Dancituras da diferença na escola de dança de paracuru thais gonçalves

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de se sufocar no que poderia provocar paralisias disparou devires. A falta de recursos para a manutenção do professor de dança de salão, a dificuldade em aceitar outros gêneros de dança, depois o toque na musculatura para aprender uma técnica estranha para o tipo de alongamento e domínio físico, a necessidade de verbas para continuar na dança quando a família passou a cobrar empregos fixos e estáveis, vergonha, condições sociais e econômicas distintas, o preconceito da cidade com os meninos no balé, as correções de exercícios e comportamentos. Os nãos não noaram e deram passagem para que os sims soassem, parafraseando o poeta paulistano Fábio Brazil94. E quando isso aconteceu, afetos alegres contaminaram crianças e adolescentes, gestores e financiadores. Entre fluxos e heterogeneidades, surge um corpo-dança, uma composição de ações e paixões ocorridas num agenciamento maquínico, cujas conexões e disjunções ganharam dimensões éticas, estéticas e políticas. Uma coreografia de amizades, singular, vibrante, micropolítica, molecular, processual. Uma relação de corpos

assimétrica,

hierárquica,

desigual,

múltipla,

experimental,

a

mover

revoluções. Mas não dessas pirotécnicas, barulhentas, anunciadas, divulgadas nos veículos de comunicação. Mas microfísicas, quase imperceptíveis, cotidianas, fugazes, efêmeras, porém catalisadoras, geradoras de mudanças irreversíveis. De acordo com o bailarino e professor Jefferson Freitas, trata-se da “conquista de outro comportamento que é para a vida e não só para a dança. Um hábito que está aqui dentro, mas lá fora também. A mudança se multiplica para outras crianças que não estão aqui”95. Um pensamento de formulação e reformulação, conforme o bailarino e professor Wanderson de Sousa, que para o bailarino Lairton Freitas, são mutações possíveis porque “Flávio nos deu coisas já pensando mais à frente, para a gente fazer uma reviravolta no que ele nos disse. [...] O que acontece aqui é uma diversidade, um aperfeiçoamento. Quanto mais você vê, mais você cria seu próprio conhecimento, os próprios conceitos e opiniões. A arte é uma coisa que muda a visão. Fizemos o preconceito dar um passo atrás. Quem viu a 96 gente crescer foi conquistado por nossa cultura, nossa arte” .

94

O poeta Fábio Brazil, de São Paulo, apresentou um poema brincando com os sentidos das palavras “sim” e “não”, durante o Seminário Arte em Questões, ministrado junto com Isabel Marques, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, entre os dias 12 e 14 de fevereiro de 2007. 95 Entrevista com Jefferson Freitas, bailarino da Paracuru Companhia de Dança e professor da Escola de Dança de Paracuru, em 19 de maio de 2009. 96 Entrevista com Lairton Freitas, bailarino da Paracuru Companhia de Dança e secretário da Escola de Dança de Paracuru, em 1 de abril de 2009.


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