degradação. Para preencher falhas maiores são empregadas massas compostas por um enchimento inerte, geralmente pó da própria pedra, e um ligante que pode ser orgânico (resina) ou inorgânico (cal pura ou Etil Silicato). (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 93). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TPE08 Técnica: Proteção por películas superficiais. Princípio: A água é o principal agente de degradação da pedra, o que leva à necessidade de aplicação de substâncias hidro-repelentes sobre as superfícies. Usam-se com bastante freqüência as parafinas, a cera micro-cristalina, os produtos acrílicos e os silicones, por vezes misturados a fungicidas e bactericidas como proteção contra o ataque biológico. Esses produtos aplicam-se como uma pintura de tinta, com auxílio de pincel ou pistola e tal como ela, formam uma película fina de proteção contra umidade e contra os poluentes atmosféricos. É essencial que a superfície sobre a qual são aplicados encontre-se perfeitamente limpa e, tanto quanto possível, isenta de fraturas, fissuras, material solto, etc.


131

Este tipo de proteção dá melhor resultado quando aplicada sobre pedras pouco porosas. Em pedras de grande porosidade, a água pode ter acesso a alvenaria por outras formas e criar esforços internos que agirão na zona entre a película e a pedra. Deve ser compreendido que a película superficial funciona como uma camada sacrificial, que tem uma vida limitada e que deve ser refeita periodicamente. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 94). •

VEDAÇÕES EM MADEIRA

Substituição, imunização e impermeabilização de todas as peças da residência, conforme as recomendações do manual: Os processos de preservação da madeira têm como objetivo melhorara a resistência desse material ao ataque de fungos, algas, insetos, moluscos, parasitas, moluscos, evitando infestações e a necessidade de atuar com produtos mais agressivos, de caráter curativo. Dentre as diferentes espécies de madeira, algumas se mostram mais sensíveis a agressões biológicas e até mesmo as mais resistentes não são completamente indestrutíveis, pois em condições desfavoráveis (altas taxas de umidade e temperatura) elas poderão ser atingidas. Neste sentido, a necessidade de se efetuar um tratamento nas peças de madeira é muito clara. Os tratamentos podem ser preventivos - com o objetivo de impedir infestações e comprometimento das peças de madeira - ou curativos - com o objetivo de debelar uma infestação já estabelecida. A escolha de um produto a ser utilizado é muito difícil, pois nenhum produto encontrado no mercado é 100% seguro e eficiente. Deve ser escolhido aquele que atender ao maior número das características exigidas: •

Alta toxicidade ao inseto

Boa permanência

Boa penetração

Inocuidade mecânica e química

Não corrosivo


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Não combustível

Inodoro

Não ser perigoso durante a aplicação

Não ser tóxico ao homem e ao meio ambiente

O primeiro passo a ser observado nos tratamentos de imunização é a identificação do tipo de ataque que sofre a madeira, sua extensão, profundidade, intensidade e importância. A seguir, deve-se identificar o tipo de madeira e o tipo de fungo ou inseto que provocou o dano, para que se possa empregar a técnica correta. É importante também eliminar as fontes de umidade e facilitar a aeração e a secagem da madeira, tendo sempre em conta que as fontes de umidade podem ser de caráter temporal ou não estar presentes no momento da inspeção. Estudos modernos sobre o comportamento das térmitas, levaram os técnicos a desenvolver novos processos de extermínio, menos agressivos ao meio ambiente, como a iscagem e a aplicação de hormônios que impedem a proliferação dos insetos. Estes processos são muito recentes e necessitam de uma orientação específica para o reconhecimento da espécie de térmita e a correta aplicação do método. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 157). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TI05 Técnica: Injeção de produtos químicos em madeira Princípio: Para a aplicação de produto químico imunizante em peças de madeira, proceda da seguinte forma: 1. Limpe a superfície; 2. Aplique o produto químico, através de seringa em todos os furos encontrados na peça de madeira; 3. A aplicação dever ser efetuada com seringa inclinada e na direção das fibras da madeira; 4. Repita a operação 15 dias após a primeira aplicação e em seguida aplique o produto com pincel em toda a superfície; 5. Mantenha em constante observação a peça imunizada.


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Recomendação: Deve-se procurar auxílio técnico junto ao órgão de preservação da sua cidade para a indicação do produto químico a utilizar. Em casos de infestação em forros e pisos, deve-se retirar o forro e imunizar todo o barroteamento de sustentação. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 165). FICHA DE APLICAÇÃO DE TÉCNICA TIM01 Técnica: Impermeabilização de madeira. Princípio: A impermeabilização das madeiras deverá ser feita nas áreas próximas às alvenarias, onde estas estão mais sujeitas à ação da água. O processo mais utilizado é a aplicação de produtos asfálticos nos trechos das peças de madeira que ficam embutidos na alvenaria. Nos locais muito úmidos, além deste procedimento, deve-se isolar o trecho de madeira com uma chapa metálica, geralmente cobre, pois os outros metais oxidam rapidamente, comprometendo a alvenaria e a madeira. (Manual de Conservação Preventiva para Edificações do IPHAN, p. 173).


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CONSIDERAÇÕES FINAIS A arquitetura da imigração alemã desenvolvida no século XIX apresenta uma riqueza cultural de adaptação de uma técnica construtiva centenária, o enxaimel, ao clima tropical de altitude das serras capixabas. É certo que essa arquitetura demanda ainda um rigoroso estudo e que as análises aqui apresentadas contribuem para a pesquisa, mas são apenas uma introdução de muitas técnicas construtivas, fazeres artesanais e tradições ainda não documentadas. Em meio a tantos exemplares destruídos, no centro de Domingos Martins restou a Casa Schlenz, desconectada de seu entorno urbanizado. A julgar pelo estado de conservação, uma das edificações que mais poderia representar a imigração na cidade, encontra-se em precário estado de conservação. Além de sua restauração, a necessidade de integrá-la as demandas atuais ressalta o principal motivo pelo qual a casa ainda existe: sua função útil residencial. A restauração e reabilitação do imóvel não seriam apenas para marcá-lo como arquitetura da imigração e enaltecer a memória coletiva, mas também seria exemplo para os poucos exemplares de que uma edificação de valor histórico pode e deve integrar-se a vida contemporânea. O Projeto Básico aqui apresentado orienta diretrizes, mas não preenche todas as necessidades projetuais da residência. Em uma cidade onde os casarões antigos são demolidos ou considerados ‘barracos’, os pastiches crescem em nível exponencial, modificando a paisagem urbana. É certo que essas edificações buscam atender a indústria patrimonializadora e atender demandas econômicas e turísticas. Mas, vale lembrar, a ampla aceitação da sociedade martinense pelo ‘estilo germânico’ dessas construções. Muitas delas, como o Hotel Imperador, caem no gosto popular dos moradores e é certo que fazem parte da memória coletiva. Jeudy caracteriza que as construções podem não ter boa aceitação no início, “mas, ao longo do tempo, têm todas as possibilidades de acabar vitoriosos, uma vez que o fruto de suas decisões se integrará ao território da cidade como o signo patrimonial de uma época.” (JEUDY 2005, p. 82). Assim, essa pesquisa cumpre a função de analisar os pastiches enxaimeis nos territórios capixabas de imigração, mas deixa em aberto algumas reflexões. Afinal, a cultura se transforma constantemente e o conceito de patrimônio histórico também é


135

variável. Diante dos pastiches em enxaimel amplamente integrados à vida coletiva, é possível negá-los quanto à importância para a cultura local? Se sim, qual o tratamento governamental dado a eles? Tornaram-se os pastiches grandes símbolos de cidades brasileiras com breves momentos de imigração alemã e são característica de todas elas? Essas questões permanecem em reflexão.


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FLORA KIEFER

..ARQUITETURA ENXAIMEL EM DOMI}TGOS MARTINS'' Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Vila Velha, como requisito parcial para obtenção do grau em Arquitetura e Urbanismo,

Universidade

COMISSÃO EXAMINADORA

_¿^,^e\-4Æ-L. wÐ rvtL uÁ.ncÉf.lo c oMES

PRö F.

RIBEIRO Universidade Vila Velha

Orientador

ARQTa. STI{EPHI WAGMACKER Universidade Vila Velha

Avaliador

PROF

Parecer da Comissão Examinadora

em

lO

GO

de

.fìjN HO

de 2019:


VISTA GERAL DO INTERIOR - SALA DE JANTAR

JANELA DO QUARTO

JANELA DA SALA DE ESTAR

PORTA ENTRE AS SALAS

PAREDE INTERNA DO CORREDOR DE ENTRADA

ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

SALA DE JANTAR E ESCADA QUE LEVA AO SÓTÃO

PORÃO BAIXO COM ENTULHOS

LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO - CASA SCHLENZ - DOMINGOS MARTINS - ES ALUNA:FLORA KIEFER HUBER REFERÊNCIA: ESCALA:

PROF. ORIENT. LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

FOTOS INTERNAS

JUNHO/2019 PRANCHA:

02/02


N

J2

VARANDA

J2 J1

J1

13,76 m²

J1

J1

P1

FOGÃO À LENHA

P3

SALA DE JANTAR

COZINHA 15,34 m²

18,67 m²

CORREDOR 9,85 m²

SALA DE TV 18,77 m²

P1

P1

P2

P1

DESPENSA 4,18 m²

Quadro de Esquadrias - Portas

BANHEIRO P1

P1

3,53 m²

P1

P1

Tipo

Largura

Altura

Quantidade

91 90 91

85 211 210 213

4 9 2 2

P3 P2

QUARTO 1

QUARTO 2

QUARTO 3

8,52 m²

8,26 m²

8,07 m²

J1

P1

WC PNE

J4

P1 P2 P3

J1

Quadro de Esquadrias - Janelas

PLANTA DE REFORMA - DEMOLIR E CONSTRUIR

Tipo

Largura

Altura

J1 J2 J3 J4

80 100 70 100 80

60 120 100 100 60

1 : 75

0

0.5m

1m

2m

ALVENARIA ENXAIMEL EXISTENTE A RESTAURAR

A DEMOLIR PAREDES DE MADEIRA A RESTAURAR A CONSTRUIR - SISTEMA DRY WALL - CHAPA RU - GESSO ACARTONADO A CONSTRUIR - SISTEMA DRY WALL - CHAPA CIMENTÍCIA

Peitoril

Quantid ade

110 101 110 170

2 6 2 2 1

ARQUITETURA E URBANISMO - AU8N TÉCNICAS RETROSPECTIVAS PROPOSTA DE INTERVENÇÃO - CASA SCHLENZ ALUNA: FLORA K. HUBER REFERÊNCIA: ESCALA:

ORIENT.: LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

PLANTA DE REFORMA - DEMOLIR E CONSTRUIR 1 : 75

PRANCHA:

01/09


3

2

03/09

03/09

RUA -0,05 1827

N 519

373

249

510

495

680

ACESSO GARAGEM

VARANDA

J2 J1

FOGÃO À LENHA

J1

13,76 m²

J1

+1,20

145

J2

J1

P1

346

Abaixo P3

J3

18,77 m²

+1,20

+1,20

P1

BANHEIRO

Abaixo Abaixo Inclinação = 8,33% 395 L = 1,2m

Abaixo

P1

64

WC PNE

P2

QUARTO 1 8,52 m²

5,15 m² +1,20

+1,20

QUARTO 2 8,26 m² +1,20

QUARTO 3 8,07 m² +1,20

P1 J1

QUINTAL +1,08

J1

332

322

333

500

11,75 m²

P1

J3

J4

GARAGEM E FORNO

18

P1

207

P3

P1

3,53 m² +1,20

271

165

DESPENSA 4,18 m² +1,20

1 03/09

690

P1

P2

9,85 m² +1,20

SALA DE TV

P1

EXTINTOR

03/09 EXTINTOR

18,67 m²

CORREDOR 395

1

SALA DE JANTAR

275

15,34 m² +1,20

380

COZINHA

250

3

2

03/09

03/09

ARQUITETURA E URBANISMO - AU8N TÉCNICAS RETROSPECTIVAS Forno

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO - CASA SCHLENZ ALUNA: FLORA K. HUBER

02 - TÉRREO COM IMPLANTAÇÃO 1 : 75

0

0.5m

1m

2m

REFERÊNCIA: ESCALA:

ORIENT.: LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

TÉRREO COM IMPLANTAÇÃO INTERVENÇÃO 1 : 75

PRANCHA:

02/09


SÓTÃO

290

280

328

475

541

SÓTÃO

CORREDOR

COZINHA +1,20

SALA DE JANTAR

+1,20

+1,20

SALA DE TV +1,20

CORTE 01 1 : 75 Cobertura de Tabuinha 0

Tyvek

0.5m

1m

2m

+ 70

173

268

Telha dânica

446 251

310

+1,20

Patamar

10

Placa cimentício sobre estrutura metálica

CORREDOR

+ 35

Patamar

Calha visitável de concreto

WC PNE +1,20

CORTE 03 1 : 50

90

ARQUITETURA E URBANISMO - AU8N TÉCNICAS RETROSPECTIVAS PROPOSTA DE INTERVENÇÃO - CASA SCHLENZ ALUNA: FLORA K. HUBER

CORTE 02 1 : 75

REFERÊNCIA: ESCALA:

ORIENT.: LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO CORTES Como indicado

PRANCHA:

03/09


Cobertura de tabuinha

porta e vedação em madeira de reflorestamento imunizada e envernizada

chaminé existente

pintura pvc na cor branco neve pintura em cal

Esquadria existente tinta óleo azul Código Ref.: 1880

forno a lenha reconstruído

Guarda corpo em madeira restaurado

FACHADA FRONTAL

grade em aço galvanizado pintado eletrostático na cor marrom

vedação recuada 25 cm em aço galvanizado com pintura eletrostática marrom

alvenaria de pedra restaurada e rejunatda com argamassa de cal e protegida com água de cal

guarda corpo em vidro e aço galvanizado pintado eletrostático na cor marrom

rampa de concreto moldado in loco revestida cimentado áspero e sarrafeado

0

0.5m

1m

2m

1 : 75

chaminé existente

Esquadria existente tinta óleo azul Código Ref.: 1880

vedação em madeira de reflorestamento imunizada e envernizada

Cobertura de tabuinha pintura em cal

pintura pvc na cor branco neve

Guarda corpo em madeira restaurado

pintura pvc na cor branco neve

forno a lenha reconstruído

ARQUITETURA E URBANISMO - AU8N TÉCNICAS RETROSPECTIVAS guarda corpo em vidro e aço galvanizado pintado eletrostático na cor marrom rampa de concreto moldado in loco revestida de granilite

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO - CASA SCHLENZ ALUNA: FLORA K. HUBER

ORIENT.: LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

FACHADA LATERAL DIREITA

REFERÊNCIA: FACHADA FRONTAL E LATERAL DIR.

1 : 75

ESCALA:

1 : 75

PRANCHA:

04/09


chapim

porta e vedação em madeira de reflorestamento imunizada e envernizada

telha dânica

Cobertura de tabuinha

pintura pvc na cor branco neve

pintura pvc na cor branco neve

pintura em cal

Esquadria existente tinta óleo azul Código Ref.: 1880 forno a lenha reconstruído

grade em aço galvanizado pintado eletrostático na cor marrom

FUNDOS

guarda corpo em vidro e aço inox

0

0.5m

1m

2m

1 : 75 Cobertura de tabuinha Esquadria existente tinta óleo azul Código Ref.: 1880

pintura pvc na cor branco neve

Telha Dânica

pintura em cal

forno a lenha reconstruído

pintura pvc na cor branco neve Guarda corpo em madeira restaurado

ARQUITETURA E URBANISMO - AU8N TÉCNICAS RETROSPECTIVAS alvenaria de pedra restaurada e rejunatda com argamassa de cal e protegida com água de cal

FACHADA LATERAL ESQUERDA

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO - CASA SCHLENZ ALUNA: FLORA K. HUBER

ORIENT.: LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

REFERÊNCIA: FACHADA LATERAL ES. E FUNDOS

1 : 75

ESCALA:

1 : 75

PRANCHA:

05/09


2 03/09

1050

248

90

30

170

548

Inclinação =

1

946

444

Inclinação = 60%

Inclinação =

03/09

720

569

Inclinação = 60%

Inclinação = 60%

calh Inclinação = 60% 32

57

Cobertura de Tabuinha

271

03/09

630

Inclinação = 60% 1

Telha dânica Chapi

2 0

0.5m

1m

2m

03/09

ARQUITETURA E URBANISMO - AU8N TÉCNICAS RETROSPECTIVAS

04 - COBERTURA 1 : 75

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO - CASA SCHLENZ ALUNA: FLORA K. HUBER REFERÊNCIA: ESCALA:

ORIENT.: LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO COBERTURA 1 : 75

PRANCHA:

06/09


V3

V4

30

GOIVETE DETALHE

11

B

41

INÍCIO DA PAGINAÇÃO

H

BÁSCULA 72x52cm

WC PNE 5,15 m² +1,20

LUMIN. PENDENT

I

J

V1

J

D

G

20

213

15

V3

V4

80

VISTA 1

1 : 25

1 : 25 0.5m

INÍCIO DA PAGINAÇÃO

Revestimento cermâmico retificado cetim bianco gres, junta 2 mm. 30x60cm.

Encontro de paredes: preenchumento em tarucel e rejuntamento das extremidades

02 - LAYOUT E PAGINAÇÃO

0.25m

76 INÍCIO DA PAGINAÇÃO

71 76

0

F

49

E

46

G

75

C

B

40

97

85

F

C

76

D

65

V1

210

V2 70

235

V2

VÁLVUL

240

50

A

1m

ESPECIFICAÇÕES

F - BACIA SANITÁRIA CONVENCIONAL BRANCA SEM CAIXA ACOP.

A - CUBA EM PORCELANA BRANCA NAS DIMENSÕES 50x75 cm

G- PAPELEIRA CONVENCIONAL EM AÇO INOX

B - CHUVEIRO SLIM 30x30cm INOX

H - PORCELANATO ACETINADO NA COR BRANCO GELO 1x1m JUNTA 2 mm

PROJETO EXECUTIVO DE BANHEIRO ACESSÍVEL - CASA SCHLENZ

I - SOLEIRA EM GRANITO BRANCO SIENA 90x18cm

ALUNA: FLORA KIEFER HUBER

J - BARRAS DE APOIO EM INOX POLIDO, DIMENSÕES CONFORME COTAS

REFERÊNCIA:

C - ACENTO EM INOX 70x40cm PARAFUZADO D - TOALHEIRO TRIPLO PARAFUZADO EM INOX 30x20cm

E - ARMÁRIO MÓVEL 42x42cm

ARQUITETURA E URBANISMO - AU8N TÉCNICAS RETROSPECTIVAS

ESCALA:

PROF. ORIENT.: LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

LAYOUT E PAGINAÇÃO E VISTA 1 1 : 25

PRANCHA:

07/09


9,00°

B

Espelo bisotado 97x70cm Fita de LED Suporte para espelho

Espelo bisotado 65

toalheira em inox

J

A

161

nicho 30x30cm

A

75

89

C

0.25m

0.5m

1m

INÍCIO DA PAGINAÇÃO

INÍCIO DA PAGINAÇÃO

VISTA 2

VISTA 3

1 : 25

1 : 25 ESPECIFICAÇÕES

F - BACIA SANITÁRIA CONVENCIONAL BRANCA SEM CAIXA ACOP.

A - CUBA EM PORCELANA BRANCA NAS DIMENSÕES 50x75 cm

G- PAPELEIRA CONVENCIONAL EM AÇO INOX

B - CHUVEIRO SLIM 30x30cm INOX

H - PORCELANATO ACETINADO NA COR BRANCO GELO 1x1m JUNTA 2 mm

C - ACENTO EM PVC BRANCO 70x40cm PARAFUZADO D - TOALHEIRO TRIPLO PARAFUZADO EM INOX 30x20cm

E - ARMÁRIO MÓVEL 42x42cm

I - SOLEIRA EM GRANITO BRANCO SIENA 90x18cm

J - BARRAS DE APOIO EM INOX POLIDO, DIMENSÕES CONFORME COTAS

Em todas as paredes: Revestimento cermâmico retificado cetim bianco gres, junta 2 mm. 30x60cm.

J

ARQUITETURA E URBANISMO - AU8N TÉCNICAS RETROSPECTIVAS

G

INÍCIO DA PAGINAÇÃO

VISTA 4 1 : 25

F

45

0

110

40

J

PROJETO EXECUTIVO DE BANHEIRO ACESSÍVEL - CASA SCHLENZ ALUNA: FLORA KIEFER HUBER REFERÊNCIA: ESCALA:

PROF. ORIENT.: LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

VISTAS WC PNE 1 : 25

PRANCHA:

08/09


5

2 09/09

5

11

LINHA DE SOMBRA

50

LUMINÁRIAS SPOT EMBUTIDO DIRECIONÁVEL COM LÂMPADA DICROICA EM LED 5.000K PARA ILUMINAÇÃO DIRETA DE TAREFA

108

2

Laje

40 60

Fixação 6

LUMINÁRIA PENDENTE COM LÂMPADA FLUORESCENTE COMPACTA 3.200K PARA ILUMINAÇÃO INDIRETA DE TAREFA

233

239

223

233

7

09/09

LUMINÁRIA EMBUTIDA COM LÂMPADA LED 5.000K PARA ILUMINAÇÃO DIRETA GERAL

7

48

CORTE 04

22

1:5

5

50

125

Forro de gesso 2mm composto FITA DE LED 3.000K PARA ILUMINAÇÃO INDIRETA FITA DE LED 3.000K PARA ILUMINAÇÃO INDIRETA

5

Fita de

126 5

203

5

213

0

0.25m

0.5m

1m

02 - ILUM. E PAGINAÇÃO DE GESSO 1 : 25

ARQUITETURA E URBANISMO - AU8N TÉCNICAS RETROSPECTIVAS PROJETO EXECUTIVO DE BANHEIRO ACESSÍVEL - CASA SCHLENZ ALUNA: FLORA KIEFER HUBER

PROF. ORIENT.: LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

REFERÊNCIA:ILUMINAÇÃO E PAGINAÇÃO DE GESSO ESCALA:

Como indicado

PRANCHA:

09/09


N

RUA FERNANDO POUSADA AZUL

LOTE EM 2950

N

RUA

TERRENO

SITUAÇÃO

2

1 : 500

PAIOL

LIMITE DO TERRENO

EDIFICAÇÃO

RUA 1610

QUADRO DE ÍNDICES URBANÍSTICOS ZONA DE OCUPAÇÃO CONTROLADA 01 ÁREA TOTAL DO LOTE:

475 m²

ÁREA CONSTRUÍDA:

136 m²

FORNO EXTERNO

CA

0,28

TO

28%

TP

72%

GABARITO ALTURA DA EDIFICAÇÃO

1

1 660

IMPLANTAÇÃO 1 : 150 ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO LEVANTAMENTO CADASTRAL - CASA SCHLENZ - DOMINGOS MARTINS - ES ALUNA:FLORA KIEFER HUBER REFERÊNCIA: ESCALA:

PROF. ORIENT. LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

IMPLANTAÇÃO E SITUAÇÃO Como indicado

JUNHO/2019 PRANCHA:

01/06


---

1041

J2

J1

J1

J1

Abaixo P1

COZINHA

SALA DE JANTAR

17,56 m² +1,20

18,68 m² +1,20

556

346

+1,20

J1

P1

SALA DE TV 18,77 m² +1,20

P1

J3

P1

04/06

P1

P1

P2

J3

166

254

18

245

P1

P1

QUARTO 1

QUARTO 2

8,52 m² +1,20

8,26 m² +1,20

J1

9

P1

18

02 - TÉRREO

242

18

332

P1

322

QUARTO 3 8,07 m² +1,20

275

4,04 m² +1,20

4,18 m² +1,20 P2

18

Acima

BANHEIRO

DESPENSA

165

1

10,39 m² +1,00

690

450

CORREDOR

04/06

1

495

J2

FOGÃO À LENHA

1

510

380

126

N

246

145

539

J1

333

---

1 : 75 Quadro de Esquadrias - Janelas

Tipo

Largura

Altura

Peitoril

Quantidade

J1 J2 J3 J4

100 70 100 80

120 90 100 60

110 110 110

6 2 2 2

LEVANTAMENTO CADASTRAL: CASA SCHLENZ - DOMINGOS MARTINS

Quadro de Esquadrias - Portas Tipo

Largura

Altura

Quantidade

P1 P2

80

210

10 2

80

210

ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

ALUNA:FLORA K. HUBER REFERÊNCIA: ESCALA:

ORIENT. LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

PLANTA BAIXA - TÉRREO 1 : 75

JUNHO/2019 PRANCHA:

02/06


---

556

240

1050

INCLINAÇÃO = 60%

INCLINAÇÃO = 40%

INCLINAÇÃO = 60%

INCLINAÇÃO = 60%

1 04/06

55

32

INCLINAÇÃO = 60%

946

04/06

INCLINAÇÃO = 60%

840

558

1

630

40

51

N

TELHA ONDULADA ETERNIT -

1

COBERTURA 02

---

1 : 75

ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO LEVANTAMENTO CADASTRAL: CASA SCHLENZ - DOMINGOS MARTINS ALUNA:FLORA K. HUBER REFERÊNCIA: ESCALA:

ORIENT. LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO COBERTURA

1 : 75

JUNHO/2019 PRANCHA:

03/06


1

FACHADA FRONTAL 1 : 75

ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO LEVANTAMENTO CADASTRAL: CASA SCHLENZ - DOMINGOS MARTINS

2

FACHADA LATERAL ESQUERDA 1:

ALUNA:FLORA K. HUBER

ORIENT. LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

REFERÊNCIA:FACHADAS FRONTAL E LAT. ESQUERDA ESCALA:

1 : 75

JUNHO/2019 PRANCHA:

05/06


4

FACHADA POSTERIOR 1:

ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO LEVANTAMENTO CADASTRAL: CASA SCHLENZ - DOMINGOS MARTINS

3

FACHADA LATERAL DIREITA 1:

ALUNA:FLORA K. HUBER

ORIENT. LUIZ MARCELLO G. RIBEIRO

REFERÊNCIA: FACHADAS LAT. DIREITA E FUNDOS ESCALA:

1 : 75

JUNHO/2019 PRANCHA:

06/06


FACHADA FRONTAL

VISTA GERAL DA RUA - FONTE: GOOGLE MAPS DETALHE DO TRAMO ESTRUTURAL COMPROMETIDO PELOS CUPINS

FACHADAS LATERAL ESQUERDA E FRONTAL

FACHADA FUNDOS DA COZINHA

FACHADA FUNDOS E LATERAL ESQUERDA

ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

DETALHE DE ENCONTRO DO TRAMO ESTRUTURAL

LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO - CASA SCHLENZ - DOMINGOS MARTINS - ES ALUNA:FLORA KIEFER HUBER REFERÊNCIA: FACHADAS LATERAL DIREITA E FRONTAL DA COZINHA

ESCALA:

PROF. ORIENT. LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

FOTOS EXTERNAS

JUNHO/2019 PRANCHA:

01/02


37 QUADRO 01: Edificaçþes de uso comercial em Domingos Martins, ES

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


39

QUADRO 03: Edificaçþes de uso misto em Domingos Martins, ES

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


41 QUADRO 03: Edificaçþes de uso residencial em Domingos Martins, ES.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


43 QUADRO 04: Edificaçþes de uso institucional em Domingos Martins, ES.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


43

QUADRO 5 - Quadro de patologias.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


98

QUADRO 5 - Quadro de patologias.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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